História, cotidiano e memória social – a vida comum sob as ditaduras no século XX
http://dx.doi.org/10.15448/1980-864X.2017.2.24663
A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto”
de António Ferro (1940-1949)
The Nation’ aesthetic education and António Ferro’s “Good Taste Campaign” (1940-1949)
La educación estética de la Nación y la “Campaña del buen gusto” de António Ferro (1940-1949)
Carla Ribeiro*
Resumo: A “Campanha do Bom Gosto” foi colocada em marcha por António Ferro, director do Secretariado de Propaganda
Nacional, em 1940, no seguimento das Comemorações Centenárias então realizadas, constituindo uma iniciativa cultural cujo
propósito assumido era o de criar uma consciência estética entre os portugueses. Abarcando intervenções e iniciativas muito
diversas, procurou instituir um modelo estético que criasse uma fachada para a Nação, apresentando-a como um país civilizado,
por oposição a um país de revoluções, simultaneamente moderno e tradicional. Este artigo procura analisar essa campanha, fruto
de um contexto político autoritário e ditatorial, o Estado Novo, saber quais as suas origens, formatos e intenções e descobrir
que marcas deixou no Portugal democrático do século XXI e na sua identidade.
Palavras-chave: António Ferro; “Campanha do Bom Gosto”; Estado Novo; Secretariado de Propaganda Nacional; Estética.
Abstract: The “Good Taste Campaign” was set in motion by António Ferro, director of the National Propaganda Bureau, in
1940, following the Centenary Commemorations, constituting a cultural initiative whose assumed purpose was to create an
aesthetic awareness among the Portuguese people. Embracing very different interventions and initiatives, it sought to establish
an aesthetic model that created a façade for the nation, presenting it as a civilized country, in opposition to a country of
revolutions, simultaneously modern and traditional.This article analyzes the campaign, result of an authoritarian and dictatorial
political context, the New State, finding out its origins, formats and intentions and discovering the marks left in the democratic,
XXI century Portugal and on its identity.
Keywords: António Ferro; “Good Taste Campaign”; New State; National Propaganda Bureau; Aesthetics.
Resumen: La “Campaña del buen gusto” fue puesta en marcha por António Ferro, director de la Secretaría de la Propaganda
Nacional, en 1940, a continuación de las Conmemoraciones del Centenario llevadas a cabo por el régimen, constituyendo una
iniciativa cultural cuyo propósito fue crear una percepción estética entre los portugueses. Abarcando intervenciones e iniciativas
muy distintas, trató de establecer un modelo estético que creó una fachada para la nación, presentándolo como un país civilizado,
en contraposición a un país de revoluciones, al mismo tiempo moderno y tradicional. En este artículo se analiza esa campaña,
resultado de un contexto político autoritario y dictatorial, el Nuevo Estado, preguntando acerca de sus orígenes, formatos e
intenciones y buscando las marcas dejadas en el Portugal democrático del siglo XXI y en su identidad.
Palabras clave: António Ferro; “Campaña de buen gusto”; Nuevo Estado; Secretaría de la Propaganda Nacional; Estética.
* Professora Adjunta na Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (ESEP). Investigadora do CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia
e Sociedade, Universidade do Porto) e do InED (Centro de Investigação e Inovação em Educação, ESEP). Doutora em História pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
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Introdução
O Estado-nação, fenómeno da modernidade, impôs
a identidade nacional como uma forma de identidade
colectiva que apela a um discurso assente na unidade
e singularidade.
Para os movimentos nacionalistas que nascem fruto
da ideologia liberal do século XIX, ideologia esta que
deixou de fornecer os vínculos sociais e hierárquicos
aceites pelas sociedades precedentes, os vácuos gerados
foram preenchidos com novas formas de identificação
colectiva, “exercícios de engenharia social muitas
vezes deliberados e sempre inovadores”, nas palavras
de Hobsbawm e Ranger (1997, p. 22). Procuram-se,
assim, elementos com forte carga simbólica e
emocional, que funcionem como instrumentos de
identidade e coesão social e nacional, que fortifiquem
estas identidades, que inculquem valores e normas de
comportamento aceites por todos.
Com efeito, o poder, qualquer poder, mas em
especial o político, serve-se de elementos simbólicos
que lhe garantem consistência, que se assumem como
instrumentos de afirmação e domínio, na medida em
que orientam a acção e condicionam o pensamento.
Este poder simbólico é um poder transmutador, é o
“poder de constituir o dado pela enunciação […], de
confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste
modo, a acção sobre o mundo, portanto o mundo”
(BOURDIEU, 1989, p. 14). Esta “violência simbólica”
é particularmente evidente em regimes políticos de tipo
autoritário e/ou ditatorial e, nesse sentido,
festivities, exhibitions, fairs, songs and cinema,
for example, are deployed as efficient strategies
to involve populations and to create a framework
preventing them from even trying to look beyond
and finding disruptive items that might damage
the official image these political regimes seek to
promote (CADAVEZ, 2011, p. 136).
centro da política cultural deste regime, dirigida entre
1933 e 1949 por António Ferro, enquanto director do
Secretariado de Propaganda Nacional (SPN). A sua
“Campanha do Bom Gosto”, colocada em marcha a
partir de 1940, no seguimento das Comemorações
Centenárias2 então realizadas, constituiu uma iniciativa
cultural cujo propósito assumido era o de criar uma
consciência estética entre os portugueses, instituindo
um modelo estético que criasse uma fachada para
a Nação, de um país civilizado, simultaneamente
moderno e tradicional.
Este artigo analisa essa campanha, procurando
descobrir as suas origens, formatos e intenções e
responder a algumas questões de investigação:Até
que ponto foi esta “campanha de embelezamento” do
país dirigida politica e ideologicamente? Destinava-se
a potenciar o sentimento de pertença e de identificação
com a Nação? Procurava-se simplesmente formatar,
em moldes mais modernistas, o sentido decorativo
dos portugueses, ainda muito devedores do gosto
oitocentista? Que marcas deixou no Portugal
democrático do século XXI e na sua identidade?
1 António Ferro e o Secretariado
António Ferro (1895-1956) é uma figura incontornável do Estado Novo, constituindo uma das suas
personagens mais complexas, paradoxais e marcantes.
Ferro viveu uma juventude artística, de pendor
essencialmente literário, entre 1917 e 19253. Para
Ernesto Castro Leal, “no campo das possibilidades
disponíveis, António Ferro escolhe o modernismo e
o futurismo como atitude estética […], numa postura
crítica à cultura oficial de matriz positivista, elaborada
nas suas linhas fundamentais no Oitocentismo
português” (1994, p. 37). Para Nuno Rosmaninho,
contudo, “a despeito dos antecedentes juvenis, António
2
Ora, para o caso em análise, o Estado Novo
português1, a consolidação da ideia de Nação foi o
1
O século XX português foi um dos mais intensamente vividos
em termos de experiências políticas, tendo-se atravessado cinco
regimes políticos diferentes: a Monarquia Constitucional (até 1910),
a I República (1910-1926), a Ditadura Militar (1926-1933), o Estado Novo (1933-1974) e, por im, um regime democrático republicano (desde 1974). O Estado Novo, o período aqui em análise,
foi oicializado em 1933, com a aprovação de uma nova constituição. Tratou-se de um regime político autoritário, autocrata e
corporativista, que vigorou durante 41 anos sem interrupção até ao
seu derrube pela Revolução de 25 de Abril de 1974, constituindo,
por isso, o regime autoritário mais duradouro da Europa Ocidental.
290
As comemorações relativas ao Duplo Centenário – o 8º
centenário da Fundação (1140) e o 3º da Restauração da
Independência de Portugal (1640) – realizaram-se em 1940,
assumindo-se, por um lado, como mecanismo de legitimação
externa do regime, uma forma de reairmar a antiguidade, grandeza
e legitimidade do Império português e, por outro, como a expressão
de consagração do regime, de criação e reforço de consensos, de
salvaguarda da unidade interna. O ponto alto destas comemorações
foi a Exposição do Mundo Português, que se realizou em Lisboa
durante seis meses, embora muitas outras iniciativas se tenham
desenrolado um pouco por todo o país.
3
Neste período, Ferro dividiu-se, a nível literário, entre a poesia
e a conferência, a novela e o conto, o teatro e o manifesto. Desta
sua carreira destacam-se as obras Teoria da Indiferença (1920), o
romance Leviana (1921), o manifesto modernista Nós (1921) e a
peça Mar Alto (1922).
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Ferro converteu-se, nos alvores dos anos trinta, no mais
arguto antimodernista” (2008, p. 290). Rosmaninho
defende, portanto, uma tese oposta àquela que gera mais
consenso entre os investigadores, a tese de que Ferro
teria abandonado a atitude modernista, “abjurando-a
inteiramente” (2008, p. 293) e adoptado em oposição
o nacionalismo como linha estética e política de acção.
Segundo o autor, teriam sido as entrevistas com Salazar
o momento-chave desta mudança, abandonando
definitivamente o ideário juvenil e tornando-se um
homem de acção e de poder, verificando-se, pelas
suas mãos, a domesticação do modernismo português,
“consequência lógica da prioridade político-ideológica
do SPN” (ROSMANINHO, 2008, p. 295).
Todavia, se não se concorda com a ideia prevalecente entre alguns historiadores, de que Ferro
teria sido uma figura de primeira linha da literatura e
do movimento modernista português, também não se
abraça totalmente a tese de Rosmaninho. Considera-se
antes que o modernismo de Ferro foi uma questão de
irreverência da juventude, um modernismo mundano
e elitista, nunca tendo Ferro verdadeiramente abraçado
o “sabor revolucionário” de que falava José-Augusto
França (apud BARRETO, 2011, p. 136). Mas Ferro não
o terá renegado totalmente, como o parecem confirmar
estas suas palavras de 1949, ao refutar “certas naturezas
mortas, já putrefactas, os quadrinhos mimosos […], os
retratos demasiado parecidos, as flores que não cheiram
[…], tudo quanto é convencional, habilidoso, prenda de
família”, expressando o desejo de ver, no Museu de Arte
Contemporânea, “alguns quadros dos impressionistas
e dos fauves, indispensáveis à formação equilibrada
de um artista moderno”(1949b: 30, 37). Ferro revelase aqui um consumidor e apreciador da arte moderna,
demonstrando um “gosto actualizado e educado no
cosmopolitismo” (BARRETO, 2011, p. 154). Subscreve-se, assim, a proposta de José-Augusto França,
de que Ferro terá sido “a personagem fundamental do
modernismo possível no quadro do Estado Novo” (1996,
p. 612), num meio profundamente conservador, que
integrou o fenómeno da ruptura modernista, retirandolhe a faceta subversiva. Como defende Luís Trindade:
“Continuar a imagem e a retórica do modernismo pelos
anos vinte adentro não pôde deixar de significar a sua
normalização e banalização” (2005, p. 220). O Estado
Novo consegue transformar este movimento num
modernismo do quotidiano, usando-o inclusive para
reforçar o “senso comum do nacionalismo”, naquilo
que Trindade designa de “eficácia ideológica da
incorporação estética modernista pelo campo cultural”
(TRINDADE, 2005, p. 222, 227).
291
Ferro destacou-se ainda como jornalista no meio
público nacional, tendo trabalhado para alguns dos
maiores jornais, como o Diário de Lisboa, o Diário de
Notícias ou O Século. De entre os seus correligionários,
Ferro foi aquele que se envolveu mais intensamente, ao
longo dos anos de 1920, “na propaganda ideológica das
ditaduras europeias” (LEAL, 2003, p. 105). Com efeito,
neste período sobressaiu como repórter internacional,
tendo realizado um conjunto significativo de entrevistas
a personalidades das ditaduras italiana, espanhola e
turca4. Destas ditaduras, era o fascismo italiano que
mais atraía Ferro, tendo realizado três entrevistas a
Benito Mussolini, por quem nutria grande admiração:
em 1923, o ano II da “era Mussolini”, em 1926 e,
por fim, em 1934, já com o Estado Novo de Salazar
implantado em Portugal. O fascínio de Ferro por este
chefe era assumido:
Ao findar a entrevista, ao despedir-me do Presidente
do Conselho, eu sinto crescer a minha admiração
pelo homem novo, o homem sem retórica, avarento
de palavras, esbanjador de gestos e de acção. Benito
Mussolini é o grande mestre da política moderna
(1927, p. 75).
Em particular, Ferro sentia-se atraído pelos
aspectos estéticos do fascismo italiano que depois
mobilizará para a sua “Política do Espírito”, aspectos
estes que permitiam moldar a sua concepção de povo:
“O povo que me interessa é o povo que ilumina as ruas,
que transforma as cidades em alegres presépios, o povo
carinhoso e bom das humildes ocupações, o povomenino que não tem cultura, que não tem inteligência”
(FERRO, 1927, p. 117).
Assim, politicamente atraído por estas direitas
nacionalistas e autoritárias que na década de 20
despontavam no continente europeu, Ferro começa
o seu percurso público em Portugal como defensor
de um nacionalismo republicano conservador mas
comprometido ainda com o liberalismo, tendo depois
assumido um republicanismo de cariz autoritário
e presidencialista, seguindo o exemplo de outros
intelectuais da época, como Fernando Pessoa ou
António Sérgio, para quem a “República-regime
afundava-se nas suas próprias contradições, incapaz
de realizar o projecto anunciado pela Repúblicapropaganda” (LEAL, 1994, p. 158).
4
Estas entrevistas foram depois publicadas, em 1927, na obra
intitulada Viagem à volta das Ditaduras.
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A filiação política junto dos sectores do autoritarismo antiliberal apresentou-se para Ferro como
solução para a desilusão sentida e para a crise que se
vivia no contexto nacional, procurando uma refundação da República e afirmando “a necessidade redentorista de um chefe salvador” (LEAL, 2003, p. 108).
Ferro busca esse chefe dinâmico, esse homem de
acção, sucessivamente, em Filomeno da Câmara5
e em Sidónio Pais6, até encontrar o recém-nomeado
presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar7,
que deu a conhecer ao público através de uma série de
cinco entrevistas realizadas em finais de 19328. Terão
sido estas entrevistas que o conduziram directamente
ao cargo assumido no ano seguinte, o de director do
5
Filomeno da Câmara de Melo Cabral (1873-1934) foi militar da
Armada Portuguesa, governador de Angola e de Timor, deputado e
ministro da I República portuguesa. Conhecia António Ferro desde
inícios de 1918, com quem irmou uma amizade que duraria até
à data da sua morte. Enquanto jovem oicial miliciano, Ferro foi
destacado para Angola, no período em que Filomeno da Câmara
assumiu o Governo-Geral da colónia, tendo este nomeado Ferro
para o lugar de secretário-geral (LEAL, 1994). Em 1927, Filomeno
da Câmara lidera uma intentona contra o governo da Ditadura
Militar que icou conhecida por Golpe dos Fiis, aparecendo como
presumível candidato a ditador, preparando-se para implantar em
Portugal um governo mais próximo do igurino fascista italiano.
Nele viu António Ferro a conirmação da sua ideia de chefe, de
homem de acção, “professor do nacionalismo prático” (LEAL,
1994, p. 47).
6
Sidónio Bernardino da Silva Pais (1872-1918) foi lente de
Cálculo Diferencial e Integral na Universidade de Coimbra, militar
e político durante o período da I República portuguesa tendo, entre
outras funções, exercido os cargos de deputado, de ministro do
Fomento, de ministro das Finanças, de embaixador de Portugal
em Berlim, de ministro da Guerra, de ministro dos Negócios
Estrangeiros, de presidente da Junta Revolucionária de 1917, de
presidente do Ministério e de presidente da República Portuguesa.
Este último cargo exerceu-o de forma ditatorial, suspendendo
e alterando por decreto normas essenciais da Constituição
Portuguesa de 1911. Fernando Pessoa chamou-lhe o PresidenteRei. Sobre ele escreveu António Ferro:“E foi então que senti, pela
primeira vez, a beleza, o sentido poético da palavra chefe, quando
este não é um tirano” (FERRO, 1954, p. 26).
7
António de Oliveira Salazar (1889-1970), descendente de uma
família de pequenos proprietários agrícolas, teve uma educação
fortemente marcada pelo Catolicismo, chegando mesmo a
frequentar um seminário. Mais tarde, estudou na Universidade de
Coimbra, onde veio a ser docente de Economia Política. Foi durante
a I República que iniciou a sua carreira política como deputado
católico no Parlamento, em 1921. Em plena Ditadura Militar, foi
nomeado ministro das Finanças, com direito de supervisionar as
despesas de todos os ministérios do governo. O sucesso obtido
na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo, isto
é, presidente do Conselho. Em 1933, com a aprovação da nova
constituição, formou-se o Estado Novo. Salazar governou Portugal
até 1968, data em que é afastado do governo por motivo de doença,
sendo substituído por Marcello Caetano (CITI, s.d).
8
Estas entrevistas e a sua edição em livro, em 1933, com o título
Salazar: O Homem e a sua Obra, parecem ter-se inspirado nas
entrevistas que Mussolini dera em Abril de 1932 ao escritor e
jornalista alemão Emil Ludwig, depois publicadas em livro editado
na Europa e América (BARRETO, 2011).
292
recém-criado Secretariado de Propaganda Nacional
(SPN)9, então com 38 anos.
Pela sua acção à frente deste organismo, que se
constituiu como a génese de um Ministério da Cultura,
Ferro revelou-se uma peça-chave na legitimação das
políticas e práticas culturais do regime, subordinadas
ao interesse supremo da Nação, ao longo de mais de
década e meia de acção, entre 1933 e 1949, como
destaca José Rebelo: “Ao transferir-se do jornalismo
para a condução da propaganda do regime, António
Ferro põe ao serviço da nova causa que abraça a
mesma inteligência, o mesmo entusiasmo, a mesma
vasta cultura e a mesma enorme capacidade de
relacionação” (1998, p. 183). Visto por uns como
o “poeta da acção”, que encetou a renovação do
panorama cultural português, para outros foi o mentor
de uma prática estético-cultural dominada pelo vector
político-ideológico.
Pensado “no clima da nossa época” (Diário de
Notícias, 12 out. 1933, p. 1), ideia presente no preâmbulo
do documento fundador do Secretariado, faz-se aí
referência ao ambiente que então se vivia na Europa,
aludindo à necessidade de “todos os países novos ou
renascentes [em] organizar e centralizar a propaganda
interna e externa da sua actividade” (Decreto-lei nº 23
054, 1933, p. 1675). Considerando que a propaganda,
nos Estados modernos, era um elemento fundamental,
verificava-se ser “Portugal […] o único país que não
tinha ainda resolvido esse problema, deixando entregues
as diversas manifestações da nossa actividade ao sabor
das paixões nacionais e internacionais”(Decreto-lei
nº 23.054, 1933, p. 1675). O organismo respondia,
assim, à necessidade dos “povos que desejam fazer
justiça a si próprios e conhecer o seu ressurgimento”
(Diário de Notícias, 25 set. 1933, p. 1), assumindo,
por conseguinte, a tarefa da divulgação dos propósitos
e realizações do regime estado-novista, dirigindo
e superintendendo a propaganda nacional, interna e
externa. Para a consecução deste grande objectivo,
tornou-se necessária a mobilização de todo o leque das
actividades culturais – arte, imprensa, teatro, literatura,
radiodifusão, cinema – através da sua famosa “Política
do Espírito”.
9
Criado pelo Decreto-Lei nº 23 054, de 25 de Setembro de
1933, era um organismo directamente dependente da Presidência
do Conselho. Alvo de operações de cosmética em 1944, perto
do inal da II Guerra Mundial, passou a Secretariado Nacional
de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI) e, em 1968,
transformou-se em Secretaria de Estado de Informação e Turismo
(SEIT).
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2 A “Política do Espírito”
A “Política do Espírito”10 de Ferro era, na
realidade, a transposição para a vida nacional da
visão de Mussolini (de quem Ferro era um admirador
fervoroso, como referido anteriormente) quanto ao
poder e à função da arte no Estado: “Mussolini tem
razão. A uma nova época, se essa época tem grandeza
e perspectiva, deve corresponder uma nova arte”
(FERRO, 1949a, p. 22). Ferro via claramente as suas
potencialidades políticas e propagandísticas: “As artes e
as letras sempre foram consideradas como instrumentos
indispensáveis à elevação de um povo e ao esplendor
de uma época. É que a arte, a literatura […] constituem
a grande fachada de uma nacionalidade” (1933, p. 8).
Neste sentido, a política de Ferro procurava a criação
de uma arte nacionalista, proporcionando aos artistas
“uma atmosfera em que lhes seja fácil criar” (FERRO,
1935, p. 6), seguindo o exemplo de países como a Itália,
a URSS ou a Alemanha, onde “o Estado compreende a
Política do Espírito e realiza-a, com largueza, protegendo, moral e materialmente, todas as iniciativas literárias
e todas as iniciativas de Arte” (FERRO, 1933, p. 226).
Tratava-se, portanto, de um sistema coordenado
de estímulos e protecção estatal às artes, num país
onde nunca existira um organismo público de apoio
à cultura, orientado pela sensibilidade moderna de
Ferro, temperada pelos valores do seu nacionalismo,
simultaneamente tradicionalista e cosmopolita. A
“Política do Espírito”surgiu, desta forma, como
fruto da capacidade criativa e inovadora de Ferro,
uma acção inédita na vida cultural nacional. Como
afirma José-Augusto França, “não era mais questão
de frases brilhantes e paradoxais, de piruetas de gosto
literário, melhor ou pior, de provocação intelectual sem
consequências para além do perímetro do Chiado, mas
de estratégia, de programa e de disciplina. E de muito
trabalho” (1997, p. 28).
Todavia, este apoio do SPN à cultura afigurouse duplamente redutor. Por um lado porque, em
detrimento da ajuda à criação de estruturas para a
produção cultural, privilegiou a dependência dos
artistas em relação ao regime, pela atribuição de
10
A 21 de Novembro de 1932, Ferro publica no Diário de Notícias
um artigo intitulado Política do Espírito, onde esboçava os
princípios de um novo tipo de acção cultural, determinante para a
empresa ambiciosa a que se candidatava: o cargo de director do que
viria a ser o Secretariado de Propaganda Nacional. A denominação
dada a esta sua política cultural foi inspirada por uma conferência
com o mesmo título do poeta francês Paul Valéry, na Université
des Annales, intitulada “La politique de l’esprit, notre souverain
bien”.
293
prémios, pela encomenda ou compra de obras, pelo
patrocínio de exposições individuais e colectivas (as
exposições anuais de arte moderna, desde 1935, por
exemplo). Isto é, ao investimento cultural sustentado,
à criação de redes e estruturas culturais, sobrepôs-se
o estímulo e a animação cultural pontuais, assumidas
em moldes propagandísticos (MELO, 2010). Apesar
disso, Ferro conseguiu atrair personalidades oriundas
das vanguardas artísticas, que colaboraram com o
SPN em vários registos artísticos, concretizando as
suas iniciativas no que a exposições e concursos dizia
respeito. Por outro lado, porque se centrou sobretudo na
integração e apropriação de elementos da denominada
cultura popular, uma cultura popular assim oficializada,
modelar. Com efeito, na campanha de revalorização
espiritual da pátria empreendida pelo Estado Novo
e pelo próprio SPN, procedeu-se à fixação de uma
essência da Nação baseada no popular, mas num
popular reduzido ao rural11. Tal relevava da concepção
do espaço rural como o lugar por excelência da pátria
eterna e do seu povo, substrato sobre o qual repousava
a identidade nacional, conjunto de testemunhos,
conservados entre os camponeses, dos antecedentes
étnicos mais remotos da Nação. O passado, assim
interpretado e construído, assumiu-se como algo que
marcava o presente e que estabelecia o futuro, um
tempo que importava registar e preservar, cunhado por
um valor de autenticidade, um exemplo a ser seguido,
submetido a um olhar descontemporaneizador que o
apresentava como “verdade nacional”. Para Daniel
Melo, o que se pretendia era “aproximar as elites e
o povo citadino da cultura do povo rural”, num fluxo
unilateral que “pretendia dar a conhecer e, ao mesmo
tempo, desejava um reconhecimento simbólico dos
modelos e práticas propostos, uma identificação com
determinados valores tradicionalistas” (2001, p. 207).
Que entendimento de cultura popular era, pois, o
disseminado pelo Estado Novo, via Secretariado de
Ferro?
Desde logo, tratava-se de um conceito integrador
e unificador de uma cultura popular assente na arte
como “produção cultural com maior potencial
de visibilidade e valor simbólico”, considerada o
“instrumento ideal para iluminar, para dar cor e
sedução” (MELO, 2001, p. 55) ao projeto de ressurgimento nacional encarnado pelo regime salazarista.
Neste sentido, a arte popular transfigurou-se no
11
Como relembra Daniel Melo, para Salazar, “a cultura popular
urbana é quase olvidada nos seus discursos e, quando se lhe refere,
fá-lo de modo depreciativo” (2010, p. 17).
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paradigma estético do qual as iniciativas nacionalistas
do Secretariado emergiram, veiculando-se uma
intenção eminentemente visual das tradições populares
mais facilmente encenáveis, como a dança, a música,
o traje, que deviam ser mostradas e celebradas, com
um interesse claramente focado nos objectos em
si, mais do que no contexto por referência ao qual
faziam sentido. Estes objectos artísticos de carácter
etnográfico são alvo de uma estilização e estetização
eruditas, de raízes modernistas, empreendida pela
equipa de artistas12 ao serviço de Ferro, no SPN.
Tal conduz a uma selecção, apropriação, depuração
e recontextualização dos materiais etnográficos, de
acordo com critérios morais e estéticos das classes
eruditas, em mecanismos de congelamento e recriação
de um mundo rural simples, harmónico, solidário, de
tradições imutáveis, como nos diz Vera Alves (2007).
Todavia, convém referir que a descoberta da arte popular
e o investimento feito pelo Secretariado, com fins
nacionalistas, não foram propriamente uma invenção
de António Ferro, que trabalhou com a imagem visual
da cultura popular herdada da I República. Como nos
diz o próprio Ferro: “Não só a Arte ingénua do povo
é […] a mais puramente representativa da alma da
grei e a que melhor a exprime, como também realiza a
forma mais acessível e fácil para todos de cultivar-se
o nacionalismo” (Diário de Notícias, 17 fev. 1938,
p. 1). E assim, a partir de 1933, um conjunto diverso de
iniciativas, tendentes ao desenvolvimento de um estilo
nacional onde a estilização folclórica e regionalista
era a nota dominante, foi desenvolvido pelo SPN: a
realização de espectáculos gratuitos para o povo e de
concursos populares; a criação do Teatro do Povo,
dos Cinemas e Bibliotecas Ambulantes e dos bailados
Verde Gaio; a organização do Museu de Arte Popular.
3 A “Campanha do Bom Gosto”
Para Ferro, “a beleza – desde a beleza moral à
beleza plástica – deve constituir a aspiração suprema
dos homens e das raças” ( 21 nov. 1932, p. 1). Esta quase
que obsessão com a beleza, entendida no sentido do
12
Esta equipa de artistas-decoradores era constituída pelos artistas
plásticos Bernardo Marques, Fred Kradolfer, Carlos Botelho,
Paulo Ferreira, José Rocha, Tomás de Melo e Emérico Nunes,
ligados a áreas como a ilustração, as artes gráicas e a decoração;
os escultores António Azevedo, Rui Gameiro, Luís Fernandes,
Henrique Bettencourt, António Duarte, Francisco Franco, Canto
da Maia e Barata Feio, e os pintores Abel Manta, Jorge Barradas,
António Lino, António Soares, Estrela Faria, Eduardo Malta,
Dórdio Gomes, Francisco Smith, Camarinha e Júlio Santos.
294
bom gosto, cedo se fez sentir na vida pública do director
do Secretariado: em 1917, no seu ensaio sobre cinema
– As Grandes Trágicas do Silêncio – o jovem Ferro
(então com 22 anos) defendia o poder civilizacional
do animatógrafo, enquanto espaço de formação do
gosto público, que permitia “apurar notavelmente o
sentido estético”, apresentando-se como “uma escola
de bom gosto” (1917, p. 19). A sua pioneira visita a
Hollywood, em 1927, tinha-lhe permitido perceber
as possibilidades (neste caso através do cinema) de
antecipação do real ou, mesmo, de transfiguração da
realidade.
E Ferro continuaria a advogar, no espaço da sua
vida pública, antes de ter assumido o cargo de director
do SPN, a necessidade, para Portugal, de “uma vida
interior, uma vida nacional” (7 maio 1932, p. 1) que
deveria ser cheia e sonora, isto é, a necessidade de
“cuidar da mise en scène necessária”, para uma
frutífera relação, “nas ditaduras, entre a multidão e os
governantes” (31 out. 1932, p. 1). Estas ideias terão tido
a sua concretização através da “Política do Espírito”
desenvolvida aquando da direcção do Secretariado,
considerada pelo próprio Ferro como necessária ao
prestígio interior da Nação, “à sua razão de existir”
(FERRO, 21 nov. 1932, p. 1).
Desta forma, o peso político-ideológico da “Política
do Espírito” reflectiu-se na procura do aprimoramento
dos padrões estéticos da sociedade e manifestou-se
na noção maniqueísta de belo, como aquilo que se
opunha, fundamental e estruturalmente, a “tudo
o que é feio, grosseiro” (FERRO, 1935, p. 7). Esta
concepção de “Belo” traduzia um programa político,
de orientação musculada da arte e dos comportamentos,
de inculcação de valores. O director do Secretariado
era o juiz, o árbitro do cumprimento desse programa
político, estético, ético.
Neste sentido, “a renovação do gosto em Portugal”
assumiu-se desde o início do seu percurso no
Secretariado como uma “aspiração definida”, guiando
“todas as […] iniciativas desde uma exposição de
quadros a uma exposição de montras” (Diário de
Notícias, 3 jul. 1940, p. 1). Para Ferro, o modernista,
“a civilização de cada povo mede-se ao primeiro
olhar, tal qual se avaliam os homens por certos
aspectos exteriores”; assim, o grau de civilização de
uma Nação podia ser avaliado “no simples quiosque
dos jornais, na carrocinha do vendedor ambulante,
no cartaz ou na montra – a civilização é uma palavra
clara, luminosa, indiscutível” (FERRO, 18 out. 1938,
p. 1). A sua era uma “ânsia de renovação, o […] desejo
de um Portugal desempoeirado, um Portugal de alma
Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 289-302, maio-ago. 2017
C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
antiga e de sensibilidade nova” (FERRO,1943, p. 17),
sendo que para a concretização dessa renovação seria
necessário resolver “certas inferioridades do meio […]:
a mesquinhez de visão do campo das coisas do espírito;
o provincianismo de certas opiniões; o mau gosto
inveterado de alguns aspectos da nossa vida social”
(FERRO, 1943, p. 9-10).
Lançada em 1940, decorrente das Comemorações
dos Centenários, e das novas responsabilidades do
Secretariado no campo do turismo, a “Campanha do
Bom Gosto” do Secretariado foi, pois, uma iniciativa
cultural reveladora do propósito de “criar neste País
uma consciência estética que evite certos atentados
indesculpáveis ao mais elementar bom gosto” (Diário
de Notícias, 5 ago. 1933. p. 1), visando “combater
certas rotinas que nos entorpecem, nos atrasam e, por
consequência, nos têm arredado do conceito das nações
adiantadas” (Diário de Notícias, 13 jun. 1940, p. 1-2),
visando “dar à vida nacional uma fachada impecável
de bom gosto” (FERRO, 1943, p. 23).
Verifica-se assim que, embora sejam variadíssimas
as iniciativas desta campanha, através da intervenção em
espaços diversos – hotéis, restaurantes, lojas, aspectos
exteriores do enquadramento da arquitectura, das
estradas, das estações de caminho de ferro, publicidade,
livros, jardins e edifícios públicos, repartições
do Estado, etc. – a verdade é que, em todas, “é o
embelezamento do espaço público que está em jogo e
que domina toda a intervenção” (ACCIAIUOLI, 2013,
p. 239). Estas iniciativas assumiram em geral a forma
de concursos, destacando-se, a título exemplificativo:
o Concurso das Estações Floridas (de caminhos de
ferro); o Concurso de Montras (de estabelecimentos
comerciais); o Concurso da Casa Panorama (destinado
a alunos de Arquitectura e jovens arquitectos, que
deveriam apresentar modelos para casas de fim de
semana, que se guiassem pelas divisas de bom gosto,
comodidade e economia); o Concurso de Tintas e Flores
(tendo como intuito melhorar o aspecto paisagístico
dos elementos adjacentes às estradas nacionais, pela
pintura de edificações, pelo ajardinamento dos terrenos
baldios ou desaproveitados junto destas estradas, e,
mesmo, pela utilização de tabuletas de sinalização
pitorescas dentro das povoações ou pela apresentação
dos números das portas das casas com os motivos
ingénuos e “portugueses”). Outras iniciativas fizeramse em colaboração com organismos públicos, como a
sinalização pitoresca das estradas (em colaboração com
a Junta Autónoma das Estradas, que tratava do arranjo
e embelezamento das bermas das estradas, pelo seu
ajardinamento, procurando-se agora uma sinalização
295
artística das mesmas, que atraísse o olhar dos turistas),
ou a ornamentação florida das janelas (principalmente
nas cidades de Lisboa e Porto, em conjunto com as
respectivas autarquias).
O que se pretendia, pois, com esta campanha? Nas
palavras do próprio Ferro, melhorar o “sentimento
estético, de harmonia e de beleza” (O Comércio do
Porto, 17 jul. 1945, p. 6). Não tendo, portanto, um
conteúdo específico, não obedecendo claramente a
um estilo, estes valores estéticos seriam importantes
no sentido da sua transposição, a partir das experiências feitas na capital, a todo o país. Neste sentido,
estando o bom gosto centrado na ideia de uma
conjugação harmónica de elementos, haveria que
recorrer à colaboração dos artistas para o atingir.
São eles, portanto, que, nesta “Campanha do Bom
Gosto”, propõem modelos e dão exemplos de como
se proceder, respeitando a veracidade regional, ao
manter “o pitoresco aspecto de várias localidades”
(O Comércio do Porto, 17 jul. 1945, p. 6). Modelos,
contudo, que se revelam muitas vezes taxativos, para
serem impreterivelmente seguidos.
Desta forma, através da sua equipa de artistasdecoradores do Secretariado, “Ferro prepara a pátria
para ser descoberta depois de ele próprio ter descoberto
o perfil que lhe queria dar” (ACCIAIUOLI, 2008,
p. 17). Tal só foi possível com as experiências, bem
sucedidas, das participações de Portugal em grandes
exposições internacionais, nos anos 30, em particular
nas de Paris (1937), de Nova York e de S. Francisco
(ambas em 1939), em que se conseguiu reformular a
imagem do país, de uma nação de revoluções para “um
país da ordem” (FERRO, 29 abr.1934, p. 1)13.
Estas intervenções artísticas, possuidoras de um
certo grau de sofisticação, regulam a imagem do
regime, tendo sido publicitadas no órgão oficioso do
Secretariado – a revista Panorama14. Através de uma
secção regular, que perdurou desde o número inaugural
até ao final da primeira série (em 1949, coincidindo
13
Esta nova imagem do país foi recompensada em Paris com um
Grand-Prix pelo júri da Exposição.
14
A Panorama, tendo como director Ramiro Valadão e como
responsáveis o poeta Carlos Queirós e o pintor Bernardo Marques,
foi uma revista extremamente cuidada a nível estético e gráico.
Abordava temas da chamada cultura popular, mas dirigindo-se a
uma elite ilustrada, preconizando a divulgação de uma estética
oicial. Contou com a colaboração de nomes consagrados da
propaganda oicial (Luís Chaves, António Lopes Ribeiro,
Francisco Lage, entre outros), mas igualmente de autores menos
próximos ideologicamente do regime, como Vitorino Nemésio
e Aquilino Ribeiro. Segundo José-Augusto França (1982), foi a
primeira revista portuguesa de feição modernizante, em grande
parte consagrada às artes plásticas.
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C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
com a saída de Ferro do Secretariado), tornava-se
possível acompanhar a par e passo a “Campanha
do Bom Gosto”, isto é, o “encargo de florir […] a
vida portuguesa e as suas representações externas, de
paginar e ilustrar o nosso renascimento” (FERRO,
1949a, p. 25), de “ir retocando, pouco a pouco, a sua
[do país] fachada, dando-lhe a tonalidade, a graça e
a frescura de uma aguarela viva” (FERRO, 1949c,
p. 40). O objectivo era claro: modernizar o quotidiano
da Nação, as tradições e produtos culturais do povo,
mediante uma aplicação bem calculada do Modernismo
estético, transformando-os em “ilustração da nova
realidade nacional” (ACCIAIUOLI, 2008, p. 17).
Sendo “a rua o teatro dos pobres, a biblioteca
dos iletrados” (FERRO, 1949a, p. 12), algumas das
acções da “Campanha do Bom Gosto” apresentaram
consequências imediatas na aparência dos locais,
como as estações ferroviárias, as montras das lojas
e as pousadas e pequenos hotéis. Ao mesmo tempo,
“tornam-se […] guias para futuras intervenções
estéticas de iniciativa privada e instrumentos de
educação do gosto” (ALVES, 2007, p. 283). Assim se
entende que nomes como o arquitecto Jorge Segurado,
membro da equipa de Ferro, propugnasse pela educação
do público,
encaminha[ndo-o] no bom gosto, quer no campo
artístico do teatro, da literatura, da dança, da música
e das Belas-Artes, quer no arranjo e decoração do
próprio lar e na maneira de vestir. Pretende-se
e muito bem, elevar o nível geral, matando as
manifestações vulgares, desagradáveis e grosseiras
(1943, s.p.).
Afinação da sensibilidade, portanto, como preconiza
Segurado, através de um doutrinamento estético que cria
directrizes e estabelece padrões, ou “um pretexto para
fazer participar a colectividade no processo político,
[…] uma forma […] de a fazer acreditar na beleza e
na harmonia do Estado corporativo” (HENRIQUES,
1990, p. 55)? Para Margarida Acciaiuoli, a resposta é
clara: a “Campanha do Bom gosto” foi “o momento em
que, por razões que se justificavam com a renovação da
imagem de Portugal, se realizou o mais subtil exercício
de poder de que há memória na nossa História recente,
[…] tornando possível […] o país de Bilhete Postal de
que o poder tinha necessidade” (2008, p. 17, 19).
Com efeito, esta campanha revela-se, acima de
tudo, uma luta pelo poder simbólico de fazer ver e
fazer crer, nas palavras de Pierre Bourdieu (1989),
interpretação que nos permite evitar o naturalizar
296
do discurso oficial, emanado do Secretariado e seus
colaboradores, tal como foi aqui patenteado, lendo-o
no seu contexto histórico e nas suas finalidades,
estéticas sim, mas também (ou sobretudo) morais
e ideológicas. Tratou-se, pois, de uma campanha
esteticamente dogmática e politicamente orientada, no
sentido da manipulação ideológica e do conformismo
social. Neste sentido, o bom gosto, conceito cuja
condição é, sobretudo, histórica, política, claramente
subjectiva, torna-se sinónimo, mediante a campanha empreendida por Ferro, de combate aos estrangeirismos
e à “desnacionalização”, de “reaportuguesamento”,
de nacionalização do gosto. Ou, como o resumiu o
director do Secretariado, em 1948, na inauguração
do Museu de Arte Popular: “Amar o povo é isto: consagrá-lo como o grande mestre da sensibilidade nacional.
Amar o povo não é desvirtuá-lo, desenraizá-lo, não é
transmitir-lhe ideias ou sentimentos de outros povos
ou de outras civilizações” (apud MELO, 2010, p. 25).
4 A “Campanha do Bom Gosto”
no Porto: o Maio Florido
Na segunda cidade do país, o Porto, considerada
a capital do Norte, foi estabelecida, em 1945, uma
delegação do Secretariado, dirigida por António
Maria Pinheiro Torres, porventura como resposta à
preocupação “de que Lisboa o ignora [ao Porto], de
que o Terreiro do Paço pelo menos, pouco se importa
com ele, de que tudo é feito na capital e para a capital”
(O Comércio do Porto, 2 mar. 1945, p. 1).
Ferro, todavia, procurava apresentar a cidade como
um “novo centro da Política do Espírito” (O Comércio
do Porto, 2 mar. 1945, p. 5), fazendo o possível, “com
os seus dedicados colaboradores e limitados recursos,
para trazer até vós a acção que, neste sector, se tem
desenvolvido em Lisboa” (Diário de Notícias, 7
dez. 1949, p. 5). Desta forma, a delegação portuense
apresentava-se como uma secção que implementaria as
directrizes do trabalho do Secretariado em todo o norte
do país, a partir da cidade do Porto.
Culturalmente, a actividade desta delegação foi
intensa, em particular durante o período de Ferro à
frente do Secretariado, destacando-se a organização
das festas do Maio Florido, ideia surgida logo em 1945
por sugestão de Ferro.
Congregando em torno da direcção do Secretariado
vários organismos e individualidades portuenses – a
Câmara Municipal, a Comissão Central das Juntas de
Freguesia, a imprensa portuense e as instituições ligadas
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C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
ao comércio e indústria da cidade, como a Associação
Comercial do Porto, a Associação Industrial Portuense,
a União de Lojistas do Porto, além da DirecçãoGeral dos Desportos – o Maio Florido compreendia
um conjunto de manifestações de carácter cultural e
artístico que iam ao encontro da “Campanha do Bom
Gosto” desenvolvida por Ferro. Com efeito, a festa
era apresentada como uma “festa de sorrisos”, que
“visa criar beleza”, uma festa que “corresponda ao
valor da cidade, vestindo bem as almas da sua gente e
ilustrando o espírito dos portuenses, sempre donos do
bom gosto” (O Comércio do Porto, 9 abr. 1947, p. 2).
Simultaneamente, procurava “atrair para a cidade as
atenções de gente que a estime e goste de visitar” (O
Comércio do Porto, 4 abr. 1946, p. 1), funcionando
como cartaz de turismo, interno e externo15.
Um dos exemplos porventura mais elucidativos
desta relação entre a imposição de uma noção de
“bom gosto” entre a população (um bom gosto oficial
e oficializado pelo Secretariado, note-se) e, em
simultâneo, a imposição de uma determinada ideia de
Nação portuguesa, em que a população se revisse, foi
o concurso de jardins para os bairros económicos do
Porto16, integrado na programação do Maio Florido.
15
De entre as iniciativas desenvolvidas neste contexto temos:
dirigidas em particular para as elites da cidade, conferências e
recitais sobre assuntos de arte e cultura, uma Exposição de Arte
Moderna para os artistas do Norte (a exemplo do que acontecia em
Lisboa desde 1935), concertos da Orquestra Sinfónica Nacional
e a Noite do Maio Florido, festa de gala de encerramento; para
o povo, sessões cinematográicas através dos cinemas ambulantes
do Secretariado (que percorriam os bairros da cidade), festivais
populares e uma exposição de rosas, no Palácio de Cristal, além da
festa anual da rádio, com artistas da Emissora Nacional (a empresa
de radiodifusão do Estado).
16
As precárias condições habitacionais da cidade do Porto no
início do século XX originaram um despertar das elites para esta
situação. A Câmara do Porto e alguns particulares avançaram
mesmo com as primeiras construções de cariz social, sendo que
durante a I República surge um quadro legislativo de incentivo
à construção de casas económicas. Com a implementação do
Estado Novo, em 1933, a resposta à preocupação estatal com
o problema leva ao lançamento de um programa habitacional
para as classes populares e trabalhadoras, economicamente
mais débeis, os Bairros Económicos. Tratava-se de bairros com
moradias geminadas, unifamiliares, com quintal e logradouro, de
um a três pisos. Esta preferência era sustentada pela Constituição
de 1933, que apontava a família como “o fundamento de toda a
ordem política e administrativa”, devendo o Estado “favorecer a
constituição de lares independentes e em condições de salubridade
e a instituição do casal de família” (art. 12 e art. 14). Desta forma,
veriicou-se a ediicação, na cidade do Porto, de doze bairros de
casas económicas entre 1935 e 1965, em Campanhã (bairros do
Ilhéu, Costa Cabral e S. Roque da Lameira); Lordelo do Ouro
(bairros de Condominhas e Marechal Gomes da Costa); Paranhos
(bairros do Ameal, da Azenha e de Paranhos); Ramalde (bairros de
Ramalde, António Aroso e do Viso) e Aldoar (bairro da Vilarinha)
(ALMEIDA, 2010).
297
Apresentada no Diário de Notícias, a competição
assumia como objectivo “o embelezamento da casa e o
culto da flor” (Diário de Notícias, 12 maio 1947, p. 5).
Tendo começado em 1947, parece ter perdurado pelo
menos até 1958, abrangendo, entre outros, os bairros
económicos do Ameal, da Azenha, de S. Roque da
Lameira e de Costa Cabral. Nos júris para este concurso,
em tudo semelhante aos júris habituais dos concursos
promovidos pelo Secretariado, encontravam-se um
representante da delegação do Secretariado no Porto e
um delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência e, um pouco mais tarde, passaram a integrá-lo
igualmente um delegado dos Serviços de Arboração
e Jardinagem da Câmara Municipal do Porto e um
representante do campo das artes. Os prémios eram
monetários17 e a todos os premiados era ainda oferecido
um azulejo com a indicação da classificação obtida.
O concurso procurava, pois, continuar na cidade
do Porto aquilo que Ferro tinha começado em Lisboa:
a instauração de uma noção de bom gosto oficial,
portuguesa, nacional, sendo que o arranjo dos jardins
dos bairros sociais constituiria manifestação “de
carinho e de bom gosto que revelam […] a preocupação espiritual de contribuir para o apuramento
estético de uma obra comum” (Diário do Norte, 10
dez. 1949, p. 5).
Mas este tipo de iniciativa terá assumido também,
e muitas vezes de forma explícita, objectivos políticos,
caso do concurso em análise que, em conjunto
com a existência, nestes bairros sociais, de clubes
recreativos e sociais, igrejas e escolas (funcionando
desta forma como “pequenas aldeias”), teria sido
uma forma de cimentar a adesão ao regime do Estado
Novo e aos seus ideais, ideias reforçadas nas próprias
nomenclaturas dos arruamentos destes bairros, com
tónica nitidamente nacionalista; assim, por exemplo
nos bairros de Marechal Gomes da Costa, Viso e S.
Roque da Lameira a toponímia homenageava heróis
nacionais dos Descobrimentos, batalhas vitoriosas
dos Portugueses e figuras da Igreja Católica enquanto
na Azenha apareciam nomes das ilhas do Império
Português (ALMEIDA, 2010).
Na sequência do que tinha já sido uma das
iniciativas de mais destaque, por um lado, e maior
sucesso por outro, da “Campanha do Bom Gosto”
na capital, o Porto foi a cidade que melhor acolheu
o concurso de montras do Secretariado, que integrou
Foram deinidas duas classes de galardões: um conjunto de
três prémios, nos valores de 1 500$00, 1 000$00 e 750$00, para
as casas de renda inferior a 100$00 mensais e, para aquelas com
renda superior a este valor, prémios de 1 000$00 e 500$00.
17
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C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
nas primeiras festas do Maio Florido. O objectivo
era claro: “Valorizar, dentro do máximo bom gosto e
dos modernos processos de propaganda, os produtos
expostos nos estabelecimentos comerciais e industriais”
(O Comércio do Porto, 4 abr. 1946, p. 1).
O júri, composto por um delegado do Secretariado,
um representante da Câmara Municipal do Porto, um
representante do comércio e indústria, um representante
da imprensa e dois artistas plásticos, estipulou os
seguintes prémios: uma taça para o proprietário do
estabelecimento vencedor e 3 000$00 para o decorador
e, para o segundo e terceiro prémios, taças para os
proprietários dos estabelecimentos e 2 000$00 e
1 500$00 para os decoradores, respectivamente.
A destacar ainda outro destes concursos de bom
gosto, o das janelas floridas, encaradas como “um
serviço à cidade, uma contribuição poderosa para o
seu embelezamento […] e, sobretudo, uma consoladora
manifestação de mentalidade popular, prova de gosto,
testemunho de bairrismo” (Diário de Notícias, 24
jun. 1944, p. 1). Procurava-se, desta forma, criar “um
espectáculo cheio de graça e de beleza”, florindo a
cidade “numa alegria de cores e perfumes” (O Comércio
do Porto, 23 abr. 1946, p. 5), o cartaz perfeito para
a propaganda. O concurso parecia pensado para dar
realização material à ideia de Ferro, de que o “cuidado
minucioso […] no arranjo das tabuletas das fachadas,
no florir das janelas e dos candeeiros de iluminação
pública […], tudo isto e muito mais, tudo quanto
seja arranjar e pôr flores nas jarras, é turismo e bom
turismo” (FERRO, 1949c, p. 17)18.
Com efeito, esta “Campanha do Bom Gosto” de
Ferro estava intimamente associada à acção turística
do organismo que dirigia, sendo que este sector da
vida nacional tinha transitado, em finais de 1939, para
o Secretariado19. Para o organismo tutelado por Ferro,
18
Depois de 1947 e até, sensivelmente, 1950, este concurso, bem
como o das montras, passou a integrar o programa das Festas da
Cidade do Porto, numa iniciativa conjunta da Comissão Executiva
das Festas e do Secretariado.
19
O decreto nº 30 251, de 30 de Dezembro, providenciou a
passagem, a partir de 1 de Janeiro de 1940, das competências do
Ministério do Interior em matéria de turismo para o Secretariado
de Propaganda Nacional. De ressaltar que esta ligação orgânica
entre o turismo e a propaganda já se veriicava noutros contextos
que não o português, nomeadamente em Itália onde, em Abril de
1931, Mussolini tinha criado o Commissariato per il Turismo,
sob a dependência directa da Presidência do Governo, sendo este
Commissariato substituído, em Novembro de 1934, pela Direzione
Generale per il Turismo, integrada no Subsecretariado de Estado
para a Imprensa e Propaganda. Em Espanha, por seu turno,
esta associação só se concretizaria em 1951, com a criação do
Ministério de Información y Turismo, dirigido por Arias-Salgado
y de Cubas até 1962, altura em que lhe sucedeu Manuel Fraga
Iribarne (AGUIAR, 2008).
298
o turismo era considerado essencialmente como um
instrumento privilegiado de promoção e propaganda
do regime:
Se o turismo é um problema sério, e não um
simples passatempo, é porque está ligado, directa
e indirectamente, a quase todos os problemas
nacionais, contorno indispensável da nossa
renovação, seu necessário acabamento […], meio
seguríssimo não só de alta propaganda nacional
como de simples propaganda política (FERRO,
1949c, p. 34).
Igualmente importante era a sua capacidade de
manutenção da ordem interna: “O turismo constituiu
sempre […], além duma grande e próspera indústria,
uma excepcional terapêutica moral, [sendo que] os
grandes países […] que fazem da indústria de receber
visitas uma fonte de riquezas e de renovação nacionais
são países de ordem” (Diário de Notícias, 22 nov.
1939, p. 1). Arauto do “novo Portugal” que se pretendia
exibir, o turismo nacional foi claramente assumido,
no consulado de Ferro no Secretariado, como arma
de propaganda político-ideológica do Estado Novo,
instrumental no reconhecimento internacional do
governo, por um lado e, por outro, estratégia de
inclusão dos cidadãos nos ideais e princípios de um
regime ordeiro e respeitador, pela promoção de uma
estética nacional(ista). Nesta conjuntura de guerra, e
considerando que devido a tal se tinha interrompido
o fluxo de turistas para Portugal, Ferro procurou
aproveitar a pausa forçada “para encenar […] o
país de norte a sul” (FERRO, 1949c, p. 76), intuito
que concretizou recorrendo em grande medida à
“Campanha do Bom Gosto”, que se assumiu, assim,
como uma forma de nacionalização dos portugueses.
Desta forma, no Porto, tal como na capital, a
acção do Secretariado, através da sua delegação,
procurou transformar a cidade, e a região, num “cartaz
excepcionalmente convidativo, que fizesse [do Porto]
uma grande atracção turística, não só para nacionais
como para estrangeiros” (Diário de Notícias, 5 jul.
1945, p. 4). Dentro deste espírito, a delegação do Norte
do Secretariado dinamizou uma série de actividades,
orientando e colaborando na execução de realizações
turísticas e artísticas, de melhoramento do gosto, de
privados: prestando assistência técnica e fornecendo
ilustrações para trabalhos gráficos; executando
trabalhos técnicos para estabelecimentos de turismo,
como a orientação dos trabalhos de restauro e de
decoração na pousada de São Gonçalo, tendo-se
Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 289-302, maio-ago. 2017
C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
fornecido desenhos para o novo mobiliário, bem
como o parecer para a decoração de um novo hotel
em Esposende, o Suave Mar (ANTT, jan. 1947, s.p.).
A aposta de António Ferro subscreveu-se,
portanto, no âmbito de uma encenação da vida
nacional, projectando uma imagem de Portugal para
os portugueses de acordo com a ideologia do regime.
Considerações finais
Segue-se neste artigo a ideia veiculada por José
Barreto (2011), a de que a “Política do Espírito” de
Ferro concretizou um duplo objectivo: a estetização
da política e a politização da arte, características
que parecem repetir-se por vários outros regimes
autoritários/totalitários do período de entre as duas
guerras.
Com efeito, este desejo de moldar as concepções
estéticas, em particular o gosto decorativo da sociedade,
numa “cruzada contra o feio”, patente na “Campanha
do Bom Gosto” lançada por António Ferro, não foi
exclusivo do regime estadonovista português. Políticas
similares podiam ser encontradas em outros regimes
europeus, especialmente nos de tipo autoritário e
ditatorial, sendo que nestes, tal como no português,
as intervenções centravam-se no quotidiano das
populações, invadindo deliberadamente o espaço diário
e a sua decoração (ALVES, 2007).
Neste sentido, um dos intuitos políticos claros da
“Campanha do Bom Gosto” foi a necessidade sentida
pelo regime de os portugueses conhecerem Portugal,
na percepção de que era necessário conhecer o país
para o amar: “Deve amar-se e conhecer Portugal, no
seu passado de grandeza heróica, no seu presente de
possibilidades materiais e morais, antevê-lo no seu
futuro de progresso, de beleza, de harmonia” (FERRO,
1934, apud SANTOS, 2008, p. 63). Convém ressaltar
que esta descoberta da Nação centrava-se na Nação
encenada por Ferro e não na pátria real, longe da utopia
idealizada via “Campanha do Bom Gosto”. Assim, e
apesar de Ferro falar do “desejo vago, imponderável,
das […] classes humildes, incultas, que sofrem a
nostalgia da beleza sem lhe conhecer as formas, como
alguns povos se estiolam na contemplação interior do
mar que nunca viram” (1950, p. 17), o alvo prioritário
desta campanha foram as classes médias urbanas:
por um lado, pelo facto de se constituírem como
intermediárias entre as elites intelectuais e políticas
e as massas, o que fez com que a sua nacionalização
se tornasse essencial “a um regime que fazia da
299
identificação com a nação um dos principais modos de
legitimação” e, por outro, porque eram “o grupo social
onde seria possível encontrar os potenciais agentes
[da] renovação estética” ambicionada (ALVES, 2007,
p. 297, 276).
Nem todos, todavia, foram conquistados por este
“gosto oficial”. Fernando Lopes Graça20, por exemplo,
rejeitava todo o “programa de pitoresco e de garridice
folclórica”, que enformava “uma estética que tem
produzido as suas devastações em bastantes outros
sectores da arte portuguesa contemporânea mais ou
menos oficial: a estética do bonito, que está dito e
redito ser inimiga da estética do belo”; para Lopes
Graça, o regime tinha oficializado uma arte “adorno
da boa sociedade”, cuja “utilidade domina e submerge
tudo”, essencialmente ornamental e decorativa, falha
de “um traço forte, uma nota sóbria, uma ideia viril”
(1944, p. 325).
Assim, esta campanha de embelezamento do país
foi, na realidade, uma construção elitista, direccionada
hierarquicamente, com claros intuitos ideológicos,
destinada a potenciar o sentimento de pertença e de
identificação com a Nação, ao disseminar o sentimento
patriótico da esfera pública para o plano do quotidiano
das populações. Tal leva-nos ao conceito desenvolvido
por Michael Billig (1995), de “nacionalismo banal”, um
nacionalismo que se reproduz no dia-a-dia, tomando
a Nação como facto adquirido, contribuindo, desta
forma, para naturalizar a sua existência. Embora Billig
se reporte maioritariamente a questões linguísticas,
também os artefactos e as representações visuais
podem ter o mesmo efeito, a nível da reprodução diária
do sentimento nacional.
Como sintetiza Vera Alves, “aproveitando o
domínio sobre um número crescente de aspectos da
vida cultural e social do país, o SPN fundava uma
política do gosto, tentando transformar o próprio
20
Fernando Lopes Graça (1906-1994) foi um compositor,
pianista, pedagogo, crítico e ensaísta português, que deixou uma
obra musical extensíssima a par de uma importante obra literária,
testemunho da sua intensa actividade cultural e política. Estudou
no Conservatório de Música de Lisboa e concluiu em 1931 o Curso
de Composição. Por motivos políticos foi impedido de leccionar
em Portugal e não pôde, também, usufruir de uma bolsa que
ganhou para estudar no estrangeiro, tendo estado preso em Caxias.
Entre 1937 e 1939 viveu em Paris, onde estudou composição e
musicologia. A procura de uma linguagem estética portuguesa
levou-o a deinir o conceito de “música portuguesa” como uma
fórmula que exprime uma relação étnico-estética, expressão cultural
e ilosóica alicerçada na tradição musical do povo. A recolha e a
reinterpretação da música popular portuguesa constituiu um eixo
permanente da sua criação evidenciado em muitas das suas obras
para voz e piano e relectindo-se, igualmente, em grande parte da
sua obra instrumental (Museu Música Portuguesa, s/d.).
Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 289-302, maio-ago. 2017
C. Ribeiro | A educação estética da Nação e a “Campanha do Bom Gosto” ...
modo de estar e de pensar dos portugueses” (2007,
p. 280). Poderemos mesmo afirmar que Ferro parece
ter procurado uma “politics of beauty”, que produzisse
“the union of the political and the aesthetic worlds”
(ZÚQUETE, 2005, p. 55), concordando-se com
Margarida Acciaiuoli quando refere que, pela mão
de António Ferro e da sua “Política do Espírito”, se
verificou uma transformação dos próprios artistas em
“decoradores da acção política” (2008, p. 16).
A campanha permitiu igualmente a promoção
externa da imagem de uma Nação moderna, de um país
onde o bom gosto, esteticamente falando, correspondia,
no plano político, a uma sociedade de ordem, uma
Nação responsável. Desta forma, foi um “mecanismo
em que o poder, sobre quem recaía a decisão de definir
o que era moderno, se efectivava esteticamente, […] o
lugar da absoluta impossibilidade de se separar a arte
do poder que entretanto intervinha incessantemente
nela” (ACCIAIUOLI, 2008, p. 21-22).
Assim, pode afirmar-se que, mais do que permitir a
renovação das artes decorativas, mais do que conseguir
ultrapassar os resquícios da estética oitocentista
nacional, a “Campanha do Bom Gosto” pretendia
conferir ao regime salazarista a dimensão feérica e
encantatória que todo o Poder procura ter ou, como
o disse Ferro na sua juventude: “Vestir a Vida, mentila o mais possível para melhor ser suportada” (1917,
p. 12-13).
Para terminar, algumas considerações sobre a
herança da obra cultural de António Ferro no Portugal
do século XXI. Analisando as marcas identitárias do
Portugal actual, pode afirmar-se que o seu legado
sobreviveu ao Salazarismo e à passagem do século.
Com efeito, se é verdade que Ferro, homem do mundo,
propagandista, mudou a forma como o mundo olhava
para Portugal, é igualmente verdade que mudou
também a forma como muitos portugueses olhavam
e olham ainda para o seu país: “It was then that a
definition of a Portuguese visual identity was achieved;
many decades later we still live surrounded by national
concepts, images and stereotypes that were then
generated (BÁRTOLO, 2012, p. 271). Para Fernando
Rosas, Ferro não quis apenas “construir a imagem de
Salazar, [procurando antes] reconstruir a identidade
cultural de um país, mudando a cabeça dos portugueses
por dentro” (apud CANELAS, 2012, s.p.).
Esta recriação da identidade nacional foi conseguida
através de uma política de fomento cultural – a “Política
do Espírito” – apoiando, promovendo e projectando
a criação e produção artísticas nas suas diferentes
disciplinas, da música à escultura, da arquitetura à
300
pintura, passando pelo cinema e teatro mas, em especial,
como se viu, nas artes decorativas e no design, pela
instauração de um novo paradigma gráfico e estético.
Desta forma, a partir da inovação formal de cariz
modernista introduzida por Ferro e pela sua equipa
de artistas-decoradores nestas áreas, novos ícones
e símbolos do país foram (re)criados, reinventados,
reinterpretados. E embora o galo de Barcelos se tenha
tornado o símbolo de Portugal mais popular, não é, de
todo, o único resultado deste período fértil de criação
artística: os bonecos de barro de Estremoz e a olaria
de Barcelos, os tapetes de Arraiolos, as colchas de
Castelo Branco, o traje feminino de Viana do Castelo,
os pauliteiros de Miranda, entre muitos outros, foram
então (re)criados, estilizados e mercantilizados como
produtos identitários da Nação portuguesa.Tal permitiu
a materialização de uma ideia de Portugal afecta ao
regime, mas coadunando-se igualmente com a visão de
Portugal de António Ferro, de um país em simultâneo
moderno e tradicional.
Em resumo: Ferro deixou claramente uma marca no
tempo. Pode-se gostar ou não da figura, mas António
Ferro era um homem com um projecto e a sua herança
é ainda visível no Portugal democrático do século XXI.
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Recebido: 23 de julho de 2016
Aprovado: 03 de novembro de 2016
Autor/Author:
Carla ribeiro
[email protected]
• Professora Ajdunta na Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (ESEP). Investigadora do CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, Universidade do Porto) e do InED
(Centro de Investigação e Inovação em Educação, ESEP). Doutora em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com a tese Imagens e representações de Portugal. António Ferro e a
elaboração identitária da Nação. Áreas de investigação: políticas e organismos culturais do Estado Novo em Portugal, com enfoque no Secretariado de Propaganda Nacional; estudos folcloristas portugueses
nos séculos XIX e XX, em ligação com questões da identidade nacional; cinema português no Estado Novo; turismo português no Estado Novo.
◦ Associate Professor at the School of Education of Polytechnic Institute of Porto (ESEP). Researcher of the CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, Universidade do Porto) and the
InED (Centro de Investigação e Inovação em Educação, ESEP). PhD in History by the Faculdade de Letras da Universidade do Porto, with the Dissertation Images and representations of Portugal. António
Ferro and the elaboration of the Nation’s identity. Research areas: cultural politics and organisms of the Portuguese New State, with focus on the National Propaganda Bureau; portuguese folklore studies at
the 19th and 20th centuries, in connection with questions of national identity; Portuguese cinema in the New State; Portuguese tourism in the New State.
Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 289-302, maio-ago. 2017