Universidade do Estado de Minas Gerais | UEMG
Lavínia Rosa Rodrigues
Reitora
Thiago Torres Costa Pereira
Vice-reitor
Raoni Bonato da Rocha
Chefe de Gabinete
Fernando Antônio França Sette Pinheiro Júnior
Pró-reitor de Planejamento, Gestão e Finanças
Magda Lucia Chamon
Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação
Michelle Gonçalves Rodrigues
Pró-reitora de Ensino
Moacyr Laterza Filho
Pró-reitor de Extensão
Editora da Universidade do Estado de Minas Gerais | EDUEMG
conselho editorial
Thiago Torres Costa Pereira • UEMG
Flaviane de Magalhães Barros • PUC Minas
Fuad Kyrillos Neto • UFSJ
Helena Lopes da Silva • UFMG
Amanda Tolomelli Brescia • UEMG
José Márcio Pinto de Moura Barros • UEMG • PUC Minas
Ana Lúcia Almeida Gazzola • UFMG
Thiago Torres Costa Pereira
Editor-chefe
Gabriella Nair Figueiredo Noronha Pinto
Coordenação
3
expediente
Estúdio do Texto
Hugo Lima
Leonardo Peifer de Araujo
Leandro Luiz Ferreira de Andrade
Revisão
Ana Júlia de Souza Oliveira
Gabriella Nair Figueiredo Noronha Pinto
Thales Rodrigues dos Santos
Projeto gráfico e diagramação
–
Direitos desta edição reservados à EDUEMG.
Rodovia Papa João Paulo II, 4143. Ed. Minas, 8º andar,
Cidade Administrativa, bairro Serra Verde, BH-MG. CEP: 31630-900
(31) 3916-9080 |
[email protected] | eduemg.uemg.br
Volume 3
Coleção 30 anos UEMG
ações de
EXTENSÃO
Moacyr Laterza Filho
Thiago Torres Costa Pereira (Orgs.)
Belo Horizonte, 2019
7
Prefácio
A missão de escrever um breve texto, que dialoga com a
história da nossa universidade, pela passagem dos 30 anos
de sua criação, é desafiadora e complexa, pois exige fazer
escolhas. Hesito sobre quais os aspectos dessa história
devem ser colocados em destaque. Tenho uma certeza: a
UEMG, como uma universidade pública, procura cumprir
o seu papel histórico e social, na medida em que produz
conhecimento, preserva o pensamento crítico acumulado, contribui para a democratização do saber e se torna
mais inclusiva.
O processo constituinte mineiro, em 1989, consagrou uma
nova Constituição, contemplando, no artigo 81, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, a criação da UEMG
como entidade pública sob a forma de autarquia de regime
especial. Na instalação das unidades da Universidade do
Estado de Minas Gerais, ou na encampação de entidades
educacionais de ensino universitário, levar-se-iam em
conta, prioritariamente, regiões densamente povoadas
não atendidas por ensino público superior, observada a
vocação regional.
A UEMG nasce multicampi com a incorporação de fundações públicas, que ofereciam basicamente o ensino de
graduação. Assim, a criação da UEMG foi norteada pela
premissa do máximo aproveitamento da rede de ensino
superior já instalada em MG.
O processo de estruturação da UEMG revelou-se lento
e complicado. As fundações precisavam ser saneadas
financeiramente – o que só ocorreria após a resolução de
todas as dívidas, inclusive as que dependiam de decisão
judicial – para que, em seguida, pudessem ser extintas,
transferindo-se, assim, para a UEMG, o patrimônio de que
dispunham, bem como todos os seus funcionários, professores e discentes.
Na capital, com a aprovação da Lei nº. 11.539, de 1994, o
campus de Belo Horizonte incorporou os cursos de quatro
escolas que já pertenciam ao Estado: a Escola Guignard
(criada em 1943), Escola de Artes Plásticas (atual Escola
de Design) (1955), Escola de Música (1954) e o Curso de
Pedagogia do IEMG (1970), atual Faculdade de Educação.
Na mesma perspectiva, em 2002 foi criado o Instituto Superior de Educação “Dona Itália Franco” em Barbacena. No
9
mesmo ano, a UEMG, em convênio com a Autarquia Municipal de Ensino de Poços de Caldas, inicia a oferta do curso
(fora de sede) de Pedagogia da Faculdade de Educação do
Campus de Belo Horizonte. A Faculdade de Políticas Públicas Tancredo Neves foi criada em 2005, e em 2006 cria-se
a Faculdade de Engenharia de João Monlevade. Ainda em
2006, a universidade se fez presente com a oferta de um
curso (fora de sede) em Design, no município de Ubá. Em
2007 a Unidade da UEMG em Frutal foi estadualizada, e, em
2011, a Unidade de Leopoldina foi inaugurada.
A partir de 2013, a UEMG retoma um novo processo de
expansão com o início da incorporação dos cursos oferecidos por seis fundações associadas do interior do Estado,
com sedes em Campanha (criada em 1966), Carangola
(1970), Diamantina (1968), Divinópolis (1964), Ituiutaba
(criada em 1963, mas com oferecimento de cursos superiores a partir de 1970) e Passos (1965). Também em 2013,
foram incorporados os cursos mantidos pela Fundação
Helena Antipoff, que são vinculados ao Instituto de
Educação Superior Anísio Teixeira, em Ibirité, e que eram
oferecidos desde 2001.
Em 2017, foi aprovada pelo Conselho Universitário a transformação, em Unidade Acadêmica, do curso fora de sede,
em Poços de Caldas, que foi desvinculado da FaE/CBH.
Duas outras unidades passaram por processo semelhante
no mesmo ano: os cursos de Abaeté (2002) e de Cláudio
(2001), que foram desvinculados da unidade de Divinópolis.
Em dezembro de 2018, a Assembleia Legislativa do Estado
de Minas Gerais aprova a legislação que autoriza o Governo
do Estado a assumir o passivo das fundações, bem como a
transferência de bens para a UEMG (29 anos depois da criação da Constituição Estadual) – situação que foi acolhida
e está sendo implementada pela Secretaria de Estado da
Fazenda, com acompanhamento da Controladoria Geral
do Estado e da Advocacia Geral do Estado.
Hoje a Universidade do Estado de Minas Gerais beneficia
mais de 20.000 (vinte mil) estudantes, dos quais cerca de
70% vêm de escolas públicas. Nesse sentido, a UEMG representa, em algumas regiões, a única possibilidade de acesso
à universidade pública para as parcelas mais desfavorecidas da população. Distribuída em 16 municípios mineiros,
do Alto Jequitinhonha ao Sul de Minas, a importância
regional de suas unidades lhe confere uma capilaridade
que nenhuma outra universidade no Estado possui.
Em 2019, ao celebrar 30 anos de existência, a UEMG
mantém viva a memória de sua trajetória e reafirma seu
compromisso com a produção de saberes que venham a
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa,
inclusiva e solidária. Atualmente, é a terceira maior universidade pública do Estado, oferecendo diversos cursos de
graduação e pós-graduação.
Nesse contexto, a publicação da Coleção Comemorativa
dos 30 anos da UEMG é orientada por duas vertentes: um
olhar para o passado, por meio da reconstrução da memória da Universidade, com seu papel histórico expressivo no
11
cenário mineiro, e um olhar em direção ao futuro, acenando
para os desafios inerentes à oferta de um ensino superior
público de qualidade, gratuito e plural.
Nos limites de sua missão e de sua esfera de atuação,
a UEMG assume para si a responsabilidade de ser um
agente integrador dos valores de cada região, procurando
compartilhar, com outras instituições e com a sociedade,
sua meta de entrelaçar, de modo mais fecundo e produtivo,
as diversas Minas Gerais.
Dessa forma, por acreditarmos que a universidade pública é fundamental para o desenvolvimento e a integração
dos setores da sociedade e das regiões do Estado, seguiremos promovendo o ensino, a pesquisa e a extensão de
qualidade. O povo mineiro é a principal garantia desse
compromisso, e é para ele que apresentamos esta Coleção.
Lavínia Rosa Rodrigues
Reitora
Apresentação
É já relativamente corriqueiro ouvir-se dizer que o conhecimento universitário é construído sobre três pilares
fundamentais: ensino, pesquisa e extensão. Se isso tem
realmente uma grande parcela de verdade, é, no entanto,
insuficiente para definir as especificidades daquilo que é
produzido pela Universidade: a distinção quase pedagógica desses três pilares pode soar como uma tripartição
segmentada de ações e práticas distintas que subsidiam,
cada uma à sua maneira, o próprio conhecimento universitário. Na realidade, a desejável indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão faz, dos três, muito mais que
pilares: faz-lhes dimensões. Nesse sentido, muda-se a
perspectiva: ao invés de se perceber, fragmentariamente,
o conhecimento, que a Universidade constrói, como sendo
alicerçado em três pilares distintos, isolados em suas
práticas específicas, ele passa a ser percebido como uma
unidade, passível de ser observado em dimensões diferentes, mas sempre em permanente contato e diálogo,
gerando interferência mútua, criando um dinamismo vivo
e em perpétua reelaboração.
Essa é a beleza do conhecimento universitário, sempre
irrequieto e questionador, mas por isso mesmo, sempre
pronto a ouvir, descobrir, divulgar o que descobriu e aplicar
o que aprendeu. Portanto, mais do que interferência da
Academia na Sociedade, a extensão universitária é uma das
forças motrizes da própria Universidade e uma das razões
de sua saudável inquietude. Na dimensão da extensão, a
Universidade ouve e age, procurando mudanças e transformações balizadas no diálogo permanente com o ensino
e a pesquisa.
Quanto maior for a importância da Universidade na
comunidade em que se insere, maior será a importância
da extensão universitária, que acolherá demandas e as
reverterá em ações. Isso não apenas aproxima a Academia
da Sociedade, mas transforma uma em parte da outra.
Nesse sentido, a Universidade – mormente a Universidade
Pública – é inegavelmente uma instituição social cujo papel
estratégico de conceber, divulgar e praticar as transformações (intelectuais, técnicas, científicas, artísticas, culturais
ou filosóficas) não pode ser colocado em segundo plano.
Por isso, pode-se dizer que a UEMG tem uma vocação inata
para a extensão. A sua presença em diversas regiões do
Estado de Minas Gerais – do Alto Jequitinhonha ao Sul de
Minas, da Zona da Mata ao Triângulo Mineiro, da Capital
ao Centro-Oeste Mineiro – traz-lhe as mais diversificadas
demandas, em grande parte sociais. Sem a concepção
indissociável das três dimensões do conhecimento universitário (ensino, pesquisa e extensão), essas demandas
ecoariam sem êxito. Mas, na extensão universitária, elas
se transformam em uma epifania, na medida em que a
Universidade se vê capaz de concretizar visível e palpavelmente a sua missão cidadã de transformação social.
Os exemplos de extensão contidos neste volume são
apenas uma pequena amostragem dos trabalhos, projetos,
ações e intervenções que a UEMG realiza em Minas Gerais.
Nem todas as unidades acadêmicas puderam ser contempladas aqui, mas é importante que se diga que nenhuma
delas nem nenhuma ação de extensão tem menor valor que
outra. A enorme monta dessas ações, que a UEMG produz
ininterruptamente desde sua criação, há trinta anos, não
caberia em uma única publicação. No entanto, procuramos traçar um panorama diversificado, abordando áreas
de conhecimento distintas e apresentando ações que, em
sua singularidade, demonstram a relevância da UEMG em
Minas Gerais.
No entanto, é bem que se diga que a extensão universitária
se concretiza em ações e que essas ações nem sempre são
transformadas em relatórios ou artigos, mas em produtos,
eventos, interferências, intervenções, ou práticas continuadas. Estes estão presentes, difusos e ativos em todo o
Estado de Minas Gerais, nas regiões onde a UEMG está...
Porque a extensão não é apenas a letra, mas a letra, a ação
e a voz.
Moacyr Laterza Filho
Sumário
19
20
Extensão universitária em
diálogos regionais – UEMG
Unidade Divinópolis
José Vitor Vieira Salgado,
Rosimeire de Freitas
Santos Peixoto, Leonardo
Luiz da Silva Terrezza e
Maria Rosária da Cruz
36
Extensão universitária
e a construção de
um conhecimento
emancipador: a
experiência do Centro
de Memória Professora
Batistina Corgozinho
José Heleno Ferreira e Flávia
Lemos Mota de Azevedo
60
Protagonismo
infantojuvenil no bairro
Belvedere em Divinópolis
André Amorim Martins,
Raquel Viotti, Luisa
Costa, Jéssica Nunes
e Victor Figueiredo
80
A trajetória do Núcleo
de Extensão e Pesquisa
em Educação de Jovens
e Adultos
Nágela Aparecida Brandão,
Gilvanice Musial, Vânia Costa,
Ana Catharina Mesquita
Noronha, Maria Cristina
Silva, Márcia Helena Nunes
Monteiro, Roberto Márcio
Rezende, Walquíria Miranda
Rosa e Ana Cláudia Godinho
110 Cemitério do Bonfim:
Arte, História e Educação
Patrimonial: a experiência
das visitas guiadas
Marcelina das Graças
de Almeida
130 Interação de saberes na
Semana UEMG
Márcia Helena Batista
Corrêa da Costa, Viviane
Gontijo Augusto e Elvis
Aparecido Gomes Ferreira
150 Ecopedagogia e
Ecologia Integral: Curso
de Extensão
Tatiana Maciel Gontijo
de Carvalho
Extensão universitária em diálogos
regionais – UEMG Unidade Divinópolis
José Vitor Vieira Salgado
Rosimeire de Freitas Santos Peixoto
Leonardo Luiz da Silva Terrezza
Maria Rosária da Cruz
21
Introdução
A extensão universitária é compreendida como uma ação
da Universidade junto à comunidade, ao território e à
região que a rodeia, formando uma via de mão dupla, num
perfeito movimento em que ora a Universidade produz
conhecimento e a sociedade o recepciona, ora a comunidade produz saberes e a Universidade os recepciona
(NUNES; SILVA, 2011). Assim, por meio dessa troca, torna-se
possível a construção de projetos dialógicos tanto para a
sociedade e para a região quanto para a Universidade.
No âmbito da Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG), a extensão universitária é vista como um conjunto
de processos distintos que envolvem ações educativas,
culturais e científicas. Geralmente, são ações multidisciplinares que, articuladas ao Ensino e à Pesquisa, produzem
22
conhecimento por meio de ações dirigidas a estudantes,
professores, e à comunidade em geral (UEMG, 2019).
É importante ressaltar que, embora a extensão descrita
neste artigo tenha como foco as ações desenvolvidas pela
UEMG Unidade Divinópolis, não se deve separá-la das
políticas extensionistas da Universidade como um todo e
do contributo social das mesmas. Estas – as ações – sejam
na Unidade de Divinópolis, ou em outra cidade, de forma
significativa, contribuem para a inserção da instituição em
diferentes regiões mineiras, fortalecendo seu papel social
e evidenciando o seu protagonismo.
Conforme marcos regulatórios estabelecidos no Fórum
Nacional de Pró-reitores de Extensão das Universidades
Brasileiras (FORPROEX, 2012), a extensão é um processo
educativo, cultural e científico que visa desenvolver
relações entre Universidade e sociedade, objetivando a
redução das desigualdades sociais, a exclusão, a troca de
conhecimento e de saberes, de buscas alternativas de solução para os problemas da população que vive à margem
da produção da riqueza material e cultural, contribuindo
para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, bem
como para o bem estar social, com impacto relevante na
economia local e regional. Tem como diretrizes a transformação social no ambiente e uma interação dialógica entre
Universidade e comunidade.
A UEMG, de acordo com seu Estatuto (UEMG, 2012), tem por
finalidade o ensino, a pesquisa e a extensão, de modo a
promover o desenvolvimento artístico, científico, cultural,
23
esportivo e tecnológico, bem como contribuir para uma
consciência regional, assessorando governos municipais,
grupos socioculturais e entidades representativas no
planejamento e na execução de projetos específicos, além
de contribuir para a melhoria dos padrões e da qualidade
de vida das regiões mineiras.
Nesse sentido, é perceptível a relação complexa, indissociável e transformadora entre Universidade/Extensão
e sociedade, tal como duas esferas, possibilitando que,
a curto, médio e longo prazos, conversem entre si,
construindo projetos, ações e programas extensionistas
efetivos, que abram, de fato e de direito, as portas da
Universidade para todo seu território de abrangência,
para uma troca de conhecimento acadêmico e de saberes
socialmente compartilhados.
Entre as ações transformadoras da extensão, preza-se pela
territorialidade e regionalidade. Assim, pode-se afirmar
que a UEMG Unidade Divinópolis possui uma posição estratégica no cenário geográfico, com grande capilaridade para
extensão, uma vez que Divinópolis é uma cidade da mesorregião Centro-oeste mineira, com população estimada de
236.000, IDH - 0,76, localizada a 121 km da capital do estado.
O município faz limite ao norte com Nova Serrana – polo
calçadista de Minas Gerais – e Perdigão; ao sul faz limite
com a cidade de Cláudio, a leste com São Gonçalo do Pará
e Carmo do Cajuru, dois grandes centros econômicos de
doces e de móveis, respectivamente; e, a oeste, limita com
São Sebastião do Oeste e Santo Antônio do Monte (IBGE,
2017) (figura 1).
24
Figura 1: Geolocalização da cidade de Divinópolis, extraída do
Google Maps
Disponível em: <https://bit.ly/2qqWh5x>. Acesso em: 18 out. 2019.
Na divisão dos territórios de planejamento do Governo de
Minas, Divinópolis está na região Centro-oeste, formada por
56 municípios e 8 microrregiões. No circuito de roteirização
turística, fez parte do Circuito de Regionalização – Verde
Trilha dos Bandeirantes, certificado pelo Mapa do Turismo
Brasileiro, composto por 12 cidades, e, hoje, faz parte do
Circuito Campos das Vertentes, composto por 08 cidades.
Na região, há duas Superintendências Regionais de Ensino,
com jurisdição média de 40 cidades. Em dezembro de 2018,
25
por meio da Lei nº. 22.895, foi instituído o polo da Moda
e da Confecção, tendo Divinópolis como município sede
com outras 19 cidades, fortalecendo a cadeia produtiva do
setor têxtil.
Na região, há três Academias de Letras, além de atividades
extrativistas de telhas, tijolos e pedras ardósias, movimentando a economia das cidades de Igaratinga e Papagaios,
além de atividades da cadeia gastronômica. Ainda, registra-se a presença de povos tradicionais indígenas, tais como o
Pataxó, em Itapecerica, os Caxixós, em Martinho Campos,
bem como a cultura Quilombola em Dores do Indaiá.
Na figura 2, encontram-se fotografias de importantes
pontos turísticos da cidade de Divinópolis.
Figura 2: Fotografias de pontos turísticos de Divinópolis
Imagens: André Camargos – Assessoria de Comunicação
UEMG Divinópolis.
26
Diante dos dados apresentados, pode-se presumir a
responsabilidade e quão atraente e desafiador é o papel da
extensão, com foco na territorialidade e na regionalidade,
atendendo às reais necessidades, anseios e aspirações da
sociedade, ratificando a verdadeira perspectiva da extensão universitária. Assim, embora haja um modelo ainda
deficitário de extensão territorial e regional, vale ressaltar que, conforme dados estatísticos obtidos no Sistema
Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA-UEMG), a Unidade
Divinópolis é responsável pela maior parte de ações extensionistas de todas as unidades UEMG ao longo dos anos,
o que a coloca na vanguarda de extensão universitária,
cumprindo, parcialmente, o papel social da Instituição,
numa lógica territorial e regional.
A Extensão da UEMG Unidade Divinópolis
Antes de enumerar as ações de extensão desenvolvidas
pela UEMG Unidade Divinópolis entre o período de 2016 a
junho de 2019, é preciso pontuar que a metodologia utilizada foi uma análise dos dados disponíveis na plataforma
SIGA-UEMG, além de arquivos locais.
Vale lembrar que as ações de extensão também foram
desenvolvidas anteriormente pela Fundação Educacional
de Divinópolis (FUNEDI). Durante os seus 50 anos de
existência, a FUNEDI elaborou diversos projetos de extensão, que tiveram significativa representatividade não só
para Divinópolis, mas, também, para a região Centrooeste mineira.
27
A FUNEDI participou, por exemplo, entre suas ações
de extensão, da elaboração e/ou revisão dos Planos
Diretores de Divinópolis e de cidades da região Centrooeste. Também, foi protagonista da elaboração do Plano
de Desenvolvimento Regional do município, contribuindo
para o planejamento de políticas importantes para as cidades. Além disso, a instituição atuou em trabalhos como a
revitalização das margens do Rio Itapecerica, com o desenvolvimento do projeto de extensão “Nova Margem”. Por fim,
destaca-se a apresentação de programas televisivos, como
o Informe FUNEDI, o Música Ambiente e o Roda de Saúde,
que foram importantes meios de divulgação e discussão
de assuntos socialmente relevantes.
É importante mencionar que a FUNEDI, no ano de
2014, promoveu o 10º Seminário de Ensino, Pesquisa e
Extensão/4º Seminário de bolsistas juniores, cujo tema
foi “A formação universitária: transformações e desafios”.
Compuseram uma das mesas do evento as professoras
Maria Tereza Fonseca Dias – FUMEC e Vânia Aparecida
Costa – Pró-reitora de Extensão da UEMG à época. Com
apoio da FUNEDI e da Fundação Renato Azeredo (FRA).
O evento contou com a apresentação de 140 trabalhos,
entre pôsteres, comunicações e diversas oficinas, e foi
marco institucional de migração das ações de extensão e
de pesquisa para a UEMG Unidade Divinópolis.
A UEMG Unidade Divinópolis tem prestado relevante
papel no desenvolvimento de projetos, cursos, eventos,
programas e ações extensionistas, fortalecendo, assim,
as políticas de extensão da UEMG. No ano de 2016, por
28
exemplo, a Unidade foi responsável pelo desenvolvimento
de 351 ações de extensão, o que corresponde a 27,3% das
ações extensionistas desenvolvidas em todas as unidades
da UEMG. Entre essas ações desenvolvidas pela Unidade,
naquele ano, incluindo cursos, eventos, programas e
projetos, estão contempladas áreas como Educação,
Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Produção, Cultura,
Comunicação, Direitos Humanos e Justiça, Trabalho, entre
outras; o que demonstra o fato de que as ações de extensão
desenvolvidas pela Unidade abrangem diferentes áreas
de interesse.
Em 2016, merece destaque um dos projetos de extensão
desenvolvidos pelo Programa Interno de Incentivo a
Projetos de Pesquisa e Extensão (PROINPE), sem fomento,
sob a coordenação da professora Estela de Rezende
Queiroz, a partir do projeto de extensão “Desenvolvimento
de software e gerenciamento de almoxarifado em laboratório universitário, utilizando código QR”. Em parceria
com o curso de Engenharia da Computação da Unidade,
com o apoio do professor Jhonatan Fernando de Oliveira,
desenvolveram o software ESPROQ – Estoque de Produtos
Químicos, recebendo, em 2017, o certificado de patente do
programa desenvolvido.
No ano de 2017, a Unidade Divinópolis ampliou o número
de atividades extensionistas, ficando responsável por
30,9% das ações de extensão desenvolvidas em todas as
Unidades da UEMG. Assim como no ano anterior, a Unidade
atuou em áreas diversificadas, como Meio Ambiente,
Educação, Saúde, Cultura, entre outras. Para a 5ª Semana
29
UEMG, na Unidade Divinópolis, optou-se por não ter um
tema específico de forma a estimular a participação dos
professores e alunos que desenvolvessem projetos de
extensão e outras atividades.
No entanto, pelo fato de o 12º Seminário de Ensino,
Pesquisa e Extensão da Unidade acontecer concomitante
à 5ª Semana UEMG e, tradicionalmente, ser definido um
tema de abertura para esse Seminário, foram estimuladas atividades que estivessem em sintonia com o tema
proposto para essa edição: “Envelhecimento e Sociedade:
Dimensões Socioculturais, Políticas e Subjetivas”. Essa
proposta reforçou a relação entre a Universidade e a
Sociedade, resultando em uma troca de saberes e experiências significativas para todos os envolvidos.
Ainda em 2017, inúmeras ações foram realizadas, entre elas
o 19º Seminário de Pesquisa e Extensão, em três polos:
Polo Regional 1, com sede em Diamantina, abrangendo
alunos e pesquisadores das Unidades de Belo Horizonte,
Diamantina, Ibirité e João Monlevade; Polo Regional 2, com
sede em Passos abrangendo alunos e pesquisadores das
Unidades de Frutal, Ituiutaba e Passos; e a UEMG Unidade
Divinópolis foi sede do Polo Regional 3, abrangendo alunos
e pesquisadores das Unidades de Abaeté, Barbacena,
Campanha, Carangola, Cláudio, Divinópolis, Leopoldina,
Poços de Caldas e Ubá.
O evento teve como objetivo divulgar, socializar e avaliar
tanto a produção extensionista quanto aquela oriunda da
pesquisa científica, desenvolvidas por alunos bolsistas,
30
docentes orientadores e colaboradores da Universidade.
Também, o público externo pôde participar como ouvintes ou apresentando os resultados de pesquisas e de
projetos de extensão realizados em formatos de sessões
de Comunicação Coordenada e Pôsteres, além de serem
oferecidas diversas atividades em eventos simultâneos,
como palestras, mesas-redondas, oficinas e minicursos.
Em 2018, pelo 3º ano consecutivo, a Unidade Divinópolis
continuou como protagonista na proposição de ações
de extensão. A Unidade foi responsável por 21,4% das
ações extensionistas de todas as Unidades da UEMG.
Foram propostas 277 ações que se dividiram em eventos (84,5%), projetos (14,4%), cursos (0,7%) e programa
(0,4%). Novamente, a Unidade promoveu ações nas
áreas da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Comunicação,
Cultura, entre outras, fato que reforça o compromisso da
Universidade com a sociedade, assim como o seu papel na
discussão, reflexão e atuação em questões de interesse não
apenas acadêmico, mas, também, social.
Entre as inúmeras ações de destaque na Unidade de
Divinópolis, tem-se o projeto de extensão “Caminhar e
correr para viver melhor”, coordenado pelo professor José
Vitor Vieira Salgado, que visou proporcionar à comunidade uma oportunidade em adquirir benefícios à saúde
e qualidade de vida por meio da prática orientada de
treinamento aeróbio com caminhada e corrida. O projeto
contou com participação multidisciplinar, unindo diversos
saberes para proporcionar aos participantes uma melhoria
na aptidão física, cardiorrespiratória e ajudar a prevenir
31
doenças cardíacas, distúrbios produzidos pelo estresse,
além de contribuir no processo de equilíbrio da composição corporal, melhoria do sono, da saúde, de modo
geral, adquirindo hábitos saudáveis, bem como propiciar
um ambiente saudável de convívio social e intercâmbio
de conhecimento.
Considerando as características e potencialidades regionais, outro ponto a considerar é a possibilidade de a UEMG
Divinópolis destacar-se no Centro-oeste mineiro, visto que
a cidade é protagonista no sentido de dinamizar as economias local, regional e nacional, agregando-lhes mais valor
com conteúdo, conhecimento tecnológico e científico, já
que a região abriga faculdades, centros tecnológicos e
universidades públicas (estaduais e federais), que funcionam como catalisadoras de desenvolvimento e são capazes
de gerar sinergias e oportunidades para inovação e tecnologia da região. Neste sentido, nasce a I Feira de Inovação e
de Difusão do Empreendedorismo e Tecnologia do Centrooeste de Minas (FIDETEC), objetivando promover o diálogo
entre o conhecimento e a sociedade regional.
A FIDETEC foi idealizada pelo Centro Acadêmico do curso
de Engenharia da Computação da UEMG Divinópolis,
sob iniciativa dos alunos Alef Gonçalves Duarte e Marina
Batista Souza e coordenada pelo professor Edwaldo Soares
Rodrigues. Sua 1ª edição aconteceu nas dependências da
instituição em outubro de 2018, com minicursos, palestras
e apresentação de trabalhos, exposições de projetos relacionados à tecnologia e ao empreendedorismo; e ainda
abrigou o 1º encontro de Pesquisa e Extensão da UEMG
32
Divinópolis; bem como o Encontro das Empresas Juniores
da UEMG.
A primeira FIDETEC contou com o apoio do Circuito de
Regionalização turística: Verde Trilha dos Bandeirantes,
na ocasião representado pela servidora analista da UEMG
Maria Rosária da Cruz, responsável por operacionalizar 13
dos 15 apoios da Feira: Prefeitura de Santa Rita do Sapucaí,
Faculdade de Pará de Minas (FAPAM), Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Nova Serrana,
Divinópolis e São Gonçalo do Pará, Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), CiberCode1,
Sindicato de Santa Rita do Sapucaí, Stilo Sublimação,
Escritora Conceição Cruz, Prato da Casa, Master e as
cidades do Circuito Verde, impactando substancialmente
numa grande extensão regional e projeção do nome da
UEMG Divinópolis.
No ano de 2019, ainda em curso, as ações extensionistas
na Unidade Divinópolis permanecem protagonistas entre
as outras unidades da UEMG. Até o presente, a Unidade
desenvolveu 73 ações de extensão, o que corresponde
a 13,8% das ações de extensão de toda UEMG. Foram
propostos, dessa forma, 36 eventos (49, 3%) e 37 projetos
extra-acadêmicos. A Unidade tem tratado de assuntos
relevantes socialmente, tais como o Meio Ambiente, a
Educação, a Saúde, entre outros.
1
A CiberCode Divinópolis é uma empresa que oferece cursos de programação e robótica para crianças e adolescentes.
33
Para a segunda edição da FIDETEC, a expectativa é de que
todas suas ações sejam ampliadas, bem como apoiadores,
o número de indivíduos atingidos, de forma direta ou indireta, e o número de projetos inscritos.
Salienta-se que a FIDETEC é sem fins lucrativos e com foco
em ampliar nos alunos (sejam de ensino médio e superior,
da UEMG e de outras instituições da região), bem como
na sociedade, o desejo de inovar e desenvolver, tecnologicamente, a cidade de Divinópolis e região, visto que o
ambiente universitário é, talvez, o mais propício à criação
dessa cultura tecnológica, que cada vez mais se torna
necessária, para todas as áreas do conhecimento. A feira
é aberta aos alunos de todos os níveis de ensino e à comunidade, tornando-se um importante e relevante espaço
para discussão e difusão desse tema bastante significativo
e presente no cotidiano da população, potencializando a
região e promovendo a interação transformadora entre
universidade e outros setores da sociedade.
Considerações finais
Embora a UEMG Unidade Divinópolis seja referência em
ações, programas e atividades de extensão, no contexto
da UEMG, percebe-se que muito ainda é preciso ser feito,
considerando que a sociedade espera muito mais da
Educação Superior, haja vista o que já foi publicado pela
UNESCO, em 1988, sobre a relevância da educação superior
que deve ser avaliada em termos de concordância entre o
34
que a sociedade espera da instituição e o que a instituição
realmente faz.
Importante se faz realçar o papel da extensão na proposição de um conjunto de atividades, projetos, cursos,
programas institucionais e prestação de serviços, buscando
favorecer a relação dialógica não só com a comunidade
local, mas com toda a região Centro-oeste mineira, ratificando a função extensionista da Universidade, por meio
das Coordenações Integradas de Extensão, Pesquisa e
Pós-graduação (CIEPP) na Unidade de Divinópolis, impactando na qualidade de vida dos municípios.
Dessa forma, é necessário frisar o grande desafio da
extensão universitária regional: de “propor um trânsito de
saberes que viabiliza uma relação transformadora entre a
UEMG e as diferentes regiões do Estado de Minas Gerais,
onde se situam suas Unidades” (UEMG, 2019), e, ainda,
que fortaleça a relação da Universidade com a sociedade e
socialize seu conhecimento, disponibilizando seus serviços
em consonância aos anseios sociais e que os municípios
socializem seus saberes, com desdobramentos na singular
missão e responsabilidade social da universidade: promover melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e de toda
a região que abriga unidades da UEMG.
35
Referências
FORPROEX. Fórum de Pró-reitores de Extensão das
Universidades Públicas Brasileiras. Política nacional de Extensão
Universitária. Manaus: FORPROEX, 2012.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil, Minas
Gerais, Divinópolis, 2017. Disponível em: < https://cidades.ibge.
gov.br/brasil/mg/divinopolis>. Acesso em: 27 jun. 2019.
NUNES, Ana Lucia de Paula Ferreira; SILVA, Maria Batista da Cruz.
A extensão universitária no ensino superior. Revista Mal-Estar e
Sociedade. Ano IV, n. 7, Barbacena, 2011.
SIGA UEMG – Sistema Integrado de Gestão Acadêmica. Disponível
em: <http://intranet.uemg.br/inicio/index.php>. Acesso em: 22
jun. 2019.
UEMG. Estatuto da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Texto aprovado pelo Conselho Universitário, em 2 de outubro
de 2012, e pelo Decreto n. 46.352, de 25 de novembro de 2013.
Disponível em: <encurtador.com.br/cdntz>. Acesso em: 27
jun. 2019.
UEMG. Pró-reitoria de Extensão, 2019. Disponível em:
<encurtador.com.br/bptJV>. Acesso em: 18 out. 2019.
Extensão universitária e a construção
de um conhecimento emancipador:
a experiência do Centro de Memória
Professora Batistina Corgozinho
José Heleno Ferreira
Flávia Lemos Mota de Azevedo
37
1 Introdução
A extensão universitária é um campo marcado pela potencialidade e pelos desafios. Por um lado, apresenta-se como
espaço de atuação da universidade junto à comunidade,
o que representa possibilidades inúmeras de socialização
dos saberes docentes e discentes construídos no âmbito
acadêmico, além do contato com os saberes produzidos
fora dele. Por outro, o trabalho extensionista pode incorrer
no risco de se fazer a partir de uma concepção hierarquizada do conhecimento, considerando a comunidade e os
sujeitos que a compõem como destinatários passivos do
saber produzido pela academia.
Neste texto busca-se apresentar os princípios teóricos
acerca da extensão universitária que orientam a atuação
do Centro de Memória Professora Batistina Corgozinho
38
(UEMG Unidade Divinópolis) para, em seguida, apresentar
alguns aspectos do trabalho que vem sendo realizado nos
últimos anos.
2 Extensão e conhecimento emancipador
A passagem de um estado de consciência ingênua para um
estado de consciência crítica exige um processo educativo.
“Se não se faz este processo educativo, só se intensifica o
desenvolvimento industrial ou tecnológico e a consciência sofrerá um abalo e será uma consciência fanática. Este
fanatismo é próprio do homem massificado” (FREIRE, 1983,
p. 39).
O que enuncia Paulo Freire, em texto escrito em 1979, data
da primeira edição de “Educação e Mudança”, soa profético
quando analisamos a realidade brasileira contemporânea.
E tal profecia coloca, para as universidades, o desafio de
construir processos de construção do conhecimento que
sejam emancipadores, para além do conhecimento regulador (SANTOS, 2001) que, muitas vezes, marca o processo
de produção do conhecimento das ciências e todo o
fazer universitário.
No âmbito do fazer universitário, que se caracteriza pelo
ensino, pesquisa e extensão, há que se afirmar o potencial
do trabalho extensionista nesse processo de construção
de um conhecimento emancipador, uma vez que a extensão possui características que podem contribuir para
mudanças nos processos de ensinar e aprender, além de
39
um arsenal metodológico, que se diferencia do ensino e
da pesquisa ao privilegiar o encontro entre professores,
professoras, estudantes e as comunidades nas quais a instituição está inserida ou com as quais estabelece relações
diversas. Os trabalhos extensionistas caracterizam-se por
se constituírem nas experiências (e não nos experimentos),
e ao promover o encontro entre diferentes saberes pode
contribuir para a construção de um novo senso comum.
Boaventura Sousa Santos (2001) afirma que a ciência
tem sido pouco cuidadosa na análise das consequências
de seus atos, o que, paradoxalmente, tem ocasionado a
perda da identidade e referência cultural das comunidades
tradicionais, a deterioração da vida no planeta e, em última
escala, colocado em risco a própria humanidade. Defende,
o autor, uma epistemologia que trabalhe com a perspectiva
do conhecimento emancipador ao invés do conhecimento
regulador. Enquanto o segundo caracteriza-se pela ênfase
no experimento e pela produção de conhecimento, a partir
da realização de experiências que possibilitem um conhecimento fidedigno, o primeiro caracterizar-se-ia por uma
relação sujeito-objeto que tem como base a reciprocidade.
Tal princípio pressupõe o reconhecimento de diferentes
saberes e a solidariedade entre os sujeitos envolvidos na
produção/construção de novos saberes.
Afirma ainda o sociólogo português que a ciência moderna
erigiu-se contra o senso comum e, se por um lado, tal característica contribuiu para o desenvolvimento científico, para
a avanço tecnológico, por outro negou os saberes populares e impediu homens e mulheres de participarem da
40
construção do conhecimento “enquanto atividade cívica
no desvendamento do mundo” (SANTOS, 2000, p. 224).
Os séculos XVII e XVIII trouxeram para a humanidade uma
nova perspectiva: o surgimento da ciência e da “infinita”
capacidade de desenvolvimento técnico-científico. Os
iluministas apregoavam a possibilidade de um novo
mundo, sem dores, sem miséria, sem sofrimento. O ser
humano seria libertado das amarras do trabalho pesado
e dedicar-se-ia à própria ilustração. Tudo isso seria possibilitado pelo desenvolvimento científico. Assim afirma o
projeto político da Modernidade que, em termos epistemológicos, defendia a possibilidade de o ser humano chegar
ao conhecimento objetivo, seja pela razão (o Racionalismo
de Descartes), seja pela experiência (o Empirismo de
Bacon). De qualquer forma, afirmava-se a possibilidade
do conhecimento puro, desideologizado, dessubjetivado...
Em suma: os modernos acreditavam na possibilidade de,
por meio da ciência, a humanidade conhecer e dominar
a natureza, utilizando-a para a promoção de uma vida
melhor a todos.
O século XX, não obstante o enorme progresso técnico, as
inúmeras e novas possibilidades que trouxe à humanidade,
trouxe também o questionamento ao Projeto Iluminista.
Diante de duas guerras mundiais, dos desastres ambientais, da fome e miséria crescentes, da bomba atômica e
acidentes nucleares, como acreditar que o avanço da ciência estaria a serviço da humanidade?
41
Os questionamentos e as incertezas quanto aos rumos
tomados pela ciência nortearam as pesquisas e os estudos
das comunidades científicas durante o século XX. É nesse
sentido que surgem diferentes tendências metodológicas
nesse século, tais como o Empirismo Lógico, cujo principal expoente é Rudolf Carnap, e o Racionalismo Crítico, de
Karl Popper. Um pouco mais tarde, T. Kuhn apresenta sua
contribuição quanto à compreensão do progresso científico, em sua obra “A estrutura das revoluções científicas”
(CARVALHO, 2001).
Os empiristas lógicos reafirmam que o conhecimento
científico deve passar pelo crivo da experiência e que seu
resultado deve ser observável e mensurável – qualidades
sem as quais não seria científico. Afirmam também a necessidade de se chegar a uma linguagem universal da ciência,
devendo o conhecimento ser expresso logicamente, sendo
possível a todo e qualquer cientista estudá-lo e, se for o
caso, perceber equívocos e lacunas...
Karl Popper e Thomas Kuhn rompem com a ideia de um
conhecimento científico que seja definitivo. Ambos têm
em comum a visão do conhecimento como algo provisório,
transitório, que estará sempre em discussão, uma vez que
não é acabado. Popper afirma que o avanço da ciência
só é possível se o cientista (ou uma comunidade científica) não se prender às teorias já comprovadas e buscar
negá-las. Afirma ainda que uma teoria que não pode ser
falseada é pouco informativa e, portanto, não-científica.
Tem-se então que o ponto de partida do conhecimento é a
teoria (não existe experiência ateórica), que é percebida de
42
forma subjetiva. As experiências devem ser realizadas no
sentido de testar a teoria e não no sentido de confirmá-la.
Esse exercício possibilitaria o avanço científico, pois que
o cientista não estaria preso a verdades, e sim aberto aos
questionamentos da realidade e da comunidade científica
às teorias apresentadas. Privilegia-se, então, o método
dedutivo: a partir de uma análise do universal (da teoria),
busca-se compreender o particular, a experiência sensível...
Kuhn, ao elaborar a teoria dos paradigmas científicos,
afirma que uma comunidade científica trabalha com um
determinado paradigma – um conjunto de valores, ideais
e ideias, crenças – que norteia suas ações. Esse paradigma
estaria marcado pelos aspectos históricos e psíquicos do(s)
cientista(s): nada objetivo, portanto. Sua teoria denomina
ciência normal o período em que uma comunidade científica trabalha com um único paradigma, aceito por todos,
afirmando ainda que esse paradigma fatalmente entrará
em crise quando apresentar anomalias ou não apresentar
os resultados desejados. Nesse período de crise, um novo
paradigma será gestado, e tem-se então a revolução... E
esse círculo se repetirá indefinidamente.
A crítica que se faz, na contemporaneidade, ao conhecimento científico expressa a condenação de um modelo
de ciência que, ao trilhar o caminho da dicotomia entre o
desenvolvimento técnico e o desenvolvimento humanístico, perdeu a consciência, como lembra Morais (2001):
“assim foi que a ciência, a medida em que quis romper com
a reflexão filosófica, perdeu, e muito, a consciência de si.
E já deixou dito Montaigne que ‘Ciência sem consciência
43
não é mais do que a morte da alma’” (p. 91). Porém, essa
mesma crítica pode (e deve) ser também compreendida
como uma alavanca para a construção de um novo modelo
de ciência que, ao buscar o desenvolvimento tecnológico,
o faça com uma clara opção pela construção de um mundo
mais humano.
Buscando novamente a contribuição de Santos (2001),
pode-se afirmar que os questionamentos que se faz
à ciência moderna estariam no desequilíbrio entre o
conhecimento como regulação e o conhecimento como
emancipação. Um conhecimento que se basta a si mesmo,
que, ao desencantar o mundo, tornou-o triste. Um conhecimento que não reconhece os saberes populares, os saberes
tradicionais produzidos fora da academia. Em última
instância, um conhecimento que quantifica a natureza e
as relações humanas e avilta os princípios de solidariedade
e o reconhecimento e o respeito à diversidade.
Nesse sentido, é importante também considerar a
contribuição de Walter Benjamim (1980) ao analisar o
empobrecimento do sujeito diante da perda da capacidade
de vivenciar e narrar experiências. Diz-nos o autor que
torna-se cada vez mais raro o encontro com
pessoas que sabem narrar alguma coisa
direito. É cada vez mais frequente espalhar-se em volta o embaraço quando se anuncia
o desejo de ouvir uma história. É como se
uma faculdade, que nos parecia inalienável,
a mais garantida entre as coisas seguras, nos
44
fosse retirada, ou seja: a de trocar experiências (BENJAMIN, 1980, p. 57).
A negação da experiência e a afirmação do experimento
trazem como consequência a negação dos processos
coletivos de vivência do mundo e de produção de conhecimentos fora do âmbito universitário. Afinal, a vivência e a
experiência não compõem o universo científico, mas, sim,
o experimento, a descoberta, a comprovação. E, assim, as
práticas que se realizam fora desse universo, o científico,
são categorizadas como de segunda ou terceira categoria.
O que se busca afirmar neste texto é o potencial do trabalho de extensão na superação da dicotomia entre saberes
científicos e saberes populares e ou tradicionais, na ruptura
com o princípio de hierarquização de diferentes saberes e
diferentes culturas.
Obviamente, os desafios que se colocam à extensão
universitária são muitos, uma vez que a prática extensionista pressupõe uma “postura intelectual aberta à inter e à
transdisciplinaridade, que valorize o diálogo e a alteridade”
(PAULA, 2013, p. 17). Para além disso a extensão universitária convoca a universidade a assumir o seu compromisso
com a transformação social e a promover a socialização
do conhecimento científico, reconhecendo, valorizando
e divulgando também outros conhecimentos produzidos
fora de seus muros.
Entre as experiências históricas que evidenciam de forma
contundente o papel e o potencial da extensão universitária está a experiência da Universidade de Recife,
45
na década de 1960, através do Serviço de Extensão
Universitária e do trabalho desenvolvido por Paulo Freire.
O livro escrito por Freire em 1969, já no exílio no Chile,
“Extensão ou Comunicação?” (1969) discute a relação
entre o saber técnico-científico e as culturas populares,
analisando as ações concretas de alfabetização desenvolvidas no Nordeste brasileiro e os trabalhos desenvolvidos
com camponeses chilenos. O princípio do diálogo como
norteador da prática educativa é afirmado, no livro em
questão, pelo educador brasileiro. Mais ainda, afirma-se
uma relação na qual não haja sujeitos transformados em
objetos passivos para a realização da pesquisa, objetivos
passivos do conhecimento de outrem, mas, sim, sujeitos
construindo conhecimento. Uma prática educativa em que
não haja aquele que recebe o conhecimento e outro que
lhe repasse, mas, sim, a interação. Diz-nos o patrono da
educação brasileira:
Conhecer, na dimensão humana, que aqui
nos interessa, qualquer que seja o nível em
que se dê, não é o ato através do qual um
sujeito, transformado em objeto, recebe
dócil e passivamente, os conteúdos que
outro lhe dá ou impõe. [...] O conhecimento,
pelo contrário, exige uma presença curiosa
do sujeito em face do mundo. Requer uma
ação transformadora sobre a realidade.
Demonstra uma busca constante. Implica
em invenção e em reinvenção. Reclama
a reflexão crítica de cada um sobre o ato
mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se
assim, percebe o “como” de seu conhecer e
46
os condicionamentos a qual está submetido
seu ato. [...] Conhecer é tarefa de sujeitos,
não de objetos. E é como sujeito e somente
enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer (FREIRE, 2010, p. 17-18).
3 A experiência do Centro de Memória
Professora Batistina Corgozinho (Cemud)
O Centro de Memória Professora Batistina Corgozinho
(Cemud), da UEMG Unidade Divinópolis, foi fundado no
ano de 2005. Sua criação foi um desdobramento da execução do projeto financiado pela Fapemig “Uso da Tecnologia
Digital, na preservação da Memória Histórico-Cultural de
Divinópolis”, executado entre 2001 e 2003, a partir de uma
parceria com o Arquivo Público Municipal de Divinópolis.
O projeto, que contou com a colaboração de estudantes e
professores e professoras de diversos cursos de graduação,
como História, Ciências Sociais, Filosofia, Comunicação
Social, entre outros, tinha como objetivo a digitalização e
a disponibilização do acervo do Arquivo.
A partir dessa parceria, a digitalização, guarda e disponibilização do acervo documental digitalizado do Arquivo
Público Municipal ficou sob responsabilidade do Cemud.
Desde então, o Centro de Memória se constituiu como
entidade custodiadora de acervos, cadastrada no Arquivo
Nacional e no Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ)1,
1
Código do Cemud no CONARQ BR MGCEMUD, disponível em: <http://
conarq.arquivonacional.gov.br/consulta-a-entidades/item/centro-de-memoria-professora-batistina-corgozinho.html>.
47
órgão colegiado, vinculado ao Arquivo Nacional do
Ministério da Justiça e Segurança Pública, que tem, por
finalidade, definir a política nacional de arquivos públicos
e privados, como órgão central de um Sistema Nacional de
Arquivos, bem como exercer orientação normativa visando
a gestão documental e a proteção especial dos documentos de arquivo2.
O acervo do Cemud é composto por arquivos digitais e
físicos, recebidos através de doação. Dentre os documentos que compõem o acervo físico do Centro de Memória,
podemos destacar o acervo de documentos, fotografias e
objetos pessoais de pessoas que marcaram a história de
Divinópolis e região, como Dr. Luís Fernandes de Sousa,
Sr. José Valério, Halim Souki, Professor Henrique Galvão,
Professora Batistina Maria de Sousa Corgozinho; coleção
de fotografias do antigo Foto Hauf; acervo de fotos do
Divinópolis Tênis Clube; diversas coleções de jornais editados em Divinópolis desde o ano de 1916 até a atualidade
(o jornal franciscano “A Semana”, o jornal “Divinópolis
Jornal”, “A Estrela da Oeste”, o jornal “Movimento” entre
outros.); uma extensa coleção dos boletins “Conversando
com os Divinopolitanos” editados por Pedro X. Gontijo,
entre os anos de 1941 e 1965; grande acervo de fitas com
entrevistas produzidas a partir de diversos projetos desenvolvidos em conjunto com o Cemud e, ainda, um grande
acervo digitalizado.
2 Ver informações disponíveis no site: <http://conarq.arquivonacional.
gov.br/>.
48
Em 2012, o projeto “EmRedes: Portal da Memória do CentroOeste mineiro”, que propunha a criação de um banco de
dados digitais e um Portal para disponibilizar esse material
ao público em geral, foi premiado pelo Instituto Brasileiro
de Museus – IBRAM – Ministério da Cultura – no Edital de
Seleção Pública n°. 09, de 16 de novembro de 2012, Prêmio
Pontos de Memória 2012.3 Tal premiação também conferiu
ao Cemud seu reconhecimento e cadastro como entidade
Museológica junto ao IBRAM. Desta forma, o Centro de
Memória atua em duas importantes frentes de promoção
do patrimônio cultural, fazendo recolhimento, organização,
higienização, digitalização, conservação e disponibilização
de acervos arquivísticos e museológicos.
Tal missão institucional fez com que a equipe do Cemud
desenvolvesse um calendário de eventos, consoantes com
as políticas de memória e patrimônio histórico e cultural
brasileiro. Assim, ele participa, anualmente, da “Semana
Nacional de Museus”; “Semana Nacional de Arquivos” e
“Primavera dos Museus”. Além desses eventos, realiza,
a cada dois anos, desde 2006, o Seminário de História e
Memória do Centro-Oeste mineiro. O seminário publica,
em seus anais (indexados), desde 2016, os trabalhos
completos apresentados. Além disso, em todas as edições
do Seminário, há uma seleção dos melhores trabalhos
para publicação em livro, tendo já publicado seis livros
resultados do seminário, com artigos de mais de 90
3 Informações disponíveis em: <http://www.museus.gov.br/
wp-content/uploads/2013/11/08.11-edital-reclassificacao1.
pdf> e <http://www.museus.gov.br/fomento/editais-2012/
premio-pontos-de-memoria-2012/>.
49
pesquisadores, promovendo, desta forma o adensamento
da produção científica sobre a região.
O Cemud também é um espaço de guarda dos acervos
produzidos em projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos por professores da UEMG Unidade Divinópolis, mas,
também, como um centro de desenvolvimento de projetos,
proporciona oportunidades para professores e alunos (em
estágios, extensão, bem como a iniciação científica) dos
variados cursos existentes na Universidade. Nesse sentido,
o Cemud se constitui como um arquivo permanente em
constante ampliação, visto que os projetos aqui realizados acabam por produzir novas fontes documentais, em
especial o registro de memória, história, tradições e patrimônio cultural, que, inclusive, podem ser utilizadas em
novas pesquisas desenvolvidas pelos cursos de graduação,
pós-graduação e extensão.
No desenvolvimento de suas atividades, o Centro de
Memória Prof.ª Batistina Corgozinho tem se orientado pelo
princípio do diálogo com as comunidades urbanas e rurais
de Divinópolis e outras cidades do Centro-Oeste mineiro.
Esta perspectiva se faz notar em todos trabalhos realizados
pelo Cemud e, com maior ênfase, durante a realização da
Semana de Museus e da Primavera de Museus, desde 2015.
As exposições organizadas pelo Centro de Memória, por
ocasião desses eventos, têm se pautado pela visibilização
e divulgação dos saberes comunitários. Como exemplo,
podemos citar a exposição sobre a aldeia Pataxó Muã
Mimatxi, localizada em Lamounier, distrito de Itapecerica/
50
MG, em 2015; os trabalhos sobre a Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário de Carmo do Cajuru, em 2016; a exposição sobre a história do Grupo Movimento – coral formado
por pessoas com transtornos mentais, em 2017; o abraço ao
Sobrado da Praça da Matriz e as oficinas de confecção de
bandeiras nas comunidades rurais, em 2018; a exposição
sobre o Congado da cidade de Bom Despacho/MG e as oficinas sobre as benzedeiras do bairro São Roque (Divinópolis/
MG), a festa de São João realizada há 38 anos por uma
mesma família na Comunidade do Choro (Divinópolis/MG),
a festa de Santa Cruz e o Reinado nas comunidades rurais e
urbanas de Divinópolis/MG, em 2019. Das edições de 2014
a 2019, o público que visitou as exposições ultrapassou o
equivalente a 10 mil pessoas (lista de presença).
A educação patrimonial é uma das tarefas que o Cemud vem
assumindo nos últimos anos. Tarefa esta que vem sendo
cumprida por meio da realização de oficinas de educação
patrimonial com educandos(as) e educadores(as) e nas
visitas guiadas ao patrimônio histórico-cultural e ambiental
de Divinópolis. Na internet, através do EmRedes – Portal da
Memória do Centro-Oeste Mineiro4 (www.emredes.org.br),
disponibilizamos ao público os documentos que compõem
o acervo do Cemud, do diálogo que se busca estabelecer
nas redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube), utilizando o acervo do EmRedes. Nas oficinas de educação
patrimonial, o Cemud já recebeu e/ou visitou mais de 20
4 O Portal da Memória do Centro-Oeste Mineiro EmRedes foi construído
a partir de um prêmio do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), concedido à equipe que o mantém e da qual faz parte o autor deste projeto
de pesquisa.
51
escolas das redes municipais e estaduais da região (Bom
Despacho, Carmo do Cajuru, Divinópolis, Itaúna, Leandro
Ferreira, Maravilhas, Papagaios, São Gonçalo do Pará, São
José da Varginha), com a participação de mais de 2.800
alunos da educação básica.
Tais atividades, realizadas em conjunto com a educação
básica, têm o objetivo de possibilitar aos adolescentes uma
reflexão acerca da história, das tradições, e do patrimônio
e assim promover a construção do pertencimento à cidade
e aos professores e professoras a possibilidade de problematizar o currículo e o ensino de História, incorporando à
prática docente a educação patrimonial e a história regional. As visitas guiadas com crianças e adolescentes, por
roteiros previamente estabelecidos, têm como princípio
a apresentação da cidade – a história oficial, os apagamentos e silenciamentos da história e suas marcas nas
ruas, prédios e rios. Tais atividades encantam meninos e
meninas que moram na cidade, mas nem sempre a veem,
que transitam por ruas e avenidas sem perceber os processos de modificação das estruturas edificadas que contam
algumas histórias e silenciam outras tantas. Representam,
ainda, para eles(as), a oportunidade de conhecer o centro
urbano do município, suas estruturas de lazer, espaços
dedicados às manifestações culturais, centros comerciais, enfim, espaços públicos, negados à grande parte
do público. Problematizam a história dos bens materiais
reconhecidos legalmente como patrimônio histórico-cultural e outros tantos que não têm esse reconhecimento
assim como o não reconhecimento dos bens materiais das
regiões em que vivem.
52
São infinitas as possibilidades de roteiros a serem trilhados em busca da história da cidade, uma vez que ela, a
história, logicamente estará presente em todos os espaços
em que estão ou estiveram presentes os seres humanos.
Entre esses roteiros, destaca-se a visita ao centro antigo
da cidade, começando pela Praça Dom Cristiano, seguindo
para a Praça Candidés, Parque Ecológico Dr. Sebastião
Gomes Guimarães, Usina Gravará e a Praça do Mercado.
Cada um desses pontos aqui elencados trazem inúmeras
possibilidades de se discutir a história da cidade e dos
homens e mulheres que ali viveram e vivem. Para exemplificar estas possibilidades, apresenta-se aqui o ponto inicial
e o ponto final do roteiro já citado: a Praça Dom Cristiano
e a Praça do Mercado.
3.1 A Praça Dom Cristiano
Na Praça Dom Cristiano, conhecida popularmente como
Praça da Catedral, encontra-se a edificação mais antiga
do município: o Sobrado do Largo da Catedral, que até
pouco tempo abrigava o Museu Histórico de Divinópolis.
Edificado em 1830, aproximadamente, o sobrado teve
decretada a sua destruição na década de 1980, uma vez
que o governo municipal planejava abrir, naquele espaço,
uma ampla avenida. Tal destruição foi impedida pelo
movimento popular que o cercou após a derrubada de
uma parte do mesmo, impedindo que o maquinário da
Prefeitura Municipal consolidasse o trabalho iniciado. Em
15 de dezembro de 1988, foi tombado pela Lei nº. 2.456.
53
O sobrado, com suas imensas vigas de madeira, seus
alicerces de pedra sobre pedra, seus tijolos de adobe
permitem conhecer um pouco dos processos de construção na primeira metade do século XIX. Sabe-se que o
prédio foi construído com o objetivo de abrigar a família
do capitão Domingos Francisco Gontijo nas suas estadias
no então Arraial do Divino Espírito Santo do Itapecerica.
Quem o construiu? Quem transportou as vigas de madeira
e as pedras? A ausência dos nomes daqueles que o
construíram é uma rica oportunidade para discutir com
crianças e adolescentes os silenciamentos que compõem
a História Oficial.
Nos seus quase dois séculos de existência, o Sobrado do
Largo da Catedral serviu a diversas finalidades: sala de
cinema, posto de saúde, escolas, cúria paroquial, convento
de frades, entre outras. Dessa forma, contar a história do
sobrado é também contar diferentes aspectos da história
do município. Para além disso, à esquerda do prédio, temos
ruas estreitas e cheias de curvas e, à sua direita, avenidas
largas e retilíneas. Observar as diferenças entre os traçados
das ruas, num e noutro ponto da cidade, é um exercício
interessante para que as crianças e adolescentes possam
perceber que a cidade, bem como tudo aquilo que a cerca,
é produto da construção humana e que esta construção,
em cada tempo e lugar, está marcada pelas condições objetivas daquele momento histórico, além de condicionadas
pelos interesses daqueles que as produziram ou fizeram
com que fossem produzidas.
54
3.2 A Praça do Mercado
O Mercado Municipal, construído na década de 1950, ocupa
quase toda a praça que leva o seu nome. Trata-se de uma
construção que, em 1957, foi saudada pelo jornal O Globo5
como uma das mais arrojadas do país. À frente do Mercado,
encontra-se uma pequena capela, construída na década de
1980 (réplica da Igreja de Nossa Senhora do Rosário que ali
existiu), em cujo altar lê-se uma inscrição afirmando que
naquele local, desde 1850, os reinadeiros se reuniam para
celebrar sua fé e reverenciar Nossa Senhora do Rosário.
A história deste ponto da cidade chama atenção, na
perspectiva da educação patrimonial, exatamente pela
possibilidade de discussão acerca das transformações
pelas quais passam os espaços urbanos, entre outros.
Antes da década de 1950, o local era ocupado pelo cemitério municipal, pelo cruzeiro e pela Igreja de Nossa
Senhora do Rosário. A destruição da Igreja, do cruzeiro e
do cemitério, com o traslado dos restos mortais que lá se
encontravam para o novo cemitério da cidade, deu lugar ao
moderno Mercado que, posteriormente, passou por períodos de completo abandono (entre o final da década 1990 e
os primeiros anos do século XXI) e desde 2016 vem sendo
revitalizado como espaço comercial e de oferta de entretenimento ligada a apresentações musicais, principalmente.
5 A informação pode ser verificada no acervo do Centro de Memória
Prof.ª Batistina Corgozinho (Cemud).
55
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário não existe mais. Por
que existiu, se tão próxima à Catedral do Divino Espírito
Santo, localizada na praça já descrita neste texto? Por
que foi destruída? Deveria esta Igreja ter sido preservada?
Por que não houve um movimento popular impedindo
sua destruição, a exemplo do que houve com o Sobrado
da Praça da Catedral? O que significou para a população
a destruição do cemitério? Não seria possível construir o
mercado noutro local?
José Saramago (1990) já nos ensinou que temos respostas demais, o que demora é o tempo das perguntas.
Exatamente elas, as perguntas, orientam e enriquecem
a atividade de educação patrimonial realizada em torno
da Praça do Mercado, diante da presença monumental do
mercado e da ausência, também monumental, da Igreja de
Nossa Senhora do Rosário e do Cemitério.
Não temos respostas para as perguntas que nos fazemos.
Muito menos para aquelas que são feitas pelas crianças e
adolescentes. Mas temos indícios, temos relatos de homens
e mulheres que presenciaram a destruição do cemitério,
temos a memória daqueles que ouviram de seus pais e
avós as histórias do reinadeiros6. E temos a possibilidade
de, através das perguntas, muitas delas sem respostas,
discutir a história de uma perspectiva que ultrapasse a
6 No Portal EmRedes é possível encontrar uma série de documentos
relacionados à questão, tais como fotos da antiga Igreja de Nossa do
Rosário e do momento da destruição do cemitério, fotos da construção
do Mercado Municipal, transcrição de entrevistas feitas com cidadãos
divinopolitanos que presenciaram a destruição do cemitério e outros.
56
História Oficial, que englobe os seres humanos em seus
fazeres e afazeres cotidianos, que considere o trabalho,
o lazer, a celebração da fé, o culto aos mortos e todas as
atividades culturais próprias dos seres humanos, por eles
realizadas neste processo de se fazerem humanos.
3.3 Projetos de extensão
Desde sua constituição como centro de pesquisa e extensão, o Centro de Memória tem trabalhado também com
projetos de extensão, sempre com o apoio do Programa
de Apoio à Extensão (PAEX) da Universidade do Estado
de Minas Gerais (UEMG). Como os limites deste texto não
possibilitariam apresentar a extensa relação de trabalhos
já desenvolvidos na última década, apresenta-se, aqui, os
projetos desenvolvidos no ano de 2018:
• Projeto de Extensão “Arte e Contemporaneidade: o
teatro como prática pedagógica nas escolas da educação básica”;
• Projeto de Extensão “Adolescentes, dependência
química e educação: O enfrentamento da violência
e da evasão escolar”;
• Projeto de Extensão “A trajetória negra contada e
cantada por meio do samba”.
Não sendo possível, neste trabalho, analisar cada um
dos temas dos projetos de extensão aqui citados, bem
57
como outros desenvolvidos nos anos anteriores, salienta-se o caráter extensionista de cada um dos trabalhos e
a imersão da Universidade na escola básica, nas comunidades terapêuticas com trabalham com adolescentes, nas
rodas de samba e grupos ligados ao movimento negro.
Contribuir com cada um desses grupos na realização de
seus trabalhos, reconhecer e valorizar o conhecimento que
ali se produz, narrar as experiências que ali se realizam,
disponibilizar a cada um desses grupos o conhecimento
produzido na Universidade: esses são os princípios que
orientam os projetos de extensão que vêm sendo desenvolvidos pelo Cemud.
4 Considerações finais
O trabalho universitário e, mais especificamente, a extensão universitária, como qualquer fazer humano, não é
neutro. Considerando a impossibilidade da neutralidade,
afirma-se aqui a perspectiva do trabalho que vem sendo
realizado pelo Centro de Memória Professora Batistina
Corgozinho: a perspectiva do compromisso com o processo
de mudança social, com a construção de uma sociedade
em que a diversidade e as diferenças sejam respeitadas
e reconhecidas e em que a desigualdade seja combatida.
O inacabamento do ser humano, como nos diz Paulo Freire
(1983), exige de todos e todas nós o compromisso com a
transformação e com a negação de toda e qualquer fatalidade. Se partimos do princípio de que o ser humano não é,
58
mas, sim, está sendo, consideramos, então, a possibilidade
de transformar a sociedade na qual vivemos.
Este é o compromisso que orienta a atuação extensionista
do Cemud.
59
Referências
BENJAMIN, Walter; HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor;
HABERMAS, Jurgen. Textos Escolhidos. Traduções de José Lins
Grünnewald et al. São Paulo: abril cultural, 1980. (Os pensadores)
CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de. A construção do saber
científico: algumas posições. In: CARVALHO, M. C. M. (org.).
Construindo o saber – Metodologia Científica. 14 ed. Campinas,
SP: Papirus, 2001. p. 63-86.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 14 ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2010.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1983.
MORAIS, João Francisco Regis de. Ciência e Perspectivas
Antropológicas Hoje. In: CARVALHO, Maria Cecília Maringoni
de (org.). Construindo o saber – Metodologia Científica. 14 ed.
Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 87-94.
PAULA, João Antônio de. A extensão universitária: história,
conceito e propostas. Interfaces – Revista de Extensão, v. 1, n. 1,
p. 5-23, jul./nov. 2013.
SANTOS, Boaventura Sousa. Para um novo senso comum: a
ciência, o direito e a política na transição paradigmática. 3 ed. São
Paulo: Cortez, 2001. v. 1: A crítica da Razão indolente: contra o
desperdício da experiência.
SANTOS, Boaventura Sousa. Pela mão de Alice: o social e o
político na pós-modernidade. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
SARAMAGO, José. Memorial do Convento. São Paulo: Cia das
Letras, 1990.
Protagonismo infantojuvenil no
bairro Belvedere em Divinópolis
André Amorim Martins
Raquel Viotti
Luisa Costa
Jéssica Nunes
Victor Figueiredo
61
Introdução
O projeto de extensão “Protagonismo Infantojuvenil no
bairro Belvedere em Divinópolis” foi fomentado pelo
Programa de Apoio à Extensão (PAEx) no período de 2015 a
2018 e, concomitantemente, contribuiu para um olhar mais
sensível às questões referentes ao cotidiano do adolescente
daquela localidade. É importante salientar que os jovens
participantes do projeto vivem em meio a um contexto de
vulnerabilidade social que os colocam em um processo de
exclusão e distanciamento de direitos. Essa realidade já
foi descrita nos trabalhos de Figueiredo e Martins (2016) e
Nunes e Martins (2017).
Entende-se por vulnerabilidade social não apenas a
ausência ou um acesso precário à renda, mas também
fragilidades relacionais e desigualdades de acesso a
62
serviços públicos (CARMO; GUIZARDI, 2018). O que seria
um ser humano vulnerável pode ser melhor exemplificado
na passagem abaixo, além da possibilidade de mudança
de sua condição, por meio de um apoio e fortalecimento
da cidadania:
o ser humano vulnerável, por outro lado,
é aquele que, conforme conceito compartilhado pelas áreas de saúde e assistência
social, não necessariamente sofrerá danos,
mas está a eles mais suscetível, uma vez
que possui desvantagens para a mobilidade social, não alcançando patamares
mais elevados de qualidade de vida em
sociedade em função de sua cidadania
fragilizada. Assim, ao mesmo tempo, o ser
humano vulnerável pode possuir ou ser
apoiado para criar as capacidades necessárias para a mudança de sua condição”
(CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 6).
Em rodas de conversa semanais na Estratégia de Saúde
da Família (ESF), do bairro Belvedere, os adolescentes
possuem um local não só de amparo psíquico, mas
também de reflexão crítica sobre os mais diversos temas
que entrelaçam suas vivências. Segundo um estudo
qualitativo realizado por Muza e Costa (2002), feito com
adolescentes residentes em dois municípios do Distrito
Federal, os jovens demonstraram elevada resistência na
aproximação com as instituições de saúde, o que dificulta
o seu acolhimento. Além disso, esse distanciamento resulta
em pouca atenção das políticas públicas de saúde para
os adolescentes. A rede pública demonstra eficiência em
63
relação às patologias do corpo físico, porém é insuficiente
ao responder demandas de caráter sócio emocional que
são frequentes em um período de transição como o experimentado na adolescência, principalmente nas populações
de baixa renda (MUZA; COSTA, 2002).
Assim, esta atividade na ESF Belvedere proporciona aos
jovens e à equipe uma fonte de apoio e contribuições
para uma promoção de saúde efetiva. A adolescência é
um período do desenvolvimento humano com as mais
diversas transformações, tanto de ordem física como de
ordem psicológica (PAPALIA; FELDMAN, 2013), e a aproximação dos adolescentes com a atenção básica de saúde
se torna necessária.
Método e objetivos do trabalho
Desde sua criação, no ano de 2015, o projeto objetiva contribuir para uma maior qualidade de vida dos adolescentes
do bairro, apresentando a eles questões que se encontravam distanciadas em função de sua realidade social, como
a elaboração de um projeto de vida, a ampliação das possibilidades no mercado de trabalho e o encontro deles com
espaços públicos da cidade.
A modalidade escolhida para realização dos encontros foi a
roda de conversa, para que assim o espaço de trocas entre
os jovens fosse facilitado. A roda de conversa decorre da
metodologia educativa de Paulo Freire, nomeada, também,
64
como círculo de cultura, o que proporciona, na fala, a reflexão da comunidade acerca dos temas que a entrelaçam.
“As falas, as conversas, as frases, entrevistas, discussões dentro ou fora do círculo,
tudo está carregado dos temas da comunidade: seus assuntos, sua vida. A vida da
família em casa, no quintal, na lavoura; as
alegrias, a devoção e o trabalho ritual das
festas “do santo do lugar”; a luta coletiva
contra a ameaça da expulsão das terras de
trabalho do lavrador; as questões dos grupos
populares organizados – grupos de jovens,
de mulheres, de igrejas, de trabalho político;
as questões do relacionamento das pessoas
com a natureza, as tradições da cultura e as
mudanças de tudo; as relações da comunidade com as tramas do poder; o sentimento
do mundo” (BRANDÃO, 1981, p. 18).
Em um primeiro momento, em 2015, foi realizada uma
divulgação acerca do grupo dentro da Estratégia de Saúde
da Família (ESF) Belvedere e em escolas do bairro, como
forma de captação de jovens para participação. A integração e a articulação entre o projeto de extensão, a ESF e as
escolas são de suma importância, tendo em vista que “ao
tratarmos do campo da saúde coletiva, deparamo-nos com
a inserção da saúde em uma realidade social complexa,
daí a necessidade de considerá-la como um campo interdisciplinar, articulado a uma totalidade social permeada
de contradições” (DANTAS et al., 2009, p. 10). No caso
específico de uma das escolas, diversos projetos já eram
desenvolvidos, tais como aulas de música e dança, projetos
voltados à educação cidadã, entre outros, e isso facilitou
65
a entrada de uma proposta que pretendia uma formação
democrática e emancipadora nas rodas de conversa. A
busca ativa dentro do território escolar foi no sentido de
informar as características e como funcionariam as rodas
de conversa. Ao todo, cerca de 120 estudantes participaram, separados em turmas, dessa conversa inicial no
ambiente escolar.
Devido ao fato de o trabalho realizado já ser conhecido pela
comunidade, por sua continuidade e resultados efetivos,
muitos jovens que já participavam do projeto retornaram e
convidaram novos participantes para ingressarem.
A realização das ações ocorreu entre os meses de março a
dezembro nas dependências da própria unidade de saúde
ESF Belvedere, em uma sala destinada ao atendimento em
grupos. As atividades ocorrem semanalmente, sendo realizados 23 encontros anuais, com duração média de uma
hora. Destaca-se que o grupo se manteve aberto para que
novos adolescentes pudessem ingressar no momento em
que considerassem oportuno. Além dos encontros semanais propostos, o projeto no ano de 2018 também utilizou,
como forma de metodologia, a participação social dos
jovens na comunidade, por meio de visitas em espaços
públicos de Divinópolis que pudessem, de alguma forma,
contribuir para o protagonismo destes jovens.
O objetivo do projeto se baseou no ideário da extensão, isto
é, em uma relação transformadora entre a Universidade e a
Sociedade, de forma que o público infantojuvenil pudesse
ter a chance de se tornar protagonista do seu território
66
por meio da democratização. Segundo Bobbio (2011) a
democracia é um processo constante, que necessita da
exploração dos espaços por aqueles que ainda não foram
protagonistas. Por isso, buscou-se desenvolver processos
de subjetivação no público-alvo infantojuvenil por meio da
ampliação dos seus territórios existenciais.
Muza e Costa (2002) reforçam o argumento sobre a necessidade de demonstrar a potência do protagonismo juvenil
que se elucida em três formas: fonte de iniciativa, expressão de liberdade e assunção de um compromisso. O jovem
se torna protagonista de sua ação, ou seja, a ação parte
dele e se concretiza na tomada de responsabilidade por
seus atos. É visível que o adolescente somente terá sua
ascensão como protagonista caso seja possibilitado um
local de fala e reflexão para ele, que, muitas vezes, ainda
se encontra inserido em um processo naturalizado de mera
consequência e resignação frente ao seu contexto social.
Para que a dita democracia ocorra é necessário que se
tenha o exercício efetivo de uma sempre nova participação,
que resultará em novos agentes protagonistas e contribuirá
para a expansão do que já se encontra democratizado. O
protagonismo infantojuvenil é, portanto, uma maneira de
tornar os jovens, em estado de alteração do seu status na
sociedade, responsáveis e conscientes dos seus espaços
e relações vivenciadas, tornando perceptível para estes a
possibilidade de transformações e interlocuções com as
instituições que frequentam (FIGUEIREDO; MARTINS, 2015).
67
Por fim, é importante ressaltar que o projeto de extensão
se encontra vinculado ao Grupo CNPq/UEMG: Núcleo
de Psicologia sobre Educação, Paz, Saúde, Subjetividade
e Trabalho da Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG) Unidade Divinópolis.
Desenvolvimento do projeto
Do ano de 2015 até o presente, o projeto segue uma plataforma semiaberta para suas atividades:
• Primeiros encontros (1ᵒ ao 3ᵒ) – divulgação, apresentação dos membros, construção de regras de
funcionamento (sigilo, assiduidade, respeito, solidariedade etc.);
• Atividades (4ᵒ ao 21ᵒ) – temáticas construídas no cotidiano do trabalho;
• Finalização (22ᵒ e 23ᵒ) – avaliações e confraternização.
Portanto, o que será apresentado é uma estrutura que
sofre algumas variações no passar dos anos, sem perder
o fio condutor do trabalho preconizado no método Roda
de Conversa.
O primeiro encontro se deu em uma dinâmica de apresentação entre os jovens e os facilitadores dos encontros.
Houve um número significativo de adolescentes presentes, e esses, em sua maioria, relataram que obtiveram
68
informação sobre o início do grupo na escola e de colegas
próximos que já participaram em anos anteriores. Após a
realização do contrato e esclarecidos os questionamentos
acerca das expectativas dos adolescentes perante o grupo,
definiu-se a escolha do tema do segundo encontro.
As atividades foram realizadas com maior descontração, utilizando-se, quando necessário, a musicalidade e
teatralização como ferramentas. Nas escolas houve aulas
de instrumentos musicais oferecidas gratuitamente. As
músicas despertaram nos adolescentes algumas falas
sobre o período de suas vidas, caracterizando a adolescência como um momento marcante de entrada no mundo
crítico e dos segredos. Um tema recorrente foi o bullying,
responsável por trazer à tona sentimentos expressivos nos
adolescentes. Os encontros foram marcantes e tiveram
relatos significativos, seguidos de lágrimas e a conclusão
de que o bullying não deve ser considerado normal. Uma
das falas de um dos adolescentes sintetizou o que foi
apreendido: “O bullying é uma marca; alguns conseguem
apagar, outros não”.
Houve também encontros que se destinaram à prática de
artesanato e que tiveram caráter lúdico, pouco presente
na fase da adolescência. Em 2018, por exemplo, uma geladeira que se encontrava em desuso foi doada à Unidade de
Saúde e os adolescentes levaram imagens do seu interesse,
sendo então realizada uma bricolagem transformando o
eletrodoméstico sem utilidade em uma “geloteca”. Livros
e revistas foram doados e passaram a ocupá-la. Na medida
em que as rodas de conversa foram ocorrendo, os jovens
69
demonstraram interesse em assuntos que foram discutidos
em grupo.
A demanda sobre o tema sexualidade foi uma constante
nestes anos. Nos encontros promovidos com os jovens, o
foco foi desmistificar alguns tabus em relação ao sexo, que
os prejudicam na obtenção de mais informações seguras
sobre o assunto e, principalmente, no que diz respeito
aos métodos contraceptivos de gravidez e de prevenção
de doenças sexualmente transmissíveis. Segundo Jeolás
e Ferrari (2003), um espaço para troca de ideias e valores propicia uma autorreflexão sobre questões sexuais,
rompendo com a alienação do indivíduo frente ao discurso
do mundo social.
O suicídio foi outro tema tratado mais de uma vez nas rodas
de conversa, sendo discutido repetidamente durante o
mesmo ano. Para isso, foi apresentada aos adolescentes
a Campanha Brasileira de Prevenção ao Suicídio, preconizada pelo Ministério da Saúde e nomeada setembro
Amarelo. A causa foi discutida e alguns dos adolescentes
presentes já a conheciam devido aos cartazes escolares
confeccionados na época da campanha.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) também foi apresentado como alternativa de prevenção e, então, a discussão
se direcionou para a questão: como prevenir o suicídio?
O questionamento foi lançado aos adolescentes que,
com efeito, citaram diversas formas sobre como conversar com um amigo, ficar com seu animal de estimação
ou até mesmo dar um tempo para si mesmo. Foi, então,
70
acentuada a importância da FALA como mecanismo de
prevenção ao suicídio.
O tema Feminismo também foi demandado pelas adolescentes do grupo, que se prontificaram em apresentar
argumentos sobre o assunto. As jovens explicaram sobre
o contexto histórico da luta pela igualdade de direito das
mulheres, o direito ao voto há pouco conquistado, assim
como o direito ao estudo e ao divórcio, que também foram
ressaltados pelas adolescentes. Alguns dos presentes ainda
demonstravam certa confusão ao compreender o movimento feminista. A roda de conversa, por fim, contribuiu
para desmistificar certas visões extremistas e, mais uma
vez, frisar a importância do respeito para com o outro.
Outros temas trabalhados foram a autoestima, a família e a
Internet; assuntos estes capazes de despertar o interesse e
diferentes opiniões entre os jovens. O trabalho em equipe
foi outra temática apresentada por meio de dinâmicas
capazes de elucidar como o apoio mútuo pode proporcionar maiores facilidades no dia a dia.
Foram tratadas também questões sobre violência e preconceito que permeiam as vivências da maioria dos jovens ali
presentes. Estes relatam, diversas vezes, a proximidade do
bairro com a criminalidade e o tráfico de drogas. As participantes do sexo feminino também expuseram situações de
assédio que ocorriam nas escolas e nas ruas.
Além das rodas de conversa semanais, o projeto de extensão aqui descrito teve como intuito a realização de visitas
71
em espaços públicos de Divinópolis, de forma a propiciar
aos adolescentes um encontro com a história de sua cidade
e com os estabelecimentos de ensino públicos, contribuindo para o seu processo de cidadania. Nesses anos,
foram realizadas um total de sete visitas:
a. Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
Unidade Divinópolis;
b. Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
Campus Dona Lindu;
c. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (CEFET);
d. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai);
e. Teatro Municipal Usina Gravatá;
f. Praça da Bíblia;
g. Visita guiada pelo centro histórico de Divinópolis:
Praça da Catedral, Praça Candidés e Praça do Mercado.
As visitas às Universidades contribuíram para aproximar
os adolescentes do ambiente universitário, passando por
laboratórios, salas de aula, Encontros Científicos etc. Foi
um momento em que as Universidades puderam apresentar suas formas de ingresso via Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM) e vestibular. Algumas dessas instituições
reproduziram formas de barreira sociais, explicitando,
72
por exemplo, que “aqueles adolescentes” não se enquadram ao perfil institucional. Diante de um cenário em
que muitas portas são fechadas e de oportunidades que
parecem inalcançáveis, tentamos contribuir com uma
experiência nova para o grupo de adolescentes. Mesmo que
esses estabelecimentos estivessem num raio de 3 km da
ESF, trajeto que poderia ser realizado a pé, muitos jovens
consideravam estes espaços fora dos seus projetos de vida.
Há relatos em que alguns dos adolescentes declararam ter
como determinação um projeto de vida para o trabalho em
caixa de supermercado, indicando, assim, um imaginário
de progressão de carreira nos supermercados da cidade.
O conhecimento adquirido e as experiências nas vivências
dos adolescentes a partir das visitações foram destaques
no desenvolvimento do projeto. A partir das vivências
em instituições de ensino próximas ao lugar onde os
adolescentes residiam, novas reflexões foram surgindo,
mostrando novas possibilidades de carreira aos adolescentes. Tivemos recepções de diversas formas: visita
guiada com práticas, palestra montada exclusivamente
para a visita dos adolescentes, mostrando a preparação e
o cuidado que tiveram em receber o grupo, apresentação
do campus e visitas sem maiores apresentações e sem
abertura para exploração. Algumas instituições abriram
suas portas e mostraram a possibilidade de os jovens fazerem parte daquele espaço. Outras, no entanto, deixaram
claro o desagrado de tê-los naquele local. Cada recepção
nos mostrou o quanto os adolescentes podiam se sentir
próximos ou afastados daqueles espaços, evidenciando, de
forma clara, o incentivo aos adolescentes em fazerem (ou
73
não) parte da instituição. Em outros discursos, a oposição
em tê-los como membros participantes da instituição se
expressou como um processo de postergação.
As visitas às praças e ao Teatro Municipal proporcionaram a apresentação de formas alternativas de lazer e de
confraternização. Em 2018, foi a primeira vez que todos
participaram da Feira Literária de Divinópolis (FLID), no
Teatro Municipal Usina Gravatá, o que possibilitou contemplarem uma apresentação teatral e da Escola de Música
de Divinópolis.
Resultados do projeto
Os desafios para proteção e promoção da qualidade de vida
em crianças e adolescentes foram diversos. Esses foram
de tamanha amplitude e complexidade que excederam os
métodos utilizados habitualmente pelas agências de saúde
pública, que normalmente não solucionam os problemas
comumente apresentados. As realidades específicas desses
períodos da vida demonstraram, portanto, a necessidade
de esforços mais amplos, criativos e consequentemente
eficientes da área da saúde (DIAS et al., 2007).
O projeto de extensão “Protagonismo Infantojuvenil no
Bairro Belvedere, em Divinópolis” se apresentou como
um método amplo e criativo, pois reuniu diferentes jovens
em um local e os colocou em posição de protagonistas,
elegendo temáticas de seu cotidiano para serem discutidas e refletidas. O grupo também se tornou fonte de apoio
74
psíquico, o que pode ser visto nos seguintes conjuntos de
falas dos participantes: “Meu ano não foi legal, mas o grupo
foi”, “Hoje eu estou uma pessoa mais animada, sociável”,
“O grupo ajudou a expressar melhor minha opinião”.
Além das reflexões propiciadas pelas rodas de conversa
semanais, os adolescentes também apresentaram uma
maior aproximação com a ESF Belvedere, o que pôde ser
verificado como um mecanismo facilitador da prevenção e
promoção de saúde, que são objetivos principais do atendimento em saúde na atenção básica. As visitas realizadas
contribuíram para um maior contato dos adolescentes com
os espaços públicos de sua cidade, favorecendo acesso à
cultura, como, a Feira Literária de Divinópolis. Além disso,
as visitas contribuíram para o acesso a espaços que são,
muitas vezes, desconhecidos pelos adolescentes em
função de morarem em bairros afastados e de não terem
renda destinada ao lazer.
O projeto já era reconhecido pela comunidade do bairro
Belvedere e, a cada ano, tem se tornando mais solidificado.
As demandas dos jovens foram diversificadas, porém a
existência de um local de fala para eles contribuiu para
que se expressassem e reconhecessem seus papéis de
cidadão. Segundo Dias et al. (2007) cidadão é aquele que
usufrui de seus direitos e cumpre seus deveres dentro de
um processo de cidadania que é apenas efetivado com articulações entre história, cultura e política da sociedade em
que vivem. O protagonismo infantojuvenil é, portanto, uma
forma efetiva de se produzir cidadania e tornar os jovens
cientes do seu papel de sujeitos de direitos. A passagem
75
abaixo sintetiza e reforça a necessidade da continuidade
de programas que valorizem a cidadania:
O reconhecimento das potencialidades
dos cidadãos como sujeitos de direitos e a
necessidade de se descortinar as implicações
estruturais que os colocam em situação de
vulnerabilidade, requerendo organização
para a exigência ao poder público de acesso
mais igualitário a oportunidades, fazem
parte de uma conduta que pressupõe esforço
constante (CARMO; GUIZARDI, 2018, p. 9).
Os resultados obtidos foram, portanto, satisfatórios. Do
conjunto das falas dos adolescentes participantes, algumas foram exemplares: “É legal e interessante ter um lugar
para falar coisas que ninguém conversa com a gente”, “Foi
legal conversar um pouco sobre temas que eu nunca tinha
ouvido falar”, “Gostei do tema da Internet porque percebi
o quanto eu ficava (na frente do computador), então dei
uma diminuída”.
Nos últimos anos, tivemos como produções acadêmicas
motivadas pelo projeto:
76
Figura 1: Produções acadêmicas motivadas pelo projeto
Apresentações:
• IV Encontro Latino Americano de
Pesquisas do Projeto CAVAS/UFMG
• I Mostra de Formação em
Psicologia: Ensino, Pesquisa e
Extensão/CRP-MG
Apresentações:
• III International Symposium on
Adolescence(s) UNIFESP
• 6ᵒ Seminário de Bolsistas
Júnior UEMG
• 19ᵒ Seminário Ensino Pesquisa e
Extensão UEMG
Trabalho de conclusão de curso
• Futuro Belvedere: caminhar em
direção as instituições de ensino
apontou limites e possibilidades
na vida de adolescentes – A
vivência acadêmica em um projeto
de extensão
Apresentações:
• 17ᵒ Seminário Ensino, Pesquisa e
Extensão UEMG
Apresentações:
• V Simpósio do Núcleo de Estudos sobre
Crianças e Adolescentes (NECA) da UFSJ
• IV Mostra Mineira de Práticas de
Psicologia/CRP-MG
• 12ᵒ Congresso de Saúde
Coletiva/ABRASCO
• 20ᵒ Seminário de Ensino, Pesquisa e
Extensão UEMG
Menção honrosa
• V Simpósio do Núcleo de Estudos sobre
Crianças e Adolescentes (NECA) da UFSJ
Apresentações:
• VI Congreso da ULAPsi Argentina
• III Simpósio do Núcleo de Estudos
Sobre Criança e Adolescente (NECA)
UFSJ
• 18ᵒ Seminário Ensino Pesquisa e
Extensão UEMG
Capítulo de livro:
• Protagonismo infanto juvenil nos
limites da cidade. In: União Latino
Americana de Psicologia. (Org.).
Diálogos e interacciones de la Psicología
en América Latina Construcción
colectiva para la promoción de derechos
y el buen vivir. 1ed. Buenos Aires: ULAPSI
Argentina, 2016, v. 1, p. 904-912
Fonte: Banco de dados com registro de atividades do Núcleo
de Psicologia.
77
Considerações finais
Observou-se que, mesmo que o Brasil apresente uma
das mais avançadas legislações de proteção aos jovens, o
trabalho a ser feito para torná-las efetivas ainda é extenso
(DIAS et al., 2007). Faz-se necessária, portanto, a existência
de projetos que possibilitem aos adolescentes uma maior
aproximação aos seus direitos à saúde, ao lazer, à educação e à cultura.
O projeto de extensão “Protagonismo Infantojuvenil no
Bairro Belvedere, em Divinópolis”, por meio das rodas de
conversa e das visitas aos espaços públicos daquele município, proporcionou aos jovens participantes sua ascensão
como cidadãos, além da compreensão de suas realidades
sociais que os influenciam diretamente. Conclui-se que a
continuidade do presente projeto e a realização de outros,
que incentivem o protagonismo infantojuvenil, foram e são
de grande importância para melhorias na qualidade de
vida das comunidades.
78
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. São
Paulo: Tatuapé, 1981.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 12 ed. São Paulo: Paz
e Terra, 2011.
CARMO, Michelly Eustáquia; GUIZARDI, Francini Lube. O conceito
de vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de
saúde e assistência social. Cad. Saúde Pública, Brasília, 34(3):
e00101417, 2018.
DANTAS, Vera Lúcia Azevedo; RESENDE, Regiane; PEDROSA,
Ivo dos Santos Pedrosa. Integração das Políticas de Saúde e
Educação. Salto para o Futuro, Saúde e educação: uma relação
possível e necessária. Ministério da Educação. Ano XIX boletim 17,
p. 10-22, 2009.
DIAS, Silvia Luci de Almeida et al. Estatuto da Criança e do
Adolescente: aprendendo cidadania. Inclusão Social, Brasília, v.
2, n. 2, p. 116-123, abr./set, 2007.
FIGUEIREDO, Victor Santos; MARTINS, André Amorim.
Protagonismo infanto-juvenil no bairro belvedere: Nos limites
da cidade. Diálogos e interacciones de la Psicologia en América
Latina. Buenos Aires. 2016.
JEOLÁS, Leila Sollberger; FERRARI, Rosângela Aparecida
Pimenta. Oficinas de prevenção em um serviço de saúde
para adolescentes: espaço de reflexão e de conhecimento
compartilhado. Ciência & Saúde Coletiva, Londrina, 8 (2):
611-620, 2003.
MUZA, Gilson Maestrini; COSTA, Marisa Pacini. Elementos
para a elaboração de um projeto de promoção à saúde e
desenvolvimento dos adolescentes – o olhar dos adolescentes.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18 (1): 321-328, jan-fev, 2002.
79
NUNES, Jéssica Alice; MARTINS, André Amorim. Future belvedere:
walk towards the institutions pointed out limits and possibilities
in the lives of teens - the academic experience in a project
extension. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ADOLESCENCE (S) &
FÓRUM (RE) PENSANDO A EDUCAÇÃO, 3, 2017, São Paulo. Anais...
São Paulo: Unifesp, 2017. p. 394-404.
PAPALIA, Diane; FELDMAN, Ruth. Desenvolvimento humano. 12
ed. Porto Alegre: Mc Graw-Hill, 2013.1.
A trajetória do Núcleo de
Extensão e Pesquisa em Educação
de Jovens e Adultos
Nágela Aparecida Brandão
Gilvanice Musial
Vânia Costa
Ana Catharina Mesquita Noronha
Maria Cristina Silva
Márcia Helena Nunes Monteiro
Roberto Márcio Rezende
Walquíria Miranda Rosa
Ana Cláudia Godinho
81
1 Introdução
Este texto tem como objetivo apresentar a trajetória do
Núcleo de Extensão e Pesquisas em Educação de Jovens e
Adultos (NEPEJA) da Faculdade de Educação, campus Belo
Horizonte, da Universidade do Estado de Minas Gerais (FaE/
UEMG). Essa trajetória começa com as ações de extensão
de um grupo de professores e estudantes da FaE/UEMG no
âmbito da educação de jovens e adultos no final dos anos
noventa, vinculados ao Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária (PRONERA/INCRA/MDA). Essas ações
se expandem, principalmente com a parceria com movimentos sociais e sindicais e organizam-se em torno de
projetos e programas, promovem a formação dos sujeitos
envolvidos, o desenvolvimento de pesquisas, uma vasta
produção científica, um acervo de fotos, vídeos, documentos que retratam quase vinte anos da Educação de Jovens
82
e Adultos (EJA), em especial, nas áreas de reforma agrária
no estado de Minas Gerais.
O envolvimento em diferentes atividades ao longo desses
anos1 contribuiu para construção de um fazer universitário
engajado politicamente, crítico na perspectiva de análise
e pautado no trabalho coletivo do grupo de professores,
estudantes e comunidades envolvidas, entre elas pode-se citar: a inserção no Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária (PRONERA), por meio do Projeto
Educação, Campo e Consciência Cidadã; da participação
no Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos; a
elaboração, em conjunto com educadores de jovens e
adultos de acampamentos/assentamentos de um material
didático pedagógico – Caderno do Educador – para a EJA
(financiado por MEC/SESu/PROEXT/2007); o programa de
estudos intitulado Educação de Jovens e Adultos em Áreas
de Reforma Agrária em Minas Gerais: os processos educativos gestados no Projeto “Educação, Campo e Consciência
Cidadã” – financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) –; a experiência do
1
Embora a institucionalização do NEPEJA tenha ocorrido somente em
julho de 2003, desde o final dos anos noventa, integrantes do núcleo
desenvolviam ações e projetos na EJA e na Educação do Campo antes
desta data, tais como a participação no Fórum Mineiro de Educação de
Jovens e Adultos (2001 e 2002), a coordenação do 4º Encontro Nacional
de Educação de Jovens e Adultos (2002), participação na I Conferência
Estadual de Educação do Campo (1997), na I Conferência Nacional de
Educação do Campo (1998) e na coordenação das primeiras versões
do projeto “Educação, Campo e Consciência Cidadã (2000 e 2002).
Em 2013, o NEPEJA foi registrado no diretório de grupos de pesquisa
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ), certificado pela UEMG.
83
Observatório da Educação do Campo (CAPES/INEP); a
realização do programa de extensão “Educação de jovens
e adultos: memórias, formação de educadores em áreas
de reforma agrária no estado de Minas Gerais” (MEC/SESu/
PROEXT/2013); do projeto de pesquisa Trabalho, Educação
de Jovens e Adultos e Formação Profissional em Áreas de
Reforma Agrária no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG/2013)
e o projeto de pesquisa Confrontação de saberes nas experiências do trabalho na EJA (CNPq/2013).
O texto está organizado em três partes: em um primeiro
momento serão apresentados os projetos e programas
desenvolvidos no âmbito da extensão universitária; em
um segundo momento, os projetos vinculados à pesquisa;
por fim, serão feitas algumas considerações finais acerca
dessa experiência.
2 Os projetos e programas desenvolvidos
pelo NEPEJA/FaE/UEMG
O quadro a seguir apresenta, de forma resumida, os projetos e programas desenvolvidos pelo grupo ao longo dos
seus anos de existência. Na medida em que estes iam
sendo realizados, o NEPEJA foi reforçando como premissas
de trabalho a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão e o fortalecimento da articulação entre universidade, movimentos sociais e sujeitos de maneira dialógica,
ou seja, de forma que os envolvidos pudessem participar
do processo de construção de novos conhecimentos.
84
Tal perspectiva se coaduna com uma revisão profunda
da concepção de Universidade e de Extensão. O papel
da Universidade assume um novo sentido a partir de sua
inserção nas ações coletivas de formação humana desenvolvidas no âmbito dos movimentos sociais. Como lembra
Arroyo (2017, p. 18), “a universidade é reeducada quando
se abre à dinâmica social, política, educativa que vem dos
movimentos sociais, especificamente do campo”. Elas
transformam-se em um espaço de discussões, de produção
científica, tendo por base o trabalho coletivo, o compromisso social2.
Quadro 1: Projetos / Programas do NEPEJA/FaE/UEMG
– 2000-2019
1
Título do Projeto /
Programa
Natureza
do projeto/ Parceiros
programa
Projeto “Alfabetização, Campo e Consciência Cidadã”
Extensão
Financiamento
FAFIFIA/FEVALE FaE/
PRONERA/
UEMG; DeP/UFV;
INCRA/MDA
FETAEMG; MST/MG
Período de
execução
2000-2001
2 Não poderíamos deixar de lembrar o projeto de oferta de curso de
graduação “Pedagogia da Terra”, elaborado conjuntamente pela
Universidade, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de
Minas Gerais (MST/MG), Federação dos Trabalhadores na Agricultura
do Estado de Minas Gerais (FETAEMG) e demais parceiros, aprovado
no âmbito do PRONERA/INCRA/MDA no ano de 2002. Mesmo contando
com recursos liberados, o reitor da Universidade na época escolheu
não assinar o convênio. A inserção e reconhecimento dos povos do
campo na agenda da Universidade não foi um processo sem luta e
conflitos. Atualmente, o programa institucional de extensão em educação do campo da UEMG demonstra que a Universidade avançou muito
neste aspecto.
85
Título do Projeto /
Programa
Natureza
do projeto/ Parceiros
programa
Financiamento
Período de
execução
2
Projeto “Educação, Campo
Extensão
e Consciência Cidadã”
FaE/UEMG; FAFIFIA/
FEVALE DeP/UFV;
FETAEMG; MST/MG
PRONERA/
INCRA/MDA
2003-2004
3
Projeto “Educação, Campo
Extensão
e Consciência Cidadã”
FaE/UEMG; FAFIFIA/
FEVALE DeP/UFV;
FETAEMG;
MST/MG
PRONERA/
INCRA/MDA
2005-2007
4
Projeto “Educação, Campo
Extensão
e Consciência Cidadã”
FaE/UEMG; FAFIFIA/
FEVALE DeP/UFV;
FETAEMG; MST/MG
PRONERA/
INCRA/MDA
2008-2012
5
Projeto “Elaboração de
material didático-pedagógico para a educação de
jovens e adultos em acampamentos e assentamentos de reforma agrária”
Extensão
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
PROEXT/
MEC/2007
2007-2009
6
Programa de estudos
“Educação de Jovens
e Adultos em Áreas de
Reforma Agrária em Minas
Pesquisa
Gerais: os processos
educativos gestados no
Projeto “Educação, Campo
e Consciência Cidadã”
Dep/UFV;
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
FAPEMIG
2008-2010
7
Projeto Observatório
da Educação do Campo
– Práticas de Educação
de Jovens e Adultos,
Letramento e Alternâncias Educativas
PPGED/UFV; PPGED/ (CAPES /
UEMG;
INEP / Edital
PPGED/UFSJ
038/2010/)
Pesquisa
2010-2014
86
Título do Projeto /
Programa
Natureza
do projeto/ Parceiros
programa
8
Programa: Educação
de jovens e adultos:
memórias, formação de
educadores em áreas
de reforma agrária no
estado de Minas Gerais
Extensão
9
Projeto Trabalho, Educação de Jovens e Adultos e
Formação Profissional em
Áreas de Reforma Agrária
no Estado de Minas Gerais
10
Projeto Confrontação de
saberes nas experiências
do trabalho na EJA
11
Programa Educação de
Jovens e Adultos: reconstrução de memórias, formação de alunos universiExtensão
tários (estágio de vivência),
educadores e gestores
em áreas de reforma
agrária em Minas Gerais
Financiamento
Período de
execução
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
MEC/SESu/
PROEXT/2013
2014-2016
Extensão
em Interface com
Pesquisa
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
FAPEMIG/
APQ/2013
2014-2016
Pesquisa
FaE/UEMG
CNPq / 2013
2014-2016
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
MEC/SESu/
PROEXT /2014
Aprovado,
porém não
executado3
3 Em virtude das mudanças no estatuto de trabalho dos professores da
UEMG (com o julgamento de inconstitucionalidade da Lei Complementar nº. 100/2007), vários integrantes da equipe saíram da Universidade.
Os professores que ficaram deixaram de ser efetivos. Um dos critérios do MEC/Proext era que coordenadores dos programas por eles
financiados fossem efetivos. Desse modo, optou-se por devolver os
recursos na época, uma vez que não poderia ser assegurado o cumprimento desse critério. Além disso, projetos dessa natureza baseiam-se
em uma construção de parceria e confiança entre os envolvidos. A
simples troca de coordenador poderia comprometer as metas e relações estabelecidas.
87
12
Título do Projeto /
Programa
Natureza
do projeto/ Parceiros
programa
Financiamento
Período de
execução
Programa “Trabalho, Políticas Públicas, Juventudes
e Aprendizagem em Educação de Jovens e Adultos
do campo e da cidade”
Extensão
em Interface com
Pesquisa
Em busca de
financiamento
2017-2019
FaE/UEMG;
FETAEMG; MST/MG
Fonte: elaborado pelos autores a partir de MUSIAL et al. (2014).
2.1 A extensão universitária
Ao se originar de atividades eminentemente de extensão
universitária, o NEPEJA não a tratou pelo viés da prestação de serviço, mas por uma concepção que caminha no
sentido de superar a perspectiva de via de mão única, tão
presente nos anos oitenta, nas universidades brasileiras
(MELO NETO, 1997). Assim, as experiências vividas no interior dos diferentes projetos permitiu caminhar em direção
a uma prática de extensão que ultrapassa a dimensão de
transmissão de saber pela Universidade e considerar os
diferentes saberes produzidos no cotidiano de vida e de
trabalho de homens e mulheres como saberes válidos.
É importante ressaltar que essas reflexões são oriundas
da busca constante de uma prática educativa pautada
pela indissociabilidade entre extensão, pesquisa e ensino
realizada ao longo desses anos, o que sinaliza em direção
ao fortalecimento da articulação entre Universidade,
comunidades e movimentos sociais/sindicais de maneira
dialógica. As ações vêm sendo pautadas pela lógica do
88
trabalho coletivo nas quais todos os parceiros envolvidos
(movimentos sociais, sindicais, educadores populares,
universidades, órgãos governamentais) participam do
processo de construção de novos conhecimentos.
Pode-se dizer que os pressupostos que orientaram a
condução dos trabalhos se inscrevem no que Boaventura
de Souza Santos chama de “ecologia de saberes”. Esta
última é uma espécie de
extensão ao contrário, de fora da universidade para dentro da universidade. Consiste
na promoção de diálogos entre o saber
científico ou humanístico, que a universidade produz, e saberes leigos, populares,
tradicionais, urbanos, camponeses, provindos de culturas não ocidentais (indígenas,
de origem africana, oriental etc.) que circulam na sociedade (...). Implica uma vasta
gama de acções de valorização, tanto do
conhecimento científico, como de outros
conhecimentos práticos, considerados úteis,
cuja partilha por pesquisadores, estudantes
e grupos de cidadãos serve de base à criação
de comunidades epistêmicas mais amplas
que convertem a universidade num espaço
público; de interconhecimento onde os cidadãos e os grupos sociais podem intervir sem
ser exclusivamente na posição de aprendizes
(SANTOS, 2008, p. 69-70).
Considera-se que a produção do conhecimento comprometida com os processos de transformação social precisa
levar em conta a participação efetiva da comunidade, de
forma interativa e coletiva. Nesse processo, os sujeitos
89
tornam-se coautores dos conhecimentos produzidos que
tem como ponto de partida a reflexão sobre sua realidade
imediata. O trabalho de produção do conhecimento não
se reduz a descrição dos contextos e experiências, mas
traduz uma reflexão coletiva acerca das condições histórica e socialmente determinadas onde estão inseridas
as comunidades, as trajetórias dos sujeitos, as práticas e
sentidos construídos.
Figura 1: Sala de aula do Acampamento Irmãos Naves (MST/MG)
– Município de Araguari, Triângulo Mineiro, 2005
Fonte: Acervo NEPEJA.
90
Figura 2: Marcha da Educação – Acampamento Novo Paraíso
– Jequitaí/MG (Maio/2009)
Fonte: Acervo NEPEJA.
As fotos anteriores (fig. 1 e 2) expressam essa concepção
extensionista. A primeira, uma sala de aula do projeto
Educação, Campo e Consciência Cidadã, construída pelos
moradores do Acampamento Irmãos Naves, em Araguari/
MG. A segunda, uma marcha pela educação realizada por
moradores do Acampamento Novo Paraíso, em Jequitaí,
com objetivo de mobilizar os sujeitos para o engajamento
nos projetos de educação propostos pelo coletivo de
educação. Neste processo educativo comprometido com a
transformação social, todos os envolvidos tornam-se partícipes desta construção, seja construindo o espaço onde as
aulas, reuniões, assembleias seriam realizadas, indo atrás
do poder público para fornecer mobiliário e materiais, seja
fazendo uso de práticas próprias dos movimentos sociais
de luta pela terra (a marcha) para mobilizar os sujeitos para
inserção nos projetos de educação. De maneira dialógica,
91
universidade e movimentos sociais participaram desta
construção coletiva, que será descrita a seguir.
2.1.1 Projeto “Educação, Campo
e Consciência Cidadã”4
O projeto “Educação, campo e consciência cidadã” teve
como objetivo alfabetizar e escolarizar, nos anos iniciais
do Ensino Fundamental, jovens e adultos em áreas de
reforma agrária no estado de Minas Gerais. Das quatro
versões do projeto, as três últimas foram coordenadas pelo
NEPEJA/FaE/UEMG no interior do Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (PRONERA/INCRA/MDA) em
parceria construída entre o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST/MG), Federação dos Trabalhadores
da Agricultura no Estado de Minas Gerais (FETAEMG),
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), o departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa
(UFV) e Faculdade de Filosofia e Letras de Diamantina
(FAFIDIA), entre os anos 2000 e 2012.
O projeto tinha abrangência nas seguintes regiões do
estado de Minas: Centro-sul, Jequitinhonha, Triângulo e
Alto Paranaíba, Mucuri, Norte e Zona da Mata. A última
versão atendeu quase três mil educandos alocados em
cerca de 170 salas de aula.
4 O livro “Educação de Jovens e Adultos do Campo: o Projeto Educação,
Campo e Consciência Cidadã” apresenta uma série de artigos com
análises do referido projeto.
92
O processo de escolarização de jovens e adultos e de formação dos educadores fundamentou-se no referencial teórico
de Paulo Freire, dentre outros autores, que pautaram suas
obras pela busca de compreensão da dimensão política da
educação, através de um projeto educativo emancipador
que prioriza a relação intrínseca entre educação e cultura
no processo de formação humana. Nestes projetos, alfabetização e letramento foram concebidos como um fenômeno
complexo que vai além das habilidades de decodificação/
codificação de signos/símbolos, e se configura como um
fator fundamental para a busca da emancipação política e
autônoma dos acampados e assentados.
Considerando que existe uma identidade entre os princípios políticos e metodológicos do PRONERA, os quais
serviram de orientação da metodologia desenvolvida ao
longo destes anos, buscou-se reagrupá-los (desdobrá-los)
em eixos básicos, que norteiam os processos educativos:
a) a construção de eixos temáticos e levantamento de
palavras geradoras do universo vocabular vivenciado, bem
como elementos da cultura das áreas de assentamento;
b) a integração entre as necessidades identificadas nos
assentamentos e as atividades educativas; c) a interdisciplinaridade como princípio transversal para a concretização
da proposta educativa; e d) a construção de uma relação
dialógica pelos sujeitos envolvidos na práxis educativa.
As aulas aconteciam nas áreas de reforma agrária e eram
conduzidas por um educador que morava no local. O
horário era definido pela comunidade. Onde não existia
infraestrutura, a própria comunidade, em parceria com
93
a Universidade, mobilizava-se para conseguir (desde a
construção das salas, muitas vezes de lona, aquisição
ou construção de mobiliário, óculos, materiais, quadro,
lampião etc. até o transporte escolar em assentamentos onde as moradias eram distantes da sala de aula e a
certificação – declaração – de escolaridade no primeiro
segmento do ensino fundamental). Parte dos materiais
era financiada pelo programa, mas não era o suficiente. O
engajamento da comunidade era fundamental para que o
direito dos adultos fosse assegurado.
A organização dos processos de formação dos educadores
do Projeto seguiu o seguinte formato: a) formação presencial por meio de ciclos de formação de educadores e de
oficinas regionais; b) formação em processo através das
visitas às salas de aula por professores, alunos universitários e coordenadores locais e por meio de momentos de
estudo, pesquisa e planejamento do trabalho.
Nas figuras a seguir pode-se observar o desenvolvimento
de oficinas regionais realizadas com a participação de
educadores, estudantes universitários e coordenadores
locais. Nessas oficinas eram trabalhadas questões específicas da região e dos educadores e educandos.
94
Figura 3: Oficina Regional de Formação: Região Centro-Sul (2009)
Fonte: Acervo NEPEJA.
Figura 4: Oficina Regional de Formação: Região Centro-Sul (2005)
Fonte: Acervo NEPEJA.
95
A despeito de todos os desafios vivenciados ao longo de
sua realização, pode-se dizer que a dinâmica de parceria entre Universidade, Movimentos Sociais e Sindicais
e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) criou um ambiente favorável para que grupos de
docentes e discentes repensassem seu compromisso com
movimentos de luta pela terra.
Um fato relevante, que muito honrou a todos os parceiros, foi que, no ano de 2005, o projeto foi premiado pelo
Ministério da Educação com a Medalha Paulo Freire, cuja
concessão reconhece experiências relevantes no campo da
alfabetização e educação de jovens e adultos.
Figura 5: Medalha Paulo Freire 2005
Fonte: Acervo NEPEJA.
Cabe ressaltar que a execução do Projeto Educação, Campo
e Consciência Cidadã contribuiu para a formação de educadores e para a o campo da EJA no contexto da educação
em áreas de reforma agrária e da educação do campo no
Estado. Além disso, possibilitou inúmeras aprendizagens,
conquistas e desafios diversos.
96
2.1.2. O Projeto de construção de
material didático-pedagógico
O material didático-pedagógico intitulado “Educampo” é
fruto da demanda de educadores e educadoras de jovens
e adultos de áreas de reforma agrária em Minas Gerais
que, no período de 2000 a 2007, participaram do projeto
de extensão universitária “Educação, Campo e Consciência
Cidadã”. Financiado pelo MEC/PROEXT/2007, o projeto
construiu um “Caderno do educador”, baseado nas experiências de trabalho desenvolvidas pelos educadores nas
áreas de reforma agrária. Posteriormente, entre os anos de
2010 e 2013, esse material foi utilizado em algumas áreas
como uma das atividades do Observatório da Educação do
Campo (que será descrita mais adiante).
Considerando os educadores e educadoras como autores
de suas práticas pedagógicas, o projeto teve como objetivo geral elaborar um material junto com eles, a partir do
trabalho que realizavam em sala de aula, e intensificar a
formação como pesquisadores/pesquisadoras das e com
as comunidades das quais fazem parte. O projeto priorizou
o diálogo com os educadores e educadoras no processo de
elaboração do material didático pedagógico.
Para a elaboração do Caderno, que compõe o material
didático-pedagógico, foi feita uma pesquisa com a intenção
de se obter dados sobre a prática pedagógica desenvolvida
nas turmas de educação de jovens e adultos. Considerando
o objetivo do projeto, a realidade dos assentamentos e
acampamentos, sua localização de norte a sul do estado
97
de Minas Gerais e o número de educadores e educadoras (75), optou-se por uma metodologia de pesquisa que
assegurasse naquele momento (anos de 2005-2007) a
participação de todos educadores e educadoras de forma
direta ou representativa.
Em um primeiro momento todos os educadores responderam a um questionário sobre seu trabalho: temas,
conteúdos, atividades. Em um segundo momento, foram
realizadas entrevistas com alguns educadores para que
se pudesse identificar alguns elementos de suas práticas
pedagógicas. As informações obtidas nestes dois momentos foram organizadas e analisadas de modo que pudessem
orientar a construção do material.
O Caderno do Educador está organizado da seguinte forma:
a Apresentação consta de dois textos, um da FETAEMG e
outro do MST, a Introdução traz o histórico do projeto e
da pesquisa seguidos do texto O Educador e a Educadora
do Campo e do texto Organização dos cadernos. Em
seguida, duas temáticas são apresentadas: Planejamento
– fruto do relato oral feito por uma educadora do MST/MG
transcrito e adaptado para esse caderno – e O primeiro
dia de aula – carta de uma educadora da FETAEMG,
também adaptada para esse caderno. Os textos e as
atividades correspondentes a cada tema foram indicados
pela pesquisa realizada junto aos educadores e educadoras e estão apresentados no caderno na seguinte ordem:
Identidade, Reforma Agrária, Trabalho, Ofícios e Bilhetes,
98
Meio Ambiente e Cooperação. A imagem a seguir mostra a
capa do Caderno produzido.5
Figura 6: Capa do material didático
Fonte: Acervo NEPEJA.
2.1.3 Programa Educação de Jovens e Adultos:
memórias, formação de educadores e gestores
em áreas de reforma agrária de Minas Gerais
O Programa Educação de Jovens e Adultos: memórias,
formação de educadores e gestores em áreas de reforma
agrária do estado de Minas Gerais, financiado pelo MEC/
5 Esta capa foi produzida pelos alunos bolsistas da Escola de Design da
UEMG a partir das sugestões dos educadores entrevistados na segunda
fase da pesquisa. Ainda é motivo de crítica por parte dos educadores
por ainda não refletir o “campo da educação do campo”.
99
SESu/PROEXT/2013 e executado entre os anos 2014-2016,
buscou fortalecer as ações de extensão, pesquisa e ensino
que vinham sendo desenvolvidas pelo NEPEJA, em parceria com o MST e com a FETAEMG. Foi organizado em torno
dos seguintes projetos: 1. Reconstrução da memória do
projeto Educação, campo e consciência cidadã, que tinha
como objetivos reconstruir, juntamente com os parceiros, a
memória deste projeto de EJA, desenvolvido no âmbito do
PRONERA; 2. Formação de educadores populares e gestores educacionais em EJA nas áreas de reforma agrária em
Minas Gerais – MST/MG e 3. Formação de educadores populares e gestores educacionais em EJA nas áreas de reforma
agrária em Minas Gerais – FETAEMG, visavam contribuir
para a formação de educadores e gestores educacionais
para atuarem na educação de jovens e adultos e para trabalharem na identificação de demandas locais e organização
de projetos em EJA nas áreas de reforma agrária no estado.
O programa mostrou a existência de um vácuo na oferta de
Educação de Jovens e Adultos nas áreas de reforma agrária em várias regiões do estado de Minas Gerais. Desde o
fechamento das cerca de 100 turmas ofertadas pelo projeto
Educação, campo e consciência cidadã em 2010, pode-se
verificar a ausência de oferta desta modalidade de ensino
nestas áreas. Algumas, sobretudo na região norte do estado
de Minas Gerais, foram contempladas com projetos vinculados ao MOVA Brasil6 no ano de 2011.
6 Inspirado no Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA),
criado por Paulo Freire, o projeto MOVA-Brasil implementa ações de
alfabetização em parceria com instituições locais em 10 estados brasileiros. Para maiores detalhes ver: http://www.institutopaulofreire.org.
100
Nos Ciclos de Formação realizados, a discussão sobre
educação de jovens e adultos ganhou dupla dimensão:
denúncia acerca da ausência e/ou descontinuidade nas
ações, projetos, salas de aula voltadas para a EJA e a
proposição de diretrizes e demandas. As questões que
orientaram os ciclos foram as seguintes: Existe demanda
para EJA nos assentamentos/acampamentos de reforma
agrária? Qual o perfil dessa demanda? (mais jovens, mais
velhos, é preciso ser criada...) Quais concepções de EJA
dariam conta deste perfil? Qual metodologia? Qual educador? O que e como fazer?
As ações do programa permitiram retomar o debate sobre
a EJA do campo nos espaços sociais e institucionais onde
professores, alunos universitários, educadores das áreas
de reforma agrária e representantes dos movimentos social
e sindical atuam, fortaleceu a mobilização por parte dos
representantes dos movimentos social e sindical na busca
de ações e projetos que possam responder às demandas
de escolarização e formação de jovens e adultos levantadas nas discussões ocorridas nos ciclos de formação. Um
projeto com objetivo de abrir 24 turmas de alfabetização
e escolarização de jovens e adultos em áreas de reforma
agrária vinculado ao MST-MG, ofertando 480 vagas, foi
apresentado ao PRONERA/MDA e aguarda financiamento.
2.2 A pesquisa
A participação dos integrantes desse Núcleo em atividades
de extensão, pesquisa e ensino sempre se colocou como
101
um desafio diante do princípio da indissociabilidade, como
explicitado anteriormente, entre essas três dimensões do
fazer universitário, impulsionado por uma constante crítica
à tendência histórica de hierarquização e desigualdade no
tratamento e valoração dessas dimensões. Os integrantes
do NEPEJA percebiam esse princípio como um devir, o que
exigia constante crítica e reflexão (BRANDÃO et al., 2011).
Nesse exercício constante de ação – reflexão – ação, os
projetos de pesquisa foram propostos e enfrentaram
o desafio de se articular com a extensão e de se realizar
junto com os movimentos sociais, prática que havia
sido construída na extensão universitária. Os resultados
dessas pesquisas institucionais (SILVA; COSTA, 2014; SILVA;
MUSIAL; MACEDO, 2016), coordenadas pelo Departamento
de Educação da UFV e com a participação direta do NEPEJA
e de alguns integrantes de movimentos sociais, se dedicaram à compreensão dos limites, desafios e potencialidades
do desenvolvimento dos projetos no interior do PRONERA.
Dos quatro projetos de pesquisa desenvolvidos no interior do NEPEJA, dois foram sob a coordenação geral
do departamento de educação da UFV e os outros dois
sob a coordenação de professores do Núcleo. O projeto
Observatório da Educação do Campo – Práticas de
educação de Jovens e Adultos, Letramento e Alternâncias
educativas teve como parceiros os programas de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Viçosa, da
Universidade Federal de São João del-Rei e da Universidade
do Estado de Minas Gerais, os núcleos de pesquisa ECARA
(UFV) e NEPEJA (UEMG), os movimentos sociais e sindicais
102
do campo – MST/MG, FETAEMG, MAB. O objetivo geral era
implementar um programa de pesquisa articulado em
rede, por meio de levantamento sistemático de dados
e análises sobre as experiências em EJA presentes no
campo, dando ênfase às práticas educativas, aos processos
de alfabetização e letramento e às dinâmicas pedagógicas construídas no interior destas experiências. No livro
Educação do Campo: Práticas em Educação de Jovens e
Adultos, Formação de Professores e Alternâncias Educativas,
organizado por Silva, Musial e Macedo (2016), pode ser visto
parte dos resultados produzidos por este projeto.
O Programa de estudos Educação de Jovens e Adultos
em Áreas de Reforma Agrária em Minas Gerais: os processos educativos gestados no Projeto ‘Educação, Campo e
Consciência Cidadã’, também coordenado pela UFV, realizado no período de 2008 a 2010, buscou sistematizar e
analisar a experiência do projeto de extensão supracitado.
Um dos grandes desafios enfrentados por este programa
foi o da construção da interface extensão – pesquisa.
Ao mesmo tempo, as análises elaboradas permitiram
suprir a escassez de informações sistematizadas sobre o
Projeto, e ainda “avaliar as condições e resultados de suas
experiências educativas, principalmente em termos das
potencialidades e limites dos processos pedagógicos e das
dinâmicas de parceria construídas” (SILVA; COSTA, 2014,
p. 26). O livro Educação de Jovens e Adultos do Campo,
organizado por Silva e Costa (2014) apresenta os resultados
deste programa de estudos.
103
O projeto de extensão em interface com a pesquisa
Trabalho, Educação de Jovens e Adultos e Formação
Profissional em Áreas de Reforma Agrária no Estado de
Minas Gerais, coordenado pelo NEPEJA, financiado pela
FAPEMIG, teve como objetivo a formação de educadores
e gestores educacionais para atuarem na identificação de
demandas locais e organização de projetos de Educação de
Jovens e Adultos vinculados ao processo de escolarização
e educação profissional nas áreas de reforma agrária. Os
procedimentos metodológicos utilizados nas atividades
realizadas com educadores e gestores buscaram articular
ensino e pesquisa, entendendo-os como elementos indissociáveis no processo de formação docente. O processo
de formação dos educadores populares e gestores
educacionais foi organizado em dois Ciclos de Formação.
Identificou-se juntamente com os 40 educadores participantes dos Ciclos de Formação as necessidades de
formação e escolarização presentes nas comunidades onde
atuam e vivem. De posse destes dados sistematizados,
aliados a dados coletados junto ao INEP/MEC e INCRA, a
ação foi dirigida para o estímulo dos educadores e gestores
educacionais para atuação como mobilizadores e organizadores das comunidades para as questões pertinentes à
EJA e a EJA integrada à formação profissional.
O projeto de pesquisa Confrontação de saberes na experiência escolar de estudantes trabalhadores/as em cursos
de EJA, também coordenado pelo NEPEJA, propôs como
temática investigativa a confrontação de saberes em
experiências formativas de pessoas jovens e adultas,
cujo patrimônio pessoal de saberes constituiu-se fora da
104
escola, em especial no mundo do trabalho. Estas pessoas,
ao ingressarem em cursos de EJA, programas e projetos de
qualificação profissional, deparam-se com um patrimônio
de saberes de outra natureza, com características próprias
da instituição responsável pela sua socialização, isto é, a
Escola. Para analisar esta confrontação entre saberes
escolares e saberes produzidos no trabalho, o projeto teve
como foco os saberes e valores ligados ao trabalho, mobilizados por trabalhadores e trabalhadoras em interação na
sala de aula. Dentre os resultados encontrados, destaca-se
o indício de que as experiências das mulheres frequentadoras dos cursos de EJA analisados são de trabalho precário,
em consonância com dados nacionais sobre a participação
feminina no mercado de trabalho no Brasil. Muitas das
mulheres estudantes de EJA atribuem a si mesmas toda
a responsabilidade pelas condições precárias de trabalho
em que viveram e vivem e culpabilizam-se por não terem
a escolaridade básica completa. Consideram a falta da
certificação escolar a principal ou mesmo a única causa
de suas experiências de trabalho precário. Diante disso,
a sala de aula de EJA é, para muitas, o único espaço de
problematização destas experiências para a compreensão
das relações sociais que constituem o trabalho humano.
Dos projetos realizados, este é o único que não aconteceu
em áreas de reforma agrária, representando um avanço
no escopo de atuação do núcleo em direção à EJA nos
espaços urbanos.
Recentemente, o NEPEJA desenvolve o programa de
extensão e pesquisa intitulado Trabalho, Políticas Públicas,
Juventudes e Aprendizagem em Educação de Jovens e
105
Adultos do campo e da cidade7, que tem como objetivo
promover ações e estudos em torno de experiências de
Educação de Jovens e Adultos presentes no meio urbano
e rural do estado de Minas Gerais, dando ênfase às dimensões das práticas educativas em sua interface com trabalho,
políticas públicas, juventude e aprendizagem. Dentre os
projetos elaborados, destacam-se o projeto de extensão
Olhares juvenis sobre as políticas de elevação de escolaridade e o projeto de pesquisa Alfabetização e Letramento
Popular de Jovens e Adultos: a metodologia “Sim, eu posso”
em áreas de Reforma Agrária em Minas Gerais. Espera-se
que este programa possa fortalecer as ações extensão,
pesquisa e ensino que vêm sendo desenvolvidas pelo
NEPEJA e contribuir para consolidar um conjunto de
produções em torno da EJA.
3 Considerações finais
Olhando para esses quase vinte anos de trajetória, percebe-se o quão rica e profícua foi a produção do NEPEJA.
Para além dos textos, relatórios, artigos, livros, teses e
7 O NEPEJA amplia a discussão sobre a juventude, tanto rural quanto
urbana, a partir da entrada de novos professores efetivos, possibilitada
pelo concurso realizado em decorrência da declaração de inconstitucionalidade da lei 100 pelo Supremo Tribunal Federal. A temática
da juventude em sua interface com a escolarização tornou-se um dos
eixos de trabalho.
106
dissertações8, frutos deste caminhar de professores e
estudantes, percebe-se um conjunto de aprendizados que,
por meio das atividades extensionistas e pesquisas relatadas, possibilitaram a inserção da UEMG no debate sobre a
reforma agrária e defesa da educação de jovens e adultos
do campo, na perspectiva de colocá-la a serviço da busca
de superação das desigualdades sociais e educacionais.
Dessa maneira, a Universidade se coloca num campo de
possibilidades, de transformação social e de construção
coletiva, tendo como referência os desafios e problemas
concretamente vividos pelos homens e mulheres do
campo, mais especificamente aqueles marcados pela luta
pela reforma agrária.
A construção coletiva e em diálogo permanente com movimentos sociais possibilitou a realização de projetos e
programas que partiam da análise coletiva dos problemas
e potencialidades da EJA nos acampamentos e assentamentos para a construção de propostas que pudessem dar
sentido e direção às experiências até então vividas.
Atualmente, o NEPEJA reafirma o compromisso do fortalecimento do ensino, pesquisa e extensão, sem hierarquização
destas dimensões; da busca pela educação dos jovens e
adultos que não tiveram acesso à educação em uma perspectiva freiriana; da educação do campo e dos sujeitos que
8 Além do acervo fotográfico e digital, descrito no item 2.1, vários estudantes, professores que atuaram no NEPEJA produziram artigos,
teses, dissertações a partir das experiências vivenciadas nos projetos
e programas descritos. O levantamento destas produções foi realizado,
em parte, nas atividades desenvolvidas no Observatório da Educação
do Campo. Faz-se necessária a atualização.
107
lutam pelo direito à terra, trabalho e educação; juventude
e escolarização. Espera-se contribuir, assim, para a consolidação da UEMG como uma universidade pública, gratuita,
de qualidade e socialmente referenciada.
108
Referências
ARROYO, Miguel. Prefácio: interrogações que vêm da educação do
campo. In: ÂNGELO, Aline; ANDRADE, Elizete; BRANDÃO, Nágela.
Educação do Campo: diálogos com a extensão universitária. Belo
Horizonte: EdUEMG, 2017.
BRANDÃO, Nágela A; COSTA, Vânia. A., Monteiro, Márcia H.N.,
MUSIAL, Gilvanice B. S., RESENDE, Roberto, M., ROSA, Walquíria M.
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos
– NEPEJA: uma experiência de interface extensão e pesquisa.
Educação em Foco. FaE/UEMG, v.n.18, p.15-38, 2011.
BRANDÃO, Nágela; COSTA, Vânia; MUSIAL, Gilvanice. Gestão
no projeto “Educação, campo e consciência cidadã”: limites e
desafios. Educação em Foco. FaE/UEMG, n. 10, p. 25-32, 2007.
GODINHO, Ana Cláudia Ferreira; NORONHA, Ana Catharina
Mesquita; BRANDÃO, Nágela Aparecida. Contribuições do
pensamento freireano para a escolarização de mulheres
trabalhadoras na educação de jovens e adultos. Inter-ação (UFG.
Online), v. 1, p. 20-36, 2017.
MELO NETO, Jose Francisco. Extensão universitária – uma
avaliação de trabalho social. João Pessoa: Editora Universitária/
UFPB. 1997.
MUSIAL, Gilvanice; BRANDÃO, Nágela; COSTA, Vânia. Educação
de jovens e adultos no contexto da educação do campo: um
diálogo com Paulo Freire. In: ÂNGELO, Aline; ANDRADE, Elizete;
BRANDÃO, Nágela. Educação do Campo: diálogos com a extensão
universitária. Belo Horizonte: EdUEMG, 2017.
MUSIAL, Gilvanice et al. Reconstrução da memória do projeto
educação, campo e consciência cidadã. XVII Congreso Ibero
americano de Extensión Universitaria, Cidade do México, 19 a 22
de novembro de 2013.
109
ROSA, Walquíria Miranda; BRANDÃO, Nágela; MONTEIRO, Márcia
Helena Nunes; GODINHO, Ana Cláudia Ferreira; MUSIAL, Gilvanice;
REZENDE, Roberto Márcio; MICONI, Enelice. Formação de
educadores populares e gestores educacionais em educação de
jovens e adultos nas áreas de reforma agrária em Minas Gerais.
XVII Congreso Iberoamericano de Extensión Universitaria, Cidade
do México, 19 a 22 de novembro de 2013.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI:
para uma reforma democrática e emancipatória da universidade.
In: SANTOS, Boaventura de Sousa; ALMEIDA FILHO, Naomar.
A universidade no século XXI: por uma universidade nova.
Coimbra, 2008. Disponível em: <https://ape.unesp.br/pdi/
execucao/artigos/universidade/AUniversidadenoSeculoXXI.pdf>.
Acesso em: 20 maio 2014.
SILVA, Lourdes H.; COSTA, Vânia A.; ROSA, Walquíria M. A
Educação de Jovens e Adultos em áreas de reforma agrária:
desafios da formação de educadores do campo. Revista
Brasileira de Educação, v.16. p.49-66, 2011.
SILVA, Lourdes H.; COSTA, Vânia A. (orgs.) Educação de Jovens e
Adultos do Campo: O Projeto Educação, Campo e Consciência
Cidadã. Barbacena: EdUEMG, 2014.
SILVA; MUSIAL; MACEDO. Educação do Campo: Práticas em
Educação de Jovens e Adultos, Formação de Professores e
Alternâncias Educativas. Barbacena: EdUEMG, 2016.
Cemitério do Bonfim: Arte,
História e Educação Patrimonial: a
experiência das visitas guiadas
Marcelina das Graças de Almeida
111
Introdução
O Cemitério do Bonfim, situado na capital mineira, vem
desde o ano de 2012 sendo palco de uma atividade voltada
para a educação patrimonial. Esta ação se constitui nas
“Visitas Guiadas ao Bonfim”. Resulta de um termo de
cooperação técnica assinado entre a Universidade do
Estado de Minas Gerais (UEMG); a Fundação de Parques
Municipais e Zoobotânica (FPMZB) e o Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA). A parceria se
consolida através do documento assinado, inicialmente, no
ano de 2013 com validade para 5 (cinco) anos e renovado
no ano de 2018, consubstanciando o esforço em promover
a educação patrimonial na cidade de Belo Horizonte e
considerando a necrópole como objeto principal de estudo.
112
O capítulo a seguir apresenta um balanço das atividades
realizadas desde sua idealização nos idos de 2012, dando
ênfase, contudo, ao ano de 2018 e destacando o planejamento para o ano de 2019, bem como as realizações que
se avolumam, na medida em que há um calendário de
trabalhos em modo ativo e permanente.1
O Cemitério do Bonfim é um espaço singular na cidade
de Belo Horizonte. Abriga um acervo raro, naquilo que
diz respeito a um modo de culto aos mortos, bem como
à produção artística e à história da capital mineira e de
seus habitantes.
Para que possamos compreender a história e a trajetória
do projeto, iremos adotar a seguinte organização do texto:
em um primeiro momento, iremos situar o Cemitério do
Bonfim e sua relação com a história da capital mineira e,
posteriormente, será apresentado o projeto referente às
visitas guiadas e indicar como uma atividade extensionista promovida pela Universidade do Estado de Minas
Gerais tem atuado como ação educativa no âmbito social
e promovido a diferença e ajudado a promover espaços
não-formais em lugares de educação, apreciação plástica
e lazer.
1
As atividades que se realizam como visitas mediadas ao Cemitério do
Bonfim integram o projeto, de caráter extensionista e de pesquisa, intitulado “Cemitério do Bonfim: arte, história e educação patrimonial”,
coordenado pela docente Marcelina das Graças de Almeida.
113
O Cemitério do Bonfim: arte, história
e educação patrimonial
O Cemitério do Bonfim foi inaugurado no dia 08 de
fevereiro de 1897 e é parte do projeto de planejamento
e construção da nova capital mineira. O Bonfim, ou o
Cemitério Municipal, foi o único da cidade até o ano
de 1941, ocasião em que foi construído e inaugurado o
Cemitério da Saudade, uma necrópole, também gerida
pelo poder público municipal. O cemitério está situado
na região noroeste da cidade, no bairro de mesmo nome:
Bonfim (figura 1) (ALMEIDA, 2007; 2004).
O Bonfim registra uma história instigante que pode ser lida
através do acervo arquitetônico e artístico nele abrigado,
bem como pelas histórias dos personagens que ali habitam, não importando que sejam calcadas na realidade ou
perpassem pelo caráter das lendas urbanas e da imaginação popular (ALMEIDA, 2007; 2004; 1998; 1997; 1996).
O cemitério municipal foi inaugurado alguns meses antes
da inauguração oficial da capital mineira que, oficialmente,
nasceu em 12 de dezembro daquele mesmo ano. Antes que
o novo espaço para a morte ficasse pronto, um cemitério
provisório foi construído ao lado da Capela do Rosário2,
no espaço central da nova cidade que se encontrava em
processo de construção. Ele nasceu alguns meses antes
da inauguração da capital mineira e, durante mais de 05
2 A Capela do Rosário existe até os dias de hoje e se localiza no cruzamento das Avenidas do Amazonas, Rua dos Tamoios e Rua São Paulo.
114
(cinco) décadas foi o único espaço para sepultamento na
cidade (BARRETO, 1995; 1950; 1936; 1928).
Na ocasião de seu nascimento, constituiu-se como um
espaço laico, ou seja, nascido na confluência das mudanças
políticas e sociais que se instauraram no Brasil no contexto
do fim do século XIX, incorporando em sua organização e
estruturação os elementos discursivos da modernidade,
da secularização e laicização da morte. Diante dessas
circunstâncias, o Cemitério do Bonfim guarda uma história que perpassa a arte, a religião, a arquitetura, as lendas
urbanas, as histórias de fantasmas dentre outros aspectos
que são explorados durante o percurso das visitas guiadas
(ALMEIDA, 2016; 2018).
Figura 1: Mapa da cidade de Belo Horizonte
A área em destaque aponta para a localização do Cemitério do Bonfim na
área suburbana da capital mineira.
Fonte: Belotur, 2019.
115
Incursões e visitas ao espaço cemiterial se realizam há
anos, contudo, formalmente se constituíram a partir do
ano de 2012. As atividades acontecem no último domingo
de cada mês, entre fevereiro e novembro. São gratuitas e
abertas ao público em geral, que pode se inscrever através
de telefone ou e-mail. As ações que viabilizam o projeto são
compartilhadas entre as instituições envolvidas, ou seja,
cabe a cada parceria uma parcela de contribuição para que
o processo se realize. A Fundação de Parques é responsável
por franquear a entrada da equipe e dos visitantes, realizar
a inscrição dos interessados, enviar certificado digital de
participação àquele que, efetivamente, comparecer, assinar a lista de presença e tomar parte das ações propostas.
É responsável, também, por auxiliar na construção do
material de divulgação e distribuição dos calendários que
são, sempre, decididos em comum acordo com a equipe
da UEMG (ALMEIDA, 2016; 2018; MAGALHÃES et al., 2016).
Cabe à UEMG, por meio da coordenação da pesquisadora
e docente da Escola de Design, Marcelina das Graças de
Almeida, atender aos visitantes, propor os roteiros a serem
construídos e explorados durante as visitas, além de buscar
meios e formas de divulgar, cientificamente, os resultados
da ação educativa, participando de congressos, encontros,
seminários e outros eventos, nos quais possam ser articuladas discussões que ampliem as noções conceituais de
termos como: patrimônio, patrimônio cultural e educação
patrimonial (ALMEIDA, 2018).
Outro aspecto importante é a busca contínua pela formação de outros pesquisadores e, junto com a atividade
116
extensionista, o incentivo à formação de jovens pesquisadores através da inscrição nos editais em busca de
bolsas de iniciação científica. Assim, a compreensão e o
mapeamento do espaço cemiterial são apresentadas junto
aos editais de fomento e, desde então, uma variedade de
propostas investigativas transpassam as ações extensionistas, servindo como suporte, para que esta última possa
acontecer de forma eficiente e eficaz (ALMEIDA, 2018).
Para auxiliar a eficácia da proposta que engloba as visitas,
o IEPHA, além de buscar meios e recursos que possibilitem
o cuidado, a preservação e o restauro do bem tombado que
compõe o cenário do Cemitério do Bonfim, que é o edifício do antigo Necrotério, auxiliar na criação de cartilhas
e orientações que permitam à equipe da UEMG orientar
de forma apropriada os visitantes sobre os procedimentos mais adequados para conservação dos jazigos, bem
como o uso dos produtos químicos específicos e as ações
que podem e devem ser tomadas para que o bem material
tenha uma boa durabilidade (ALMEIDA, 2018).3
3 Vale acrescentar que, nesse rol de parcerias, durante o ano de 2018
e segundo semestre de 2019, o Centro Universitário Estácio de Belo
Horizonte, instituição de ensino superior de caráter privado, através da
concessão de uma bolsa de produtividade à coordenadora do projeto,
possibilitou a construção de um guia turístico a ser disponibilizado
para a população em geral, bem como a produção de material didático a ser ofertado para as instituições de ensino público e privado da
sociedade belorizontina.
117
Figura 2: Antigo Prédio do Necrotério
Fonte: Projeto Cemitério do Bonfim: arte, história e educação patrimonial,
Zé Rocha.
Todas as ações que se realizam no espaço cemiterial,vinculadas ao projeto das visitas guiadas, são devidamente
documentadas através da captura de imagens, bem como
das listas de presença para que seja registrada a memória
das atividades realizadas através do projeto, visando a
constituição de fontes para estudos futuros. O quadro 1
ilustra o fluxo de visitantes durante o ano de 2018:
Quadro 1: Fluxo de visitas guiadas ano 2018
ano
fev mar abr mai jun jul ago set out nov total
2018 16
70
24
18
06
37
20
24
*
11
226
*No mês de outubro não se realizaram as visitas guiadas em razão do
pleito eleitoral.
Fonte: autoria própria.
118
Para divulgação e organização das visitas, foi preparado
o calendário anual, referente ao ano de 2018, em parceria com a Fundação Municipal de Parques e Zoobotânica
(figura 3).
Figura 3: Folder para divulgação do calendário de visitas guiadas
ao Cemitério do Bonfim, 2018
Fonte: Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, 2018.
Além das visitas habituais, que acontecem aos fins de
semana, sempre que possível, é realizado o atendimento das instituições de ensino, sejam públicas ou
privadas, tais como: Centro Universitário Estácio de Belo
Horizonte, curso de História; Colégio São Paulo da Cruz,
119
Curso de Conservação e Restauro da Escola de Belas
Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Colégio
Pitágoras, Colégio Santa Marcelina, Escola Estadual Jovem
Protagonista, dentre outras. O processo de atendimento
é sempre o mesmo: a equipe da UEMG, coordenada pela
pesquisadora-docente, abre um espaço na agenda e,
gratuitamente, atende ao público interessado sempre com
a proposição de disseminar conhecimento e propor a apreciação e entendimento de que lugares como os cemitérios
são plenos de possibilidades, basta que estejamos atentos
para os sinais (ALMEIDA, 2018; 2016).
Durante o ano de 2018, algumas ações foram cruciais para
a promoção desta ação extensionista. Destacamos a participação na Semana do Conhecimento, organizada pela
Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de Belo
Horizonte, com a apresentação de comunicação intitulada:
“O lugar dos mortos na capital mineira: o Bonfim e a cidade,
histórias cruzadas – a experiência das visitas guiadas”. Na
oportunidade, foi possível apresentar o andamento das
ações e debater sobre os resultados e possibilidades para
ampliação das atividades (ALMEIDA, 2018).
Importante, também, foi o convite da equipe do Serviço
Social do Comércio de Minas Gerais (SESC/MG), para
participação no projeto “Roteiros Inovadores”, realizando
uma visita com o tema: “A presença feminina no espaço
cemiterial – destaque para a Loira do Bonfim’”. O evento
teve uma boa repercussão e a atividade se realizou,
também, no segundo semestre do ano de 2018, tendo como
120
pressuposto básico, sensibilizar os profissionais do Turismo
para a inclusão do espaço cemiterial nas rotas culturais da
cidade (ALMEIDA, 2018).
Esse tema foi, igualmente, debatido durante a palestra
realizada para discentes durante a V Jornada Acadêmica
Intercursos e XIII Semana de Letras promovida pela
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA BH).
Dentro desta perspectiva de divulgação do projeto e da
ampliação das discussões acerca do potencial turístico do
Cemitério do Bonfim, à convite da Empresa Municipal de
Turismo de Belo Horizonte S/A (BELOTUR), foi ministrado
um minicurso com duração de 16 horas/aula para guias
de turismo interessados na temática. A ementa do curso
pode ser traduzida da seguinte forma: “A proposta visa,
através da compreensão da história da cidade de Belo
Horizonte, estabelecer as conexões com a trajetória histórica do Cemitério do Bonfim, primeira necrópole da capital
mineira, e, assim construir roteiros turísticos que permitam
explorar o potencial cultural e turístico do espaço cemiterial”. A adesão foi significativa e, para além das aulas
teóricas, foram realizadas aulas práticas no espaço do
Cemitério do Bonfim, permitindo que cada participante
pudesse repensar as possibilidades de construção dos
roteiros de maior interesse em sua prática profissional
(ALMEIDA, 2018).
Destaca-se, também, o convite para participar do evento
Modernos e Eternos que nas edições dos anos de 2018 e
2019, ao dar destaque às discussões sobre design, moda
e arquitetura na capital mineira possibilitou a ênfase ao
121
acervo artístico que se abriga no Cemitério do Bonfim. e
nesse sentido foi possível dar ênfase ao acervo artístico
que se abriga no Cemitério do Bonfim.
Ao debater sobre o caráter educativo que caracteriza o
projeto, no 10º Seminário Mestres e Conselheiros: agente
multiplicador do patrimônio, realizado entre os dias 29 a
31 de agosto do ano de 2018, e, na ocasião apresentamos a
comunicação: “Itinerários da memória: o cemitério como
espaço de educação patrimonial”, inscrito no edital da 4ª
Edição do Prêmio Mestres e Conselheiros/2018, ficamos em
segundo lugar da edição (ALMEIDA, 2018).
Nesse mesmo ano, consolidando-se como um empreendimento de sucesso, uma ação educativa que repercute
de maneira positiva e relevante para a cidade e seus
habitantes, um novo convite foi feito, pela Coordenação
Geral da Política de Educação Básica Integral e Integrada,
Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica da
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, para
que pudéssemos participar da atividade educativa intitulada “Diálogos Abertos com a Capital”, realizado entre
os dias 04 a 06 de setembro. Várias escolas do interior de
Minas Gerais, de cidades diferentes, foram atendidas pelo
projeto (figura 4).
122
Figura 4: Visita de uma escola do interior de Minas Gerais,
Diálogos Abertos com a capital, 2018
Fonte: Projeto Cemitério do Bonfim: arte, história e educação patrimonial,
autoria própria.
Todos os eventos anteriormente arrolados permitem
compreender a relevância e a necessidade da proposição
de ações educativas com vistas à educação patrimonial,
compreendendo que o ato educativo se realiza tanto nos
espaços formais escolares quanto nos espaços não-formais
e, nesse sentido, o cemitério, para além de inusitado, revela-se como um lugar privilegiado para se pensar questões
relacionadas à dimensão da morte, em toda sua complexidade, bem como outros temas e interesses4.
4 Conceitos Gerais de Educação Patrimonial. Disponível em: <http://
www.ipac.ba.gov.br/preservacao/conceitos-gerais>. Acesso em: 18
out. 2019.
123
As ações educativas que estão
em perpetuum mobile: educação
como transformação
Para o ano de 2019, as ações relativas às visitas guiadas
foram planejadas e estão sendo conduzidas dentro da
mesma perspectiva sob a qual se constituiu sua gênese,
ou seja, constitui-se como um projeto extensionista voltado
para o atendimento ao público, em sua generalidade, e,
ao mesmo tempo, traduz-se como uma atividade que
preza pela formação do pensamento conectado para as
discussões relativas ao sentido do patrimônio e da educação patrimonial.
A ideia é dar continuidade ao atendimento ao público interessado, seguindo a mesma metodologia que foi proposta
desde o início do projeto, há quase 08 (oito) anos, contudo
estamos acrescentando a proposição dos roteiros específicos, que exploraram temas ligados à arte, religião, esporte,
gênero, ruas e celebridades, para cada dia de visita e que
foram colocados em prática durante o ano de 2018. A recepção foi positiva e, de algum modo, tem contribuído para
estimular a longevidade do projeto (MEYER, 2019).
124
Figura 5: Cartaz de divulgação do calendário do projeto das
visitas guiadas, ano 2019
Fonte: Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, 2019.
O calendário das visitas deste ano (figura 5) se realiza a
partir da aplicação dos roteiros e rotas que foram preparados tomando como base as investigações realizadas e
as demandas formuladas pelos visitantes que, a partir
da própria experiência vivida, efetivamente, se sente à
vontade para sugerir e propor novas rotas. De fevereiro a
outubro, foram propostos e realizados os seguintes itinerários: artes e artistas; a presença feminina; visitando os
heróis no Bonfim; signos-a linguagem simbólica; personagens e personalidades; religião e religiosidade e imigração
e imigrantes no espaço cemiterial.
125
Além da condução das visitas, a participações em eventos
para divulgação e multiplicação dos objetivos do projeto
se realizaram, devendo ser destaque a apresentação da
comunicação intitulada Cemitério do Bonfim: arte, história e educação patrimonial – uma experiência em curso
durante o IV Congresso Interdisciplinar de Pesquisa,
Iniciação Científica e Extensão Izabela Hendrix, ocorrido
entre os dias 22 e 25 de abril do corrente ano. Nessa mesma
ocasião atendendo o convite da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Minas Gerais, através da
Pró-reitoria de Extensão, foi ministrada uma palestra
para os discentes envolvidos no evento Aspectos Éticos e
Legais na Assistência à Pessoa em Processo de Morte e seus
Familiares. Devemos registrar, também, a apresentação
dos resultados das atividades referentes ao projeto durante
o IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos
Cemiteriais (ABEC), sediado no Centro Histórico Cultural da
Santa Casa, em Porto Alegre, entre os dias 24 e 27 de julho5.
O mesmo deve ser destacado através da participação no
30° Simpósio Nacional de História da Associação Nacional
de História (ANPUH), realizado entre os dias 15 a 19 de julho
de 2019 na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
em Recife/PE, ocasião em que foi apresentado o artigo
intitulado Itinerários da Memória: o cemitério como espaço
simbólico da paisagem da cidade – o Cemitério do Bonfim
e a capital mineira. Em todas as apresentações, o objetivo
foi divulgar o projeto, apresentar resultados e estabelecer
trocas e parcerias com outros pesquisadores e instituições.
5 A participação no evento foi subsidiada, parcialmente, com recursos do
PAPEV, Programa de Apoio à Participação de Professores em Eventos
no País e no Exterior, através do Edital nº. 03/2019, PROPPG.
126
Paralelamente, as escolas e outras instituições de ensino
permanecem sendo atendidas, para além do calendário
oficial, demonstrando sua atualidade, pertinência e eficácia junto ao público interessado.
Considerações finais
Desde o início do projeto até a atualidade é possível afirmar
que muitas coisas mudaram, em relação ao Cemitério do
Bonfim. Dentre elas, destacamos:
1. O crescente interesse da população no tocante à
participação nas visitas;
2. O recorrente interesse dos meios de comunicação
pelas atividades e, portanto, a divulgação em jornais
e revistas impressos e eletrônicos, bem como na
mídia televisiva;
3. O interesse dos proprietários de túmulos para o
cuidado e zelo em relação às suas sepulturas;
4. O aumento crescente de pesquisas que envolvem os
cemitérios municipais;
5. A integração do cemitério como equipamento urbano
importante para se pensar a história da cidade e seu
lugar como espaço de memória, história e turismo.
127
As atividades realizadas no Cemitério do Bonfim proporcionam a construção de identidades, auxiliam a construção
do pensamento e ação no tocante à preservação e políticas
de tombamento e a necessidade de se refletir, de maneira
concreta, acerca do cuidado com a memória coletiva, bem
como da memória individual.
Através do projeto de extensão e pesquisa, tem sido permitida a inserção do Cemitério do Bonfim no espaço cultural,
artístico e turístico da cidade destacando o relevo dessa
iniciativa que, concomitantemente, destaca-se como atividade pedagógica, educando para o futuro, pensando sobre
o passado e estimulando, no presente, as iniciativas para
a preservação.
128
Referências
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. PROJETO DE PESQUISA
E EXTENSÃO Cemitério do Bonfim: Arte, História e Educação
Patrimonial Visitas Guiadas RELATÓRIO ATIVIDADES Biênio
2016/2017. Belo Horizonte: Escola de Design/UEMG, 2018.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. A cidade e o cemitério: uma
experiência em educação patrimonial. Revista M. Rio de Janeiro,
v.1, n.1, p.213-230, jan/jun. 2016.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. PROJETO DE EXTENSÃO
Passeio pelo Bonfim - visitas guiadas RELATÓRIO 2012/2013. Belo
Horizonte: Escola de Design/UEMG, 2013.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. Morte, Cultura, Memória:
Múltiplas Interseções – Uma interpretação acerca dos cemitérios
oitocentistas situados nas cidades do Porto e Belo Horizonte.
2007. 404 f. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia
e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de . Memórias, lembranças,
imagens: o cemitério. Estudos Ibero-Americanos. PUCRS, v. XXX,
n. 1, p. 105-122, junho 2004.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. O Cemitério do Bonfim: a
morte na capital mineira. LOCUS Revista de História. Juiz de
Fora, nº. 2, v. 4 , 1998, p. 131-142.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de Almeida. Belo Horizonte,
Arraial e Metrópole: memória das artes plásticas na capital
mineira. In. RIBEIRO, Marília Andrés; SILVA, Fernando Pedro
da. (org.) Um Século de História das Artes Plásticas em Belo
Horizonte. Belo Horizonte: Editora C/ARTE / Fundação João
Pinheiro / Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997.
Coleção Centenário.
ALMEIDA, Marcelina das Graças de. A Catedral da Boa Viagem: Fé,
Modernidade e Tradição. In: DUTRA, Eliana de Freitas (org.) BH
Horizontes Históricos. Belo Horizonte: C/ARTE Editora, 1996.
129
BARRETO, Abílio. Belo Horizonte Memória Histórica e Descritiva
História Média. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro
de Estudos Históricos e Culturais, 1995.
BARRETO, Abílio. Resumo Histórico de Belo Horizonte (17011947). Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1950.
BARRETO, Abílio. Bello Horizonte Memória Histórica e
Descriptiva História Antiga e Média. Bello Horizonte: Edições da
Livraria Rex, 1936.
BARRETO, Abílio. Bello Horizonte Memória Histórica e
Descriptiva. Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas
Geraes, 1928.
Conceitos Gerais de Educação Patrimonial. Disponível em:
<http://www.ipac.ba.gov.br/preservacao/conceitos-gerais>.
Acesso em: 18 out. 2019.
MEYER, Mônica. Passeio pelos cemitérios. Estado de Minas
Caderno Turismo. Disponível em: <https://www.em.com.br/
app/noticia/turismo/2019/10/15/interna_turismo,1092138/
passeio-pelos-cemiterios.shtml?utm_source=whatsapp&utm_
medium=social>. Acesso em: 18 out. 2019.
MAGALHÃES, Júlia Mafra et al. Relatório de Pesquisa PAPq/UEMG
Edital 02/2016. Belo Horizonte, ED/UEMG, 2016.
Interação de saberes na Semana UEMG
Márcia Helena Batista Corrêa da Costa
Viviane Gontijo Augusto
Elvis Aparecido Gomes Ferreira
131
Introdução
A Semana UEMG, criada em 2011, é um evento de natureza
extensionista e de divulgação das ações da Universidade do
Estado de Minas Gerais, o que possibilita e provoca diálogos no interior das Unidades Acadêmicas e da instituição
de modo geral, também com as comunidades externas,
movimentos sociais, associações, grupos e instituições
públicas. As atividades desenvolvidas nesse evento viabilizam a escuta de impressões, concepções e vivências,
gerando troca de conhecimentos, linguagens e narrativas.
Boaventura de Souza Santos (1989) refere-se à necessidade
de um reposicionamento da ciência, posicionando-se
aberta ao diálogo de saberes. O autor se refere a uma ciência prudente e a um senso comum esclarecido. As ações
desenvolvidas favorecem o mais importante diferencial da
132
UEMG em relação a outras universidades, uma interlocução
mais próxima da academia com a sociedade.
O evento é aberto à participação de estudantes e professores de outras instituições, inclusive secundaristas, de
organizações civis diversas e da sociedade em geral. No
âmbito da comunidade acadêmica, o intercâmbio de
experiências entre docentes, discentes e funcionários
técnico-administrativos é bastante intensa. Verifica-se,
portanto, que o evento gera uma movimentação interessante nas cidades onde se situam as Unidades da UEMG
no estado de Minas Gerais.
Na Unidade Divinópolis, a equipe sob a coordenação
dos responsáveis pelas ações de extensão e pesquisa
– Coordenações Integradas de Extensão, Pesquisa e
Pós-Graduação (CIEPP) – desenvolveu experiência interessante e inovadora em perspectiva interdisciplinar nos
anos de 2015 e 2017. Integrando as atividades realizadas na
Semana UEMG, nos anos de 2015 e 2017, a equipe realizou o
11º e 12º Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão, sendo
esse último com publicação de livro do evento1. O tema do
11º Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão foi o mesmo
da 4ª Semana UEMG, “Diversidade e afrodescendência:
interações, mediações e (re)conhecimento”. A discussão do tema foi relevante, pois posiciona a comunidade
acadêmica no centro do debate. O esforço foi de buscar
compreender as interações que a questão estabelece nas
1
UEMG UNIDADE DIVINÓPOLIS. 12º Seminário de Ensino, Pesquisa e
Extensão. 1. ed. Anais... Divinópolis, 2017.
133
áreas da saúde, da educação, da comunicação, das ciências
exatas e suas aplicações. O propósito foi criar ambiente de
reflexão sobre o tema e mediar pontos de vista em torno
de questões como tolerância, reconhecimento, acesso a
políticas públicas e educação para a diversidade. Houve um
esforço de valorizar as manifestações culturais afrodescendentes, tanto nas abordagens feitas nas atividades como
nos convites aos atores externos que atuaram durante
a semana.
A experiência da 4ª Semana UEMG realizada em 2015 foi
bastante instigante. O evento gerou significativa movimentação de propostas e de atividades nas Unidades
que compõem a Universidade. Na Unidade Divinópolis, a
organização das atividades resultou da integração entre
áreas do conhecimento, em uma tentativa de se atuar
interdisciplinarmente por meio de reuniões, diálogos e de
rica avaliação do processo ao final, exposta em relatório.
A 5ª Semana UEMG realizada em 2017, em formato
simplificado, definido pelo Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão (COEPE), manteve o propósito de
interação da Universidade com a sociedade. Devido à
autonomia dada às Unidades Acadêmicas, foi definido o
tema “Envelhecimento e sociedade: dimensões socioculturais, políticas e subjetivas”, abordado na programação
das ações e como conteúdo de abertura do 12º Seminário
de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Neste artigo pretende-se apresentar aspectos relevantes
da experiência interdisciplinar desenvolvida na Unidade
134
Divinópolis. A experiência demonstra a relação existente
entre o ensino e a pesquisa com os projetos e práticas de
extensão, bem como a possibilidade de haver interseção
entre as áreas do conhecimento.
Trabalho com frentes temáticas
O processo de organização da 4ª Semana UEMG começou
em reunião das coordenações de extensão das Unidades
Acadêmicas com a equipe da Pró-Reitoria de Extensão da
UEMG. Neste momento, houve interação entre os coordenadores e discussões sobre a realidade multicampi da
Universidade e sobre a relevância do tema “Diversidade
e afrodescendência: mediações, interações e (re)conhecimento”, principalmente considerando-se essa capilaridade
da Universidade, por alcançar várias regiões do estado.
A proposta concebida pela Pró-reitoria, e debatida entre
os coordenadores de extensão, foi compartilhada com a
Diretoria Acadêmica e com os coordenadores dos 17 cursos
da Unidade. Embora a organização tenha mobilizado
diretamente representações de professores e alunos, a
ressonância do evento alcançou cerca de 200 professores
e mais de 3 mil alunos. A ideia colocada em prática foi a de
criar uma base de diálogo entre as áreas de conhecimento
para que as atividades fossem concebidas e realizadas por
meio de parcerias intercursos, estimulando os alunos a
transitarem entre as áreas do conhecimento.
135
Os encontros da equipe do CIEPP com as representações
dos cursos tiveram como resultado a construção de uma
metodologia de trabalho sustentada em três frentes de
integração dos cursos: Práticas Socioculturais, Práticas
Ambientais e Práticas em Saúde. A utilização das frentes
temáticas como recurso de integração entre as áreas de
conhecimento aguçou o interesse dos professores em
apresentar propostas, traduzidas na programação de 136
atividades, além da incorporação das mesas temáticas
e apresentação de pôsteres do 11º Seminário de Ensino,
Pesquisa e Extensão2 e 5º Seminário Bolsistas Juniores,
evento acadêmico já consolidado na Unidade, desde 2005.
Na abertura da 4ª Semana UEMG, aconteceu a mesa-redonda “Afrodescendência: memória cultural, social e
política em Minas Gerais e uma apresentação artística”,
resultante da integração entre os cursos de Educação
Física (de bacharelado e de licenciatura) e a Agência 3
Mil e Um3, do curso de Comunicação Social (Publicidade
e Propaganda). A realização dessa mesa-redonda aconteceu em parceria com o Centro de Memória Professora
2 O Seminário é organizado por um Comitê Científico composto por
representantes dos órgãos de ensino, pesquisa e extensão da Universidade e por representantes do corpo docente e discente. Em seu
planejamento, tem-se buscado um formato interdisciplinar, de forma
a favorecer o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento, por
meio de mesas temáticas, possibilitando, além da participação do
público docente e discente da UEMG Unidade Divinópolis e outras
instituições de ensino, o acesso e a participação da sociedade. 11º
Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão – total: 200 trabalhos apresentados em mesas temáticas (comunicações) e pôsteres.
3 Os alunos da Agência 3 Mil e Um produziram o vídeo em parceria com
os alunos do curso de Educação Física (de bacharelado e de licenciatura) sobre o tema da 4ª Semana UEMG.
136
Batistina Corgozinho (Cemud), da UEMG Divinópolis, e a
Secretaria Municipal de Cultura. Os convidados focaram o
tema do evento na perspectiva da cultura e do patrimônio
imaterial, com destaque para a memória, a preservação
e o registro das tradições. O propósito de realização da
mesa foi promover a apresentação de pesquisas relativas
ao patrimônio imaterial, às tradições e aos saberes.
A dimensão do evento exigiu a gestão de recursos, também
conduzida de forma dialogada por meio de reuniões
periódicas entre a equipe de concepção e execução com
os profissionais técnicos responsáveis pela execução
financeira do recurso. A seleção de alunos bolsistas para
atuarem no evento gerou edital e a aplicação de instrumento avaliativo peculiar. Os alunos inscritos elaboraram
texto sobre a extensão universitária e o tema da 4ª Semana
UEMG. Essa forma de condução favoreceu a escolha de
alunos engajados ao tema e ao espírito do evento, desde o
início do processo. Construiu-se, por meio dos encontros e
reuniões, uma organicidade entre a equipe de profissionais
do CIEPP, os técnicos, os alunos estagiários selecionados,
os professores proponentes e os alunos apoiadores,
comprometidos com a execução das ações programadas.
Houve a preocupação em homogeneizar a compreensão
de todos os envolvidos em relação ao tema “Diversidade
e afrodescendência: interações, mediações e (re)conhecimento”. A opção foi criar condições de fundamentação
desse tema por meio de leitura especializada. O material
compartilhado foi uma entrevista de Munanga (2013, n.p.),
em que ele mostra como o conceito de raça foi construído
137
e mostra a persistência da prática racista na transformação
dos conceitos.
Ou seja, o racismo hoje praticado nas sociedades contemporâneas não precisa mais do
conceito de raça ou da variante biológica,
ele se reformula com base nos conceitos
de etnia, diferença cultural ou identidade
cultural, mas as vítimas de hoje são as
mesmas de ontem e as raças de ontem são
as etnias de hoje. O que mudou na realidade
são os termos ou conceitos, mas o esquema
ideológico que subentende a dominação e
a exclusão ficou intato. É por isso que os
conceitos de etnia, de identidade étnica ou
cultural são de uso agradável para todos:
racistas e anti-racistas. Constituem uma
bandeira carregada para todos, embora cada
um a manipule e a direcione de acordo com
seus interesses.
O compartilhamento desse material representou um
esforço de provocar uma compreensão mais aprofundada sobre a questão, e a entrevista mostra a construção
e o uso dos conceitos relacionados à afrodescendência,
situando o papel da academia no debate e na produção
de conhecimento.
A decisão de acatar as proposições dos professores, a partir
das frentes temáticas, resultou em atividades integral e
parcialmente relacionadas ao tema e outras não diretamente relacionadas, mas que expressavam experiências
de ensino e extensão coordenadas por professores. Estas
138
atividades se transformaram em vetores de interlocução
da Universidade com a comunidade.
Cabe aqui a identificação de algumas destas atividades,
acompanhadas de fotografias, de forma a propiciar uma
melhor compreensão do leitor sobre os conteúdos tratados e os formatos de diálogo criados. Dentre as atividades
desenvolvidas, cabe salientar a exposição dos trabalhos
realizados pelos bolsistas do Pibid (Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência) – Subprojeto
Interdisciplinar e alunos da Escola Estadual Victor
Gonçalves de Souza, de Itaúna/MG. A partir da análise dos
cartuns de Carlos Latuff e da leitura de notícias publicadas
nos jornais do Centro-Oeste de Minas Gerais, estudantes
do ensino fundamental e do ensino médio produziram
charges satirizando a realidade socioeconômica e cultural
da região.
No evento, ocorreu também uma roda de conversa com
o próprio Carlos Latuff sobre os conflitos relacionados à
defesa dos direitos humanos e ao respeito à diversidade no
mundo globalizado. Carlos Latuff é um cartunista reconhecido mundialmente por sua posição em defesa dos direitos
humanos e, mais especificamente, por seu engajamento
na luta pela liberdade e autonomia do povo palestino.
O convidado também coordenou oficina de iniciação à
produção de charges e cartuns.
Ilustra bem o evento e seu tema de sustentação a realização
da oficina “Políticas afirmativas e relações étnico-raciais:
gestão de práticas pedagógicas no contexto educacional”.
139
Por meio desta oficina, buscou-se propiciar ao aluno
educador a aquisição de conhecimentos acerca da inclusão
no currículo oficial da rede de ensino e da obrigatoriedade
da temática “História e cultura afro-brasileira”. Nesta
atividade, fomentaram-se reflexões a partir de políticas
públicas, com foco na temática das relações étnico-raciais e
com fundamentação teórica na Lei nº. 10.639/2003, a partir
da análise de livros de histórias infantis.
Um conjunto de outras atividades foi desenvolvida,
sustentando o tema da 4ª Semana UEMG. Aconteceu uma
exposição, no Centro de Artes da cidade, cujo tema foi
“Africanidade”. Interessante também foi a oficina “Cultura
africana e afro-brasileira: entre máscaras e mandalas, a
magia e a beleza”; a roda de conversa sobre brinquedos
e brincadeiras africanas; a apresentação do Sarau das
Letras, que valorizou a cultura afro-brasileira, e a oficina
que tratou da “Diversidade: uma questão de etnia”.
Os resultados foram surpreendentes. A atuação, por
meio das três frentes, favoreceu diálogos interdisciplinares interessantes em 136 atividades nas modalidades
oficinas, mesas-redondas, palestras, exibição de material
audiovisual e exposições. O evento contou com a atuação
de alunos de apoio comprometidos com cada uma das
atividades. Houve trânsito dos alunos da Unidade nas
atividades por meio de inscrições. Desta forma, fronteiras
foram quebradas, e houve o estímulo e a demonstração de
interesse por abordagens diversas, além do intercâmbio
de experiências de extensão, algumas delas resultantes de
projetos de pesquisa executados pelos professores.
140
Ao final, realizou-se a avaliação do evento com os participantes, além da coleta por e-mail dos problemas e
sugestões dos professores proponentes de atividades. No
geral, avaliou-se que os dois eventos (4ª Semana UEMG
e 11º Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão) tiveram
ressonância significativa no âmbito da Unidade e da sociedade. De acordo com os envolvidos, os eventos criaram
uma nova dinâmica de participação entre alunos, professores e técnicos por ter havido, de fato, uma participação
horizontalizada e democrática, tanto na concepção como
na execução e avaliação das atividades.
Construção de diálogos
A experiência de organização da 5ª Semana UEMG foi diferente da anterior, mas o eixo em torno do diálogo entre o
saber científico e os outros saberes, tais como das artes e
do senso comum, foi mantido. A interseção entre os cursos
ocorreu por meio da elaboração de um plano de trabalho
e de uma agenda de reuniões com professores coordenadores de curso, professores representantes dos Núcleos
existentes na Unidade (Saúde Coletiva; Meio Ambiente
e Sustentabilidade; Estudos para a Diversidade; Cultura,
Criatividade e Comunidade), professores coordenadores/bolsistas dos projetos Programa de Apoio à Extensão
(PAEx/2016), as agências do curso de Comunicação Social
(Jornalismo e Publicidade e Propaganda) – Multimídia
Agência Laboratório e 3 Mil e Um, respectivamente –, a
Assessoria de Comunicação e o Diretório Acadêmico.
141
A proposta definida em perspectiva dialogada foi a de
transformar o evento em um espaço de apresentação e
de visibilidade dos resultados dos projetos de extensão,
de tal forma que pudesse haver um compartilhamento
de experiências entre os professores coordenadores, os
alunos bolsistas e voluntários com o público destinatário
dos projetos.
Figura 1: Show de abertura da 5ª Semana UEMG
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
Definiu-se, a partir das reuniões, que os professores coordenadores de projetos, tanto do PAEx como do Programa
Interno de Incentivo à Pesquisa e Extensão (PROINPE),
seriam acionados para participar da 5ª Semana UEMG. A
ideia foi promover a aproximação entre projetos afins e,
por meio dessa aproximação, foram pensadas as formas
142
de interlocução da Universidade com a comunidade, destacando-se o público atendido pelos projetos. Os professores
coordenadores poderiam optar por trazer representações
de seus públicos para participarem das atividades e
discussões na Universidade ou criar situações de levar a
discussão até as comunidades.4
A abordagem do tema “Envelhecimento saudável: dimensões social e política na contemporaneidade” foi definida
após discussão com as coordenações dos cursos. O tema
foi tratado em mesa de abertura e teve ressonância pela
necessidade de se somar esforços de instâncias governamentais e acadêmicas em prol da velhice digna. Estudos
e dados estatísticos mostram a importância de se tratar
a questão, que deve se fazer prioritária entre os imensos
desafios relacionados à realidade social, política e econômica do país. A realidade atual é de aumento progressivo e
acentuado da população adulta e idosa. Esta mudança tem
fortes implicações estruturantes e impõe medidas preventivas em saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
4 A cobertura do evento ficou sob responsabilidade da Assessoria de
Comunicação, com a participação da Multimídia Agência Laboratório e
do Grupo Gabiroba, composto por alunos do 5º período de Jornalismo.
143
Figura 2: Cartaz do 1º Colóquio Adolescência e Políticas Públicas
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
Figura 3: Atividade desenvolvida durante o 1º Colóquio
Adolescência e Políticas Públicas
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
144
Dentre as atividades desenvolvidas, destacou-se a realização do 1º Colóquio Adolescência e Políticas Públicas.
O evento foi organizado pela coordenação do Programa
Institucional de Extensão – Direitos das Crianças e
Adolescentes5. A proposta do colóquio foi criar um
ambiente de discussão entre professores da UEMG e de
outras Universidades – Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC Minas) e Universidade Federal de São
João del-Rei (UFSJ) – em torno da atuação dos conselhos
de políticas públicas, responsáveis pela questão da adolescência, tendo sido pautados os processos de escolarização,
além de aspectos que envolvem Adolescência, Saúde e
Direito à Escola. O colóquio transformou-se em espaço
democrático de discussão do tema, pois contou com a
presença de estudantes da educação básica e de jovens
atendidos pelo Centro Socioeducativo de Divinópolis.
5 A Pró-Reitoria de Extensão criou seis programas de extensão, que foram
definidos a partir da articulação de três aspectos: (I) enfretamento de
questões sociais da vida contemporânea, (II) exploração da natureza
multicampi e multidisciplinar da UEMG; (III) potencialização de atividades de extensão já em curso nas Unidades Acadêmicas. O Programa
Direitos das Crianças e Adolescentes propõe o diálogo com políticas
públicas para crianças e adolescentes, seus desafios atuais e impactos
nas práticas sociais e nas atividades acadêmicas de ensino, pesquisa
e extensão da UEMG, a partir de diferentes perspectivas. Formação
de gestores que atuam com este público e promoção de estratégias
que favoreçam o envolvimento e o protagonismo de adolescentes e
jovens no debate de questões relativas ao seu tempo de vivências.
Identificação, sistematização e publicização de informações sobre
os projetos desenvolvidos na UEMG sobre a temática. O colóquio foi
organizado pelo professor José Heleno Ferreira, um dos coordenadores
desse programa.
145
Figura 4: Atividade realizada na praça do Santuário,
em Divinópolis
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
A projeção de filmes, seguida de debate, marcou a
programação da 5ª Semana UEMG, cujo conteúdo foi
“Envelhecimento e sociedade”. Os filmes tematizados
foram Amor, Nebraska e O outro lado da rua, dentre
outros. Aconteceu, também, uma roda de conversa sobre
o envelhecimento em Portugal: ações criativas, positivas
e comunitárias A abordagem deste assunto aconteceu
em consonância com o tema do 12º Seminário de Ensino,
Pesquisa e Extensão da Unidade Divinópolis – VI Seminário
de Bolsistas Juniores, cujo tema foi “Envelhecimento
e sociedade: dimensões socioculturais, políticas
e subjetivas”.
146
Figura 5: Feira de Trocas
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
Interessante como atividade de integração, que mobilizou
alunos e professores, foi a Feira de Trocas, momento de
exposição de diversos produtos intercambiados entre
os participantes. A feira proporcionou um rico momento
interativo, além do acesso a produtos de utilidade para os
alunos a custo baixo.
Figura 6: Oficina com idosos durante a 5ª Semana UEMG
Fonte: Arquivo da Assessoria de Comunicação da UEMG
Unidade Divinópolis.
147
A Agenda Cultural do evento ficou sob a responsabilidade
do Diretório Acadêmico, que abriu inscrições para proposição livre dos alunos, tendo sido enriquecida por uma
diversidade de linguagens artístico-culturais, apresentadas
ao longo de toda a 5ª Semana UEMG, em palco instalado
no pátio da Unidade.
Conclusões
Entende-se que a Universidade se apresenta como o
ambiente em condições mais propícias para o aprimoramento de formas de governança ampliada, por possuir
a prerrogativa de posicionar-se aberta ao diálogo com
os diversos atores sociais. Por isso, interfere também na
governabilidade, ao viabilizar a interlocução entre setores
e instituições. “O trabalho essencial da Universidade é
interpretar este mundo e, a partir daí, propor modificá-lo”
(SANTOS, 2004, p. 171).
A UEMG tem um enorme potencial extensionista, decorrente
de sua composição e origem. Pelo fato de democratizar
o acesso ao ensino superior público e gratuito, além de
penetrar no interior do estado, a Universidade se faz porosa
à realidade sociocultural diversa de Minas Gerais. Nesta
medida, a UEMG dispõe de potencial singular para atuar
diretamente em prol do desenvolvimento regional.
A Semana UEMG, nas versões realizadas, em dimensões
diferentes, representa o momento em que a Universidade
se desloca inteira em direção à sociedade, levando o
148
conjunto da produção extensionista. E parte significativa
dessa produção é resultado de empenhos de pesquisa,
práticas e metodologias de ensino, além de acontecer como
um efervescente ambiente de troca de experiências entre
professores, alunos e servidores técnicos e administrativos.
149
Referências
ALVES, Railda F.; BRASILEIRO, Maria do Carmo E.; BRITO, Suerde
M. de O. Interdisciplinaridade: um conceito em construção.
Episteme, Porto Alegre, n. 19, p. 139-148, jul./dez. 2004.
MUNANGA, Kebengele. A difícil tarefa de definir quem é negro no
Brasil. 3º Seminário Nacional Relações Raciais e Educação. Rio
de Janeiro, 5 nov. 2013.
SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução a uma ciência
pós-moderna. 5 ed. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1989.
SANTOS, Milton. O intelectual, a universidade estagnada e o dever
da crítica. In: MORAES, Dênis de. (Org.). Combates e utopias: os
intelectuais num mundo em crise. Rio de Janeiro: Record, 2004.
p. 167-172.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. World report on
ageing and health. Geneva, Switzerland: World Health
Organization, 2015.
Ecopedagogia e Ecologia
Integral: Curso de Extensão
Tatiana Maciel Gontijo de Carvalho
151
Introdução
O curso de extensão em Ecopedagogia e Ecologia Integral
foi uma proposta de formação extracurricular, e visou
seguir as diretrizes contidas no Parâmetros Curriculares
Nacionais sobre Educação Ambiental. A resolução do MEC
nº. 02/2012, em seu artigo 19, ao tratar dos sistemas de
ensino e regime de colaboração, nos orienta que os órgãos
normativos e executivos dos sistemas de ensino devem
articular-se com as universidades e demais instituições
formadoras de profissionais da educação, para que os
cursos e programas de formação inicial e continuada de
professores, que atuam na Educação Básica e na Superior,
capacitem para o desenvolvimento didático-pedagógico
da dimensão da Educação Ambiental na sua atuação
escolar e acadêmica. E, nesse mesmo artigo, o parágrafo
1º afirma que os cursos de licenciatura, que qualificam para
152
a docência na Educação Básica, devem incluir formação
com essa dimensão, com foco na metodologia integrada
e interdisciplinar.
O objetivo foi proporcionar aos alunos graduandos dos
cursos de licenciatura da UEMG Ibirité, e a quem pudesse
interessar, um curso teórico e prático, que incluísse uma
metodologia integrada, em quatro módulos, ao longo
do ano letivo de 2016. Procurou-se desenvolver com os
alunos e membros da comunidade externa os fundamentos teóricos e práticos da Ecopedagogia (GADOTTI, 2000),
da Ecologia Integral (GUATTARI, 2009), da Alfabetização
Ecológica (CAPRA, 2014) e da Epistemologia Ambiental
(LEFF, 2006). A Ecopedagogia visa a uma educação
voltada para a sustentabilidade e, nesse sentido, vai além
da educação ambiental na medida em que se propõe a
discutir princípios teóricos e epistemológicos do processo
educativo, com destaque para as relações interpessoais, o
respeito às diferenças, o desenvolvimento de habilidades
e competências tais como a afetividade, a criatividade, o
espírito colaborativo e a conscientização socioambiental
da degradação que uma cultura de consumo excessivo
e exploração sem limites aos recursos naturais acarreta.
Da proposta de uma Ecologia Integral, explicitada pelo
filósofo Félix Guattari em sua obra As três ecologias (2009),
destaca-se o desdobramento de uma ética ecológica que
perpassa os níveis pessoal, social e ambiental. Nas palavras
desse autor:
O que está em questão é a maneira de viver
daqui em diante sobre esse planeta, no
153
contexto da aceleração das mutações
técnico-científicas e do considerável crescimento demográfico. Em função do contínuo
desenvolvimento do trabalho maquínico
redobrado pela revolução informática, as
forças produtivas vão tornar disponível
uma quantidade cada vez maior do tempo
de atividade humana potencial. Mas com que
finalidade? A do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão, da ociosidade,
da angústia, da neurose, ou a da cultura, da
criação, da pesquisa, da reinvenção do meio
ambiente, do enriquecimento dos modos de
vida e de sensibilidade? (GUATTARI, 2009,
p. 8-9).
A expressão “alfabetização ecológica”, cunhada pelo físico
e educador ambiental Fritjof Capra (2014), sintetiza sua
proposta educativa de instigar e provocar o desenvolvimento de uma percepção sistêmica de mundo a partir
da “tradução” dos princípios contidos nos ecossistemas, em uma cultura que objetiva a construção de uma
sustentabilidade socioambiental. Assim, por exemplo, o
princípio natural da interdependência entre os elementos que compõe o ciclo da água pode ser traduzido nos
valores “solidariedade” e “atitude cooperativa”, no intuito
de se construir uma cultura de sustentabilidade na comunidade antrópica. Ao todo Capra (2014) discorre sobre sete
princípios. Por sua vez, a proposta de se discutir uma epistemologia ambiental, tal como apresentada por Enrique
Leff (2006), teve o intuito de problematizar, de forma consciente, sobre o legado cientificista de uma racionalidade
instrumental e utilitária herdada pelo paradigma da ciência
moderna, a qual embasou, substancialmente, a exploração
154
e manipulação da Natureza de uma forma que, para além
dos benefícios do progresso tecnológico, desencadeou um
processo irreversível de destruição ambiental. Em contrapartida, é proposto nesta nova epistemologia que:
Esta racionalidade ambiental, na medida em
que está sustentada por valores tais como,
qualidade de vida, identidades culturais e
sentidos da existência, abre-se a um diálogo
entre ciência e saber, tradição e modernidade (LEFF, 2006, p. 144).
Com uma preocupação em envolver os graduandos em
licenciatura e o público externo, em uma formação complementar, de modalidade extensiva, a proposta do curso
de Ecopedagogia e Ecologia Integral vem ao encontro às
demandas que o próprio meio ambiente nos coloca, e que
é corroborada pelo Parâmetro Curricular Nacional (PCN).
A formação superior possibilita uma complementariedade
na modalidade extensão, e um curso na temática supracitada contribuiu para a construção de uma transversalidade
de modo que impregnasse a prática educativa, criando
uma visão sistêmica, onde os aspectos físicos e histórico sociais estivessem interrelacionados. Assim como o
desenvolvimento, em cada participante, da capacidade de
interrelacionar os níveis local e global.
A Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável (UNESCO, 2005-2014), elaborada no Fórum
Global para o Desenvolvimento Sustentável (Joanesburgo,
2002), sob a direção da ONU, sugere como principal objetivo a integração dos princípios, valores e práticas do
155
desenvolvimento sustentável a todos os aspectos da
educação e da aprendizagem (UNESCO, 2005). Esse objetivo deve permanecer nas próximas décadas, visto ser um
desafio que não foi alcançado na sua totalidade. Uma vez
que o conceito de desenvolvimento sustentável e, mais
especificamente, de sustentabilidade socioambiental,
envolve uma compreensão das relações entre pessoas e
entre pessoas e seu meio ambiente, o âmbito da educação, tratado aqui em um sentido amplo como perspectiva
de aprendizagem, torna-se o locus stricto sensu de uma
construção conjunta, de um novo olhar sobre a realidade
circundante, que é o ambiente local sem deixar, todavia,
de perceber a interdependência desse local com o nosso
ambiente maior e global, que é o planeta Terra.
O curso de Ecopedagogia e Ecologia Integral UEMG Ibirité foi
ofertado na modalidade de extensão à comunidade acadêmica e externa. Como toda atividade acadêmica, técnica
ou cultural, que não está inclusa como parte integrante e
obrigatório do ensino, os cursos de extensão geralmente
servem para complementar os conhecimentos numa determinada área, podendo ser muitas vezes multidisciplinares.
Objetivam incrementar o currículo do graduando, e incluir
mais conhecimento na bagagem de qualquer outro indivíduo pertencente ao público externo. Complementarmente,
a proposta de elaboração de uma Agenda 21 Local, até o
final do curso, foi feita de forma participativa com todos
os cursistas. A “Agenda 21” é um documento na modalidade de acordo protocolar, lançado na ECO92 (ou Rio92,
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CNUMAD – realizada em 1992 na cidade
156
do Rio de Janeiro), que sistematiza um plano de ações com
o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável. A
inovação trazida por essa agenda foi colocar em primeira
ordem o que costumava ficar em último lugar quando o
assunto era desenvolvimento: o meio ambiente. Composta
por quarenta capítulos, a Agenda 21 é um instrumento
de planejamento participativo onde se admite de forma
explícita a responsabilidade dos governos em impulsionar
programas e projetos ambientais por meio de políticas que
propõem a justiça social e a preservação do meio ambiente.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Agenda 21 Local
é um instrumento de planejamento de políticas públicas
que envolve a sociedade civil e o governo em um processo
amplo e participativo de consulta sobre os problemas
ambientais, sociais e econômicos locais, e o debate sobre
soluções para esses problemas através da identificação e
implementação de ações concretas que visem o desenvolvimento sustentável local.
Para o governo brasileiro, a construção da Agenda 21
Local vem ao encontro da necessidade de se construir
instrumentos de gestão e planejamento para o desenvolvimento sustentável. O processo de Agenda 21 Local pode
começar tanto por iniciativa do poder público quanto da
sociedade civil. De fato, a Agenda 21 Local é um processo
e um documento de referência para Planos Diretores e
orçamentos municipais, entre outros, podendo também
ser desenvolvida por instituições escolares, comunidades
rurais e em diferentes territorialidades tais como bairros,
áreas protegidas e bacias hidrográficas. E reforçando ações
157
dos setores relevantes, a Agenda 21 na escola, na empresa
e nos biomas brasileiros é uma demanda crescente, cuja
maioria das experiências existentes têm-se mostrado muito
bem-sucedidas.
Dada a importância da construção de uma agenda 21
local, surge como plano de trabalho a Agenda 21 Local, na
UEMG Ibirité.
Metodologia
Destaca-se, portanto, que um dos principais objetivos do
curso de extensão em Ecopedagogia e Ecologia Integral foi
proporcionar ao público acadêmico e externo uma formação teórica e prática, com abordagem multimetodológica.
O curso foi estruturado em quatro módulos no total de
80 horas/aula. O módulo I, “Alfabetização Ecológica”, teve
como conteúdo o histórico da problemática ambiental
e a apresentação dos princípios contidos no modo de
organização dos ecossistemas, os quais, segundo Capra
(2014), podem e devem ser traduzidos em valores para
a construção de sociedades humanas sustentáveis,
em outras palavras, para a construção de uma cultura
voltada à sustentabilidade. Dois aspectos decorrentes
dessa perspectiva teórica merecem destaque. Primeiro,
a ideia básica de que tudo na Terra funciona em sistemas,
compreendendo sistema como o padrão básico de organização da vida. Explicitamente, a matéria percorre redes
de interdependência, em ciclos constantes movidos pela
158
energia do sol (CAPRA, 2014). Segundo os princípios organizacionais dos ecossistemas, ao serem “traduzidos” em
valores para o embasamento de uma cultura de sustentabilidade, apontam para uma visão de mundo e de ciência
não mais antropocêntrica, visto que, ao revés da tradição
científica, não é o homem que ensina e molda a natureza,
mas, sim, esta que lhe fornece as verdadeiras chaves de
uma percepção da realidade, tais como as noções de redes,
ciclos, parcerias, diversidade, equilíbrio, entre outras.
Com o intuito de ampliar a percepção ambiental dos cursistas, assim como a conscientização da relação de cada um
com o meio ambiente, foram aplicadas técnicas como a
“travessia do lugar” e a elaboração de mapas mentais,
produzindo, ao final, uma escala da percepção de cada
um que variava entre “nenhuma interação com o meio”,
“pouca interação com o meio” e “muita interação como o
meio”. Dessas atividades obteve-se o resultado de 90% ao
apresentarem “pouca interação como o meio”. Ainda no
módulo I foi aplicada a técnica do diagnóstico participativo denominada Biomapa, em que, com a participação
de um professor de ecologia convidado, todos puderam
desenhar o “mapa” natural e construído do espaço onde
a Universidade se encontra, ao qual correspondem vários
prédios com salas, laboratórios, administrativo, refeitório,
banheiros, auditório e o entorno com um amplo espaço de
área verde e um paisagismo exuberante, além de um horto
com diversas mudas de árvores nativas e uma holambrinha,
contendo também diversas mudas de plantas ornamentais.
O espaço, por ser em parte aberto, com ruas que o atravessam, também possui um córrego e uma ponte, para que os
159
veículos possam circular. Dessa atividade, iniciaram-se os
apontamentos de desafios que precisavam ser trabalhados
na conscientização socioambiental. O Módulo I finalizou
com uma Oficina de Slow Food, intitulada “A arte de fazer
o pão”, em que foram feitos diversos pães integrais pelos
participantes e discutidos princípios do movimento “slow
food”, em contraposição ao predomínio do “fast food” em
nossa cultura. A alfabetização ecológica passa, primeiramente, pela mudança pessoal de comportamento rumo a
atitudes conscientes em todos os sentidos, da alimentação
à reciclagem do lixo.
No módulo II, foram abordados os princípios da
Ecopedagogia, além dos princípios dos jogos colaborativos.
Compreendendo a Ecopedagogia como uma pedagogia
voltada para a educação socioambiental e considerando
que o desdobramento dessa proposta aponta para uma
postura de ampliação das habilidades e competências,
voltadas para as relações e para a re(descoberta) do
sentido e da vida, destaca-se a retomada do debate de
algumas categorias, tais como o imaginário, a curiosidade,
a tolerância, a acolhida, o diálogo, a ação comunicativa, a
empatia, o cuidado, entre outras (GADOTTI, 2000). Com
esses fundamentos, foram realizadas oficinas de jogos
colaborativos, uma com professora convidada, outra para
a criação de novos jogos pelos cursistas e, uma terceira,
como atividade final com o criador do “Jogo da Carta
da Terra”, realizada em um parque no município de Belo
Horizonte/MG. Compreende-se que, se as crianças não
forem treinadas para ganhar nos jogos, para serem sempre
as vencedoras e triunfarem, haverá uma grande redução
160
dos conflitos (MACGREGOR, 2005). O desenvolvimento de
habilidades colaborativas caminha junto com a construção
conjunta de uma cultura sustentável.
No Módulo III, ministrado pelo diretor do Centro de Ecologia
Integral (CEI), foram abordados os princípios da Ecologia
Integral. Integrando, nesta perspectiva, as dimensões
pessoal, social e ambiental, a ideia que subjaz é a da
reconstrução de uma visão de mundo e de uma percepção
de si, do outro e do meio ambiente, tanto natural como
construído, a partir da constatação de que existe uma conexão entre essas três dimensões. Portanto, uma ecologia
pessoal envolve o autorrespeito, o autocuidado, mudanças de atitudes que incorporem o consumo consciente e
o desenvolvimento de valores menos materialistas. Uma
ecologia social aponta para um comportamento voltado
para o coletivo, tanto humano quanto das outras espécies,
visando o respeito às diversas formas de vida, respeito às
diferenças de opiniões e de existências, buscando acabar
com a cultura da violência, do consumo exacerbado e da
competitividade. Uma ecologia ambiental vem integrar as
duas primeiras, na medida em que a Terra é, antes de tudo,
a nossa casa, dos humanos e não-humanos e, para tanto,
deve ser cuidada e respeitada per si:
Não haverá verdadeira resposta à crise
ecológica a não ser em escala planetária
e com a condição de que se opere uma
autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção
de bens materiais e imateriais. Essa revolução deverá concernir, portanto, não só às
161
relações de forças visíveis em grande escala,
mas também aos domínios moleculares de
sensibilidade, de inteligência e de desejo
(GUATTARI, 2009, p. 8).
As atividades realizadas nesse módulo procuraram desenvolver esta sensibilidade muitidimensional. Foi feita uma
oficina de Mandalas junto a uma meditação Taoísta, para
se desenvolver o aspecto da Ecologia pessoal. Do equilíbrio entre as formas ao equilíbrio interior. Foi discutida a
temática da Educação para o “consumo consciente”, com
documentários que mostravam o contraste entre a produção em escala mundial de grifes famosas a baixo custo e
condições precárias e, às vezes, subumanas de trabalho
nos países periféricos, e o glamour do mundo da moda,
ou mesmo os excessos de superficialismo da narcísica
sociedade do espetáculo. Realizou-se, ainda, uma visita
técnica a uma feira agroecológica “Feira Terra Viva”, situada
no município de Belo Horizonte/MG. Nessa visita, que
contou com relatório técnico, os cursistas puderam ver
de perto a diversidade de produtos que podem ser feitos
pela via da agricultura urbana, pelo pequeno produtor,
além da proposta saudável de se trabalhar com os alimentos. O Módulo III finalizou-se com uma aula assistida,
ministrada por uma professora convidada sobre o tema
“Reaproveitamento de resíduos”, na qual foi feito, conjuntamente, ao final da aula, um bolo de banana com casca.
Por fim, no Módulo IV, foram abordados os princípios
da epistemologia ambiental, que, em síntese, propõe a
suplantação da racionalidade técnica instrumental por
uma racionalidade dita ambiental:
162
A construção de uma racionalidade
ambiental demanda a transformação
dos paradigmas científicos tradicionais e
a produção de novos conhecimentos, o
diálogo, hibridação e integração de saberes, bem como a colaboração de diferentes
especialidades, propondo a organização
interdisciplinar do conhecimento para o
desenvolvimento sustentável (LEFF, 2006,
p. 162).
Foi realizada uma atividade integrada com um grupo de
pesquisa da Universidade, que foi a participação em uma
oficina de minhocário. Como atividade avaliativa deste
último módulo, uma visita Ecopedagógica foi realizada no
sítio de permacultura SETE ECOS, situado no município
de Sete Lagoas/MG. Finalizou-se o último módulo com a
apresentação, pela aluna bolsista do projeto, da proposta
de elaboração de uma Agenda 21 Local, construída conjuntamente com todos os participantes do curso. Houve a
entrega dos certificados de conclusão do curso.
Procurou-se desenvolver, ao longo da capacitação, aulas
teóricas e práticas, abordando técnicas do Diagnóstico
Participativo, estudos de Percepção Ambiental, jogos colaborativos e vivências. Os estudos de percepção ambiental
foram realizados por meio da técnica “travessia do lugar/
mapas mentais”, que consiste em uma metodologia
qualitativa em que os aspectos subjetivos do indivíduo
se destacam por meio de sua percepção em relação ao
meio. A partir dos dados obtidos, elaborou-se uma escala
em três níveis, caracterizados como “distantes da realidade”, “intermediário” e “próximo da realidade”. Dos 9
163
mapas analisados, 7 foram considerados ”distantes da
realidade”, e apenas dois se encaixaram no nível “próximo
da realidade”, permitindo avaliar que a maioria dos
cursistas revelou uma percepção de pouca interação com
o meio ambiente. A técnica do Diagnóstico Participativo,
denominada “Biomapa”, consistiu em uma construção
conjunta do mapa do espaço, interno e externo, utilizado
pela UEMG Unidade Ibirité. Tanto a escala de “mapas
mentais”, quanto o “Biomapa”, foram elaborados de forma
participativa, após a utilização da técnica denominada
“travessia do lugar”, ou seja, um passeio guiado a diversos
lugares que compõem o campus. A elaboração do Biomapa
possibilitou a visualização de algumas demandas socioambientais locais, expressas de maneira sistematizada, por
meio de outra técnica participativa denominada “Árvore
de desafios”. Foram detectados dez principais desafios
socioambientais pelos cursistas: córrego poluído; alto
índice de proliferação do mosquito Aedes aegypti; ausência
de reciclagem de papel; dificuldades no compartilhamento
do espaço entre a UEMG Unidade Ibirité e a Fundação
Helena Antipoff (FHA) (ambas instituições funcionam no
mesmo espaço, sendo parte deste espaço cedido pela FHA
à UEMG, e parte do terreno compartilhado); necessidade de
maior divulgação e interação com a comunidade externa;
falta de xerox dentro do campus; descarte do óleo de cozinha; destinação do lixo, que já conta com coleta seletiva
dentro do campus; ausência de um restaurante universitário e precariedade na manutenção dos laboratórios de
pesquisa. Após este primeiro diagnóstico, foi elaborado
um “Diagrama de Venn”, técnica participativa com o intuito
da busca de parcerias que pudessem cooperar na solução
164
dos problemas levantados. Foram apontados como parceiros potenciais a Fundação Helena Antipoff, docentes da
Unidade que executam projetos ambientais e/ou socioambientais, o Centro de Ecologia Integral (CEI), a Prefeitura de
Ibirité e a Petrobrás.
O diagnóstico dos projetos socioambientais desenvolvidos
na UEMG Unidade Ibirité veio agregar a proposta da Agenda
21 Local, na medida em que a Unidade desenvolve diversos
projetos de cunho socioambiental, tais como os estudos
da biodiversidade em quintais, uso de compostagem
em hortas orgânicas, educação para posse responsável
de animais em Ibirité/MG e jardins suspensos de plantas
medicinais para o combate ao Aedes aegypti, entre outros.
Resultados
O curso de extensão Ecopedagogia e Ecologia Integral
obteve como resultado a formação de nove cursistas, incluindo as comunidades interna e externa da
Universidade, além da participação de servidores públicos em alguns módulos. As diversas atividades fora do
ambiente Universitário agregaram na formação dos
cursistas e foram todas vistas como um resultado positivo
no aprendizado, em campo, dos temas teóricos abordados durante o curso. A visita ao sítio de permacultura
SETE ECOS, na Serra de Santa Helena, município de Sete
Lagoas/MG, no qual passou-se um dia inteiro. O dono do
sítio e coordenador dos projetos ali executados ensinou
sobre captação de água da chuva para a construção de
165
reservatórios naturais, galinheiros móveis que auxiliam
no cultivo da terra, banheiro seco e telhado vivo. Além das
técnicas de permacultura, que respeitam a diversidade
da flora no cultivo de multiculturas e na preservação das
matas nativas. A visita ao Sítio foi uma oportunidade de
observar e apreender um estilo de vida mais integrado
nos movimentos da própria natureza, o que produz, entre
diversos benefícios, uma vida mais autossustentável e com
mínimo impacto ambiental.
A oficina do Jogo da Carta da Terra, realizada no Parque
das Mangabeiras, com um dos criadores do jogo, oportunizou-nos a momentos de interação social e com a natureza,
além do aprendizado dos princípios da Carta da Terra em
um jogo colaborativo, no qual todos os participantes, em
conjunto, deveriam contribuir para o alcance dos objetivos,
alcançando o equilíbrio dos ecossistemas. Dessa atividade
assimilou-se a importância das atitudes colaborativas,
além da consciência do impacto das ações sociais no
meio natural. Da visita à feira de agroecologia Terra Viva,
no bairro Floresta, em Belo Horizonte, foram feitos diversos
contatos e possíveis parcerias futuras, donde se aprendeu,
além do conhecimento da produção sem agrotóxicos e com
produtos naturais o alimento, cosméticos, repelentes e arte
e artesanato, a riqueza de se trabalhar em rede.
Outros resultados obtidos em forma de produto foram a
construção de uma página no Facebook, para divulgação
do Curso, publicação de fotos das atividades e eventos e postagens de conteúdos pertinentes às temáticas
166
abordadas e a elaborado de material didático, na forma
de apostilas em todos os módulos.
Tanto o objetivo de execução do curso de extensão quanto
a proposta de elaboração da Agenda 21 Local foram alcançados. Com o destaque para a primeira ação da Agenda 21
Local que, no ano seguinte, foi implementada na UEMG de
Ibirité, em parceria com a FHA e com projetos extensionistas de cunho socioambiental de outros docentes, com a
proposta inicial de se fazer a redução no consumo de copos
plásticos, papel, energia e água, além da gestão sustentável
dos resíduos pela revitalização da coleta seletiva do lixo,
do envio dos papéis descartados para uma associação de
catadores de papel, ASPRATI, da substituição gradual dos
copos descartáveis por canecas, entre outras ações que se
pretendem contínuas.
Considerações finais
A Ecopedagogia propõe um conceito que consegue relacionar o local com o global. É o conceito de cidadania
planetária, que requer de nós o reconhecimento de que
somos parte da Terra e de que podemos perecer com a
sua destruição ou podemos viver com ela em harmonia,
participando do seu devir (GADOTTI, 2000). Com uma
perspectiva holística, na busca da aquisição de valores
tais como solidariedade e respeito ao próximo, às gerações presentes e futuras, à diferença e à biodiversidade,
a Ecopedagogia caracteriza-se pelo desenvolvimento do
pensamento crítico e da capacidade de encontrar solução
167
para os problemas; pela multiplicidade de métodos e por
estimular o processo participativo na tomada de decisão;
por ser aplicável e por estar estreitamente relacionado com
a vida local (UNESCO, 2005). Segundo Gadotti (2000), os
holistas sustentam que a utopia e o imaginário são instituintes da nova sociedade e da nova educação. Recusa-se,
assim, uma ordem fundada na racionalidade instrumental,
na medida em que menospreza o desejo, a paixão, o olhar,
a escuta. Nesta perspectiva de uma educação do futuro, a
ecopedagogia é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana
(GADOTTI, 2000, p. 80). É, portanto, democrática, solidária,
relacional e, sobretudo, uma pedagogia ética, uma “ética
universal do ser humano”. Compreendendo-se, aqui, a
ética como a própria essência do ato educativo.
Como aspecto complementar, a proposta da Ecologia
Integral é expandir a ética ecológica, de respeito ao
meio ambiente, às dimensões pessoal, social e ambiental. Segundo Guattari (2009), as formações políticas e as
instâncias executivas parecem totalmente incapazes de
apreender a problemática socioambiental no conjunto de
suas implicações. Isto se dá porque ainda se encontram
submersos em uma visão tecnocrática, tendo como resultado uma conscientização apenas parcial. Na sua opinião,
somente uma articulação ético-política, a qual denomina
“ecosofia”, poderia esclarecer convenientemente tais
questões. O conceito ecosofia é, portanto, um convite à
abertura da consciência entre os três registros ecológicos,
o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana (GUATTARI, 2009).
168
Ao ampliarmos a nossa percepção de mundo, considerando-nos como integrantes do ambiente, não somente
construído, mas também o natural, estaremos mais interessados em cuidarmos de nós mesmos e também do mundo
que nos circunda. Em outras palavras, estaremos mais
habilitados para compreender o inter-relacionamento de
problemas tais como pobreza, consumo predatório, degradação ambiental, deterioração urbana, saúde, conflitos e
violação dos direitos humanos (UNESCO, 2005).
O esforço de se trabalhar e contribuir para a mudança de
valores e percepção de mundo, de modo que impactem
em ações conjuntas de sustentabilidade deve ser contínuo, visto ser um desafio permanente. Ademais, pode-se
afirmar, através de Leonardo Boff (2011) que “Sem uma
educação sustentável, a Terra continuará apenas sendo
considerada como espaço de nosso sustento e de domínio técnico-tecnológico, mas não será o espaço de vida,
o espaço do aconchego, de ‘cuidado’” (BOFF, 2011, p. 57).
Sobre o projeto
Projeto de Extensão aprovado em Edital nº. 01/2016 –
PAEX/UEMG, Programa de Apoio à Extensão, vinculado à
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Executado
sem financiamento, com recursos próprios e apoio da
Fundação Helena Antipoff (FHA). Contemplado com uma
bolsa para aluna, que assessorou na organização do Curso
e apresentou a proposta de futura Agenda 21 Local.
169
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais, MEC, 2012.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 Global.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 10
jun. 2018.
BOLEIZ Junior, Flávio. A Ecopedagogia enquanto marco ético
para o quotidiano escolar. São Paulo: Secretaria Estadual do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, 2005. Disponível em: <http://
homologa.ambiente.sp.gov.br/ea/adm/admarqs/FlavioB.pdf>.
Acesso em: 12 jun. 2018.
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres.
Petrópolis: Vozes, 2015.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela
terra. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
BRUNDTLAND, Gro Harlem (org.). Nosso futuro comum. Rio
de Janeiro: FGV, Relatório da Comissão Mundial Sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, 1988.
CASCINO, Fábio Alberti. Educação Ambiental: Princípios, História,
Formação de Professores, 3ª ed. São Paulo: SENAC, 2003.
CASTORIADIS, Cornelius; COHN-BENDIT, Daniel. Da ecologia à
autonomia. São Paulo: Brasiliense, 1981.
DEMO, Pedro. Participação e meio ambiente: uma proposta
educativa preliminar. Distrito Federal: SEMA, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à
prática Educativa. 43ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo:
Petrópolis, 2000.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2000.
170
GUTIÉRREZ, F.; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania
planetária. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2013.
GORE, Albert. A Terra em balanço: ecologia e o espírito humano.
São Paulo: Global, 2008.
GATTARI, Félix. As três ecologias. 20ª ed. Campinas: Papirus, 2009.
LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. 4ª ed. São Paulo:
Cortez, 2006.
LOVELOCK, James. Gaia: um novo olhar sobre a vida na Terra.
4ª ed. Lisboa: Edições 70, 1987.
MACGREGOR, Cynthia. 150 Jogos Não-competitivos para
Crianças. São Paulo: Madras, 2005.
MATSUSHIMA, Kazue (Coord). Guia do professor de 1º e 2º Graus.
CETESB – Série Educação Ambiental. São Paulo: CLY, 1987.
MEADOWS, Donella. Os limites do crescimento. São Paulo:
Perspectiva, 1972.
REIGOTA, Marcos. A floresta e a escola: por uma educação
ambiental pós-moderna. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
STONE, Michael K.; BARLOW, Zenobia (org.). Alfabetização
Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável.
11 ª ed. São Paulo: Cultrix, 2014.
UNESCO. Década das Nações Unidas da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável, 2005-2014: documento final
do plano internacional de implementação. Brasília: UNESCO,
OREALC, 2005.
Este volume compõe a Coleção Comemorativa dos 30
anos da UEMG produzida em dezembro de 2019 pela
Editora da Universidade do Estado de Minas Gerais
– EdUEMG.
O texto foi composto em Source Sans Pro, desenvolvida por Paul D. Hunt, e as aberturas de capítulo
em Montserrat, de Julieta Ulanovsky.
Para obter mais informações sobre outros títulos da
EdUEMG, visite o site: eduemg.uemg.br.