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A TEORIA DO PENSAMENTO DE BION

2014

Instituto Universitário das Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida 2º ano do Mestrado Integrado em Psicologia Psicologia Psicanalítica I (1º semestre) 14 de novembro de 2014 A TEORIA DO PENSAMENTO DE BION Bion, W. R. (1962). A theory of thinking. International Journal of Psycho-Analysis, 43, 306-10 Docente: Prof. Doutor Pedro Aleixo Discentes: turma 8, grupo 5 22877 – Filipa Albuquerque; 22777 – Catarina Figueiredo Lopes; 22757 – João David Martins BIOGRAFIA - Nasceu a 8 de setembro de 1897, em Muttra, Punjab, na Índia onde viveu até aos 7 anos Wilfred Ruprecht Bion - Relação distante e conflituosa com a família - Aos 8 anos foi estudar para Inglaterra - Aos 17 anos manifestou uma crise emocional - Aos 19 anos ingressou nas forças armadas, tendo participado na 1ª Grande Guerra, sendo mais tarde consagrado como herói - Foi reconhecido em várias áreas de conhecimento científico - Fez psicoterapia com J. Rickmann (1937-1939) e Melanie Klein (1945-1953) - Casou-se duas vezes e teve 3 filhos - Deu várias conferências e publicou várias obras - Morre em1979, em Inglaterra, com 82 anos 2 Zimerman (1995) ENQUADRAMENTO Influência da cultura oriental hinduística Apredizagem emocional ao longo da vida Preocupações epistemológicas Formação multidimensional Identidade psicanalítica de Bion Experiência emocional que decorre da prática psicanalítica Uma linguagem própria Incorporação de postulados de Freud e Klein 3 Zimerman (1995) A INFLUÊNCIA DE FREUD “deceção ante a ausência da satisfação esperada motivou o abandono de sua tentativa de satisfação por meio de alucinações (como é a do bebé, a gratificação alucinatória do seio) e para substituí-lo o aparelho psíquico teve que decidir-se a representar intrapsiquicamente as circunstâncias reais do mundo exterior, e tender à sua modificação real” (Freud, cit. por Zimerman, 1995) Processo primário: princípio do prazer • Tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, procura a satisfação de uma necessidade, ignorando tudo o resto (Kehl, 2002) Processo secundário: princípio da realidade • Compreender e aceitar que nem tudo o que se deseja é possível; que se for possível nem sempre é imediato e que pode não ser conservável (Chauí, 1984). 4 A INFLUÊNCIA DE MELANIE KLEIN § Bion cria as suas teorias com base em dois conceitos Kleinianos principais. A mãe quando amamenta, além de satisfazer a necessidade do seu bebé serve de continente para todos os sentimentos de frustração da criança. Identificação Projetiva A partir deste conceito, Bion cria o conceito de Continente – Conteúdo Bion a partir de Klein Posição Esquizoparanoide e Posição Depressiva Bion faz uma expansão deste conceito, atribuindo-lhe dinâmicas diferentes: Modelo de Oscilação da Posição Esquizoparanoide e da Posição Depressiva A eliminação do seio mau dentro da mãe (continente), constitui a eliminação de um elemento β através do mecanismo de identificação projetiva. Para Bion, esta transição acontece sempre que se organiza um elemento alfa e sempre que um pensamento se torna mais abstrato. Bion, entende que este movimento é bidirecional 5 Amaral Dias (1998); Symington & Symington (2014) MODELOS PSICANALÍTICOS POR BION Modelo da oscilação entre Posição Esquizoparanoide e Posição Depressiva (PS – D): ¢ Este modelo pretende representar: — Uma interação das posições Esquizoparanoide (PS) e Depressiva (D), descritas por Klein. — Representa, também, a reação à descoberta/ao emergir do facto selecionado suscita. — A Posição Esquizoparanoide reflete uma fragmentação do objeto. — A Posição Depressiva reflete a sintetização do objeto, pela definição do facto selecionado ou elemento α — Quando o facto selecionado emerge, organiza-se à sua volta uma série de associações. — A transição PS – D representa o processo que vai da percepção das impressões dos sentidos ao emergir do facto selecionado, unificador. Esta transição é simultaneamente a forma como se transforma os elementos β em elementos α. associações •elementos dispersos captados pelos sentidos (internoexterno) Elementos β Sentimento doloroso •Medo do desconhecido •frustração •Os elementos mantêm-se dispersos até ao emergir do facto selecionado Facto selecionado •A mente organiza-se em torno de associações à volta do facto selecionado Função ∝ •Essa penumbra de associações à volta do facto selecionado dão sentido, unificam. •Os elementos B unificam-se dando lugar a elementos Alfa Reduz a intensidade da dor 6 Amaral Dias (1998); Symington & Symington (2014) MODELOS PSICANALÍTICOS POR BION Modelo do Continente-conteúdo (♀ ♂): Designa um tipo de modelo baseado no uso da identificação projetiva, em que o continente (♀) se constitui como um lugar onde o objecto é projetado, enquanto o conteúdo (♂) é o objecto que pode ser projetado no interior de um continente. Identificação projetiva: tem duas contribuições aos olhos de Bion. Pode ser normal e favorece a empatia; pode ser usada pelo psicanalista para entender o paciente, especialmente os mais agressivos, como uma forma primitiva de linguagem e comunicação Conteúdo (Elementos β) Bebé FUNÇÃO α Conteúdo transformado (elementos α) ♀ Continente (mãe) Reverie 7 Amaral Dias (1998); Zimerman (1995) CONCEITOS ESSENCIAIS Barreira de contato • Resulta do conjunto formado pelos elementos α. Delimita a fronteira entre consciente e inconsciente e, memso sendo permeável impede que a fantasia prevaleça sobre a realidade • Designa que a realidade psicanalítica não pode ser conhecida pelos “Coisa em si” órgãos dos sentidos, mas somente pelos fenómenos secundários observáveis e, clinicamente, pode expressar-se pela evacuação de elementos β • São as impressões sensoriais e as experiências emocionais Elementos α transformadas, predominantemente, em imagens visuais, e que são utilizadas pela mente para a formação de sonhos, recordações e para as funções de simbolizar e de pensar • Quando as impressões sensoriais e as experiências emocionais não Elementos β conseguem ser transformadas, elas devem ser expulsas /evacuadas. Por isso não se prestam para a função de pensar e são 8 vivenciados concretamente como coisas em si Zimerman (1995) CONCEITOS ESSENCIAIS (CONT.) • Ausência real do seio que nutre é vivida pelo bebé (ou pelo paciente em situação analítica) como um não seio ou como um seio ausente Não seio presente dentro dele. Se o bebé não tolera essa frustração, o consequente excessivo ódio promove uma dinâmica psicótica; se tolera bem, esse não seio evolui para a capacidade de pensar os pensamento gerados pela frustração • Constitui os elementos protomentais que ficam aglomerados, não Tela β sintetizados e, portanto, sem a capacidade de estabelecer vinculos entre si, e que por isso não delimitam o consciente do inconsciente Função α • Processo de transformação de elementos β em elementos α, através de um processo de identificação projetiva. Esta função é interiorizada. • Designa a capacidade da mãe (ou do psicanalista) de permanecer Reverie com uma atitude receptiva, de acolher, descodificar, significar e nomear as angústias do filho (ou do paciente) e somente depois 9 devolvê-las devidamente desintoxicadas Zimerman (1995) A TEORIA DO PENSAMENTO DE BION Protopensamento Bebé Pré-concepção (inata para o seio bom) Concepção Conceito Pensamento Aparelho para pensar o pensamento 10 Grinberg, L., Sor, D. & Bianchedi, E. T. (1973); Zimerman (1995) A TEORIA DO PENSAMENTO DE BION (CONT.) Tolerância Inata Inexistente na presença de uma necessidade não satisfeita surge frustração (o não seio) Elementos α Elementos β Pensamento Objeto mau Reverie Mundo int. vs ext. Psiquismo Modelo ♀ ♂ PS ↔ D Dissociação Negação Idealização Identificação projectiva Publicação Comunicação Senso comum Splitting 11 Grinberg, L., Sor, D. & Bianchedi, E. T. (1973) A GRELHA ¢ Consiste num modelo para servir como instrumento para que o psicanalista após a sessão possa situar em que nível de evolução e de utilização de pensamento está o paciente e o próprio analista Níeveis distintos de pensamento Aumento crescente da complexidade Uso dado às categorias (total 48) Transição segundo a aprendizagem pela experiência Enunciado (e.g., gesto, expressão) Categorias de enunciados não saturados, i.e., encontram capacidade de acumular significado 12 Grinberg, L., Sor, D. & Bianchedi, E. T. (1973); Zimerman (1995) Enúnciados falsos e que impedem outros geradores de mudança catastrófca Registo de facto que cumpra a notação e memória Serve para explorar o meio e é importante na discriminação Tende a ligar os factos que foram descobertos previamente e que estão numa conjunção constante utilizada para enunciados que permitem a exploração dirigida a um objecto particulas das coisas representa o uso de pensamentos relacionados com a acção ou com transformações em acções Estado mental de expectativa adaptado para receber uma margem restrita de fenómenos Estado integra uma experiência de realização com predomínio sensopercetivo Deriva de um processo abstracto que libertou os elementos sensopercetivos (e.g. Leis da natureza) Combinação de conceitos e hipóteses vinculados entre si numa relação lógica Vários sinais podem ser agrupados de acordo com regras de combinação, como na matemática 13 *B, C e G objectos psicanalíticos que têm dimensões sensorial, mitológica e de teoria psicanalítica Grinberg, L., Sor, D. & Bianchedi, E. T. (1973) REFERÊNCIAS Bion, W. R. (1962). A theory of thinking. International Journal of Psycho-Analysis, 43, 306-10. Chauí, M. (1984). Repressão sexual: Essa nossa (des)conhecida. São Paulo: Editora brasileirense Dias, C.A., & Fleming, M. (1998). A Psicanálise em Tempo de Mudançacontribuições teóricas a partir de Bion. Porto: Edições Afrontamento Grinberg, L., Sor, D. & Bianchedi, E. T. (1973). Introdução às ideias de Bion. Rio de Janeiro: Imago editora Kehl, M. R. (2002). Sobre ética e psicanálise. São Paulo: Companhia das letras Symington, J & Symington N. (2014). O Pensamento Clínico de Wilfred Bion. Lisboa: Climepsi Editores Zimerman, D. E. (1995). Bion: Da teoria à prática – uma leitura didática. Porto Alegre: Artes médicas 14