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Os menires do Lavajo (Alcoutim)

The megalithic group of Lavajo (Parish of Afonso Vicente, municipality of Alcoutim) comprises two intervisible nuclei (Lavajo I and Lavajo II), that are about 250 m apart in a NNE-SSW direction, separated by the small valley (gully) of Lavajo. These megalithic monuments of the Late Neolithic or the Early Chalcolithic (3500-2800 BC) may be interpreted as territorial markers and markers of spaces that are sacralised by their very existence.

FICHA TÉCNICA Territórios da Pré-História em Portugal Vol. 9 . A Pré-História do Algarve I The Prehistory or the Algarve Autor: Nuno Bicho Tradução para a versão il/glesa: Mari a Empis Propriedade: CEIPH AR - Centro Europeu de In vestigação da Pré·Hi stóri a do Alto Ribatejo Direcção da colecçüo: "Territóri os da Pré- His tória em Portu gal" : Lui z Oosterbee k ARKEOS - perspecti vas em diálogo, nO 17 Coo rdel/açcio da série ARKEOS: Ana R. Cruz e L. Oos terbee k © 2005 , CEIPHAR e autores Foto da capa: Vale Boi: Pl aca gra vada datada do Solutrense Inferi or (Fotografia de N. Bicho) Composiçcio: CEIPH AR Fotorreproduçcio. Jotomol/tagem. CAN DEIAS ARTES GRÁFICAS impressão e acaba mel/to: Ru a Conselheiro Lobato, 179 4705-089 BRAGA o prese nte volume é editado no âmbito do XV Congresso da Uni ão Internac ional das Ciências Pré-Históricas e Proto- Hi stóricas. Publi cação ace ite para integração na pl ataforma Sc iELO (Ministéri o da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) Tiragem: 500 exempl ares Depósito legal: 108 463 I 97 ISSN: 0873-593X Tomar, Julho de 2006 ARK EOS é uma sé ri e monográfi ca, com edi ção de pelo menos um volume por ano, editada pelo Ce ntro Eu ropeu de In vestigação da Pré-Históri a do Alto Ribatejo, que visa a di vul gação de trabalhos de in vesti gação em curso ou fin ali zados, em Pré-Hi stória, Arqueolog ia e Gestão do Patrimóni o. A recepção de ori gin ais é feita até 31 de Maio ou 30 de Nove mbro de cada ano, deve ndo os textos se r enviados em suporte di gital, incluindo títul o, resumo e palavras-chave no idi oma do texto do arti go, em inglês e em português. Os trabalh os deverão estar integrados na temática do volume em preparação e se rão submetidos ao conse lho de leitores. A aprovação ou rejeição de contribuições será comuni cada no prazo de 90 di as. Solicitamos permuta On prie I' éc hange Exchange wanted Tauschverkehr erwunscht Sollicitiamo scambio COl/tactar: CEIPHAR Ce ntro de Pré-História do Instituto Politécni co de Tomar Estrada da Serra, 2300 TOM AR, Portugal II Os menires do Lavajo (Alcoutim) João Luís Cardoso & Alexandra Gradim Localização administrativa : Concelho: Alcoutim; Freguesia: Alcoutim Localização geográfica: N 37,5020522; W 7,5351568 Acesso: Estrada de terra batida, a partir da povoação de Afonso Vicente, cerca de 1,5 km de distância do local do monumento. o conjunto megalítico do Lavajo (freguesia de Afonso Vicente, concelho de Alcoutim) é constituído por dois núcleos (Lavajo I e Lavajo II) , intervisíveis e distanciados de cerca de 250 m segundo a direcção NNE-SSW, encontrando-se separados pelo pequeno vale (ou barranco) do Lavajo. Pertencentes ao Neolítico Final ou ao Calcolítico Inicial (3500-2800 a.c.), estes monumentos megalíticos podem interpretar-se como marcas de territórios e de espaços sacralizados pela sua própria existência. O grupo de Lavajo I corresponde a três menires, todos de grauvaque, dos quais dois permanecem no terreno. O terceiro, reduzido a grande fragmento frontal, está exposto no Núcleo de Arqueologia do castelo de Alcoutim. O monólito principal, de formato fálico , e o maior menir conhecido em Portugal de grauvaque, com 3,14 m de comprimento máximo; outro, quase completo, possui formato estelar e encontra-se fracturado em três grandes blocos, ajustados e colados entre si. Todos se mostram decorados, com símbolos geométricos isolados ou articulados entre si, como é o caso do maior exemplar, onde se evidenciam di versos alinhamentos de "covinhas", pontuando sulcos longitudinais, em estreita relação com a própria volumetria fálica da peça. Implantados no topo de colina, a presença destes menires articula-se directamente com a do conjunto de Lavajo II , visível em dobra da encosta oposta do vale. Neste segundo local, identificaram-se quatro estelas-menires não decoradas , também de grauvaque das quais apenas uma, representada por pequeno fragmento , se encontrava ainda no antigo alvéolo. A escavação subsequente permitiu identificar o modo de fundação das restantes estelas-menires, assegurado pela abertura de um rasgo no substrato geológico, constituído por xistos do Carbonífero marinho . Trata-se de depressão alongada, orientada Este-Oeste, na qual a extremidade de cada uma das restantes três estelas era fi xada, com a ajuda de cunha de grauvaque. No conjunto, o monumento megalítico ass im construído corresponderia a um alinhamento de quatro grandes estel as, di spostas lado a lado. No alvéolo único que constitu ía a fund ação comum de todos os megálitos, recolheram-se di versos artefac tos, ali depositados ritualmente, des tacando- se um micrólito alongado, uma ponta de seta de base côncava e uma peça alongada de pedra polida (formão ou escopro)os quais permitem situar a construção do conjunto megalítico no Neolítico Final ou já no Calcolíti co Inicial. Esta será também a época a que se reporta o núcleo de Lavajo I, o qual forneceu uma enxó de anfibolito com o gume intacto, recolhida já fora de contexto. Tanto o sílex como os anfibolitos são matérias-primas inexistentes na região ; a sua presença ev idencia interacção económica destas populações tanto com o interior alentejano e andaluz, de onde proviriam os anfibolitos, co mo com a orl a de calcári os mesosóicos di sposta ao longo da fai xa litoral, onde se recolheriam nódulos de sílex; tal interacção pode si tuar-se, em termos regionais, não antes do Neol ítico Final. Em conclusão: os dois núcleos megalíticos pré-históricos não funerários de Lavajo I e de Lavajo II, até ao presente os únicos conhecidos em todo o sotavento algarvio, constituem um dos mais expressivos testemunhos das soc iedades camponesas que nos fin ais do IV milénio a.c., ou nos iníc ios do milénio seguinte, oc uparam a região do Alto Algarve Oriental. 147 The Standing Stones of Lavajo (Alcoutim) João Luís Cardoso & Alexandra Gradim Administrative location: Municipality: Alcoutim; Parish: Alcoutim Geographic location: N 37,5020522; W 7,5351568 Access: Follow the dirt track road from the vi llage of Afonso Vicente, located about 1,5 km away from the site of the monument. The megalithic group of Lavajo (Parish of Afonso Vicente, municipality of Alcoutim) comprises two intervisible nuclei (Lavajo I and Lavajo II), that are about 250 m apart in a NNE-SSW direction, separated by the small valley (gully) of Lavajo. These megalithic monuments of the Late Neolithic or the Early Chalcolithic (3500-2800 BC) may be interpreted as territorial markers and markers of spaces that are sacralised by their very existence. The Lavajo I group consists of three greywacke standing stones, only two of which remain on the ground. The third standing stone, reduced to a large frontal fragme nt, is on display in the Archaeological Museum, in Alcoutim Castle. The main monolith, of phallic shape, is the largest greywacke standing stone known in Portugal, measuring 3,14 m in maximum length; the other fragment , which is almost complete, is shaped like a stela and is fractured into three large blocks that have been reassembled. They are ali decorated with geometric symbols that are either isolated or articulated amongst themselves, as in the case of the larger example, where there are several ali gnments of "cup marks", forming longitudinal grooves, in strict relation with the very phallic shape of this piece. These standing stones were established at the top of a hill in direct articulation with the Lavajo II group, which is visible in the fo ld on the opposite slope of the valley. At the latter si te, there are four undecorated stelae-standing stones , also made of greywacke, of whi ch only one, represented by a small fragment, was still in its old socket hole. The excavation of this site provided information on the way in which the foundation of the remaining stelae-standing stones was laid, by opening a fissure in the geological substrate, consisting of carboniferous marine schist. 148 This is an elongated depression, oriented East-West, in which the edge of each of the remaining three stelae was fixed, with the help of a greywacke wedge. As a whole, this megalithic monument would correspond to an alignment of four large stelae, ordered side by side. The many artefacts recovered from the common foundation shared by ali these monoliths, a single socket, were probably ritual deposits, which included an elongated microlith , a concave-based arrow head and an elongated piece of polished stone (chisel or flat chisel). These artefacts suggest that the megalithic group of monuments was built in the Late Neolithic or Early Chalcolithic. The Lavajo I nucleus , which also dates to this period, yielded an amphibolite adze with an undamaged edge that was recovered outside of its context. Flint and amphibolite are both raw-materials available in the region ; their presence reveals economic interaction among these populations, both with inland Alentejo and inland Andalucia, where the amphibolite would originate from , and also with the edge of the Mesozoic limestone that stretches along the coas tal strip, where flint nodules would be collected; such regional interaction dates to the Late Neolithic or later. To conclude: both the non-funerary Prehistoric megalithic nuclei of Lavajo I and Lavajo II are the only currently known examples in the entire eastem Algarve, as they are one of the most expressive pieces of evidence for rural societies that, towards the end of the 4th millennium BC, or in the beginning of the following millennium, occupied the high eastem Algarve region. Mapa de loca lização 6 : C MP n° 575. Locati o n map 6: C MP n° 575. 150 FIG. I - Leva ntamento gráfi co do g rand e menir do Lavajo (menir n° I). Desenho de B.L. Ferreira. FIG. I - Graph ic survey of lhe large slandin g Slone of Lavajo (slandin g Slone n° I l. Draw in g by B.L. Ferreira. 3 - - o //// 3cm FIG. 2 - Materiais arqueológicos recolhidos em Lavajo 2. Com asterisco indica m-se aq ue les qu e provê m do alvéo lo de fixaç ão do conjunto megalítico, relac ionand o-se directamente co m o ritual de fundação do monumento: I raspador simples denti c ulado sobre lasca de sílex; 2 - fragmen to de mac hado de secção e lipsoida l, de gume intacto, totalmente po lido, de fibrolite; 3 - fragme nto de taça de bordo almendrado; 4 - grande form ão, finamente polido, afei çoado em seixo ro lado alongado de grau vaque esverdeado de grão fino ; 5 - grande sac ho de secção sub-circul ar, afeiçoado por picotagem e com intensas marcas de utili zação; 6 - frag mento de lasca de quartzo le itoso, co m indíc ios de utili zação co mo raspade ira na extre midade convexa; 7 - mi crólito sub-trian gul ar, de síl ex cas tanho-avermelh ado, fin amente retocado; 8 - ponta de seta de base conca va, de sílex zonado cinzento esbra nqui çado, finam entre retocada em mabas as faces; 9 - lasca de talhe, se sílex es branquiçado. Desenhos de B.L. Ferre ira. FIG. 2 - Archaeo log ical materiai s co ll ected in Lavajo II. An asteri sk indicates finds from the soc ket where the group of megalithic mon uments was sec ured, whi ch are directl y related to the ritu al for the monument 's fo undat ion: I - simpl e den ti cul ate scraper on flillt fl ake; 2 - poli shed fragment of fibrolite axe of ellipso idal section , wit h undamaged edge; 3 - frag ment of bow l with almond shaped rim ; 4 - large fin ely poli shed chi se l, moulded in elongated ro ll ed pebb le of greelli sh fin e-grain ed greywacke; 5 - large hoe of subcircul ar secti on. shaped thro ugh peckill g, di spl ay ing marks of intensive use; 6 - milky qu art z flak e fragment, with an indi cat ion of use as scraper on its convex edge; 7 - fin ely retouched sub-trian gul ar microlith s made of reddi sh-brown Ilint ; 8 - co ncave base arrow head, made of whiti sh grey flint , finely retouched on both sides; 9 - knapp ing tl ake of whiti sh flint. Draw in gs by B.L. Ferreira. 153