SÍLVIA
MACIEL
SÁVIO
Interseções entre Arte e Arquitetura
- Estudo de Caso: Olafur Eliasson
v.1
Dissertação
apresentada
ao
Programa
de
Pós-‐Graduação
da
Faculdade
de
Arquitetura
e
Urbanismo
da
Universidade
de
São
Paulo
para
obtenção
do
título
de
Mestre
em
Arquitetura.
Área
de
Concentração:
Projeto,
Espaço
e
Cultura
Orientador:
Prof.
Dr.
Agnaldo
Aricê
Caldas
Farias
São Paulo
2015
1
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL DA AUTORA:
[email protected]
Sávio, Sílvia Maciel
S267iInterseções entre arte e arquitetura – estudo de caso:
Olafur Eliasson / Sílvia Maciel Sávio.--SãoPaulo, 2015.
183 p. :il.
Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Projeto, Espaço
e Cultura) – FAUUSP.
Orientador: Agnaldo Aricê Caldas Farias
1.Arte contemporânea 2.Exposições de arte 3.Arquitetura
4.Eliasson, Olafur, 1967CDU 7.036
2
I.Título
Nome:
SÁVIO,
Sílvia
Maciel
Título:
Interseções
entre
Arte
e
Arquitetura
-‐
Estudo
de
Caso
-‐
Olafur
Eliasson
Dissertação
apresentada
à
Faculdade
de
Arquitetura
e
Urbanismo
da
Universidade
de
São
Paulo
para
obtenção
do
título
de
Mestre
em
Arquitetura.
Aprovado
em:
Banca
Examinadora
Prof.
Dr.
________________________
Instituição:
______________
Julgamento:
___________
Assinatura:
______________________________
Prof.
Dr.
________________________
Instituição:
______________
Julgamento:
___________
Assinatura:
______________________________
Prof.
Dr.
________________________
Instituição:
______________
Julgamento:
___________
Assinatura:
______________________________
3
AGRADECIMENTOS
À
minha
família,
pela
compreensão,
carinho,
presença
e
incansável
apoio
ao
longo
do
período
de
elaboração
deste
trabalho.
Especialmente,
ao
meu
filho
Bernardo,
por
superar
minha
ausência.
À
Mariana
Albuquerque,
pela
imprescindível
colaboração,
cuja
revisão
possibilitou
a
conclusão
desta
dissertação.
Ao
orientador
Agnaldo
Farias,
cujas
aulas
incentivaram
meu
retorno
à
universidade.
À
Professora
Fernanda
Fernandes,
pela
atenção
e
apoio
durante
o
período
como
aluna
especial.
Aos
Professores
Luiz
Antônio
Jorge
e
Vera
Pallamin,
pelo
aprendizado
em
Projeto,
Espaço
e
Cultura.
Às
amigas
doutoras
e
mestres,
sempre
confiantes
e
incentivadoras:
Ana
Garcia,
Aline
Couri
Fabião,
Isabel
Frota
Abreu
e
Noêmia
O.
Figueiredo.
4
RESUMO
SÁVIO,
S.M.
Interseções
entre
Arte
e
Arquitetura
-‐
Estudo
de
Caso:
Olafur
Eliasson.
2015.
183
f.
Dissertação
(Mestrado)
-‐
Faculdade
de
Arquitetura
e
Urbanismo,
Universidade
de
São
Paulo,
São
Paulo,
2015.
A
reflexão
sobre
a
experiência
do
espaço
e
seu
rebatimento
sobre
a
construção
de
espaços
físicos,
no
limite
entre
arte
e
arquitetura,
foi
o
objetivo
desta
pesquisa.
A
apresentação
das
obras
do
artista
dinamarquês
Olafur
Eliasson
formando
um
panorama
do
estudo
do
espaço,
que
o
artista
vem
realizando
desde
1990.
Trata-‐se
de
instalações
de
arte
que
visam
um
espaço
sensorial,
a
provocação
dos
sentidos
do
visitante
para
co-‐produzir
uma
experiência
do
espaço.
Devido
ao
embasamento
teórico
citado
frequentemente
pelo
artista
e
suas
referências
artísticas
e
arquitetônicas,
fez-‐se
necessário
um
capítulo
de
entendimento
da
teoria
nas
obras
de
Eliasson.
Partindo
do
contato
com
as
obras,
o
recorte
temático
foi
definido
em
torno
dos
aspectos
de
luz
e
movimento
na
percepção
do
espaço,
onde
destacam-‐se
as
referências
do
artista
na
História
da
Arte
Moderna
-‐
o
Movimento
Cinético
e
o
Grupo
Light&Space.
O
triângulo
configurado
entre
as
principais
figuras
destes
três
momentos
-‐
Lászlo
Moholy-‐Nagy,
James
Turrell
e
Olafur
Eliasson
-‐
serve
de
acesso
ao
repertório
do
artista
dinamarquês
e
justifica
a
pesquisa
não
enfocar
uma
série
de
outras
referências
notórias
de
Eliasson.
A
dissertação
divide-‐se,
então,
em
três
capítulos
-‐
a
Apresentação,
o
Entendimento
da
Teoria
e
as
Obras
de
Eliasson
-‐
cuja
relação
se
estabelece
nos
exemplos
das
obras
comentadas.
O
emaranhado
de
referências
teóricas
encontrado
nos
livros
de
Eliasson
repercute
na
miscelânea
do
capítulo
2.
À
partir
dos
conceitos
esclarecidos,
termos
usados
pelo
artista,
a
cada
obra
comentada,
Na
análise
de
duas
exposições
que
ocorreram
nos
anos
2000,
Take
Your
Time
e
Weather
Project,
entende-‐se
melhor
seu
vocabulário
e
intencões
conceituais
aplicadas
no
espaço
físico.
A
relevância
das
múltiplas
pesquisas
de
Olafur
Eliasson,
que
o
colocam
na
fronteira
entre
a
Arte
e
a
Ciência,
engloba
também
o
conhecimento
filosófico
de
seus
colaboradores,
como
o
curador
Daniel
Birnbaum,
e
culmina
na
experimentação
do
espaço
nas
instalações,
na
participação
do
público.
Palavras-‐chave:
Arte
Contemporânea,
Arquitetura,
Exposição
de
Arte.
5
ABSTRACT
SAVIO,
S.M.
Interseccions
between
Art
and
Archtechture-‐
Study
of
Case
-‐
Olafur
Eliasson.2015.
183
f.
Dissertação
(Mestrado)
-‐
Faculdade
de
Arquitetura
e
Urbanismo,
Universidade
de
São
Paulo,
São
Paulo,
2015.
The
reflection
about
the
experience
of
space
and
its
folding
about
construction
and
its
physical
spaces,
on
the
limit
between
Art
and
Architecture,
it
was
the
purpose
of
this
research.
The
presentation
of
the
Danish
artist
work,
OlafurEliassoncreating
an
overview
of
the
study
of
space
that
the
Artist
has
been
carrying
out
since
1990.It
is
installations
of
Art,
which
seeks
a
sensorial
space,
provocation
of
the
visitor’s
sense
to
produce
an
experience
of
space.
Because
of
the
theoretical
basis
mentioned
frequently
by
the
Artist
and
its
artistic
and
architectural
references,
it
is
necessary
one
chapter
of
understanding
the
theory
of
Eliasson’s
masterpieces.
Starting
from
the
contact
with
his
artworks,
narrowing
the
theme
was
defined
around
the
aspects
of
light
and
movement
on
the
perception
of
space,
where
it
highlights
the
references
of
the
Artist
on
History
of
Modern
Art-‐
The
Kinetic
Movement
and
the
Group
Light&Space.
The
configured-‐triangle
between
the
principle
figures
of
these
three
moments-‐
Lászlo
Moholy-‐Nagy,
James
Turrell
and
OlafurEliasson–serves
as
the
access
to
the
repertory
of
the
Danish
Artist
and
it
justifies
the
research
not
being
focused
on
a
series
of
other
notorious
references
of
Eliasson.
This
thesis
is
divided,
then,
in
three
chapters
-‐
the
Presentation,
the
Understanding
of
the
Theory
and
the
Artworks
of
Eliasson–in
which
the
relationship
is
established
on
the
examples
of
the
artworks
commented.
The
tangle
of
theoretical
references
found
on
books
of
Eliasson
has
consequences
on
the
miscellaneous
of
Chapter
2.
From
the
concepts
clarified,
terms
used
by
the
Artist,
on
which
artwork
commented.
On
the
analysis
of
two
expositions
that
occurred
on
the
2000
years,
Take
Your
Time
and
Weather
Project,
it
is
better
understood
his
vocabulary
and
conceptual
intentions
applied
on
physical
space.
The
relevance
of
multiple
researches
of
OlafurEliasson,
which
put
him
on
the
boarder
of
Art
and
Science
includes
also
the
philosophical
knowledge
and
its
collaborators,
such
as
the
curator
Daniel
Birnbaum,
and
culminates
on
the
experiment
of
space
on
the
installations,
on
the
participation
of
the
public.
Keywords:
Contemporary
Art,
Architecture,
Art
Exhibition.
6
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................................9
Capítulo
1.
Olafur
Eliasson,
o
Contexto
Europeu
e
o
Studio
......................................
15
Capítulo
2.
O
entendimento
da
teoria
no
trabalho
de
Eliasson
.................................
73
Capítulo
3.
Obras
de
Olafur
Eliasson
.........................................................................
96
Capítulo
4.
Considerações
Finais
............................................................................
186
7
8
INTRODUÇÃO
Esta
pesquisa
visa
a
observação
do
espaço
produzidos
por
determinadas
obras
de
arte,
os
aspectos
da
percepção
sensorial
decorrentes
de
obras,
mais
precisamente
instalações,
cuja
peculiaridade
consiste
no
modo
como
jogam
com
a
arquitetura.
Não
se
trata,
pois,
da
arquitetura
que
recebe
a
obra
mas,
sim,
do
espaço
resultante
desse
entrelaçamento
e
que
provoca
experiências
que
alargam
a
compreensão
do
conceito
de
espaço
para
além
das
categorizações
usuais.
O
contato
com
certas
instalações
de
arte1
abre
o
questionamento
sobre
a
experiência
espacial.
Neste
estudo
detemo-‐nos
nos
espaços
criados
pelo
artista
dinamarquês
Olafur
Eliasson
(1967-‐...),
hoje
radicado
em
Berlim.
A
entrada
em
suas
instalações
significa
experimentar
uma
produção
de
espaço,
entendida
como
um
efeito
que
ultrapassa
o
campo
perceptivo
para
ativar
um
emaranhado
de
outros
fatores.
A
arte
de
Eliassonpauta-‐se
na
relação
entre
natureza
e
tecnologia
voltada
para
a
apreensão
e
construção
de
espaços,
perspectiva
que
o
coloca
como
um
dos
principais
autores
dessas
instalações
situadas
no
limite
da
arquitetura.
A
justaposição
de
aspectos
científicos,
formais
e
construtivos
define
o
caráter
híbrido
das
obras.
Dentro
da
vasta
produção
do
artista
na
qual
a
natureza
é
abordada
como
fenômeno
cultural,
ocorrem
temas
e
técnicas
que
se
repetem.
Para
restringir
o
universo,
dada
a
extensão
da
obra
de
OlafurEliasson,
serão
abordadas
obras
de
luz,
luz
e
movimento,
espaços
construídos
no
interior
de
arquiteturas
existentes.
As
obras
desse
artista
transformam
o
observador
num
verdadeiro
agente,
produtor
do
espaço
em
que
se
encontra.
Uma
proposta
fortemente
influenciada
pelo
biólogo,
filósofo
e
neurocientista
chileno
Francisco
Varela.
Segundo
Eliasson,
Varela
1
O
termo
instalação
de
arte
ganhou
nova
conotação
no
âmbito
da
arte
contemporânea.
Designa
trabalhos
temporários
que
envolvem
o
público
num
espaço
desenvolvido
com
a
obra.
Os
registros
fotográficos
e
audiovisuais
colaboram
para
identificarmos
essa
dinâmica
entre
público
e
obra.
Descrita
por
Claire
Bishop:
"A
Instalação
cria
uma
situação
na
qual
o
observador
entra
fisicamente,
e
insiste
que
isto
seja
visto
como
uma
totalidade
singular.
A
Instalação
então
difere
dos
meios
tradicionais(escultura,
pintura,
fotografia,
video)
no
que
endereça
o
observador
diretamente
como
uma
presença
literal
no
espaço.
Ao
invés
de
imaginar
o
observador
como
um
par
de
olhos
sem
corpo,
exalta
os
sentidos,
tato,
olfato
e
audição,tanto
como
sua
visão."
Trecho
extraído
do
livro
Installation,
p.
6.
9
defende
que
“entender
é
agir”
e
sugere
que
“através
das
nossas
observações,
podemos
mudar
a
realidade
envolvente”.
(ELIASSON,
2012.
p.221.)
O
presente
texto
é
uma
tentativa
de
entender
a
proposta
do
artista:
ver
a
realidade
como
uma
construção
à
partir
das
experiências
sensoriais.
Aproximar-‐se
do
repertório
deste
artista,
assemelha-‐se
à
confecção
de
uma
rede,
onde,
a
cada
ponto
tecido,
há
um
novo
nó
de
interseção.
Por
isso,
estudar
a
obra
de
Olafur
Eliasson
passa
necessariamente
pelo
estudo
de
suas
referências,
um
extenso
repertório
desde
a
pintura
de
Turner2
até
o
interesse
pela
obra
de
BuckminsterFuller3.
Como
recorte
de
pesquisa,
optou-‐se
pela
abordagem
dos
conceitos
de
luz
e
movimento
nas
obras
de
Eliasson.
Em
relação
a
essas
destaca-‐se
as
influências
de
LazloMoholy-‐Nagy,
precursor
da
Arte
Cinética,
e
James
Turrel,
ligado
ao
movimento
Light
&
Space.Torna-‐se
importante
ressaltar
que
cada
um
dos
agentes
escolhido
na
construção
desse
quadro
–
LazloMoholy-‐Nagy,
James
Turrel,
e
Olafur
Eliasson
–,
têm
uma
trajetória
própria,
enfrentam
questões
particulares,
o
que
desaconselha
o
estabelecimento
de
relações
causais
entre
eles.
Essas
concordâncias
entre
os
três
artistas
servem
de
base
para
aproximar-‐se
da
obra
de
Olafur
Eliasson
e
não
impedem
que
outras
referências
sejam
encontradas
no
decorrer
da
dissertação.
Entre
eles,
como
já
foi
dito,
o
inventor
norte-‐americano
BuckminsterFuller,
além
do
arquiteto
expressionista
alemão
Bruno
Taut,
o
arquiteto
alemão
Frei
Otto
e
o
artista
norte-‐
americano
Robert
Irwin,
todos
eles
mencionados
porEliasson
em
suas
publicações.
Para
uma
melhor
compreensão
da
dinâmica
de
colaboração
e
influências
dos
trabalhos
desenvolvidos
pelos
dois
artistas
escolhidos
–
LázloMoholy-‐Nagy
e
James
Turrel
–
nas
obras
de
Eliasson,
construiu-‐se
um
quadro
apontando
suas
interseções.
Entre
elas,
o
modo
peculiar
como
certos
aspectos
tecnológicos
e
participativos
são
tratados
nas
obras
relacionadas
com
luz
e
percepção
espacial.
2
William
Turner
foi
pintor
romântico
inglês,
considerado
por
alguns
um
dos
precursores
da
modernidade
na
pintura,
em
função
dos
seus
estudos
sobre
cor
e
luz.
3
Richard
BuckminsterFullermfoimum
inventor
visionário
do
século
XX.
Dedicou
sua
vida
a
fazer
o
mundo
funcionar
para
toda
a
humanidade.
Não
se
limitou
a
um
campo,
mas
trabalhou
numa
pesquisa
antecipatória
abrangente
para
resolver
os
problemas
globais
em
torno
da
habitação,
moradia,
transporte,
educação,
energia,
destruição
ecológica
e
da
pobreza.
10
No
estudo
dessas
interseções,
o
espaço
afigura-‐se
como
o
grande
campo
de
estudo
que
pode
ser
reconhecido
nas
obras
e
personagens
selecionados.
Forma-‐se
assim,
um
quadro
marcado
por
correspondências
e
relações
transversais.
De
modo
geral,
Eliasson
apresenta
em
suas
obras
e
seus
textos
elementos
notáveis
da
História
e
da
Teoria
da
Arte.
Definir
qual
aspecto
deveria
ser
aprofundado
dentro
do
repertório
do
artista
foi
parte
importante
deste
trabalho.
Daí
surgiu
o
recorte
temático:
Como
olhar
o
espaço
na
obra
de
OlafurEliasson?
Ou
seja,
como
abordar
o
problema
do
espaço
na
arte
de
OlafurEliassonusando
como
ferramenta
a
relação
com
os
projetos
de
LázloMoholy-‐Nagy
e
James
Turrell?
Outra
preocupação
é
entender
com
precisão
a
fala
de
Eliasson,
o
usode
determinados
termos
quando
se
refere
a
intervenções
no
espaço.
Conforme
foi
dito
no
início
desta
introdução,
um
exemplo
do
linguajar
do
artista
é
o
uso
do
termo
negociável,
quando
se
refere
à
realidade.
Uma
realidade
que
opera
somente
através
de
relações
inter-‐pessoais
seria
negociável
e
Eliasson
coloca
essa
intenção
nos
seus
espaços.
Daí
a
prática
e
a
teoria
se
encontrarem
na
realização
em
suas
obras
através
do
comportamento
do
público.
É
ele
quem
faz
a
obra.
Diante
da
abrangência
do
tema,
foi
necessário
dividir
esta
dissertação
em
três
partes
distintas:
apresentação
do
artista
e
da
temática
de
luz
e
movimento
no
espaço,
base
teórica
a
partir
do
artista
e
análise
das
obras
de
OlafurEliasson.
No
primeiro
capítulo,
são
apresentados
o
artista
dinamarquês
e
sua
inserção
no
contexto
europeu
dos
anos
1990;
os
artistas
escolhidos
que
influenciaram
sua
obra
no
que
se
refere
a
luz
e
movimento
no
espaço:
LászloMoholy-‐Nagy
e
James
Turrell;
e
a
conceituação
do
caráter
híbrido
da
obra
de
OlafurEliasson.
No
segundo
capítulo,
resgata-‐se
a
teoria
presente
no
trabalho
do
artista.
A
necessidade
de
investigar
a
base
teórica
indicada
por
Olafur
Eliasson
surgiu
do
contato
com
suas
obras.
Assim,
a
fonte
desta
investigação
foram
textos
e
palestras
em
que
ele
expressa
seu
pensamento
sobre
arte
e
sociedade
-‐
que
são
por
ele
também
considerados
como
obras.
Para
tanto,
buscou-‐se
entender
os
termos
do
discurso
do
artista
existentes,
anteriormente,
na
Teoria
da
Arte.
11
O
terceiro
capítulo
trata
das
obras
de
Eliasson
selecionadas
sob
os
aspectos
da
luz
e
do
movimento
na
produção
de
novos
espaços,
nos
quais
todo
o
conteúdo
estudado
se
reúne
e
converge
para
a
compreensão
das
propostas
do
artista.
Nos
comentários
sobre
as
obras
de
Eliasson
e
as
experiências
que
suscitam,
os
outros
dois
artistas
-‐
Mohly-‐Nagy
e
Turrell
-‐
são
retomados
com
mais
propriedade,
formando
uma
triangulação
entre
eles.
Nas
considerações
finais,
fica
expresso
o
fechamento
de
um
ciclo
de
trabalho
que
não
pretende
esgotar
o
tema,
mas
que
abre
novas
abordagens
sobre
o
mesmo.
É
o
espaço
pesquisado
na
sua
constituição,
como
acontecimento
e
presença,
e
não
mais
uma
busca
teórica
isolada
para
enquadrar
suas
características
num
campo
específico,
seja
da
arte,
da
arquitetura
ou
da
geografia.
Este
é
o
caso,
por
exemplo,
da
obra
Weather
Project,
na
qual,
através
do
espaço
criado
o
artista,
surgem
aspectos
sociais,
geográficos
e
culturais
do
tema
escolhido:
o
clima
(weather).
Essa
obra,
emblemática
na
carreira
de
Olafur
Eliasson
e
que
esteve
montada
na
galeria
Tate
Modern
em
Londres,
2003,
será
comentada
no
capítulo
3.
12
13
14
Capítulo 1.
Olafur Eliasson, o Contexto Europeu e o Studio
O
estudo
da
trajetória
do
artista
dinamarquês
Olafur
Eliasson
passa
pela
revisão
da
bibliografia
entre
Arte
e
Arquitetura,
ao
longo
do
século
XX.
Ele
trabalha,
há
quinze
anos,
interelacionandoas
questões
espaciais,
corporais
e
construtivas
em
sua
extensa
bibliografia
e
colaboração
nos
projetos
transdisciplinares
em
diversos
países.
O
artista
cursou
a
universidade
de
Belas
Artes
da
Dinamarca
-‐
Royal
Danish
Academy
of
Fine
Arts
-‐
,
entre
1989
e
1995,
época
em
que
a
maioria
dos
teóricos
apresentavam
"uma
lógica
pós-‐modernista
da
superfície".
Lógica
na
qual
os
avanços
tecnológicos
desencadeariam
processos
de
desterritorialização,
a
abolição
das
fronteiras
espaciais,
e
porisso
tudo
estaria
conectado
em
rede
pela
superfície
global.
Os
conceitos
em
voga
partiam
de
uma
grande
abstração,
transferiam
características
físicas
conhecidas
-‐
"cristalização,
mosaico,
textura
e
dobra
"4
-‐
para
adjetivar
o
tempo
e
o
espaço,
por
exemplo.
(ELIASSON,
2012)
Olafur em Berlim
Na
Europa
do
pós-‐guerra,
a
cidade
onde
o
artista
montou
seu
Studio
–
Berlim
-‐
virou
um
terreno
de
reconstrução,
a
cidade
dos
“terrain-‐vagues”,
espaços
vazios
urbanos
que
foram
lacunas
geradas
pela
2a
Guerra
dentro
do
tecido
urbano.
A
cidade
dividida
entre
leste
e
oeste,
até
a
queda
do
muro
em
1989,
tornou-‐se,
a
partir
da
entrada
do
século
XXI,
depois
de
um
longo
e
não
muito
bem
sucedido
processo
de
revitalização,
um
boom
imobiliário
que
teve
seu
principal
emblema
na
Potsdamer
Platz,
num
pólo
aglutinador
de
artistas
e
arquitetos
interessados
na
diversidade
cultural
e
no
baixo
custo
da
cidade,
notadamente
os
aluguéis
de
estudios
e
galpões,
impensável
em
outros
países.
Desta
forma,
os
projetos
de
revitalização
de
Berlim
atraíram
o
olhar
do
mundo
para
a
cidade.
Ainda
sob
as
mudanças
pós
queda
do
muro,
apenas
quatro
anos
depois,
Olafur
fixou-‐se
em
Berlim,
onde,
diferente
da
Dinamarca
4
Texto
“De
Observador
a
Participante:
no
Estúdio
de
OlafurEliasson”,
de
Philip
Ursprung,
no
livro
“O
Studio
–
Uma
Enciclopédia”.
15
naquela
época,
parecia
que
os
artistas
tinham
voz.5
Quando
nem
se
imaginava
o
quanto
a
cidade
mudaria.
Portanto,
ele
desenvolveu
sua
carreira
neste
lugar
propício
à
trabalhos
criativos
aberto
a
novidades.
O Contexto Teórico dos anos 1990
Na
década
de
1990,
a
publicação
de
antologias
dedicadas
à
teoria
arquitetônica
foi
um
marco
provocador
de
discussões
entre
os
profissionais,
na
intenção
de
reconstituir
a
disciplina
“por
meio
de
conceitos
mediadores
[...]
que
ligam
a
arquitetura
a
outros
campos
sociais”(KRYSTASYKES,
2012)
e
redefinir
um
território
próprio.
Neste
mesmo
período
de
ampliação
das
discussões
teóricas,
cada
vez
mais
voltadas
para
o
debate
sobre
a
prática
profissional6,
a
diversificação
das
práticas
arquitetônicas
tende
a
segmentar
o
meio
profissional
em
especialidades.
O
que
dificulta
uma
compreensão
da
profissão
como
um
todo.
Nesse
sentido,
a
teoria
“revela
aspectos
da
prática
arquitetônica
que
,
embora
não
sejam
úteis
ou
nem
sequer
corretos
para
a
construção
neste
momento,
podem
se
tornar
recursos
para
arquiteturas
futuras.”7(KRYSTASYKES,
2012)
A
participação
social
através
da
produção
do
espaço
construído
nas
cidades
e
a
relação
dos
habitantes
com
o
meio
ambiente
entraram
nessa
pauta
complexa
de
debates
dos
anos
90.
O
processo
construtivo
que
possibilita
as
configurações
espaciais
propostas
pelos
arquitetos
vem
acompanhar
esta
complexidade
com
suas
contradições
e
para
isso
os
arquitetos
recorrem
à
necessária
integração
de
áreas
profissionais.
5
Olafur
declarou
para
a
revistaSpiegel,
sobre
a
ida
para
Berlim:
"Isto
foi
muito
inspirador
porque
nunca
se
saberia
como
a
cidade
mudaria."
;
e
"Foi
um
período
muito
importante
para
mim.
Diferente
da
Escandinávia,
naquele
momento,
parecia
que
os
artistas
tinham
uma
voz
aqui
“,(seriam
ouvidos/considerados).
Berlim,
2011.
6
Como
exemplo,
o
texto
“Um
Novo
Pragmatismo?”de
John
Rajchman,
publicado
em
1997.
7
Citação
no
livro
“O
Campo
Ampliado
da
Arquitetura”
de
K.M.HayseA.
Kennedy,
“After
All,
or
the
End
of
“The
End
of””,
op.cit.,
p.7.
16
A Globalização
Arte
e
Arquitetura
sempre
estiveram
ligadas,
seja
pelos
objetos
e
espaços
que
produzem,
seja
pelos
conceitos,
símbolos
e
discursos
que
propagam.
Nas
transição
entre
os
séculos
XX
e
XXI,
ocorre
uma
diluição
de
fronteiras
disciplinares
e,
no
âmbito
da
cultura
digital,
perde-‐se
a
noção
de
fronteiras,
porisso:
"Além
da
espacialidade,
também
a
temporalidade
está
sujeita
a
uma
revalorização
constante
nas
malhas
da
globalização.
Michael
Hardt
e
Antonio
Negri
afirmam
em
Empire
que
a
história
está
suspensa
e
que
a
fase
da
globalização
se
caracteriza
por
uma
espécie
de
presente
eterno.
À
perda
da
orientação
espacial
após
o
desaparecimento
das
fronteiras
territoriais
corresponde
uma
perda
da
possibilidade
de
orientação
temporal
devido
à
8
falha
da
periodização
histórica
e
à
supressão
da
memória
histórica."
(ELIASSON,
2011.
p.39)
Dinamarquês
de
ascendência
islandesa,
Olafur
Eliasson
vive
o
momento
em
que
os
artistas
se
destacam
por
romperem
as
fronteiras
geográficas,
trabalhando
em
países
de
continentes
distintos.
Nesta
década,
de
2001
a
2011,
o
artista
realizou
trabalhos
no
Brasil,
Estados
Unidos,
Japão
e
Europa
com
colaboradores
locais.
A
equipe
do
Studio
de
OlafurEliasson,
em
Berlim,
é
composta
por
arquitetos,
cientistas
e
artistas.
Eles
estudam
profundamente
o
conceito
de
temporalidade,
no
qual
não
consideram
o
tempo
convencional,
mas
experimentado
por
cada
um
9
(OBRIST,2008.p.14).
Os
trabalhos
são
desenvolvidos
em
grupo
e
tratam
da
conceituação
e
execução,
interligando
teoria
e
prática.
Nem
todos
os
experimentos
realizados
no
Studio
tem
uma
finalidade
específica,
no
entanto,
lá
são
produzidos
objetos
industrializáveis,
projetos
de
edifícios,
assim
como
práticas
de
meditação
e
culinária.
A
troca
de
conhecimento
e
informação
em
diversas
áreas
é
o
principal
interesse
do
grupo.
Após
a
leitura
das
publicações
de
Eliasson
e
observada
sua
prática
profissional,
nota-‐se
que
a
presença
do
artista
no
papel
de
coordenador
e
empresário
é
mais
8
Texto
“SUPERFÍCIE
CRISTALINA”,
de
Philip
Ursprung,
no
livro
O
Studio
–
Uma
Enciclopédia.
Pág.39
9
Olafur
Eliasson
em
“The
Conversation
Series”,
com
Hans
UlrichObrist:
“Eu
acho
que
há
um
sentido
mais
forte
de
tempo
que
poderia
ser
descrito
não
como
passado
e
futuro,
mas
como
memória
e
expectativas
–
como
meu
tempo
e
seu
tempo."
Pág.
14
17
evidente
do
que
o
artista
como
colaborador
no
estúdio.
Esta
participação
empresarial
de
Eliasson
é
feita
através
de
feiras
de
livro,
como
autor
e
editor,
lançamento
de
carros,
seminários
em
todos
os
continentes
(de
áreas
diversas)
e
campanhas
sociais
na
África.
Olafur Eliasson e a Arquitetura
A
relação
do
trabalho
de
Eliasson
com
a
arquitetura
foi
visivelmente
percebida
na
obra
exposta
na
Manifesta
I
em
Rotterdam,
“onde,
de
repente,
há
um
link
com
Buckminster
Fuller
através
de
uma
estrutura
de
tenda
experimental”
em
colaboração
com
Einar
Thorsteinn,
segundo
constatado
por
Hans
Ulrich
Obricht.
Para
Eliasson,
aconteceu
naturalmente,
desde
cedo,
enquanto
trabalhava
com
“a
noção
de
espectador”
e
acreditava
que
a
peça
que
desenvolvia
seria
“um
campo
entre
o
espectador
e
a
máquina”.
Nesse
processo,
apareciam
as
questões:
“
o
que
é
o
espaço
realmente?
E,
mais
importante,
como
nos
orientamos
e
nos
entendemos
num
espaço?
Foi
assim
que
(Olafur)
veio
para
a
arquitetura,
ao
dar-‐se
conta
do
fato
da
arquitetura
não
ser
uma
concha,
mas
algo
que
se
ajusta
de
acordo
com
o
que
acontece
dentro
–
ou
fora
desse
problema”
(OBRIST,
2008)
O Quê Pesquisar sobre Olafur Eliasson?
Como
olhar
o
espaço
na
obra
de
Olafur
Eliasson
sob
os
aspectos
da
luz
e
do
movimento?
O
presente
estudo
busca
apresentar
obras
em
que
existem
interseções
entre
o
problema
do
espaço
na
arte
de
Olafur
Eliasson
e
soluções
espaciais
do
século
passado,
em
especial
nos
projetos
de
LázloMoholy-‐Nagy
e
JamesTurrell.
O
cuidado
em
expor
ideias
na
realização
de
trabalhos
e
não
apenas
belas
soluções
visuais
permeia
as
pesquisas
do
artista
dinamarquês
e
o
entrelaça
com
os
demais.
Os
resultados
visuais
fortes
são
parte
de
um
processo
de
envolvimento,
de
indagação,
não
meramente
uma
busca
pelo
belo.
18
Figura
-‐
Foto
de
"Beauty",
criada
em
1993.
Desde
o
início
da
carreira,
o
artista
propõe
instalações
com
elementos
que
se
movem
e
estimulam
os
visitantes
a
percorrer
o
espaço,
ocupá-‐lo.
Com
o
objetivo
de
proporcionar
uma
experiência
mais
instigante,
além
de
questionar
a
contemplação
estática
do
observador
diante
de
uma
bela
obra.
A
própria
obra
“Beauty”,
de
1993
,
que
marcou
a
carreira
de
Eliasson,
estabelece
o
questionamento
dos
padrões
estéticos.
O
arco
Iris
criado
pelo
vapor
de
água
existe
apenas
como
processo
cerebral
do
observador
e
altera
conforme
este
se
movimenta.
Contudo,
o
artista
acredita
“que
o
envolvimento
das
pessoas
no
trabalho
artístico,
abarcando
um
período
de
tempo
mais
longo,
fará
com
que
a
beleza
seja
mais
transparente,
que
seja
mais
relativa
e
negociável.”10
(ELIASSON,
2011)
Do
quê
se
está
falando
quando
se
emprega
o
termo
“negociável”?
Ao
quê
o
artista
se
refere
quando
trata
do
espaço
compartilhado?
Estas
são
algumas
perguntas
recorrentes
que
justificam
no
capítulo
2
o
estudo
do
pensamento
estético
presente
no
discurso
e
nas
suas
obras.
Entretanto,
antes
da
base
teórica
mais
abrangente
que
remete
ao
passado,
é
necessário
definir
o
conceito
de
espaço
com
o
qual
Eliasson
trabalha.
10
Olafur
Eliasson
em
entrevista
a
Philip
Ursprung
publicada
em
“Studio
OlafurEliasson
–
Uma
Enciclopédia”.
19
1.1 O Espaço de Olafur Eliasson: Movimento e Luz
O Conceito de Espaço em Arte
O
presente
estudo
de
caso
visa
entender
como
Olafur
Eliasson
produz
espaços
em
suas
obras
e
o
que
esses
espaços
transmitem.
Parte
deste
estudo
consiste
em
analisar
algumas
de
suas
obras
em
relação
à
Arte
Cinética
e
ao
movimento
californiano
Light
&
Space,
avaliando,
quando
possível,
a
presença
de
uma
interseção
entre
arte,
arquitetura
e
ciências,
entre
outras
áreas,
na
constituição
e
percepção
do
espaço.
Ambos
os
movimentos,
frise-‐se,
são
referências
declaradas
pelo
artista
dinamarquês
em
seus
livros
e
entrevistas.
A
relevância
desta
conjunção
–
Arte
Cinética
e
Light
&
Space–
está
no
entendimento
da
percepção
como
a
experiência
do
mundo
através
de
nossos
sentidos,
incorporada
na
situação
social.
Esta
preocupação,
central
no
trabalho
de
OlafurEliasson,
também
compõe
o
cerne
dos
movimentos
acima
mencionados
cujos
artistas
expandiram
o
suporte
físico
das
obras
para
o
meio
envolvente.
A Experiência do Espaço – Uma breve introdução
O
espaço
nessa
pesquisa
sobre
Olafur
Eliasson
não
é
apenas
percebido
ou
definido
diante
de
uma
obra,
mas
produzido
na
instalação
de
arte.
Não
se
trata
de
um
espaço
dado
a
receber
uma
obra
e,
sim,
do
espaço
que
surge
com
a
obra.
A
fusão
da
arquitetura
com
a
arte
na
apreensão
do
espaço
presenciado.
No
intuito
de
entender
a
importância
que
a
humanidade
atribui
ao
termo
espaço,
a
escritora
e
cientista
Margareth
Wertheim11
percorreu
suas
diversas
aplicações
em
cada
momento
histórico.
Desse
longo
percurso,
destaca-‐se
o
papel
do
espaço
na
nossa
civilização,
como
lugar
da
imaginação,
da
crença
e
do
sensível.
Nós
percebemos
o
mundo
em
que
vivemos
através
dos
sentidos.
Reconhecemos
o
espaço
na
relação
entre
as
coisas:
nas
distâncias,
nos
deslocamentos
e
fluxos
de
luz.
Portanto,
para
definir
melhor
o
espaço
no
contexto
em
que
Olafur
Eliasson
trabalha,
11
Autora
do
livro
“Por
Uma
História
do
Espaço
–
de
Dante
ao
ciberespaço”.
20
considera-‐se
espaço
um
produto
dos
corpos
que
ocupam.
Esse
é
o
mesmo
sentido
de
espaço
que
o
geógrafo
Henri
Lefebvre
defende:
Um
corpo
não
se
limita
a
estar
no
espaço,
ele
próprio
gera
espaço.
Isolados,
os
corpos
não
têm
significado
nem
existência.
Refletem
e
traduzem-‐se
nas
alterações
que
produzem
no
seu
milieu
ou
mesmo
no
seu
espaço.
(LEFEBVRE,
1974)
Assim
como
os
corpos
produzem
o
meio
envolvente,
as
pessoas
também
o
fazem.
Preocupado
com
a
interação
social,
Eliasson
faz
intervenções
que
operam
nos
intervalos
entre
as
coisas
e
as
pessoas
e
interpessoais.
O
artista
aplica
“a
arte
como
metodologia
para
integrar
crítica
e
ação”(ELIASSON,
2012).
Na
prática,
suas
obras
desorientam
fisicamente,
causando
uma
consciência
corporal
e
buscando
uma
atitude
diante
do
mundo.
Esta
prática
pode
ser
associada
ao
conceito
de
espaço
produtivo
na
arte.
A
produtividade
de
um
espaço
é
justamente
o
ponto
do
discurso
de
Eliasson
ao
qual
a
curadora
LisetteLagnado
se
ateve
no
texto
“O
que
torna
um
espaço
produtivo?”
do
catálogo
da
mostra
do
artista
(SESC
Pompéia,
2012).
Ela
questiona
de
forma
pertinente
“como
interrogar
o
espaço
no
âmbito
da
experiência
artística?”
A
curadora
reconhece
o
esforço
de
Eliasson
em
circunscrever
os
conceitos
sobre
espaço
oriundos
de
outros
campos
para
o
campo
da
arte,
quando
o
artista
tenta
aplicar
a
teoria
que
discute
nas
palestras
e
livros
em
suas
obras.
A
produção
do
espaço
coletiva
que
Eliasson
visa
acontece
graças
a
estímulos
óticos
individuais
e
o
compartilhamento
da
experiência
no
local.
Para
fazer
com
que
o
processo
ocorra
deste
modo,
cria
espaços
alternando
a
exibição
de
imagens,
estáticas
ou
em
movimento,
e
processos
óticos
que
constroem
estruturas
narrativas.
Nas
instalações
de
arte
em
que
usa
projeções,
há
uma
espacialidade
que
envolve
geometria
e
ótica.
Ele
recorre
a
narrativas
similares
a
de
filmes,
com
os
recursos
e
materiais
que
utiliza.
Portanto,
não
são
apenas
imagens,
mas
espaços
produzidos
com
estímulos
artísticos
e
a
imaginação
dos
visitantes.
Em
entrevista
concedida
ao
curador
JochenVolz,
o
artista
assumiu
que
o
maior
desafio
seria
criar
sistemas
de
discordância,
onde
o
consenso
não
seja
uma
evidência.
"Queremos
compartilhar
valores,
queremos
fazer
parte
do
desenvolvimento
intrínseco
21
da
sociedade.
Mas
também
é
importante
abarcar
a
coletividade,
o
que
nem
sempre
conduz
a
um
consenso."
Ou
seja,
nas
obras,
Eliasson
e
os
visitantes
entre
si
produzem
espaço
através
do
uso
de
luz
e
movimento
que
percebem
de
forma
subjetiva
e
muitas
vezes
discordantes.
São
espaços
físicos,
imaginários
ou
ambos,
criados
na
presença
de
luzes
que
se
movimentam
ou
provocam
nossa
movimentação.
É
inegável
que
a
iluminação
se
expandiu
na
arte
em
função
das
instalações,
que
demandaram
novas
tecnologias
para
enfatizar
o
processo
de
desmaterialização
do
objeto
de
arte,
desde
os
anos
1950.
Luz nas Instalações de Arte
Recursos
de
iluminação
perpassam
toda
a
História
da
Arte,
notadamente
a
pintura
clássica
que,
por
tradição,
orientou
as
demais
artes.
Na
arquitetura
–
a
arte
do
espaço
–
esta
premissa
se
manteve,
e
a
luz
continua
sendo
um
fator
importante
na
percepção
do
espaço.
Os
arquitetos
modernos
já
exaltavam
a
luz
como
reveladora
das
formas,
todavia
não
vislumbravam
os
caminhos
e
a
independência
no
espaço
que
tal
elemento
viria
a
adquirir
nas
futuras
instalações
de
arte.
Nos
primórdios
do
modernismo,
desde
1922,
em
sua
primeira
exposição
individual,
o
artista
húngaro
LászloMoholy-‐Nagy
enveredou-‐se
por
uma
pesquisa
do
espaço
na
qual
exaltava
a
utilização
da
luz
para
pintar
o
espaço,
substituindo
o
pigmento.
"Para
Moholy-‐Nagy,
o
essencial
estava
na
composição
formal,
no
jogo
com
intensidades
luminosas,
com
imagens
desfocadas,
insinuando
na
imagem
camadas
tridimensionais"(HEITLINGER,
2007).
Os
fotogramas
eram
seus
instrumentos
para
explorar
os
fenômenos
luminosos
fixados
no
papel
foto-‐sensível.
Estudava
efeitos
de
reflexão,
refração,
contrastes
fortes
e
sutis
gradações
de
cinza.
Os
modeladores
de
luz
eram
os
registros
de
objetos
colocados
sobre
o
papel
fotográfico.
22
Basicamente
os
trabalhos
de
Olafur
Eliasson
usam
projeção
de
imagens,
luzes
coloridas
ou
sombras.
Toda
a
sua
pesquisa
sobre
projeção
tem
forte
ligação
com
os
simples
experimentos
de
Moholy-‐Nagy,
sobretudo
as
obras
em
que
feixes
de
luz
passam
por
objetos
para
projetar
sombras
em
paredes.
Como
no
exemplo,
a
obra
Your
roundabout
movie
que
Eliasson
expôs
no
Galpão
Fortes
Vilaça,
em
São
Paulo.
A
luz
passava
por
um
objeto
pendente
em
movimento
giratório
e
a
sombra
projetava-‐se
numa
grande
tela
branca.
23
Figura
1
-‐
Your
roundabout
movie.
Foto:
Galpão
Fortes
Vilaça,
São
Paulo,
2013.
Os
experimentos
de
Moholy-‐Nagy
tinham
base
material
mais
simples,
os
recursos
utilizados
eram
apenas
tiras
de
papel
dobradas
e
coladas
em
formas
sinuosas
que
permitiam
a
observação
do
comportamento
da
luz
sobre
as
superfícies,
áreas
de
sombra
e
luz.
Os
efeitos
observados
inspiraram
obras
mais
complexas
do
artista
húngaro,
seus
alunos
e
seguidores.
Também
é
o
caso
da
obra
Life
is
lived
along
lines
onde
Eliasson
exibiu
objetos
metálicos
giratórios
que
projetavam
sólidos
de
revolução
em
suas
sombras.
24
Figura
2
-‐
A
obra
Life
is
lived
along
lines
que
Eliasson
exibiu
a
mostra
Your
Chance
Encounter,
em
2009.
Kanazawa,
Japão.
Entre
os
modeladores
de
luz
e
as
instalações
de
Moholy-‐Nagy
há
uma
congruência
de
investigações
em
escalas
variadas.
Muito
mais
do
que
clarear
algo,
à
partir
dos
experimentos
espaciais
de
Moholy-‐Nagy,
na
década
de
1930,
a
luz
em
movimento
passou
a
construir
a
obra
e
contaminar
o
ambiente,
configurou-‐se
numa
arquitetura
de
luz.
A
ocupação
do
espaço
por
obras
de
arte
modernas
ocorreu
de
vários
modos.
Entretanto,
a
ruptura
das
molduras
nas
pinturas
e
a
supressão
do
pedestal
nas
esculturas
caracterizaram
uma
nova
condição
na
arte.
Nesse
sentido,
Claire
Bishop(2006)
cita
a
descentralização
do
observador
nas
instalações
como
a
grande
subversão
da
perspectiva
clássica.
Com
isso
cria-‐se
uma
arte
condizente
com
a
multiplicidade
do
mundo,
onde
não
deve
predominar
o
olhar
colonizador
ou
machista,
que
era
representado
na
arte
tradicional.
25
"Não
há
um
modo
'correto'
de
olhar
para
o
mundo,
nem
um
lugar
privilegiado
do
qual
tais
julgamentos
possam
ser
feitos.
Como
consequência,
as
múltiplas
perspectivas
da
Instalação
visam
subverter
o
modelo
da
perspectiva
renascentista
porque
negam
ao
observador
um
lugar
ideal
a
partir
do
qual
deve-‐se
observar
a
obra."
(BISHOP,
2006.)
Movimento nas Instalações de Arte
O
conceito
“movimento”
coincide
com
a
instauração
da
modernidade,
sobretudo
no
inicio
do
século
XX.
Seja
nos
motores
das
máquinas,
nos
automóveis,
ou
nas
imagens
em
movimento
do
cinema,
nota-‐se
fortemente
o
movimento
na
iconografia
do
cotidiano
da
época.
Nas
primeiras
décadas
do
século
passado
o
mundo,
a
reboque
do
processo
de
industrialização,
em
cada
descoberta
tecnológica12ocorre
um
salto
no
modo
de
construir,
habitar
e
perceber
o
espaço
em
que
se
vivia.
Na
arte
moderna,
por
ocasião
da
exposição
Le
Mouvement,
na
galeria
parisiense
Denise
René,
o
termo
cinético13,
como
decorrência
do
fenômeno
descrito,
foi
efetivamente
incorporado
ao
vocabulário
artístico
em
1955.
Evento
em
que
artistas
de
diferentes
gerações
expuseram
seus
trabalhos
sempre
sob
a
mesma
premissa:
a
apropriação
das
novas
técnicas
e
possibilidades
que
esse
mundo
novo
industrializado
oferecia.
Entre
outros
artistas,
estavam
o
francês
Marcel
Duchamp
(nasc.1887-‐1968),
o
americano
Alexander
Calder
(nasc.1898-‐1976),
o
húngaro
Victor
Vasarely
(nasc.1908),
o
venezuelano
Jesus
Raphael
Soto
(nasc.1923),
o
israelense
YaacovAgam
(nasc.1928),
o
suíço
Jean
Tinguely
(nasc.1925)
e
o
belga
PolBury
(nasc.1922).
A
definição
dos
trabalhos
cinéticos
varia
entre
os
críticos
de
arte.Para
críticos
como
Frank
Popper
e
Guy
Brett,
prevalece
o
critério
do
movimento,
seja
real
ou
ótico.
Nesse
aspecto,
inclui-‐se
na
Arte
Cinética
a
participação
da
opart,
abreviação
de
opticalart,
na
qual
o
movimento
ótico,
ainda
que
ilusório,
pertence
ao
cinetismo.
12
Citar
fases
do
capitalismo
associadas
asdecobertas
-‐
Jameson
13
Na
tradição
artística,
é
possível
localizá-‐lo,
por
exemplo,
no
Manifesto
Realista
de
Antoine
Pevsner
(1886-‐1962)
e
Naum
Gabo
(1890-‐1977),
em
escritos
de
László
Moholy-‐Nagy
(1895-‐1946)
e
nas
páginas
da
revista
de
arte
argentina
Madí
(1946)
26
Na
Alemanha,
o
termo
Nova
Visão
designa
o
período
entre
as
décadas
de
1920
e
1930,
quando
a
fotografia
e
o
cinema
se
consolidaram
como
suportes
de
múltiplas
experimentações
e
especulações.
A
fotografia,
solidamente
estabelecida
em
publicações
comerciais,
ganhou
diferentes
propósitos,
como
a
expressão
artística,
a
representação
documental,
ou
a
propaganda
política.
A
inovação
maior
estava
em
romper
com
os
modos
de
representação
tradicionais
do
desenho
e
da
pintura.
Moholy-‐Nagy
voltou-‐se
para
a
fotografia
experimental,
reconhecendo
a
qualidade
criativa
alcançada
com
o
desenvolvimento
das
possibilidades
técnicas:
"A
salvação
da
fotografia
vem
da
experimentação.
O
artista
experimental
não
tem
ideias
preconcebidas
sobre
a
fotografia,
não
acredita
que
seja
apenas
como
é
conhecida
hoje,
exata
repetição
e
representação
da
visão
habitual.
Ele
não
pensa
que
os
erros
fotográficos
devam
ser
evitados
(...).
Ele
ousa
dar
o
nome
de
‘fotografia’
a
todos
os
resultados
que
possam
ser
alcançados
com
uma
câmara,
ou
sem
ela,
todos
os
resultados
obtidos
com
meios
fotossensíveis
químicos,
expostos
à
luz,
ao
calor,
ao
frio,
à
pressão,
etc.”
Com
a
invenção
do
cinematógrafo14,
a
arte
apropria-‐se
de
novas
técnicas,
enquanto
também
contribui
para
o
seu
aprimoramento.
O
cinema
muda
os
paradigmas
artísticos
ao
mesmo
tempo
em
que
desencadeia
processos
internos
cada
vez
mais
elaborados.
“A
técnica
não
necessariamente
implica
no
aparecimento
de
novas
formas
de
arte,
mas
contribui
criando
condições
para
sua
aparição”(FABIÃO,
2013).
Se
a
luz
sempre
“suscitou,
no
homem,
o
sentido
do
transcendental,
do
supremo,
do
recôndito
e
do
psicológico”
(POPPER,1968),
a
eletricidade
modificou
as
condições
de
vida
humana
e
impulsionou
a
criação
e
exaltação
da
potência
ilimitada
e
infalível
da
máquina.
Esta
passou
a
ser
entendida
como
um
“corpo
mecânico”,
no
sentido
em
que
se
tornava
a
extensão
dos
órgãos
humanos,
substituindo
com
a
máxima
eficiência
a
força
física
do
operário.
A
máquina,
a
luz
e
a
imagem
geraram
inúmeras
possibilidades
narrativas
para
o
cinema.
Além
do
que,
o
modo
como
ele
inclui
o
tempo
torna-‐o
uma
linguagem
diferenciada.
A
edição
das
imagens,
o
ritmo
de
projeção
e
seus
intervalos
são
alguns
14
O
cinematógrafo
reafirmou
as
experiências
fotográficas
de
Étienne
Jules
Marey
e
Edward
Muybridge.
27
dos
fatores
investigados
no
meio
audiovisual,
desde
os
anos
de
1920,
que
repercutem
nas
instalações
e
na
vídeo
arte.
No
caso
da
instalação
"Seu
Caminho
Sentido"
as
imagens
formam-‐se
com
o
caminhar
do
visitante.
A
experiência
do
espaço
se
desenvolve
ao
longo
de
um
caminho
em
direção
à
luz
sob
neblina,
portanto,
demanda
um
tempo
e
escolhas.
De
acordo
com
a
direção
de
deslocamento
escolhida,
a
imagem
gerada
pelos
corpos
em
contra-‐luz
seria
diversa.
Fotografia
1
-‐
Seu
caminho
sentido
(Yourfelt
path)
-‐
SESC
Pompeia.
São
Paulo,
2011.
Instalação
de
luz
com
uma
parede
revestida
de
lâmpadas,
ventiladores
e
fumaça
artificial.
28
1.2 Lázlo Moholy-Nagy – Imagem: Matéria e Objeto de
Investigação
Na
qualidade
de
artista
multimídia
Moholy-‐Nagy
desenvolveu
uma
enorme
gama
de
ideias
e
obras,
alternando
e
combinando
pintura,
cinema,
fotografia,
escultura,
design
e
fotogramas.
Interligou
tecnologia
industrial
com
arte
reforçando
os
aspectos
e
resultados
visuais
e
materiais,
tornou
os
avanços
técnicos
os
alicerces
de
seu
trabalho,
abalando
o
repertório
moderno.
Suas
teorias
pioneiras
transformaram
a
arte
num
campo
de
testes
para
novas
formas
de
expressão
e
sua
aplicação
em
todas
as
esferas
da
vida
moderna.
Nas
investigações
de
Moholy-‐Nagy
a
imagem
não
é
o
resultado
mas
a
matéria
e
o
objeto
da
investigação.
Para
o
artista
húngaro,
o
espaço
não
é
uma
realidade
objetiva
senão
uma
estrutura
da
consciência,
portanto
se
manifesta
em
tudo
o
que
se
faz.15(ARGAN,
1995:
74).
Um
dos
procedimentos
característicos
do
trabalho
de
Moholy-‐Nagy
consistia
em
romper
com
padrões
de
uso.
Em
relação
a
fotografia,
por
exemplo,
defendia
o
uso
da
câmara
num
sentido
desconcertante:
"Isto
é
aparente
nas
chamadas
fotografias
‘erradas’:
a
visão
de
cima,
de
baixo,
a
visão
oblíqua,
que
hoje
desconcerta
as
pessoas,
que
as
entendem
como
fotos
acidentais.
O
segredo
do
seu
efeito
é
que
a
câmara
reproduz
a
imagem
puramente
óptica
e
assim
apresenta
as
verdadeiras
distorções,
enquanto
o
olho,
junto
com
a
experiência
intelectual,
complementa
o
fenômeno
percebido
através
de
associações.
[…]
Assim,
na
Fotografia,
temos
a
mais
confiável
ajuda
para
o
começo
de
uma
visão
objetiva."
(MOHOLY-‐NAGY,
1927)
Inspirado
pelos
mestres
Moholy-‐Nagy
e
Lissitzky
(o
artista
russo
que
também
visava
desestabilizar
a
percepção
com
composições
fotográficas
realizadas
a
partir
de
ângulos
desorientadores)
Eliasson
considera
a
ruptura
de
nossos
hábitos
visuais
o
ponto
de
virada
para
a
liberdade
individual.
Com
esta
proposta,
o
artista
dinamarquês
também
acredita
que
contribui
para
a
retirada
do
observador
do
estado
anestesiante
cotidiano.
Ainda
tratando
do
exemplo
anterior,
na
obra
"Seu
Caminho
Sentido"
(
-‐
Seu
15
“O
espaço
já
não
pode
ser
pensado
como
entidade
geométrica
fechada,
mas
como
dimensão
da
vida,
que
os
modernos
sistemas
de
comunicação
estendem
ilimitadamente”
(ARGAN,
1995:
74).
29
caminho
sentido
(Yourfelt
path)
-‐
SESC
Pompeia.
São
Paulo,
2011.
Instalação
de
luz
com
uma
parede
revestida
de
lâmpadas,
ventiladores
e
fumaça
artificial.
e
2)
Eliasson
aplica
a
iluminação
e
a
fumaça
para
suprimir
os
limites
físicos
da
sala
de
exposição
e
criar
um
espaço
desnorteante,
no
qual
percebe-‐se
apenas
uma
forte
claridade
enevoada.
Nele
não
era
possível
enxergar
além
de
um
metro
de
distância,
o
que
tornava
a
caminhada
em
direção
ao
lado
escuro
da
sala
extremamente
desconfortável.
O
espaço
da
obra
fragilizava
a
confiança
nos
sentidos.
A Experimentação Estética Com Fontes De Luz
A
questão
primordial
da
pesquisa
de
Moholy-‐Nagy
pode
ser
aferida
pelo
modo
peculiar
como
ele
entendia
a
pintura
como
um
campo
aberto
de
possibilidades
baseado
no
comportamento
da
luz
sobre
os
materiais.
Uma
concepção
que
ultrapassava
o
conceito
de
pintura
restrito
a
técnicas
e
funções
provenientes
da
academia.
Para
esse
artista:
“Pintar
com
luz”
é
um
velho
capítulo
da
atividade
humana.
Nós
temos
documentos
sobre
iluminação
antiga
para
performances
teatrais
nas
quais
vidros
coloridos,
prismas,
etc.,
foram
usados.
[...]
Hoje,
na
luz,
da
fotografia
à
televisão,
nós
temos
mais
fontes
para
uma
nova
forma
de
arte
do
que
qualquer
outro
período
da
história
humana.
Porém
a
menos
que
aprendamos
a
limpar
nossas
mentes
das
velhas,
tradicionais
idéias
de
pintura,
nem
mesmo
o
trabalho
de
talentosos
pintores
alcançarão
o
nível
de
uma
criação
artística
genuína."(MOHOLY-‐NAGY,
1930)
30
Figura
3
-‐
"Turner
colour
experiments",
Eliasson.
Nov
2014.
Tate
Britain,
Londres.
/
Fig.
3b
Tela
de
William
Turner
entitulada
A
Manhã
Após
o
Dilúvio-‐
Moisés
Escrevendo
o
Livro
da
Genesis,
1843.
De
modo
similar
a
Moholy-‐
Nagy,
e
assumindo
suas
consultas
às
descobertas
sobre
luz
dos
pintores
tradicionais,
um
dos
trabalhos
mais
recentes
de
Olafur
Eliasson
resgata
a
pintura
como
meio.
Trata-‐se
de
uma
homenagem
ao
pintor
britânico
William
Turner
que
desenvolveu
uma
profunda
pesquisa
sobre
a
luz
na
pintura.
Desde
2003,
quando
expôs
Wheather
Project,
na
Tate
Modern,
Olafur
vem
sendo
questionado
sobre
a
influência
de
Turner.
Influenciado
pelas
máquinas
do
início
do
século
XX
e
seus
invólucros
metálicos,
o
artista
húngaro
conduziu
uma
intensa
pesquisa
de
materiais.
No
entanto,
a
leitura
atenta,
confrontando
os
escritos
de
Moholy-‐Nagy
durante
a
fase
da
BAUHAUS
com
os
seus
textos
posteriores,
apresenta
uma
diminuição
no
encantamento
com
as
máquinas.
Em
cada
um
dos
momentos,
ficam
evidentes
duas
posturas
diversas.
A
profissionalização
do
design,
assumindo
a
incorporação
da
máquina
como
tema
e
instrumento
durante
a
BAUHAUS.
E,
posteriormente,
em
1947,
em
Chicago,
com
o
desenho
industrial
já
estabelecido,
a
retomada
das
atividades
manuais
como
fundamento
da
atividade
do
designer
aliadas
às
ferramentas
industriais.
Este
último
momento,
quando
Moholy-‐Nagy
declara
que:
"Os
olhos
do
artista
gravam
vacas
e
dínamos,
árvores
e
arranha-‐céus
igualmente
bem.
Eles
representam
matéria-‐prima
visual
para
os
artistas.
E
esta
é
a
verdadeira
questão.
O
objetivo
real
é
a
síntese
socio-‐
biológica."(MOHOLY-‐NAGY,
1947)
Não
chega
a
ser
uma
contradição,
pois
a
posição
tomada
por
Moholy-‐Nagy
em
defender
a
função
da
arte
tanto
biológica
quanto
social
-‐
individual
e
coletiva
-‐
é
abrangente.
Ambas
práticas
profissionais
aliadas
cabem
nesse
discurso
que
visa
avanços
sociais
conquistados
com
o
trabalho,
produção
manual
aliada
ao
incremento
da
máquina,
mas
não
um
retrocesso
à
manufatura.
31
Figura
4
-‐
Fotografias
de
Moholy-‐Nagy
publicadas
no
livro
Painting
Photography
Film,
1927.
O
senso
estético
do
trabalho
de
Moholy-‐Nagy
estava
de
fato
muito
ligado
à
observação
dos
padrões
naturais
(Figura
4).
A
geometria
das
formas
orgânicas
que
o
artista
fotografava
influenciava
nas
imagens
que
produzia,
na
repetição
de
padrões.
Seu
interesse
em
racionalizar
a
observação
da
natureza
e
utilizar
as
máquinas
em
prol
da
humanidade
compõem
dois
lados
da
mesma
moeda,
pois
no
trabalho
de
Moholy-‐
Nagy
não
havia
uma
separação
rígida
entre
áreas
de
interesse
e
ambos
foram
detalhados
em
seus
livros.
Acima
de
tudo
estaria
a
função
social
da
arte.
Na
publicação
póstuma
de
1947,
Visions
of
Motion,
encontra-‐se
o
que
Moholy-‐Nagy
escreveu
sobre
a
função
da
arte:
"A
arte
tem
duas
faces,
a
biológica
e
a
social,
uma
sobre
o
indivíduo
e
a
outra
sobre
o
grupo.
Ao
expressar
validades
fundamentais
e
problemas
comuns,
a
arte
pode
produzir
um
sentimento
de
coerência.
Esta
é
a
função
social
que
conduz
a
uma
síntese
cultural
assim
como
uma
continuação
da
civilização
humana."
(MOHOLY-‐NAGY,
1947)
A Experiência Na Bauhaus
Como
professor
na
Staatliches
Bauhaus
em
Weimar
e
Dessau
(1923–1928)
sob
a
direção
de
Walter
Gropius,
Moholy-‐Nagy
foi
responsável
pelo
curso
preliminar
e
pela
oficina
de
metais.
Desde
1920,
quando
o
artista
húngaro
muda-‐se
para
Berlim,
inicia
seus
trabalhos
construtivistas
e
manifesta
sua
posição
a
favor
das
vanguardas
32
racionalista.
Logo
nos
anos
seguintes,
produz
obras
independente
de
tendências,
“seu
próprio
construtivismo”.
“Foram
todas
as
interpretações
pessoais
de
Moholy-‐Nagy
das
atitudes
construtivistas
que
contribuíram
para
a
emergência
do
reconhecimento
de
um
estilo
Bauhaus
[de
desenho
industrial].”(NAYLOR,
1968).
A
luz
e
o
movimento
constituem
duas
questões
centrais
para
Moholy-‐Nagy
e
Olafur
Eliasson.
São
evidentes
tanto
nos
objetos
giratórios
como
em
toda
a
produção
de
fotogramas
e
filmes
de
Moholy-‐Nagy.
O
artista
visava
a
concretização
do
fenômeno
da
luz,
“peculiar
ao
processo
fotográfico
e
a
nenhuma
outra
invenção
tecnológica”16.
O
uso
da
luz
na
fotografia
inspirava
o
artista
e
o
instigava
a
pesquisar,
diferente
de
Olafur
Eliasson
que
já
encontrou
diversas
pesquisas
realizadas
sobre
fotografia,
nos
anos
1990.
A
luz
e
o
movimento
em
obras
de
Eliasson
apresentam
um
lastro
de
referências
históricas
dos
artistas
multimídia
anteriores.
Sua
pesquisa
pauta-‐se
mais
na
informação
que
determinado
material
pode
transmitir,
nas
reações
que
o
público
pode
ter,
no
comportamento
diante
das
diversas
mídias
que
o
artista
trabalha.
Como
foi
dito
inicialmente,
Moholy-‐Nagy
também
era
um
artista
que
explorava
diversas
técnicas
artísticas
e,
além
da
vasta
pesquisa
mencionada
em
fotografia,
produziu
vídeos
de
suas
instalações.
A Mostra Retrospectiva de Frankfurt.
Dentre
os
relatos
da
mostra
retrospectiva
de
Moholy-‐Nagy,
realizada
em
2009,
na
cidade
alemã
de
Frankfurt,
pode-‐se
destacar
seu
olhar
sobre
o
movimento
das
cidades
–
os
meios
de
transportes,
os
operários,
crianças
jogando,
os
marginalizados,
etc.
–
em
seus
filmes
sobre
Berlim
ou
Paris,
durante
os
anos
1920,
filmados
de
ângulos
novos
para
a
época.17
O
que
faz
lembrar
o
trabalho
de
Olafur
Eliasson,
Inner
City
Out18,
em
Berlim
(2011),
quando
o
artista
elegeu
meios
de
transporte
e
pontos
da
cidade
para
dispor
espelhos.
Espelhos
que
operavam
como
lentes
para
se
ver
na
cidade
de
ângulos
inusitados.
16
Moholy-‐Nagy
escreveu
no
catálogo
de
sua
exposição
em
1923.
17
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/espectaculos/6-‐15781-‐2009-‐10-‐27.html
18
O
nome
original
da
exposição
de
Eliasson
em
alemão
Innen
Stadt
Aussen
significa
"do
centro
para
fora",
mas
há
mais
um
trocadilho
Stadt
também
significa
cidade.
Portanto,
entende-‐se
algo
como
levar
a
cidade
para
fora,
ou
seja
extrapolar
o
espaço
do
museu.
33
Figura
5
-‐
Inner
City
Out
de
Olafur
Eliasson.
Berlim,
2011.
A
mostra
em
Frankfurt
apresentou
cerca
de
170
obras
de
Moholy-‐Nagy
–
pinturas,
fotografias
e
fotogramas,
esculturas
e
filmes,
bem
como
um
palco
montado,
desenhos
e
projetos
tipográficos
–
a
retrospectiva
abrangia
todas
as
fases
da
sua
obra.O
mesmo
termo
que
designa
os
exercícios
indicados
aos
alunos
com
papel
e
dobras,
ocasionando
sombras
-‐
Modulador
de
Luz
e
Espaço-‐
é
também
a
grande
obra
cinética
do
artista,
Proposta
para
um
Palco
Elétrico.
34
Figura
6
-‐
Modulador
de
Luz
e
Espaço,
1922/1930.
Lászlo
Moholy-‐Nagy.
Em
1930,
a
peça
é
exposta
em
Paris
no
Werkbund
Alemão
com
a
ajuda
do
arquiteto
húngaro
Istvan
Seboek.
Resulta
no
filme
“Jogo
de
Luzes
Preto
–
Branco
–
Cinza”
que
registra
os
reflexos
e
projeções
modulados
pelo
complexo
aparato
giratório,
composto
de
chapas
perfuradas,
entre
outros
elementos
metálicos.
Mais
do
que
um
projeto,
a
elaboração
teórica
e
o
aprimoramento
de
uma
década
deste
aparato,
entre
1922
e
1930,
sintetiza
a
pesquisa
de
Moholy-‐Nagy
e
aplica
o
método
educativo
experimental
de
toda
sua
carreira.
Dentre
os
outros
filmes
que
participou
está
"Things
to
Come"
de
H.G.Wells
e
A.Korda.,
em
1936,
em
que
utiliza
materiais
similares
ao
do
Modulador
de
Luz
e
Espaço.
35
Figura
7
-‐
Efeitos
especiais
para
o
filme
"Things
to
Come"
de
H.G.Wells
e
A.Korda.
Moholy-‐Nagy,
1936.
As Publicações e O Ensino do Design.
A
influência
fundamental
de
Moholy-‐Nagy
sobre
os
artistas
posteriores
deveu-‐se
à
sua
preocupação
em
transmitir
seu
conhecimento,
seja
em
aulas
ou
em
publicações.
Através
desses
recursos,
o
aprendizado
se
reafirma
e
os
experimentos
ficaram
registrados.
Olafur
Eliasson
costuma
seguir
este
método,
usa
todos
os
meios
de
comunicação
para
propagar
seu
pensamento
e
levantar
discussões
sobre
o
espaço.
Além
dos
76
livros
divulgados
no
site
oficial
do
artista,
no
dia
04
de
dezembro
de
2014,
disponibilizou-‐se
em
rede
social
(Twitter)
para
debater
online
a
exposição
que
estava
acontecendo
na
Tate
Gallery,
em
Londres.
Em
1922,
guardadas
as
proporções
dos
meios
de
comunicação
para
a
época,Moholy-‐Nagy
escreveu
o
Manifesto
da
Escultura
Cinética:
36
"A
construtividade
vital
é
o
corpo
da
vida
e
o
princípio
de
todo
desenvolvimento
humano
e
cósmico.
Traduzido
para
a
arte,
hoje
isto
significa
a
ativação
do
espaço
por
meio
de
sistemas
de
forças
dinâmico-‐
construtivos,
isto
é,
construção
de
forças
dentro
umas
das
outras
que
são
na
verdade
tensionadas
no
espaço
físico
e
sua
construção
dentro
do
espaço,
19
também
ativa
como
força(tensões)."
(MOHOLY-‐NAGY
e
KEMENY,
1922)
Por
sua
vez,
a
preocupação
documental
de
Moholy-‐Nagy,
decorreu
dos
manifestos
que
o
precederam.
Como
foi
o
caso
do
Manifesto
Realista
publicado
por
Naum
Gabo
e
seu
irmão
Pevsner,
em
1920,
uma
sua
referência
das
mais
importantes,
que
demarcava
novos
procedimentos
na
arte.
O
engajamento
com
o
momento
histórico
enfatizava
uma
nova
visão
da
arte
coerente
com
a
vida
pós-‐industrialização
nas
cidades.
"Nós
condenamos
o
volume
como
uma
expressão
de
espaço.
Tampouco
o
espaço
pode
ser
medido
por
um
volume
quanto
um
líquido
pode
ser
por
uma
medida
linear.
O
que
o
espaço
pode
ser
senão
uma
profundidade
impenetrável?
Profundidade
é
a
única
forma
pela
qual
pode-‐se
expressar
o
espaço.
Nós
rejeitamos
a
massa
física
como
um
elemento
de
plasticidade.
Todo
engenheiro
sabe
que
a
força
da
resistência
e
da
inércia
de
um
objeto
não
depende
da
sua
massa.
Um
exemplo
basta:
trilhos
de
ferrovias.
Nós
anunciamos
que
esses
elementos
de
arte
têm
suas
bases
num
ritmo
dinâmico."(GABO,
1920
-‐
extrato
do
Manifesto
Realista).
No
período
que
Moholy-‐Nagy
participou
como
entusiasta
e
propagador
das
idéias
de
educação
experimental,
lecionou
no
curso
inicial
e
foi
responsável
pela
oficina
de
metais
da
escola
Bauhaus
20por
que
Bauhaus
em
caixa
alta?
Na
qualidade
de
nome
de
uma
escola,
você
bem
pode
empregar
o
itálico.
Um
procedimento
a
ser
adotado
para
todos
títulos
de
obras,
escolas
e
mesmo
conceitos.
Foi
também
o
período
em
que
publicou
o
livro
"Pintura
Fotografia
Filme"(1925).
Trata-‐se
de
um
ensaio
escrito
exclusivamente
por
Moholy-‐Nagy
que
costumava
participar
de
publicações
coletivas.
Passo-‐a-‐passo,
o
autor
introduz
o
leitor
ao
universo
da
pintura
com
luz,
ao
explicar
que
os
recursos
disponíveis
na
época
indicavam
o
início
de
19
Tradução
do
texto
original
em
inglês"Translated
into
art,
today
this
means
the
activation
of
space
by
means
of
dynamic-‐constructive
systems
of
forces,
that
is,
construction
of
forces
whitin
one
another
that
are
actually
at
tension
in
physical
space
and
their
construction
whitin
space,
also
active
as
force(tensions).”
(MOHOLY-‐NAGY
e
KEMENY,
1922)
20
Em
1924,
Moholy-‐Nagy
ingressou
como
professor
na
BAUHAUS
WEIMAR.
No
ano
seguinte,
a
escola
foi
transferida
para
DESSAU,
onde
ficou
instalada
até
1928.
37
possibilidades
artísticas
jamais
pensadas,
e
ainda
seriam
precários
para
atender
a
todo
o
potencial
criativo
que
geravam.
A
nota
do
editor
H.M.Wingler
destaca
que
este
livro,
por
ser
mais
especializado
que
os
demais,
torna-‐se
mais
duradouro.
Na
verdade,
em
contramão
a
prática
de
experimentação
livre
aplicada
na
escola,
o
livro
assemelha-‐se
a
um
método
pedagógico
e
orienta
determinados
procedimentos.
Figura
8
-‐
Página
do
livro
Pintura
Fotografia
Filme.
Moholy-‐Nagy,
1925.
Exemplo
do
método
de
ensino
utilizado,
definindo
conceitos
bem
resumidamente.
Algo
semelhante
ocorre
com
os
livros
de
Olafur
Eliasson
que
preza
pela
liberdade
artística
e
acaba
caindo
nas
armadilhas
do
método,
quase
pedagógico,
em
que
propaga
as
suas
ideias.
No
caso
do
livro
Studio-‐Enciclopédia,
uma
obra
coletiva
organizada
por
Anna
Ergsen-‐Pedersen
e
Olafur
Eliasson,
que
separa
por
vocábulos
a
produção
do
Estúdio
em
Berlim,
ocorrem
redundâncias
e
há
uma
pretensão
de
transmitir
o
conteúdo
de
forma
dogmática.
Quando
aponta
as
fontes
primárias
do
conhecimento
discutido
por
Eliasson,
o
livro
direciona
para
outras
leituras,
muito
mais
esclarecedoras.
38
Em
1937,
a
implantação
da
nova
escola
da
Bauhaus,
em
Chicago,
encontra
um
ambiente
diferente
da
escola
inicial,
onde
havia
sido
necessário
criar
uma
profissão,
formar
designers.
O
momento,
o
local
e
os
desafios
eram
outros.
Moholy-‐Nagy
descreve
a
situação
no
livro
The
New
Vision,
em
1938:
“[…]Esta
abordagem
à
função
e
à
industria,
hoje,
não
é
mais
um
princípio
revolucionário,
mas
um
padrão
absoluto
para
todo
designer.
Por
esta
razão,
nós
não
poderíamos
construir
numa
nova
Bauhaus
uma
comunidade
criativa
de
novo,
mas
somente
um
sistema
rígido
de
ensino."
O
livro
"The
New
Vision"
(1938)
abarca
todo
o
vasto
repertório
didático
de
Moholy-‐Nagy.
Com
clareza,
o
mestre
pontua
seus
conceitos,
transmitidos
aos
alunos
propondo
experimentações
artísticas,
enquanto
ousa
aplicar
um
novo
método
educativo
no
também
recente
campo
do
Design.
Figura
9
-‐
Legenda
original
do
livro
Vision
in
Motion:
"Instituto
de
Design.
Esculturas
manuais.
Como
pedras
na
areia,
apresentando
infinitas
variedades,
esculturas
manuais
são
similarmente
concordantes
aos
olhos
e
mãos
nos
seus
contornos
fluidos
e
formas
agradáveis.
De
modo
geral,
Moholy-‐Nagy
dedicou
sua
pesquisa
à
pintura,
continuamente,
ao
longo
de
sua
vida.
Entendendo
suas
instalações
como
pinturas
no
espaço.
O
que
funda
39
um
campo
de
atuação
na
arte:
os
princípios
da
instalação,
criação
artística
do
espaço
sem
função
arquitetônica,
nem
cenográfica.
Figura
10
-‐
Modulador
de
Luz
e
Espaço,
1922/1930.
Lászlo
Moholy-‐Nagy.
O
conhecimento
adquirido
em
experimentar
interferências
de
objetos
-‐sombras
e
reflexos-‐
sob
iluminação
repercutiu
em
todas
as
formas
de
trabalho
do
artista.
Ainda
na
área
da
fotografia,
Moholy-‐Nagy
registrou
a
imagem
de
pessoas
por
trás
de
40
venezianas
em
1937
(Figura
11),
o
que
apresenta
mais
um
dado
inovador
para
a
época,
a
captação
de
imagens
de
outro
ambiente,
sombras
projetadas
por
luzes
indiretas.
Algo
muito
explorado
no
início
da
carreira
de
James
Turrell
na
Califórnia
dos
anos
1970,
outra
importante
referência
de
Eliasson,
como
já
foi
dito.
Figura
11
-‐
Fotografia
de
Moholy-‐Nagy.
Vale
ressaltar
que
todo
o
interesse
de
Moholy-‐Nagy
por
mecanismos
estava
relacionado
a
curiosidade
por
funções
biológicas,
fossem
descobertas
óticas,
neurológicas
ou
mesmo
biotécnicas.21
Nisto,
também
há
semelhança
com
o
interesse
de
Eliasson
na
biologia.
Este
especialmente
interessado
na
visão
unificadora
da
biologia
que
coloca
o
indivíduo
como
parte
de
um
todo
composto
pelos
seres
vivos,
presente
nos
textos
de
Francisco
Varella.
21
Segundo
a
“biotécnica”do
cientista
Raoul
Francé
citado
por
Moholy-‐Nagy
em
“Do
Material
à
Arquitetura”,
p.60:
“o
homem
ainda
pode
se
assenhorar
das
forças
naturais
em
uma
medida
totalmente
diferente
da
que
até
agora
foi
conseguida.
[...]
Cada
arbusto,
cada
arvore
pode
ensiná-‐lo,
aconselhá-‐lo,
indicar
a
ele
invenções,
aparelhos,
disposições
técnicas
sem
número.”
41
Figura
12
-‐
Olafur
Eliassson.
Galpão
Fortes
Vilaça,
São
Paulo,
2013.
A
multiplicação
das
sombras
é
um
experimento
que
Olafur
Eliasson
elabora
mais
a
cada
tentativa.
Na
mostra
que
esteve
no
Galpão
Fortes
Vilaça
em
São
Paulo(2011),
a
obraYour
Uncertain
Shadow(Sua
sombra
incerta)
chamou
a
atenção
por
não
ter
a
variação
de
cores
que
encontramos
frequentemente
nas
obras
com
sombras
de
Eliasson.
Na
passagem
do
visitante,
entre
os
refletores
e
uma
grande
tela
branca,
surgia
um
gama
de
sete
sombras
que
variava
conforme
seus
movimentos.
A
grafia
das
42
silhuetas
em
escalas
de
cinza
ficou
enfatizada
e
os
visitantes
experimentavam
ver-‐se,
ou
melhor,
ver
suas
sombras
se
multiplicando
ou
unindo-‐se
a
variadas
distâncias.
A
extração
da
cor
na
fotografia
realça
a
textura
e
detalhes
das
imagens
são
percebidos.
A
gama
de
cinzas
faz
com
que
as
nuances
de
volumes
e
sombras
não
se
perca.
Moholy-‐Nagy
experimentou
esses
fatores
no
desenvolvimento
de
seus
trabalhos.
Figura
13
-‐
Cronologia
de
Moholy-‐Nagy
-‐
quadro
desenvolvido
para
esta
pesquisa.
A
publicação
póstuma
Visions
of
Motion
(1947)
conclui
a
série
de
escritos
com
certas
repetições
necessárias
e
enfáticas
dos
critérios
de
ensino
e
premissas
artísticas
adotadas
por
Moholy-‐Nagy.
Na
edição
em
que
há
um
anexo
pós-‐escrito
por
Otto
Stelzer22,
o
leitor
nota
o
fascínio
de
Moholy-‐Nagy
pelos
registros
de
luz
dos
fotogramas,
literalmente
como
“espaço-‐tempo-‐continuum”.
A
conclusão
do
texto
traz
uma
visão
emotiva
de
um
artista
notoriamente
racional:
22
“Moholy-‐Nagy
and
His
Vision”,
anexo
pós-‐escrito
por
Otto
Stelzer
do
livro
"Vision
in
Motion".
43
“A
tarefa
do
artista
hoje
é
penetrar
nos
ainda
desconhecidos
defeitos
da
nossa
função
biológica,
para
investigar
os
novos
campos
da
sociedade
industrial
e
traduzir
as
novas
descobertas
na
corrente
das
nossas
emoções."(MOHOLY-‐NAGY,
1947).
Essa
descrição
que
envolve
emoção
e
pesquisa
científica
serviria
para
as
atividades
de
Olafur
Eliasson.
Quando
promove
o
engajamento
do
público
através
de
emoções,
Eliasson
o
faz
com
artifícios
científicos,
recursos
de
ótica,
física
e
química.
Utiliza
desde
o
conhecimento
científico
remoto
aos
experimentos
mais
recentes
e
costuma
fazer
do
seu
espaço
de
trabalho
um
grande
laboratório.
1.3 James Turrell – Sem Imagem, Sem Objeto, Sem Foco
O
longo
período
de
carreira,
desde
os
anos
1960,
e
a
contínua
experimentação
de
James
Turrell
com
luz
e
espaço,
faz
de
sua
atuação
na
arte
que
lida
com
questões
da
tecnologia
industrial
imprescindível
nesta
pesquisa
sobre
Olafur
Eliasson.
Isso
explica
a
ênfase
dada
aos
trabalhos
de
Turrell
neste
capítulo
selecionados
por
definirem
sua
arte
e
por
convergirem
com
as
investigações
de
Eliasson.
A
formação
acadêmica
de
James
Turrell
indica
os
temas
investigados
pelo
artista,
unindo
seu
conhecimento
da
psicologia
no
estudo
da
percepção
do
espaço.
Formou-‐se
bacharel
em
Psicologia
no
Pomona
College,
em
1965,
e
no
ano
seguinte,
graduou-‐se
em
Arte
na
Universidade
da
California.
Posteriormente,
em
1973,
concluiu
seu
mestrado
em
Arte
na
Claremont
Graduate
School.
Em
seus
trabalhos,
James
Turrell
expõe
ambiente
vazios
de
objetos,
ocupados
pela
luz.
Uma
premissa
adotada
desde
cedo
na
sua
carreira,
quando
abandonou
os
objetos
físicos
e
começou
a
trabalhar
com
os
componentes
básicos
da
visão.
Numa
operação
mínima,
Turrell
começou
seu
processo
projetando
luz
no
seu
estúdio,
quando
fez
a
série
Mendota
Stoppages
(Figura
14
-‐
MendotaStoppages,
1970..
44
Figura
14
-‐
MendotaStoppages,
1970.
Em
novembro
de
1966,
Turrell
alugou
duas
salas
no
Hotel
Mendota,
um
prédio
de
esquina
em
Ocean
Park
–
Califórnia,
onde
viveu
e
trabalhou
até
1974.
Quando
entrou
nesse
prédio
o
artista
vedou
todas
as
entradas
de
luz.
As
sensações
provocadas
por
restrições
físicas
-‐
espaços
confinados,
escuro
ou
pouca
luz
-‐
pesquisadas
no
âmbito
da
psicologia23
foram
aplicadas
no
trabalho
artístico.
No
decorrer
do
tempo,
começou
a
desbloquear
algumas
janelas
e
a
experimentar
as
interferências
da
luz
externa.
Mendota
Stoppages
é
justamente
esta
série
de
peças
interrelacionadas
de
luz
e
espaço.
Neste
momento,
Turrel
começa
a
produzir
“espaços
sensoriais”
(sensing
spaces
/
responsive
spaces)
que
interagem
de
modo
direto
com
os
espaços
adjacentes.
Muito
do
pensamento
de
Turrell,
como
a
intenção
de
trabalhar
as
tensões
entre
os
espaços,estava
presente
desde
suas
primeiras
obras.
23
Área
de
pesquisa
chamada
nos
Estados
Unidos
de
Psicologia
Experimental.
45
O Movimento Artístico na Califórnia do anos 1970
Em
1966,
Turrel,
Robert
Irwin
e
Doug
Wheeler,
os
integrantes
do
Light
&
Space,
iniciaram
as
pesquisas
sobre
luz
e
espaço
que,
mais
tarde,
influenciariam
Olafur
Eliasson.
Inspirados
pela
forte
luz
natural
na
paisagem
da
Califórnia,
começaram
a
estudar
efeitos
de
luz,
visando
a
percepção
sensorial.
Pesquisavam
tanto
como
as
variadas
superfícies
transmitiam
ou
recebiam
a
luz,
quanto
os
tipos
de
fonte
de
luz,
como,
por
exemplo,
a
intensidade
e
variação
de
tons
conforme
a
luz
solar.
Usavam
o
conhecimento
técnico
para
acessar
as
propriedades
da
atmosfera
terrestre
e
simular
nuances
gradativas
de
luzes
coloridas,
para
construir
espaços
de
luz.
O
uso
de
materiais
novos
na
arte
e
a
desmaterialização
do
objeto
de
arte
caracteriza
a
arte
do
grupo.Robert
Irwin,
por
exemplo,
criou
numerosas
instalações
nas
quais
a
luz
natural
em
constante
mudança
–
era
frequentemente
filtrada
por
transparências
–
e
usada
para
redefinir
o
espaço.
A
sintonia
entre
os
integrantes
do
movimento
Light&Space
está
no
sentido
de
observar
e
aproveitar
as
características
que
cada
espaço
oferece.
James
Turrell
e
Robert
Irwin
isolam
a
luz
para
destacar
sua
presença
e
potência.
"Eu
tentei
responder
diretamente
à
qualidade
de
cada
situação
em
que
estava,
não
mudá-‐la
inteira
num
meio
novo
ou
ideal,
mas
atender
diretamente
à
natureza
do
modo
que
já
era.
Como
é
isso
de
um
espaço
poder
vir
a
ser
considerado
vazio
quando
ele
é
cheio
de
eventos
reais
e
táteis?"
(IRWIN,
1977)
Arte, Psicologia e Tecnologia.
O
interesse
de
Turrell
em
pesquisar
luz
vem
da
psicologia,
dos
estudos
de
percepção
visual,
diferente
da
maioria
dos
artistas
que
buscam
o
conhecimento
de
luz
proveniente
da
pintura
clássica.
Ao
agregar
o
conhecimento
de
psicologia
aos
experimentos,
James
Turrell24
se
destacou
dos
demais
integrantes
desse
grupo
de
artistas.
24
“James
Turrell”
museu
Guggenheim
de
Nova
Iorque,
jul
–
set
2013.
46
Além
disto,
a
cada
obra,
a
produção
de
James
Turrell
alinha-‐se
com
as
mais
novas
invenções
de
iluminação
–
sistemas
de
controle,
qualidade
de
cor,
durabilidade
–
para
se
aproximar
dos
fenômenos
óticos
que
verificamos
diariamente
nos
ambientes
abertos,
na
abóboda
celeste.
O
que
faz
todo
sentido,
se
pensarmos
na
provocação
que
o
artista
nos
faz:
perceber
nosso
entorno
e
entender
que
o
mundo
que
conhecemos
e
sentimos
depende
do
modo
como
o
vemos.
Da
mesma
maneira,
a
observação
dos
fenômenos
de
luz
natural
e
de
como
atuam
no
aparelho
ótico
humano
é
parte
do
que
se
investiga
no
Studio
de
Olafur
Eliasson.
Ele
capta
imagens
e
avalia
a
fotometria,
estuda
espectros
de
cores
na
iluminação
natural
e
reproduz
nos
trabalhos.
O
processo
criativo
e
investigativo
dos
trabalhos
é
exibido
pelo
artista
como
parte
de
uma
cadeia
de
procedimentos
e
testes
que
compõem
o
fazer
artístico.
Na
internet,
Olafur
Eliasson
disponibiliza
imagens
dolaboratório
e
dos
experimentos
no
seu
Studio
de
Berlim.
(Figura
15)
Figura
15
-‐
Experimento
spectroscópico.
Studio
Olafur
Eliasson,
Berlim,
2013.
47
Os intervalos de tempo
Nas
três
décadas,
entre
a
Arte
Cinética
e
os
artistas
do
Light
&
Space
uma
série
de
obras
e
textos
sobre
percepção
visual,
psicologia
e
espaço,
sobretudo
as
idéias
da
Gestalt
-‐
psicologia
da
forma
-‐
que
uniam
percepção
visual
e
psicologia,
e
foram
proliferadas
pela
Bauhaus
nas
primeiras
décadas
do
século
XX.
O
pensamento
de
Freud
também
influenciou
fortemente
a
geração
de
Turrell,
nascida
no
pós-‐
guerra,
que
viveu
grandes
mudanças
comportamentais
na
décadas
de
60
e
70.
Na
Bauhaus,
em
seus
primeiros
anos,
vigoravam
as
idéias
de
Itten25
sobre
o
espaço
que
reuniam
matéria
e
forma
em
igualdade,
próximas
de
Kant
e
das
questões
da
Física
moderna
que
entendem
o
espaço
em
conjunto
com
o
tempo.
"Assim
o
movimento,
o
gesto
criador,
seria
a
manipulação
do
espaço-‐tempo
pelo
artista,
como
em
Kant,
o
espaço
é
a
articulação
de
corpos.
A
percepção
seria
o
meio
inicial
do
homem
de
estabelecer
estas
relações,
criando
a
realidade."
(MENDES,
Rodrigo.
2014)
A
trajetória
própria
de
cada
um
dos
artistas
estudados,
por
mais
que
tenham
pontos
em
comum,
expõe
questões
particulares.
Para
estudar
Olafur
Eliasson,
a
pesquisa
simultânea
sobre
James
Turrell
e
Moholy-‐Nagy
leva
à
analogia
com
as
forças
centrípeta
e
centrífuga,
dentro
de
um
mesmo
movimento
giratório.
Ambos
tratam
do
mesmo
universo,
o
espaço
configurado
na
construção
de
luz.
No
entanto,
as
ênfases
condizentes
ao
momento
histórico
em
que
cada
um
viveu
os
tornam
muito
diferentes
entre
si.
Moholy-‐Nagy
trabalhou
entre
1922
e
1946,
quando
faleceu,
como
um
grande
mestre.
O
fato
de
Eliasson
e
Turrell
viverem
a
mesma
época,
sobretudo
a
partir
dos
anos
1990,
facilita
as
comparação
e
afinidades.
James Turrell - Obras em Série
Outra
semelhança
nas
trajetórias
de
Olafur
Eliasson
e
James
Turrell
são
as
séries
de
trabalhos
que
definem
pesquisas
específicas.
Diferente
das
séries
costumeiras
na
História
da
Arte,
onde
um
artista
intensifica
determinada
pesquisa
de
material
ou
25
Citação
de
Itten
na
dissertação
do
Rodrigo
Mendes.
48
tema
e
passa
para
outra
em
intervalos
de
tempo
definidos,
as
séries
de
obras
de
Eliasson
ocorrem
simultaneamente.
O
artista
faz
pesquisas
paralelas
distintas,
onde
se
distingue
investigações
específicas
-‐
as
obras
com
campos
de
luz
colorida
(Figura
16),
os
materiais
reflexivos,
a
água
em
movimento,
as
projeções
e
as
obras
com
névoa.
Pesquisas
que,
por
vezes
são
interrompidas,
mas
em
alguns
casos,
retomadas
posteriormente.
Ele
não
as
define
como
obras
em
serie,
mas
fica
evidente
quando
se
olha
retrospectivamente.
Figura
16
-‐
a.
Sentimentos
São
Fatos
/
b.
Sala
360
graus
para
todas
as
cores.
/
c.
Room
for
one
colour
(todas
obras
de
O.
Eliasson)
Esse
paralelismo
de
pesquisas
também
é
relevante
na
trajetória
de
James
Turrell
que,
por
sua
vez,
começa
com
séries
em
que
explora
os
meios
de
propagação
da
luz
entre
ambientes.
Nas
séries
apresenta
como
característica
constante
a
interação
com
construções,
seja
o
espaço
construído
existente
ou
uma
construção
mental
diante
da
obra.
A
geometria
na
obra
de
James
Turrell
organiza
os
espaços
em
zonas
claras
e
escuras.
Por
um
tempo
prolongado
de
observação,
esta
organização
se
funde,
ou
inverte,
e
as
referências
de
dentro
e
fora
se
perdem.
Os
títulos
das
séries
de
obras
de
Turrell
referem-‐se
aos
métodos
de
organização
do
espaço
apresentado:
obras
de
canto,
espaços
celestes
(Figura
19),
paredes
cortadas,
construções
de
divisões
espaciais,
entre
outras.
49
Figura
17
-‐
Cross
Corner
Projections,
1968:
Afrum,
Alta
White
e
Arco
Green.
No
caso
das
obras
de
canto
de
Turrell,
por
exemplo,
além
de
reorganizarem
o
espaço,
remetem
à
discussão
histórica
na
arte
moderna,
fundada
por
Tatlin,
sobre
o
deslocamento
da
obra
de
arte
no
espaço,
as
tensões
que
surgem
com
o
uso
do
canto
numa
galeria.
Por
conta
da
ilusão
de
ótica
proposta,
uma
obra
de
canto
de
Turrell
sempre
confunde
sobre
a
existência
de
um
volume
real
diante
do
observador.
Em
1966,
Turrell
fez
Afrum
(Figura
17),
uma
instalação
de
luz
montada
no
canto
entre
duas
paredes
de
uma
sala
escura,
na
qual
as
luzes
simulam
um
cubo
tridimensional
que
salta
aos
olhos
do
observador.
Parte
da
série
Cross-‐Corner
Projections
(Projeções
de
Canto),
projeções
de
canto
em
que
a
ilusão
tridimensional
é
perfeita.
Além
desta
série,
Turrell
também
fez
experiências
óticas
desse
tipo
em
50
superfícies
planas,
as
Single-‐Wall
Projections
-‐
Projeções
Em
Parede
Única.(
Figura
18)
Figura
18
-‐
Single
Wall
Projection
-‐
Wedge
Work
V,
no
Yorkshire
Sculpture
Park,
2006.
Ainda
no
período
que
trabalhava
no
Hotel
Mendota,
em
1974,
Turrell
iniciou
a
série
de
trabalhos
Sky
Spaces
(espaços
celestes).
Estas
obras
consistem
em
aberturas
na
arquitetura
que
possibilitam
um
recorte
visual
do
céu.
Tanto
os
Sky
Spaces
quanto
as
obras
Structural
Cuts
(cortes
estruturais)
estão
incluídas
na
Wall
Cut
Series
(Série
De
Cortes
De
Paredes)
de
Turrell,
uma
vez
que
ambas
são
modificações
no
tecido
arquitetônico
do
edifício.
51
Figura
19a
/
b.
Live-‐Oak-‐Friends-‐Meeting-‐James-‐Turrell/
c.
Skyspace
I
.
Itália,
1975.
Sky
Space
I
(Figura
19)foi
construída
em
1975,
ao
lado
de
Lunnette,
o
primeiro
skyspace,
Italia,
entre
1974
e
75.
Numa
sala
quadrada
alta
com
uma
abertura
quadrada
no
topo,
que
permite
a
visão
direta
do
céu.
De
forma
clara
e
objetiva,
Turrell
interfere
na
geometria
do
espaço
arquitetônico
e
funde
interior
e
exterior.
No
ano
seguinte,
Turrell
inicia
outra
série
de
trabalhos,
as
Construções
De
Divisões
Espaciais,
quando
desenha
Iltar
(Figura
20).
Uma
abertura
na
parede
com
bordas
bem
finas
quase
imperceptíveis
que
recebe
uma
iluminação
lateral.
O
efeito
causa
uma
“cegueira
parcial”
no
observador
que
pensa
estar
diante
de
um
painel
colorido.
As
cores
percebidas
entre
cinza
e
verde
são
produzidas
somente
pelos
reflexos
do
ambiente.
Mais
uma
vez,
Turrell
faz
o
observador
duvidar
da
visão,
torna
a
percepção
visual
algo
relativo.
Iltar
integra
a
série
de
obras
intitulada
Prado,
composta
projeções
similares,
que
o
artista
chama
de
projeção
em
parede
única.
Todas
as
obras
reportam
informações
sobre
fenômenos
óticos
que
vivemos
nos
ambientes
externos.
52
Figura
20
-‐
Série
de
Construções
de
Divisões
Espaciais,
obras
de
James
Turrell.
Iltar,
1976.
De
certa
forma,
Turrell
nos
transporta
para
fora
da
sala
do
museu,
amplia
os
espaços
confinados,
seja
literalmente
criando
aberturas
nos
edifícios,
seja
criando
planos
iluminados,
janelas
imaginárias.
Turrell
associa
a
sensação
de
vastidão
presente
em
suas
obras
à
sua
experiência
como
piloto,
de
voar
sobre
o
deserto
como
“um
sonho
lúcido
ou
um
vôo
através
do
profundo,
límpido
céu
azul
do
inverno
ao
norte
do
Arizona"26.
Estas
experiências
são
suas
fontes
de
inspiração.
A Desaceleração nas Obras de Turrell
Na
percepção
do
espaço,
quanto
maior
o
vazio,
maior
a
desorientação
e
aparente
lentidão
dos
movimentos.
Olafur
Eliasson
fala
frequentemente
sobre
a
desaceleração
em
suas
obras.
Assume
esta
característica
de
tal
modo
que
oferece
o
tema
slow
down
como
opção
de
seleção
de
suas
obras,
em
seu
novo
sitio
na
internet.
Esta
alteração
de
velocidade
percebida
pode
ser
provocada
por
questões
de
escala,
da
relação
entre
o
corpo
do
visitante
e
o
espaço
vasto,
ou
desocupado.
A
escala
que
as
obras
de
Turrell
atingem
e
a
forte
ligação
com
o
lugar
escolhido
extrapolam
qualquer
movimento
artístico,
são
trabalhos
que
se
estendem
por
anos
de
vida
do
artista.
Obras
que
levam
tempo
para
serem
concretizadas
e
contam
com
26
Original
em
inglês:
"A
lucid
dream
or
a
flight
through
deep,
clear
blue
skies
of
winter
in
northern
Arizona-‐experiences
like
these
I
use
as
a
source.”
(BROWN,
1985).
53
elementos
naturais
aleatórios,
como
o
clima.
Isto
se
reflete
na
percepção
desses
ambientes
como
um
processo
de
desaceleração.
O
espaço
nas
obras
de
James
Turrell
parece
ter
um
ritmo
próprio,
uma
passagem
de
tempo
mais
lenta.
O
tempo
que
for
necessário
para
perceber
o
entorno.
Na
gravação
do
vídeo
"Passageways"
em
que
Turrell
sobrevoa
o
deserto
do
Arizona
e
descreve
a
escolha
de
uma
cratera
onde
surge
o
site-‐specific
RodenCrater,
fica
evidente
a
mistura
entre
o
piloto
e
o
artista,
a
vida
pessoal,
diante
de
tamanho
empreendedorismo,
e
a
profissional.
Evidencia-‐se
também
o
contraste
de
escalas
entre
o
indivíduo
e
o
mundo,
de
um
homem
no
espaço
aparentemente
infinito
do
deserto,
de
sua
pequenez
diante
do
universo.
Lentamente,
as
cores
aparecem
nas
obras
de
James
Turrell.
Os
olhos,
onde
as
obras
de
fato
acontecem,
demoram
para
acostumar
com
o
escuro,
ou
com
a
passagem
de
cor
de
uma
luz
para
a
outra.
Até
mesmo
nas
obras
de
canto,
onde
a
luz
configura
sólidos,
a
intensidade
e
o
contraste
ofuscam,
demandam
a
atenção
prolongada.
A Observação
James
Turrell
trabalha
com
diversos
níveis
de
observação,
desde
a
observação
dos
astros
celestes
até
a
auto-‐observação,
quando
o
observador
da
obra
se
percebe
correspondendo
a
um
estímulo.
No
texto
do
catálogo
do
Guggenheim,
a
autora
Carmen
Jiménez
comenta
que:
Os
“Skyspaces
de
Turrell
são
observatórios
celestes
desenhados
para
revelar
o
mistério
da
luz,
física
e
metafísicamente
–
isto
é,
sensorial
e
extrasensorialmente.
Ele
os
concebe
como
provas
espaciais
verticalmente
elevadas,
no
sentido
que
estão
interconectados
em
vários
níveis
de
percepção.”
(JIMÉNEZ,
2013)
Ainda
pensando
no
espaço
celeste,
há
vários
elementos
que
nos
orientam.
Ao
vermos
um
avião
cruzando
o
céu,
através
de
um
vão
criado
por
James
Turrell,
há
uma
interferência
no
céu
vazio
iluminado
pelo
sol,
no
fenômeno
visual
que
o
campo
homogêneo
de
cor
azul
nos
proporciona.
Para
denominar
esses
campos
visuais
homogêneos,
na
Psicologia,
adotou-‐se
o
termo
alemão
Ganzfeld
que
refere-‐se
“ao
campo
total”
descrito
por
Wolfgang
Metzger,
em
1930.
(METZGER,
1930)
54
Dentre
as
obras
de
Eliasson
é
possível
distinguir
uma
série
em
que
o
artista
explora
campos
de
luz
colorida
e
transições
sutis
de
cor.
Algo
muito
presente
no
trabalho
de
James
Turrell.
É
o
que
se
verifica
na
instalação
Your
Colour
Memory,
montada,
em
2004,
na
Arcadia
University
Art
Gallery
em
Glenside,
nos
Estados
Unidos.
Figura
21
-‐
Your
Colour
Memory,
montada,
em
2004,
na
Arcadia
University
Art
Gallery
,
Pensilvânia.
Figura
22
-‐
Croquis
de
Your
Colour
Memory
Esta
técnica
de
iluminação
com
led
confere
à
obra
uma
vasta
gama
de
cores,
similar
ao
que
se
observa
na
abóboda
celeste.
Fenômenos
naturais
pesquisados
por
ambos
artistas
nos
laboratórios
e
na
paisagem
dos
ambientes
externos.
Assim
como
Olafur
Eliasson,
James
Turrell
trabalha
com
ciência
e
arte
unidas
na
realização
de
inventos.
Estão
sempre
atentos
às
inovações
científicas
e
as
incorporam
em
seus
projetos.
55
Figura
23
-‐
Irwin
e
Turrell
com
um
hemisfério
Ganzfeld,
1969.
Turrell
desenvolvia
pesquisa
sobre
percepção
espacial
no
laboratório
de
Arte
e
Tecnologia
do
Museu
County,
em
Los
Angeles,
nos
anos
1960.
Dispostos
à
fusão
entre
ciência
e
arte,
James
Turrell
e
Robert
Irwin
aliaram-‐se
ao
Dr.
Ed
Wortz
para
realizar
diversas
experiências
neste
laboratório.
Sobre
a
fase
que
trabalharam
juntos,
Turrell
descreveu
o
entusiasmo
científico
da
época
em
virtude
das
viagens
espaciais,
especialmente
na
Califórnia,
de
onde
saíam
as
invenções
para
as
espaçonaves.
Repetidas
vezes,
em
depoimentos,
o
artista
reafirma
a
importância
do
laboratório
para
o
desenvolvimento
dos
seus
trabalhos,
por
ter
sido
uma
fase
em
que
experimentou
no
próprio
corpo
restrições
e
estímulos,
mesmo
que
conhecidos
do
período
como
estudante
de
psicologia,
que
basearam
experimentos
posteriores.
Entre
outras
coisas,
inventaram
juntos
a
câmara
para
causar
o
efeito
Ganzfeld,
concebida
para
o
LACMA
e
a
EXPO
70,
que
nunca
foi
realizada.
Os
responsáveis
pelo
invento
o
consideraram
impraticável
devido
à
capacidade
de
público
restrita
e
o
tempo
de
duração
da
visita,
apenas
um
visitante
por
vez
ficaria
30
minutos
dentro
da
câmara.
Eliasson,
em
1996,
também
desenvolveu
uma
câmara
para
visitantes
a
instalação
By
Means
Of
A
Sudden
Intuitive
Realization
na
Manifesta
I,
de
Rotterdam.
Diferente
da
56
obra
de
Turrell,
na
câmara
de
Eliasson,
o
elemento
central
é
uma
fonte
de
água
e
os
visitantes
a
circundam.
A
tipologia
formal
adotada
por
Eliasson
nesta
obra
o
associa
ao
inventor
e
arquiteto
norte
americano
R.Buckminster
Fuller
que
desenvolvia
estruturas
a
partir
de
poliedros.
Figura
11
-‐
Vista
exterior
da
instalação
By
Means
Of
A
Sudden
Intuitive
Realization,
montadaem
Inhotim/
Fig
12b.
Interior
da
instalação
com
visitantes.
Figura
24
-‐
LACMA,
2013.
Como
exemplo
da
experiência
que
Turrell
oferece
aos
visitantes
nas
câmaras,
segue
o
depoimento
de
Jonathan
Jones
que
foi
publicado
no
jornal
inglês
The
57
Guardian.
Jones
descreve
sua
visita
a
uma
das
obras
Ganzfeld,
Bindu
Shard
na
galeria
Gagosian
de
Londres,
em
2010.
"Deitado
numa
maca
e
trancado
na
esfera,
começam
as
projeções
de
um
azul
intenso
que
transforma-‐se
rapidamente
em
padrões
florais,
cristais,
galáxias,
quasars
e
neblina.
Então,
vê-‐se
vertiginosos
arranha-‐céus,
sem
solo
embaixo
deles.
Todas
essas
formas
e
volumes
que
pulsam
e
metamorfoseiam
são
definidas
por
cores
que
mudam
convulsivamente
-‐
os
verdes
e
vermelhos
mais
saturados
que
se
pode
imaginar,
cores
que
parecem
sólidas,
então
se
despedaçam
em
padrões
microscópicos
de
laranja,
preto,
ouro
e
branco;
todas
essas
cores
borbulham
em
velocidade
estonteante,
como
se
você
estivesse
num
acelerador
de
partículas.
A
parte
mais
importante
da
experiência
é
não
saber
o
que
está
dentro
ou
fora
da
sua
cabeça.
Eu
vejo
um
espaço,
ou
mesmo
uma
sucessão
de
espaços
cambiantes,
mas
eles
são
independentes
de
qualquer
realidade
material
verdadeira
-‐
eles
existiram
apenas
na
minha
cabeça."
(JONES,
2010)
A Perda de Referência
Conforme
citado
anteriormente,
Olafur
Eliasson
trabalha
com
efeitos
visuais
que
provocam
a
perda
de
referência
espacial,
como
na
idéia
do
Campo
Total.
No
catálogo
da
Mostra
James
Turrell
no
Museu
Guggenheim
de
Nova
Iorque,
em
2013,
há
uma
entusiasmada
citação
de
Malevich27
que
ilustra
bem
o
trabalho
do
artista,
na
qual
a
metáfora
entre
nadar
e
voar
está
associada
à
sensação
de
flutuar
que
o
vôo
e
o
ambiente
entre
nuvens
causa,
essa
perda
de
referência.
Muitos
trabalhos
de
Turrell
proporcionam
experiências
com
luzes
sem
referência
da
fonte
de
emissão,
em
efeitos
muito
sutis,
e,
desse
modo
ligados
ao
efeito
Ganzfeld28,
por
serem
espaços
vazios
que
não
permitem
uma
referência
de
distância.
No
entanto,
o
artista
refuta
estas
27
Fonte
em
inglês:
“I
have
broken
the
blue
boundary
of
color
limits,
come
out
into
the
white,
beside
me
comrade-‐pilots
swim
in
this
infinity...I
have
beaten
the
lining
of
the
colored
sky,
torn
it
away
and
in
the
sack
that
formed
itself,
I
have
put
color
and
knotted
it.Swim!
The
freewhitesea,
infinity,
lies
beforeyou.”
Esse
texto
foi
originalmente
publicado
em
“Suprematism”,
do
catálogo
da
Décima
Exposicão
do
Estado:
Criação
Não-‐Objetiva
e
Suprematismo
(1919).
28
Comentário
sobre
Ganzfeld:
[…]
Dr.
Gibson
argued
that
three-‐dimensional
space
was
not
visible
in
the
mist
of
light
engendered
by
the
homogeneous
visual
field:
What
my
observers
and
I
saw
under
these
conditions
could
better
be
described
as
“nothing”
in
the
sense
of
“no
thing.”
Extrato
do
texto
“The
Interface
between
Exterior
and
Interior
Light”,
http://therodencrater.org/noimage/intrface/index.htm
58
características,
“argumentando
que,
longe
de
estarem
vazios,
estes
espaços
estão
cheios
de
luz.”(ADCOCK)
Turrell
desenvolveu
uma
série
de
instalações
de
luz
chamada
Ganzfeld,
salas
espaçosas
que
recebiam
vários
visitantes
simultaneamente,
diferente
dos
projetos
não-‐realizados
dos
anos
1970.
A
iluminação
com
lâmpadas
de
LED
controladas
digitalmente
permitia
a
transição
de
cor
em
ciclos
contínuos.
Breathing
Light,
uma
das
obras
Ganzfeld
fez
parte
da
maior
exposição
de
Turrell
no
LACMA,
em
Los
Angeles,
em
2013
.
Impressiona
a
semelhança
das
soluções
visuais
de
Turrell
com
as
obras
de
Eliasson
realizadas
praticamente
no
mesmo
período,
com
intervalos
de
poucos
anos
que
se
anulam
quando
considera-‐se
o
tempo
de
testes
e
aprimoramento
de
cada
projeto.
Figura
25
-‐
Breathing
Light,
obra
Ganzfeld
de
Turrell
exposta
no
LACMA,
em
Los
Angeles,
em
2013.
59
Figura
26
-‐
Mostra
Feelings
are
Facts
-‐
Olafur
Eliasson.
Pequim,
2010.
Nas
figuras
acima,
nota-‐se
a
montagem
de
ambientes
enevoados
e
coloridos
por
luz
realizados
por
ambos
artistas,
Turrell
e
Eliasson.
Nelas
elimina-‐se
a
possibilidade
de
visualização
geral,
e,
por
isso,
perde-‐se
a
noção
da
perspectiva.
Ao
caminhar
nestes
ambientes,
os
visitantes
devem
tatear
o
chão
que
pisam,
pois
não
é
possível
enxergá-‐
lo.
Assim
como
Turrel
provoca
dúvida
sobre
o
que
é
real
ou
imaginário
diante
das
obras,
Eliasson
usa
o
mesmo
recurso
em
instalações
de
luz.
Foi
isto
que
o
artista
fez
na
mostra
Feelings
Are
Facts,
onde
o
próprio
título
joga
com
as
palavras.
Os
sentimentos
que
seriam
abstratos
e
subjetivos
são
colocados
como
fato,
algo
real
a
ser
considerado.
Na
verdade,
o
trabalho
joga
com
a
percepção
individual
da
cor
e
as
discrepâncias
na
percepção
para
cada
observador.
Eliasson
amplia
assim
a
relatividade
das
cores
para
todo
o
resto
da
realidade
que
percebemos
ao
nosso
redor.
Nas
instalações
de
luz,
cria
um
ambiente
extremamente
colorido
e
enevoado
que
desloca
o
visitante
da
sua
realidade
cotidiana
para
um
ambiente
psicodélico
de
cores
e
sensações.
Fenômenos Neurológicos – O Efeito de “Ver-se vendo”
De
maneira
explícita,
Olafur
Eliasson
se
utiliza
de
espelhos
e
sombras
nos
espaços
que
cria,
para
provocar
no
observador
a
percepção
de
si
mesmo.
Provoca,
assim,
uma
noção
de
espaço
que
só
é
possível
na
experiência
própria,
como
faz
em
Take
Your
Time.
(Figura
27)
Nesta
instalação,
o
enorme
espelho
redondo
gira
60
lentamente,
enquanto
as
pessoas
se
vêem,
olhando
para
cima.
A
experiência
de
ver-‐se
em
movimento
causa
incerteza
sobre
o
que
está
em
movimento,
o
ambiente
ou
o
espelho.
A
consciência
do
próprio
corpo,
de
estar
parado
ou
em
movimento,
após
alguns
segundos,
muda
esta
relação
entre
visão
e
posição
no
espaço.
Figura
27
-‐
Instalação
Take
Your
Time,
Olafur
Eliasson.
Foto:
Pinacoteca
de
São
Paulo,
2011.
Com
objetivo
análogo,
a
consciência
de
ver-‐se
vendo,
James
Turrell
se
envereda
na
pesquisa
dos
fenômenos
neurológicos
e
se
interessa
pelos
impulsos
nervosos
que
mesmo
de
olhos
fechados,
até
mesmo
sonhando,
somos
capazes
de
sentir.
Seriam
os
menores
estímulos,
a
ausência
de
um
foco
emissor,
ou
a
resposta
neurológica
a
uma
memória
as
investigações
do
artista.
Perceber
o
quase
imperceptível
num
mundo
de
tantos
estímulos
visuais
originados
pelo
fácil
acesso
às
telas
de
cinema,
televisão
e
computador.
O Deserto
Uma
das
fontes
de
pesquisa
do
material
de
Turrel,
a
luz,
é
o
deserto.
Nesse
sentido
sua
obra
mais
impactante,
devido
às
suas
dimensões
e
ao
isolamento
61
geográfico,
é
uma
construção
incrustrada
na
cratera
de
um
vulcão
extinto,
no
meio
do
deserto
norte-‐americano,
no
Arizona.
Figura
28
Roden
Crater,
Deserto
do
Arizona.
Por
sua
vez,
Olafur
Eliasson
elegeu
outras
áreas
remotas
do
planeta
para
examinar
a
natureza.
Os
motivos
de
sua
escolha
são
defendidos
diante
de
um
panorama
cultural
mais
abrangente
que
o
artista
estabelece,
cujas
áreas
isoladas
seriam
reservatórios
de
fenômenos
naturais.
Por
serem
inóspitas
e
terem
sido
renegadas
por
falta
de
interesse
econômico,
não
deixam
de
ser
parte
do
ecossistema
do
planeta
e
sofrer
alterações,
em
ritmo
diferente
das
zonas
urbanas,
por
exemplo.
"A
visão
egocêntrica
e
instrumentalizada
que
temos
imposto
ao
nosso
ambiente
no
curso
do
século
passado,
influenciou
a
determinação
do
que
são
a
natureza
e
a
cultura
e,
em
consequência
conduziu
a
uma
idéia
hierárquica
do
que
tem
valor,
o
que
é
belo
,
o
que
vale
a
pena
salvar
e
assim
por
diante.
Compreendendo
que
a
complexidade
da
relação
entre
natureza
e
cultura
sofre,
quando
perde-‐se
a
sua
contraposição,
estamos
avaliando
e
negociando
novos
pontos
de
vista
sobre
ambas,
como
faz
também
a
ciência.
62
O
deserto
e
a
tundra,
as
montanhas
árticas
ou
as
calotas
polares,
os
planaltos
vulcânicos
ou
as
zonas
pantanosas
ficaram
de
fora
do
regime
produtivo
moderno
que
determina
a
qualidade
segundo
as
idéias
dominantes
do
momento.
Hoje
estas
áreas
participam
cada
vez
mais
daquilo
que
está
em
sua
volta
é
considerado
parte
de
um
sistema
complexo
que
nós
(ainda
que
promovessemos
um
confronto
entre
natureza
e
cultura)
considerariamos
um
conjunto
de
sistemas
complexos
cuja
parte
central
deve
integrar
os
conceitos
de
tempo
e
transformação
da
mediação
entre
natureza
e
cultura."
(ELIASSON,
Olafur.2004)
Trecho
do
Catálogo
A
Memória
das
Cores
e
Outras
Sombras
Informais.
Eliasson
explora
a
paisagem
desértica
no
território
da
Islândia,
país
de
origem
da
sua
família.
O
artista
dinamarquês
costuma
realizar
expedições
às
regiões
desertas
islandesas,
onde
observa
formações
rochosas,
silhuetas
das
montanhas,
o
horizonte,
gases
e
demais
fenômenos
atmosféricos
que
conferem
alterações
visuais
na
iluminação
natural
do
ambiente.
Dessas
viagens
à
Islândia,
surgiram
séries
de
fotografias
que
foram
expostas
em
conjunto,
de
forma
sistematizada.
Nota-‐se
uma
abordagem
racionalizante
aos
fenômenos
naturais.
Eliasson
diante
dessa
natureza
exuberante
se
comporta
como
um
cientista
aplicando
o
método,
na
tentativa
de
organizar
os
dados
coletados.
63
Figura
29
série
de
fotografias
"Luz
Diurna
de
Domadalur".
"Quando
pensamos
na
natureza
estabelecemos
instantaneamente
uma
relação
com
ela
e
depois
ela
deixa
de
ser
natureza
e
transforma-‐se
em
paisagem.
A
natureza
diz
mais
acerca
de
cultura,
talvez,
do
que
acerca
da
própria
natureza."
(ELIASSON,
Olafur.
p.256)
A
complexidade
na
trajetória
de
James
Turrell
está
na
ousadia
em
escolher
espaços
exuberantes
e
confrontar-‐se
com
os
fenômenos
naturais
e
seus
respectivos
simbolismos.
Olafur,
por
outro
lado,
não
assume
esta
posição
e
coloca-‐se
`a
mercê
de
maquinárias,
cujas
funções
não
pretendem
iludir
os
visitantes
numa
visão
romântica
ou
bucólica
da
natureza.
O
artista
dinamarquês
considera
a
própria
defesa
ambientalista
ultrapassada,
pois
havia
sido
promovida
pelos
movimentos
ecológicos
dos
anos
1990
e
são
refutadas
quanto
mais
avançam
as
pesquisas
biológicas.
64
Híbridos de Olafur Eliasson
O
envolvimento
de
Olafur
Eliasson
com
temas
tão
diversos,
como
o
meio-‐
ambiente,
a
vida
em
sociedade
e
descobertas
científicas,
o
coloca
em
destaque
no
meio
cultural
desde
os
anos
2000.
Sua
posição
apresenta
o
reconhecimento
da
diluição
das
fronteiras
disciplinares
e,
com
isso,
suas
obras
materializam
o
pensamento
da
época.
O
caráter
híbrido
das
obras
de
Olafur
Eliasson
merece
atenção.
Na
verdade,
a
palavra
"hibrído"
denota
a
mistura
de
aspectos
nas
obras
e
tornou-‐se
um
conceito
importante
em
arte
e
arquitetura,
ao
longo
das
últimas
décadas.No
livro
de
Robert
Venturi
(1972)
"Aprendendo
com
Las
Vegas"
o
conceito
de
híbrido
adquiriu
relevância
na
área
teórica
da
arquitetura,
representando
a
inserção
dos
elementos
cotidianos
da
publicidade
no
desenho
urbano
e
arquitetônico.
Considera
a
volumetria
dos
anúncios
incorporada
no
projeto
de
arquitetura
o
elemento
que
estabelece
a
relação
com
a
cidade.
A
combinação
de
elementos
que
caracteriza
os
híbridos
e
a
simultaneidade
nos
discursos
sobre
o
tema
não
facilita
o
trabalho
de
definição
do
termo,
mas
a
repetição
reafirma
o
que
é
notado
a
cada
leitura.
A
consonância
dos
autores
em
dar
atenção
ao
tema
torna
inegável
a
relevância
de
fusões
e
trabalhos
mistos.
Dan
Graham
(1979)
retoma
este
assunto
no
texto
"A
Arte
em
Relação
À
Arquitetura",
em
que,
mais
uma
vez
a
temática
pop
aparece
em
pleno
modernismo
para
evidenciar
que
elementos
híbridos,
tanto
artísticos
quanto
arquitetônicos,
já
não
podem
mais
ser
classificados
em
apenas
uma
dessas
áreas.
"[...]
o
trabalho
de
arte
dirige
sua
atenção
para
conexões
com
diversas
representações
ideológicas
(revelando
a
variedade
conflituosa
das
interpretações
ideológicas).
Para
fazer
isso,
o
trabalho
usa
uma
forma
híbrida,
que
participa
tanto
do
código
popular
dos
meios
de
comunicação
de
massa
quanto
do
código
“elevado”
da
arte
e
da
arquitetura,
tanto
do
código
popular
do
entretenimento
quanto
da
análise
política
da
forma
com
base
teórica,
e
tanto
do
código
da
informação
quanto
do
código
esteticamente
formal.”
(GRAHAM,
1979,
p.
450)
65
Graham
(1979)
organiza
idéias
presentes
em
obras
de
arte
e
textos
anteriores
e,
sobretudo,
antecipa
o
debate
do
ensaio
de
Bruno
Latour
(1994)
"Jamais
Fomos
Modernos",
ao
qual
Olafur
Eliasson
recorre.
Latour
defende
o
não-‐modernismo
como
única
possibilidade
de
termos
sempre
produzido
híbridos
e,
que
cada
vez
mais,
durante
o
período
moderno,
os
híbridos
teriam
se
proliferado,
enquanto
eram
ignorados
pelos
processos
de
purificação,
comuns
à
esta
época.
Nesta
lógica,
apesar
das
divisões
teóricas
do
mundo
moderno,
na
prática,
os
aspectos
naturais/científicos
e
sociais/políticos
se
fundem,
conforme
explica
Latour:
"[E]les
[Hobbes
e
Boyle]
inventaram
nosso
mundo
moderno,
um
mundo
no
qual
a
representação
das
coisas
através
do
laboratório
encontra-‐se
para
sempre
dissociada
da
representação
dos
cidadaos
através
do
contrato
social.
[…]
São
dois
pais
fundadores,
agindo
em
conjunto
para
promover
uma
única
e
mesma
inovação
na
teoria
política:
cabe
à
ciência
a
representação
dos
não-‐humanos,
mas
lhe
é
proibida
qualquer
possibilidade
de
apelo
à
política;
cabe
à
política
a
representação
dos
cidadãos,
mas
lhe
é
proibida
qualquer
relação
com
os
não-‐humanos
produzidos
e
mobilizados
pela
ciência
e
pela
tecnologia."
(LATOUR,
1994)
Embora
Graham
(1979)
comente
o
conceito
de
híbrido
em
Venturi
(1972),
associar
as
ideias
desses
autores
às
demais
aplicações
do
termo
híbrido,
como
em
Latour
(1994),
só
é
possível
devido
aos
exemplos
que
cada
autor
cita.
Graham
(1979),
por
exemplo,
se
utiliza
de
instalações
de
arte
para
descrever
os
híbridos
de
Venturi
e
atualizar
a
discussão
para
o
final
dos
anos
1970
,
época
em
que
o
próprio
artista
realizava
instalações
híbridas
entre
arte
e
arquitetura,
seus
pavilhões.
"Venturi
(1972)
propôs
a
palavra
“híbridos”
para
tais
trabalhos
que
combinavam
duas
categorias
de
sentido/descrição
contraditórias
ou
mutuamente
excludentes"
(Graham,
1979.
p.
450).
Entre
as
obras
citadas
por
Graham(1979)
em
sua
reavalição
da
relação
entre
arte
e
arquitetura,
estão
as
instalações
do
artista
norte-‐americano
Dan
Flavin,
que
montava
espaços
de
luz
com
lâmpadas
fluorescentes
aparentes.
Ao
usar
objetos
do
cotidiano,
Flavin
trabalha
a
questão
híbrida
do
deslocamento
contextual
e
a
construção
de
um
novo
espaço
usando
o
próprio
espaço
existente
iluminado
de
modo
diferente.
O
que
causa
ao
visitante
uma
experiência
perceptiva
nova
do
próprio
espaço.
66
Sobre
o
caráter
híbrido
do
trabalho
de
Eliasson,
Guilherme
Wisnik
pontua
a
relação
que
o
artista
estabelece
com
a
natureza,
condicionada
a
aspectos
culturais.
Assim
como
a
realidade,
uma
construção
que,
a
cada
obra,
Eliasson
questiona
com
réplicas
da
natureza,
seus
pares
irreais.
"A
obra
de
Olafur
Eliasson
lida,
em
grande
medida,
com
fenômenos
e
elementos
da
natureza,
tais
como
vento,
água,
luz
e
fumaça.
Mas
nem
por
isso
pode
ser
associada
a
qualquer
discurso
ecológico,
que
implicasse
as
ideias
de
pureza
ou
de
retorno
a
um
estado
essencial
da
vida.
Ao
contrário
disso,
a
natureza,
no
trabalho
de
Olafur,
é
dada
sempre
como
condicionamento
cultural,
isto
é,
aparece
necessariamente
como
construção,
e
não
como
verdade
redentora.
Vem
daí
o
aspecto
muitas
vezes
surrealista
dos
seus
trabalhos,
que
replicam
artificialmente
elementos
naturais
colocando-‐os
em
confronto
com
seus
pares
“reais”,
criando
assim
uma
dimensão
da
experiência
na
qual
a
ilusão
e
a
realidade
estão
interconectadas,
tornando-‐se
portanto
indiscerníveis.
Nas
palavras
do
próprio
artista,
“estamos
sendo
testemunhas
de
uma
mudança
na
relação
tradicional
entre
realidade
e
representação”.
(WISNIK,
2012)
Noutro
texto,
Wisnik
(2011)
identifica
no
trabalho
de
Eliasson
"a
superação
das
velhas
e
esgotadas
distinções
entre
polaridades",
como
a
representação
da
natureza
e
a
representação
das
pessoas.
Na
verdade,
Wisnik
adentra
no
território
de
Bruno
Latour
(1994)
que
critica
a
separação
moderna
entre
o
mundo
natural
e
o
mundo
social,
no
ensaio
de
antropologia
assimétrica
Jamais
Fomos
Modernos.
A
constatação
deste
mundo
híbrido
observado
pelos
autores
está
justamente
no
processo
de
diluição
das
disciplinas
verificado
na
pós-‐modernidade.
"Multiplicam-‐se
os
artigos
híbridos
que
delineiam
tramas
de
ciência,
política,
economia,
direit9o,
religião,
técnica,
ficção.
Se
a
leitura
do
jornal
diário
é
a
reza
do
homem
moderno,
quão
estranho
é
o
homem
que
hoje
reza
lendo
estes
assuntos
confusos.
Toda
a
cultura
e
toda
a
natureza
são
diariamente
reviradas
aí.
[…]
Contudo,
ninguém
parece
estar
preocupado.
[…]
Não
misturemos
o
céu
e
a
terra,
o
global
e
o
local,
o
humano
e
o
inumano.
[…]
O
navio
está
sem
rumo:
à
esquerda
o
conhecimento
das
coisas,
à
direita
o
interesse,
o
poder
e
a
política
dos
homens."
(Latour
1994:8)
67
Seguindo
o
pensamento
de
Latour,
Eliasson
constrói
situações
e
espaços
híbridos
no
limiar
entre
arte,
arquitetura
e
ciência
para
promover
uma
reavaliação
política.
Diferente
da
representação
política
ou
das
formas
de
poder
estabelecidas,
o
artista
busca
uma
entrada
transversal
de
participação
da
sociedade.
Ambos
defendem
o
"cultivo
de
paixões"para
promover
o
engajamento
político,
diferente
de
manifestações
políticas
tradicionais.
A
proposta
seria,
basicamente,
expor
os
antagonismos
comuns
ao
mundo
moderno
e
com
isso
demonstrar
as
contradições
que
tomamos
tradicionalmente
como
verdade.
Uma
reavaliação
do
modo
como
vivemos
em
sociedade.
Em
suas
instalações
Eliasson
frequentemente
busca
fomentar
essas
experiências
de
engajamento.
Novas
maneiras
de
coabitar
o
planeta
que
possibilitem
a
diminuição
de
conflitos
e
diferenças
sociais.
Com
as
palavras
de
Latour,
o
discurso
presente
nas
obras
-‐
textos
e
instalações
-‐
de
Olafur
Eliasson
ganha
corpo
e
sentido
no
contexto
contemporâneo.
No
fundo,
ambos
estão
tratando
da
diluição
de
fronteiras
disciplinares,
da
compreensão
da
humanidade
como
um
todo,
que
inclui
os
seres
e
as
coisas
que
produzem.
A
indistinção
entre
seres
e
coisas,
entendendo
que
os
seres
produzem
coisas
e,
reciprocamente,
estas
alteram
a
maneira
de
viver
dos
seres.
Mais
além,
Latour
e
Eliasson
explicitam
a
idéia
do
mundo
ter
virado
um
grande
laboratório,
onde
vivemos
cotidianamente
grandes
experiências
coletivas.As
instalações
de
arte
de
Eliasson
apresentam
essas
ideias
de
representação
da
natureza,
coletividade,
participação
e
construção
da
realidade.
O
artista
dinamarquês
acredita
que
há
um
forte
contrato
coletivo
com
o
público
através
da
arte,
que
instiga
as
pessoas
a
descobrir
por
elas
mesmas
o
que
fazer
com
sua
experiência.
Anders
Blok(2011)
transcreve
o
depoimento
de
Bruno
Latour
sobre
Eliasson
e
confirma
a
reciprocidade
e
afinidade
entre
ambos
no
reconhecimento
de
um
mundo
híbrido.
Assim
como
Eliasson,
Latour
está
voltado
para
a
questão
"do
que
somos
e
onde
estamos,
se
não
estamos
mais
na
Natureza."
Na
opinião
de
Latour,
Eliasson
é
um
grande
interessado
e
explora
de
modo
inovador
a
percepção
deste
mundo
que
não
é
mais
dividido
em
seu
aspecto
natural
e
artificial.
Está
composto
por
coisas
transmutadas
em
seres
e
seres
transmutados
em
coisas
.
68
Outra
idéia
de
Bruno
Latour
que
aparece
na
prática
de
Eliasson
é
a
discussão
sobre
o
mundo
ser
um
grande
laboratório29
em
função
das
pesquisas
estarem
ocorrendo
fora
dos
ambientes
científicos
e
através
de
agentes
"engajados
em
experiências
coletivas".
Mesmo
sem
gerar
um
discurso
cientifico,
Eliasson
seria
uma
dessas
figuras
por
promover
a
integração
da
prática
artística
com
a
sociedade,
ao
criar
espaços
físicos.
Seria
a
indistinção
entre
experimento
e
obra
de
arte
que
caracteriza
o
hibridismo
nos
trabalhos
de
Eliasson?
Quando
Eliasson
analisa
a
iluminação
natural
na
abóbada
celeste,
por
exemplo,
e
faz
gráficos
da
trajetória
do
sol
em
diferentes
pontos
do
planeta
(Japão
e
Dinamarca),
transforma
este
desenho
num
pavilhão.
Elege
cores
para
revestir
a
superfície
multifacetada
e
translúcida
que
transmitem
a
iluminação
mais
próxima
da
natural
em
determinados
horários.
Ele
está
fazendo
um
instrumento
de
pesquisa
ou
um
objeto
de
arte?
Mais
ainda,
devido
à
escala
e
a
técnica
usada,
ele
está
fazendo
um
pavilhão
de
arquitetura
ou
uma
escultura?
Podemos
dizer
que
ele
faz
um
pouco
de
tudo
e
valida
estes
experimentos
cercado
de
profissionais
especializados.
Figura
30
-‐
Pavilhão
Dagslys
de
Olafur
Eliasson.
Horsholm,
2007.
29
“The
World
Wide
Lab”,
Bruno
Latour.
69
A
cascata
construída
por
Eliasson
na
área
externa
do
SESC
Pompéia
provoca
a
estranheza
da
ficção,
a
clareza
construtiva
da
estrutura
exposta
e
a
familiaridade
com
a
água,
recurso
natural.
Diversas
situações
diante
de
um
só
objeto
que
ao
mesmo
tempo
é
construção,
ilusão
e
realidade.
Assim
como
a
descrição
dos
híbridos,
segundo
Bruno
Latour,
"Reais
como
a
natureza,
narrados
como
o
discurso,
existenciais
como
o
Ser,
tais
são
os
quase-‐objetos
que
os
modernos
fizeram
proliferar"(LATOUR,
1994).
Observando
os
experimentos,
entende-‐se
porque
o
artista
considera
seu
estúdio
como
um
laboratório
artístico,
onde
são
permitidos
parâmetros
relativos,
diferentes
daqueles
que
ocorrem
em
laboratórios
científicos
tradicionais.
Assim,
nos
experimentos
do
Studio
de
Eliasson,
os
pesquisadores
não
prezam
por
aspectos
utilitários
e
estão
mais
voltados
para
a
vida
em
sociedade.
"Se
você
tem
uma
cascata
lá,
bem
lá
no
horizonte,
você
olha
e
vai.
'Oh!
a
água
está
caindo
muito
lentamente!'
E
você
vai,
'Meu
Deus!
Ela
está
muito
longe
e
é
uma
cascata
gigante!
Se
uma
cascata
está
caindo
mais
rápido,
esta
é
uma
cascata
menor
que
está
mais
próxima
-‐
porque
a
velocidade
da
queda
de
água
é
constante
em
qualquer
lugar.
E
seu
corpo
de
algum
modo
sabe
disto.
Então
isto
significa
que
uma
cascata
é
um
modo
de
medir
o
espaço.
(o
trabalho)
Não
é
apenas
necessariamente
sobre
colocar
a
natureza
nas
cidades.
É
também
sobre
dar
à
cidade
um
senso
de
dimensão.
E
por
que
nós
queremos
fazer
isso?
Porque
eu
acho
que
faz
diferença
se
você
tem
um
corpo
que
sente
uma
parte
do
espaço,
em
vez
de
ter
um
corpo
apenas
em
frente
a
uma
imagem.
[...]
E
o
que
importa
nisto?
Há
um
senso
de
consequências?
Se
há
um
senso
de
espaço,
se
eu
sinto
que
o
espaço
é
tangível,
se
eu
sinto
que
há
tempo,
se
há
uma
simensão
que
posso
chamar
de
tempo,
eu
também
sinto
que
posso
mudar
o
espaço.
E
de
repente
isto
faz
diferença
em
termos
de
fazer
o
espaço
acessível.
Pode-‐se
dizer
isto
sobre
comunidade,
coletividade.
(o
trabalho)
é
sobre
estarmos
juntos."
(ELIASSON,
2009.
Palestra
do
TED
transcrita.)
Constata-‐se
com
as
experiências,
espaços
construídos
para
a
coletividade,
os
híbridos
de
Eliasson
entre
arte,
ciência
e
política,
esta
última
entendida
como
interação
social.Embora
haja
uma
forte
distinção
de
objetivos,
formação
profissional
e
métodos,
entre
ciência
e
arte,
na
obra
de
arte
elas
se
fundem.
Na
visita
a
um
espaço
que
aplique
o
conhecimento
científico,
não
importa
se
o
espaço
é
um
experimento,
se
somos
70
cobaia.
Na
arte
contemporânea,
de
certo
modo,
o
público
se
depara
com
situações
inusitadas
que
demandam
a
disponibilidade
de
cada
um
a
participar
da
experiência.
Olafur
Eliasson
segue
nessa
linha
que
funde
arte
e
ciência
e
isto
o
aproxima
de
Moholy-‐Nagy
e
James
Turrell.
Todos
eles
experimentam
objetos
e
espaços
que
incluem
novas
tecnologias
e
consideram
as
mudanças
que
esses
novos
elementos
possibilitam
na
percepção
do
espaço.
71
72
Figura
31
-‐
INSTALAÇÃO
NA
BIENAL
DE
VENEZA,
2003.
ESTAÇÃO
UTOPIA.
73
Capítulo 2.
O entendimento da teoria no trabalho de Eliasson
O
forte
período
de
mudanças
mundiais,
fim
da
Guerra
Fria
e
início
da
globalização,
afetou
diretamente
a
formação
do
artista
dinamarquês.
Em
contato
com
o
pensamento
de
seu
tempo,
Olafur
Eliasson
plasmou
em
sua
obra
a
complexidade
do
presente.
A
cada
trabalho,
reinterpreta
este
contexto
e
enfatiza
seu
discurso.
A
compreensão
de
alguns
termos
usados
por
Eliasson
perpassa
áreas
teóricas
diversas:
antropologia,
geografia,
economia,
história
da
arte
e
filosofia.
Respectivamente,
Bruno
Latour,
Henri
Lefebvre,
Eric
Hobsbawn,
Giulio
Carlo
Argan
e
John
Rajchman
são
alguns
pensadores
contemporâneos
atentos
aos
fenômenos
sociais
e
científicos
que
marcaram
a
passagem
entre
os
séculos
XX
e
XXI.
O
pensamento
estético
serve
de
ponto
de
partida
para
esse
caminho
teórico
que
nos
leva
à
obra
de
Eliasson,
pois
esclarece
o
vocabulário
do
artista
e
as
práticas
decorrentes.
Historicamente,
no
campo
da
estética,
a
ênfase
na
forma
alternou-‐se
com
a
ênfase
no
conteúdo,
e
orientou
disputas
acirradas
entre
pensadores
europeus,
divididos
entre
forma
e
função.
Mais
recentemente,
a
discussão
desloca-‐se
para
aspectos
paralelos.
Desde
os
anos
1990,
assumiu-‐se,
por
exemplo,
que
a
mediação
é
um
aspecto
que
era
constantemente
desprezado.
Sob
esse
novo
modo
de
pensar,
a
história
pode
ser
recontada
e
os
meios
de
afetação
ganham
importância,
como,
por
exemplo:
a
empatia,
as
relações
sociais
e
a
interação
sujeito/objeto/sujeito.
Isto
nos
conduz
à
pesquisa
das
origens
do
pensamento
moderno,
no
século
XIX,
e
permite
conhecer
o
discurso
dentro
da
estética
do
conteúdo30,
baseado
na
informação.
Olafur
Eliasson
insere-‐se
neste
contexto
estético
atual
de
ênfase
na
informação,
no
conteúdo.
Fortemente
influenciado
pelo
antropólogo
francês
Bruno
Latour,
com
o
qual
participa
de
seminários
em
instituições
européias,
Eliasson
confronta
o
dilema
constante
entre
natureza
e
política
globais.
Para
chegar
no
cerne
das
questões
colocadas
pelo
artista
é
necessário
entender
quais
relações
vem
sendo
alteradas
nas
30
Estética
do
Conteúdo
:
termo
existente
na
filosofia
alemã.
74
últimas
décadas
e
culminam
na
sociedade
globalizada
atual.
Um
ponto
que
ele
discute,
por
exemplo,
é
o
não
reconhecimento
da
arte
como
parte
importante
da
sociedade.
Diferente
da
"confiança
que
a
modernidade
depositou
na
arte.
Não
havia
dúvida
de
que
a
arte
fosse
um
elemento
significativo
para
definir
a
realidade
ou
a
vida
na
realidade."(ELIASSON,
2011.p.391)
Com
a
arte
moderna,
desde
os
anos
1960,
surgiu
um
campo
relacional
de
tensões
formais
que
baseia
suas
relações
num
sistema
de
trocas
e
equivalência
de
valores
existente
no
mercado.
O
domínio
visual
rege
os
elementos
deste
jogo,
onde
“os
conteúdos
são
mostrados
em
sua
superfície,
sem
deixar
resíduos
simbólicos
alheios.”
(WISNIK,
G.,
2014,
p.30)
Essa
evidência
de
elementos
é
diferente
do
início
do
modernismo,
quando
o
rompimento
com
o
passado
era
exaltado
em
nome
do
futuro,
a
arte
contemporânea
faz
alianças,
une
parte
distintas
e
tenta
construir
espaços
concretos.
A
representação
de
utopias
sob
a
base
dogmática
das
vanguardas
no
século
XX
ficaram
no
passado
(BISHOP,2006.p.164).
Delas
herdamos
as
investigações
sobre
a
relação
do
corpo
humano
e
o
espaço
arquitetônico31.
De
modo
geral,
a
idéia
de
espaço
ganha
importância.
Atualmente,
o
campo
da
estética
–
filosofia
da
arte
-‐
transfere
a
preocupação
clássica
com
o
belo
para
o
real.
O
que
é
real?
Como
vemos
o
mundo?
Esta
abertura
negociável
permite
que
os
conceitos
sejam
definidos
um
em
relação
ao
outro,
assim
como
a
visão
do
mundo.
O
entendimento
de
que
construímos
a
nossa
realidade
e
a
expansão
indeterminada
da
compreensão
do
espaço,
seus
limites
irregulares
e
amorfos.
O
filósofo
francês
Georges
Didi-‐Huberman
descreve
esta
situação
,
em
“O
que
vemos,
O
que
nos
Olha”:
“[É
preciso]
compreender
que
o
espaço
não
tem
três
dimensões,
nem
mais
nem
menos,
como
um
animal
tem
quatro
ou
duas
patas,
que
as
dimensões
são
antecipadas
pelas
diversas
métricas
sobre
uma
dimensionalidade,
um
ser
polimorfo,
que
as
justifica
todas
sem
ser
completamente
expresso
por
nenhuma.”
(MERLEAU-‐PONTY,
1964,
p.48)
31
A
arquitetura
era
considerada
a
arte
que
tratava
de
espaço.
75
Para
Didi
Huberman
assumir
que
nenhuma
dimensão
define
o
espaço,
já
havia
o
conhecimento
adquirido
no
século
XX
em
experiências
e
teorias
sobre
o
espaço.
Antes
disso,
no
século
XIX,
a
estética
moderna
alemã
presente
em
diversas
escolas
européias
dedicava-‐se
às
artes
do
espaço.
Como
se
percebe
,
se
constrói
e
se
vive
no
espaço.
De
modo
típico
para
a
época,
no
século
XIX,
com
o
grande
trânsito
de
alunos
entre
escolas,
o
pensamento
alemão
alastrou-‐se
por
toda
a
Europa.
Em
sequência,
no
início
do
século
XX,
os
artistas
emigrantes
e
exilados
de
guerra
o
divulgavam
para
o
resto
do
Ocidente.
Daí
sua
relevância
no
pensamento
moderno
ocidental
e
na
presente
pesquisa,
quando
interpreta-‐se
o
vocabulário
que
Olafur
Eliasson
emprega
em
textos
e
palestras
publicadas.
Termos
que
nos
remetem
a
esse
pensamento
estético
anterior.
Dentre
eles,
destacam-‐se:
EMPATIA,
VISIBILIDADE,
O
CORPO
E
O
ESPAÇO,
PARTICIPAÇÃO,
TEMPORALIDADE,
ALTERIDADE,
REALIDADE
NEGOCIÁVEL,
ESTÉTICA
POLÍTICAeUTOPIA.
2.1 Estética Alemã - Forma e Espaço
Duas
décadas
configuraram
um
período
intenso
da
história
da
filosofia
alemã,
entre
1853
e
1874.
Quando
concentraram-‐se
discursos
concentuais
novos
com
práticas
revolucionárias
–
pensamento
estético
e
arquitetura.
“Mais
genericamente,
a
década
de
1880
pode
ser
vista
como
o
vibrante
ponto
de
virada
entre
as
tendências
estéticas
do
século
XIX
e
as
visões
de
arte
abstrata
e
arquitetura
do
século
XX.”
(MALLGRAVE
et
ILKONOMOU,
1994.
p.
03)
Esta
transformação
baseada
nos
sistemas
metafísicos
de
Kant,
Herbart
e
Vischer,
passou
por
análises
formais
de
estética
psicológica
com
fundamentos
fisiológicos.
Segundo
Mallgrave
e
Ilkonomou(1994),
este
caminho
especulativo
levou
às
novas
disciplinas
de
Estética
e
História
da
Arte.
Empatia, Forma e Espaço
A
palavra
empatia
designa
um
elo
afetivo,
no
sentido
de
alcançar
e
atingir,
nem
sempre
relacionada
ao
afeto,
estima.
Este
elo
com
o
espaço
circundante
pode
ser
justificado
por
memória,
transferências
psicológicas,
projeções
e
sensações
físicas.
76
Qualquer
justificativa
passa
pela
experiência
presencial
num
determinado
espaço
e
pelos
sentidos
no
corpo
humano.
Na
relação
forma
e
conteúdo,
persistente
na
Teoria
da
Arte,
a
empatia
alia
características
formais
e
informais.
Ao
longo
dos
últimos
séculos,
alternam-‐se
movimentos
formalistas
e
não-‐formalistas.
A
pesquisa
sobre
quais
aspectos
do
espaço
construído
provocam
empatia
no
ser
humano
norteia
uma
sequência
de
teorias
divergentes
e
complementares,
desde
o
século
XIX.
Vischer e Fiedler - Empatia e Visibilidade
Em
meio
a
discordâncias,
em
defesa
ou
ataque
ao
racionalismo,
e
disputas
acadêmicas,
os
pensadores
alemães
do
final
do
século
XIX
chegaram
bem
próximo
das
hipóteses
que
os
pesquisadores
atuais
averiguam
em
neurociência.
A
‘consciência
corporal’
sob
influências
afetivas,
ou
de
familiaridade
com
o
espaço,
e
a
percepção
do
mesmo.
Dentre
os
conceitos
pesquisados,
em
torno
de
1880,
a
idéia
de
Empatia
colocada
por
Robert
Vischer32
tem
desdobramentos
nos
discursos
atuais.
Pelo
prisma
teórico,
a
Empatia
-‐
hipótese
crucial
de
Vischer
-‐
consistia
na
projeção
de
nosso
ego
mental-‐sensorial
(nos
termos
de
Vischer)
dentro
do
objeto.
Apoiava-‐se
no
conteúdo
subjetivo
que
o
observador
traz
para
a
contemplação
estética
e
no
condicionamento
que
a
fisiologia
do
corpo
humano
poderia
causar
em
respostas
emotivas
e
sensoriais.
A
grande
contribuição
de
Vischer
está
na
distinção
entre
sensação
–
mera
resposta
física
do
corpo
a
estímulos
externos
-‐
e
sentimento
–
que
envolve
atividades
mental
e
emocional
(MALLGRAVE
et
ILKONOMOU,
1994.p.23).
Ambas
eram
classificadas
de
imediatas
ou
sensíveis,
conforme
o
modo
em
que
se
apresentassem.
Curioso
é
o
fato
dele
ter
chegado
a
esta
noção
de
empatia
com
base
em
leituras
sobre
a
interpretação
de
sonhos,
e,
não
graças
aos
seus
estudos
fisiológicos.
Semper,Vischer
e
Lotze
defendiam
a
tese
de
que
“Sob
a
influência
de
ciências
biológicas
empíricas,
a
noção
de
‘corpo
arquitetônico’
foi
revisitada
32
Empatia
com
a
forma
do
objeto,
entendendo
que
projetamos
nossos
sentimentos
nos
objetos.
77
no
século
XIX,
evidenciando
aspectos
fisiológicos
e
psicológicos."
(MALLGRAVE
et
ILKONOMOU,
1994)
Na
segunda
metade
do
século
XIX,
a
mudança
para
a
visão
histórica
com
ênfase
nas
obras
de
arte
em
si,
permitiu
que
a
crítica
associasse
as
estratégias
estéticas
de
Robert
Vischer
–
a
defesa
da
estética
do
“conteúdo”-‐
e
as
de
Fiedler
–
concentrando
na
contemplação
artística,
todas
as
preocupações
culturais,
intelectuais
e
emocionais.
Em
1876,
Fiedler
escreveu
um
ensaio
que
pretendia
apresentar
uma
formação
cognitiva
especifica
da
arte
capaz
de
afastar
a
estética
idealista
destas
investigações.
Avançou
a
partir
das
inovações
teóricas
e
históricas
de
Semper
para
aprofundar
os
conceitos
de
uma
arte
espacial.
Em
contrapartida
ao
pensamento
conceitual,
Fiedler
(1876)
definia:
“a
forma
artistica
como
uma
linguagem
autônoma,
capaz
de
articular
e
apresentar
seu
próprio
mundo
de
significados
em
toda
a
sua
plenitude.
Esse
é
o
mundo
da
forma
visível:
imagens
da
mente
que
são
constantemente
recriadas.
Visibilidade
não
é
contemplação
ou
percepção
da
forma
mas
um
olhar
ativo
no
qual
as
imagens
tornam-‐se
clareadas
como
forma
e
adquirem
sua
expressão
única.
É
mesmo
um
suspensão
da
consciência
normal
e
uma
liberação
do
sentimento”.
(MALLGRAVE
et
ILKONOMOU,
1994.)
Wölfflin e Schmarsow – O Corpo e O Espaço
Através
de
analogias
com
o
corpo
humano,
considerados
mecanismos
de
ressonância
corporal,
esses
historiadores
acreditavam
provocar
a
identificação
do
observador
com
o
meio
(Wölfflin,
1886;
Schmarsow,
1893).
Em
seus
escritos,
Wölfflin
focava-‐se
mais
na
estética
psicológica
do
que
na
visibilidade,
ou
seja,
no
formalismo.
Buscava
tratar
a
História
da
Arte
filosoficamente.
A
pergunta
que
escolheu
para
começar
a
sua
dissertação
era:
“Como
é
possível
que
as
formas
arquitetônicas
possam
expressar
uma
emoção
ou
um
humor?”.
O
autor
defendia
que
as
emoções
alheias
podem
ser
entendidas
simplesmente
porque
nós
já
as
experimentamos
fisicamente,
pessoalmente.
Deste
modo,
também
as
“formas
tornam-‐se
significantes
para
nós
apenas
quando
nós
reconhecemos
nelas
a
expressão
78
de
uma
alma
sensível.
Instintivamente
nós
animamos
cada
objeto.
Este
é
um
instinto
primitivo
do
homem.”
(MALLGRAVE
et
ILKONOMOU,
1994.p.42)
Nas
análises
de
obras
arquitetônicas
gregas
e
de
estilo
gótico,
Wölfflin
empregava
descrições
subjetivas
como
lentidão
e
movimento
e
velocidade,
denotando
empatia
e
eliminando
qualquer
fator
intelectual
das
formas.
Esses
mesmos
aspectos
subjetivos
temporais
são
canais
utilizados
por
Olafur
para
abordar
o
espaço,
e,
por
serem
pontos
nodais
entre
tempo
e
espaço,
recebem
grande
atenção
do
artista.
Perguntado
sobre
aceleração
e
lentidão
em
suas
obras,
Olafur
atesta
a
importância
do
tempo
na
percepção
do
espaço,
o
que
busca
trabalhar
em
suas
obras
através
do
movimento.
Com
o
deslocamento
das
pessoas
ou
objetos
nas
instalações,
o
artista
cria
relações
espaciais
diferentes
para
cada
pessoa,
em
referência
ao
seu
próprio
corpo.
(ELIASSON,
2011.
p.
272)
Schmarsow
(1893)
considerava
que
a
imaginação
espacial
humana
envolvia
fenômenos
e
aspectos
culturais,
o
que
era
uma
novidade
surpreendente
para
a
sua
época.
No
processo
de
criação
do
espaço,
a
arquitetura,
a
despeito
da
verticalidade,
deveria
envolver
o
sujeito,
fechar
seu
espaço
envolvente,
para
proporcionar
uma
experiência
corporal
plena.Segundo
ele,
atribuimos
ao
espaço
uma
orientação
referente
ao
nosso
corpo,
pois
o
alinhamento
da
face
e
dos
quadris
determina
o
que
está
adiante.
Com
isso,
a
organização
corporal
frontal
confere
mais
importância
à
profundidade,
dentre
as
dimensões
do
espaço
real.
Atribui
vida
à
experiência
espacial
ao
estendê-‐la
a
todo
o
corpo
humano,
ao
invés
de
restringi-‐la
à
visão.
A
relação
do
corpo
com
a
apreensão
do
espaço
é
parte
notória
do
trabalho
de
Olafur
Eliasson
e
de
sua
geração,
em
decorrência
dos
movimentos
artísticos
que
os
precederam.
Pois,
o
tema
foi
retomado
com
veemência,
desde
o
minimalismo
e
ganhou
força
na
idéia
de
participação
que
se
formou
no
decorrer
do
século
XX.
2.2 Participação na Arte Moderna
Embora
fale-‐se
muito
de
participação
do
público
na
arte
contemporânea,
especialmente
a
partir
dos
anos
1960,
deixa-‐se
de
lado
que
os
precursores
foram
os
artistas
Dadaístas,
nos
anos
1920.
Walter
Benjamim
escreveu
um
dos
primeiros
textos
79
teóricos
sobre
o
status
político
da
participação,
em
1934.
Nele,
o
autor
defendia
a
importância
da
arte
como
exemplo
de
envolvimento
do
observador
com
o
processo
de
produção.
Um
modelo
colaborativo
que
repercutiria
na
vida
em
sociedade:
“quanto
mais
consumidores
ela
(a
arte)
for
capaz
de
tornar
produtores
–
isto
é,
mais
leitores
ou
espectadores
em
colaboradores."
(BISHOP,
2006.
p.11)
O
ideal
de
participação
de
Benjamin
estava
na
dramaturgia
teatral
de
Bertold
Brecht,
seu
contemporâneo.
Eram
propostas
de
interrupções
na
narrativa
dos
espetáculos
para
impedir
a
identificação
com
personagem,
qualquer
tipo
de
transferência.
Assim,
Brecht
trazia
o
espectador
de
volta
para
a
sua
realidade,
num
distanciamento
crítico.
A
dimensão
social
da
participação
em
arte
é
o
tema
do
livro
“Participação”
organizado
por
Claire
Bishop(2006),
e
nessa
seleção
de
textos
é
possível
visualizar
um
corpo
teórico
consistente.
Os
conceitos
participativos
são
introduzidos
por
textos
teóricos,
mas
são
justamente
as
duas
ultimas
partes
do
livro
-‐
escritos
de
artistas
e
posturas
curatoriais
–
que
esclarecem
as
fortes
mudanças
na
prática
artística,
no
período
em
que
foram
publicados,
entre
1962
e
2004.
Este
textos
de
artistas
descrevem
propostas
que
se
apropriaram
de
formas
sociais
para
aproximar
a
arte
do
cotidiano,
colapsando
a
distinção
entre
produtor
e
receptor,
artista
e
audiência.
Quando
Hélio
Oiticica
convida
a
sambar,
Tom
Marioni
a
tomar
cerveja
e
Joseph
Beuys
a
discutir
política,
na
verdade,
são
artistas
convocando
a
experiências
sociais
de
dimensões
coletivas,
formas
colaborativas.
Há
nessas
iniciativas
preocupações
de
ordem
estética,
ética
e
política
conjugadas
numa
forma
de
arte
–
a
participação.
Olafur
Eliasson
trabalha
com
a
participação
do
público
como
material
constituinte
da
obra,
pois
sem
o
público
interagindo
não
há
obra.
Pelos
mesmos
motivos
que
os
artistas
citados
por
Claire
Bishop,
questões
éticas
e
políticas
que
convergem
numa
interação
estética
específica,
Eliasson
já
parte
deste
dado,
ainda
que
seu
trabalho
seja
mediado
por
novas
tecnologias
e
ambientes
alterados.
A
dimensão
política
precede
a
preocupação
formal.
"Fica
a
cargo
das
pessoas
-‐
dos
indivíduos
-‐
descobrir
por
elas
mesmas
o
que
fazer
com
sua
experiência.
Isso
é
diversidade.
Aqui,
firma-‐se
um
contrato
coletivo
forte.",
segundo
o
artista.
(ELIASSON,
2011.
p.391)
80
O
ponto
que
une
o
público
no
espaço
nas
obras
de
Eliasson
está
na
experiência
coletiva.
Esta
política
de
participação
presente
nas
obras
do
artista
pressupõe
a
indistinção
intelectual
do
público,
uma
igualdade,
na
qual
a
mera
atividade
física
seja
promotora
dessa
apropriação
do
espaço
(BISHOP,
2006.p.16.).
O
artista
volta-‐se,
assim,
aos
fatos
em
si,
a
visita
ao
museu,
ou
ao
espaço
público
ocupado
e
ao
encontro
do
público.
2.3 Fenomenologia
Voltar-‐se
para
os
fenômenos,
as
coisas
em
si,
nas
palavras
do
filósofo
francês
Merleau-‐Ponty
(1908-‐1961)
“trata-‐se
de
descrever
e
não
de
explicar
nem
analisar”(MERLEAU-‐PONTY,
1945).
Pode-‐se
dizer
que
Leonardo
da
Vinci
foi
o
grande
precursor
desta
corrente
filosófica,
ao
ter
postulado
a
observação
como
método.
A
pesquisa
à
frente
da
teoria
e
qualquer
autoridade
de
seu
tempo
é
a
única
capaz
de
fornecer
o
conhecimento
libertador(JASPERS,
Karl.
1965).
Fenomenologia
é
um
termo
recorrente
em
textos
sobre
arte
contemporânea,
em
muitos
casos,
mal
aplicado,
ou
equivocado.
A
arte
de
Eliasson
apresenta
uma
abordagem
fenomenológica
no
sentido
estrito
da
palavra.
Kant
e
Husserl
insistem
que
“toda
experiência
possível
do
mundo
depende
de
um
sujeito
capaz
de
experimentar”,
mesmo
quando
o
que
se
experimenta
independe
da
mente
perceptiva.
De
acordo
com
isso,
Eliasson
tem
o
cuidado
em
fazer
com
que
os
trabalhos
sejam
parte
da
consciência
dos
participantes,
como
todos
os
seus
títulos
sugerem,
e
tudo
aparente
ao
observador.
“A
fenomenologia
é
o
estudo
das
essências,
[...]
Mas
a
fenomenologia
é
também
uma
filosofia
que
repõe
as
essências
na
existência,
[...]cujo
esforço
todo
consiste
em
reencontrar
este
contato
ingênuo
com
o
mundo,
para
dar-‐
lhe
enfim
um
estatuto
filosófico.
É
a
ambição
de
uma
filosofia
que
seja
uma
‘ciência
exata’,
mas
é
também
um
relato
do
espaço,
do
tempo,
do
mundo
‘vividos’.”
(MERLEAU-‐PONTY,
1945.p.1).
Merleau-‐Ponty
segue
Husserl
no
que
diz
respeito
a
nossa
experiência
singular
ser
o
único
canal
de
conhecimento
do
mundo.
Acredita
que
a
ciência
é
apenas
explicação
ou
análise
desse
mundo
percebido
e,
antes
de
todas
as
explicações
provenientes
dos
saberes
tematizados
está
o
ser
humano.
O
mundo
visto
como
fonte
de
todos
os
nossos
81
pensamentos
e
de
todas
as
nossas
percepções,
onde
estamos
inseridos
e
onde
nos
comunicamos
com
os
outros.
A
fenomenologia
seria,
então,
uma
descoberta
vivencial
e
originária,
fundamentada
no
mundo
da
vida.
2.4 Temporalidade na Fenomenologia
Na
década
de
1990,
Olafur
Eliasson
participou
de
um
grupo
interessado
na
influência
temporal
no
espaço.
Nesta
época,
os
escritos
de
Henri
Bergson
voltaram
a
ter
significado
no
texto
de
Giles
Deleuze
que
retoma
o
seu
entendimento
de
temporalidade.
Onde
o
espaço
é
um
fluxo
interminável.
O
conceito
de
‘densidade
temporal’
é
a
riqueza
do
pensamento
de
Bergson,
para
Olafur
Eliasson:
“Ele
não
vê
o
tempo
como
uma
linha.
O
tempo
é
não
linear
e
ele
diria
que
o
espaço
é
do
tempo,
não
no
tempo.
Não
podemos
realmente
falar
sobre
a
matéria
se
não
considerarmos
o
aspecto
temporal.”(ELIASSON,
2011.)
O
artista
e
os
filósofos
da
corrente
fenomenológica
-‐
Merleau-‐Ponty,
Varela,
Henri
Bergson
e
Edmund
Husserl
–
depositam
na
experiência
humana
mediada
pela
percepção
o
entendimento
do
mundo,
condicionando
a
realidade
circunstancial
percebida
no
corpo.
Visto
que
“de
certa
forma,
é
sempre
tarde
demais
para
se
falar
do
tempo”(DERRIDA),
esta
circunstância
indissociável
na
percepção
do
espaço,
o
tempo,
nos
move
constantemente
em
direção
ao
presente.
O
tempo
presente,
a
percepção
espacial
multissensorial
e
a
presença
corporal
configuram
experiências,
independente
de
definir
ou
conformar
o
espaço,
permitem
constatações
e
reflexões.
“O
espaço
sempre
é
mais
além,
mas
isso
não
quer
dizer
que
seja
alhures
ou
abstrato,
uma
vez
que
ele
está,
que
ele
permanece
aí.
Quer
dizer
simplesmente
que
ele
é
uma
trama
singular
de
espaço
e
tempo
(quer
dizer
exatamente
que
o
espaço
assim
entendido
não
é
senão
“um
certo
espaço”).”
(DIDI-‐HUBERMAN,
1998.p.164)
A
singularidade
da
percepção
individual
não
impede
que
o
espaço
seja
percebido
coletivamente
e
as
interações
entre
as
pessoas
nessa
coletividade
sugerida
cria
os
espaços
de
Olafur.
82
2.5 Alteridade
Por
mais
que
sejam
citados
filósofos
diversos,
o
interesse
no
presente
estudo
é
realçar
os
elos
entre
essas
teorias
e
as
práticas
de
Eliasson.
O
filósofo
pós-‐moderno
Jameson
insiste
sobre
a
importância
da
teoria
crítica,
colocando
que
nossas
polêmicas
filosóficas
e
sociológicas
reafirmam
a
relevância
de
Theodor
Wiesengrund
-‐
Adorno.
A
contribuição
indispensável
de
Adorno
para
a
filosofia
contemporânea
dá-‐se
na
análise
do
sistema
econômico,
ou
modo
de
produção,
em
suas
três
principais
obras
Dialética
do
esclarecimento,
Dialética
negativa
e
Teoria
estética.
Jameson
considera
seu
positivismo
“precisamente
o
que
hoje
chamamos
pós-‐modernismo,
apenas
num
estágio
mais
primitivo”(JAMESON,
1997)
Um
termo
que
surge
na
filosofia
da
ciência
pequeno-‐burguesa
republicana
do
século
XIX,
e
transforma-‐se
noutro,
revigorado
com
o
esplendor
da
vida
consumista
cotidiana
e
do
capitalismo
multinacional.
(JAMESON,
1997)
De
fato,
os
conceitos
com
que
Adorno
pensava
a
arte
moderna
parecem
muito
atuais,
como
a
definição
de
arte
“na
constelação
de
momentos
que
se
transformam
historicamente”,
cuja
“[...]
essência
não
é
dedutível
da
sua
origem”(ADORNO,1970.p.12).
Em
sua
“Teoria
Estética”,
publicada
em
1968,
Adorno
relaciona
os
diversos
entendimentos
da
Estética
ao
longo
da
História,
sobressaltando
os
incrementos
mais
recentes,
como
a
revisão
da
filosofia
de
Kant
relacionada
à
psicologia.
Basicamente,
repassa
as
contradições
do
século
XX,
como
se
estivesse
vivendo
no
século
posterior.
Adorno
desloca
a
discussão
fundamental
no
auge
do
modernismo,
sobre
o
papel
da
arte,
para
um
lugar
incerto
em
que
a
arte
“existe
na
relação
ao
seu
Outro
e
é
o
processo
que
a
acompanha”(ADORNO,1970.).
Perfeitamente,
o
que
vem
sendo
realizado
na
arte
atual,
seus
conceitos
relativos
e
processos
participativos.
Alteridade na Fenomenologia
Daniel
Birnbaum
identifica
a
alteridade
como
ponto
de
proximidade
entre
Eliasson
e
Husserl(ELIASSON,
2011.p.137).
Este
último,
ao
questionar
a
redução
do
eu
transcendental
pela
presença
do
outro
(HUSSERL,
1931.p.
121),
coloca
à
prova
todas
as
83
questões
subjetivas
da
fenomenologia
(por
exemplo,
o
ser-‐no-‐mundo
e
a
essência
na
existência).
“Em
conseqüência
dessa
eliminação
abstrativa
de
tudo
o
que
é
estranho
a
mim,
restou-‐me
uma
espécie
de
mundo,
uma
natureza
reduzida
à
minha
vinculação
-‐
um
eu
psicofísico,
com
corpo,
alma
e
eu
pessoal,
integrado
a
essa
natureza
graças
a
seu
corpo”.
(HUSSERL,
1931)
Entretanto,
essa
provação
expande
os
conceitos,
porque
acaba
englobando
a
intersubjetividade,
e
as
demais
relações
pelas
quais
percebemos
o
mundo.
Deste
modo,
o
mesmo
conceito
de
‘alteridade’
aparece
em
Merleau-‐Ponty:
“Para
que
percebamos
as
coisas,
é
preciso
que
as
vivamos
[...]
Viver
uma
coisanão
é
nem
coincidir
com
ela
nem
pensá-‐la
de
uma
parte
à
outra.
Vê-‐se,
então,
nosso
problema.
E
preciso
que
o
sujeito
perceptivo,
sem
abandonar
seu
lugar
e
seu
ponto
de
vista,
[...]
abra-‐se
a
um
Outro
absoluto
que
ele
prepara
no
mais
profundo
de
si
mesmo.”(MERLEAU-‐PONTY,
1945.p.
436)
Na
fenomenologia,
o
corpo
serve
de
mediador
e
parte
constituinte,
simultaneamente.
Nos
textos
de
Husserl
e
Merleau-‐Ponty,
verifica-‐se
a
descrição
do
papel
mediador
dos
sentidos
no
corpo
para
o
contato
do
ser
com
o
mundo
e,
por
tratar-‐se
da
experimentação
em
si,
nessa
teoria,
a
percepção
não
pode
ficar
alheia
ao
ser.
O
ser
humano
percebe
o
mundo
através
dos
sentidos,
no
corpo,
e,
ao
mesmo
tempo,
o
corpo
e
os
sentidos
compõem
a
subjetividade
do
ser
humano.
O
desafio
no
trabalho
de
Olafur
está
em
considerar
o
sujeito
como
parte
do
coletivo.
Ele
opera
na
coletividade,
na
interação
entre
as
pessoas
e
o
espaço.
2.6 Realidade Negociável
A
Estética
Relacional
de
Nicolas
Bourriaud(BISHOP,2006.p.160).
Por
ser
um
artista
com
formação
européia
que
surgiu
nos
anos
1990
e
preocupar-‐se
basicamente
com
as
relações
humanas,
Olafur
tem
afinidades
com
a
arte
relacional.
Entre
os
artistas
relacionais33
não
há
semelhanças
estilísticas,
temáticas
ou
33
Estética
Relacional
tornou-‐se
um
texto
definidor
da
geração
de
artistas
que
se
pronunciou
na
Europa,
no
início
dos
anos
90.
84
iconográficas.
“O
que
eles
têm
em
comum
é
muito
mais
determinante,
nomeadamente,
o
fato
de
que
operam
no
mesmo
horizonte
prático
e
teórico:
a
esfera
das
relações
inter-‐pessoais”(BISHOP,
2006.p.164).Contudo,
mais
importante
do
que
classificá-‐lo,
agrupá-‐lo
ou
nomeá-‐lo,
é
reconhecê-‐lo
dentro
de
um
colóquio.
Na
verdade,
os
comentários
do
filósofo
Jacques
Ranciére
sobre
a
Estética
Relacional
estreitam
este
vínculo,
entre
Olafur
e
Nicolas
Bourriaud.
Dentro
dessa
lógica
artística
de
estabelecer
relações,
um
trabalho
pode
funcionar
como
um
dispositivo
relacional,
uma
engrenagem
provocativa
e
gerenciadora
de
encontros
individuais
ou
coletivos(BISHOP,
2006.p.163)
Para
ativar
esses
dispositivos,
as
exposições
de
arte
contemporânea,
por
sua
vez,
criam
espaços
livres
que
sugerem
possibilidades
de
trocas,
ocupam
interstícios.
Ocorrem
em
intervalos
de
tempo
diferentes
dos
que
prevalecem
no
ritmo
cotidiano,
visando
encorajar
comunicações
inter-‐pessoais
espontâneas.
A
arte
relacional
nasce
da
observação
do
presente
e
não
tem
precedentes
históricos,
cria
este
domínio
de
trocas
que
apresenta
critérios
estéticos,
de
forma
coerente,
e
nos
oferece
de
volta
valores
simbólicos.
Reflete
as
relações
humanas,
representa
a
sociedade,
ao
mesmo
tempo
que
é
parte
de
seu
tecido
social.
Para
Bourriaud,
a
arte
é
um
estado
de
encontro
-‐
assim
como
outras
atividades
humanas
-‐
baseada
no
comércio.
Sendo
assim,
arte
é
tanto
o
objeto
quanto
o
sujeito
de
uma
ética
própria,
na
qual
sua
única
função
é
se
expor
para
este
mercado.
Deste
modo,
ele
expõe
uma
faceta
social
e,
em
paralelo,
uma
relação
interna
do
meio
profissional.
Entretanto,
a
questão
da
arte
relacional
é
externa,
localiza-‐se
nas
relações
sociais
que
testam
a
capacidade
de
resistência
da
arte
na
chamada
“Sociedade
do
Espetáculo”(DEBÓRD,
1967).
Essa
possibilidade
de
resistência
aparece
em
indagações
diante
da
obra,
algo
que
“nos
faz
encarar
a
realidade
através
da
singularidade
de
uma
relação
com
o
mundo,
através
de
uma
ficção”(BOURRIAUD).
As
semelhanças
e
diferenças
entre
as
ações
dos
artistas
e
atos
cotidianos
geram
as
reflexões
sobre
como
vivemos
e
como
poderíamos
viver.
85
“Isto
me
permite
existir
ao
olhar,
ou,
ao
contrário,
nega
minha
existência
como
sujeito
e
sua
estrutura
recusa-‐se
a
considerar
o
outro?
Este
espaço-‐
tempo
sugerido
ou
descrito
por
esta
obra
de
arte,
junto
com
as
leis
que
o
governam,
correspondem
às
minhas
aspirações
da
vida
real?
Isto
forma
uma
critica
ao
que
precisa
de
critica?
Se
existisse
um
espaço-‐tempo
correspondente
na
realidade,
eu
poderia
viver
nele?”
(BOURRIAUD).
Os
artistas
contemporâneos
criam
situações
que
incluem
métodos
de
trabalho,
estruturas
existentes
na
vida,
usam
o
tempo
como
material
e
abandonam
as
formas
concretas,
antes
identificáveis
como
produtos
do
campo
da
arte.
A
produção
gestual
supera
a
produção
material
para
subverter
os
hábitos
de
consumo
instaurados
nessa
sociedade.
A
“forma
toma
prioridade
sobre
as
coisas”34.
A
base
dessas
experiências
de
arte
está
na
co-‐presença
real
ou
simbólica
dos
espectadores
com
a
obra,
inspirada
numa
busca
por
democracia.
Na
arte
relacional,
o
status
do
observador
varia,
desde
consumidor
passivo
a
cliente,
convidado
ou
protagonista.
“Então,
precisamos
prestar
atenção:
nós
sabemos
que
atitudes
tornam-‐
se
formas,
e
agora
precisamos
compreender
que
as
formas
induzem
modelos
de
sociabilidade”.
Comumente,
esperamos
que
nossos
desejos
sejam
cumpridos
no
futuro
ou
suspiramos
por
uma
situação
passada.
Diferente
disso,
no
trabalho
de
Olafur
“presença
tem
muito
mais
a
ver
com
a
presença
comum
de
pessoas,
uma
união
no
Aqui
e
Agora,
bem
como
uma
situação
em
que
impera
uma
atenção
redobrada.”
Este
pensamento
de
Eliasson
é
muito
próximo
ao
que
Bourriaud
declara
em
seus
livros,
cujos
artistas
relacionais
aderem.
Olafur
Eliasson
cria
eventos
dispostos
à
interação.
Ele
oferece
a
oportunidade
de
compartilhamento
de
momentos
e
sensações,
ao
criar
o
espaço
da
instalação.
Diferente
das
obras
relacionais,
Olafur
não
se
concentra
apenas
nas
trocas
interpessoais,
mas,
sim,
na
coletividade
dentro
do
espaço.
34
“The
Behavioural
Economy
of
Contemporary
Art”,
Nicolas
Bourriaud.
86
“Se
Eliasson
é
um
artista
relacional,
então
talvez
seja
mais
no
sentido
de
Ranciére
do
que
de
Bourriaud.
Ele
é
sem
dúvida
mais
interessado
em
arte
como
um
meio
de
distribuição
do
sensível,
e
na
política
envolvida,
do
que
em
jogos,
festivais
ou
festas.
Seu
ponto
de
partida
fenomenológico
–
a
insistência
na
perspectiva
da
primeira
pessoa
–
nunca
prende
o
sujeito
35
numa
posição
solipsistica
.
[...]
A
arte
de
Eliasson
nos
ajuda
a
compreender
verdades
gerais:
a
mais
profunda
consegue
alcançar
que
a
subjetividade
é
dialógica.”
(GRYNSZTEJN,
2007.p.136.)
2.7 Estética Política de Jacques Ranciére
O
filósofo
francês
mencionado
acima
é
professor
da
Universidade
de
Paris
e
teve
grande
repercussão
no
debate
que
lançou
com
o
livro
“Estética
e
Política”,
em
2000.
Ranciére
escreveu
logo
no
primeiro
capítulo
sobre
as
relações
entre
política
e
estética
que
o
comum
partilhado
(a
cultura,
os
direitos
civis,
a
liberdade)estabelece.
Define
o
conceito
de
“partilha
do
sensível”
como
o
“sistema
de
evidências
sensíveis
que
revela,
ao
mesmo
tempo,
a
existência
do
comum
e
dos
recortes
que
nele
definem
lugares
e
partes
respectivas.
Uma
partilha
do
sensível
fixa
portanto,
ao
mesmo
tempo,
um
comum
partilhado
e
partes
exclusivas”.
(RANCIÉRE,
p.15)
Na
formação
deste
panorama
estético
em
que
as
obras
de
Eliasson
se
inserem,
dentre
os
escritos
de
Ranciére,
aqueles
sobre
estética
relacional
merecem
mais
atenção.
Nomeadamente,
o
texto
“Problemas
e
Transformação
em
Arte
Crítica”
(2004).
O
autor
defende
que
deve-‐se
reconhecer
a
pluralidade
de
vínculos
entre
a
estética
e
a
política
e
ponderar
as
tensões
entre
arte
e
vida,
estabelecendo
as
especificidades
de
uma
estética
sensorial
capaz
de
separá-‐las.
Definir
este
limite
tênue
que
faz
o
território
da
arte
diferente
das
demais
experiências
sensíveis.
Ranciére
descreve
que
a
arte
crítica
convida
a
ver
os
sinais
do
capital
embutidos
nos
objetos
e
comportamentos
cotidianos,
na
contramão
do
mundo
atual
que
os
perpetua.
“Onde
a
transformação
das
coisas
em
signos
redobra
o
grande
excesso
de
35
O
solipsismo
é
a
consequência
extrema
de
se
acreditar
que
o
conhecimento
deve
estar
fundado
em
estados
de
experiência
interiores
e
pessoais.
87
signos
interpretativos
que
faz
toda
resistência
desaparecer”(RANCIÉRE,
2004.
cit.
em
BISHOP,
2006).
Desde
os
anos
90,
esses
artistas
criaram
um
jogo
de
trocas
e
deslocamentos
entre
o
mundo
da
arte
e
da
não-‐arte
que
funda
um
terceira
política,
estética.
Assim,
geram
colisões
entre
elementos
heterogêneos,
oposições
dialéticas
entre
forma
e
conteúdo,
que
denunciam
relações
sociais
e
conferem
um
lugar
para
a
arte,
nesse
meio.
Para
Ranciére,
“se
existe
uma
questão
política
sobre
arte
contemporânea
[...]
é
a
análise
dessas
mudanças
afetando
esta
‘terceira’
política.”
.”(RANCIÉRE,
2004.
cit.
em
BISHOP,
2006).
Apesar
de
destacar
a
impossibilidade
de
tomar
decisões
nos
artistas
relacionais,
o
que
chama
de
indecidível,
um
termo
matemático
para
algo
indecifrável,
Ranciére
percebe
quatro
formas
de
contato
com
o
público.
Seriam
estas:
o
jogo,
o
inventário,
o
encontro
e
o
mistério.
Pensando
nas
obras
de
Olafur
Eliasson,
grande
parte
do
que
Ranciére
analisa
está
presente
em
sua
produção.
O
inventário
seria
o
reconhecimento
do
potencial
histórico
coletivo
de
objetos
semelhantes
conhecidos
do
público,
como
os
trabalhos
em
série,
maquetes
e
fotografias.
O
encontro
é
evidente
na
confluência
do
publico
para
os
espaços
propostos
pelo
artista.
O
mistério
e
o
jogo
são
termos
polêmicos
quando
se
trata
deste
artista,
pois
a
multiplicidade
das
interpretações
cabe
aos
visitantes
e
não
aos
seus
projetos.
Há
um
mistério
na
tentativa
de
identificação
das
pessoas,
quando
as
imagens
das
pessoas
são
refletidas,
ou
do
espaço,
quando
a
luz
e
a
fumaça
ocultam
os
limites
de
um
ambiente.
Há,
também,
um
jogo,
a
cada
vez
que
um
visitante
se
disponibiliza
à
imersão
nesses
espaços
propostos.
A
polêmica
está
em
não
confundir
estes
espaços
lúdicos
reais
com
espaços
ilusórios,
entender
que
o
artista
busca
mediar
a
realidade
para
acentuá-‐la.
As
atitudes
artísticas
contraditórias
expressas
na
atualidade
evidenciam
o
aspecto
indecifrável
de
uma
política
da
arte.
Numa
situação
paradoxal,
em
que
a
incerteza
de
sua
política,
talvez
aumente
a
atuação
da
arte
a
outro
nível.
“a
um
nível
mais
elevado
de
intervenção
pelo
grande
déficit
da
própria
política.
É
como
se
a
diminuição
do
espaço
público
e
o
esmaecimento
da
inventividade
política,
num
tempo
de
consenso,
88
desse
uma
função
política
substitutiva
às
mini
demonstrações
de
artistas,
às
suas
coleções
de
objetos
e
traços,
aos
seus
mecanismos
de
interação,
às
suas
provocações
'in
situ'
ou
onde
mais
for.
Saber
se
estas
substituições
podem
recompor
espaços
políticos,
ou
se
elas
devem
ser
contidas
para
parodia-‐los,
é
certamente
uma
das
questões
de
hoje.”
(RANCIÉRE,
2004.
cit.
em
BISHOP,
2006.
p.88)
A
dúvida
sobre
a
eficácia
política
das
ações
artísticas
persiste,
contudo,
não
invalida
suas
tentativas,
pelo
contrário,
reforça
a
necessidade
premente
de
atuação.
O
consenso
e
a
inércia
da
população
geram
esta
urgência,
como
exposto
por
Ranciére.
Nesse
contexto,
Olafur
disponibiliza
sua
arte
a
esse
debate
e
acredita
que
cada
um
recebe
e
aproveita
estas
ofertas
de
modo
particular.
Mais
uma
vez,
reiterando
que
é
impossível
avaliar
com
precisão
o
que
fica
de
transformador
destas
experiências.
2.8 Utopia
Para
as
vanguardas
do
século
XX,
a
utopia
era
fundamental
como
horizonte
teórico
que
expandia
a
concretude
das
formas
e
possibilitava
o
debate
social.
Na
geração
de
artistas
dos
anos
1990,
há
um
forte
ceticismo,
em
que
a
realidade
busca
ocupar
todo
o
espaço,
seja
imaginário
ou
até
virtual.
Eliasson,
motivado
por
causar
impactos
positivos
no
seu
entorno,
mostra-‐se
interessado
na
construção
de
espaços
utópicos.
O
artista
considera
seus
valores
morais
pessoais
e
não
aplicáveis
a
todos.A
utopia
“era
normativa,
mas
penso
que
a
generalização
é
pouco
saudável,
porque
significa
lutar
pela
coletivização
através
da
unificação.”
(ELIASSON,
2011.p.415.)
Diferente
da
utopia
moderna
baseada
na
igualdade,
a
idéia
que
Olafur
trabalha
visa
um
objetivo
comum,
coletivo
e
não
absoluto.
Ele
acredita
ser:
“possível
introduzir
ética
e
valores
num
real
construído.
O
desafio
é
perceber
isso,
porque
as
gerações
anteriores
desenvolveram
os
seus
valores
e
ética
em
ambientes
que
não
concebiam
como
construções
ou
modelos,
mas
antes
como
uma
realidade
universal.
É
difícil
reavaliar
os
valores
modernistas
porque
ainda
são
usados
para
descrever
como
sentimos
e
nos
apercebemos
do
mundo.
O
desafio
assenta
na
linguagem
que
usamos”.
(ELIASSON,
2011.p.416.)
Em
entrevista
publicada
no
livro
Studio,
Eliasson
esclarece
que
seu
conceito
de
utopia
é
interior,
e
por
isso
não
estaria
alheia,
num
local
distante
e
ilusório.
Reside
no
desejo
de
relacionar-‐se
com
o
mundo
e
viver
melhor,
baseia-‐se
numa
nova
89
fenomenologia,
similar
àquela
anterior
aos
anos
80,
na
qual
o
pensamento
social
e
político
volta-‐se
para
o
cotidiano.
(ELIASSON,
2011.p.416.)
Entre
os
projetos
de
Olafur
Eliasson
que
constrõem
espaços
utópicos,
destaca-‐se
o
Blind
Pavillion
(Pavilhão
Cego)
construído
para
a
Bienal
de
Veneza
de
2003,
posteriormente,
exibido
em
uma
colina
na
Islândia.
Talvez
o
critério
adotado
para
reconhecer
este
aspecto
na
obra
tenha
sido
o
caráter
escultórico
da
construção
que
reduz
a
programa
arquitetônico
à
fruição
do
espaço.
Procedimento
similar
foi
empregado
no
projeto
de
um
carro
para
a
BMW,
Your
Mobile
Expectations
(Suas
Expectativas
Móveis),
em
2007.
No
processo
de
criação,
em
que
o
caráter
utilitário
foi
reduzido,
houve
um
jogo
com
o
valor
simbólico
do
carro,
o
mercado
de
consumo
e
as
possibilidades
de
reduzir
impactos
ecológicos.
Em
entrevistas,
o
artista
insiste
em
lembrar
que
não
é
um
cientista,
ainda
que
admire
o
direcionamento
da
ciência
ao
observador
mais
do
que
à
visão,
fato
recorrente
nas
últimas
décadas.
A
própria
ciência
está
reconsiderando
seus
métodos
e
Eliasson
questiona
a
maneira
que
a
sociedade
lida
com
o
entendimento
tradicional
da
ciência,
apontando
para
o
modo
da
ciência
produzir
realidade.
Quanto
à
mídia
cientifica,
acredita
que
de
algum
modo,
“a
comunicação
da
ciência
tornou-‐se
seu
co-‐
produtor”.
A
ideia
de
utopia,
comumente
associada
aos
inventos
científicos,
à
ficção,
criou
receios
quanto
a
movimentos
globais.
Traumas
causados
pelas
guerras,
movimentos
unificadores
e
o
temor
do
fim
do
mundo.
Ainda
assim,
as
redes
de
comunicação
globais
promovem
otimismo
no
imaginário
coletivo,
a
possibilidade
de
sistemas
operarem
de
modo
singular
e
plural
ao
mesmo
tempo.
Um
sonho
de
Eliasson,
quanto
às
possibilidades
de
comunicação,
seria
“que
a
coletividade
não
fosse
mais
baseada
em
pessoas
conhecidas
[...];
coletividade
real
é
uma
forma
de
democracia
baseada
num
acordo
bem
sucedido
com
a
diversidade.”(ELIASSON,
2011).Deste
modo,
trata-‐se
de
um
sonho
tendendo
à
totalidade
social,
como
o
próprio
conceito
ideal
de
democracia,
uma
utopia.
90
Parte
desse
ressurgimento
do
conceito
“utopia”
no
debate
da
ultima
década,
deve-‐se
ao
projeto
Estação
Utopia
na
bienal
de
Veneza,
em
2013.
2.9 Estação Utopia
Esta
foi
uma
seleção
de
cento
e
cinquenta
artistas
precedida
por
uma
série
de
seminários
e
exposições
que
formularam
a
posição
teórica
da
mostra.
Os
curadores
da
Estação
Utopia,
Molly
Nesbit,
Hans
Ulricht
Olbricht
e
Rirkrit
Tiravanija,
delinearam
suas
aspirações
políticas
e
estéticas
para
re-‐examinar
o
conceito
de
utopia,
no
texto
“O
que
é
uma
Estaçao?”(What
is
a
Station),
em
2003.
No
processo
de
exame
conceitual,
foram
retomadas
discussões
quanto
às
origens
e
aplicações
anteriores
de
Utopia.
Apareceram
menções
às
divergências
sobre
o
tema
entre
Adorno
e
Ernst
Bloch
–
o
fim
da
utopia
com
a
chegada
do
espaço
virtual,
na
época,
o
advento
da
televisão,
em
oposição
à
transformação
da
utopia
em
nichos
como
a
ficção
cientifica.
Concordavam
que
utopia
seria
uma
transformação
da
totalidade
e
Adorno
insistia
que
“a
perda
da
capacidade
em
imaginar
que
a
totalidade
como
algo
que
poderia
ser
completamente
diferente”
impossibilita
qualquer
utopia.
Nesse
ponto,
a
discussão
passa
por
uma
citação
de
Brecht
:
Something
is
missing
(Está
faltando
algo).
Este
algo
que
falta
seria
a
utopia
moderna
que
remonta
à
ilha
idealizada
na
literatura
de
Tomas
More,
em
1516.
O
paraíso
da
perfeita
ordem
social,
que
incita
à
busca
por
felicidade
e
liberdade.
Durante
séculos,
intelectuais
seguiram
nesta
especulação
teórica,
reestabelecendo
as
utopias
de
seus
próprios
meios
sociais.
Em
um
consenso,
os
curadores
da
Estação
Utopia
constataram
que
“a
utopia
havia
se
transformado
num
não-‐lugar
conceitual,
uma
retórica
vazia
no
máximo,
mais
frequente
do
que
férias
exóticas,
a
prazerosa
ilha
deserta
clichê”(BISHOP,
2006).
Estabeleceram
que
a
Estação
Utopia
seria
uma
estrutura
conceitual
flexível
em
conjunto
com
uma
estrutura
física
construída
na
Bienal
de
Veneza,
“uma
estação
a
caminho”,
ou
melhor
a
meio
caminho,
entre
o
conceitual
e
o
físico
e
a
utopia
e
a
realidade.
Na
estação
física
projetada
por
Tiravanija
e
Liam
Gillick,
a
flexibilidade
era
muito
importante
para
a
realização
do
conjunto
de
idéias,
portanto,
fizeram
espaços
91
reversíveis
e
fluidos
que
se
distribuíam
ao
longo
de
uma
longa
plataforma.
Na
área
externa,
bancos
circulares
removíveis
sobre
a
plataforma,
e,
na
transição
interior/exterior,
muitas
portas
viravam
uma
longa
estrutura
irregular.
Instalaram
uma
cobertura
provisória
em
cabos
de
aço
presos
ao
edifício
do
Arsenal
e
a
mostra
também
se
espalhava
pelo
jardim.
O
mobiliário
variado
potencializava
a
vocação
da
Estação
como
“espaço
para
parar,
contemplar,
ouvir
e
ver,
descansar
e
se
refrescar,
falar
e
trocar”(BISHOP,
2006).
As
estações
Utopia
anteriores
não
precisaram
de
arquitetura
para
existir.
A
prerrogativa
era
o
encontro.
O
evento
só
estaria
completo
com
a
presença
das
pessoas
e
a
programação
que
incluiu
performances,
shows,
leituras,
peças,
filmes,
festas
e
demais
eventos
variados.
Entre
as
trocas
previstas,
havia
a
expectativa
de
que
as
pessoas
deixassem
coisas
e
levassem
outras,
mas
o
comportamento
do
publico
era
o
maior
fator
de
imprevisibilidade
que
enriqueceria
a
dinâmica
do
evento.
Em
teoria,
a
Estação
Utopia
baseava-‐se
no
conceito
“Partilha
do
Sensível”
de
Ranciére.
Trouxeram
o
autor
para
o
debate,
admitindo
seu
entendimento
filosófico
da
prática
estética.
O
conjunto
de
relações
apresentado
no
livro
“desdobra-‐se
em
visões
de
mundos,
sendo
cada
um
isola
(ilha)
e
forma,
mas
em
todos
há
realidades
concretas
repletas
de
matéria
e
força”(BISHOP,
2006).
O
próprio
livro
de
Ranciére
era
considerado
uma
ilha
conceitual
que
os
curadores
pretendiam
trazer
para
a
realidade
da
estação,
do
encontro.
A
intenção
do
evento
não
era
definir
um
novo
conceito
de
utopia,
mas
proporcionar
o
debate,
o
encontro
de
fato.
A
Estação
Utopia
foi
pensada
como
um
campo
de
pontos
de
partida
oferecidos
por
muitas
pessoas
diferentes.
Havia
um
convite
para
as
pessoas
escreverem
um
depoimento
sobre
a
experiência.
As
atividades
do
evento
implicavam
um
ativismo,
visando
subverter
a
primazia
do
capital,
ao
trabalhar
com
unidades
descentralizadas.
A
negação
da
utopia
serve
de
recomeço,
catalisador
de
idéias
e
práticas
para
o
debate
social
e
político.
92
2.10 Teoria e Prática em Olafur Eliasson.
Idéias
de
compartilhamento,
vivência
coletiva,
co-‐participação
e
co-‐autoria,
desde
a
década
de
60,
seguem
esta
trilha.
Eliasson
coloca
estes
conceitos
na
prática,
insistentemente,
em
cada
espaço
seu,
onde
as
associa
às
descobertas
da
neurociência
e
aos
novos
comportamentos
sociais.
“Como
artista,
o
desafio
é
criar
um
senso
de
pluralidade,
coletividade,
ou
estar
junto,
baseado
na
experiência
singular
–
na
singularidade.
Quando
você
olha
para
uma
obra
de
arte,
simultaneamente
você
avalia
a
natureza
da
experiência
que
esta
tendo,
quem
você
é
do
que
a
arte
trata.
Isto
já
produz
um
contexto
de
coletividade.
Ma
o
contexto
de
coletividade,
[...]
tem
sido
altamente
produzido
por
meio
da
comunicação
partilhada.”(ELIASSON,
2011).
No
início
da
carreira,
ainda
nos
anos
90,
Olafur
Eliasson
foi
apresentado
a
Francisco
Varela36,
um
filósofo
e
biólogo
dedicado
à
neurociência.
Seu
livro
“Sobre
a
Competência
Ética”
publicado
em
1996
expõe
suas
reflexões
sobre
cognição
e
fenomenologia,
inspiradas
nos
filósofos
alemães
Edmund
Husserl
e
Martin
Heidegger,
que
abriram
estes
campos
teóricos
para
Eliasson.
O
artista
declarou
que
“de
repente,
a
cognição
passou
a
significar
algo
completamente
diferente.
No
pensamento
de
Varela,
o
corpo
torna-‐se
fundamental
para
a
nossa
maneira
de
pensar
e
de
nos
apercebermos
das
coisas.”
(ELIASSON,
2011.p.393)
Neurociência
Na
neurociência
cognitiva,
a
materialização
da
consciência
corporal
está
sendo
associada
ao
sentimento
de
possuir
um
corpo
e
a
sensação
de
localização
numa
posição
específica
no
espaço,
respectivamente,
auto-‐identificação
e
auto-‐localização.
Chama-‐se
auto-‐identificação
o
reconhecimento
sensorial
de
próprio
corpo
que
foi
pesquisado
por
Tsakiris,
em
2007,
e
Salomon,
em
2012.
Enquanto
o
conceito
de
auto-‐localização
refere-‐se
à
sensação
de
posicionamento
do
corpo
no
espaço,
com
coordenadas
ou
referências
definidas.
Os
cientistas
Schwabe
e
Blanke
investigaram
36
Citado
anteriormente,
no
outro
capítulo.
93
sobre
esta
hipótese,
em
2008,
e,
no
ano
seguinte,
Blanke
e
Metzinger
continuaram
a
pesquisa.
Os
estudos
revelam
que,
através
do
uso
de
realidade
virtual
imersiva,
essas
sensações
descritas
podem
ser
moduladas
experimentalmente
por
conflitos
entre
o
tato
e
a
visão
em
pacientes
saudáveis.
Este
processo
induz
a
uma
ilusão
corporal,
conhecida
em
inglês
como
“Full-‐Body-‐Illusion”
(FBI;
Ehrsson,
2007;
Lenggenhager
et
al.,
2007;
Petkova
and
Ehrsson,
2008;
Aspell
et
al.,
2009;
Slater
et
al.,
2009).
Com
recursos
mais
conhecidos
do
grande
público
-‐
e
não
menos
tecnológicos
-‐
luz
e
fumaça,
por
exemplo,
Olafur
cria
ambientes
imersivos
que
causam
sensações
desnorteantes
e
alteram
as
noções
de
distância,
proporção
e
profundidade.
Consequentemente,
perde-‐se
as
referências
de
localização
nesses
espaços.
Este
aspecto
do
trabalho
é
evidente
em
Seu
Caminho
Sentido37
e,
particularmente,
na
mostra
Feelings
are
Facts
38
(Sentimentos
são
Fatos),
em
Pequim,
no
ano
de
2010.
Em
ambientes
espelhados,
similarmente,
Olafur
exclui
ou
minimiza
as
referências
espaciais,
descaracteriza
o
espaço
expositivo.
Isto
abre
a
possível
reciprocidade
entre
sujeito
e
objeto
sem
hierarquia
ou
predominância
no
espaço.
Uma
rica
experiência
corporal
e
emocional.
Em
sua
primeira
visita
ao
Estúdio
de
Berlim,
Philip
Ursprung
observou
que
o
enorme
espelho
existente
no
local
“tornou-‐se
um
emblema
do
facto
de
qualquer
pessoa
que
contemple
a
arte
de
Eliasson
vir,
mais
tarde
ou
mais
cedo,
a
encontrar
nela
o
seu
reflexo,
e
eu
incluo-‐me,
como
é
natural,
neste
grupo."(URSPRUNG,
2011.p.41)
Sujeito e Objeto - Sociedade e Natureza
Olafur
Eliasson
coloca
um
espelho
diante
do
mundo,
da
sociedade,
ou
de
ambos?
Sujeito
e
objeto
se
fundem
na
imagem
do
espelho
justamente
para
que
haja
discernimento
entre
ser,
coisa
e
imagem,
que
seria
composta
por
ambos.
No
37
SESC
Pompéia.
São
Paulo,
2011.
38
Obra
realizada
em
parceria
com
o
arquiteto
Ma
Yong.
Leva
o
mesmo
título
da
auto-‐biografia
de
Yvonne
Rainer,
coreografa
famosa
como
co-‐fundadora
da
Judson
Dance
Theater
e
por
ter
trabalhado
comRobert
Morris,
que
era
fortemente
influenciado
pela
fenomenologia.
Conisistia
em
uma
galeria
repleta
de
vapor
e
luzes
coloridas.
94
pensamento
contemporâneo,
mais
uma
vez,
a
ênfase
está
na
mediação
e
nas
formas
híbridas
que
se
apresentaram
de
comportamento
e
comunicação.
Novos
seres,
novas
coisas
e
seres-‐coisas
que
a
ciência
e
a
sociedade
possibilitaram
que
surgissem
nos
trazem
uma
revisão
histórica,
na
qual
nunca
o
conhecimento
setorizado
nunca
abarcou
todos
os
fenômenos
existentes.
No
início
deste
capítulo,
o
dilema
no
pensamento
contemporâneo
entre
natureza
e
política
globais
foi
apontado
como
questão
fundamental
na
obra
de
Olafur
Eliasson,
sob
a
influência
do
filósofo
francês
Bruno
Latour.
Retomemos
este
ponto,
após
o
estudo
dos
termos
que
conceituam
as
obras
de
Eliasson.
Conceitos
cujas
origens
estão
nas
mudanças
híbridas
das
últimas
décadas.
Mudanças
sociais
causadas
por
descobertas
científicas
provenientes
da
natureza
e
promovidas
por
humanos,
tanto
naturais
quanto
artificiais
por
diversos
prismas.
Portanto
processos
recentes
deflagrararam
a
indivisível
matéria
de
nossas
sociedades.39
"Nossa
vida
intelectual
é
decididamente
mal
construída.
A
epistemologia,
as
ciências
sociais,
as
ciências
do
texto,
todas
têm
uma
reputação,
contanto
que
permaneçam
distintas.
Caso
os
seres
que
você
esteja
seguindo
atravessem
as
três,
ninguém
mais
compreende
o
que
você
diz."
(LATOUR,
Bruno.
1994,
p.11)
Em
seu
livro
"Jamais
Fomos
Modernos",
um
ensaio
de
antropologia
simétrica,
o
filósofo
Bruno
Latour
articula
a
crise
contemporânea
com
a
revisão
do
pensamento
moderno,
na
qual
entende
que
o
purismo
racional
nunca
deu
conta
da
totalidade
que
pretendia.
Latour
exalta
a
genialidade,
ao
mesmo
tempo
que
critica
a
simetria
moderna
destinada
a
explicar
a
natureza
e
a
sociedade,
descrita
num
livro
de
Shapin
e
Schaffer,
1985,
através
de
duas
grandes
figuras
do
início
da
era
moderna.
Em
pleno
século
XVII,
enquanto
Boyle
tratava
da
experimentação
científica,
da
natureza,
para
definir
conceitos
de
poder,
havia
a
representatividade
de
Hobbes.
Repassando
o
que
constitui
a
modernidade,
Latour
associa
sua
anulação
à
proliferação
de
híbridos
que
não
considerava.
Ou
seja,
nunca
fomos
modernos
e
39
Sobre
MacKenzie,
Callon,
Hughes,
Edison,
Pasteur
e
Guillemin,
Bruno
Latour
comenta:
"[...]
estas
pesquisas
não
dizem
respeito
à
natureza
ou
ao
conhecimento,
às
coisas-‐em-‐si,
mas
antes
a
seu
envolvimento
com
nossos
coletivos
e
com
os
sujeitos.
Não
estamos
falando
do
pensamento
instrumental,
mas
sim
da
própria
matéria
de
nossas
sociedades."
95
entendemos
isto
devido
à
socialização
acelerada
dos
não-‐humanos
que
a
modernidade
não
admitiu
como
elementos
constituintes
da
sociedade.
Os
modernos
permitiam-‐se
tudo,
pois
desconsideravam
uma
correspondência
direta
entre
a
ordem
social
e
a
ordem
natural.
O
que
o
autor
esclarece
no
exemplo
que
cita:
"os
pré-‐modernos,
por
no
fundo
serem
todos
monistas
na
constituição
de
suas
naturezas-‐culturas,[...]
se
proíbem,
pelo
contrário,
de
praticar
aquilo
que
suas
representações
aparentemente
permitiriam.[...]
Ao
saturar
com
conceitos
os
mistos
de
divino,
humano
e
natural,
limitam
a
expansão
prática
destes
mistos."(LATOUR,1994
p.46)
Diante
de
uma
nova
ordem,
a
constituição
moderna
reguladora
do
conjunto
de
conflitos
setorizados,
não
afeta
mais
a
rede
de
sujeitos,
objetos
e
mecanismos.
Teria
sido
uma
ilusão?
O
filósofo
conclui
que
diferente
de
uma
ilusão,
a
modernidade
seria
"[...]
uma
força
acrescentada
a
outras,
as
quais
por
muito
tempo
teve
o
poder
de
representar,
de
acelerar
ou
de
resumir,
mas
a
partir
de
agora
não
mais,
não
completamente."(LATOUR,
1994).
O
processo
de
purificação
defendido
pelos
modernos
inverte
de
papel
com
a
mediação
que
sempre
ocorreu
`a
revelia.
"O
erro
dos
modernos
quanto
a
si
mesmos
é
muito
fácil
de
compreender,
uma
vez
que
tenhamos
restabelecido
a
simetria
e
que
levemos
em
conta
ao
mesmo
tempo
o
trabalho
de
purificação
e
de
tradução.
Eles
confundiram
produtos
com
processos.
[...]
A
ciência
não
é
produzida
cientificamente,
assim
como
a
técnica
não
o
é
tecnicamente,
a
organização
organizadamente
ou
a
economia
economicamente."(
LATOUR,1994)
Latour
e
Eliasson
compartilham
seus
questionamentos
sobre
as
formas
de
interação
possíveis
e
a
reavaliação
dos
fatos
em
suas
publicações
e
palestras.
Em
algumas
ocasiões,
Bienal
de
Veneza
e
na
Tate
Modern,
já
expuseram
juntos
seus
pontos
específicos
em
debate
público.
Tratam
das
redes
de
idéias
e
conhecimento
expandidas,
nas
quais
as
escalas
variam
de
um
novo
modo,
local
e
universal
simultaneamente.
Com
esse
entendimento,
partiremos
para
a
produção
artística
de
Olafur,
usando
a
arte
como
lente
que
nos
faz
ver
a
nós
mesmos
no
mundo.
O
mundo
que
nos
constitui
e
que
constituímos
em
rede
96
Capítulo 3.
Obras de Olafur Eliasson
Dentre
os
diversos
trabalhos
do
artista
dinamarquês,
algumas
obras
foram
escolhidas
para
análise
no
presente
estudo.
O
início
desta
pesquisa
se
deu
através
do
contato
com
o
panorama
de
experimentos
na
mostra
retrospectiva
Take
Your
Time
no
Museu
de
Arte
Moderna
(Moma)
de
Nova
Iorque,
em
2007.
Por
apresentar
fragmentos
da
trajetória
do
artista,a
mostra
foi
um
contraponto
ao
sucesso
que
Eliasson
conquistara
anteriormente
com
uma
única
e
espetacular
obra,
Weather
Project,
realizada
na
galeria
londrina
Tate
Modern,
em
2003.
Ironicamente,
o
artista
múltiplo
que
apresenta
sua
diversidade
em
Take
Your
Time
ganhou
visibilidade
para
o
grande
público
com
essa
obra
única.
Em
ambas
as
mostras
ocorre
a
contínua
investigação
sobre
o
tempo,
típica
do
artista:
seja
o
tempo
atmosférico
de
Weather
Project,
sejam
os
modos
de
perceber
o
tempo,
a
temporalidade
exposta
em
Take
Your
Time.
Para
além
da
complementaridade
desses
dois
momentos
da
carreira
do
artista,
base
deste
capítulo,
está
o
critério
de
seleção
das
obras
analisadas,
sempre
associado
ao
modo
como
tratam
o
binômio
movimento
e
luz.
Apesar
de
Eliasson
envolver
a
luz
na
concepção
de
todas
as
suas
obras,
nem
sempre
explicita
este
aspecto.
Quanto
às
obras
de
movimento,
ele
aplica
o
conceito
da
arte
cinética,
no
qual
a
obra
pode
movimentar-‐se,
induzir
o
visitante
a
deslocar-‐se
no
espaço
ou
ambos
podem
acontecer
simultaneamente.
Isto
seria,
então,
uma
exploração
dos
possíveis
movimentos
no
espaço
da
obra,
assim
como
entende-‐se
as
obras
de
luz
como
aquelas
que
constituem
um
novo
espaço
devido
ao
uso
da
luz
como
matéria-‐prima.
Ao
fim
do
levantamento
de
material
para
esta
dissertação,
constatou-‐se
que
havia
uma
desproporção
entre
a
obra
Weather
Project
e
as
demais
obras.
A
importância
dada
à
obra
de
Eliasson
na
Tate
Modern
por
parte
da
mídia
e
dos
críticos
a
tornou
conhecida
do
grande
público,
sob
diversos
ângulos
e
opiniões,
independentemente
da
visita
ao
local.
Isto
faz
com
que
haja
muito
mais
textos
e
97
entrevistas
sobre
Weather
Project
do
que
qualquer
outra
obra
de
Eliasson.
Até
hoje,
doze
anos
depois,
em
todos
os
catálogos
do
artista,
há
menção
sobre
esta
obra.
De
modo
retroativo,
diante
da
obra
e
sua
repercussão,
é
relevante
identificar
as
características
que
fazem
de
Weather
Project
emblemática
para
a
arte
dos
anos
2000
e
que
se
repetem
em
outras
obras
de
Eliasson.
Com
isso,
é
possível
estruturar
a
análise
das
obras
de
Olafur
Eliasson
sob
o
prisma
do
movimento
e
da
luz,
com
critérios
encontradas
nesta
obra,
verificando
elementos
como:
a
escala,
a
relação
interior/exterior,
luz,
cor,
auto-‐observação
e
meteorologia.
Mais
amplamente,
a
análise
desta
obra
apresenta
outras
questões
do
artista,
entre
elas:
o
museu
como
lugar
de
reflexão,
o
engajamento
público
e
qual
seria
o
lugar
da
arte
na
sociedade.
Se
por
um
lado
Weather
Project
concentra
características
locais
e
universais
da
pesquisa
do
artista,
de
outro,
complementando
a
imagem
que
se
faz
dele,
estão
as
pesquisas
paralelas
expostas
posteriormente,
em
2007,
no
Moma
de
NY,
por
ocasião
da
mostra
Take
Your
Time.
Um
conjunto
de
experimentos
de
luz
e
movimento,
em
diversos
materiais
e
técnicas,
utilizados
no
intuito
de
provocar
mudanças
de
comportamento
no
público,
engajamento
e
participação.
Mudanças
possíveis
diante
de
obras
que
fazem
o
observador
notar
a
sua
própria
percepção
do
espaço
e
de
si
mesmo.
Em
suma,
foram
escolhidas
para
esta
análise,
duas
exposições
de
Olafur
Eliasson,
a
primeira
que
constitui-‐se
de
apenas
uma
obra
e
a
segunda
que
exibe
um
conjunto
significativo
de
obras.
Duas
amostras
representativas
da
contribuição
do
artista
no
estudo
do
espaço
sob
os
aspectos
de
movimento
e
luz,
as
interseções
entre
natureza,
ciência
e
percepção
humana.
A
partir
delas,
especialmente
no
caso
de
Weather
Project,
como
se
verá
a
seguir,
serão
comentadas
outras
obras
com
ela
guarda
afinidades.
98
Figura
32
-‐
WEATHER
PROJECT
-‐
SALA
DA
TURBINA
DA
TATE
MODERN,
LONDRES,
2003.
99
3.1 O Projeto Clima - The Weather Project
A
instalação
site-‐specific
Weather
Project
foi
criada
para
a
Sala
da
Turbina
da
galeria
Tate
Modern
em
Londres,
onde
esteve
exposta
durante
o
inverno
de
2003/2004.
Era
constituída
de
uma
tela
semicircular,
um
teto
de
espelhos
e
um
conjunto
de
duzentas
lâmpadas
de
mono-‐frequência
para
criar
a
ilusão
do
sol.
O
semicírculo
composto
pela
tela
retro-‐iluminada
refletia
no
enorme
painel
de
espelhos
do
teto,
completando
a
circunferência
incandescente
como
o
sol.
O
sistema
construído
era
aparente
pelas
laterais
e
podia
ser
visto
pelos
visitantes,
quando
se
aproximavam.
Durante
a
montagem
da
instalação,
em
contato
com
a
equipe
de
funcionários
do
museu,
Olafur
Eliasson
realizou
um
questionário
sobre
o
clima.
Além
de
iniciar
assim
um
debate
que
antecipava
a
intenção
da
obra,
o
artista
pretendia
envolver
as
pessoas
e
entender
mais
sobre
a
percepção
que
elas
tinham
do
tempo
atmosférico.
Algumas
das
perguntas
eram:
"Algum
fenômeno
climático
já
mudou
o
curso
da
sua
vida
dramaticamente?
Você
acha
que
a
tolerância
às
outras
pessoas
é
proporcional
ao
clima?
Até
que
ponto
você
se
importa
com
o
clima
fora
do
seu
local
de
trabalho?
Você
acha
que
o
clima
impacta
no
seu
salário?
Em
qual
estação
você
beija
mais
seu
parceiro?
Você
acha
que
a
ideia
de
clima
é
baseada
na
natureza
ou
na
cultura
em
nossa
sociedade?"
O
desdobramento
desse
debate
foi
publicado
no
catálogo
e
serviu
de
base
para
a
campanha
de
marketing
que
integrava
a
exposição.
O
Weather
Project
foi
um
dos
projetos
de
arte
mais
ambiciosos
da
última
década,
no
que
se
refere
à
construção
da
paisagem
e
à
consciência
do
ambiente
artificial
do
museu.
Ao
construir
uma
semicircunferência
de
luz
amarela
dentro
da
galeria
Tate
Modern,
em
Londres,
Olafur
Eliasson
despertou
uma
vasta
polêmica
sobre
a
arte
estar
promovendo
o
mero
entretenimento
do
público,
ocupando
um
lugar
cômodo
na
sociedade.
Tamanho
era
o
reconhecimento
da
instalação
no
ano
de
sua
exibição
que
Daniel
Birnbaum,
na
época
um
dos
curadores
da
50a.
Bienal
de
Veneza,
elegeu
a
obra
Weather
Project
como
o
primeiro
item
de
sua
lista
de
eventos
importantes
em
2003.
100
"Este
cosmos
heliocêntrico
sintético
é
sem
dúvida
a
obra
de
arte
do
ano.
Ativando
o
próprio
espaço
e
envolvendo
o
observador
ambos
como
sujeito
perceptivo
e
como
um
corpo
entre
corpos
(quando
fui
à
Tate,
centenas
de
pessoas
estavam
no
chão
olhando
para
si
no
espelho
do
teto).
A
instalação
de
Eliasson
reafirma
que
a
grande
arte
pode
ser
popular.
Um
espaço
de
culto
sem
indícios
da
nova
era
kitsch,
sua
sala
da
turbina
transformada
é
majestosa,
até
mesmo
ousaria
dizer
sublime."
(BIRNBAUM,
2003.
ARTFORUM
42)
De
forma
retroativa,
é
possível
consultar
os
registros
da
época,
em
periódicos
citados
como
referência
pela
própria
equipe
do
artista
no
catálogo40
e
notar
que
nela
acontece
uma
confluência
de
seus
interesses.Considerando
as
informações
que
visam
movimento
e
luz
no
espaço,
já
citadas
neste
trabalho
sobre
o
artista,
a
obra
Weather
Project
seria
o
ápice
de
comunhão
entre
os
seus
interesses
sociais
e
suas
influências
artísticas
-‐
arte
cinética
e
movimento
Light&Space.
Se
as
ideias
de
James
Turrell,
Moholy-‐Nagy
e
Eliasson
se
encontraram
em
um
único
espaço,
foi
justamente
nesta
montagem
da
Tate
Modern.
Nela
identifica-‐se
as
interseções
entre
eles
três:
o
trabalho
com
o
tempo-‐espaço,
a
interação
obra-‐sujeito
e
a
relação
natureza-‐indivíduo.
Pontos
teóricos
que
refletem
na
prática
de
Eliasson
e
que
o
artista
levou
adiante
com
seus
próprios
termos:
o
seu
tempo,
ver-‐se
vendo,
construção
coletiva
e
realidade
negociável.
Dentro
de
uma
sala
de
turbinas
adaptada
para
museu,
após
a
reforma
dos
arquitetos
suíços
Herzog
&De
Meuron,
Eliasson
construiu
a
instalação
de
luz,
fumaça
e
um
enorme
teto
reflexivo.No
espaço
da
Tate
Modern,
ocorreram
grandes
inversões
espaciais.
Através
da
alteração
do
espaço
interno
do
edifício,
o
artista
criou
uma
espécie
de
espaço
público
que
estranhamente
remetia
aos
parques
da
cidade.No
inverno
londrino,
um
enorme
sol
dentro
de
um
edifício.
No
catálogo
Weather
Project
constam
temas
abrangentes
sobre
a
arte
e
o
clima.
É
um
livro
de
arte
que
não
menciona
apenas
aspectos
artísticos
do
evento.
O
tema
"comunicação
da
arte"
serve
de
apresentação
no
catálogo,
como
esperado
diante
de
40
No
índice
remissivo
do
catálogo
TakeYour
Time,
no
item
sobre
a
obra
Weather
Project
constam
inúmeras
publicações
que
foram
consultadas
nessa
pesquisa
e
citadas
na
bibliografia.
101
toda
a
estratégia
midiática
em
torno
do
evento,
e
a
comunicação
sobre
meteorologia
recebe
a
mesma
ênfase.
Relatórios
sobre
eventos
climáticos
rigorosos,
estatísticas
de
dados
sobre
o
clima
e
ensaios
teóricos
sobre
clima,
tempo
e
espaço
estão
lado
a
lado
na
mesma
publicação.
A
mensagem
geral,
o
saldo
de
todas
estas
informações
disponibilizadas
pelo
artista,
talvez
seja
trazer
o
interesse
cotidiano
que
leitores
de
publicações
periódicas
dedicam
ao
clima
para
o
campo
da
arte.
Fazer
uma
leitura
transversal
do
espaço
da
arte,
ao
assumi-‐lo
como
um
forte
meio
de
comunicação.
Vale
destacar
que
a
comunicação
aparece
em
Weather
Project
de
maneira
exacerbada,
diferente
das
demais
obras
de
Eliasson,
nas
quais
pode-‐se
notar
a
preocupação
em
passar
uma
mensagem,
ou
fazer
notar-‐se
o
poder
midiático
da
obra
mais
sutilmente.
Por
este
motivo,
esta
dissertação
reconhece
a
importância
do
assunto,
mas
não
o
coloca
como
um
dos
critérios
de
análise.
Para
análise
de
Weather
Project
serão
lançados
os
tópicos,
já
referidos
anteriormente:
escala,
relação
interior/exterior,
luz
e
cor,
a
reflexão
sobre
o
espaço
do
museu
e
a
auto-‐observação.
Escala
Escala
é
a
proporção
ou
razão
constante,
entre
dimensões.
Eliasson
associa
a
escala
das
obras
ao
deslocamento
do
corpo
do
visitante,
entendendo-‐a
como
uma
relação
de
distâncias.
Isto
nada
mais
é
do
que
uma
maneira
de
relativizar
o
que
poderíamos
descrever
de
forma
absoluta,
considerando
o
tamanho
de
cada
um
dos
corpos.
Nas
obras
de
Eliasson,
o
deslocamento
é
necessário
para
sua
apreensão.
Portanto,
o
espaço
e
as
proporções
entre
os
corpos
presentes
são
medidos
em
função
do
movimento,
do
tempo,
da
velocidade.
"[...]
Aprendemos
a
olhar
para
as
distâncias
através
do
sistema
de
medição
métrico
e
organizamos
o
que
nos
rodeia
de
acordo
com
isso,
mas
eu
encaro
o
corpo
como
uma
vara
de
medição
e
prefiro
usá-‐la
em
detrimento
do
sistema
objetivo
de
metros
e
centímetros,
que
não
pode
deixar
de
ser
exterior
a
nós.
Com
esta
concepção
da
viagem,
a
profundidade
é
de
repente
vista
como
tendo
origem
na
pessoa
que
se
move.
Viajar
significa
assim
aplicar
a
profundidade
a
um
espaço
–
o
que
é
muito
abstrato,
claro.
Quando
102
estou
parado
na
paisagem
islandesa,
a
paisagem
parece
uma
pintura
e
é
impossível
calcular
distâncias.
Mas
depois
movo-‐me
e
a
velocidade
e
a
maneira
com
que
meu
corpo
se
liga
com
o
espaço
começa
a
constituir
uma
viagem.
É
a
memória
da
distância
que
já
cobri
que
se
torna
a
medida
do
espaço.
A
medida
é
assim
interiorizada."(ELIASSON,
2011.p.
221)
A
maioria
dos
relatos
sobre
Weather
Project
(Figura
32)detêm-‐se
ao
ambiente
interno
do
museu,
mas
apenas
alguns
destacam
a
entrada
na
Sala
da
Turbina,
descrevem
o
deslocamento
no
interior
da
obra.
A
entrada
gradual
na
atmosfera
criada
na
obra
é
parte
da
proposta
do
artista
que
usou
a
rampa
de
acesso
como
eixo
frontal
de
observação
do
sol
artificial.
Vista
de
baixo
e
de
frente,
logo
no
primeiro
contato
visual,
a
semicircunferência
iluminada
impressionava
o
visitante
com
a
escala
monumental
da
sala.
Alguns
metros
adiante,
ao
deslocar-‐se
para
o
interior,
notava-‐se
todo
o
aparato
instalado
e
as
lâmpadas
parcialmente
aparentes
pelas
laterais
de
uma
grande
tela.
"A
rampa
era
um
fator
muito
físico,
inclinando-‐se
para
o
ventre
do
museu.
Dadas
as
suas
dimensões,
são
precisos
cerca
de
20
segundos
só
para
entrar
no
museu
e
eu
acho
que
essa
é
uma
sequência
temporal
magnífica.
[...]
Tentei
trabalhar
com
o
fato
de
as
pessoas
levarem
muito
tempo
a
entrar
-‐
a
sequência
da
chegada
-‐
seria
bastante
longa
-‐
e
de
início
veriam
algo
que
parecia
uma
imagem,
ou
uma
pintura
de
Turner,
se
quiserem.
Veriam
uma
coisa
plana
e
bidimensional.
Depois
seguiriam
para
o
interior
do
espaço
e
lentamente
aperceber-‐se-‐iam
de
que
aquilo
que
estavam
a
ver
não
era
um
círculo
completo.
De
repente
mudariam
a
perspectiva
e
olhariam
para
cima,
observando
o
espelho
e
reparando
na
tridimensionalidade
do
espaço.
Portanto,
a
sequência
levá-‐los-‐ia
quase
para
dentro
da
imagem,
funcionando
ao
mesmo
tempo
como
uma
acumulação
de
suspense,
com
a
ponte
no
meio
servindo
de
zona
de
tampão,
abrandando
o
movimento
dos
visitantes.
Devido
ao
traçado
do
edifício,
o
tempo
já
me
havia
sido
oferecido,
por
assim
dizer,
por
isso
não
precisava
de
o
sublinhar."
(ELIASSON,
2012.
p.273)
O
artista
revelava
o
truque
cênico
e
o
compartilhava
com
os
visitantes,
como
quem
diz
vivemos
todos
numa
mesma
ilusão,
o
meu
espaço
é
o
seu
espaço
e
nos
iludimos
juntos.
A
escala
monumental
fez
com
que
os
visitantes
se
iludissem,
pois
a
150m
de
profundidade
e
a
18m
de
altura
se
erguia
uma
semicircunferência
103
incandescente
amarela,
a
cada
passo
em
direção
a
grande
luminária
fazia
as
pessoas
espantadas
se
questionarem
sobre
o
que
era
aquilo
e
o
que
representava
um
sol
dentro
do
museu.
Quanto
ao
uso
de
elementos
arquitetônicos,
Eliasson
constrói
rampas,
túneis,
intervalos
entre
a
fachada
e
o
interior,
entre
outros
artifícios
para
reter
a
atenção
do
observador,
sublinhar
características
do
espaço
construído
e
sugerir
novas
maneiras
de
se
relacionar
com
ele.
Passar
por
uma
rampa
demanda
tempo,
uma
caminhada;
atravessar
um
túnel
causa
uma
experiência
de
início,
meio
e
fim
-‐
passado,
presente
e
futuro;
uma
trama
de
tijolos
na
fachada
permite
a
comunicação
visual
interior/exterior,
e
assim
por
diante.
Cada
desenho
do
artista
visa
uma
alteração
perceptiva
do
espaço
em
que
se
insere.
No
projeto
da
Serpentine
Gallery
(Figura
33),em
Londres,
(2007)o
percurso
de
uma
rampa
foi
o
princípio
gerador
do
volume
e
da
experiência.
Nesta
obra
de
arquitetura
efêmera,
montada
apenas
entre
agosto
e
novembro
daquele
ano,
Olafur
Eliasson
e
Kjetil
Thorsen41,
focaram-‐se
no
movimento
dos
visitantes.Uma
rampa
sinuosa
que
ligava
o
interior
do
edifício
ao
parque
criava
uma
estrutura
geométrica
complexa
que
mudava
a
cada
passo.
Mais
uma
vez,
a
escala
da
obra
era
apreendida
com
o
tempo
de
deslocamento
pela
rampa.
A
transição
entre
o
espaço
do
edifício
e
aquele
do
parque
que
o
envolvia
dava-‐se
pelo
gradativo
fechamento
do
volume
arquitetônico
ao
longo
da
rampa;
no
primeiro
trecho,
aberturas
através
de
persianas
de
cordas
retorcidas
e,
no
seguinte,
o
espaço
da
rampa
era
fechado.
A
iluminação
zenital
chegava
por
um
óculo
elíptico,
única
abertura
na
cobertura.
Com
a
experiência
da
Galeria
Tate
Modern,
Eliasson
já
havia
estabelecido
um
forte
diálogo
com
a
arquitetura,
na
concepção
de
uma
linguagem
do
espaço.
Com
o
convite
para
projetar
a
Serpentine
Gallery,
Eliasson
se
deparou
com
uma
nova
experiência,
projetar
na
escala
da
arquitetura,
uma
construção
autônoma,
sem
a
necessidade
de
lidar
com
o
espaço
original
de
uma
galeria
e
propor
uma
intervenção.
41
Arquiteto
do
escritório
sueco
Snoheta.
104
Figura
33
-‐
Serpentine
Gallery.
Olafur
Eliasson
e
Kjetil
Thorsen,
2007.
"Os
pavilhões
da
Serpentine
Gallery
colocam
em
evidência
a
arquitetura
na
agenda
de
uma
instituição
tradicionalmente
voltada
a
arte
contemporânea,
que
evita
em
seu
programa
de
arquitetura
estabelecer
parcerias
entre
artistas
e
arquitetos
como
forma
de
ressaltar
que
não
se
trata
de
criar
um
espaço
para
exibição
de
determinada
obra
de
arte
ou
ampliação
para
acomodação
de
uma
exposição,
mas
sim
de
"trazer
para
a
mesa
uma
liberdade
sem
paralelo
para
os
arquitetos.
O
resumo
é
muito
simples:
tudo
o
que
solicitamos
é
que
o
pavilhão
possa
ser
um
exemplo
de
suas
linguagens
arquitetônicas."
(TONETTI,
2013)
O
desafio
de
projetar
a
arquitetura
de
uma
galeria
ou
sala
de
exposições
de
modo
a
ela
própria
envolver
o
visitante,
quase
como
se
estivesse
alheia
a
obra
no
seu
interior,
conecta-‐se
ao
empenho
do
artista
de
construir
espaços
coletivos,
onde
a
escala
arquitetônica
serve
como
um
recurso
importante
para
ativar
a
percepção.
105
Espaço Interior Exterior
Dentro
e
fora
são
dois
lados
da
mesma
situação,
o
encontro
da
subjetividade
interior
com
a
exterioridade
da
obra,
o
contato
sujeito-‐obra.
Será
este
o
embate
que
ronda
as
obras
de
arte?
O
artista
brasileiro
Cildo
Meirelles
faz
a
defesa
da
abstração,
um
descolamento
do
objeto
em
direção
ao
espaço.
"Abaixo
os
primados
dos
sólidos,
a
separação
entre
interioridade
e
exterioridade.
Alegria
de
transgredir
a
distância
entre
sujeito
e
objeto,
alegria
de
desarmar
a
trama
do
real."(MEIRELLES,
1981.p.8)
A
arte
de
Eliasson
visa
estreitar
essas
ligações
ao
limite
na
medida
em
que
traz
fenômenos
meteorológicos
para
um
espaço
interior
ou
ao
fazer
ilusões
óticas
diante
das
quais
o
observador
se
pergunta
se
está
mesmo
vendo
ou
imaginando.
O
artista
trabalha
o
limite
entre
o
espaço
interno
e
o
espaço
externo,
a
arquitetura
do
edifício.
Se
há
permeabilidade
entre
os
ambientes
internos
e
externos,
este
limite
se
enfraquece
e
os
espaços
se
integram.Ele
coloca
obras
nessas
fronteiras,
constrói
elementos
vazados
nas
fachadas.
Outra
possibilidade
de
integração
explorada
pelo
artista
é
a
construção
mental
que
fazemos
do
espaço,
a
apreensão
sensorial
do
espaço
e
a
percepção
dos
seus
limites
ou,
quando
os
limites
são
indefinidos,
a
percepção
do
seu
caráter
ilimitado.
Nas
obras
de
Eliasson,
eventos
externos
são
percebidos
pelo
corpo
humano
através
das
sensações
ou,
ao
contrário,
devido
às
sensações,
os
eventos
ocorrem.
Madeleine
Grynsztejn
menciona
que
Merleau-‐Ponty
descrevia
a
capacidade
do
sujeito
influenciar
o
entorno
do
qual
mutuamente
sofre
influência
:
"As
propriedades
do
objeto
e
as
intenções
do
sujeito
constituem
um
novo
todo.
É
impossível
dizer
o
que
começa
antes
na
troca
de
estímulos
e
respostas."(
GRYNSZTEJN,
2007.
p.
15)
De
acordo
com
os
livros
publicados
pelo
artista
citados
nos
capítulos
anteriores
e
a
observação
das
obras,
Eliasson
trabalha
a
percepção
do
espaço
em
suas
instalações
testando
a
veracidade
creditada
aos
sentidos.
Weather
Project
foi
uma
oportunidade
para
desenvolver
este
exercício
de
ilimitar
o
espaço
do
edifício
para
quem
o
percebe,
não
apenas
pela
escala
usada,
mas
por
todo
o
clima
criado
que
remetia
a
um
espaço
externo
da
cidade.
Criou-‐se
um
espaço
tipicamente
externo
dentro
do
edifício.
106
Figura
34
-‐
Moss
Room,
1994.
Os
temas
e
materiais
relativos
a
natureza
nas
obras
de
Eliasson
suscitam
familiaridade
aos
visitantes,
mas
a
estranheza
de
encontrá-‐los
ali,
no
interior
do
museu,
e
isto
traz
o
questionamento
sobre
onde
se
está
de
verdade.
O
artista
recorre
a
estes
materiais
desde
o
início
da
carreira,
quando,
em
1993,
expôs
na
Feira
de
Arte
de
Colônia,
na
Alemanha,
uma
parede
coberta
de
musgo
importado
da
Islândia,
similar
a
obra
do
ano
seguinte
Moss
Room
(Figura
34).
Em
outras
obras
em
que
utiliza
musgos,
pedras
e
água,
como
Mediated
Motion
e
Bed
River
(Figura
35)
o
artista
continua
o
experimento
de
transpor
os
limites
físicos
da
arquitetura
e
construir
sensorialmente
a
experiência
corpórea
de
estar
num
espaço
externo.
107
Figura
35
-‐
The
Mediated
Motion(foto
superior)
e
Bed
River
(
foto
acima)
A
imersão
característica
do
ambiente
do
cinema,
em
que
a
tela
projetada
abre
uma
janela
imaginária
para
outros
lugares,
é
um
dos
artifícios
empregados
por
Eliasson
nas
suas
obras
de
luz.
Não
necessariamente
através
de
projeções,
mas
devido
à
simulação
de
janelas,
com
espelhos
e
luz
natural,
por
exemplo.
Ou,
como
no
caso
de
Weather
Project,
por
simular
uma
cena
típica
em
espaços
exteriores,
o
artista
abre
uma
perspectiva
que
constrói
um
espaço
imaginário
à
partir
de
elementos
reais
-‐
a
iluminação,
o
amplo
espaço
e
o
público.
Figura
36
-‐
Your
now
is
my
surroundings,
2000.
Galeria
Bonakdar
Jancou,
NY.
foto:
Oren
Slor
A
obra
Your
now
is
my
surroundings
(Figura
36)
esteve
montada
na
mostra
de
Eliasson
em
Berlim,
Innen
Stadt
Aussen
(2011).
Originalmente
instalada
numa
galeria
de
Nova
Iorque,
a
obra
constituía
um
espaço
espelhado
na
parte
superior
do
ambiente
e
opaco
até
certa
altura.
O
visitante
era
limitado
por
estas
paredes
opacas
e
a
tendência
era
deslocar
o
olhar
para
cima,
num
jogo
de
clausura
e
abertura,
ao
mesmo
tempo
dentro
e
fora.
A
única
abertura
ao
nível
do
visitante
era
uma
porta
vedada
a
passagem
por
mais
um
espelho,
onde
os
visitantes
se
viam
frontalmente.
Os
reflexos
ampliavam
o
ambiente
remetendo
ao
exterior
e
a
saída
era
ver
a
si
mesmo.
Estes
foram
artifícios
utilizados
para
driblar
os
limites
do
espaço
de
exposição
e
projetar
o
108
olhar
para
fora,
relativizando
o
espaço.
Estamos
dentro
ou
fora?
A
cidade
é
o
museu
ou
o
museu
está
voltado
para
o
mundo
exterior?
Sou
eu
que
construo
esta
ligação
entre
o
que
está
dentro
e
o
que
está
fora?
Figura
37
-‐
Microscópio
para
São
Paulo,
2011.
Pinacoteca
de
São
Paulo.
Em
2011,
a
obra
Microscópio
para
São
Paulo(Figura
37),
criada
especialmente
para
a
Pinacoteca
de
São
Paulo
foi
outro
experimento
entre
exterior
e
interior
do
edifício.
Em
diálogo
com
a
arquitetura
reformada
por
Paulo
Mendes
da
Rocha,
que
cobriu
os
pátios
com
clarabóias,
Eliasson
instalou
em
um
desses
pátios
internos
uma
pirâmide
espelhada
invertida
que
multiplicava
a
luz
e
a
imagem
da
cobertura
em
diversos
fragmentos
refletidos.
Com
esta
forma,
ao
olhar
para
o
pavimento
inferior,
o
observador
via
o
teto
e
a
luz
natural
embaixo
de
si.
Isto
causava
uma
certa
desordem
espacial,
pela
dificuldade
de
se
perceber
a
origem
da
abundante
luz
do
recinto.
Tratava-‐se
de
mais
uma
dinâmica
entre
espaços,
análoga
ao
trabalho
de
pesquisa
em
Londres(2003)
e
Berlim(2010),
quando
o
artista
também
elegeu
pontos
109
da
cidade
para
observar
com
mais
atenção.
O
fato
da
obra
chamar-‐se
Microscópio
e
configurar
uma
pirâmide
invertida,
apontando
para
um
ponto
preciso
no
centro
de
São
Paulo,
adiciona
mais
elementos
para
análise
dos
procedimentos
que
Eliasson
adota
do
desenvolvimento
das
obras.
Em
sucessivas
visitas
e
caminhadas
pelas
ruas
com
sua
equipe
e
alunos,
essas
etapas
de
aproximação
da
cidade
foram
se
evidenciando.
O
processo
alerta
para
o
quanto
a
escolha
do
objeto
e
sua
disposição
no
museu
foram
determinadas
em
relação
ao
conjunto
urbano.
No
catálogo
da
mostra
Seu
Corpo
da
Obra,
em
São
Paulo,
Guilherme
Wisnik
(2011)
comenta
as
noções
de
interioridade
e
exterioridade
presentes
na
obra
de
Eliasson.
Esses
"agudos
embaralhamentos"
que
contribuem
para
o
"fértil
compartilhamento
de
interesses"(ELIASSON,
2012.p.253)
entre
artistas
e
arquitetos.
Pois
se
o
espaço
arquitetônico
é
restrito
por
barreiras
que
o
definem,
matéria
sólida,
construção,
o
artista
usa
a
lógica
construtiva
para
mostrar
a
fluidez
do
espaço
na
arte
e
monta
arquiteturas
não-‐funcionais
cuja
passagem
do
público
configura
a
obra.
Segundo
Wisnik,
"A
obra
de
Olafur
Eliasson
é
uma
das
grandes
referências
quanto
à
questão
do
fértil
compartilhamento
de
interesses
entre
as
artes
plásticas
e
a
arquitetura
hoje,
chegando
inclusive,
a
extrapolar
muitas
vezes
a
escala
do
edifício
para
atingir
o
âmbito
urbano.
Contudo,
tomarei
esse
conhecido
mote
[...]
para
investigar
os
agudos
embaralhamentos
que
promove
entre
as
noções
de
interioridade
e
exterioridade,
ou
privacidade
e
publicidade
[...]"
(ELIASSON,
2012.p.253)
110
Figura
38
-‐
Pavilhão
dinamarquês
na
50a.
Bienal
de
Veneza.
Foto:
Giorgio
Boato
Figuras39
-‐
Pavilhão
dinamarquês
na
50a.
Bienal
de
Veneza.
Foto:
Giorgio
Boato
Nas
estruturas
feitas
por
Eliasson,
identifica-‐se
a
mesma
intenção
de
fragilizar
os
limites
entre
dentro
e
fora
e
criar
permeabilidade,
comunicar
o
interior
com
o
exterior.
111
Desde
que
participou
da
Bienal
de
Veneza
representando
a
Dinamarca,
com
o
Pavilhão
Cego
(Blind
Pavillion),
Eliasson
mantém
os
experimentos
com
estruturas
vazadas
que
invertem
dois
lados
da
mesma
superfície.
O
artista
alterna
partes
opacas
com
intervalos
vazados,
conduzindo
o
olhar
para
o
outro
lado
e
fazendo
recortes
do
que
pode
ser
visto,
como
enquadramentos
fotográficos.
Figura
40
-‐
Instalação
de
Eliasson
The
inverted
shadow
tower,
2004.
Kunstmuseum,
Alemanha.
Ao
observar
as
obras,
percebe-‐se
um
sistema
mútuo
de
influências,
internas
e
externas.
Por
exemplo,
a
emissão
de
luz
acontece
e
a
projeção
de
sombras
ocorre
do
mesmo
lado
do
volume,
onde
os
revestimentos
alternados
enfatizam
o
relevo.
Como
no
caso
de
Inverted
Shadow
Tower,
torre
com
iluminação
modular
realizada
em
2004,
por
Eliasson.
Pensando
a
trajetória
do
artista
como
uma
soma
de
experimentos
que
configura
uma
vasta
pesquisa
sobre
espaço,
pode-‐se
pensar
que
a
cada
obra
permanece
a
insistência
nas
perguntas,
ao
invés
da
reafirmação
das
respostas.
Para
cada
pergunta,
há
muitas
possibilidades
de
respostas.
Deste
modo,
as
formas
desenhadas
por
Eliasson
preservam
a
ambiguidade
de
todo
seu
trabalho.
112
Meteorologia - Luz e Cor
Meteorologia
é
a
ciência
que
estuda
os
processos
físicos
que
governam
o
comportamento
da
atmosfera
e
as
interações
entre
os
fenômenos
atmosféricos
e
a
superfície
da
Terra,
dentre
estes,
a
propagação
da
luz.
Olafur
Eliasson
remete-‐se
frequentemente
à
meteorologia
no
tocante
ao
estudo
da
cor,
onde
incluem-‐se
os
fenômenos
óticos.
Através
da
luz
que
atravessa
a
atmosfera
percebemos
as
cores
das
coisas
no
mundo.
Segundo
o
texto
de
Susan
May
para
o
catálogo
de
Weather
Project42,
a
primeira
obra
literária
que
tratava
de
corpos
celestes,
Meteorológica,
de
Aristóteles,
escrita
em
torno
de
350
a.C.,considerava
corpos
primários
nos
fenômenos
atmosféricos:
fogo,
ar,
água
e
terra.
Milênios
depois,
Eliasson
trabalha
com
os
elementos
e
parâmetros
meteorológicos
-‐
água,
luz,
temperatura
e
pressão
-‐
como
matéria-‐prima
de
suas
obras
de
arte,
explorando
a
fugacidade,
a
delicadeza
e
a
força
dos
eventos.
De
forma
literal,
existem
obras
de
Eliasson
que
reproduzem
os
fenômenos
celestes,
assim
como
eclipses,
o
sol
e
a
própria
luz
que
define
a
linha
do
horizonte.
Weather
Project
evidentemente
é
uma
destas
obras
,
entretanto,
nos
textos
sobre
a
obra,
o
impacto
simbólico
da
presença
do
sol
inibe
qualquer
outro
aspecto
deste
fenômeno
que
possa
ser
mencionado.
Historicamente,
o
sol
representa
o
poder,
o
Rei
Sol,
a
força
destruidora
das
secas,
o
gênero
masculino,
entre
outros
significados.
Segundo
a
biologia,
para
a
humanidade
representa
a
vida,
pois
sem
ele
ninguém
sobreviveria.Jacques
Derrida
escreveu
sobre
o
forte
valor
simbólico
do
sol
em
"Mitologia
Branca",
no
qual
mencionou
a
obsessão
solar
do
discurso
platônico:
"Há
apenas
um
sol
neste
sistema.
O
nome
próprio,
aqui,
é
o
não-‐metafórico
propulsor
da
metáfora
prima,
o
pai
de
todas
as
figuras.[...]
A
cada
vez
que
há
metáfora,
há
sem
dúvida
um
sol
em
algum
lugar;
mas
cada
vez
que
há
sol,
a
metáfora
começou."
(DERRIDA,
1971.p.243
e
251)
Ao
longo
da
História,
o
clima
tem
sido
usado
para
propostas
hostis
e
utópicas,
fazendo
que
civilizações
prosperassem
ou
se
extinguissem
dependendo
das
suas
42
May,
Susan.
“Meteorologica”
em
OlafurEliasson:
The
Weather
Project.
2003:
15-‐28.
113
capacidades
em
se
adaptar
às
intempéries.
Desde
o
século
XIX,
com
o
advento
de
aparelhos
de
medição
e
estabelecendo
parâmetros,
os
meteorologistas
podem
estimar
os
fenômenos
mas,
assim
como
nas
obras
de
Eliasson,
há
sempre
um
fator
imprevisível.
Atualmente,
a
humanidade
tende
a
querer
controlar
com
o
auxílio
tecnológico
as
forças
da
natureza
e
isto
se
reverte
com
o
senso
crítico
do
artista
em
obras
que
sistematizam
estes
fenômenos.
Nas
instalações
de
Eliasson,
cascatas
contínuas
e
a
chuva
artificial
constante
cujo
vapor
provoca
arco-‐íris
tornam-‐se
controláveis.
Sobre
o
astro
sol
como
símbolo
principal
da
força
da
natureza,
pode-‐se
dizer
que
Eliasson
utiliza
este
aspecto
cognitivo,
principalmente
quando
desloca
este
símbolo
de
contexto.
Na
obra
Double
Sunset,
o
sol
artificial
montado
por
Eliasson
se
insere
na
paisagem
urbana
como
uma
propaganda
outdoor,
mimeticamente
dentro
da
diversidade
visual.
É
evidente
que
na
colocação
de
um
anúncio
pretende-‐se
um
destaque,
mas
as
formas
e
anúncios
em
conjunto
nas
cidades
acabam
neutralizando
o
impacto
de
cada
elemento.
O
que
destaca
o
sol
artificial
é
a
presença
do
pôr-‐do-‐sol
real,
que
gera
uma
duplicidade
surreal,
e
o
fato
de
não
esconder-‐se
a
noite,
permanecendo
aceso
por
toda
a
madrugada.
Entre
os
fenômenos
físicos
e
meteorológicos,
além
do
sol
e
do
horizonte,
existem
os
arco-‐íris
trabalhados
pelo
artista,
que
eram
vistos
há
séculos
como
sinais
misteriosos
de
Deus
e
foram
decodificados
por
matemáticos
usando
simples
cálculos
geométricos43.
Eliasson
faz
arcos
luminosos
produzidos
pela
refração
da
luz,
dispersa
em
gotículas
de
água
suspensas
no
ar.
Mais
raramente,
na
natureza,
as
faixas
do
arco-‐
íris
se
apresentam
como
anéis
com
as
cores
do
espectro
solar,
o
que
também
acontece
nas
obras
do
artista.
43
Rene
Descartes,
Discours
de
laméthodepourbienconduiresaraison
et
chercherlavéritédanslessciences,
(appendixLesMétéores),
1637.
114
Figura
41
-‐
YourRainbow
Panorama.
Obra
de
Eliasson
em
Aarhus,
Dinamarca,
2011.
A
obra
Your
Rainbow
Panorama,
construída
em
2011,
apresenta-‐se
em
escala
arquitetônica,
como
coroamento
de
um
edifício
em
360
graus.
Assim
como
nas
demais
obras
comentadas,
sobretudo
Weather
Project,
o
deslocamento
contempla
o
observador
com
uma
experiência
mais
ampla,nestes
casos
meteorológica.
A
cada
passo,
estas
obras
reafirmam-‐se
como
máquinas
de
expectativas,
segundo
os
termos
do
artista.
Ao
deslocar-‐se,
o
visitante
coloca-‐se
dentro
da
obra,
o
espaço
fechado
de
vidros
de
onde
se
avista
a
cidade
com
interferência
de
cor,
variada
a
cada
vidro
da
fachada.
O
percurso
circular
proposto
pelo
artista
é
necessário
para
que
haja
a
transição
entre
as
cores
do
espectro
solar,
aplicadas
nos
vidros
da
fachada
curva.
Por
mais
que
o
visitante
aviste
o
coroamento
de
longe
com
todas
as
cores,
a
presença
no
interior
do
túnel
curvo
e
o
deslocamento
são
fundamentais
para
que
a
experiência
da
obra
fique
completa.
A
obra
simula
o
interior
de
um
arco-‐íris
com
toda
a
sutileza
na
gradação
de
cores.
Figura
42
-‐
Eliasson
dentro
do
modelo
de
YourRainbow
Panorama,
escolhendo
cada
tonalidade
de
vidro.
115
Figura
43
-‐
Interior
de
Your
Rainbow
Panorama.
No
texto
Heliotrope
do
catálogo
Take
Your
Time,
Daniel
Birnbaum
cita
o
ensaio
de
Derrida,
escrito
aproximadamente
quarenta
anos
antes,
como
um
manifesto
aplicável
a
Eliasson.
Esta
parece
ser
a
pergunta
do
próprio
artista,
segundo
o
curador.
"Se
o
sol
é
sempre
metafórico,
já
não
é
mais
completamente
natural.
Já
é
sempre
um
lustre,
um
candelabro,
pode-‐se
dizer
uma
construção
artificial,
se
quiser
ainda
crer
neste
significado
quando
a
natureza
desaparecer.
Se
o
sol
não
é
mais
completamente
natural,
o
quê
na
natureza
permanece
natural?"
(DERRIDA,
1971.p.
251)
Quando
na
verdade
o
que
importa
não
é
ser
natural
ou
não,
mas
como
se
naturaliza
as
coisas
ao
redor
e
não
nota-‐se
a
capacidade
que
temos
de
mudá-‐las.
Assim,
a
experiência
de
sentir
uma
corrente
de
vento
ou
a
chuva
gotejando
num
espaço
interno
da
galeria
reconfigura
a
noção,
a
princípio
impertinente,
de
que
isto
pertence
a
ambientes
abertos.
Estas
experiências
provocam
a
"suspensão
entre
expectativa
de
experiência
e
o
autêntico
encontro"
com
a
arte,
"o
interstício
entre
a
ação
instintiva
e
a
lógica
da
compreensão
que
fascina
Eliasson
[...]
muito
da
116
consistência
e
lógica
de
eventos
externos
é,
consequentemente,
uma
propriedade
do
'perceptor'
mais
do
que
do
objeto
percebido.
Nossa
visão
do
mundo
deve
ser
mais
subjetiva
do
que
nos
apercebemos,
mesmo
sob
quaisquer
convenções
culturais"44
Em
algumas
instalações
Eliasson
volta-‐se
para
o
modo
como
o
olho
lê
cores
e
as
respostas
a
usos
específicos
de
cores.
Para
demarcar
que
a
experiência
começa
na
entrada
da
exposição,
Eliasson
costuma
abrir
suas
mostras
com
a
obra
Room
for
One
Colour
(1998).
Obra
na
qual
lâmpadas
de
sódio
amarelas
alteram
a
aparência
de
todas
as
outras
cores
do
ambiente.
Como
num
ritual
de
passagem,
um
portal
para
dentro
da
exposição,
esta
obra
retira
as
cores
dos
objetos
e
ambientes
para
preparar
o
visitante
a
experimentar
sensações
desestabilizadoras.
Assim
como
a
experiência
que
se
apresenta
em
Room
for
One
Colour,
a
curadora
de
Weather
Project
Susan
May45
descreve
nesta
obra
a
redução
perceptual
das
cores
a
apenas
duas,
em
suas
observações
pessoais
sobre
a
visita
à
instalação.
Surpreendentemente,
cada
depoimento
sobre
a
experiência
na
Tate
Modern
traz
um
dado
novo
sobre
a
obra.
"O
teto
espelhado
conduz
o
olho
ao
fim
da
sala,
onde
uma
forma
semi-‐
circular
gigante
está
pendurada,
iluminada
por
centenas
de
luzes
de
mono-‐
frequência.
O
arco
se
repete
no
espelho
acima,
produzindo
uma
esfera
perfeita
de
radiante
DAZZLING.
Enquanto
a
iconografia
do
sol
continua
a
44
LeifFinkel,
‘The
ConstructionofPerception’,
in
Incorporations
(ed.
Jonathan
CraryandSanford
Kwinter),
1992.
p.393.
45
Susan
May
era
curadora
da
galeria
Tate
Modern,
em
2003,
quando
houve
a
montagem
de
Weather
Project.
Posteriormente,
assumiu
a
Direção
Criativa
da
galeria
White
Cube
em
Londres.
117
conduzir
o
observador
em
frente,
aliando
o
espaço
real
com
o
refletido,
a
intensidade
dos
raios
faz
a
aproximação
cada
vez
mais
desconfortável.
Conforme
os
olhos
pulsam,
ajustando-‐se
à
luz
ofuscante,
o
registro
de
cor
no
córtex
visual
é
reduzido
à
gama
duotonal.
O
comprimento
da
onda
gerada
pelo
neon
amarelo
guia
o
olho
a
gravar
apenas
cores
do
amarelo
ao
preto,
transformando
o
campo
visual
numa
extraordinária
paisagem
monocromática."(MAY,
2003)
Em
cada
caso,
a
observação
dos
fenômenos
atmosféricos
corresponde
a
um
avanço
de
conhecimento
ótico.
Por
exemplo,
a
classificação
científica
das
nuvens
em
tipos
de
formação46
influenciou
a
pintura
de
Turner
que
a
somou
este
conhecimento
à
Teoria
das
Cores
de
Goethe,
compondo
tempestades
e
efeitos
da
luz
solar
impressionantes.
A
observação
dos
fenômenos
naturais
é
acessível
a
todos,
mas
o
processo
de
sistematizá-‐la
possibilitou
que
o
pintor
fizesse
os
mais
extraordinários
estudos
meteorológicos
diurnos.47
Não
é
em
vão
que
Eliasson
refere-‐se
a
Turner
quando
trata
da
luz
solar
e
os
críticos
o
associam
ao
pintor,
pois
ele
dominava
o
assunto.
Na
pesquisa
que
a
equipe
de
Eliasson
desenvolve
sobre
cor,
há
diversos
experimentos
com
refração
e
efeitos
produzidos
por
tonalidades
específicas
da
luz
solar.
Eles
repetem
os
experimentos
com
pequenas
variações
inúmeras
vezes
e
partem
do
pressuposto
que
as
falhas
são
inerentes
ao
processo
de
experimentação.
Na
própria
natureza,
as
irregularidades
denotam
complexidade
aos
fenômenos
atmosféricos
e
isto
era
parte
do
trabalho
do
grupo
Light&Space,
pois
percebe-‐se
a
sutileza
das
pequenas
variações
nas
obras
de
James
Turrell
e
Robert
Irwin.
"Como
Irwin
e
Turrell,
antes
dele,
Eliasson
implica
seu
observador
num
looping
retroalimentado
de
auto-‐percepção.[...]
Deve-‐se
perguntar,
acima
de
tudo,
que
"you"
(você)
particular
ocupa
esta
posição
privilegiada,
por
ser
possessiva.
[...]
pensando
não
apenas
sobre
o
"agora"
do
observador
mas
também
sobre
tempo
como
algo
"interior
ao
espectador"
-‐
nós
precisamos
perguntar
o
quê
Sua
Luz
&Espaço
deve
significar
para
o
momento
atual."(LEE,
2007.)
46
Luke
Howard,
OntheModificationofClouds,
3a.
ed.,
Londres
1865.
47
Jonathan
Crary,
em
JMW
Turner:The
Sun
isGod,
catálogo
da
exposição
na
Tate
Liverpool,
2000.
118
Nos
comentários
da
crítica
Pamela
Lee
sobre
o
aspecto
meteorológico
de
Eliasson
o
aproximar
das
pesquisas
do
grupo
Light&Space,
a
autora
sugere
uma
corruptela
do
grupo,
mais
apropriada
à
leitura
atual
que
o
artista
faz
da
luz
e
do
espaço.
O
nome
do
movimento
seria
acrescido
do
pronome
possessivo,
tornando-‐se
Your
Light
and
Space
(Sua
Luz
e
Espaço).
Este
uso
do
pronome
típico
dos
títulos
de
Eliasson
confere
responsabilidade
a
cada
espectador
perante
o
espaço
compartilhado
na
obra.
É
provável
que
o
título
de
Weather
Project
não
tenha
recebido
este
pronome
devido
à
familiaridade
do
público
com
o
tema.
Afinal,
o
clima
atmosférico
é
assunto
de
todos,
independente
da
abordagem
do
artista.
Sobre
Weather
Project,
a
crítica
Pamela
Lee,
reconhece
uma
renovação
em
termos
de
luz
e
espaço,
sob
o
prisma
da
recente
historiografia
da
percepção.
A
autora
descreve
a
importância
das
noções
de
habitabilidade
e
imersão48
por
articularem
as
expectativas
e
ideologias
que
cada
espectador
traz
para
o
encontro
com
as
obras
na
arte
contemporânea.
Uma
vez
que
no
campo
da
arte,
obras
que
envolvem
o
visitante
já
existiam
há
décadas,
o
impacto
inovador
causado
na
Tate
Modern
estava
em
alterar
completamente
o
espaço
do
museu,
tornando-‐o
quase
irreconhecível
apenas
com
o
uso
da
luz.
Esse
jogo
com
o
que
se
espera
encontrar
no
espaço
expositivo,
ou
o
que
não
se
espera
fora
da
galeria,
é
frequente
nas
ações
e
instalações
de
Eliasson.
As
expectativas
que
cada
um
tem
na
percepção
das
cores
variam
a
cada
indivíduo,
por
exemplo.
Saber
que
o
que
um
vê
não
corresponde
ao
que
o
outro
vê
muda
tudo
no
entendimento
de
uma
realidade
absoluta.
Este
é
um
dos
jogos
que
Eliasson
traz
para
o
espaço
da
obra,
a
divergência
de
cores
na
percepção
de
cada
um.
48
No
contexto
artístico,
a
habitabilidade
confere
à
obra
de
arte
a
possibilidade
do
visitante
entrar
no
interior
da
obra,
ser
envolvido
por
ela.
A
imersão
pode
ocorrer
de
diversos
modos,
mas
predominaminantemente,
ocorre
a
imersão
visual,
caracterizada
por
efeitos
visuais
que
confundem
o
observador
causando
a
sensação
de
adentrar
no
espaço
da
obra.
Quando
se
está
de
fato
no
interior
de
uma
instalação,
o
caráter
imersivo
é
atribuído
à
sensação
de
transferência
para
além
do
espaço
físico
da
obra.
119
A Auto-Observação
Observar
a
si
mesmo
é
uma
auto-‐observação.
O
reconhecimento
do
próprio
corpo
no
espaço
da
arte
ocorre
através
de
recursos
óticos
e
de
iluminação,
sombras
e
reflexos,
com
o
intuito
de
atingir
uma
auto-‐observação
mais
específica,
a
consciência
de
ver-‐se
vendo.
Quando
esta
consciência
é
promovida
pelos
demais
sentidos,
talvez
seja
mais
apropriado
chamá-‐la
de
auto-‐reconhecimento.
Como
foi
dito
anteriormente,
Eliasson
utiliza
esta
consciência
do
próprio
corpo
como
instrumento
de
provocação.
A
interação
provocada
pelo
artista
em
experiências
coletivas
une
o
público
no
espaço
nas
obras,
conforme
comentado
no
trecho
sobre
o
termo
participação
do
capítulo
anterior.
Nesse
encontro
promovido
pela
instalação
de
arte,
o
auto-‐
reconhecimento
desarticula
barreiras
sociais
inibidoras
e
ocorrem
comportamentos
inesperados
num
espaço
público.
A
apropriação
do
espaço
surge
em
função
de
processos
subjetivos
intra-‐corpóreos
-‐
a
consciência
da
visão,
do
equilíbrio,
da
localização
do
próprio
corpo
no
espaço
da
obra
-‐
e
nisto
iguala
todos
os
participantes.
Esta
política
de
participação
igualitária
opera
na
coletividade
e
parte
de
fenômenos
em
cada
corpo,
em
cada
sujeito.
Retomando
a
introdução
a
este
tema
que
consta
no
primeiro
capítulo,
pode-‐se
dizer
que
em
suas
aplicações
práticas,
os
comportamentos
investigados
por
Eliasson
e
a
questão
psicológica
que
direciona
as
pesquisas
de
James
Turrell
à
neurologia
une
os
dois
artistas.
Por
caminhos
paralelos
e
concepções
artísticas
diversas,
ambos
estudam
a
auto-‐percepção.
Na
entrada
de
uma
sala
enevoada
como
a
obra
Seu
Caminho
Sentido
no
SESC
Pompéia,
por
exemplo,
ocorre
um
auto-‐reconhecimento
multi-‐
sensorial
em
que
o
tato
de
cada
passo
no
chão
faz
com
que
a
deficiente
visibilidade
seja
substituída
por
outros
recursos.
Esta
é
uma
tática
usada
por
Eliasson
e
Turrell,
reduzir
a
visibilidade
para
tornar
evidente
o
quanto
a
usamos,
e
se
conseguimos
nos
ver,
nos
posicionar
neste
espaço
sem
o
domínio
visual.
120
Figura
44
-‐
Iltar,
obra
de
James
Turrell.
Figura
45
-‐
Your
Blind
Mouvement,
obra
de
Eliasson.
121
Os
espelhos
e
sombras
são
ferramentas
diretas
de
ativação
do
espaço,
no
sentido
de
fazer
o
visitante
perceber
a
si
mesmo
nas
instalações
que
Eliasson
cria
e
interagir
com
sua
imagem.
A
experiência
de
deparar-‐se
com
a
sua
imagem
refletida
ou
identificar
a
sua
sombra,
motiva
os
visitantes
a
se
movimentarem
para
se
reconhecerem.
Este
tipo
de
comportamento
era
um
fato
corriqueiro
durante
a
visitação
da
mostra
Weather
Project.
Algumas
pessoas
ficavam
horas
se
vendo
no
teto
espelhado,
ao
ponto
que
o
público
começou
a
formar
palavras
com
os
reflexos
de
seus
corpos
que
podiam
ser
lidas
no
teto.
Na
época
da
mostra
comemorativa
de
dez
anos
trabalhando
junto
a
galerista
Tanya
Bonakdar (2006),
em
Nova
Iorque,
Eliasson
concedeu
uma
entrevista
bem
extensa
à
poeta
e
escritora
da
revista
New
Yorker
Cynthia
Zadin,
que
o
acompanhou
nesta
viagem
pela
cidade.
Segundo
esta
publicação,
o
artista
e
curador
alemão
Thomas
Demand
que
conhecia
Eliasson
desde
o
início
da
carreira
em
Colônia
comenta
que
Weather
Project
“
foi
algo
inacreditavelmente
corajoso.
Ele
era
um
artista
mambembe
sem
uma
rede
(de
colaboradores
e
contatos).
Se
não
desse
certo,
teria
arruinado
sua
carreira,
mas
ele
fez
um
espaço
humano.”
Referindo-‐se
certamente
a
apropriação
do
122
espaço
que
ocorreu
por
parte
dos
visitantes,
transformando
a
instalação
num
grande
evento
público.
Confirmando
isto,
o
galerista
alemão
Tim
Neuger
descreve
o
ruído
estrondoso
do
público
dentro
da
Tate
Modern,
durante
Weather
Project,
nessa
mesma
publicação.
Quando
Neuger
viu
o
público
se
manifestando
com
os
corpos
espelhados,
escrevendo
xingamentos
ao
presidente
dos
Estados
Unidos,
ele
ligou
para
Eliasson.
O
artista
estranhou
o
ruído
e
chegou
a
pensar
que
tratava-‐se
de
um
show
de
rock.
Por
essa
repercussão
e
os
demais
motivos
comentados,
o
teto
espelhado
de
Weather
Project
reverbera
há
anos
nas
obras
posteriores
de
Eliasson.
O
fenômeno
observado
no
amplo
espaço
da
Sala
da
Turbina,
centenas
de
pessoas
deitadas
no
chão
se
olhando
no
reflexo
distante,
continua
sendo
objeto
de
estudo
do
artista.
Notadamente,
no
que
se
refere
a
fatores
desestabilizantes
e
a
temporalidade
deste
processo
de
reconhecimento,
onde
o
olhar
-‐
a
percepção
-‐
tornou-‐se
conteúdo.
O
professor
alemão
de
estética
e
filosofia
da
arte
Robert
Kudielka
comenta
em
seu
texto
"Objetos
da
Observação
-‐
Lugares
da
Experiência",
sobre
esse
deslocamento
do
observador
de
uma
posição
frontal,
diante
da
tela
de
pintura,
para
o
centro
do
espaço
de
exposição,
o
interior
da
obra.
Trata-‐se
do
processo
de
transformação
da
percepção
em
temática
de
discussão.
O
autor
reconhece
a
diferença
entre
as
transformações
ocorridas
no
campo
da
escultura
e
da
pintura,
nas
últimas
décadas,
entretanto,
neste
trecho,
cruza
as
duas
áreas,
sob
o
prisma
do
observador.
Decerto
o
tempo
utilizado
na
observação
de
quadros
tivera
um
papel
importante,
mas
enquanto
o
observador
pôde
se
fiar
no
reconhecimento
sempre
renovado
de
sinais
iconograficamente
seguros,
inseridos
numa
ordem
espacial
apreensível,
este
aspecto
permaneceu
oculto.
Somente
com
a
retirada
dos
fatores
estabilizantes
a
temporalidade
pôde
realmente
aparecer.
Essa
temporalização
do
olhar
alterou
o
caráter
de
obra
dos
quadros.
Pois
ela
significava
que
o
objeto
ou
motivo
já
não
eram
fundamentais
para
o
conteúdo
da
representação;
eram,
no
máximo,
um
ensejo
para
a
realização
artística
de
sua
percepção.
O
olhar
tornou-‐se,
ele
mesmo,
conteúdo;
e
com
ele
todas
as
sensações
que
o
acompanham,
as
quais
não
são
de
natureza
meramente
visual.
(KUDIELKA,
2010,
p.170)
123
124
PÁGINA
ANTERIOR:
Figura
46
-‐
Weather
Project,
Tate
Modern.
Londres,
2003.
Conforme
a
entrevista
de
Eliasson
à
Birnbaum,
citada
no
texto
"Meteorológica"
por
Susan
May,
o
artista
justifica
o
uso
dos
materiais
reflexivos
em
suas
obras,
assim
como
o
teto
de
Weather
Project,
uma
vez
que
defende
a
necessidade
de
sairmos
de
nós
mesmos
e
vermos
o
conjunto
sujeito-‐objeto.
Com
o
artefato
da
instalação,
acentua-‐se
a
"habilidade
de
nos
vermos
vendo
ou
nos
vermos
na
terceira
pessoa,
de
outro
ponto
de
vista",
o
que
fornece
também
a
habilidade
de
auto-‐crítica.
Como
consta
no
capítulo
2,
o
conceito
de
alteridade
se
aplica
no
espaço
artístico,
e
mais
especificamente
nas
obras
de
Eliasson,
englobando
a
relação
sujeito-‐obra,
assim
como
a
intersubjetividade.
Nas
palavras
do
artista,
é
fundamental
para
se
relacionar
com
o
mundo
e
promove
as
interações
das
suas
obras:
"Para
mim,
o
único
modo
de
existir
é
ter
relacionamentos
próximos
com
quem
está
ao
meu
redor
e
na
galeria.
Eu
acho
que
sou
de
algum
modo
insensível,
mas,
então,
você
entra
na
sala
e
o
objeto
começa
a
brilhar.
Eu
olho
para
um
objeto
na
mesa
e
não
tenho
empatia
por
ele.
Eu
preciso
de
você
para
saber
que
o
mundo
está
lá,
é
por
isso
que
eu
sou
tão
obcecado
pela
estrutura
do
mundo.
É
por
isso
que
eu
tenho
tantas
pessoas
trabalhando
comigo."
Ver
as
coisas
do
ponto
de
vista
do
outro,
condiciona
o
entendimento
do
espaço
à
percepção
alheia,
o
que
possibilita
outra
leitura
da
realidade.
O
artista
considera
que
'Realidade'
não
é
necessariamente
algo
dado;
deve
ser
dependente
de
quem
a
percebe.
49Eliasson
de
modo
similar
relembra
o
observador
de
que
a
única
verdadeira
e
dependente
realidade
vem
de
dentro
de
cada
um.
(MAY,
2003)
49
Citação
de
Susan
May:
(VARELA,
1992.
p.320–37)
125
O Museu, A Arte e O Engajamento Público
Dentro
do
universo
apresentado
pelo
artista
Olafur
Eliasson,
o
museu
é
caracterizado
como
o
espaço
da
experimentação,
onde
o
visitante
entra
com
expectativas,
negocia
com
o
entorno
e
coabita
o
espaço
com
inúmeros
desconhecidos.
Não
necessariamente,
um
espaço
fechado,
recluso
ao
edifício,
mas
sim
um
espaço
que
projeta-‐se
para
fora
e
mantém
forte
comunicação
com
a
cidade.
No
livro
"Espaços
de
Experiência:
Interiores
de
Galerias
de
Arte
de
1800
a
2000",
Charlotte
Klonk
(2009)
esclarece
que
desde
1920
haviam
dois
tipos
de
exposições
que
abandonavam
a
preocupação
das
gerações
anteriores
em
preservar
a
privacidade
dos
espaços
internos
de
uma
galeria,
em
prol
de
experiências
visuais
públicas
e
coletivas.
O
primeiro
tipo
fora
desenvolvido
pelos
integrantes
da
Bauhaus
e
enfatizava
os
aspectos
discursivos
e
racionais
das
exposições.
O
segundo
tipo
visava
a
criação
de
experiências
fenomenológicas
coletivas
e
era
proposto
por
artistas
construtivistas.
Eliasson
continua
essa
vertente
construtivista
que
explora
as
possibilidades
de
contato
entre
sujeito
e
obra
fazendo
do
espaço
um
fenômeno
único
na
presença
do
público.
O
espaço
do
museu
tradicionalmente
voltado
para
seu
interior
e
pensado
para
o
acolhimento
de
objetos
de
arte,
torna-‐se
a
própria
obra
e
volta-‐se
para
"noções
de
colaboração
e
interação
social
que
não
tinham
lugar
na
agenda.
Tal
envolvimento
supostamente
deveria
acontecer
na
rua,
não
no
museu."(BIRNBAUM,
2010)
A
popularidade
de
Weather
Project
gerou
reflexões
sobre
as
relações
ambivalentes
entre
as
práticas
artísticas
e
um
conjunto
de
fatores
-‐
a
cultura
de
consumo,
o
museu
e
o
espetáculo.
Colocando
o
espectador
no
centro
do
espaço
do
museu,
Eliasson
o
transforma
em
ator
numa
arena,
parte
constituinte
do
cenário.
Diferente
da
arte
clássica
que
faz
do
visitante
do
museu
um
observador
frontal
diante
da
obra,
direciona
uma
perspectiva,
Eliasson
cria
ambientes
em
que
envolve
o
visitante,
o
estimula
a
interagir
e
o
espetáculo
gira
em
torno
desta
figura
central.
126
James
Meyer
criticou
a
espetacularização
de
Weather
Project
como
sendo
parte
de
uma
competição
global
de
museus.
Isto
aconteceu
porque
desde
os
anos
200050,
são
frequentes
as
construções
de
museus
cada
vez
mais
elaborados
formalmente
que
representam
o
poder
das
instituições
e
as
instalações
de
arte
ganharam
status
de
grandes
espetáculos
que
levam
um
numeroso
público
aos
eventos
e
museus.
Então,
ocorrem
duas
esferas
de
atuação,
a
mídia
sobre
a
instituição
museu
e
a
instalação
de
arte
como
chamariz
de
público,
ambas
pertinentes
ao
mercado
global
da
arte.
Nas
práticas
artísticas
da
última
década,
houve
uma
proliferação
de
estratégias
que
colocam
o
ambiente
e
o
visual
em
confronto,
as
formas
de
subversão
e
a
espetacularidade.
Uma
destas
estratégias
é
surpreender
o
público
diante
de
um
evento
cotidiano
com
pequenas
intervenções
que
o
faça
perceber
fenômenos
naturais.
Como
no
caso
do
rio
de
Estocolmo
que
Eliasson
tingiu
de
corantes
verdes
não-‐tóxicos
,
o
Green
River
(1998).
Nesta
obra,
segundo
o
artista,
o
ocultamento
da
intervenção
fez
com
que
"naquele
dia,
as
pessoas
em
Estocolmo
olhassem
para
o
rio
-‐
para
elas,
a
água
mover-‐se
era
uma
surpresa.
A
cidade
não
era
um
cartão-‐postal!
Não
saberem
que
era
uma
obra
de
arte
foi
importante".
Sobre
a
coexistência
de
efeitos
espetaculares
e
a
revelação
dos
artefatos,
as
tecnologias
que
os
produzem,
comum
nas
obras
de
Eliasson,
pode-‐se
dizer
que
não
há
razão
para
as
duas
tendências
se
reconciliarem.
A
crítica
se
divide
sobre
qual
seria
a
proposta
de
Eliasson:
iludir
ou
revelar
a
realidade.
Embora
no
discurso
o
artista
não
defenda
a
ilusão,
na
prática,
grande
parte
do
envolvimento
do
público
pode
ser
atribuído
a
belas
ilusões
que
encontram
nas
suas
obras.
Se
o
museu
está
sendo
palco
de
um
espetáculo
que
se
revela,
envolve
o
espectador
e
questiona
o
mundo,
ainda
assim
trata-‐se
de
um
espetáculo.
Como
estratégia,
em
Weather
Project,
Eliasson
decidiu
aliar
a
estrutura
caótica
do
museu
e
da
sociedade
ao
incontrolável
sistema
gerado
pelo
tempo
meteorológico.
Ainda
que
prevaleça
nas
conversas
diárias
e
mude
em
diferentes
culturas,
este
tema
50
O
Instituto
do
Mundo
Árabe
projetado
por
Jean
Nouvel,
o
museu
Guggenheim
de
Bilbao
desenho
de
Frank
Gehry,
entre
outros
museus
foram
construídos
entre
o
final
dos
anos
1990
e
os
anos
2000.
Quanto
às
instalações,
as
esculturas
de
Anish
Kapoor
e
Richard
Serra
são
exemplos
de
grande
escala
que
fascinam
o
grande
público.
127
afeta
todo
mundo.
O
Clima
serve
como
metáfora
do
Museu
para
Eliasson
para
discutir
a
importância
da
instituição
para
a
arte,
a
cultura,
e
para
todos,
assim
como
o
clima.
Ambos
carregam
otimismo,
dúvida,
especulação,
convicção,
além
de
operarem
sistemas
organizacionais
sujeitos
a
mutabilidade.
O
crédito
depositado
na
previsão
do
tempo
é
um
paradoxo,
já
que
os
cientistas
nunca
podem
dizer
a
verdade
,
devido
à
aleatoriedade
do
tempo
atmosférico.
O
artista
dinamarquês
enxerga
o
museu
como
espaço
em
podemos
negociar.
O
lugar
de
compartilhamento
de
modos
visuais
de
organizar
significados.
"Se
o
museu
é,
na
cultura
de
hoje,
um
lugar
para
ver
-‐
ambos
físico
e
ideologicamente
-‐
é
também
o
continente
perfeito
para
as
'lições
de
ver
diferente'
dos
objetos
de
Eliasson."(catálogo
Take
Your
Time)
No
texto
Objetos
da
Observação
-‐
Lugares
da
Experiência,
Kudielka
faz
um
panorama
acerca
da
questão
da
espacialidade
nas
artes
plásticas
do
século
XX
e
procura
situar
o
debate
com
relação
à
produção
contemporânea.
Sobre
as
obras
dos
artistas
Eliasson,
Kabakov
e
Rhoades,
Kudielka
comenta
as
semelhanças
em
buscar
oferecer
um
lugar
para
a
experiência
e
quanto
a
dependência
do
espaço
do
museu,
de
um
invólucro.
"A
explícita
configuração
de
lugares
na
arte
contemporânea
parece
ser
apenas
a
resposta
dada
de
modo
complementar
a
um
sensível
embaraçosa
crescente
ausência
de
um
lugar
para
a
experiência.
Com
isto
se
revela
uma
dialética
peculiar:
quanto
mais
naturalmente
os
artistas
monopolizam
o
espaço
“real”
como
lugar
que
determina
o
seu
trabalho,
tão
mais
evidente
se
torna
a
incerteza
dessa
premissa.
O
que
vincula
tão
diferentes
instalações
como
a
Toilette(1992),
de
Ilya
Kabakov,
o
Creation
Myth(1998),
de
Jason
Rhoades,e
o
Weather
Project
(2003),
de
Olafur
Eliasson18?
[...]
elas
precisam
de
um
invólucro
ou
recipiente,
nos
quais
se
organizam
e
dentro
dos
quais
elas
podem
lograr
um
efeito
—
seja
esse
retorno
um
container
conscientemente
ocupado
(Kabakov),
um
salão
preexistente
e
que
estava
arrumado
de
um
modo
específico
(Eliasson),
ou
a
indispensável
ampliação
de
um
espaço
interno
desocupado
(Rhoades).
Nenhuma
providência
artística
parece
ser
tão
importante
quanto
essa
decisão
a
priori,
pois
apenas
o
apoio
de
uma
moldura
preexistente
permite
manter
a
organização
de
um
modo
tão
aberto,
que
um
espaço
de
vivência
autêntico,
128
experimentável
ao
se
transitar
dentro
dele,
passa
a
existir.
Dentro
desse
espaço
o
observador
pode
dispor,
sem
instrução
prévia
e
até
certo
ponto,
de
um
olhar
contemplativo.
[...]Se
essa
interioridade
insegura
se
consolida
de
antemão
pela
suposição
de
um
efetivo
espaço-‐container,surge
uma
separação
real
comparável
à
do
espaço
privado,
a
qual,
coma
preferência
por
anteparos
—
autarquia,
tranqüilidade
—
negocia
também
as
suas
desvantagens:
isolamento
e
toda
sorte
de
autismos
estéticos."
(KUDIELKA,
2008)
A
crítica
de
Kudielka
faz
sentido.
No
caso
de
Weather
Project,
de
fato,
a
sala
de
exposição
era
o
limite
físico
da
obra,
nem
por
isso
este
limitador
físico
era
uma
restrição
ao
processo
de
expansão
da
instalação
para
fora
do
museu
e
de
entrada
da
cidade
naquela
sala
de
exposição.
Como
mencionado
anteriormente,
na
realização
de
Weather
Project,
houve
uma
campanha
estratégica
que
englobava
todos
os
envolvidos
no
processo
de
desenvolvimento
da
obra
e
se
desdobrava
em
divulgação
cidade
a
fora.
Isto
ilustrava
as
inúmeras
perspectivas
e
atitudes
em
conjunto
com
o
museu,
com
toda
ordem
e
caos
que
tal
instituição
pode
trazer.
Para
determinadas
ações,
Eliasson
precisa
do
museu
e
tira
partido
tanto
da
organização
institucional
quanto
do
espaço
físico
disponível.
O
artista
vê
o
museu
como
um
microcosmo
da
sociedade,
uma
situação
paralela
às
condições
do
mundo
lá
fora.
Utiliza
a
mediação
do
museu
entre
o
sujeito
e
a
obra
para
destacar
o
uso
do
próprioespaço
como
meio
que
age
sobre
o
usuário.
Em
outras
palavras,
o
artista
assume
que
o
espaço
e
toda
ordem
de
comunicação
disponível
nessas
instituições
interferem
tanto
nos
visitantesquanto
nas
obras,
por
isso
trabalha
os
modos
de
mediar
este
contato.
E
mais,
faz
do
espaço
oferecido
pelo
museu,
um
novo
espaço,
acrescido
de
interferências
que
afetam
os
sentidos
do
visitante
e
a
consciência
que
ele
tem
de
si,
neste
espaço.Adota
estratégias
que
fazem
o
visitante
notar
vários
níveis
de
representação,
operantes
a
todo
momento
fora
deste
contexto.
"Lamento
dizer
que
encontro
uma
discrepância
crescente
entre
as
possibilidades
atuais
da
arte
e
o
caminho
por
que
os
museus
enveredaram.
Portanto,
os
dois
elementos
importantes
desta
discussão
são
arte
e
público.
Como
ambos
estão
em
movimento
constante
é
evidentemente
difícil
definir
um
enquadramento
comunicativo
produtivo,
mas
na
verdade
penso
que
os
129
modelos
para
uma
gestão
museológica
responsável
precisam
de
uma
maior
sensibilidade
a
estas
mudanças
contínuas.
"(ELIASSON,
2011,
p.
198)
Eliasson
teve
a
oportunidade
de
participar
de
uma
reavaliação
da
comunicação
da
arte,
um
projeto
do
Museu
Hirshhorn,
em
Washington(EUA).
Nessa
ocasião,
ele
pode
colocar
em
prática
toda
reflexão
presente
em
suas
obras
a
respeito
do
papel
da
instituição.
A
proposta
de
Eliasson
para
as
futuras
possibilidades
desse
museu,
concentrava-‐se
em
reavaliar
as
estratégias
de
comunicação
para
aumentar
o
envolvimento
crítico
do
público
com
a
arte.
Havia
a
demanda
por
um
fluxograma
que
definisse
a
passagem
dos
visitantes
da
cidade
e
do
prédio
comercial,
onde
o
museu
se
situa,
para
o
Jardim
de
Esculturas
e
até
as
obras
propriamente.
Até
então,
não
havia
uma
ligação
visual
entre
o
prédio
de
estrutura
circular
maciça,
com
a
aparência
de
uma
fortaleza
militar,
e
o
jardim
de
esculturas
do
outro
lado
da
rua.
Depois
de
visitar
o
Weather
Project,
o
diretor
do
museu
Hirshhorn
Ned
Rifkin
se
questionou
sobre
qual
seria
a
ecologia
de
sua
instituição
e,
em
2005,
convidou
Eliasson
ao
museu.
Após
uma
caminhada
pelo
jardim
de
esculturas,
o
diretor
conta
que
"começou
a
pensar
como
Olafur
pensa
-‐
qual
é
a
noção
por
traz
de
um
jardim
de
esculturas?"
.
A
diretora
seguinte,
Olga
Viso,
notou
que
estava
literalmente
invertendo
o
museu
para
o
nível
acima.
Com
isso,
concluiu
que
o
papel
de
agente
provocador
que
Eliasson
exerce
era
fundamental
para
repensar
o
museu.
Com
um
questionário
inspirado
naquele
que
antecedeu
a
instalação
Weather
Project,
fizeram
no
museu
Hirshhorn
todos
os
envolvidos
repensarem
suas
relações
com
o
museu,
entre
funcionários
e
colaboradores.
Figura
47
-‐
Projeto
de
Eliasson
para
o
Museu
Hirshhorn,
Washington,
EUA.
130
No
projeto
arquitetônico,
Eliasson
inseriu
uma
rampa
que
circundaria
o
edifício,
cujo
o
fechamento
de
vidro
ondulante
alternaria
vistas
externas
e
reflexos
do
interior
(Figura
47).
Desta
forma,
Olafur
Eliasson
pretendia
sublinhar
a
relação
do
visitante
com
o
entorno,
transferir
para
o
elemento
arquitetônico
o
que
costuma
fazer
nas
instalações
de
arte.
No
livro
Studio,
o
artista
descreve
a
experiência
junto
ao
Hirshhorn:
"Não
fingi
que
pudesse
ser
criado
um
aqui
e
agora
autêntico
e
sem
mediação.
Pelo
contrário,
tentei
considerar
a
mediação
que
qualquer
esforço
de
comunicação
implica
como
parte
das
obras
de
arte.
Acredito
que
o
museu,
a
sua
ideologia
de
comunicação
e
as
obras
de
arte
constituem
um
todo
unificado,
um
sistema
holístico.
Tentamos
produzir
uma
consciência
da
presença
fazendo
a
temporalidade
tangível.
A
estrutura
do
edifício
deveria
ser
compreensível
e
transparente
quando
os
visitantes
a
percorressem.
Todos
os
elementos
da
minha
proposta
promoveram
um
atrito
temporal,
que
conduziu
a
um
grau
de
lentidão
na
percepção
do
museu.
As
instituições
não
são
entidades
isoladas,
apartadas
da
sociedade
–
são
penetradas
pela
sociedade.
E
esta
idéia
deve
ser
comunicada
generosamente
pelo
próprio
museu."(ELIASSON,
2011-‐
Studio,
p.
198)
Independentemente
de
ser
um
artista
que
trabalha
o
espaço,
faz
instalações
e
intervenções
na
paisagem,
além
de
fazer
parte
de
uma
geração
que
estabelece
novas
relações
entre
o
sujeito
e
o
espaço,
Eliasson
não
pensa
apenas
na
obra
de
arte
no
interior
do
museu,
mas
lida
diretamente
com
ele.
Nestes
casos,
o
museu
é
o
seu
tema.
Isto
se
justifica
em
Weather
Project
como
o
espaço
que
intermedia
o
sujeito
com
a
cidade,
o
espaço
mediador
e
comunicante.
Nas
demais
exposições
do
artista,
analogamente,
a
diversidade
de
obras
é
orquestrada
por
um
percurso
sugerido
no
espaço
do
museu,
a
ideia
de
proporcionar
uma
experiência
através
da
arquitetura.
O Weather Project e A Obra De Arte Total
Os
comentários
sobre
a
obra
Weather
Project
e
obras
com
questões
semelhantes
poderiam
ser
mais
extensos.
Nesta
dissertação,
o
limite
do
formato
e
o
recorte
temático
definiram
esta
extensão.
No
entanto,
interromper
o
trecho
destinado
131
à
obra
sem
mencionar
o
conceito
de
Obra
de
Arte
Total
seria
um
grande
equívoco.
Por
este
motivo,
faz-‐se
aqui
um
breve
comentário
adicional.
Entende-‐se
por
Obra
de
Arte
Total
um
projeto
que
englobe
todas
as
atividades
artísticas
num
só
espaço,
numa
só
obra.
A
origem
do
termo
remonta
ao
Romantismo
alemão
do
século
XIX,
às
óperas
do
compositor
clássico
Wagner51,
nas
quais
pretendia-‐
se
realizar
uma
experiência
artística
completa,
unindo
música,
teatro,
dança
e
artes
plásticas,
música,
ao
longo
do
espetáculo
musical.
Durante
séculos,
em
cada
arte,
houve
propostas
específicas,
no
sentido
de
executar
este
projeto
global,
e
a
arquitetura
teve
sempre
esta
tendência,
ao
abarcar
fisicamente
os
produtos
das
demais
artes
dentro
de
um
espaço
construído.
Porém,
a
relação
do
edifício
continente
e
as
obras
como
conteúdo
já
seria
suficiente
para
descaracterizar
uma
obra
completa.
No
decorrer
das
últimas
décadas,
em
função
do
investimento
em
uma
arte
colaborativa
e
multissensorial,
os
artistas
retomam
esse
caráter
da
obra
realizada
conjuntamente.
Característica
que
para
muitos
críticos
e
artistas
enfatiza
a
refuta
a
um
modelo
tradicional
de
Obra
de
Arte
Total.
Entretanto,
na
falta
de
um
termo
substituto,
mesmo
que
desfigurada,
comumente,
atribui-‐se
o
termo
Obra
de
Arte
Total
à
arte
de
Eliasson.
Isto
justifica-‐se
devido
à
mescla
na
percepção
da
arte
e
da
arquitetura
no
espaço
da
obra,
notada
desde
Weather
Project,
aos
elementos
arquitetônicos
desenhados
pelo
artista
e
aos
inventos
multisensoriais.
A
visita
à
instalação
de
Eliasson
na
Tate
Modern
remetia
de
fato
a
experiências
tradicionalmente
provocadas
no
âmbito
do
espaço
arquitetônico.
Devido
à
verticalidade
e
às
entradas
de
luz
por
vitrais,
a
arquitetura
das
catedrais
góticas
criava
uma
atmosfera
dramática
entre
zonas
claras
e
escuras,
um
desenho
de
luz
que
realmente
lembra
o
trabalho
de
Eliasson.
Os
espetáculos
de
Wagner
exploravam
estas
propriedades
da
luz
para
dar
vigor
às
cenas,
junto
com
a
sonoridade
de
cada
momento.
Com
propostas
multissensoriais,
as
óperas,
assim
como
os
ritos
religiosos,
causavam
experiências
sonoras
e
visuais
imersivas.
51
No
ensaio
Das
Kunstwerk
der
Zukunft
(A
Obra
de
Arte
do
Futuro),
publicado
em
1849,
Richard
Wagner
levou
o
conceito
de
“obra
de
arte
total”
a
um
outro
nível,
apresentando
a
Ópera
como
o
maior
exemplo
de
união
entre
todas
as
artes,
relacionando
a
música,
o
drama,
a
escrita
e
a
pintura
como
um
novo
meio
de
dissolução
das
fronteiras
entre
os
géneros
artísticos,
que
se
consuma,
simultaneamente,
com
a
afirmação
da
arte
colaborativa.
132
Em
paralelo
às
tentativas
de
imersão
na
arte,
a
criação
do
harmonógrafo,
em
1844,
representou
um
salto
inventivo.
Este
experimento
constitui-‐se
de
um
conjunto
de
pêndulos
que
suspendem
uma
caneta,
cujo
desenho
é
acionado
pelo
sistema,
conforme
o
lançamento
dos
pêndulos.
O
grau
de
complexidade
das
figuras
varia
de
acordo
com
a
interação
entre
diversos
pêndulos,
em
numerosas
possibilidades.Eliasson
desenvolveu
um
harmonógrafo
em
seu
Studio
que
media
1,80m,
suspendendo
uma
caneta
com
iluminação
de
diodo
instalada
para
ser
acionada
enquanto
desenhava
no
ar.
Este
traçado
da
caneta
era
gravado
por
uma
câmera
digital
que
convertia
as
figuras
em
ondas
sonoras.
Cada
foto
correspondia
a
uma
acorde
musical
e
pareciam
nebulosas
estelares,
repletas
de
pontos
luminosos.
"Wagner
acreditou
que
a
pintura,
a
música
e
a
poesia
já
haviam
alcançado
o
fim
de
suas
evoluções
e
que,
para
inovar,
seria
necessário
combinar
as
2
linguagens
em
uma
“Gesamtkunstwerk” .
Elaborou
então
um
projeto
pioneiro:
construiu
um
edifício
projetado
especificamente
para
suas
óperas,
criando
uma
entidade
unificada
entre
a
orquestra
e
o
palco.
Algo
inusitado
para
a
época,
que
logo
tornou-‐se
comum
ao
cinema
e,
hoje
com
os
meios
digitais,
é
constantemente
atualizado.
Ele
parecia
estar
mesmo
prevendo
o
surgimento
do
que
hoje
chamamos
de
híbridos
[...]
3
A
História
da
Arte
é
então,
profundamente
marcada
pelas
idéias
de
Wagner.
Primeiro
pela
crença
na
“obra
de
arte
total”
como
manifestação
de
insatisfação
com
os
meios
tradicionais
e
posteriormente,
pelo
surgimento
da
sétima
arte
como
uma
mídia
inteiramente
nova,
que
poderia
finalmente
reunir
todas
as
artes.
Sua
obra
é
fundamental
para
os
que
queiram
compreender
o
mundo
pela
experiência
estética
do
híbrido
“sonoro-‐verbal-‐
visual”.E
também,
para
especialistas
em
busca
de
problematizar
esse
intrincado
universo
estético."
(WERTHEIM,
2001.)
Acompanhando
os
desdobramentos
do
uso
do
termo
Obra
de
Arte
Total,
têm-‐se
uma
compreensão
mais
ampla
de
sua
aplicação
e
influência
nas
obras
de
arte
contemporâneas.
Esta,
sim,
aplicável
à
experiência
imersiva
de
estar
com
uma
multidão
diante
de
um
sol
artificial
em
pleno
inverno
londrino.
Uma
experiência
que
dilui
os
limites
entre
artes
visuais,
dramáticas
e
a
arquitetura.
133
Figura
48
-‐
Foto
da
instalação
"Take
Your
Time"
na
Pinacoteca
de
São
Paulo,
em
2011.
134
3.2 Exposição Take Your Time, 2008. - MOMA NY e São
Francisco, EUA.
A Multiplicidade Do Artista
A
segunda
mostra
a
ser
comentada
neste
trabalho
ocorreu
em
2008,
no
Museu
de
Arte
Moderna
de
Nova
Iorque
(MoMa
NY),
a
exposição
retrospectiva
da
carreira
do
artista
Olafur
Eliasson
intitulada
Take
Your
Time
.
Coerente
com
o
pensamento
do
artista,
a
mostra
apresentava
os
modos
subjetivos
de
perceber
o
que
Eliasson
trata
como
temporalidade.
Aliado
a
isto,
outro
foco
da
exposição
estava
na
percepção
do
espaço
através
do
tempo,
pensando
e
tratados
como
elementos
indissociáveis.
O
espaço
das
instalações
de
Eliasson
é
percebido
conforme
o
visitante
as
percorre.
A
sequência
de
imagens
que
se
formam
durante
a
visita,
conforme
o
trajeto
escolhido
e
o
tempo
despendido,
caracterizam
experiências
próprias,
como
se
o
espaço
fosse
único
para
cada
pessoa,
apesar
de
todos
estarem
no
mesmo
ambiente.
Com
isso,
o
artista
enfatiza
o
caráter
subjetivo
da
percepção
do
tempo-‐espaço,
ou
seja
da
realidade
como
um
todo.
Aplicando
os
termos
usados
por
Eliasson,
o
título
Take
Your
Time
(algo
similar
a
“Tome
o
seu
tempo"
ou
"Leve
o
seu
tempo”)
carrega
dois
dados
relevantes:
1) (“Take
time”)
Leve
tempo:
convida
o
visitante
a
levar
o
tempo
que
julgar
necessário
no
contato
com
as
obras
na
exposição.
2) (“Your
time”)
Seu
tempo:
refere-‐se
ao
tempo
que
pertence
ao
visitante,
sua
experiência
do
tempo.
Conforme
mencionado
sobre
outras
obras,
pronomes
possessivos
são
comuns
nos
títulos
das
obras
de
Olafur
Eliasson
para
convocar
o
público
a
se
responsabilizar
pelo
espaço
e
se
sentir
parte
dele
-‐
“como
você
e
eu
construímos
um
aqui
e
agora
para
nós”52.
52
“Antes,
(o
sentido
de
tempo)
era
sempre
sobre
o
aqui
e
agora,
sobre
espaço
e
tempo
como
uma
convenção.
Agora,
de
qualquer
modo,
(o
sentido
de
tempo)
é
mais
sobre
como
você
e
eu
construímos
um
aqui
e
agora
para
nós”.
135
Nessa
lógica
de
engajamento
do
público
com
a
obra,
a
exposição
proporcionava,
em
geral,
uma
desaceleração
da
correria
cotidiana
das
metrópoles.
A
vida
cotidiana
nas
cidades
grandes
contemporâneas
enfatiza
a
necessidade
de
aproveitamento
máximo
do
tempo,
vinculada
aos
primórdios
do
capitalismo.
O
conceito
de
“tempo
útil”53
remonta
ao
histórico
fabril
do
início
das
cidades,
e
revela-‐se,
cada
vez
mais
‘introjetado’54
na
sociedade,
nas
fases
avançadas
do
capitalismo.
O
emprego
frequente
do
conceito
inerente
à
organização
econômica
e
social
da
burguesia
prioriza
a
produtividade,
em
detrimento
do
ócio.
Do
título
da
mostra
pode-‐se
subentender-‐se
a
importância
do
uso
do
tempo
sem
propósitos
financeiros
para
outros
avanços
sociais.
A
insistente
preocupação
em
tornar
o
tempo
útil
é
um
contraponto
ao
convite
de
Eliasson
para
desacelerar
e
perceber
o
espaço
no
museu.
Um
possível
desdobramento
desta
experiência
seria
tornar
as
pessoas
mais
atentas
aos
espaços
em
que
co-‐habitam
e
ao
compartilhamento.
Sobre
a
montagem
de
cada
exposição,
Eliasson,
em
entrevista
à
Mark
Wigley,
descreve
como
um
processo
em
camadas
que
deve
ser
deflagrado
pelo
visitante
"primeiro,
notar
que
o
museu
não
é
neutro;
segundo,
exibir
este
fato,
ao
expor
a
regulação
e
os
padrões
de
comunicação
do
museu;
e
terceiro,
integrar
idéias
artísticas
e,
deste
modo,
criar
um
foco,
um
recorte
nesse
espaço
ruidoso"(WIGLEY,2010.),
espaço
existente
do
museu.
Com
estas
camadas
de
aprofundamento
no
espaço
do
museu
e
na
interpretação
dos
visitantes,
Eliasson
está
preocupado
em
ativar
o
espaço
para
torná-‐lo
produtivo.
No
sentido
de
espaço
produtivo
descrito
no
capítulo
1,
onde
o
espaço
cria
demandas
ao
visitante,
torna-‐se
um
espaço
provocativo,
de
questionamento
da
realidade.
O
percurso
sugerido
dentro
do
museu
e
a
ordem
das
obras
é
pensado
com
este
propósito
nas
mostras
de
Eliasson,
e
foi
assim
em
Take
Your
Time,
principalmente
por
abarcar
obras
tão
distintas,
quanto
a
técnicas
e
períodos
de
produção.
53
[...]
“tomamos
a
noção
de
tempo
útil,
produzida
pela
ampliação
da
esfera
do
mercado
e
que
não
só
disciplina
a
classe
burguesa
como
também
procura
se
introjetar
no
âmbito
da
gente
trabalhadora.
Essa
introjeção
do
relógio
moral
no
corpo
de
cada
homem
demarca
decisivamente
os
dispositivos
criados
por
uma
nova
classe
em
ascensão.
Autodisciplina,
controle
de
si
mesmo,
crítica
à
ociosidade,
são
exigências
imperiosas
para
o
comerciante
que
se
envolve
na
esfera
do
mercado.”
O
Nascimento
das
fábricas,
Edgar
de
Decca.
Editora
Brasiliense,
São
Paulo,
SP.1982.
54
O
verbo
“introjetar”
foi
aplicado
no
mesmo
sentido
em
que
aparece
no
texto
de
referência
citado
na
nota
anterior.
136
Desde
então,
a
crítica
não-‐especializada
menciona
as
exposições
de
Eliasson
como
exposições
de
ciências.
Provavelmente,
por
não
associarem
os
experimentos
aos
fatos
da
História
da
Arte
Moderna
que
já
traziam
a
proximidade
entre
arte
e
ciência,
como
as
notas
científicas
das
obras
de
Duchamp,
os
aparatos
tecnológicos
de
Dan
Graham
e
as
cápsulas
imersivas
de
James
Turrell,
por
exemplo.
À
primeira
vista,
a
disposição
de
tantos
elementos
díspares
na
Mostra
Take
Your
Time
poderia
mesmo
ser
confundida
com
uma
exibição
científica.
137
Figura
49
-‐
Em
cima,
fotos
da
montagem
Take
Your
Time.
Embaixo,
visitante
olhando
para
Sunset
Kaleidoscope.
138
Figura
50
-‐
Foto
da
obra
Model
Room,
2003.
Quando E Como Se Aproximar Das Obras
A
sequência
de
obras
de
Olafur
na
exposição
“Take
Your
Time”
recriava
uma
trajetória
do
artista
e
remetia
a
discursos
anteriores,
existentes
em
outros
momentos
da
História
da
Arte
Moderna,
tais
como
os
experimentos
cinéticos
dos
anos
20,
entre
outros.
Cada
elemento
exposto
continha
um
universo
de
narrativas,
com
referências
próprias,
e
a
mostra,
como
um
todo,
formava
um
conjunto
heterogêneo.
A
multiplicidade
de
Eliasson
nas
trinta
e
oito
obras
expostas
em
Take
Your
Time,
complementar
ao
trabalho
realizado
em
Weather
Project,
contribui
para
uma
apreensão
mais
ampla
da
proposta
do
artista.
Entre
os
anos
de
2002
e
2004,
a
parceria
de
Olafur
com
Einar
Thorstein55
reforça
seu
interesse
em
experimentos
óticos
e
cinéticos
no
Studio
de
Eliasson,
referindo-‐se,
respectivamente
aos
movimentos
artísticos
Light&Space
e
Arte
Cinética.
A
maior
oportunidade
do
público
vislumbrar
a
amplitude
da
produção
do
artista
ocorreu
na
mostra
Take
Your
Time.
55
Einar
Thorstein
-‐
arquiteto
e
artista
islandês,
colaborador
de
Eliasson
desde
1996.
Participa
mais
efetivametne
dos
projetos
desde
integra
a
equipe
do
Studio
(2002).
139
No
conjunto
de
obras
de
Take
Your
Time
expostas
no
MOMA
de
Nova
Iorque,
prevaleceram
trabalhos
de
iluminação
e
projeção
–
I
Only
see
things...
(Figuras
82),
Room
for
one
colour,
1m3
light
(Figura
55),
360o.room
for
all
colours
(Figura
69)
e
Wall
eclipse
(
Figura
76)
–
e
as
séries
de
espelhos
como
Porta
Espelho
(mirror
door)
e
Parede
de
Quasi-‐tijolos
negativos
(Negative
quasi
brick
wall-‐
Figura
52).
Enquanto
no
MOMA,
o
número
de
obras
era
menor
e
o
conjunto
mais
coeso,
no
Centro
P.S.1,
o
lado
mais
experimental
do
acervo
se
apresentava
plenamente.
Inclusive,
pela
transferência
de
parte
do
Studio
em
Berlim
para
dentro
da
sala
de
exposição,
na
obra
Model
Room
localizada
no
segundo
piso,
perto
da
qual
estava
o
caleidoscópio
adaptado
às
janelas
do
edifício
do
P.S.1,
as
séries
de
fotografias
de
paisagens
naturais
e
a
obra
à
qual
foi
atribuído
o
mesmo
nome
que
a
exposição:
Take
YourTime
(Figura
48),
um
enorme
espelho
circular
giratório
que
cobria
todo
o
teto
da
galeria.
140
No
subsolo
da
P.S.1,
foram
montadas
as
obras
de
água,
como
a
Cascata
Revertida
(Reversed
Waterfall,
1998
-‐
Figura
53
)
e
Beauty
(Figura
54),
obra
citada
anteriormente,
uma
fonte
iluminada
composta
por
um
véu
de
água
gotejante
dentro
de
uma
sala
escura.
Nesta
instalação,
conforme
as
pessoas
se
movimentavam,
formava-‐se
um
arco-‐íris.
No
panorama
de
obras
de
Take
Your
Time
é
possível
identificar
temas
frequentes,
repetidos
quanto
aos
materiais
utilizados,
mas
produzindo
novos
efeitos
em
séries
de
trabalhos
paralelas.
Estas
séries
caracterizam,
portanto,
a
continuidade
de
experimentos
dentro
da
mesma
pesquisa
sobre
espaço.
Por
exemplo:
as
séries
de
caleidoscópios,
de
fotografias,
de
maquetes,
de
iluminação,
de
projeção,
de
água
e
vapor.
Como
já
comentado
nos
capítulos
anteriores,
há
na
trajetória
de
Olafur
Eliasson,
o
predomínio
de
obras
que
enfrentam
as
questões
da
visão.
Para
acessar
e
desestabilizar
esse
sentido,
o
artista
utiliza
uma
gama
de
recursos
existentes
de
modo
renovado.
Todos
os
tipos
de
experimentos
óticos
produzidos
por
Eliasson
estiveram
representados
em
Take
Your
Time:
•
materiais
reflexivos,
ou
refratários
-‐
série
caleidoscópios
(Figura
51)
e
quasi
tijolos
(Figura
52);
•
materiais
translúcidos
em
movimento
(água
e
vapor)
-‐
Figura
53
e
Figura
54;
•
fontes
diversas
de
luz(
desenho
de
iluminação
e
luminárias)
-‐
Figura
55;
•
registros
da
iluminação
natural
na
paisagem
(
série
de
fotografias
de
cavernas,
cachoeiras
e
demais
formações
geográficas
na
Islândia)
-‐
Figura
56
•
imagens,
luzes
e
sombras
em
movimento
(
séries
de
projeções)
-‐
Figura
57.
141
Figura
51
-‐
Caleidoscópio
do
por-‐do-‐sol
(sunset
kaleidoscope).
Figura
52
-‐
Parede
de
quasi
tijolos,
obra
de
Eliasson.
Figura
53
-‐
Reversed
Waterfall,
1998.
Figura
54
-‐
Beauty,
1997.
142
Figura
55
-‐
1m3
light,
1999.
Figura
56
-‐
The
horizon
series.
Mais
importante
do
que
classificar
as
séries
de
trabalho,
ou
mesmo
os
experimentos
do
artista,
é
reconhecer
que
a
materialidade
da
obra
é
apenas
um
instrumento
provocador
do
exercício
de
reflexão,
a
unidade
compositiva
de
todo
o
corpo
da
obra
de
Olafur
Eliasson.
Está
posto,
então,
que
os
experimentos
físicos,
correspondem
concretamente
ao
objetivo
geral:
a
construção
da
realidade,
no
sentido
143
da
participação
ativada
pela
percepção.56
Na
entrevista
concedida
a
Mark
Wigley,
em
2010,
Eliasson
comentou
este
processo
de
ativação
do
espaço:
"Nos
referimos
ao
espaço
expositivo
como
um
exterior
para
o
qual
olhamos,
não
o
que
sentimos.
[...]Mas
se
olharmos
o
museu
como
um
espaço
ativo,
ou
até
mesmo
poderíamos
dizer,
como
um
agente,
podemos
envolver
uma
crítica
ativa
através
do
reconhecimento
de
que
nós
como
sujeitos
somos
produzidos
pelos
objetos
que
escolhemos
para
nos
envolver.
Nós
usamos
os
objetos
para
nos
refletir,
como
quando
você
olha
para
sua
própria
sombra
apenas
para
estabelecer
o
sentido
de
que
aquela
sombra
é
uma
consequência
do
seu
corpo.
A
sombra-‐objeto
é
o
resultado
do
corpo-‐
sujeito."
(WIGLEY,
2010.)
Figura
57
-‐
Remagine.
56
A
pesquisa
de
neurônios
espelho
(CASTELLO
BRANCO,
2009)
serve
como
exemplo
literal
de
participação
ativada
pela
percepção.
Em
sentido
figurado,
Olafur
refere-‐se
também
ao
engajamento
social.
144
Obras Selecionadas na Mostra Take Your Time
Para
exemplificar
a
diversidade
de
temas
da
trajetória
do
artista
presente
em
Take
Your
Time,
alguns
foram
destacados
para
análise
mais
detalhada.
Os
critérios
de
análise
foram
definidos
de
modo
similar
ao
usado
em
Weather
Project,
visando
o
aproveitamento
de
assuntos
importantes
que
são
característicos
de
cada
obra
e
rebatendo-‐os
para
o
recorte
temático
da
dissertação.
O
trabalho
espacial
de
Eliasson
envolvendo
luz
e
movimento
orienta
esta
dissertação
de
modo
geral
e,
por
consequência,
define
a
seleção
das
obras
comentadas.
Nas
quais
surgem
pontos
recorrentes
dentro
deste
universo,
como
a
aplicação
das
pesquisas
em
luz,
cor,
projeção,
e
movimento.
Cada
eixo
de
pesquisa
do
artista
será
comentado
baseado
em
uma
obra
da
mostra
Take
Your
Time,
apesar
de
aparecem
outros
exemplos,
quando
necessário.
• Cor
obra:
Spectrum
Colour
Kaleidoscope
(Caleidoscópio
Espectro
de
Cor),
2003.
• Luz
obra:
“360º
room
for
all
colours”
(Sala
360ºpara
todas
as
cores)
•
Projeção
obra:
“Remagine”
-‐
versão
grande
(expressão
derivada
de
‘Reimagine’
–
imaginar
novamente)
•
Movimento
“I
Only
See
Things
When
They
Move"
(Eu
apenas
vejo
coisas
quando
se
movem)
145
Pesquisa Cor - Spectrum Colour Kaleidoscope (Caleidoscópio
Espectro de Cor), 2003.
Caleidoscópios e cristais
Eliasson
declarou
diversas
vezes
que
o
ponto
crucial
da
percepção
da
cor
é
incluir
a
diferente
percepção
de
cada
um,
a
subjetividade
da
visão.
O
artista
comenta
que
"nossa
experiência
da
cor,
da
luz
e
da
escuridão
não
é,
claro,
uma
questão
meramente
biológica
-‐
também
depende
de
como
a
nossa
visão
foi
educada."(ELIASSON,
2011).
Fatores
culturais
e
hábitos
pessoais
interferem
na
compreensão
dos
fenômenos.
No
caso
dos
caleidoscópios,
Eliasson
fragmenta
as
imagens
em
cores.
O
objeto
conhecido
como
um
brinquedo
torna-‐se
uma
imensidão
de
formas
e
cores
em
experimentos
do
artista.
Parte
do
interesse
pelo
modelo,
o
objeto
caleidoscópio,
vem
da
pesquisa
em
ótica,
sobre
refração,
reflexão
e
lentes
que
distorcem,
mas
há
também
o
lado
de
desconstrução
da
realidade
envolvente.
Uma
paisagem
vista
através
de
um
caleidoscópio
nunca
é
fiel
à
imagem
real,
sem
a
interferência
do
objeto,
pois
os
trechos
reconhecíveis
não
se
completam.
O
que
seria
como
um
quebra-‐cabeças
que
nunca
se
monta.
Figura
58
-‐
Caleidoscópio
Espectro
de
Cor
(
Colour
Spectrum
Kaleidoscope),
2004.
146
Embora
a
luz
seja
o
meio
de
propagação
que
nos
permite
perceber
as
cores,
pode-‐se
dividir
os
experimentos
de
luz
de
Eliasson
daqueles
de
cor,
simplesmente
pelo
fato
das
propostas
serem
diferentes
na
prática.
Nos
experimentos
de
luz,
Eliasson
investiga
as
fontes
emissoras
de
luz
e
suas
possibilidades,
e
nos
experimentos
de
cor
explora
as
propriedades
dos
materiais
iluminados.
Para
experimentar
as
propriedades
óticas
dos
materiais,
Eliasson
aproxima-‐se
dos
estudos
tradicionais
de
pintura,
enquanto
os
experimentos
de
iluminação
englobam
o
conhecimento
ótico
à
respeito
de
luz
artificial
colorida.
Para
iluminar
colorido,
o
artista
emite
luz
de
fontes
divididas
em
três
cores,
vermelho,
verde
e
azul.
Diferente
das
superfícies
coloridas
que
recebem
luz
natural
ou
monocromática
e
são
constituídas
por
cores,
como
no
caso
dos
túneis
e
caleidoscópios
(Figura
59).
Figura
59
-‐
Caleidoscópio
spectro
de
cor,
2003.
Foto
de
Take
Your
Time
na
galeria
PS1
-‐
MoMa
NY.
147
O
Caleidoscópio
Espectro
de
Cor
(2003
-‐
Figura
58)
é
constituído
por
um
cavalete
que
suporta
seis
faces
espelhadas
e
translúcidas
forradas
com
películas
adesivas
coloridas.
Estes
adesivos
funcionam
como
filtros
de
iluminação
que
colorem
sutilmente
a
luz
propagada
nas
cores
do
arco-‐íris.
Na
montagem
da
galeria
PS1,
o
caleidoscópio
foi
acoplado
a
uma
entrada
de
luz
natural,
o
que
possibilitou
ver
a
paisagem
vizinha
ao
edifício.
A
importância
da
obra
dá-‐se
na
medida
em
que
há
uma
numerosa
variedade
de
caleidoscópios
realizada
pelo
artista.
Uma
das
causas
do
início
desta
investigação
está
associada
à
curiosidade
de
Eliasson
a
respeito
da
visão
dos
répteis
e
insetos,
que
acontece
na
justaposição
de
imagens.
Sob
influência
do
biólogo
Varela,
o
artista
se
interessa
em
abrir
o
leque
de
modos
de
ver
o
mundo
e
que
cada
fragmento
seja,
simultaneamente,
uma
unidade
e
um
todo
constituído.
Eliasson
proliferou
os
objetos
multifacetados
e
reflexivos
para
diversas
aplicações,
como
luminárias
e
instalações
em
forma
de
túneis.
Na
obra
Caleidoscópio
Espectro
de
Cor
fica
evidente
a
pesquisa
de
cor
do
artista,
próxima
à
teoria
da
cor,
tradicional
na
pintura
clássica.
Na
arte
moderna,
o
pintor
Paul
Klee
dedicou-‐se
a
pesquisa
e
ensino
no
período
em
que
lecionou
na
Bauhaus
e
publicou
uma
série
de
estudos57,
que
tornaram-‐se
referência
para
todos
os
artistas
posteriores.
O
registro
mais
remoto
citado
pelos
pesquisadores
refere-‐se
à
pesquisa
de
cor
e
luz
natural
de
Goethe58,
em
visita
à
Itália,
ao
qual
se
atribui
o
embasamento
teórico
do
estudo
de
cor
na
modernidade.
“A
Doutrina
das
Cores”59
de
Johannes
W.
Von
Goethe,
escrita
em
1810,
ofereceu
aos
artistas
do
século
XX
uma
nova
abordagem
no
que
diz
respeito
ao
uso
e
entendimento
das
cores.
Desde
Newton,
a
cor
era
considerada
uma
57
Texto
“Paul
Klee
–
arte,
didática
e
teoria:
uma
visão
cosmológica
e
transcendente
do
mundo
das
cores
–
a
cor
definida
como
qualidade”.
Em
“A
Cor
na
Bauhaus”,
Lilian
R.M.Barros.
58
“Entre
1786
e
1790,
Goethe
empreende
viagens
à
Itália,
nas
quais
vislumbra
alguns
dos
conceitos
que
o
levarão
a
propor
uma
teoria
das
Cores”,
chamada
de
“A
Doutrina
das
Cores”.
(
extrato
de
Espaço
Cor).
59
“
‘A
Doutrina
das
Cores’
expõe
diversas
idéiass
que
são
consideradas
ultrapassadas
e
até
errôneas
em
muitos
casos.
Entretanto,
este
livro
de
Goethe
foi
de
extrema
importância
como
início
de
embasamento
filosófico
de
todas
as
artes
gráficas.”
(nota
do
autor:
Claudio
Ulpiano)
148
disciplina
da
física.
As
questões
levantadas
por
Goethe
ampliaram
os
estudos
da
cor,
incluindo
campos
como
o
da
fisiologia
e
psicologia.”60
Na
biblioteca
da
universidade
de
São
Paulo,
a
maior
referência
para
estudo
da
cor
e
percepção
do
espaço
são
as
pubicações
acadêmicas
de
Élide
Monzeglio61,
sobretudo
Espaço
Cor62(Figura
60).
Trata-‐se
de
uma
revisão
da
Teoria
da
Cor,
repassando
os
conceitos
de
Paul
Klee(Figura
61)
e
Goethe.
Figura
60
-‐
Imagem
da
estrela
de
cor
baseada
num
croquis
de
Paul
Klee.
fonte:
publicação
da
USP
"Espaço
Cor",
autora
Élide
Monteglio.
Figura
61
-‐
Cânone
da
Totalidae
Cromática.
Croquis
de
Paul
Klee.
Fonte:
publicação
da
USP
"Espaço
Cor",
autora
Élide
Monteglio.
60
Pesquisa
da
FAU
USP
“A
Cor
na
Bauhaus:
Teorias
e
metodologias
didáticas,
e
a
influência
da
Doutrina
de
Goethe”
de
Lilian
Ried
Miller
Barros,
2001.
Sob
orientação
da
Dra.
Élide
Monzeglio.
61
Élide
Montézio,
autora
e
orientadora
de
pesquisas
em
Percepção
Visual.
62
“Espaço
Cor-‐
Unidade
de
Comunicação”
–
tese
apresentada
à
FAU-‐
USP
para
concurso
de
docência.
149
Assim
como
Montéglio,
Eliasson
retoma
o
conhecimento
sobre
cor
e
suas
aplicações
no
espaço.
O
artista
emprega
essa
teoria
nas
obras
de
arte.
Parece
que
a
intenção
desses
experimentos
não
é
descobrir
novas
características
das
cores,
mas
cruzar
propriedades
em
efeitos
surpreendentes,
tornar
inusitado
algo
conhecido.
Na
mostra
Take
Your
Time,
havia
outro
caleidoscópio
do
artista,
desta
vez,
com
peculiaridades
que
remetiam
à
pesquisa
sobre
o
Sol,
o
Caleidoscópio
do
Pôr
do
Sol,
obra
de
2005
(Figura
62).
Lembrando
a
idéia
de
duplicar
o
pôr
do
sol
em
Double
Sunset,
obra
comentada
no
início
deste
capítulo,
neste
caleidoscópio,
usando
os
reflexos
das
faces
internas,
Eliasson
cria
uma
estampa
de
círculos
amarelos
repetidos
por
toda
a
vista
da
cidade.
Ele
faz
com
este
artefato
como
se
a
paisagem
fosse
preenchida
por
sóis
artificiais.
Figura
62
-‐
Caleidoscópio
do
Pôr
do
Sol
(Sunset
Kaleidoscope),
2005.
Outra
justificativa
para
Eliasson
dedicar-‐se
aos
caleidoscópios
é
a
reconhecida
influência
que
teve
da
pesquisa
sobre
cristais
dos
arquitetos
alemães
expressionistas.
O
movimento
expressionista
refletiu
os
anseios
libertários
da
sociedade
alemã,
nos
anos
1920.
Em
tempos
obscuros
de
guerras
mundiais,
os
artistas
e
arquitetos
organizaram-‐se
em
grupos
criativos,
na
busca
por
escapar
da
rigidez
e
opacidade
em
que
viviam.
150
Alguns
artistas
expressionistas
alemães
faziam
parte
da
“Corrente
de
Cristal”,
uma
corrente
de
correspondências
criada
para
expor
ideias
ousadas
a
respeito
da
ocupação
do
planeta,
em
regiões
longínquas
da
“civilização”.
No
texto
“Arquitetura
Alpina”,
por
exemplo,
as
montanhas
seriam
os
espaços
de
expansão
das
cidades
dentro
do
território
europeu.
O
teor
utópico
das
reflexões
deste
grupo
centrava-‐se
na
relação
entre
o
homem
e
o
ambiente:
o
aproveitamento
da
luz
como
força
vital,
a
exaltação
ao
cristal,
como
material
capaz
de
multiplicar
as
cores
e
a
luz
do
sol.
A
arquitetura
era
tema
de
adoração
devido
a
sua
capacidade
de
materializar
estes
ideais
humanistas.
Um
exemplo
famoso
deste
estilo
arquitetônico
foi
o
projeto
do
arquiteto
Bruno
Taut
para
o
Pavilhão
de
Vidro
(Colônia,
1914.
),que
se
assemelha
às
formas
fragmentadas
em
que
Eliasson
estuda
as
superfícies
translúcidas
coloridas,
chamadas
por
eles
de
cristalinas.
Apesar
das
formas
elaboradas,
o
intuito
de
ambos
é
observar
o
comportamento
da
luz
ao
longo
do
tempo
através
destas
superfícies.
Figura
63
-‐
Pavilhão
de
Vidro,
Colônia,
1914.
Arquiteto
Bruno
Taut.
Dizeres
no
panfleto
do
pavilhão:
“o
edifício
em
vidro
não
tem
nenhuma
outra
função
que
não
seja
a
de
ser
bonito”.
151
O
arquiteto
espanhol
Iñaki
Abalos,
autor
da
versão
espanhola
da
biografia
de
Taut,
sugere
ao
leitor
“uma
proximidade
afetiva
com
a
qual
se
introduza
e
seja
impregnado
pelo
halo
expressionista,
estabelecendo
diálogos
com
a
situação
contemporânea”.
Abalos
defende
que,
após
um
período
de
rejeição,
devido
a
incompatibilidades
com
o
ideal
moderno
funcionalista,
o
retorno
ao
pensamento
expressionista
alinha-‐se
à
sofisticação
em
que
o
vidro
tem
sido
aplicado
nos
edifícios
contemporâneos.
O
uso
deste
material
tem
demonstrado
quanto
da
pesquisa
expressionista
faz
parte
da
nossa
cultura
projetual,
no
final
do
século
XX
(TAUT,
1920)63.
Semelhanças
formais
entre
edifícios
expressionistas
e
contemporâneos
confundem
observadores
desinformados.
Apesar
do
repertório
formal
abarcar
elementos
e
materiais
que
seguem
a
linha
expressionista,
o
programa
arquitetônico
e
a
funcionalidade
latente
nos
arranha-‐céus
e
vidraças
pós-‐modernos
ainda
remetem
muito
ao
pensamento
moderno
tecnicista,
em
busca
da
transparência
e
do
“real”.
Figura
64
-‐
Edifício
Gherkin,
Londres,
2007.
Arquiteto
Norman
Foster
63
Abalos
escreveu
a
biografia
de
Taut
e
fez
as
comparações
com
a
arquitetura
contemporânea
na
reedição
dos
escritos
de
Taut,
em
2007,
na
Espanha.
152
Figura
65
-‐
INTERIOR
-‐
Pavilhão
de
Vidro,
Colônia,
1914.
Arquiteto
Bruno
Taut.
Figura
66
-‐
INTERIOR
DA
CÚPULA
-‐
Edifício
Gherkin,
Londres,
2007.
Arquiteto
Norman
Foster
Quanto
aos
cristais,
existe
também
uma
ligação
forte
entre
as
formações
rochosas
e
a
paisagem
nórdica
registrada
em
fotografias
por
Eliasson,
em
suas
expedições
pelo
território
irlandês.
Estas
formas
orgânicas
incitam-‐no
a
pensar
sobre
o
tempo
que
a
natureza
imprime
nessas
estruturas.
O
fascínio
pelo
belo
no
movimento
expressionista
não
corresponde
a
este
tipo
de
indagação
com
que
o
artista
se
depara.
São
paisagens
em
constante
e
lenta
transformação.
Inspirado
nos
cristais,
Eliasson
faz
módulos
de
simetria
em
cinco
lados
que
aplica
em
diversas
obras.
Na
construção
da
Sala
de
Concertos
da
Islândia,
em
Reijvik
(Figura
67
),
trabalhou
em
conjunto
com
o
escritório
do
arquiteto
Henning
Larsen
no
desenho
da
fachada
do
edifício,
superfícies
multifacetadas
em
que
se
reconhece
seu
trabalho
com
cristais
e
caleidoscópios.
153
Figura
67
-‐
Fachada
da
Sala
Nacional
de
Concertos
e
Conferências
da
Islândia,
em
Reijvik.
Sobre
essas
superfícies
Philip
Ursprung
escreveu
que
poderiam
ser
descritas
“como
uma
facetagem
praticamente
infindável,
um
sistema
de
dobras
complexo,
um
ondulado
onde
as
imagens
que
a
rodeiam
se
dividem
em
inúmeras
novas
imagens.”64
E
onde
o
mais
importante
seria
o
auto-‐
reconhecimento
dos
observadores
diante
dos
trechos
reflexivos,
seguindo
as
demais
obras
do
artista.
A
modelagem
dos
quase-‐tijolos
é
inspirada
pela
geometria
de
semi-‐cristais
e
pelo
conceito
de
simetria
em
cinco
dobras.
Para
enriquecer
a
interação
com
a
luz,
um
número
de
quase-‐tijolos
foi
ajustado
com
um
especial
vidro
de
duas
cores
que
reflete
matizes
de
verde,
amarelo
ou
laranja
e
suas
cores
complementares.
"Com
o
projeto
de
Reijvik,
Eliasson
busca
criar
o
que
chama
de
'uma
estrutura
visualmente
negociável'.
Se
for
bem-‐sucedido
nestes
termos,
o
edifício
nunca
cessará
de
mudar
de
aparência,
sempre
apresentando
uma
dinâmica
convergência
de
espaço,
tempo
e
luz
coordenados.
Mudanças
dramáticas
de
transparência,
reflexão
e
cor
renderão
à
superfície
caleidoscópica
do
edifício
mais
do
que
uma
estável
carreira
de
significados,
como
é
mais
tradicional
no
histórico
do
Modernismo."
(URBACH,
2007)
64
Citação
do
Livro
O
Studio
–
original
em
idioma
português.
Pág.
39.
154
As
obras
de
Eliasson
que
se
aplicariam
ao
tema
“pesquisa
de
cor”
são
muito
mais
numerosas
do
que
as
apresentadas
aqui.
Com
esses
exemplos,
buscou-‐se
ilustrar
o
quão
eles
são
diversificados
e
como
se
encontram
com
outras
pesquisas
do
artista.
Sobretudo
nesta
questão
formal
do
cristal,
os
quase-‐tijolos
e
as
propriedades
reflexivas
das
superfícies
cristalinas.
Figura
68
-‐
Interior
da
fachada
do
Centro
Nacional
de
Concertos
e
Convenções
da
Islândia,
em
Reijvik.
155
Pesquisa Luz 360º room for all colours (Sala 360ºpara
todas as cores), 2002
O
interesse
de
Olafur
Eliasson
em
pesquisar
a
Luz,
como
comentado
no
primeiro
capítulo,
justifica-‐se
pelo
caráter
fenomenológico
atribuído
ao
uso
da
luz
no
espaço,
configurando
em
cada
uso
um
fenômeno
singular
que
confere
ao
visitante
uma
nova
experiência.
Repassando
as
informações
sobre
a
pesquisa
de
luz
de
Eliasson,
na
obra
360º
room
for
all
colours
percebe-‐se
alguns
dos
experimentos
mencionados
anteriormente,
como
a
imersão
num
ambiente
composto
de
luz
difusa
e
o
efeito
afterimage
usado
como
coparticipação
do
visitante
na
experiência
da
obra.
Além
disto,
a
iluminação
colorida
difusa
utilizada
frequentemente
por
Eliasson
é
uma
parte
da
pesquisa
de
cor
do
artista.
156
PÁGINA
ANTERIOR:
Figura
9
-‐
Instalação
“360º
room
for
all
colours”,
2002
-‐
Moma
NY.
“Dentro
de
uma
galeria
escura
fica
uma
estrutura
circular
sem-‐teto
com
uma
entrada.
Uma
tela
delimita
o
interior,
cobrindo
um
intrincado
sistema
elétrico
que
compreende
mais
de
500
luzes
fluorescentes.
Quando
os
observadores
entram
no
espaço
ficam
imersos
num
panorama
de
luzes
cambiantes
que
representam
todo
o
espectro
de
cores.
Uma
unidade
de
controle
computadorizado
regula
as
combinações
de
cores,
que
mudam
aproximadamente
a
cada
30
segundos.”
(descrição
da
obra
publicada
no
catálogo
da
exposição
“Take
Your
Time”).
Desde
o
século
XIX,
as
paisagens
representadas
em
pinturas
panorâmicas,
convidavam
os
observadores
a
imaginar
como
seria
ficar
imerso
numa
atmosfera
de
157
luz
e
cor.
Em
360º
room
for
all
colours,
Eliassoncoloca
o
observador
dentro
de
uma
grande
tela
por
onde
passa
todo
o
espectro
de
cores.
O
ambiente
é
iluminado
por
centenas
de
luzes
fluorescentes,
sob
controle
computadorizado,
instaladas
por
trás
de
uma
superfície
curva.
O
ambiente
delimitado
pela
tela
contínua
iluminada
configurava
o
espaço
da
instalação,
uma
sala
circular
com
todas
as
cores.
De
fato,
quando
os
visitantes
entravam
nesse
espaço
curvo
eram
tomados
por
uma
atmosfera
de
luz
colorida
que
ia
variando
por
todas
as
gamas
de
cores.
As
trocas
de
cor
da
luz
difusa
eram
quase
constantes,
o
que
tornava
sutil
o
fenômeno
da
passagem.
O
tempo
necessário
para
ser
absorvido
pela
experiência
variava.
Havia
pessoas
que
entravam,
circulavam
e
saiam,
e
aquelas
que
ficavam
muitos
minutos
admirando
e
esperando
todas
as
passagens
de
cor.
Ou
seja,
o
fascínio
imediato
e
a
contemplação
lenta.
Esta
obra
retinha
a
atenção
do
visitante,
causava
um
deslocamento
temporal,
uma
experiência
que
demanda
tempo
e
observação.
No
catálogo,
a
obra
360º
room
for
all
colours
aparece
nos
comentários
de
Olafur
Eliasson
com
Robert
Irwin65,
quando
Irwin
elogia
a
idéia
de
Eliasson
oferecer
continuamente
”escolhas
qualificadas”
aos
visitantes.
Essa
prática
permite
que
haja
uma
coprodução
na
construção
da
experiência
estética,
em
função
das
escolhas
do
visitante
que
mudam
a
natureza
da
experiência.
Eliasson
provoca
esse
tipo
de
interação
em
situações
efêmeras,
como
nesta
obra
com
o
efeito
‘afterimage’,
cuja
luz
projetada
oferece
a
cada
pessoa
uma
impressão
de
cor
diferente.
Se
duas
pessoas
entrarem
em
diferentes
momentos,
verão
cores
diferentes.
“Se
entrar
enquanto
a
tela
estiver
azul,
seu
olho
produzirá
uma
‘afterimage’
laranja;
se
entrar
enquanto
estiver
verde,
o
olho
produzirá
uma
‘afterimage’
vermelha.
Porém,
sua
‘afterimage’
mudará
para
vermelho
e
a
outra
não.
Então,
é
como
uma
casinha
de
individualidade.
Depois
de
dez
minutos,
65
Robert
Irwin
-‐
artista
americano
integrante
do
movimento
Light&Space
e
defensor
da
Arte
Condicional.
Autor
de
“The
Hidden
Structures
os
Art”
e
da
coletânea
de
textos
“Notes
Toward
A
Conditional
Art”
publicada
em
2011.
158
ambos
podem
começar
a
ver
a
mesma
coisa,
falando
fisiologicamente,
mas
66
pode-‐se
pensar
ainda
em
algo
diferente.”
Nesse
caso,
contrariando
as
premissas
de
Olafur
em
expor
os
equipamentos,
os
visitantes
saiam
impressionados
pela
sutileza
do
resultado,
mas
intrigados
sobre
a
tecnologia
utilizada.
James
Turrell67,
declarou
em
seu
catálogo
Skyspace
que
a
tecnologia
do
LED
auxiliou
muito
suas
invenções,
mas
não
resolveu
o
controle
delicado
da
luz,
ponto
em
que
precisa
de
outros
recursos.
O
efeito
de
luz
na
instalação
“360º
room
for
all
colours”
é
quase
tão
sutil
quando
a
transição
de
cor
da
luz
natural
na
abóboda
celeste.
A
estrutura
metálica
exposta
pelo
exterior
de
360º
room
for
all
colours
rompe
a
fantasia
do
ambiente
imersivo
e
define
os
limites
da
obra,
revelando
assim
a
transição
entre
museu
e
obra.
66
Catálogo
“Take
Your
Time”.
67
Futuramente,
haverá
trechos
desta
pesquisa
sobre
James
Turrell
e
sua
participação
no
movimento
Light&Space,
na
California,
durante
os
anos
70.
(CAPITULO
2)
159
Figura
69
-‐
Fotos
da
instalação“360º
room
for
all
colours”,
à
esq.
exterior
e,
à
dir.,
interior
da
instalação.
160
De
acordo
com
o
comentário
de
Mieke
Bal68
(2007),
Eliasson
trabalha
a
cor
como
incerteza,
mudança
e
criação
subjetiva
que
depende
da
luz.
Por
definir
ângulos
de
visão,
editar
a
realidade
envolvente,
o
artista
pode
ser
visto
como
promotor
de
envolvimento
crítico.
"Em
termos
da
discussão
da
paisagem,
é
importante
notar
que
ele
conduz
seu
debate
criando
ambientes
críticos
para
a
experiência
da
cor."
(GRYNSZTEJN,2007.P.153).
O
autor
cita
Your
Colour
Memory,
Room
for
One
Colour(1997)
e
360o.
for
all
colours(2002)
os
mais
famosos
trabalhos
de
Eliasson
sobre
cor.
Mais
uma
vez,
revela-‐se
o
artista
mediador
da
realidade
que
determina
o
tempo
e
a
experiência
da
luz
para
quebrar
a
naturalização
dos
processos.
A
percepção
da
luz
nos
ambientes
está
tão
condicionada
que
Eliasson
interfere
para
causar
estranheza.
No
catálogo
da
mostra
em
Berlim,
Inner
City
Outside,
Daniel
Birnbaum
comenta
o
processo
subjetivo
que
Eliasson
provoca
nos
visitantes,
destacando
a
comunicação
interpessoal
pretendida
por
ele.
"Eu
acho
que
a
maioria
das
pessoas
diria
que
os
trabalhos
de
Olafur
são
mais
sobre
o
interior,
no
sentido
que
evocam
uma
consciência
introspectiva
no
observador,
de
experienciar-‐se
experienciando,
mas
como
apontado,
até
aqueles
seus
trabalhos
que
parecem
todos
sobre
percepção
(
e
se
aproximam
de
James
Turrell),
na
verdade,
são
também
sobre
o
corpo
e,
eu
gostaria
de
acrescentar,
sobre
inter-‐subjetividade,
experiência
comunicativa.
Deste
modo,
Olafur
vai
mais
longe
que
a
fenomenologia
do
sujeito;
há
este
tipo
de
sentimento
cuja
identidade
em
última
instância
é
alteridade,
sendo
através
do
outro
que
você
está
no
máximo
voltado
para
dentro,
é
também
uma
situação
inter-‐subjetiva.
Então,
eu
concordo
que
trata-‐se
mais
do
exterior:
passa
por
si
mesmo
e
se
catapulta
para
uma
experiência
coletiva
novamente."
(BIRNBAUM
em
entrevista
concedida
a
Mark
Wigley,
em
2010.)
Acrescido
este
comentário
de
Birnbaum,
entende-‐se
que
a
pesquisa
de
luz
de
Eliasson,
embora
provoque
experiências
únicas
para
cada
indivíduo
através
do
fenômeno
criado
para
cada
instalação,
pretende
atingir
a
coletividade
e
a
interação
68
Mieke
Bal-‐
Crítica
e
Teorista
Cultural.
Video
artista.
Professora
na
Academia
Real
de
Ciências
e
Artes
dos
Países
Baixos,
entre
2005-‐2011.
Baseada
na
Escola
de
Análises
Culturais
de
Amsterdão(ASCA),
Univerisdade
de
Amsterdão.
161
entre
sujeitos.
Um
exemplo
disto,
ainda
na
mostra
Take
Your
Time
é
a
obra
“Wannabe”(Figura
70)
,
que
Eliasson
criou
no
início
da
carreira,
em
1991.
Figura
70
-‐
Obra
“Wannabe”
na
montagem
da
mostra
“
Your
choice
encounter”.
Do
mesmo
modo
que
um
iluminador
trabalha,
evidenciando
elementos
onde
foca
a
luz
e
criando
zonas
mais
iluminadas
ou
não,
Eliasson
sinaliza
com
o
uso
da
luz
intenções
claras
de
provocar
comportamentos
inusitados,
desde
seus
trabalhos
da
década
de
1990.
Em
1991,
na
intervenção
que
fez
no
Café
Krasnapolsky
em
Copenhaguem,
o
artista
usa
um
único
refletor,
montado
no
teto
e
direcionado
para
o
chão.
O
cone
de
luz
branca
convida
os
visitantes
a
ficarem
em
evidência,
iluminados
num
espaço
publico.
O
Título
Wannabe,
algo
como
“quero
ser”,
refere-‐se
a
um
lugar
no
mundo,
implica
um
destaque
e
uma
posição
diante
das
coisas.
Visibilidade
e
responsabilidade
na
época
em
que
se
discutia
também
a
"Sociedade
do
Espetáculo",
segundo
o
livro
de
Guy
Debord
,
citado
no
capítulo
2.
162
Na
montagem
de
Wannabe
dentro
da
mostra
Take
Your
Time,
o
artista
optou
por
replicar
a
obra
diversas
vezes
no
mesmo
espaço,
sugerindo
um
espaço
coletivo,
uma
vez
que
o
deslocamento
de
contexto
da
obra
subtraiu
o
ambiente
público
onde
foi
instalada
originalmente.
Aparentemente,
os
dois
trabalhos
–
Wannabe
e
360o.
room
for
all
colours
-‐
tem
muitas
diferenças
técnicas
que
se
rebatem
no
resultado
visual.
Entretanto,
percebe-‐se
em
ambos
o
convite
à
participação
através
desta
dimensão
espacial
que
o
campo
iluminado
cria,
jogando
com
luz
e
sombra,
configurando
zonas
antagônicas:
dentro
e
fora.
Figura
71
-‐
Wannabe
na
montagem
de
Take
Your
Time
no
Moma
NY,
em
2007.
Em
outra
obra
exposta
no
Moma
NY,
Room
for
One
Colour,
o
artista
exacerba
seu
esforço
em
compreender
a
percepção
visual
das
cores,
anulando
diversas
delas,
na
criação
de
um
espaço
preto
e
amarelo.
Considerando
o
preto
como
ausência
de
cor,
resta
apenas
o
amarelo.
Os
comprimentos
das
ondas
das
lâmpadas
de
mono-‐
163
frequência
situam-‐se
na
zona
amarela
do
espectro
visível
e
as
cores
são
revertidas
em
tonalidades
de
cinza
e
preto.
A
luz
emanada
do
teto
por
estas
lâmpadas
tinge
o
espaço
de
amarelo
e,
ao
mesmo
tempo
que
se
vê
a
cor
amarela,
neurologicamente
há
uma
compensação
da
falta
das
outras
cores
no
recinto.
Ver
apenas
uma
cor,
o
amarelo,
sugere
de
algum
modo
que
não
existem
as
demais.
"Eliasson
faz
o
processo
visual
do
espectador
ser
parte
da
equação
estética,
abrindo
o
espaço
de
seu
trabalho
para
trabalhos
gerados
pela
visão
humana
e,
o
que,
por
sua
vez,
interliga
o
corpo
e
a
sala,
eventos
externos
e
sensações
internas."
(GRYNSZTEJN,
2007).
Esta
instalação
integrou
a
mostra
de
Eliasson
na
Bienal
de
Veneza
de
2003,
dentro
do
Blind
Pavillion,
e
costuma
ser
colocada
na
entrada
de
suas
exposições,
operando
como
uma
limpeza
do
conturbado
mundo
de
"poluição
visual"
da
publicidade
por
todo
lado.
Configura
um
portal
de
passagem
entre
o
mundo
em
que
vive-‐se
distraído
e
o
provocativo
universo
das
exposições
de
Eliasson.
Independente
desta
função,
Room
for
one
colour
demontra
a
convicção
de
que
a
experiência
humana,
inclusive
a
percepção,
baseia-‐se
no
corpo.
Isto
reafirma
a
devoção
de
Eliasson
às
idéias
dos
fenomenólogos:
Husserl,
Bergson,
Merleau-‐Ponty
e
Varela.
Todos
que
acreditaram
que
a
compreensão
do
mundo
ocorre
segundo
a
percepção
corporal
,
à
partir
de
um
ser
fisiológico,
e
que
a
realidade
é
condicionada
a
isto
-‐
sempre
respondendo
a
desdobramentos
circunstanciais.69
A
pesquisa
científica
afirma
que
a
percepção
da
cor
é
constante,
mas
há
fortes
interferências
do
meio
na
cor
de
um
objeto.
Somado
a
isto,
existe
também
uma
co-‐
dependência
entre
cores
para
que
sejam
compreendidas,
servindo
uma
cor
de
parâmetro
para
outra.
Eliasson
tira
partido
dessas
inconstâncias
para
aguçar
o
olhar
e
a
memória
visual
dos
observadores.
Como
mencionado
sobre
o
efeito
afterimage,
existem
registros
que
persistem
nas
retinas
e
parte
do
processo
de
reconhecimento
de
uma
cor
deve-‐se
à
memória
que
temos
sobre
esta
cor.
Na
obra
Your
colour
memory
(2004)
Figura
72
citada
por
Mieke
Bal
como
uma
das
mais
famosas
no
catálogo
Take
Your
Time,
o
tempo
de
cada
cor
e
a
ordem
entre
69
Catálogo
TYT,
nota
15,
pág.29
164
elas
determina
a
experiência
temporal.
Na
obra,
o
campo
visual
é
tomado
por
uma
tela
circular
de
cor
intensa
magenta
que
muda
para
verde.
O
observador
enxerga
a
cor
que
está
sendo
emitida
e
transfere
a
cor
complementar
para
o
momento
seguinte,
quando
a
tela
está
iluminada
diferentemente,
num
processo
mental.
165
Figura
72
-‐
Your
colour
memory,
2004.
166
Pesquisa Projeção - Remagine (versão grande), 2002.
Após
comentar
as
pesquisas
de
cor
e
luz
de
Eliasson,
as
obras
de
projeção
trazem
um
dado
novo:
as
imagens.
À
revelia
da
estrutura
do
capítulo,
não
é
possível
neglicenciar
o
fato
das
obras
de
projeção
abarcarem
cor,
luz,
imagem
e
movimento.
Mais
uma
vez
vale
dizer
que
a
justificativa
desta
separação
foi
a
ênfase
às
imagens
projetadas
nestas
obras.
"Tento
explorar
ambientes
que
se
concentrem
na
persistência
de
imagens
como
elemento
fundamental.
O
que
pode
ser
difícil
porque
os
próprios
ambientes
tendem
a
captar
a
atenção
das
pessoas.
Preciso
reverter
essa
situação
para
fazer
da
própria
persistência
de
imagens
o
tema
principal.
Tal
significaria
um
novo
passo
na
maneira
de
passar
a
responsabilidade
do
ambiente
para
os
outros.
O
que
é
divertido
é,
claro,
que
a
persistência
de
imagens
sublinha
a
natureza
dialogal
da
arte,
ao
contrário
do
cinema
comercial,
por
exemplo,
cujo
problema
é
basear-‐se
na
expectativa
de
que
o
filme
deveria
nos
distrair,
sem
qualquer
noção
de
que
deveríamos
co-‐
produzir
o
filme."
(ELIASSON,
2011.
p.96).
Baseado
neste
depoimento
de
Eliasson,
pode-‐se
afirmar
que
as
imagens
em
seus
trabalhos
servem
de
chamariz
para
a
co-‐produção
e
engajamento,
como
vemos
nas
demais
áreas
em
que
o
artista
se
coloca.
Notadamente,
na
instalação
Remagine
(2002
-‐
Figura
57),
percebe-‐se
um
diálogo
entre
o
visitante
e
as
imagens
projetadas.
O
observador
precisa
imaginar
um
espaço
tridimensional
para
a
obra
fazer
sentido.
Na
obra
Remagine,
trapézios
e
retângulos
são
projetados
na
parede
do
museu
simulando
variadas
profundidades,
como
se
abrisse
um
espaço
adjacente
à
sala.
Doze
refletores
moldam
padrões
retilíneos
da
luz
ao
longo
da
parede
da
galeria
em
direção
a
um
ponto
de
fuga.
Um
sistema
computadorizado
de
controle
liga
e
desliga
as
lâmpadas
em
diferentes
intervalos,
trocando
as
posições,
tamanhos
ângulos
e
contrastes
das
projeções,
que
se
sobrepõem
em
padrões
flutuantes
nas
paredes.
Existe
uma
versão
menor
dessa
peça
que
cria
os
mesmos
efeitos
com
sete
refletores.
167
Figura
73
-‐
Moma
NY,
Olafur
Eliasson.
“Remagine”:
projeções
que
simulam
profundidades
diversas
em
superfície
plana.
Com
a
projeção,
forma-‐se
uma
perspectiva
graças
aos
formatos
escolhidos.
Os
tons
de
cinza
atingidos
correspondem
à
intensidade
de
luz
branca,
dentro
da
gama
de
cores
possível
entre
o
brilho
total
do
branco
e
a
sombra
absoluta
do
preto.
A
colocação
de
máscaras
nos
refletores
define
as
sombras.
Figura
74
-‐
Remagine,
2002.
168
O
resultado
apresenta
certa
transparência
desenhada
pelo
contraste
e
sobreposição
das
figuras,
no
encontro
das
zonas
iluminadas
com
as
zonas
de
sombreamento,
de
acordo
com
o
movimento
dos
doze
refletores
(
na
versão
grande
da
obra).
A
troca
das
posições,
tamanhos
e
ângulos
dos
padrões
projetados
é
controlada
por
uma
programação
computadorizada
que
provoca
um
ritmo,
ao
ligar
e
desligar
as
lâmpadas.
O
fato
das
projeções
ocuparem
toda
a
área
da
parede
do
museu
interfere
diretamente
na
percepção
que
o
visitante
tem
desse
espaço
e
na
noção
de
profundidade
que
a
obra
indica.
Essa
proporção
assemelha-‐se
ao
ambiente
criado
pela
tela
do
cinema,
que
pode
variar
de
tamanho,
mas,
dentro
da
sala
escura,
ao
ocupar
uma
grande
área,
instaura
a
sensação
de
deslocamento
para
outro
espaço.
Figura
75
-‐
Remagine,
2002.
Por
outro
lado,
a
referência
a
um
espaço
virtual
se
aplica
também
à
obra
em
análise,
pois
as
formas
geométricas
projetadas
caracterizam
a
rigidez
formal
comum
em
projetos
virtuais
simples,
pouco
elaborados.
De
fato,
a
tecnologia
dos
softwares
já
avançou
muito
e,
atualmente,
pode-‐se
chegar
bem
próximo
da
fotografia
ou
da
imagem
de
cinema
em
projetos
virtuais,
sendo
assim,
a
obra
remete
aos
primórdios
da
computação
ou
a
projetos
intencionalmente
simples,
por
escolha
artística.
169
Figura
76
-‐
Wall
Eclipse.
Moma,
2007.
Na
obra
Wall
Eclipse,
também
presente
na
Mostra
Take
Your
Time
há
uma
variação
na
experiência
da
projeção.
A
escala
da
projeção
também
coincide
com
a
parede
da
sala
e
o
movimento
da
sombra
sugere
que
a
própria
parede
esteja
girando.
Com
apenas
um
projetor
e
uma
superfície
retangular
dupla-‐face
giratória,
o
artista
consegue
este
efeito,
sendo
uma
das
faces
mais
reflexiva
do
que
a
outra.
O
eclipse
é
o
fênomeno
natural
no
qual
um
corpo
celeste
oculta
o
outro
em
relação
ao
observador.
A
luz
solar
bate
no
primeiro,
fazendo
sombra
no
segundo.
Em
Wall
Eclipse,
esta
situação
transfere-‐se
para
o
projetor
que
lança
luz
sobre
a
superfície
retangular
giratória,
ocultando
a
parede
com
sua
sombra
projetada.
Neste
caso,
não
abre-‐se
uma
perspectiva
com
as
formas
projetadas,
mas,
ao
invés
disto,
ocorre
uma
desorientação
quando
enxerga-‐se
uma
zona
de
sombra
grande
deslocando-‐se
pela
sala.
Bauhaus.foto.filme
A
respeito
de
“Remagine”
pode-‐se
dizer
também
que
resgata
a
memória
da
vídeo-‐arte
experimentada
por
artistas
precursores,
na
Bauhaus
dos
anos
20.
Nesses
filmes,
as
composições
geométricas
são
recorrentes.
A
mostra
da
produção
audiovisual
da
Bauhaus
-‐
“bauhaus.foto.filme”-‐
realizada
pelo
SESC
Pinheiros
exibiu
o
filme
Rhythmus
21
de
Hans
Ritcher,
de
1921.
O
contemporâneo
de
Moholy-‐Nagy
na
Bauhaus
foi
exibido
na
categoria
‘arte
mídia’,
entre
alguns
exemplos
de
filmes
da
mesma
escola
com
imagens
geométricas
que
insinuam
a
tridimensionalidade.
170
Em
Rhythmus
21
,
o
cineasta
Ritcher,
que
havia
estudado
pintura
na
própria
Bauhaus,
fez
uma
animação
de
quadrados
de
papel
de
diversos
tamanhos
diretamente
sob
a
câmera
–
brancos,
cinzas
e
pretos,
em
um
tempo
controlado
e
um
ritmo
sistemático,
conforme
a
descrição
da
técnica
utilizada,
no
catálogo
da
mostra
bauhaus.foto.filme.
Rhytmus
21,
1921.
Hans
Ritcher.
Figura
77
–
a.
Contatos
de
todas
as
imagens
do
filme.
/Figura
4
b.
Penúltima
imagem
do
filme.
171
Mostra
Videobrasil
Quando,
em
2011,
participou
na
mostra
Videobrasil,
em
São
Paulo,
e
filmou
a
cidade
em
parceria
com
o
cineasta
Karim
Ainouz
-‐
o
vídeo
Sua
cidade
empática”,demonstrou
grande
influência
de
cores
e
formas
da
obra
de
Moholy-‐Nagy.
No
trabalho
exposto
na
Mostra
Seu
Corpo
da
Obra,
parte
da
mostra
Videobrasil,
nota-‐
se
novamente
a
perspectiva
cônica,
com
pontos
de
fuga
,
presente
em
“Remagine”.
Entretanto,
o
ponto
técnico
em
destaque
no
filme
de
2011
era
o
efeito
afterimage70,
no
qual
como
a
maioria
das
obras
de
Olafur,
a
recepção
e
construção
da
imagem
depede
de
um
processo
cerebral,
ou
seja,
só
acontece
no
corpo
do
observador.
Figura
78
-‐
Foto
da
exibição
de
‘Sua
Cidade
Empática”no
SESC
Pompeia,
em
2011.
Figura
79
-‐
Foto
da
exibição
de
‘Sua
Cidade
Empática”no
SESC
Pompeia,
em
2011.
Os
fenômenos
óticos
de
diversas
obras
de
Olafur,
assim
como
descrito
pelo
curador
Jochen
Volz,
no
catálogo
da
mostra
Seu
Corpo
da
Obra,
acontecem
:
“apenas
em
nossa
retina,
não
no
espaço.
Do
mesmo
modo,
em
Sua
cidade
empática,
a
consciência
de
nossa
atividade
visual
real
casa-‐se
com
o
reconhecimento
de
lugares
de
São
Paulo;
dessa
maneira
vemos
que
nossa
autopercepção
está
unida
à
percepção
daquilo
que
nos
rodeia.
As
instalações
de
Eliasson
funcionam
como
ferramentas
que
modificam
nossa
visão
do
mundo,
e
o
prazer
lúdico
de
seu
trabalho
consiste,
em
última
instância,
em
nada
mais
do
que
a
alegria
de
perceber,
aprender
e
compreender
a
nós
mesmos.”
70
Fenômeno
que
ocorre
quando
o
cérebro
envia
impulsos
nervosos
para
os
olhos
que
parecem
luzes
de
cores
complementares,
mesmo
de
olhos
fechados.
172
Narrativas
-‐
Sequências
Ao
trabalhar
com
imagens
projetadas,
Eliasson
explicita
seu
trabalho
de
editor
da
realidade
que
aparece
nos
trabalhos
em
que
alterna
materiais
translúcidos
e
opacos.
Como
no
caso
do
Blind
Pavillion
onde,
ao
longo
do
percurso,
revela
e
oculta
visadas
do
exterior,
por
consequência,
definindo
também
os
pontos
de
vista
como
um
editor
de
vídeo,
ou
um
fotógrafo
faria.
Na
verdade,
o
que
motiva
este
tipo
de
sequência
proposta
pelo
artista
é
também
grifar
a
mediação
nos
processos.
Fazer
o
observador
notar
que
há
uma
edição,
que
tem
algo
sendo
contado
e
que
o
espaço
não
é
neutro.
O
espaço
tem
uma
série
de
informações
que
cada
um
edita
a
seu
modo,
com
seu
olhar,
mas
também
pode
ser
experimentado
de
modo
mais
pleno,
se
este
observador
entender
que
está
participando.
Se
este
visitante
não
for
só
um
observador,
mas
um
co-‐produtor,
e
para
isto
sentir
este
espaço
através
dos
demais
sentidos
também.
Perguntado
sobre
buscar
um
espaço
multissensorial,
Eliasson
declarou
que
não
busca
um
espaço
com
determinadas
características.
O
que
o
artista
trabalha
é
a
relação
entre
os
espaços.
No
caso
da
projeção,
a
relação
entre
o
espaço
da
sala
e
o
espaço
da
imagem.
Em
algumas
obras
projetadas
observa-‐se
desenhos.
De
forma
lúdica,
padrões
distorcidos
pelos
ângulos
de
projeção
inundam
os
espaços.
Configura-‐se
um
jogo
de
luz
e
sombras
que
beira
o
formalismo
e
perde
a
força
da
pesquisa
do
artista
em
criar
novos
espaços
com
a
luz,
apesar
de
alterar
a
percepção
dos
espaços
existentes.
173
Pesquisa Movimento - I Only See Things When They Move,
2004.
Para
pensar
o
que
denota
movimento
nas
obras
de
Olafur
Eliasson,
é
necessário
lembrar
quais
os
possíveis
movimentos
nos
espaços
das
obras
e
porque
eles
são
induzidos.
O
movimento
circular,
giratório,
notado
em
algumas
instalações
dá
a
noção
de
um
ciclo
temporal
contínuo.
O
movimento
linear
na
trajetória
entre
as
obras
ou
através
delas
passa
a
ideia
de
sequência,
marcação
de
ritmos,
e
também,
como
todos,
a
passagem
de
tempo.
Agora,
se
o
enfoque
for
pensar
o
que
se
movimenta
nas
obras,
surgem
outras
questões,
como
o
movimento
do
olhar,
o
deslocamento
do
corpo
do
visitante
pelo
espaço
ou
o
movimento
motorizado
das
instalações.
Na
instalação
I
Only
See
Things
When
They
Move,
havia
movimentos
sincronizados,
efeito
do
motor
giratório,
que
somavam-‐se
aos
movimentos
espontâneos
dos
corpos
dos
visitantes,
aleatórios.
A
obra
consiste
em
vidros
coloridos
pendentes
do
teto,
que
formam
uma
luminária
no
centro
de
uma
galeria
escura.
Um
motor
gira
os
vidros
individualmente
,
moldando
um
padrão
móvel
colorido
de
reflexos
verticais
nas
paredes
circundantes.
Figura
80
-‐
Foto
da
obra
"I
Only
See
Things
When
They
Move",
2004.
174
De
todo
modo,
seja
qual
for
o
movimento
provocado
por
Eliasson,
este
tipo
de
obra
remete
à
arte
cinética.
Conforme
comentado
anteriormente,
as
obras
cinéticas
são
geradas
em
função
de
movimentos,
sejam
deslocamentos
do
observador
para
perceber
variações
das
obras,
que
nunca
são
visualizadas
plenamente
de
apenas
um
ângulo;
seja
por
obras
motorizadas
que
se
transformam
a
cada
movimento.
Esta
noção
de
movimentos
variados
é
importante
para
entender
que
sem
eles
a
obra
não
existe.
No
movimento
artístico
dos
anos
1960,
cinética
designa
transformação
e
contaminação
do
espaço
pela
intervenção
artística.
A
escolha
da
obra
I
Only
See
Things
When
They
Move
como
ponto
de
partida
para
estudar
Olafur
Eliasson
ocorreu
em
função
destes
indícios
de
resgate
do
pensamento
cinético,
presentes
na
instalação,
percebidos
na
instalação
do
Moma
NY.
Figura
81
-‐
Foto
de
visitantes
dentro
da
sala
do
Moma
com
a
instalação
"I
Only
See
Things
When
They
Move",
Nova
Iorque,
em
2008.
175
Neste
caso,
vidros
coloridos
pendentes
do
teto
giravam
em
torno
de
seus
próprios
eixos
e
circundavam
um
tripé
e
refletores
percorriam
a
mesma
trajetória
circular,
360
graus
,
mas
as
velocidades
variavam.
Ao
atravessar
os
vidros
coloridos,
a
luz
se
propagava
por
todo
o
ambiente,
inundado
de
cores.
O
efeito
visual
atingido
era
a
projeção
de
faixas
coloridas
que
variavam
de
largura,
enquanto
circulavam
nas
paredes,
o
que
para
os
termos
de
Moholy-‐Nagy
poderia
considerar-‐se
uma
ativação
do
espaço
pela
luz
em
movimento.
Os
corpos
dos
visitantes
andando
pela
sala
também
geram
imagens
com
reflexos
nos
vidros
e
sombras
nas
paredes
e
eram
parte
fundamental
da
obra.
Figuras
82a)
e
b)
-‐
“I
Only
See
Things
When
They
Move”",
Olafur
Elliasson.
2004
Nos
registros
da
exposição
Take
Your
Time
(Figuras
82),
ou
mesmo
na
página
do
Moma
NY
na
internet,
as
figuras
de
sombras
sobre
faixas
circulantes
remetem
a
um
cinetoscópio.
Provavelmente,
devido
ao
ritmo
das
faixas
e
giros,
não
raro,
flagrava-‐se
176
alguém
dançando,
numa
música
silenciosa.
Notava-‐se
uma
coreografia
espontânea
entre
a
luz,
os
objetos
e
a
reação
das
pessoas.
Além
da
expansão
do
objeto
central
para
assumir
todo
o
espaço
da
sala,
os
participantes
acrescentam
novos
fatores
a
cada
montagem
da
obra.
Olafur
Eliasson
acompanha
as
pesquisas
em
neurociência,
de
onde
busca
informações
para
propor
interatividade.
O
conceito
de
“neurônio
espelho”
explica
algumas
das
atitudes
prováveis
diante
da
instalação
“I
Only
See
Things
When
They
Move”,
conforme
publicado
pelo
neurocientista
Marco
Iacoboni
no
jornal
The
New
York
Times.
"Quando
alguém
me
vê
puxar
o
braço
para
trás
como
se
fosse
atirar
uma
bola,
essa
pessoa
também
tem
no
seu
cérebro
uma
cópia
daquilo
que
estou
a
fazer
e
isso
ajuda-‐a
a
compreender
meu
objetivo.
Por
causa
dos
neurônios
espelho,
pode
ler
as
minhas
intenções.
Sabe
o
que
vou
fazer
a
seguir."(IACOBONI,
2006.
cit.
“A
Visualidade
Háptica
e
Os
Neurônios
Espelho”)
No
centro
de
uma
galeria
quadrada
do
Moma
NY,
um
tripé
metálico
suportava
o
mecanismo
rotatório
de
luzes
e
um
cilindro
transparente,
a
aproximadamente
um
metro
e
meio
de
altura.
Medida
que
coincidia
com
a
altura
dos
olhos
dos
visitantes.
Estes
podem
ser
considerados
outros
fatores
que
geravam
os
movimentos
das
pessoas
ao
redor
da
luminária:
a
posição
central,
a
altura
que
possibilitava
ver
os
reflexos
e
os
feixes
de
luz
radiais
que
se
projetavam
desta
fonte
central.
Interpretar
livremente
o
título
“Eu
apenas
vejo
coisas
quando
se
movem”,
onde
há
a
associação
do
movimento
à
percepção
das
coisas,
parece
constatar
que
a
existência
de
um
corpo
só
é
possível
graças
a
outro
que
o
percebe;
e
sucessivamente,
em
relação
aos
demais71.
Ou
seja,
afirmar
que
as
coisas
existem
porque
são
percebidas
pelos
corpos
dos
seres
vivos,
cria
um
interdependência
e
uma
responsabilidade.
Todos
os
estudos
óticos
de
Eliasson
passam
necessariamente
pelo
corpo
do
observador,
e
este
é
o
ponto
principal
de
sua
pesquisa:
que
o
visitante
sinta-‐se
parte
e
engaje-‐se
no
trabalho,
como
agente
viabilizador
da
proposta.
71
“Não
vemos
partes
isoladas,
mas
relações.
Isto
é,
uma
parte
na
dependência
de
outra
parte.
Para
a
nossa
percepção,
que
é
resultado
de
uma
sensação
global,
as
partes
são
inseparáveis
do
todo
e
são
outra
coisa
que
não
elas
mesmas,
fora
desse
todo.”
Fundamentação
teórica
da
Gestalt,
em
Gestalt
do
Objeto:
Sistema
de
Leitura
Visual
da
Forma.
Autor:
João
Gomes
Filho.
177
A
frase
“eu
apenas
vejo
coisas
quando
se
movem”
refere-‐se
ao
trabalho
dos
biólogos
Humberto
Maturana
e
Francisco
Varela,
no
qual
a
premissa
de
que
“tudo
é
dito
por
um
observador”
norteia
os
experimentos
com
sistemas
nervosos
e
óticos
de
seres
vivos.
Os
cientistas
juntos
desenvolveram
uma
pesquisa
transdisciplinar
enfatizando
o
caráter
unitário
da
organização
do
sistemas
vivos
e
consideravam
o
homem
uma
máquina
autopoiética72
(do
grego:
que
produz
a
si
mesmo).
“Como
diz
o
neurocientista
chileno
Francisco
Varela,
a
percepção
não
ocorre
apenas
no
cérebro,
mas
no
cérebro
e
no
corpo
como
uma
totalidade.
Em
arte,
por
muito
tempo,
se
valorizou
muito
mais
o
cérebro,
e
quando
o
corpo
é
discutido
é
como
se
nunca
ninguém
tivesse
se
movido.
Por
conta
disso,
a
relação
entre
corpo
e
mente
é
bastante
sofrível
em
relação
à
neurociência
cognitiva,
onde
há
muitos
experimentos
sofisticados,
que
comprovam,
por
exemplo,
que
nós
nos
vemos
de
acordo
com
o
nosso
movimento”.
(ELIASSON,
2013
-‐
em
entrevista
ao
Jornal
O
Globo)
A
relação
arte
e
tecnologia
percebida
na
montagem
desta
instalação
faz
parte
de
uma
corrente
histórica
da
arte
que
se
entrelaça
em
momentos
cruciais
de
desenvolvimento
científico.
Considerando
a
observação
dos
corpos
em
movimento,
os
fenômenos
óticos
e
a
composição
dos
próprios
materiais,
estamos
o
tempo
todo
falando
de
ciências.
As
descobertas
cientificas
do
inicio
do
século
XX
fascinavam
os
artistas
e
entraram
como
tema
de
pinturas
figurativas,
materiais
novos
em
esculturas,
enquadramento
de
cenas
e
metáforas
frequentes
do
corpo
como
máquina.
A
máquina
de
I
Only
See
Things
When
They
Move
foi
concebida
de
modo
aparente
para
esclarecer
que
não
tratava-‐se
de
um
truque,
mas
de
um
convite
a
participar
da
obra.
Ao
utilizar
mecanismos
para
preencher
este
espaço
com
luz
e
cores
de
maneira
singela,
Olafur
Eliasson
dialoga
com
invenções
anteriores.
72
“Para
Maturana
e
Varela
os
seres
vivos
são
um
tipo
particular
de
máquinas
homeostáticas,
que
eles
denominam
de
autopoiéticas.
[...]
Nos
sistemas
em
que
o
mecanismo
responsável
pela
estabilidade
é
interno
ao
mecanismo
da
máquina,
ou
seja,
nos
quais
as
fronteiras
são
definidas
pela
própria
organização
da
máquina
tem-‐se
um
tipo
especial
de
máquinas
chamadas
de
homeostáticas.
A
idéia
de
autopoiesis
é
uma
expansão
da
idéia
de
homeostase
em
duas
direções
importantes:
ela
transforma
todas
as
referências
da
homeostase
em
internas
ao
sistema;
ela
afirma
ou
produz
a
identidade
do
sistema.
Ou
seja,
esses
sistemas
produzem
a
si
próprios,
dessa
forma
produzem
a
sua
identidade
distinguindo-‐se
a
si
mesmos
do
seu
ambiente.
Daí
o
termo
autopoiéticos,
do
grego
auto
(própria)
e
poiesis(produção).”(
autora:
Edla
M.
F.
Ramos).
178
Na
obra
escolhida,
por
exemplo,
nota-‐se
semelhanças
com
os
experimentos
de
Lázlo
Moholy-‐Nagy,
quando
professor
da
BAUHAUS.
Conforme
comentado
no
primeiro
capítulo,
em
seu
único
filme
totalmente
experimental
e
abstrato,
após
anos
com
o
projeto
de
filmar
“uma
instalação
luminosa
para
um
palco
elétrico”,
o
artista
construiu
uma
estrutura
composta
por
chapas
e
utensílios
metálicos,
na
qual
ele
iluminava
elementos
perfurados
que
movimentavam-‐se
em
torno
de
seus
eixos
e
apoiavam-‐se
numa
base
giratória,
cuja
a
rotação
prevalecia
sobre
os
movimentos
dos
demais
objetos.
No
verão
de
1930,
a
instalação
Modulador
de
Espaço-‐Luz
foi
exposta
como
uma
escultura
individual,
na
Deutscher
Werkbund
(Federação
Alemã
do
Trabalho).
Embora
o
produto
final
tenha
sido
um
filme
com
edição
inovadora
para
a
época,
que
registrava
magnificamente
a
expansão
do
objeto
em
seu
entorno,
ocupando
e
criando
uma
atmosfera
ao
seu
redor.
O
que
Moholy-‐Nagy
conseguiu
com
este
invento
foi
uma
verdadeira
pintura
de
luz
no
espaço.
“Moholy-‐Nagy
pretendia
pintar
com
a
luz,
em
vez
de
pigmento:
pintura
em
movimento,
de
branco
banhado
de
luz
aos
mais
variados
tons
de
cinza.”
(
catálogo
da
exposição
“bauhaus.foto.filme”,
Sesc
Pinheiros,
SP,
2013.)
Figura
83
-‐
1930,
Instalação:
“Light-‐Space
Modulator"
(Modulador
de
Espaço-‐Luz),
Lazlo
Moholy-‐
Nagy.
Figura
84
1930/32
–
Filme:
“Um
jogo
de
luz:
preto-‐branco-‐cinza”,
6’,
mudo,
16mm
(originalmente
35
mm),
p&b.
Direção,
câmera,
edição
e
produção:
Lazlo
Moholy-‐Nagy.
179
"Para
mim,
o
movimento
no
seu
sentido
mais
basilar,
cria
uma
noção
de
presença,
[...]um
aqui
e
agora
que
implica
um
pico
temporal
no
qual
a
verdade
de
uma
situação
pode
ser
revelada.
O
movimento
encerra
uma
grande
possibilidade
de
compreensão
do
modo
como
nos
sentimos
parte
de
outra
coisa,
da
interação
com
as
pessoas.
Se
não
nos
movemos,
não
nos
encontramos."(ELIASSON,
2012.p.272)
Por
acreditar
nessas
circunstâncias
que
permitem
que
encontros
aconteçam,
Eliasson
fez
a
obra
We
Only
Meet
When
We
Move
(2004)
cuja
a
técnica
de
iluminação
lembra
I
Only
See
Things
When
They
Move
e
o
resultado
das
projeções
listradas
nas
paredes
também.
Numa
observação
mais
atenta,
nota-‐se
que
o
movimento
circular
em
torno
do
próprio
eixo
é
o
que
possibilita
o
encontro
das
faixas
amarelas
e
violetas
projetadas
pela
luz
negra(daylight)
interna
da
luminária.
Na
primeira
montagem,
no
ARoS
Aarhus
Kunstmuseum,
na
Dinamarca,
uma
sala
triangular
foi
especialmente
construída
com
uma
coluna
central
para
receber
o
aparato
luminoso.
Eliasson
usou
um
trilho
circular
que
fazia
com
que
a
'luminária'
circundasse
a
coluna
e
sua
sombra
fosse
confundida
com
as
demais
faixas
de
sombras
das
partes
opacas,
vidros
negros
entre
os
vidros
amarelos.
Nesta
instalação,
o
observador
não
conseguia
se
ver
nos
reflexos
da
luminária
que
estava
colocada
no
alto,
mas
identificava
sua
sombra
nas
paredes
circundantes.
180
Figura
85
-‐
foto
da
instalação
We
Only
Meet
When
We
Move
no
ARoS
Aarhus
Kunstmuseum.
Dinamarca,
2004.
Figura
86
Foto
da
instalação
We
Only
Meet
When
We
Move,
2004.
181
A
instalação,
We
Only
Meet
When
We
Move(Nos
Encontramos
Apenas
Quando
Nos
Movemos)
foi
transferida
para
um
tripé
em
outras
montagens,
como
no
Museu
Reina
Sofia(2007-‐
Figura
86),
em
Madri,
Espanha.
Ganhou
assim
mais
semelhanças
com
a
experiência
de
escala
percebida
em
I
Only
Se
Things
When
They
Move
(Apenas
Vejo
Coisas
Quando
Se
Movem).
Uma
vez
que
Eliasson
pensa
na
reciprocidade
entre
as
pessoas
e
as
coisas
que
as
circundam,
e
que
há
uma
tendência
em
humanizar
objetos,
como
híbridos,
estes
limites
tornam-‐se
tênues
e
a
ironia
em
fazer
das
faixas
de
luz
personagens
que
se
encontram
é
apropriada
ao
contexto.
Pelos
títulos,
o
artista
informa
que
faixas
de
cores
formam-‐se
nas
sobreposições
e
por
isso
só
podem
ser
vistas
quando
os
vidros
se
movem
em
"Apenas
Vejo
Coisas
Quando
Se
Movem"
e,
na
outra
instalação,"Nos
Encontramos
Apenas
Quando
Nos
Movemos",
as
faixas
se
encontram
devido
ao
movimento
giratório.
Ambas
são
metáforas
para
as
possibilidades
de
interação
coletiva
entre
as
pessoas
na
obra,
neste
espaço
sugestivo.
"Se
não
nos
movemos,
não
nos
encontramos.
[...]
É
apenas
por
via
do
movimento
que
se
abre
o
caminho
para
o
nosso
envolvimento
com
os
objetos
e,
assim
que
nos
envolvemos,
tanto
o
que
nos
rodeia
como
os
objetos
se
tornam
relativos.
E
é
apenas
quando
as
coisas
e
os
sistemas
se
tornam
relativos
que
podemos
reconsiderá-‐los,
renegociar
a
nossa
envolvente.
Portanto
o
movimento
é
uma
condição
necessária
para
a
nossa
avaliação
do
mundo,
para
a
crítica."
(ELIASSON,
2012.p.272)
182
Figura
87
One-‐Way
Colour
Tunnel
(túnel
de
Uma
Direção),
instalação
mostra
Take
Your
Time.
Moma
São
Francisco,
em
2007.
Na
aplicação
prática
do
pensamento
que
Eliasson
defende
sobre
a
importância
do
movimento
na
percepção
do
espaço
para
uma
realidade
negociável,
os
vários
túneis
feitos
por
Eliasson
são
fundamentais
para
o
artista,
onde
o
tempo
que
se
demora
a
atravessá-‐los
é
a
única
maneira
de
ter
a
experiência
deste
espaço.
O
exemplo
que
esteve
montado
na
mostra
Take
Your
Time
de
São
Francisco
é
o
One-‐Way
Colour
Tunnel
(Túnel
Colorido
De
Um
Sentido,
2007),construído
especificamente
para
uma
passagem
em
ponte
existente
na
arquitetura
do
museu.
"Pense
nas
minhas
instalações
de
túneis:
temos
de
atravessá-‐los
para
executar
os
trabalhos.
Tornamo-‐nos
co-‐construtivos,
já
que
os
túneis
apenas
existem
durante
os
quinze
segundos
que
demora
atravessá-‐los.
E
nesses
segundos
eles
sofrem
uma
mudança
de
aparência
contínua.
Tornam-‐se
relativos
à
nossa
posição."
(ELIASSON,
2012.p.272)
183
Como
o
título
indica,
"Túnel
Colorido
De
Um
Sentido",
tratava-‐se
de
uma
construção
para
ser
vista
apenas
em
um
sentido,
pois
a
visada
contrária
omitia
todas
as
cores
da
proposta
artística.
A
aparência
caleidoscópica
do
túnel
resgatava
todas
as
questões
dos
cristais:
as
transparências,
a
constante
mudança
de
cor
e
aspecto
conforme
o
movimento
do
observador.
Ou
seja,
o
evento
efêmero
de
ver
uma
cor
e
no
momento
seguinte
ela
ter
se
tornado
outra
pela
nova
incidência
da
luz.
Por
esse
motivo,
os
eventos
efêmeros
que
proporcionam,
as
obras
caleidoscópicas
de
Eliasson
carregam
um
sentido
de
tempo
incrustrado
nelas.
184
O Tempo, O Espaço, A Luz e O Movimento.
Colocar
Weather
Project
e
Take
Your
Time
em
perspectiva,
compará-‐las
nesta
dissertação
e
considerar
que
já
passaram
doze
anos
da
primeira
e
sete
anos
da
segunda
exposição,
é
um
exercício
que
une
passado-‐presente-‐futuro.
Pois
a
cada
consulta
aos
novos
trabalhos
de
Eliasson
já
é
possível
ver
o
futuro
de
Take
Your
Time
e
os
desdobramentos
de
Weather
Project.
Por
este
motivo,
na
análise
das
duas
mostras,
foi
importante
incluir
trabalhos
mais
recentes,
para
entender
que
Olafur
Eliasson
faz
pesquisas
continuamente,
mas
não
há
uma
linearidade
de
investigação,
assim
como
existem
retornos
a
experimentos
anteriores.
Os
trabalhos
acontecem
em
ciclos
alternados
e,
no
desenvolvimento
de
cada
experimento,
entre
as
obras
se
estabelece
uma
noção
de
tempo
não-‐linear.
O
maior
exemplo
disto
é
a
obra
Weather
Project,
uma
grande
exibição
que
poderia
ser
considerada
o
encerramento
de
uma
pesquisa.
No
entanto,
a
obra
serviu
de
ponto
de
partida
para
outros
pequenos
experimentos
e
para
a
atuação
do
artista
na
comunicação
dos
museus.
Seja
qual
for
o
exemplo,
tratando-‐se
de
Olafur
Eliasson,
a
aproximação
dos
espaços
deve
ser
através
dos
aspectos
de
tempo.
O
tempo
que
engloba
todas
as
experiências
propostas
pelo
artista,
seja
de
luz
ou
de
movimento.
Eliasson
usa
o
tempo
como
ferramenta
para
proporcionar
uma
experiência
plena
do
espaço,
o
que
remete
aos
textos
de
Moholy-‐Nagy
sobre
como
seria
o
futuro
artista.
Em
1947,
quando
Moholy-‐Nagy
escreveu
sobre
os
experimentos
futuros
necessários
para
o
trabalho
em
artes
visuais,
definiu
muitas
das
atividades
de
Eliasson.
Não
é
por
acaso
que
os
textos
de
Moholy-‐Nagy
são
importantes
e
seguidos
por
artistas
até
hoje,
mas
devido
ao
caráter
visionário
do
mestre
da
Bauhaus.
"A
maioria
do
trabalho
visual
do
futuro
apoia-‐se
no
"Pintor
de
Luz".
Ele
precisará
de
conhecimento
científico
de
física
e
habilidade
tecnológica
de
engenheiro
associadas
à
sua
própria
imaginação,
intuição
criativa
e
intensidade
emocional.
Ainda
é
difícil
detalhar
mais,
mas
nos
experimentos
futuros,
pesquisa
na
fisiologia
do
olho
e
nas
propriedades
físicas
da
luz
serão
uma
parte
importante."
(MOHOLY-‐NAGY,
1947.p.167)
185
As
semelhanças
dos
textos
antigos
de
Mohol-‐Nagy
com
a
atividade
profissional
de
Olafur
Eliasson
podem
ser
coincidências,
ou
o
artista
segue
mesmo
as
previsões
de
Moholy-‐Nagy,
uma
vez
que
o
declara
como
fonte
de
conhecimento.
De
qualquer
modo,
o
empenho
dedicado
e
o
volume
de
trabalho
produzido
pelo
Studio
faz
de
Eliasson
uma
nova
referência
nesta
área
de
pesquisa
que
une
espaço,
movimento
e
luz.
Estes
são
os
elementos
que
indicam
a
busca
por
um
espaço
multi-‐sensorial
para
ambos
artistas.
A
experiência
plena
do
espaço
era
comentada
também
por
Moholy-‐
Nagy,
em
Vision
in
Motion
(1947):
"Nada
é
alcançado
sem
esforço.
Nunca
se
deve
cansar
de
observar
o
simples
ou
rico
fenômeno
de
luz
e
cor
oferecido
pela
rotina
diária
em
casa,
no
palco,
na
rua
e
no
laboratório.
Deve-‐se
explorar
suas
características
genuínas,
suas
qualidades
peculiares.
Então
todos
os
empenhos
vão
apontar
-‐
como
Raoul
Hausmann
previu
-‐
numa
direção,
para
uma
arte
ortofônica.
Isto
nos
permitirá
ver
música
e
ouvir
fotos
simultaneamente:
uma
articulação
surpreendente
de
tempo-‐espaço.
Os
primeiros
passos
para
isto
-‐
a
arte
mural
de
hoje
-‐
leva
mais
provavelmente
através
de
fotografia,
cinema
e
televisão."
(MOHOLY-‐NAGY,
1947.p.167)
Figura
88
-‐
Moholy-‐Nagy
em
Vision
in
Motion,
1947.
p.167.
A
análise
das
mostras
de
Eliasson,
Weather
Project
e
Take
Your
Time
conduz
ao
reconhecimento
dos
esforços
no
sentido
de
desenvolver
espaços
que
sensibilizam
os
visitantes,
um
passo
na
direção
de
uma
experiência
plena
do
espaço.
Não
cabe
aqui
avaliar
a
eficiência
do
engajamento
pretendido
por
Eliasson,
mas
apenas
colocar
a
sua
participação
num
processo
existente
anteriormente
na
História
da
Arte
e
que
deve
ser
continuado.
186
Capítulo 4.
Considerações Finais
Partindo
da
visita
à
exposição
Take
Your
Time,
a
análise
das
obras
do
artista
dinamarquês
Olafur
Eliasson
enseja
um
percurso
teórico
que
passa
pela
Arte,
Ciência
e
Filosofia.
O
reconhecimento
nas
obras
das
influências
de
movimentos
artísticos
anteriores
-‐
Arte
Cinética
e
Light
&
Space
-‐
definiu
um
primeiro
filtro
para
seleção
das
exposições
a
serem
analisadas.
No
primeiro
capítulo,
a
trajetória
de
Olafur
Eliasson
é
apresentada
em
relação
ao
estudo
do
espaço,
notadamente
sob
os
aspectos
de
luz
e
movimento.
Para
isto,
as
obras
de
Lászlo
Moholy-‐Nagy
-‐
Arte
Cinética
-‐
e
de
James
Turrell
-‐
Light
&
Space
-‐
serviram
de
paralelo.
No
decorrer
da
pesquisa,
outros
fatores
foram
ganhando
importância
e
a
relação
entre
estes
artistas
apareceu
pontualmente,
nos
comentários
das
obras
de
Eliasson.
O
fato
do
artista
se
expressar
frequentemente
na
mídia
e
publicar
diversos
livros,
tornou
necessário
conhecer
a
teoria
que
ele
mencionava,
seu
vocabulário
específico,
através
do
qual
entende-‐se
grande
parte
do
seu
discurso,
seus
argumentos,
bem
como
os
títulos
atribuídos
às
obras.
Curiosamente,
Olafur
Eliasson
fala
sobre
a
naturalização
com
que
percebemos
os
espaços
como
se
não
percebessea
complexidade
do
seu
vocabulário,
impregnados
de
um
denso
lastro
filosófico.
No
campo
da
arte
tem
havido
uma
reciprocidade
com
a
filosofia
-‐
sobretudo
a
fenomenologia
-‐,
alicerçando
processos
de
transformação
recentes,
suscitando
trocas
frequentes
e
profundas
entre
profissionais,
contribuindo
para
um
entendimento
mais
amplo
do
espaço.
No
entanto,
quando
se
trata
do
visitante
do
museu,
inclui-‐se
um
público
mais
diversificado
com
o
qual
o
artista
pretende
ter
uma
comunicação
direta.
De
fato,
quanto
aos
fenômenos
presentes
nas
instalações
de
Eliasson,
no
primeiro
momento
de
contato
com
as
obras
o
que
há
é
uma
empatia
do
público,
uma
identificação
espontânea
com
os
fenômenos
naturais
conhecidos.
O
que
se
revela,
187
logo
em
seguida,
são
os
fenômenos
artificiais
provocativos,
híbridos
e
alinhados
com
a
natureza
e
com
a
máquina
no
museu.
Diante
das
propostas
expográficas
distintas
de
Weather
Project
,
que
marcou
a
identidade
de
Eliasson
numa
grande
obra,
e
Take
Your
Time,
que
exibiu
a
multiplicidade
de
experimentos
do
artista,
formou-‐se
um
panorama
rico
de
referências
e
reavaliações
do
espaço.
Embora
esta
dissertação
vise
expor
este
panorama
de
obras
de
Olafur
Eliasson,
seria
demasiado
superficial
e
extenso
abordar
toda
a
sua
produção
neste
trabalho.
Tarefa
pretensiosa
que
o
artista
se
colocou
na
publicação
"Studio
-‐
Uma
Enciclopédia"
e,
onde
fato,
ocorre
a
superficialidade
de
um
catálogo
meramente
expositivo,
onde
a
crítica
e
a
criatividade
de
Eliasson
são
mal
representadas.
O
presente
estudo
sobre
Olafur
Eliasson
não
pretende
esgotar
o
tema,
as
interseções
entre
Arte
e
Arquitetura
no
estudo
do
espaço
.
A
trajetória
do
artista
e
sua
multiplicidade
mereciam
mais
aprofundamento,
mas
o
encantamento
diante
de
tamanha
produção
artística,
dificultou
o
processo
de
seleção
e
hierarquia
entre
os
elementos
que
surgiram
com
a
pesquisa.
Acredita-‐se
que
o
conteúdo
exposto
seja
apenas
uma
apresentação
do
universo
em
que
o
artista
trabalha,
podendo
interessar
o
leitor
em
restringir
mais
o
tema
de
aprofundamento,
ao
indicar
estas
fontes
de
pesquisa.
Vale
ressaltar
que
grande
parte
das
fontes
pesquisadas
sobre
Eliasson
encontra-‐
se
em
outros
idiomas,
a
maioria
em
inglês,
portanto
a
tradução
de
alguns
trechos
bem
como
a
leitura
nestes
idiomas
contribui
para
divulgação
deste
conhecimento.
A
página
do
artista
na
internet
oferece
muitas
imagens
e
textos
que
foram
utilizados,
embora
a
interface
de
comunicação
tenha
mudado
recentemente
para
uma
configuração
mais
randômica,
onde
as
obras
podem
ser
agrupadas
de
modo
mais
aleatório,
conforme
o
tema
da
busca.
Inicialmente,
era
possível
acessar
os
textos
antigos
de
outros
artistas,
que
Eliasson
disponibilizava
como
fontes
declaradas
de
referência
e
inspiração.
Dentre
os
assuntos
deliberadamente
não
abordados
nesta
dissertação,
está
a
renomada
produção
em
estruturas
espaciais
de
Frei
Oto,
assim
como
a
ligação
com
o
modo
holístico
de
B.
Fuller
pensar
o
espaço,
fontes
declaradas
por
Eliasson
na
sua
página
digital
anterior.
Em
paralelo
ao
conteúdo
exposto
neste
trabalho,
podem
surgir
188
mais
pesquisas
sobre
temas
correlatos
como
a
dinâmica
colaborativa
do
Studio,
em
Berlim;
ou
a
contribuição
de
Eliasson
para
uma
renovação
do
estudo
da
arte
junto
à
universidade
em
Berlim,
nos
últimos
cinco
anos.
A
complexidade
filosófica
encontrada
no
repertório
do
artista
e
a
variedade
de
obras
tornou
o
trabalho
de
pesquisa
muito
maior
do
que
o
planejado
no
pré-‐projeto
de
dissertação.
Houve
um
longo
período
até
a
definição
das
obras
a
serem
comentadas,
enquanto
os
critérios
adequados
eram
selecionados.
Devido
também
ao
cuidado
em
eleger
uma
estrutura
que
não
fechasse
o
formato
do
trabalho
de
modo
incompatível
com
o
conteúdo
artístico,
conteúdo
aberto
a
interpretações
e
abordagens
diversas.
Desde
o
início,
a
mostra
Take
Your
Time
fazia
parte
da
pesquisa,
mas
não
era
possível
abordar
todo
seu
conteúdo,
visto
que
a
maioria
de
suas
obras
correspondiam
ao
tema
do
recorte
acadêmico:
luz
e
movimento
no
espaço.
No
período
de
seleção
das
obras,
após
os
comentários
da
banca
de
qualificação,
Weather
Project
foi
incluída
na
lista
de
obras
da
pesquisa,
devido
à
sua
relevância
na
trajetória
do
artista.
Com
isto,
surgiu
a
possibilidade
de
agrupar
as
obras
de
Take
Your
Time,
valorizando
o
caráter
experimental
do
artista.
Por
fim,
então,
optou-‐se
por
analisar
duas
exposições
como
aproximação
de
Eliasson,
sabendo
que
sua
produção
é
mais
vasta
e
complexa
do
que
o
material
presente
na
dissertação.
O
fato
de
não
haver
um
fechamento
deste
tema,
não
diminui
a
importância
em
trazer
para
o
meio
acadêmico
brasileiro
o
que
está
sendo
produzido
e
discutido
por
um
artista
estrangeiro
que
tem
pouco
contato
com
a
nossa
realidade,
não
obstante
ter
realizado
uma
grande
exposição
na
década
passada.
Em
consonância
com
a
linha
de
pesquisa
Projeto,
Espaço
e
Cultura,
esta
dissertação
visa
trazer
para
o
meio
acadêmico
o
que
está
sendo
produzido
e
pensado
no
meio
artístico
atual
sobre
espaço.
Visa
promover
este
encontro.
189
ÍNDICE
REMISSIVO:
Capítulo
1.
..........................................................................................................................................
15
Olafur
Eliasson,
o
Contexto
Europeu
e
o
Studio
..................................................................................
15
Olafur
em
Berlim
...............................................................................................................................
15
O
Contexto
Teórico
dos
anos
1990
....................................................................................................
16
A
Globalização
...................................................................................................................................
17
Olafur
Eliasson
e
a
Arquitetura
..........................................................................................................
18
O
Quê
Pesquisar
sobre
Olafur
Eliasson?
............................................................................................
18
1.1
O
Espaço
de
Olafur
Eliasson:
Movimento
e
Luz
........................................................................
20
O
Conceito
de
Espaço
em
Arte
..........................................................................................................
20
A
Experiência
do
Espaço
–
Uma
breve
introdução
............................................................................
20
Luz
nas
Instalações
de
Arte
...............................................................................................................
22
Movimento
nas
Instalações
de
Arte
..................................................................................................
26
1.2
Lázlo
Moholy-‐Nagy
–
Imagem:
Matéria
e
Objeto
de
Investigação
...........................................
29
A
Experimentação
Estética
Com
Fontes
De
Luz
................................................................................
30
A
Experiência
Na
Bauhaus
.................................................................................................................
32
A
Mostra
Retrospectiva
de
Frankfurt.
...............................................................................................
33
As
Publicações
e
O
Ensino
do
Design.
...............................................................................................
36
1.3
James
Turrell
–
Sem
Imagem,
Sem
Objeto,
Sem
Foco
..............................................................
44
O
Movimento
Artístico
na
Califórnia
do
anos
1970
..........................................................................
46
Arte,
Psicologia
e
Tecnologia.
............................................................................................................
46
Os
intervalos
de
tempo
.....................................................................................................................
48
James
Turrell
-‐
Obras
em
Série
..........................................................................................................
48
A
Desaceleração
nas
Obras
de
Turrell
...............................................................................................
53
A
Observação
.....................................................................................................................................
54
A
Perda
de
Referência
.......................................................................................................................
58
Fenômenos
Neurológicos
–
O
Efeito
de
“Ver-‐se
vendo”
...................................................................
60
O
Deserto
..........................................................................................................................................
61
Híbridos
de
Olafur
Eliasson
................................................................................................................
64
Capítulo
2.
..........................................................................................................................................
73
O
entendimento
da
teoria
no
trabalho
de
Eliasson
.............................................................................
73
2.1
Estética
Alemã
-‐
Forma
e
Espaço
..............................................................................................
75
Empatia,
Forma
e
Espaço
..................................................................................................................
75
Vischer
e
Fiedler
-‐
Empatia
e
Visibilidade
..........................................................................................
76
Wölfflin
e
Schmarsow
–
O
Corpo
e
O
Espaço
....................................................................................
77
2.2
Participação
na
Arte
Moderna
..................................................................................................
78
2.3
Fenomenologia
.........................................................................................................................
80
2.4
Temporalidade
na
Fenomenologia
...........................................................................................
81
2.5
Alteridade
.................................................................................................................................
82
Alteridade
na
Fenomenologia
...........................................................................................................
82
190
2.6
Realidade
Negociável
................................................................................................................
83
2.7
Estética
Política
de
Jacques
Ranciére
.......................................................................................
86
2.8
Utopia
.......................................................................................................................................
88
2.9
Estação
Utopia
..........................................................................................................................
90
2.10
Teoria
e
Prática
em
Olafur
Eliasson.
.........................................................................................
92
Neurociência
......................................................................................................................................
92
Sujeito
e
Objeto
-‐
Sociedade
e
Natureza
...........................................................................................
93
Capítulo
3.
..........................................................................................................................................
96
Obras
de
Olafur
Eliasson
....................................................................................................................
96
3.1
O
Projeto
Clima
-‐
The
Weather
Project
.....................................................................................
99
Escala
...............................................................................................................................................
101
Espaço
Interior
Exterior
...................................................................................................................
105
Meteorologia
-‐
Luz
e
Cor
.................................................................................................................
112
A
Auto-‐Observação
..........................................................................................................................
119
O
Museu,
A
Arte
e
O
Engajamento
Público
.....................................................................................
125
O
Weather
Project
e
A
Obra
De
Arte
Total
......................................................................................
130
3.2
Exposição
Take
Your
Time,
2008.
-‐
MOMA
NY
e
São
Francisco,
EUA.
....................................
134
A
Multiplicidade
Do
Artista
.............................................................................................................
134
Obras
Selecionadas
na
Mostra
Take
Your
Time
..............................................................................
144
Pesquisa
Cor
-‐
Spectrum
Colour
Kaleidoscope
(Caleidoscópio
Espectro
de
Cor),
2003.
................
145
Caleidoscópios
e
cristais
......................................................................................................................
145
Pesquisa
Luz
360º
room
for
all
colours
(Sala
360ºpara
todas
as
cores),
2002
.....................................
155
Pesquisa
Projeção
-‐
Remagine
(versão
grande),
2002.
....................................................................
166
Pesquisa
Movimento
-‐
I
Only
See
Things
When
They
Move,
2004.
.....................................................
173
O
Tempo,
O
Espaço,
A
Luz
e
O
Movimento.
....................................................................................
184
Capítulo
4.
........................................................................................................................................
186
Considerações
Finais
........................................................................................................................
186
Referências
......................................................................................................................................
191
191
Referências
Bibliografia
• ARGAN,
Giulio
Carlo.
História
da
Arte
Como
História
da
Cidade.
São
Paulo,
Martins
Fontes,
1992;
• ADORNO
"Teoria
Estética".
• A.
Barrio
–
Manifesto
(
1970),
In:
),
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.262e
263.
• BERGSON,
Henri.
A
Evolução
Criadora.
Tradução
Bento
Prado
Neto.
Ed.
Martins
Fontes.
São
Paulo,
2005.
• BLOCK,
Anders
e
Jensen,
Torben
Elgaard."Bruno
Latour:
Hybrid
Thoughts
in
a
Hybrid
World",
2011.
• BIRNBAUM,D.(2002).
"Olafur
Eliasson",
p.10.
‘Daniel
Birnbaum
in
conversation
with
Olafur
Eliasson’,
Londres.
• BISHOP,
Claire.
Participations
–
Documents
of
Contemporary
Art.
MIT
Press,
2006.
-‐
Walter
Benjamim,
“The
Author
as
Producer”,
citado
por
Claire
Bishop
na
Introduçao,
p.11.
-‐
Nicolas
BOURRIAUD,
"Relational
Aesthetics",
1998.cit.
Participation
p.164.
"The
Subject
of
the
-‐
Artwork"
e
"Conviviality
and
encounters"
cit.Participation,
p.163.
-‐
Ranciére,
Jacques.(2004)
"Problems
and
Transformation
in
Critical
Art".
Participation,
pg.83.
• U.
Boccioni
–
Manifesto
técnico
da
escultura
futurista
(
1912),
in:
H.Chipp
–
Teorias
da
arte
moderna.
São
Paulo:
Martins
Fontes,
1988,
PP.302/308.
1
• BOURRIAUD,
Nicolas.(1998)
"Relational
Aesthetics",
1998.
texto:
“The
Behavioural
Economy
of
Contemporary
Art”.
• BRETT,
Guy.
Between
Work
and
World:
Gabriel
Orozco
in
Carnival
of
Perception:
Selected
Writings
on
Art
by
Guy
Brett,
London:
IvlVA,
2004,
PP.
96-‐105
• BRETT,
Guy.
Brasil
Experimental
–
arte/vida:
proposições
e
paradoxos.
Org.
Katia
Maciel.
Tradução:
Renato
Rezende.
Rio
de
Janeiro,
2005.
Ed.
Contra
Capa.
• BRITO,
Ronaldo.
Neoconcretismo:
vértice
e
ruptura
do
projeto
construtivo
brasileiro.
São
Paulo,
Cosac
&Naify,
1999.
• BRETT,
Guy.
Between
Work
and
World:
Gabriel
Orozco
in
Carnival
of
Perception:
Selected
Writings
on
Art
by
Guy
Brett,
London:
IvlVA,
2004,
PP.
96-‐105
• BRETT,
Guy.
Brasil
Experimental
–
arte/vida:
proposições
e
paradoxos.
Org.
Katia
Maciel.
Tradução:
Renato
Rezende.
Rio
de
Janeiro,
2005.
Ed.
Contra
Capa.
• BROWN,
Julia
(1985)."Interview
with
James
Turrell,"
em
Brown,
ed.,
Occluded
Front:
James
Turrell,
catálogo
da
exposição,
The
Museum
of
Contemporary
Art,
Los
Angeles,
1985,
18.("A
lucid
dream
or
a
flight
through
deep,
clear
blue
skies
of
winter
in
northern
Arizona-‐experiences
like
these
I
use
as
a
source.”)
• CABANNE,
Pierre.
Dialogues
with
Marcel
Duchamp.
With
an
appreciation
by
Jasper
Johns.
Traduzido
do
francês
para
o
inglês
por
Ron
Padgett.
Originalmente
impresso
por
Thames
and
Hudson,
Londres,
1971.
• CASTELLO
BRANCO,
Patrícia.
Paper
“A
Visualidade
Háptica
e
os
Neurónio
Espelho."
apresentado
no
âmbito
dos
‗Seminários
de
Questões
de
Estética
2009/
2010‘,
em
17
de
Dezembro
de
2009,
no
Instituto
de
Filosofia
da
Linguagem,
Faculdade
de
Ciências
Sociais
e
Humanas,
Universidade
Nova
de
Lisboa.
Versão
preliminar
da
seguinte
publicação:
Castello
Branco,
Patrícia
‗Haptic
Visuality
and
Neuroscience‘,
The
Aesthetic
Dimension
of
Visual
Culture,
Cambridge
Scholars
Publishing,
2010
(forthcoming).
• COHN,
Sérgio
(org.)
Ensaios
Fundamentais
Artes
Plásticas.
Rio
de
Janeiro:
Azougue
Editorial,
2010
• DANTO,
Arthur.
“A
Transfiguração
do
Lugar-‐
Comum”
–
tradução
Vera
Pereira.
São
Paulo,
Cosac&Naif,
2005.
• DANTO,
Arthur
Después
del
Fin
del
Arte.
Barcelona,
Paidós,
1999.
• DIDI-‐HUBERMAN,
Georges.
O
que
vemos,
O
que
nos
olha.
Trad.
Paulo
de
Neves.
Editora
34.
São
Paulo,
1998.
• DÉBORD,
Guy.
(1967).
"A
Sociedade
do
Espetáculo".
• DECCA,
Edgar
de.
O
Nascimento
das
fábricas.
Editora
Brasiliense,
São
Paulo,
SP.1982.
192
• ELIASSON,
Olafur.(2007)
“Models
are
Real.”
In
Models:
306090
Books,
Volume
11.
Edited
by
Emily
Abruzzo,
Eric
Ellingsen
and
Jonathan
D.
Solomon.
New
York:
306090,
Inc.,
2007:
18-‐25.
• ELIASSON,
Olafur.(2009)
“Your
Engagement
has
Consequences.”
In
Experiment
Marathon:
Serpentine
Gallery.
Edited
by
Emma
Ridgway.
Reykjavik:
Reykjavik
Art
Museum,
2009:
18-‐21.
• ELIASSON,
Olafur.(2010)
"Inner
City
Out".
Koln,
(Alemanha),
Verlag
der
Buchhandlung
Walter
Konig,
2010.
• N.
Gabo
–
Escultura
:
a
talha
e
a
construção
no
espaço
(1937),
in
:
H.
Chipp,
op.
Cit.,
pp.333/341.
• GRYNSZTEJN,
Madeleine,
org.(2007).
Catálogo
da
Mostra
“Take
Your
Time:
Olafur
Eliasson”.
Museu
de
Arte
Moderna
de
São
Francisco
e
Thames
and
Hudson,
NY
e
Londres.
2007.
• FABIÃO,
Aline
Couri.
Loop:
tecnologia
e
repetição
na
arte.
Rio
de
Janeiro,
2012.
Editora
Torre.
• FERGUSON,
Russel.
Discourses:
Conversations
in
Postmodern
Art
and
Culture.
Edited
by:
Russel
Ferguson,
William
Olander,
Marcia
Tucker
and
Karen
Fiss
with
a
photographic
sketchbook
by
John
Baldessari.
MIT
Press
and
The
New
Museum
of
Contemporary
Art,
1990.
• FULLER,
R.
Buckminster
(Richard
Buckminster),
1895-‐1983.
Buckminster
Fuller:
Starting
with
the
Universe
/
edited
by
K.
Michael
Hays
and
Dana
Miller;
with
essays
by
Antoine
Picon,
Elizabeth
A.
T.
Smith,
and
Calvin
Tomkins.
p.cm.
Catalog
of
an
exhibition
at
the
Whitney
Museum
of
American
Art,
NY,
June
26
–
Sept.
21,
2008.
Includes
bibliographical
references
and
index.
• GIBSON,
James
J.,The
Ecological
Approach
to
Visual
Perception
(Boston:
Houghton-‐Mifflin,
1979
• GRAHAM,
Dan.
–
A
arte
em
relação
a
arquitetura,
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.429/451.
• GRASSKAMP,
Walter.
‘Art
and
the
City’.
In
Sculpture.
Projects
in
Münster
1997
(exh.
Cat.;
English
version)
• C.
Greenberg
–
A
nova
escultura
(1949),
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.67
/
74.
• F.
Gullar
–
Manifesto
Neoconcreto
(1959)
e
Teoria
do
Não
Objeto
(
1960),
in:
COHN,
Sérgio
(org.)
Ensaios
Fundamentais
Artes
Plásticas.
Rio
de
Janeiro:
Azougue
Editorial,
2010
• HEIDEGGER,
Martin.
“A
Questão
da
Tecnologia”,
publicado
originalmente
em
1954.
• HENDERSON,
Linda
Dalrymple.
“Duchamp
In
Context
-‐
Science
and
Technology
in
the
Large
Glass
and
Related
Works”.
Princeton
University
Press
–
Princeton,
New
Jersey.
1998.
• HUSSERL,
Edmund.(1931)“Meditações
Cartesianas:
Uma
Introdução
À
Fenomenologia”,
capítulo
5ª
Meditação.
• IRWIN,
Robert.
Notes
Toward
a
Conditional
Art.
Published
by
th
J.
Paul
Getty
Museum,
Los
Angeles.
2011.
• JAMESON,
Frederic.(1991)
"Pós-‐Modernismo
ou
a
Lógica
do
Capitalismo
Tardio".
• JAMESON,
Frederic.(1997)
"Marxismo
Tardio".título
originalLate
Marxism
–
Adorno,
or,
the
Persistence
of
Dialectic.
traduçãoLuiz
Paulo
Rouanet
Ed.
Boitempo.
coediçãoUnesp.
• JASPERS,
Karl.
1965.
"Introdução
ao
Pensamento
Filosófico".
título
original
KLEINE
SCHULE
DES
PHILOSOPHISCHEN
DENKENS
©
R.
Piper
&
Co.
Verlag,
München
3.ª
edição
MCMLXXVI.
Tradução
portuguesa:
EDITORA
CULTRIX
LTDA.
• JIMENEZ,
Carmen.
Catálogo
da
exposição
James
Turrell
no
Museu
Guggenheim,
NY.
Junho/
set
2013.
• JOHNS,
J.
–
Reflexões
sobre
Duchamp
(1969),
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.208
e
209.
• JUDD,
D.
"Objetos
Específicos"
(1965),
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.96/106.
• KLONK,
Charlotte.
Spaces
of
Experience:
ArtGalleryInteriorsfrom
1800to
2000
(New
Haven
and
London:
Yale
University
Press,
2009),
p.108
• KRAUSS,
Rosalind
Mudanças
na
Escultura
Moderna.
São
Paulo,
Martins
Fontes
1998.
_____
The
Originality
of
the
Avant-‐garde
and
Other
Modernist
Myths.
Cambridge,
MIT
Press,
1986.
• R.
Krauss
–
Sculpture
in
Expanded
Field,
In:
The
originallity
of
th
avant-‐garde
and
other
modernist
myths.
Cambridge
and
London
:
MIT
Press
,
1978,
pp.277/290
–
Revista
Gávea
(
PUC)
• KRYSTASYKES,org.
(2012)
"O
Campo
Ampliado
da
Arquitetura"
• MEIRELLES,
Cildo.
–
Inserções
em
circuitos
ideológicos
(1970)
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006.
• MAY,
Susan.(2003)
catálogo
"The
Weather
Project",
Londres.
Ed.Thames
and
Hudson.
193
• MERLEAU-‐PONTY,
Maurice.
(1964)
O
olho
e
o
espírito.
Ed
Cosacnaify.
Coleção
portátil
numero
24.
São
Paulo,
2013.
Título
original:
Lóeil
et
lésprit,
Paris,
Gallimard,
1964.
• MERLEAU-‐PONTY,
Maurice.(1945).
Fenomenologia
da
Percepção;
[tradução
Carlos
Alberto
Ribeiro
de
Moura].
-‐
2-‐
ed.
-‐
São
Paulo
:
Martins
Fontes,
1999.
Título
original:
Phénoménologie
de
Ia
perception.
• METZGER,
Wolfgang.
“OptischeUntersuchungenamGanzfeld,
II.
ZurPhanomenologie
des
homogenenGanzfelds,”
PsychologischeForschung
13
(1930):
6-‐29.
• MORRIS,
Robert.
–
O
tempo
presente
do
espaço
(1978)
In:
G.Ferreira
e
C.
Cotrim
–
Escritos
de
Artistas
–
anos
60/70,
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
2006,
pp.401/420.
• MORRIS,
Robert.
October
Files.
Edited
by
Julia
Bryan-‐Wilson.
The
MIT
Press,
Cambridge,
Massachussets.
• MOHOLY-‐NAGY,
Lászlo.
(1927)
Painting
Photography
Film.
• MOHOLY-‐NAGY,
Título
original
:
Von
material
zu
architktur
(1929).
"Do
material
à
Arquitetura"(2005),
Trad.Pedro
Sussekind
,
Editorial
Gustavo
Gilli,
AS,
Barcelona.
Publicado
originalmente
por
Gebr.
Mann
Verlag,
Berlim,
em
2001,
que
por
sua
vez
já
era
uma
reimpressão
fac-‐
símile
da
edição
de
1929,
impressa
por
druckhaus
köthen
gmbh,
Köthen.Anexos:
Otto
Stelzer:
Esboço
de
um
experimento
criador
e
Hans
M.
Wringler:
Da
Bauhaus
ao
Intitute
of
Design.
• L.
Moholy-‐Nagy
–
The
New
Bauhaus
and
space
relationship
(
1937),
in:
J.
Wood,
D.
Hulks,
A.
Potts
–
Modern
Sculpture
reader.
Leeds:
Henry
Moore
Institute,
2007,
pp.159/164.
• MOHOLY-‐NAGY,
Lászlo.
"
Light:
A
New
Medium
of
Expression"
-‐
Architectural
Forum,
LXX,
may
1939.
• MOHOLY-‐NAGY,
Lászlo.
(1947)
Vision
in
Motion,
Chicago.
• NESBITT,Kate(org.).
Uma
nova
agenda
para
a
arquitetura:
antologia
teórica
(1965-‐1995).
São
Paulo:
Perspectiva,
2003;
• OBRIST,
Hans
Ulrich.
Olafur
Eliasson
–
The
Conversation
Series.
Colônia
(Alemanha),
Verlag
der
Buchhandlung
Walter
Konig,
2008.
• PASSARO,
Prof.
Andrés
Martin.
Apostila
da
UFRJ:
Relação
entre
a
teoria
e
a
prática
arquitetônica.
Teoria
do
Projeto.
DPA
/
FAU
UFRJ
semestre
02/2002.
Texto13:
Light
Construction
–
Terence
Rilley
(1996)
–
MACBA
GG.
• RANCIÉRE,
Jacques.
”Estética
e
Política”.
• RAMOS,
Edla
M.
F.
“O
trabalho
de
Humberto
Maturana
e
Francisco
Varela”
.
• ROGERS,
E.N.;
SERT,J.L.;
TYRWHITT,J.
Il
Cuore
della
città:
per
una
vita
più
umana
delle
comunità.
Congressi
Internazionali
de
Architettura
Moderna.
Milano,
Hoepli
Editore,
1954.
• TAUT,
Bruno.
1920.
Escritos
1919-‐1920.
Publicado
em
“Bruno
Taut
–
Escritos
Expressionistas”.
Coleção
Biblioteca
de
Arquitetura,
vol.6
–
Ed.
El
Croquis,
Madrid,
1997.
• VARELA,
Francisco
J.
(1992)
‘The
Re-‐enchantmentofthe
Concrete’,
in
Incorporations.
• WHITEREAD,
Rachel;
A.
Rose
–
Interview
(
1997),
in:
J.
Wood
et
alii.
–
op.
cit.,
pp.
449/462.
• WISNIK,
Guilherme.
Tese
de
Doutorado:
“Dentro
Nevoeiro:
Diálogos
Cruzados
entre
arte
e
arquitetura
contemporânea”.
São
Paulo:
Pós
graduação
FAU
USP,
2012.
WERTHEIM,
Margareth
.
Uma
História
do
espaço
–
de
Dante
à
Internet.
Tradução,
Maria
Luiza
X.de
A.Borges;
revisão
técnica.
Paulo
Vaz.
–
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar
Ed.,2001
• VENTURI,
Robert.
Complexidade
e
Contradição
em
Arquitetura.
(original:
Moma
NY,1966)
edição
brasileira:
São
Paulo.
Ed.Martins
Fontes,
1995.
Internet
/
fonte
digital:
• http://www.tipografos.net/fotografia/moholy-‐nagy.html
-‐
HEITLINGER,
Paulo.
2007.
Série
de
artigos
"Fotografia:
Vanguardistas
-‐
Lászlo
Moholy-‐Nagy"
• 2002_Remarks_on_nature
(fonte:
site
www.olafureliasson.net)
• Entrevista
de
Eliasson
concedida
à
Mark
Wigley,
em
2010.
• ADCOCK,
Craig.
“The
Interface
between
Exterior
and
Interior
Light”
http://therodencrater.org/noimage/intrface/index.htm
• http://blogs.artinfo.com/lacmonfire/2013/04/23/turrells-‐ganzfeld-‐experiment-‐part-‐2/
• http://www.ted.com/talks/olafur_eliasson_playing_with_space_and_light/transcript
Publicações
Periódicas
e
Catálogos
de
Autoria
Desconhecida:
194
• Revista
TYT
[“Take
Your
Time”],
Vol.2
:
Printed
Matter.
Publicação
da
mostra
Mediare
l’esperienza:
I
libri
di
Olafur
Eliasson.
Biblioteca
Universitaria
di
Bologna,
Itália.
19set-‐03
out
2009.
Parte
do
Artelibro
Festival
Del
Libro
d’Arte.
Curador:
Luca
Cerizza.
• Catálogo
da
exposição
bauhaus.foto.filme-‐
SESC
Pinheiros.
São
Paulo,
2013.
• The
Museum
of
Modern
Art
in
This
Century.
Published
by
MOMA.
Edited
by
Emily
Hall.
Director
Glenn
D.
Lowry,
2009.
• Catálogo
da
exposição
bauhaus.foto.filme-‐
SESC
Pinheiros.
São
Paulo,
2013.
• Catálogo
da
exposição
Dan
Graham:
Beyond,
fev/maio
2009.
Museum
of
Contemporary
Art,
Los
Angeles
–
California.
Registros
Audio-‐Visuais:
• Vídeos
transcrito
:
James
Turrell
Video
Transcript
-‐
Solomon
R.
Guggenheim
Museum,
New
York.
Jun21/
Sept
25,
2013.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
195
Figura
1
-‐
Your
roundabout
movie.
Foto:
Galpão
Fortes
Vilaça,
São
Paulo,
2013.
.....................................
24
Figura
2
-‐
A
obra
Life
is
lived
along
lines
que
Eliasson
exibiu
a
mostra
Your
Chance
Encounter,
em
2009.
Kanazawa,
Japão.
.......................................................................................................................................
25
Figura
3
-‐
"Turner
colour
experiments",
Eliasson.
Nov
2014.
Tate
Britain,
Londres.
/
Fig.
3b
Tela
de
William
Turner
entitulada
A
Manhã
Após
o
Dilúvio-‐
Moisés
Escrevendo
o
Livro
da
Genesis,
1843.
.........
31
Figura
4
-‐
Fotografias
de
Moholy-‐Nagy
publicadas
no
livro
Painting
Photography
Film,
1927.
.................
32
Figura
5
-‐
Inner
City
Out
de
Olafur
Eliasson.
Berlim,
2011.
.......................................................................
34
Figura
6
-‐
Modulador
de
Luz
e
Espaço,
1922/1930.
Lászlo
Moholy-‐Nagy.
.................................................
35
Figura
7
-‐
Efeitos
especiais
para
o
filme
"Things
to
Come"
de
H.G.Wells
e
A.Korda.
Moholy-‐Nagy,
1936.
36
Figura
8
-‐
Página
do
livro
Pintura
Fotografia
Filme.
Moholy-‐Nagy,
1925.
Exemplo
do
método
de
ensino
utilizado,
definindo
conceitos
bem
resumidamente.
.................................................................................
38
Figura
9
-‐
Legenda
original
do
livro
Vision
in
Motion:
"Instituto
de
Design.
Esculturas
manuais.
Como
pedras
na
areia,
apresentando
infinitas
variedades,
esculturas
manuais
são
similarmente
concordantes
aos
olhos
e
mãos
nos
seus
contornos
fluidos
e
formas
agradáveis.
..........................................................
39
Figura
10
-‐
Modulador
de
Luz
e
Espaço,
1922/1930.
Lászlo
Moholy-‐Nagy.
...............................................
40
Figura
11
-‐
Fotografia
de
Moholy-‐Nagy.
.....................................................................................................
41
Figura
12
-‐
Olafur
Eliassson.
Galpão
Fortes
Vilaça,
São
Paulo,
2013.
.........................................................
42
Figura
13
-‐
Cronologia
de
Moholy-‐Nagy
-‐
quadro
desenvolvido
para
esta
pesquisa.
................................
43
Figura
14
-‐
MendotaStoppages,
1970.
.......................................................................................................
45
Figura
15
-‐
Experimento
spectroscópico.
Studio
Olafur
Eliasson,
Berlim,
2013.
.......................................
47
Figura
16
-‐
a.
Sentimentos
São
Fatos
/
b.
Sala
360
graus
para
todas
as
cores.
/
c.
Room
for
one
colour
(todas
obras
de
O.
Eliasson)
.......................................................................................................................
49
Figura
17
-‐
Cross
Corner
Projections,
1968:
Afrum,
Alta
White
e
Arco
Green.
........................................
50
Figura
18
-‐
Single
Wall
Projection
-‐
Wedge
Work
V,
no
Yorkshire
Sculpture
Park,
2006.
..........................
51
Figura
19a
/
b.
Live-‐Oak-‐Friends-‐Meeting-‐James-‐Turrell/
c.
Skyspace
I
.
Itália,
1975.
...............................
51
Figura
20
-‐
Série
de
Construções
de
Divisões
Espaciais,
obras
de
James
Turrell.
Iltar,
1976.
....................
52
Figura
21
-‐
Your
Colour
Memory,
montada,
em
2004,
na
Arcadia
University
Art
Gallery
,
Pensilvânia.
...
54
Figura
22
-‐
Croquis
de
Your
Colour
Memory
..............................................................................................
55
Figura
23
-‐
Irwin
e
Turrell
com
um
hemisfério
Ganzfeld,
1969.
.................................................................
55
Figura
24
-‐
LACMA,
2013.
...........................................................................................................................
57
Figura
25
-‐
Breathing
Light,
obra
Ganzfeld
de
Turrell
exposta
no
LACMA,
em
Los
Angeles,
em
2013.
.....
59
Figura
26
-‐
Mostra
Feelings
are
Facts
-‐
Olafur
Eliasson.
Pequim,
2010.
.....................................................
59
Figura
27
-‐
Instalação
Take
Your
Time,
Olafur
Eliasson.
Foto:
Pinacoteca
de
São
Paulo,
2011.
................
60
Figura
28
série
de
fotografias
"Luz
Diurna
de
Domadalur".
.......................................................................
63
Figura
29
-‐
Pavilhão
Dagslys
de
Olafur
Eliasson.
Horsholm,
2007.
.............................................................
68
Figura
30
-‐
INSTALAÇÃO
NA
BIENAL
DE
VENEZA,
2003.
ESTAÇÃO
UTOPIA.
...............................................
72
Figura
31
-‐
WEATHER
PROJECT
-‐
SALA
DA
TURBINA
DA
TATE
MODERN,
LONDRES,
2003.
.......................
98
Figura
32
-‐
Serpentine
Gallery.
Olafur
Eliasson
e
Kjetil
Thorsen,
2007.
...................................................
104
Figura
33
-‐
Moss
Room,
1994.
..................................................................................................................
106
Figura
34
-‐
The
Mediated
Motion(foto
superior)
e
Bed
River
(
foto
acima)
............................................
107
Figura
35
-‐
Your
now
is
my
surroundings,
2000.
Galeria
Bonakdar
Jancou,
NY.
foto:
Oren
Slor
..............
107
Figura
36
-‐
Microscópio
para
São
Paulo,
2011.
Pinacoteca
de
São
Paulo.
...............................................
108
Figura
37
-‐
Pavilhão
dinamarquês
na
50a.
Bienal
de
Veneza.
Foto:
Giorgio
Boato
..................................
110
Figuras38
-‐
Pavilhão
dinamarquês
na
50a.
Bienal
de
Veneza.
Foto:
Giorgio
Boato
.................................
110
Figura
39
-‐
Instalação
de
Eliasson
The
inverted
shadow
tower,
2004.
Kunstmuseum,
Alemanha.
.........
111
Figura
40
-‐
YourRainbow
Panorama.
Obra
de
Eliasson
em
Aarhus,
Dinamarca,
2011.
............................
114
Figura
41
-‐
Eliasson
dentro
do
modelo
de
YourRainbow
Panorama,
escolhendo
cada
tonalidade
de
vidro.
.................................................................................................................................................................
114
Figura
42
-‐
Interior
de
Your
Rainbow
Panorama.
.....................................................................................
115
Figura
43
-‐
Iltar,
obra
de
James
Turrell.
....................................................................................................
120
Figura
44
-‐
Your
Blind
Mouvement,
obra
de
Eliasson.
..............................................................................
120
PÁGINA
ANTERIOR:
Figura
45
-‐
Weather
Project,
Tate
Modern.
Londres,
2003.
.....................................
124
Figura
46
-‐
Projeto
de
Eliasson
para
o
Museu
Hirshhorn,
Washington,
EUA.
..........................................
129
Figura
47
-‐
Foto
da
instalação
"Take
Your
Time"
na
Pinacoteca
de
São
Paulo,
em
2011.
.......................
133
Figura
48
-‐
Em
cima,
fotos
da
montagem
Take
Your
Time.
Embaixo,
visitante
olhando
para
Sunset
Kaleidoscope.
...........................................................................................................................................
137
Figura
49
-‐
Foto
da
obra
Model
Room,
2003.
..........................................................................................
138
196
Figura
50
-‐
Caleidoscópio
do
por-‐do-‐sol
(sunset
kaleidoscope).
..............................................................
141
Figura
51
-‐
Parede
de
quasi
tijolos,
obra
de
Eliasson.
..............................................................................
141
Figura
52
-‐
Reversed
Waterfall,
1998.
......................................................................................................
141
Figura
53
-‐
Beauty,
1997.
.........................................................................................................................
141
Figura
54
-‐
1m3
light,
1999.
.....................................................................................................................
142
Figura
55
-‐
The
horizon
series.
.................................................................................................................
142
Figura
56
-‐
Remagine.
...............................................................................................................................
143
Figura
57
-‐
Caleidoscópio
Espectro
de
Cor
(
Colour
Spectrum
Kaleidoscope),
2004.
...............................
145
Figura
58
-‐
Caleidoscópio
spectro
de
cor,
2003.
Foto
de
Take
Your
Time
na
galeria
PS1
-‐
MoMa
NY.
...
146
Figura
59
-‐
Imagem
da
estrela
de
cor
baseada
num
croquis
de
Paul
Klee.
fonte:
publicação
da
USP
"Espaço
Cor",
autora
Élide
Monteglio.
.....................................................................................................
148
Figura
60
-‐
Cânone
da
Totalidae
Cromática.
Croquis
de
Paul
Klee.
Fonte:
publicação
da
USP
"Espaço
Cor",
autora
Élide
Monteglio.
............................................................................................................................
148
Figura
61
-‐
Caleidoscópio
do
Pôr
do
Sol
(Sunset
Kaleidoscope),
2005.
....................................................
149
Figura
62
-‐
Pavilhão
de
Vidro,
Colônia,
1914.
Arquiteto
Bruno
Taut.
Dizeres
no
panfleto
do
pavilhão:
“o
edifício
em
vidro
não
tem
nenhuma
outra
função
que
não
seja
a
de
ser
bonito”.
.................................
150
Figura
63
-‐
Edifício
Gherkin,
Londres,
2007.
Arquiteto
Norman
Foster
...................................................
151
Figura
64
-‐
INTERIOR
-‐
Pavilhão
de
Vidro,
Colônia,
1914.
Arquiteto
Bruno
Taut.
....................................
152
Figura
65
-‐
INTERIOR
DA
CÚPULA
-‐
Edifício
Gherkin,
Londres,
2007.
Arquiteto
Norman
Foster
.............
152
Figura
66
-‐
Fachada
da
Sala
Nacional
de
Concertos
e
Conferências
da
Islândia,
em
Reijvik.
..................
153
Figura
67
-‐
Interior
da
fachada
do
Centro
Nacional
de
Concertos
e
Convenções
da
Islândia,
em
Reijvik.
.................................................................................................................................................................
154
Figura
68
-‐
Fotos
da
instalação“360º
room
for
all
colours”,
à
esq.
exterior
e,
à
dir.,
interior
da
instalação.
................................................................................................................................................
159
Figura
69
-‐
Obra
“Wannabe”
na
montagem
da
mostra
“
Your
choice
encounter”.
...............................
161
Figura
70
-‐
Wannabe
na
montagem
de
Take
Your
Time
no
Moma
NY,
em
2007.
...................................
162
Figura
71
-‐
Your
colour
memory,
2004.
....................................................................................................
165
Figura
72
-‐
Moma
NY,
Olafur
Eliasson.
“Remagine”:
projeções
que
simulam
profundidades
diversas
em
superfície
plana.
.......................................................................................................................................
167
Figura
73
-‐
Remagine,
2002.
.....................................................................................................................
167
Figura
74
-‐
Remagine,
2002.
.....................................................................................................................
168
Figura
75
-‐
Wall
Eclipse.
Moma,
2007.
.....................................................................................................
169
Rhytmus
21,
1921.
Hans
Ritcher.
Figura
76
–
a.
Contatos
de
todas
as
imagens
do
filme.
/Figura
4
b.
Penúltima
imagem
do
filme.
....................................................................................................................
170
Figura
77
-‐
Foto
da
exibição
de
‘Sua
Cidade
Empática”no
SESC
Pompeia,
em
2011.
..............................
171
Figura
78
-‐
Foto
da
exibição
de
‘Sua
Cidade
Empática”no
SESC
Pompeia,
em
2011.
..............................
171
Figura
79
-‐
Foto
da
obra
"I
Only
See
Things
When
They
Move",
2004.
...................................................
173
Figura
80
-‐
Foto
de
visitantes
dentro
da
sala
do
Moma
com
a
instalação
"I
Only
See
Things
When
They
Move",
Nova
Iorque,
em
2008.
................................................................................................................
174
Figuras
81a)
e
b)
-‐
“I
Only
See
Things
When
They
Move”",
Olafur
Elliasson.
2004
..................................
175
Figura
82
-‐
1930,
Instalação:
“Light-‐Space
Modulator"
(Modulador
de
Espaço-‐Luz),
Lazlo
Moholy-‐Nagy.
.................................................................................................................................................................
178
Figura
83
1930/32
–
Filme:
“Um
jogo
de
luz:
preto-‐branco-‐cinza”,
6’,
mudo,
16mm
(originalmente
35
mm),
p&b.
Direção,
câmera,
edição
e
produção:
Lazlo
Moholy-‐Nagy.
....................................................
178
Figura
84
-‐
foto
da
instalação
We
Only
Meet
When
We
Move
no
ARoS
Aarhus
Kunstmuseum.
Dinamarca,
2004.
........................................................................................................................................................
180
Figura
85
Foto
da
instalação
We
Only
Meet
When
We
Move,
2004.
......................................................
180
Figura
86
One-‐Way
Colour
Tunnel
(túnel
de
Uma
Direção),
instalação
mostra
Take
Your
Time.
Moma
São
Francisco,
em
2007.
...........................................................................................................................
182
Figura
87
-‐
Moholy-‐Nagy
em
Vision
in
Motion,
1947.
p.167.
...................................................................
185
197