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Multi, trans e interdisciplinar: uma abordagem histórica

1 https://humanidadesdigitais.institutoconex.org/index.php/sobre/ Multi, trans e interdisciplinar: uma abordagem histórica Pedro Paulo A. Funari - Unicamp 2 A ciência é uma invenção moderna, do século XVIII. Na Antiguidade, o conhecimento do mundo compreendia tudo: a vida vegetal, animal e humana, a terra e o cosmo, as sociedades, povos e culturas, os números e cálculos, a construção, tudo estava considerado de maneira integrada. Aristóteles (385322 a.C.) mostra bem isso, ao escrever sobre todos os temas. A universidade de origem medieval seguia essa tradição, mas colocava no centro o conhecimento de Deus, a Teologia, assim como tanto a epistemologia, como a administração estava nas mãos da hierarquia religiosa (Católica ou Protestante) e do soberano. O Renascimento viria a introduzir mais atenção aos temas não cristãos, a observação e a experimentação, mas seria apenas no correr do século XVIII que a revolução industrial e capitalista, o Iluminismo e a criação do estado nacional e imperialista viriam a favorecer a nova concepção de ciência e de universidade. O conhecimento passou a prescindir da explicação teológica, a partir da noção de que o ser humano tudo poderia entender, por meio do princípio da razão crítica. Razão (ratio) vem do verbo latino reor cujo significado é valorar, estimar, calcular, daí que ratio seja valoração, estimação, cálculo e, daí razão. Crítica deriva de krino, em grego, separar, de modo que tudo separar e classificar, esse o fundamento da ciência moderna e disciplinar. A antiga palavra latina, disciplina, a arte de aprender, adquire o sentido de especialização, ou disciplina acadêmica, no contexto da nova universidade iluminista, com administração mais independente da igreja e do soberano, no século XIX. Surgem disciplinas acadêmicas, desde então, de forma constante. Hoje, a tabela do CNPq conta com mais de 1260. Esse processo de divisão foi criticado ou complementado pela relação entre elas. Por um lado, a especialização crescente parece inevitável, ao considerar a profundidade e a complexidade de todos os campos disciplinares. Por outro, a solução dos desafios ambientais, sociais, políticos, tecnológicos e científicos impulsionam abordagens multi, trans e interdisciplinares. A junção de diversas (multi) disciplinas para tratar de questões concretas, a trans (que vai e vem) disciplinas que se relacionam para se cruzar, e inter, disciplinas que estão em relação, cada uma em sua seara. Uma questão central refere-se à relação entre o conhecimento universal, por um lado, e as expectativas específicas. Sem uma integração das duas perspectivas, nada será possível, senão a catástrofe. 3 Referência Alvargonzález, D. Multidisciplinarity, Interdisciplinarity, Transdisciplinarity, and the Sciences, International Studies in the Philosophy of Science, Vol. 25, No. 4, December 2011, pp. 387 –403.