FACULDADE DE LETRAS
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
FICHEIRO EPIGRÁFICO
(Suplemento de «Conimbriga»)
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INSCRIÇÕES 662-664
INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, ESTUDOS EUROPEUS, ARQUEOLOGIA E ARTES
COIMBRA 2018
ISSN 0870-2004
FICHEIRO EPIGRÁFICO é um suplemento da revista CONIMBRIGA,
destinado a divulgar inscrições romanas inéditas de toda a Península Ibérica,
que começou a publicar-se em 1982.
Dos fascículos 1 a 66, inclusive, fez-se um CD-ROM, no âmbito do Projecto de Culture 2000 intitulado VBI ERAT LVPA, com a colaboração da Universidade de Alcalá de Henares. A partir do fascículo 65, os volumes estão
disponíveis no endereço http://www.uc.pt/luc/iarq/documentos_index/icheiro.
Publica-se em fascículos de 16 páginas, cuja periodicidade depende da
frequência com que forem recebidos os textos. As inscrições são numeradas de
forma contínua, de modo a facilitar a preparação de índices, que são publicados no termo de cada série de dez fascículos.
Cada «icha» deverá conter indicação, o mais pormenorizada possível,
das condições do achado e do actual paradeiro da peça. Far-se-á uma descrição completa do monumento, a leitura interpretada da inscrição e o respectivo comentário paleográico. Será bem-vindo um comentário de integração
histórico-onomástica, ainda que breve.
José d'Encarnação
Toda a colaboração deve ser dirigida a:
Instituto de Arqueologia
Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes
Faculdade de Letras | Universidade de Coimbra
Rua de Sub-Ripas | Palácio Sub-Ripas
P-3000-395 COIMBRA
A publicação deste fascículo só foi possível graças ao patrocínio de:
Composto em ADOBE in Design CS4, Versão 6.0.6 | José Luís Madeira | IA | DHEEAA | FLUC | UC | 2018
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FRAGMENTO DE MILIÁRIO EM ALTER DO CHÃO
Encontra-se acondicionado nas Reservas de Arqueologia
da Câmara Municipal de Alter do Chão o fragmento de um
miliário romano, fruto da recolha de superfície efectuada por
Jorge António e Rui Pires Lourenço, na Casa de Alvalade,
concelho de Alter do Chão.
Este arqueossítio vem identificado nas fontes históricas
igualmente como “caza da valada”1 e “Casa de/da Avelada” 2
e o Cónego António Gonçalves de Novais refere a existência
de vestígios romanos no local, à semelhança dos que se
encontraram à época na vila de Alter do Chão.
De granito, com 15,3 cm de altura e cerca de 40 cm
de diâmetro, cor esbranquiçada/cinza e de forma cilíndrica,
o fragmento teve reaproveitamento como mó, uma vez
que, sendo plano na ‘base’, a parte superior revela ligeiro
rebaixamento das extremidades para o orifício central, de
1 novAiS (António Gonçalves de), Relação do Bispado de Elvas, Lisboa, 1635,
l. 28.
2 CARdoSo (Luiz), Diccionario Geograico…, Lisboa, 1747, p. 371; LimA (J.
Garcia de), «A Villa de Alter do Chão», Archivo Historico de Portugal, n.º 12,
I.ª Série, Outubro de 1889, p. 46.
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configuração circular: 3,8 cm de profundidade e 8 cm de
diâmetro.
Na face pode ler-se MAX, que se interpreta como a
abreviatura de MAX(imus), não sendo possível saber-se
o caso em que está nem o que viria nas linhas superior e
inferior a esta.
A altura das letras varia entre 6,4 e 8,8 cm, o que nos leva
a propor, como hipótese, atendendo, inclusive, à paleografia3,
que poderia ser a menção PONT(ifex) MAX(imus), no
nominativo, ou, no ablativo, PONT(ifice) MAX(imo).4
Aliciante seria, pois, atribuir o miliário ao tempo do
imperador Augusto e à via que, passando por Abelterium,
ligava a capital da província, Emerita, a Olisipo, a via que
passava pela ponte da Ribeira da Seda e que, segundo Vasco
Mantas, «foi a principal estrada de comunicação entre Lisboa
e Mérida»5.
JoRGe António
JoSé d'enCARnAção
3 As letras aproximam-se das capitais quadradas do início do Império: o M bem
aberto, A com travessão horizontal, X simétrico.
4 Em épocas mais tardias, nomeadamente a partir do século III, Maximus começará a ser utilizado também no âmbito dos atributos imperiais relacionados
com as guerras em que os imperadores participaram e das quais saíram vitoriosos: Parthicus Maximus, Britannicus Maximus, Dacicus Maximus…
5 mAntAS (Vasco Gil), As Vias Romanas da Lusitânia [Série Studia Lusitana
nº 7], Museo Nacional de Arte Romano, Mérida, 2012, p. 172. Ver também as
considerações exaradas por este investigador a partir da p. 167.
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