http://dx.doi.org/10.7213/cd.a8.n12.p58-76
Perspectivas decoloniais do sínodo para a
Amazônia
Decolonial perspectives of the synod for the
Amazon
Stefano Raschietti1
Resumo
Este ensaio pretende explorar a possibilidade de descolonizar a missão cristã, explicitando os
eixos constitutivos do pensamento decolonial formulado pelo programa de investigação
interdisciplinar modernidade/colonialidade, evidenciando alguns elementos-chave para um
discurso crítico, e comparando esses enfoques com a produção documental da preparação e da
realização do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica. As balizas fincadas pelas
conferências gerais do episcopado latino-americano e caribenho de Medellín (1968) até
Aparecida (2007), já representam um certo caminho situado de descolonização da missão
evangelizadora, com suas vertentes de libertação integral, opção pelos pobres, comunidades
eclesiais de base, inculturação, discipulado missionário. Continuando com essa tradição, o
sínodo para a Amazônia pleiteou um grande passo à frente, respondendo positivamente,
profundamente e criativamente à possibilidade e à urgência de descolonizar a missão cristã,
elaborando uma reflexão em perspectiva decolonial, exigindo uma decidida conversão pastoral,
cultural, ecológica, sinodal, e traçando linhas de ação de diálogo político, intercultural, interreligioso e interespiritual.
Palavras-chave
Missão. Amazônia. Sínodo. Interculturalidade. Decolonialidade.
Abstract
This essay intends to explore the possibility of decolonizing the Christian mission, explaining the
constitutive axes of decolonial thinking formulated by the interdisciplinary research program
modernity/coloniality, highlighting some key elements for a critical discourse, and comparing
these approaches with the documentary production of the preparation and realization of the Synod
of Bishops for the Pan-Amazon region. The goals set by the general conferences of the Latin
American and Caribbean episcopate from Medellín (1968) to Aparecida (2007), already represent
a certain path of decolonization of the evangelizing mission, with its aspects of integral liberation,
option for the poor, base communities, inculturation, missionary discipleship. Continuing with this
tradition, the synod for the Amazon called for a great step forward, responding positively, deeply
and creatively to the possibility and urgency of decolonizing the Christian mission, elaborating a
reflection in a decolonial perspective, demanding a decided pastoral, cultural, ecological, synodal
conversion, and outlining lines of action for political, intercultural, inter-religious and interspiritual dialogue.
Keywords
Mission. Amazon. Synod. Interculturality. Decoloniality.
1
Doutorando em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestre em Teologia
pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (PUC-SP). Bacharel em Teologia pelo Istituto
Teologico Saveriano (ITS). Missionário xaveriano. O presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – código de financiamento 001.
Contato:
[email protected].
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INTRODUÇÃO
O Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, realizado em Roma, de 6 a 27 de
outubro de 2019, apresentou para o mundo uma realidade extremamente rica em biodiversidadade,
multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, encruzilhada de desafios inderrogáveis para todo o
planeta, ameaçada por grandes interesses econômicos, marcada por invasões, violências,
etnocídios e explorações, “espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças
estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja” (DPSA 2).
As reflexões e os debates deste evento tiveram o propósito de ir além do âmbito
estritamente regional, por corresponder aos anseios de toda Igreja universal e do futuro da
humanidade. Entendeu-se que era de importância vital escutar os povos indígenas e as
comunidades da Amazônia, para aprender “como podemos colaborar na construção de um
mundo capaz de romper com as estruturas que sacrificam a vida e com as mentalidades de
colonização, para construir redes de solidariedade e interculturalidade. Sobretudo queremos
saber: qual é a missão específica da Igreja, hoje, diante desta realidade?” (DPSA 4).
A missão cristã, em sua ambivalência, sempre foi intrinsicamente parceira do projeto
colonizador do Ocidente, na Amazônia como em qualquer outra parte do mundo. Com efeito,
se, por um lado, os missionários provocaram importantes rupturas com as políticas das coroas e
dos Estados em defesa dos povos indígenas, por outro, “o anúncio de Cristo era feito em conluio
com os poderes que exploravam os recursos e oprimiam as populações” (DSA 15), o que
fomentou posturas complacentes, cúmplices de uma intensa desterritorialização de povos
inteiros destinados ao trabalho escravo.
A partir desta constatação, o sínodo para a Amazônia quis ser simultaneamente um
ponto de chegada e um ponto de partida da presença da Igreja nessa região. Ponto de chegada
em reconhecer a sua trajetória histórica marcada por muitas entregas abnegadas, mas também
por empreendimentos, abordagens e vínculos coloniais que exigem hoje uma radical mudança
de rota e um pedido de perdão. Ponto de partida porque o sínodo era chamado a apontar novos
caminhos e novas direções para a ação da Igreja, com novas práticas de libertação
descolonizada, profética e missionária: “atualmente, a Igreja tem a oportunidade histórica de se
diferenciar das novas potências colonizadoras, ouvindo os povos da Amazônia para poder
exercer sua atividade profética com transparência” (DSA 15).
A tarefa era de fato árdua, não só pelo desafio de traçar linhas operativas significativas,
mas particularmente por delinear planos concretos de ação para a prática pastoral. O dado
histórico inexorável e inequívoco diz que nunca houve missão cristã sem colonização ocidental
e vice-versa. Um dos mitos do século XX foi a noção de que a definitiva eliminação das
colônias do Terceiro Mundo representava um processo de descolonização e o começo de uma
época “pós-colonial” também para a cristandade. Na realidade, o colonialismo histórico, brutal e
genocida, que foi sucedido no século XIX por um imperialismo igualmente violento e opressor,
se configurava agora com feições mais sutis, informais e sedutoras de um capitalismo global,
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apto a manter e consolidar uma estrutura hierárquica eurocêntrica de classificação, submissão e
exploração da população mundial, sem que houvesse por parte da ação missionária das igrejas
uma séria postura de revisão de suas práticas indulgentes, paternalistas e assistencialistas.
Será que agora estamos verdadeiramente decididos a promover um autêntico “processo
libertador” da missão evangelizadora, ou estamos destinados como missionários a reproduzir a
narrativa de sempre, de inevitável subserviência ao poder colonial de turno, repropondo a
mesma relação do superior civilizado para o inferior selvagem? É possível uma autêntica
descolonização da missão cristã que possa ir além de perspectivas românticas e de práticas
benfeitoras, que ainda encobrem certos pressupostos exclusivistas? Até que ponto as
articulações eclesiásticas estão dispostas a entrar numa decidida dinâmica de reforma, e a se
colocar em séria discussão num âmbito de diálogo intercultural e inter-religioso?
Essas subjacentes e importantes questões se situavam no centro de todo o debate do
sínodo para a Amazônia, assim como no cerne da questão missiológica contemporânea. As
respostas que surgiram e os caminhos de solução que foram apontados, são objeto de
consideração desse ensaio, sob o enfoque de algumas categorias do pensamento decolonial
latino-americano que aqui apresentamos, uma vez que tentamos detectar a relevância dos
diversos elementos por meio dessa mediação socioanalítica.
1 OS EIXOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO DECOLONIAL
No final dos anos 1990, alguns intelectuais latino-americanos de diversas universidades
do continente e dos Estados Unidos, formaram um grupo de pesquisa interdisciplinar que se
autodenominou Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C).2 O programa de investigação deste
coletivo gravitou em torno da categoria central da colonialidade como modelo hegemônico
cognitivo que sobrevive ao colonialismo e ao imperialismo. Por sua vez, a decolonialidade
configurava um processo que buscava transcender historicamente a colonialidade, com o intento
de subverter o poder colonial que domina no mundo, mesmo o colonialismo ter sido extinto
como evento histórico.
A noção de colonialidade se referia a uma estrutura complexa de relações de poder
centro-periferia em escala mundial, que tocavam não apenas as ordens econômica e política,
mas também a natureza, o gênero, a sexualidade, a subjetividade e, sobretudo, o conhecimento
(MIGNOLO, 2010, p. 12). Essa colonialidade figurava como inerente e imanente à modernidade
2
Entre eles: Aníbal Quijano, sociólogo da Universidad Nacional de São Marcos, Peru; Arthuro Escobar, antropólogo
colombiano da University of North Carolina, Estados Unidos; Boaventura de Sousa Santos, sociólogo da
Universidade de Coimbra, Portugal; Catherine Walsh, linguista da Universidad Andina Simón Bolívar, Equador;
Edgardo Lander, sociólogo da Universidad Central de Venezuela; Enrique Dussel, filósofo argentino da Universidad
Nacional Autonoma de México; Fernando Coronil, antropólogo venezuelano da University of New York, Estados
Unidos; Immanuel Wallerstein, sociólogo da Yale University, Estados Unidos; Nelson Maldonado-Torres, filosofo
porto-riquenho da University of California, Berkeley, Estados Unidos; Ramón Grosfoguel, sociólogo porto-riquenho
da University of California, Berkeley, Estados Unidos; Santiago Castro-Gómez, filosofo da Pontificia Universidad
Javeriana, Colômbia; Walter Mignolo, semiótico argentino da Duke University, Estados Unidos; Zulma Palermo,
semiótica da Universidad Nacional de Salta, Argentina.
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enquanto tal, não como simples contingência histórica e menos ainda como “desvio” do projeto
emancipador moderno. Pelo contrário, a colonialidade era a exterioridade constitutiva e não
derivada da modernidade.
Para esses teóricos “decoloniais”, não havia modernidade (colonização do tempo) sem
colonialidade (colonização do espaço). Estávamos diante de uma totalidade espaço-temporal
segundo a qual todas as civilizações não europeias eram geograficamente “periferias-atrasadas”
em relação a um “centro-avançado” da história mundial. Ao definir um tempo (moderno versus
atrasado) e um espaço (centro versus periferia), ao traçar umas metas na história e uns contornos
nos mapas, se definia quem estava dentro e quem estava fora, quem era civilizado e quem era
selvagem, quem éramos nós e quem eram os outros.
Do vínculo modernidade/colonialidade, surgia o questionamento sobre a real natureza
da modernidade, que seria resultante de um sistema geopolítico de relações de domínio que
foram decisivas para o desenvolvimento de um sistema-mundo moderno resultado de múltiplas
e complexas interações que deram vida ao capitalismo como sistema econômico, à evolução da
ciência e da tecnologia, à secularização da vida social, à formação dos estados-nação, ao
universalismo como princípio de partilha de visões, conhecimentos e valores entre povos e
pessoas, e que historicamente tomou a forma de imposição por parte de uma modernidade
eurocêntrica e de sua retórica salvacionista (MIGNOLO, 2009, p. 43).
Dessa maneira, a articulação desse sistema mundial não gerou apenas um processo de
“acumulação original”, mas também a formação de uma primeira cultura ou estrutura simbólica
mundial que sancionava a classificação da população com base em um critério étnico-racial e a
hegemonia de uma racionalidade que afirmava a superioridade do homem-barão europeu. Com
efeito, se por um lado a modernidade se autodefinia como “emancipação pela razão”, por outro,
externava uma práxis irracional contra toda cultura rotulada como não moderna, inferior, rude,
bárbara, sempre sujeita a uma “imaturidade” culpável. Ao atribuir uma culpa à pretensa
bestialidade dos nativos das colônias, a modernidade justificava sua agressão, muitas vezes como
um a priori para criar as condições para um “diálogo”: a guerra, então, seria justa e necessária
para iniciar uma argumentação e um processo de civilizatório com essas populações “atrasadas”
(DUSSEL, 1993).
A crítica epistémica do programa de investigação M/C não somente buscou
problematizar a modernidade, suas narrativas e suas estruturas de poder através de uma análise
de des-colonização, e portanto de des-construção, mas apontou também um projeto ético e
político de-colonial,3 com o objetivo de visibilizar a multiplicidade de conhecimentos, formas
de ser e aspirações dos povos, que pudesse dar vida a uma pluriversalidade no lugar de uma
universalidade, a uma interculturalidade como convivência e intercâmbio entre os saberes e as
3
A escolha do termo decolonialidade e seu adjetivo decolonial, no lugar de descolonialidade/descolonial (sem o
“s”), não representa, segundo Catherine Walsh, a promoção de um anglicismo, mas a sinalização de uma postura
continua de “identificar, tornar visível e incentivar „lugares‟ de exterioridade e construções alternativas”, ao invés de
somente des-armar, des-fazer, des-construir ou reverter o colonial (WALSH, 2009, p. 14-15).
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weltanschauungen, a um cosmopolitismo crítico e alternativo à globalização neoliberal, à
transformação da modernidade no horizonte de outro mundo possível, no qual pudessem caber
muitos outros mundos.
Esse deslocamento na maneira de compreender a modernidade procurou resgatar não
apenas as diferenças culturais, mas também as diferenças coloniais negadas pela colonialidade
do poder a partir do século XVI: vozes silenciadas, memórias fraturadas, histórias contadas só
pelo lado que suprimiam outras memórias e outras histórias. Daí que não somente a
colonialidade, mas também a decolonialidade tornava-se constitutiva da modernidade:
se a colonialidade é constitutiva da modernidade, uma vez que a retórica
salvacionista da modernidade já pressupõe a lógica opressiva e condenatória
da colonialidade (daí os damnés de Fanon), essa lógica opressiva produz uma
energia de descontentamento, desconfiança e desapego entre aqueles que
reagem à violência imperial. Essa energia se traduz em projetos descoloniais
que, em última instância, também são constitutivos da modernidade.
(MIGNOLO, 2007, p. 26).
O pensamento decolonial retrata, em suma, um pensamento crítico plural assentado
sobre as histórias marcadas pela violência colonial, que pretende resgatar o potencial da
alteridade negada apontando para a diversidade como projeto universal. Essa abordagem não
quer fazer da diferença colonial um “objeto de estudo”, e sim um pensar a partir da dor da
diferença colonial, revelando uma descontinuidade na história da modernidade e introduzindo
uma perspectiva oposta, por parte de quem acredita que “a colonialidade originou olhares de
raiva, necessidade de libertação, reação à arrogância e cegueira, tanto pela crueldade de alguns
quanto pela bondade de outros” (MIGNOLO, 2003, p. 32). Bondade e crueldade tem a mesma
origem epistêmica derivada da colonialidade do poder.
2 ELEMENTOS DECOLONIAIS PARA UM DISCURSO CRÍTICO SOBRE A
MISSÃO CRISTÃ
Dessa brevíssima explanação sobre o pensamento decolonial, podemos evidenciar
alguns elementos-chave que podem se tornar ferramentas úteis para um discurso crítico sobre a
missão cristã contemporânea: (a) a irrupção “do outro” como sujeito; (b) o processo de
desprendimento e abertura; (c) o contexto geopolítico da fronteira; (d) as perspectivas para um
projeto decolonial global.
2.1 A irrupção do “outro” como sujeito
O “outro”, como categoria, é uma invenção eurocêntrica, uma entidade criada pelo
“mesmo” num processo de construção de si mesmo. O “outro”, então, é tudo o que não é “eu”.
Mignolo chama os polos desta criação de humanitas (o sujeito moderno) e de anthropos (a
alteridade colonial). A “irrupção dos outros” acontece quando o anthropos desobedece aos
padrões de poder construídos artificialmente para ele, denuncia a suposta ontologia de tais
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categorias, se recusa a reivindicar cidadania na humanitas, reconstroi a própria dignidade a
partir do anthropos, ou seja, do “bárbaro”, do “pobre”, do “oprimido”, afirmando a própria
identidade fronteiriça e esvaziando a pretensão de totalidade da humanitas (MIGNOLO, 2015,
p. 166). Dessa maneira, o “outro”, continuando habitar na fronteira onde se encontra e onde foi
colocado, nela insiste em permanecer e dela questiona a razão moderna se mantendo em
diálogo/confronto com a modernidade através da afirmação da própria diferença. A
colonialidade da irrupção dos “outros” parte de cotidianos de sofrimentos, de injustiças, de
desumanização, de negação, de experiência encarnada, histórica, contextual, carregada de vozes
vivas, de memórias vividas. Na classificação humanitas/anthropos, a modernidade aparece
claramente como a negação da relacionalidade ao impor uma representação unívoca do real,
circunscrita no tempo e no espaço. O pensamento decolonial, ao contrário, tende a promover
uma ampla, profunda e plural relacionalidade temporal e espacial, escutando vozes, ouvindo
histórias, resgatando dignidade e esperança, promovendo re-existências, desmascarando o mito
sacrifical da modernidade, ressuscitando a diferença colonial como elemento essencial para um
mundo onde possam caber muitos mundos.
2.2 O processo de desprendimento e abertura
Para que essa diferença possa emergir para o debate epistêmico, o desprendimento é o
primeiro passo rumo a um pensamento decolonial. Consiste em “desaprender”, abandonar as
formas de conhecer que configuram subjetividades nos moldes da retórica da superioridade
ocidental, desapegar das ficções de verdade e de estética naturalizadas pela matriz colonial do
poder. O segundo passo é a abertura a um pensamento-outro, “sentar-se em círculo para
aprender” (Upanishad) a partir de outras racionalidades, de outras cosmovisões e de outras
maneiras de ser, de saber e de fazer.
Portanto, a opção teórica decolonial propõe uma dupla operação: por um lado, despir-se
das arrogâncias ocidentais que colonizam o conhecimento; por outro, dispor-se a uma nova
maneira de pensar a partir de uma pluralidade de pontos de enunciação geo-historicamente
situados. Dessa forma, teremos uma descolonização epistemológica como reação ao pensamento
ocidental e sua reivindicação universal, através de uma valorização de conhecimentos
rechaçados pela hegemonia eurocêntrica. Em suma, trata-se de aprender a desaprender
(desprendimento) para reaprender de outra maneira (abertura). O que exatamente se pretende
com esta manifestação não é promover uma nova abstração ou uma nova formulação de um
conhecimento teórico, um falar sobre o “outro”, mas a um sentipensar, um corazonar, um tocar
com as mãos “as pegadas da ferida colonial de onde se tece o pensamento descolonial”, um
experienciar vivencialmente caminhos passando por “portas que conduzem a outro tipo de
verdades, cujo fundamento não é o ser, mas a colonialidade do ser” (MIGNOLO, 2007, p. 29).
Os teóricos decoloniais acusam o cristianismo de mudar o conteúdo, mas não os termos
do discurso (MIGNOLO, 2010, p. 24): assim a “cristianização” no século XVI se tornava
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“civilização” no século XIX, “desenvolvimento”, “libertação”, “evangelização” no século XX.
Sempre despontava de alguma maneira uma direção hegemônica: dos missionários para os
pagãos, bárbaros, atrasados, pobres, afastados. Desprendimento e abertura significaria aqui se
despir de uma postura docente para enveredar decididamente pelo caminho da reciprocidade
simétrica intercultural, inter-religiosa, interespiritual.
2.3 O contexto geopolítico da fronteira
Pensar a partir da alteridade colonial aponta para uma subversão epistêmica e política
que só é possível se nos situarmos geograficamente e geopoliticamente na margem, ou na
exterioridade da hegemonia de um pensamento eurocentrado. A fronteira, como anota Carlos
Alberto Motta Cunha (2018), é um campo semântico interessante e também, por sua natureza,
ambivalente. É feita ao mesmo tempo para separar e juntar, confrontar e encontrar, dividir e
unificar, marginalizar e resgatar, delimitar e transgredir, identificar e diferenciar: “é nas
fronteiras que se mede toda a terrível inquietude que atravessa a história da humanidade”
(CASSANO, 1996, p. 53). Habitar a fronteira é uma opção ética e uma práxis histórica concreta
que permite de transpor os limites da totalidade propondo uma superação e uma abertura para
uma novidade subversiva. Fazer da fronteira um lugar onde morar, propicia uma desobediência
epistêmica, política e mestiça dos sujeitos que ali se encontram marcados pela ferida colonial.
Gloria Anzaldúa (1987) define a fronteira como uma ferida aberta, uma lesão que não tem cura,
um corte que não dá para costurar, um tecido vivo dilacerado do qual jorra o sangue da vida:
sabedorias, misturas religiosas e multiculturais, novas subjetividades, novas relações, novas
cosmovisões. Deixar sangrar é perpetuar a multiplicidade do ser. A imagem da fronteira como
ferida aberta diz sobre a impossibilidade de ocultá-la.
2.4 As perspectivas decoloniais para um projeto global
Os caminhos abertos pela irrupção do “outro”, pelo desprendimento, pela desobediência
política e epistémica, pelo habitar a fronteira, apontam para um “ter que viver em um mundo
que é como é, trabalhar não para mudar o mundo, mas para construir um outro a partir das
ruínas do mundo em que vivemos” (MIGNOLO, 2015, p. 393). O horizonte descrito pelos
projetos decoloniais é sensivelmente diferente da otimística perspectiva do progresso e do
desenvolvimento, como também dos bons propósitos voluntaristas eurocentrados de um mundo
melhor. O termo apocalíptico “ruinas” utilizado por Mignolo, não quer indicar o aniquilamento
de uma civilização, ou o desejo de seu malogrado fim, mas a redução crítica da glória do
Ocidente, o desmantelamento da soberba dos arcos do triunfo, a “provincialização” da Europa
(CHAKRABARTY, 2004, p. 15), mesmo que certas categorias, idiomas, ferramentas
conceituais e semânticas possam servir ainda, de alguma forma, como mediação (eis as ruinas).
Os projetos decoloniais identificam-se com aquilo que Boaventura de Sousa Santos chama de
sociologias das emergências, as lutas populares e subalternas que buscam potencialidades e
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possibilidades para uma transformação social anticapitalista, anticolonialista e antipatriarcal,
entretanto que as sociologias das ausências têm a tarefa de tornar possível a passagem da
vitimização à resistência como momento de denuncia da realidade de exclusão (SANTOS, 2019,
p. 53). A epistemologia zulu do ubuntu (“eu sou porque tu és”), os conceitos quéchua de kawsay
(“bem viver”) e de Pachamama (“Mãe Terra”), as noções hindu e gandhianas de swaraj
(“autodeterminação”) e de ahimsa (“não violência”), são exemplos que “devem ser vistos como
um contributo para a renovação e para a diversificação das narrativas e dos repertórios das
utopias concretas de um outro mundo possível” (SANTOS, 2019, p. 33): histórias locais com
vocação necessariamente global – uma vez que a colonialidade do poder atinge dimensões
planetárias – articuladas pela ecologia dos saberes e pela tradução intercultural num movimento
cosmopolita
(SANTOS,
2019,
p.
59),
pluriverso
e
subversivo,
decolonizado
epistemologicamente e desmercantilizado politicamente.
3 APONTAMENTOS E CAMINHOS DECOLONIAIS DO SÍNODO PARA A
AMAZÔNIA
Podemos já facilmente entrever, nesses elementos-chaves do pensamento decolonial,
aspectos familiares à caminhada eclesial e à reflexão teológica latino-americana.
Particularmente, as balizas fincadas pelas conferências gerais do episcopado do continente de
Medellín (1968) até Aparecida (2007), representam claramente um caminho de descolonização
da missão evangelizadora, com suas perspectivas decoloniais inscritas nas vertentes da
libertação integral, da opção pelos pobres, das comunidades de base, da inculturação, da
conversão pastoral.
Também a reflexão missionária especializada, iniciada pouco antes de Medellín pelo
Departamento de Missões do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) junto aos
organismos missionários dos diversos países do Continente, contribuiu consideravelmente com
pesquisas, debates, eventos e provocações, a abrir novas perspectivas e novos horizontes de
compromissos, particularmente no que diz respeito ao diálogo da Igreja com as culturas
indígenas e afro-americanas, como também à sua cooperação com a missão além-fronteiras.
Enfim, a própria Igreja na Amazônia, especialmente no Brasil, conta com uma
caminhada profética significativa desde o encontro de Santarém (1972), no qual surgiu a
explicita exigência de pensar e concretizar “uma Igreja com rosto amazônico”. Em 1997, no
encontro de Manaus, os bispos brasileiros produziram o documento A Igreja se faz carne e
arma sua tenda na Amazônia, destacando o rosto amazônico de uma Igreja discípula da Palavra,
testemunha do diálogo, servidora e defensora da vida, irmã da criação. Em 2007, mais uma vez
em Manaus, poucos meses após Aparecida, os regionais Norte 1, Norte 2 e Noroeste da
Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil lançaram o documento Discípulos missionários na
Amazônia, reconfirmando os compromissos de Santarém e dando ênfase ao desafio urbano em
franca expansão. Por fim, em 2012, aos celebrar os 40 anos do primeiro encontro, bispos e
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agentes de pastorais se encontraram novamente na mesma cidade, para afirmar a necessidade
impelente de apresentar o Evangelho como alternativa diante de uma sociedade de consumo e
da economia de mercado.
Com o advento do pontificado de Francisco (2013), a fundação da Rede Pan-Amazônica
(REPAM, 2014), que reuniu entidades como o CELAM, as conferências episcopais dos nove
países que constituem a Amazônia, o Secretariado da América Latina e Caribe da Cáritas
(SELACC), a Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR),
e a publicação da encíclica Laudato si’, deram o impulso decisivo para que o papa convocasse o
sínodo para a Amazônia, com o tema Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma a
ecologia integral.
Essa caminhada de quase 50 anos confluiu no processo de preparação e realização do
sínodo que contou com inúmeros encontros, debates, seminários (IL 1). As análises e as
propostas que emergiram foram contempladas em sínteses, ensaios e contribuições que
ajudaram a compor um documento preparatório (2018), com um questionário final elaborado
para promover um processo de escuta, e em seguida, produzir um Instrumentum laboris (2019).
O sínodo, por sua vez, aprovou seu Documento final com cinco capítulos e 120 parágrafos.
Finalmente, em fevereiro de 2020, Francisco publicou a exortação apostólica pós-sinodal
Querida Amazônia (2020) como complemento, e não como justaposição, ao Documento final do
sínodo (QA 2).
Muitos elementos que apareceram nestes textos vêm de longe; outros se perderam no
caminho. Foram objetos de reações de todo tipo, desde aplausos até acusações de heresia. Os
assensos e os dissensos que causaram, foram consequências do interesse, da provocação e da
subversão que o sínodo para a Amazônia provocou na Igreja universal. Isso já é por si constitui
um aspecto decolonialmente relevante em relação a um paradigma colonial continuamente
reproposto pela eclesiologia autocentrada da Cúria Romana.
3.1 A irrupção do “outro” como sujeito
A caminhada eclesial latino-americana desde Medellín começou a se questionar diante
da “irrupção do pobre” no cenário sociopolítico e eclesial, com seu anseio de libertação. Mas os
pobres de Medellín não tinham rostos latino-americanos (SUESS, 1998, p. 866). A situação de
camponeses e indígenas eram descritas e analisadas não a partir de um enfoque antropológico,
mas a partir de categorias como marginalização, analfabetismo e opressão, sob a ótica de uma
cultura universal ocidental, não sem um certo sentido de superioridade com o qual se pretendia
purificar e incorporar tais as culturas (DM 5): “o problema de ajudar os pobres em sua luta para
que cheguem a superar a pobreza é algo muito diverso da luta para ajudar o distinto a ser
respeitado como distinto”, afirmou certa vez Xavier Albó (TEIXEIRA, 1991, p. 104).
Aos poucos a superação do enfoque classista do sujeito subalterno, com a “assunção” da
cultura do “outro”, foi reconhecida em Puebla (DP 400) e ganhou mais destaque ainda em Santo
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Domingo na perspectiva da “evangelização inculturada”. Essas “irrupções” tanto dos pobres
como dos outros, porém, ficaram a meio caminho entre paternalismo e cidadania plena nos
documentos das conferências gerais, sendo os pobres considerados mais como objetos de
compaixão de uma Igreja samaritana (DAp 26) do que autênticos sujeitos da evangelização
integral (DAp 257, 398). Além do mais, chama à atenção nesses documentos a falta de
autocrítica histórica, fundamentada e articulada, sobre a evangelização colonizadora, e um
decidido e significativo pedido de perdão pelo conluio entre a conquista espiritual e a conquista
colonial, como fizeram João Paulo II e Francisco (QA 19).
Todavia, nos documentos do processo sinodal para a Amazônia se admite sem meios
termos que
o anúncio de Cristo se realizou em conivência com os poderes que
exploravam recursos e oprimiam as populações. No momento atual, a Igreja
tem a oportunidade histórica de se diferenciar das novas potências
colonizadoras, escutando os povos amazônicos para poder exercer com
transparência sua atividade profética. (DSA 15).
Aparece assim uma atenção mais esmerada com a alteridade, com “os povos indígenas,
ribeirinhos, camponeses e afrodescendentes (quilombolas), as demais Igrejas cristãs e confissões
religiosas, organizações da sociedade civil, movimentos sociais populares, o Estado, enfim
todas as pessoas de boa vontade que buscam a defesa da vida, a integridade da criação, a paz e o
bem comum” (DSA 23), reconhecidos agora como interlocutores. Contudo, Francisco, em sua
Querida Amazônia, convida a ir ainda mais além, dando um toque original à questão do
reconhecimento:
A Amazónia deveria ser também um local de diálogo social, especialmente
entre os diferentes povos nativos, para encontrar formas de comunhão e luta
conjunta. Os demais, somos chamados a participar como “convidados”,
procurando com o máximo respeito encontrar vias de encontro que
enriqueçam a Amazónia. Mas, se queremos dialogar, devemos começar pelos
últimos. Estes não são apenas um interlocutor que é preciso convencer, nem
mais um que está sentado a uma mesa de iguais. Mas são os principais
interlocutores, dos quais primeiro devemos aprender, a quem temos de
escutar por um dever de justiça e a quem devemos pedir autorização para
poder apresentar as nossas propostas. A sua palavra, as suas esperanças, os
seus receios deveriam ser a voz mais forte em qualquer mesa de diálogo
sobre a Amazónia. E a grande questão é: Como imaginam eles o “bem viver”
para si e seus descendentes? (QA 26).
A irrupção do “outro” e do pobre como sujeitos se manifesta exatamente na inversão
dos papéis, em que a Igreja mais que falar “escuta”, mais que ensinar “aprende”: é uma inversão
não só de conteúdos, mas de termos, como amam enfatizar os teóricos decoloniais. Com efeito,
Francisco continua:
O diálogo não se deve limitar a privilegiar a opção preferencial pela defesa
dos pobres, marginalizados e excluídos, mas há de também respeitá-los como
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protagonistas. Trata-se de reconhecer o outro e apreciá-lo “como outro”, com
a sua sensibilidade, as suas opções mais íntimas, o seu modo de viver e
trabalhar. (QA 27).
Enveredar por este caminho decolonial implica para a prática e a teologia da missão
uma radical mudança de orientação e motivação: de uma concepção de missão como
“expansão”, para uma compreensão de missão como um genuíno e profundo “encontro” com os
outros (BEVANS, 2016, p. 41). Ao contrário de visualizar os pobres e os “outros” a serem
catequizadas como “objetos” ou “alvos” de conversão, agora o desafio é de reconhecê-los
simetricamente e dignamente como interlocutores, aos quais corresponde um estatuto de
mediação da salvação (DAp 257).
3.2 O processo de desprendimento e abertura
Dessa maneira, o tema da conversão no lugar de ser dirigidos aos “outros”, é algo que
investe a Igreja missionária em cheio, como fil rouge de toda a preparação e a realização do
evento sinodal. É a Igreja que deve se converter ao ouvir o clamor da terra e dos pobres (DSA
17): ela é chamada a uma conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal (DSA 19), em suas
dimensões pessoal, social e estrutural (DSA 74). Trata-se, antes de tudo, de uma conversão do
estilo de vida pessoal (DPSA 53), libertando-nos da obsessão do consumo (DPSA 74), com uma
vida simples e sóbria (DSA 17), porque “não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de
transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro
estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno” (QA
58). Mas também esse processo não se esgota numa conversão individual: “uma mudança
profunda do coração, que se expressa em mudanças de hábitos pessoais, é tão necessária quanto
uma mudança estrutural que esteja embutida em hábitos sociais, em leis e em programas
econômicos convencionados.” (DPSA 54).
Essa conversão começa pela escuta: deixar-se interpelar seriamente pelas periferias
geográficas e existências não é nada fácil (IL 3). A Igreja deve escutar os pobres porque “ao
ouvir a dor, o silêncio se faz necessidade, para poder ouvir a voz do Espírito de Deus” (IL 144).
Com efeito, a celebração do sínodo conseguiu destacar a integração da voz da Amazônia com a
voz e o sentimento dos pastores participantes: “foi uma nova experiência de escuta para
discernir a voz do Espírito Santo que conduz a Igreja a novos caminhos de presença,
evangelização e diálogo intercultural na Amazônia.” (DSA 4). Nessa escuta, “a Igreja é
chamada a aprofundar sua identidade em correspondência às realidades de seu próprio território
e a crescer em sua espiritualidade escutando a sabedoria de seus povos” (DPSA 66), e também
“no seu processo de escuta do clamor do território e do grito dos povos, deve fazer memória dos
seus passos” (DSA 15). Essa escuta é caraterística de uma espiritualidade que sustenta a ação
pastoral (DSA 38).
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A conversão integral conclamada pelo sínodo para a Amazônia é uma conversão que
aponta para uma aprendizagem fundamental, porque “os povos amazônicos originários têm
muito a ensinar-nos” (IL 29). Com efeito:
O processo de conversão ao qual a Igreja é chamada implica desaprender,
aprender e reaprender. Este caminho exige uma visão crítica e autocrítica que
nos permita identificar aquilo que devemos desaprender, o que prejudica a
Casa Comum e seus povos. Temos necessidade de percorrer um caminho
interior para reconhecer as atitudes e mentalidades que nos impedem de nos
conectarmos conosco mesmos, com os outros e com a natureza; [os povos
indígenas] nos ensinam a reconhecer-nos como parte do bioma e
corresponsáveis de seu cuidado pelo presente e pelo futuro. Portanto,
devemos reaprender a entretecer laços que assumam todas as dimensões da
vida e a assumir uma ascese pessoal e comunitária que nos permita
“amadurecer numa sobriedade feliz” (LS 225). (IL 102, grifos do autor).
Esse apelo a desaprender, aprender e reaprender, típico da linguagem do grupo M/C, é
associada à superação de qualquer tendência a modelos colonizadores que causaram tantos
danos no passado (DSA 81). Hoje a Igreja é chamada a “desmascarar as novas formas de
colonialismo presentes na Amazônia e a identificar as novas ideologias que justificam o
ecocídio amazônico, para analisá-las criticamente.” (IL 104). Essa (des)aprendizagem se
estrutura como um “diálogo de saberes, o desafio de dar novas respostas buscando, modelos de
desenvolvimento justo e solidário” (DSA 65). Afinal, aprender do outro (DSA 41) é “deixar-se
evangelizar” (EG 198).
Trata-se de uma fundamental disposição à abertura que necessita de “uma conversão à
experiência sinodal [... para] fortalecer uma cultura de diálogo, de escuta recíproca, de
discernimento espiritual, de consenso e comunhão para encontrar espaços e caminhos de
decisão conjunta e responder aos desafios pastorais”. (DSA 88). Uma Igreja com rosto
amazônico, procura ser uma Igreja “em saída” (EG 20-23), “que deixa atrás de si uma tradição
colonial monocultural, clericalista e impositiva, que sabe discernir e assumir sem medo as
diversificadas expressões culturais dos povos” (IL 110), e que nos alerta para o risco de
“pronunciar uma palavra única [ou] propor uma solução que tenha um valor universal” (EG
184). Essa Igreja aprendeu, por via negativa, o segredo da evangelização daqueles que se
comportaram como senhores da fé e donos da verdade na casa dos outros.
3.3 O contexto geopolítico da fronteira
Toda a caminhada de preparação e realização do sínodo para a Amazônia representou
um processo profundamente, criticamente e geopoliticamente situado. Paradoxalmente, a reta
final desse percurso foi finalizada em Roma, pela importância planetária da pauta humanitária
que estava em jogo, como também, e sobretudo, pelas implicações pastorais, eclesiológicas e
estruturais referentes à reforma da Igreja como um todo. Coerentemente com um pensamento
fronteiriço decolonial, o debate sobre a periferia pan-amazônica não devia ser circunscrito
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somente a uma reflexão contextual regional, mas precisava colocar em questão o discurso
autocentrado da cristandade ocidental enquanto tal. Além do mais, devia obrigar a Igreja a uma
decidida tomada de posição diante da “linha abissal” que separa o mundo moderno do mundo
colonial (SANTOS, 2010, p. 36). O Documento final do sínodo apresenta claramente a
necessidade de um posicionamento nesse sentido como uma exigência primordial de fé:
Para os cristãos, o interesse e a preocupação com a promoção e o respeito dos
direitos humanos, tanto individuais como coletivos, não é algo opcional. O
ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus criador e sua dignidade
é inviolável. Por isso, a defesa e a promoção dos direitos humanos não é
apenas um dever político ou uma tarefa social, mas também, e sobretudo,
uma exigência de fé. Talvez não possamos modificar imediatamente o
modelo de um desenvolvimento destrutivo e extrativista imperante, mas é
necessário saber e deixar claro: Onde nos situamos? Ao lado de quem
estamos? Que perspectiva assumimos? (DSA 70).
A partir de um olhar situado na colonialidade amazônica, o sínodo procurou
desmascarar o caráter “amigável” do progresso tecnocrático, revelando sua índole voraz e
predatória “que tende a espremer a realidade até o esgotamento de todos os recursos naturais
disponíveis” (DSA 71). Como já fez Francisco na encíclica Laudato si’, denunciando “um
sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso” (LS 52), a Igreja na
Amazônia também “se compromete a ser aliada dos povos amazônicos para denunciar os
ataques contra a vida das comunidades indígenas, os projetos que afetam o meio ambiente, a
falta de demarcação de seus territórios, bem como o modelo econômico de desenvolvimento
predatório e ecocida.” (DSA 46). “A colonização não para”, lamenta o papa: “embora em
muitos lugares se transforme, disfarce e dissimule, todavia, não perde a sua prepotência contra a
vida dos pobres e a fragilidade do meio ambiente” (QA 16).
No entanto, essa terra ferida “é uma terra de florestas e águas, de pântanos e várzeas,
savanas e serras, mas sobretudo uma terra de inúmeros povos, muitos deles milenares,
habitantes ancestrais do território, povos de antigos perfumes que continuam a perfumar o
continente contra todo desespero.” (DSA 41). O Instrumentum laboris afirma que a Amazônia
“não é somente um ubi (um espaço geográfico), mas também um quid, ou seja, um lugar de
sentido para a fé ou a experiência de Deus na história”, um lugar teológico “peculiar fonte de
revelação”, onde se manifestam as “carícias de Deus” (LS 84) que se encarna na história (DSA
19).
A Amazônia é um lugar onde se aprende (IL 21; DSA 43), “espaço precioso da
convivência humana” (DAp 471), espaço sagrado, fonte de vida e sabedoria (DSA 80), que
“tem sido apresentada como um enorme vazio que deve ser preenchido”, numa perspectiva que
ignora os povos como se não existissem, “como se as terras onde habitam não lhes
pertencessem [...] como intrusos ou usurpadores [...] como um obstáculo de que nos temos de
livrar” (QA 12). Agora esses povos
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expressaram claramente que querem que a Igreja os acompanhe, que caminhe
com eles e que não lhes imponha um modo particular de ser, um modo
específico de desenvolvimento que pouco tem a ver com as suas culturas,
tradições e espiritualidades. Eles sabem como cuidar da Amazônia, como
amá-la e protegê-la; o que eles precisam é que a Igreja os apoie. (DSA 74).
A Igreja habita essa fronteira, “montando sua tenda, seu „tapiri‟” (IL 30), navegando rio
adentro e “promovendo um estilo de vida em harmonia com o território e, ao mesmo tempo,
com o „bem viver‟ dos que ali habitam” (DSA 75), procurando delinear seu rosto amazônico.
3.4 As perspectivas decoloniais para a evangelização
Francisco alimenta decididamente a esperança que “sempre é possível superar as
diferentes
mentalidades
de
colonização
para
construir
redes
de
solidariedade
e
desenvolvimento” (QA 17). O objetivo é promover a Amazónia: “isto, porém, não implica
colonizá-la culturalmente, mas fazer de modo que ela própria tire fora o melhor de si mesma”
(QA 28). O Documento final do sínodo enfatiza que a “evangelização [...] não é um processo de
destruição, mas de consolidação e fortalecimento desses valores [do mundo indígena]; uma
contribuição para o crescimento das „sementes do Verbo‟ (DP 401, cf. GS 57) presentes nas
culturas.” (DSA 54).
A perspectiva da interculturalidade entra com determinação nos documentos do
magistério latino-americano. O Instrumentum laboris, retomando o Documento de Aparecida,
lembrava que os novos caminhos que a Igreja pretende desbravar na Amazônia se baseiam “em
relações interculturais onde a diversidade não significa ameaça, não justifica hierarquias de um
poder sobre outros, mas sim diálogo a partir de visões culturais diferentes, de celebração, de
inter-relacionamento e de reavivamento da esperança” (DAp 97). Por sua vez, o sínodo propõe
“caminhos para uma Igreja intercultural”, que se aproxima “de igual para igual”, rejeitando
explicitamente um estilo colonial e optando por “um anúncio inculturado que gera processos de
interculturalidade” (DSA 55). Querida Amazônia, que recorre só duas vezes ao termo
“intercultural”, todavia afirma que a fronteira pode transformar-se numa ponte, porque
identidade e diálogo não são inimigos, mesmo apresentando uma tensão delicada. De um lado,
devemos admitir que o isolamento de um indigenismo fechado, empobrece. Por outro, como
não é fácil proteger-se da invasão cultural, é preciso cuidar dos valores culturais dos grupos
indígenas: “se não progredirmos nesta direção de corresponsabilidade pela diversidade que
embeleza a nossa humanidade, não se pode pretender que os grupos do interior da floresta se
abram ingenuamente à „civilização‟.” (QA 37).
Por isso, a tarefa evangelizadora da Igreja, que não deve ser confundida com
proselitismo, deve “incluir processos claros de inculturação de nossos métodos e esquemas
missionários”
(DSA
56).
O
Instrumentum
laboris
afirmava
que
“inculturação
e
interculturalidade não se opõem, mas se completam.” Assim como Jesus se encarnou em uma
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determinada cultura (inculturação), seus discípulos missionários saíram ao encontro de pessoas
de outras culturas (interculturalidade) dando vida a novos caminhos do Espírito (IL 108).
A convergência do diálogo com as culturas amazônicas, que mais promete abrir para um
intercâmbio construtivo e para um projeto decolonial, se desdobra no horizonte do “bem viver”,
que encontra o seu correlativo bíblico nas bem-aventuranças:
Trata-se de viver em harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres
humanos e com o ser supremo, pois existe uma intercomunicação entre todo
o cosmos, onde não há exclusão nem excluídos, e onde podemos criar um
projeto de vida plena para todos. Tal compreensão da vida é caracterizada
pela interligação e harmonia das relações entre água, território e natureza,
vida comunitária e cultura, Deus e as várias forças espirituais. Para eles,
“bem viver” significa compreender a centralidade do caráter relacional
transcendente dos seres humanos e da criação, e implica um “bem fazer”.
(DSA 9).
Esse horizonte tem um alcance universal necessário, no qual “a Amazônia representa
um pars pro toto, um paradigma, uma esperança para o mundo” (IL 37), para estabelecemos
“um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural” (EG 239). Nesse projeto a Igreja
quer ser “aliada”, expressão assumida e reafirmada com firmeza pelo Documento final (DSA 4),
a serviço da vida plena (DSA 48), inaugurando um jeito sinodal de ser, elemento fundamental
para um salto de qualidade de uma missão colonizadora a uma missão em perspectiva
decolonial:
Para caminhar juntos, a Igreja precisa hoje de uma conversão à experiência
sinodal. É necessário fortalecer uma cultura de diálogo, de escuta recíproca,
de discernimento espiritual, de consenso e comunhão para encontrar espaços
e caminhos de decisão conjunta e responder aos desafios pastorais. Assim, se
fomentará a corresponsabilidade na vida da Igreja num espírito de serviço.
Urge caminhar, propor e assumir as responsabilidades para superar o
clericalismo e as imposições arbitrárias. A sinodalidade é uma dimensão
constitutiva da Igreja. Não se pode ser Igreja sem reconhecer um efetivo
exercício do sensus fidei de todo o povo de Deus. (DSA 88).
Essa “conversão sinodal” implicava uma reforma estrutural da Igreja, particularmente
em sua dimensão ministerial, a fim de caracterizar de maneira arrojada um verdadeiro rosto
amazônico. Essa era umas das expectativas mais aguardada que, obviamente, devia passar pelo
crivo do magistério pontifício. Inúmeras vozes se levantaram reivindicando uma mudança na
configuração e na compreensão do ministério ordenado para que muitas comunidades dispersas
no território amazônico pudessem ter acesso à eucaristia (DSA 111). Infelizmente, papa
Francisco, sob violentas pressões da Cúria Romana, não teve as condições, os elementos ou a
ousadia de afirmar algo de diferente da disciplina e da teologia tradicional a respeito, o que
resultou em asserções totalmente desconectadas da caminhada sinodal até então realizada. O
sonho eclesial franciscano ficou pela metade: mas conseguiu igualmente colocar alguns marcos
nas metas alcançadas a partir dos quais projetar passos promissores.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a Conferência de Medellín (1968), o jovem bispo mexicano dom Samuel Ruiz
García, de San Cristóbal de las Casas, Chiapas, proferiu uma das sete conferências programadas
sobre A evangelização na América Latina, dedicando um destaque apaixonado à situação dos
povos indígenas, marginalizados social, política, econômica, cultural e pastoralmente, aos quais
não se reconhecia o direito de receber a mensagem cristã dentro de suas próprias culturas. Ruiz
denunciou a falta de conhecimento e de planejamento por parte da Igreja da América Latina,
que fazia do indígena um objeto de assistência e não um sujeito de libertação. Na época, a
questão indígena não estava na pauta das urgências de Medellín, e por isso não era considerada
importante. Então o prelado mexicano dirigiu à assembleia essas contundentes palavras:
Pode-se dizer com toda energia que é necessário saber distinguir em nossa
pastoral o que é urgente e o que é transcendente – mesmo que seja menos
urgente. Sem essa postura, séculos continuarão se acumulando sobre este
problema vergonhoso que poderia muito bem ser chamado de fracasso
metodológico da ação evangelizadora da Igreja na América Latina. (RUIZ,
1969, p. 160).
Este apelo ficou ignorado e representou umas das mais graves falhas de Medellín:
somente cinco vezes o Documento final menciona os indígenas, nunca os afro-americanos, os
ciganos ou outros povos.
Mas após a II Conferencia do Episcopado do continente, os organismos missionários se
articularam, aprofundaram as temáticas que já tinham sido tratadas no Encontro de Melgar,
Colômbia, poucos meses antes de Medellín, e avançaram na reflexão até introduzir a questão do
“outro” e da “cultura” dentro da pauta pastoral e da reflexão teológica latino-americana. Já
Puebla (1979) “assumia” a problemática da diversidade cultural e Santo Domingo (1992)
consagrava o paradigma da inculturação, mesmo na ambivalência entre a afirmação de uma
hipotética “cultura cristã” não situada, e a proposta de uma “evangelização inculturada” em
analogia com o mistério da encarnação (SD 243b). Aparecida (2007), por sua vez, resgatava a
palavra “missão” como paradigma-síntese de toda uma caminhada libertadora, apontando para
uma necessária conversão eclesial em termos de desacomodação (DAp 362), de saída (DAp
363) e de reformas espirituais, pastorais e institucionais (DAp 367). Todavia, temas como a
descolonização e a interculturalidade, que já tinha chegado a maturação no debate acadêmico,
político e missionário, apareceram só en passant.
De alguma forma, o sínodo para a Amazônia representa um grande passo à frente, em
linha com a tradição latino-americana, quase se tratasse, e em parte correspondendo, à
celebração de uma VI conferência dos bispos latino-americanos e caribenhos, em seu processo
de preparação, realização e recepção. Esse evento respondeu positivamente à possibilidade e à
urgência de descolonizar a missão cristã, elaborando uma reflexão missionária em perspectiva
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decolonial, traçando linhas de ação de compromisso intercultural para a ação missionária tais
como: a) desmascarar a cumplicidade da missão com as relações coloniais na história e no
presente; b) desenvolver ferramentas que ajudem a detectar e a se defender contra a hegemonia
de cosmovisões dominantes; c) colocar-se a serviço dos povos subalternos como aliados de suas
causas libertadoras, hóspedes em sua casa, no diálogo intercultural com eles.
Não se trata de querer negociar, ou confundir, verdades de fé com circunstâncias
históricas, e sim se dispor a testemunhar o próprio âmago do Evangelho na proximidade às
realidades humanas, no diálogo político, intercultural, inter-religioso e interespiritual, na
reciprocidade e na reconciliação, na promoção de sociedades mais justas e fraternas, na tensão
esperançosa para uma comunhão pluriversal plena.
Envolver-se na perspectiva decolonial, intercultural e pluriversal significa assumir
riscos e abrir-se para o inesperado. Isso não quer dizer optar pelo relativismo, mas pela profunda
humildade e pela necessária aprendizagem: “com a modéstia do provisório e do inacabado, é
urgente aprender, talvez por muito tempo, a arte da pluralidade dos discursos e de sua polifonia”
(ARNOLD, 2014, p. 43). O sujeito da missão deverá se considerar hóspede na casa do outro, no
seguimento de Jesus discípulo e na força do Evangelho servidor vulnerável.
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Recebido em: 19/05/2020.
Aceito em: 21/07/2020.
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ISSN 2595-8208 76