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Apresentação v.4 n.1 (2016)

2016, Muiraquitã - Revista de Letras e Humanidades

https://doi.org/10.29327/216341.4.1-1
ApresentAção No lançamento do presente volume da Revista Muiraquitã, chamamos a atenção para seu Eixo Temático, centrado em “cultura e linguagem”, com enfoques em estudos e pesquisas relacionadas às práticas culturais, memória e poder, literatura e história, discurso e silêncio, deslocamentos populacionais e questões identitárias. O resultado é um significativo encontro de textos e autores empenhados em refletir sobre linguagens e práticas culturais a partir de reflexões sobre o corpo, a vida, os deslocamentos de sentidos e as identidades possíveis, no perpassar de diferentes campos disciplinares e áreas do saber acadêmico. A partir dos artigos aqui reunidos ecoam dimensões de grande importância para mantermos diálogos com territorialidades das Amazônias brasileiras e do Mezzogiorno italiano, adjetivados de “sertões” pela retórica colonizadora, que não consegue conviver com as distintas realidades do “todo-o -mundo” e suas múltiplas possibilidades histórico-culturais e linguísticas. Em síntese, podemos visualizar uma etnografia da palavra escrita dos sujeitos – seus lugares – que tomam para si a responsabilidade de ser intérpretes de seus cotidianos e das palavras/conceitos que lhes chegam e traduzem. Nessa direção, Suerda Lima, com “entre o banquete e o corpo: uma possível leitura carnavalizante de “como agua para chocolate”, fala de corpo, comida, bebida, riso, lágrima, literatura e cultura; Armstrong Santos, em “encontros e desencontros em narrativas de haitianos na Amazônia acreana”, faz transbordar Narrativas Silenciadas Pelo Sensacionalismo Midiático, narrativas de sujeitos sociais fraturados e deslocados em trânsitos diaspóricos entre as Áfricas, os Caribes e as Amazônias; Bruno Braga, com seu “os índios, a catequese e a civilização no Amazonas (1845-1898): entre o fracasso e a resistência”, nos arremete a processos de um passado que se atualiza tragicamente na tríade corpos indígenas, catequese/domesticação, mito civilizatório; Joel Silva e Fabiano Gontijo, com “patrimônios do ‘fundo’ na encantaria amazônica: “entre cosmologias, memórias e identidades marajoaras”, percorrem territórios de patrimônios de encantarias amazônico-marajoaras, colocando em cena cosmologias e narrativas de corpos que tecem tempos materiais e imateriais; Vanessa Oliveira apresenta o estudo “silenciamentos, formação e artes cênicas: o esvaziamento da experiência”, a partir do qual abre espaço para narrativas de estudantes de artes, abordando corpos (in)disciplinados pelas tentativas de apagamento das lembranças/saberes em dinâmicas disciplinares que buscam inculcar identidades hermeticamente fechadas; Marta Lima, com “A Umbanda em rondônia”, percorre campos do sagrado em religiosidades de terreiros a partir de narrativas imersas no emaranhado do tempo da política; Romário Souza, em seu “Versões discursivas da Amazônia: entre a ‘ficção e o real’ na obra “À margem da História”, de euclides da Cunha”, centra suas preocupações no terreno do discurso que cria sujeitos/objetos marcados pelo signo da conquista do “deserto” amazônico, produzindo corpos marcados por identidades vazias; Marcello Messina, com “narrativas pós-italianas a re-imaginação da unidade nacional nas canções do sul da Itália”, desnuda narrativas do e sobre o Sul da Itália, pontuando o quanto as marcas da invenção de identidades atávicas moldam territórios e corpos talhados pela binária lógica da “civilização” e “barbárie”; Altaiza Marinho, em “Dez anos no Amazonas (1897-1907): um imaginário social da Amazônia”, traduz sentidos de certas memórias ancoradas em certo tipo de escrita que tenta fazer da representação o real; Pabla Silva, em “o rio Croa: resultado de muitas vozes um lugar narrado nas perspectivas do ecoturismo”, nos convida para uma viagem ao encontro com uma “natureza pura”, dimensão das práticas culturais das mulheres e homens que habitam o Croa, no Vale do Juruá; e Francis Mary, com seu “subjetividades indígenas: descolonizando horizontes”, desafia cânones literários, trazendo à tona processos de tradução cultural marcados pela tradição e pela literatura oral indígena. Por fim, as resenhas de Jesus Carranza, “resistencia, subsistencia y diversi- Muiraquitã, UFAC, ISSN 2525-5924, v. 4, n. 1, 2016. 3 dad en las riberas del río Muru”, e Teresa di Somma, “recensione del romanzo ‘Mezza italiana’ di Zoë Boccabella, una italo-australiana alla riscoperta delle proprie origini tra orientalismo e snobismo ‘bianco”, pontuam não apenas a interpretação da interpretação de práticas culturais e distintas percepções identitárias, mas a circulação e o encontro de sujeitos sociais empenhados em desvendar, desde outros lugares de enunciação, as muitas formas de encontros e misturas dos tempos atuais. Seguimos em busca de um ponto de encontro para nossas diferentes formas de pensar as questões, problemas de pesquisa e as reflexões que o Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da UFAC tem abrigado, especialmente, porque suas área de concentração têm possibilitado o cruzamento de professores, estudantes e pesquisadores de distintas áreas analisando os mesmos objetos de investigação com foco nas realidades amazônicas em relação direta com os mundos não amazônicos, mediados pela linguagem, pelos discurso e por distintas historicidades. Esta edição é uma pequena mostra desse exercício acadêmico. Rio Branco, Acre, Julho de 2016 Gerson Albuquerque - Editor 4 Muiraquitã, UFAC, ISSN 2525-5924, v. 4, n. 1, 2016.