Série Van Wylen
Relações Termodinâmicas
BORGNAKKE
· SONNTAG
Reações Químicas
Introdução ao Equilíbrio de Fases
e ao Equilíbrio Químico
FUNDAMENTOS DA
• Aplicações na engenharia, relacionadas ao assunto de cada capítulo, que procuram deixar
TERMODINAMICA
• Questões conceituais ao longo do texto, para provocar alguma reflexão e melhorar a
ÃO
NA
E DIÇ
8ª
Exergia
CA
Específico de Gás Ideal, Equações de Estado e Figuras. Seu conteúdo, muito bem ilustrado e
dução d
a
r
a
Figuras
autores. Vale destacar a ênfase dada às aplicações com os fluidos refrigerantes dióxido de
t
Equações de Estado
A M E RI
TEXTO
INTEGRAL
de Fase
Refrigeração – Fluidos de
Conteúdo
Conteúdo
1
Introdução e Comentários Preliminares, 21
1.1
O Sistema Termodinâmico e o Volume de Controle, 23
1.2
Pontos de Vista Macroscópico e Microscópico, 24
1.3
Estado e Propriedades de uma Substância, 25
1.4
Processos e Ciclos, 26
1.5
Unidades de Massa, Comprimento, Tempo e Força, 26
1.6
Volume Específico e Massa Específica, 29
1.7
Pressão, 31
1.8
Energia, 34
1.9
Igualdade de Temperatura, 37
1.10 A Lei Zero da Termodinâmica, 37
1.11 Escalas de Temperatura, 38
10.12 Aplicações na Engenharia, 39
Resumo, 41
Problemas, 43
2
Propriedades de uma Substância Pura, 53
2.1
A Substância Pura, 54
2.2
As Fronteiras das Fases, 54
2.3
A superfície P-v-T, 57
2.4
Tabelas de Propriedades Termodinâmicas, 60
2.5
Os Estados Bifásicos, 61
2.6
Os Estados Líquido e Sólido, 62
2.7
Os Estados de Vapor Superaquecido, 63
2.8
Os Estados de Gás Ideal, 65
2.9
O Fator de Compressibilidade, 69
2.10 Equações de Estado, 72
2.11 Tabelas Computadorizadas, 72
2.12 Aplicações na Engenharia, 73
Resumo, 75
Problemas, 76
13
14
3
Fundamentos da Termodinâmica
A Primeira Lei da Termodinâmica e Equação da Energia, 89
3.1
A Equação da Energia, 90
3.2
A Primeira Lei da Termodinâmica, 92
3.3
A Definição de Trabalho, 92
3.4
Trabalho Realizado na Fronteira Móvel de um Sistema Compressível Simples, 96
3.5
Definição de Calor, 102
3.6
Modos de Transferência de Calor, 103
3.7
Energia Interna − Uma Propriedade Termodinâmica, 105
3.8
Análise de Problemas e Técnica de Solução, 106
3.9
A Propriedade Termodinâmica Entalpia, 111
3.10 Calores Específicos a Volume e a Pressão Constantes, 114
3.11 A Energia Interna, Entalpia e Calor Específico de Gases Ideais, 115
3.12 Sistemas Gerais que Envolvem Trabalho, 121
3.13 Conservação de Massa, 122
3.14 Aplicações na Engenharia, 124
Resumo, 129
Problemas, 132
4
Análise Energética para um Volume de Controle, 157
4.1
Conservação de Massa e o Volume de Controle, 157
4.2
A Equação da Energia para um Volume de Controle, 159
4.3
O Processo em Regime Permanente, 161
4.4
Exemplos de Processos em Regime Permanente, 163
4.5
Dispositivos com Múltiplos Fluxos, 172
4.6
O Processo em Regime Transiente, 173
4.7
Aplicações na Engenharia, 177
Resumo, 181
Problemas, 183
5
A Segunda Lei da Termodinâmica, 203
5.1
Motores Térmicos e Refrigeradores, 204
5.2
A Segunda Lei da Termodinâmica, 208
5.3
O Processo Reversível, 211
5.4
Fatores que Tornam um Processo Irreversível, 212
5.5
O Ciclo de Carnot, 214
5.6
Dois Teoremas Relativos ao Rendimento Térmico do Ciclo de Carnot, 216
5.7
A Escala Termodinâmica de Temperatura, 217
5.8
A Escala de Temperatura de Gás Ideal, 217
5.9
Máquinas Reais e Ideais, 220
5.10 Aplicações na Engenharia, 223
Resumo, 225
Problemas, 227
6
Entropia, 241
6.1
6.2
6.3
Desigualdade de Clausius, 242
Entropia – Uma Propriedade do Sistema, 244
A Entropia para uma Substância Pura, 245
Conteúdo
6.4
Variação de Entropia em Processos Reversíveis, 247
6.5
Duas Relações Termodinâmicas Importantes, 251
6.6
Variação de Entropia em um Sólido ou Líquido, 251
6.7
Variação de Entropia em um Gás Ideal, 252
6.8
Processo Politrópico Reversível para um Gás Ideal, 255
6.9
Variação de Entropia do Sistema Durante um Processo Irreversível, 258
6.10 Geração de Entropia e Equação da Entropia, 259
6.11 Princípio de Aumento de Entropia, 261
6.12 Equação da Taxa de Variação de Entropia, 263
6.13 Comentários Gerais sobre Entropia e Caos, 267
Resumo, 268
Problemas, 270
7
Segunda Lei da Termodinâmica Aplicada a Volumes de Controle, 291
7.1
A Segunda Lei da Termodinâmica para um Volume de Controle, 291
7.2
O Processo em Regime Permanente e o Processo em Regime Transiente, 293
7.3
O Processo Reversível em Regime Permanente para Escoamento Simples, 299
7.4
Princípio do Aumento da Entropia para um Volume de Controle, 302
7.5
Aplicações na Engenharia – Eficiência, 304
7.6
Resumo da Análise de Volume de Controle, 309
Resumo, 310
Problemas, 312
8
Exergia, 335
8.1
Exergia, Trabalho Reversível e Irreversibilidade, 335
8.2
Exergia e Eficiência Baseada na Segunda Lei da Termodinâmica, 344
8.3
Equação do Balanço de Exergia, 350
8.4
Aplicações na Engenharia, 353
Resumo, 354
Problemas, 356
9
Sistemas de Potência e Refrigeração – com Mudança de Fase, 369
9.1
9.2
9.3
9.4
9.5
9.6
9.7
9.8
9.9
9.10
9.11
Introdução aos Ciclos de Potência, 370
O Ciclo Rankine, 371
Efeitos da Pressão e da Temperatura no Ciclo Rankine, 374
O Ciclo com Reaquecimento, 377
O Ciclo Regenerativo e Aquecedores de Água de Alimentação, 378
Afastamento dos Ciclos Reais em Relação aos Ciclos Ideais, 384
Cogeração e outras Configurações, 386
Introdução aos Sistemas de Refrigeração, 389
Ciclo de Refrigeração por Compressão de Vapor, 389
Fluidos de Trabalho para Sistemas de Refrigeração por Compressão de Vapor, 391
Afastamento do Ciclo de Refrigeração Real de Compressão de Vapor em Relação ao Ciclo
Ideal, 393
9.12 Configurações de Ciclos de Refrigeração, 394
9.13 O Ciclo de Refrigeração por Absorção, 396
Resumo, 397
Problemas, 399
15
16
10
Fundamentos da Termodinâmica
Sistemas de Potência e Refrigeração – Fluidos de Trabalhos Gasosos, 419
10.1 Ciclos Padrão a Ar, 419
10.2 O Ciclo Brayton, 420
10.3 O Ciclo Simples de Turbina a Gás com Regenerador, 425
10.4 Configurações do Ciclo de Turbina a Gás para Centrais de Potência, 427
10.5 O Ciclo Padrão a Ar para Propulsão a Jato, 430
10.6 O Ciclo Padrão de Refrigeração a Ar, 433
10.7 Ciclos de Potência dos Motores com Pistão, 435
10.8 O Ciclo Otto, 436
10.9 O Ciclo Diesel, 440
10.10 O Ciclo Stirling, 442
10.11 Os Ciclos Atkinson e Miller, 442
10.12 Ciclos Combinados de Potência e Refrigeração, 444
Resumo, 446
Problemas, 448
11
Mistura de Gases, 463
11.1
11.2
11.3
11.4
11.5
Considerações Gerais e Misturas de Gases Ideais, 463
Um Modelo Simplificado para Misturas de Gás-Vapor, 469
A Primeira Lei Aplicada a Misturas de Gás-Vapor, 472
O Processo de Saturação Adiabática, 474
Aplicações na Engenharia – Temperaturas de Bulbo Úmido e de Bulbo Seco e a Carta
Psicrométrica, 475
Resumo, 479
Problemas, 481
12
Relações Termodinâmicas, 499
12.1 A Equação de Clapeyron, 500
12.2 Relações Matemáticas para Fase Homogênea, 502
12.3 As Relações de Maxwell, 503
12.4 Algumas Relações Termodinâmicas Envolvendo Entalpia, Energia Interna e Entropia, 505
12.5 Expansividade Volumétrica e Compressibilidades Isotérmica e Adiabática, 509
12.6 O Comportamento dos Gases Reais e as Equações de Estado, 510
12.7 O Diagrama Generalizado para Variações de Entalpia a Temperatura Constante, 514
12.8 O Diagrama Generalizado para Variações de Entropia a Temperatura Constante, 516
12.9 Relações de Propriedades para Misturas, 518
12.10 Modelos de Substâncias Pseudopuras para Misturas Gasosas Reais, 521
12.11 Aplicações na Engenharia – Tabelas de Propriedades Termodinâmicas, 524
Resumo, 527
Problemas, 529
13
Reações Químicas, 543
13.1
13.2
13.3
13.4
13.5
Combustíveis, 543
O Processo de Combustão, 546
Entalpia de Formação, 553
Aplicação da Primeira Lei em Sistemas Reagentes, 554
Entalpia, Energia Interna de Combustão e Calor de Reação, 558
Conteúdo
17
13.6 Temperatura Adiabática de Chama, 559
13.7 Terceira Lei da Termodinâmica e Entropia Absoluta, 564
13.8 Aplicação da Segunda Lei em Sistemas Reagentes, 565
13.9 Células de Combustível, 568
13.10 Aplicações na Engenharia, 571
Resumo, 575
Problemas, 577
14
Introdução ao Equilíbrio de Fases e ao Equilíbrio Químico, 593
14.1 Condições para o Equilíbrio, 593
14.2 Equilíbrio entre Duas Fases de uma Substância Pura, 595
14.3 Equilíbrio Metaestável, 597
14.4 Equilíbrio Químico, 598
14.5 Reações Simultâneas, 605
14.6 Gaseificação de Carvão, 608
14.7 Ionização, 608
14.8 Aplicações na Engenharia, 610
Resumo, 612
Problemas, 613
15
Escoamento Compressível, 623
15.1
15.2
15.3
15.4
Propriedades de Estagnação, 624
A Equação da Conservação de Quantidade de Movimento para um Volume de Controle, 625
Forças que Atuam sobre uma Superfície de Controle, 627
Escoamento Unidimensional, Adiabático e em Regime Permanente de um Fluido
Incompressível em um Bocal, 628
15.5 Velocidade do Som em um Gás Ideal, 630
15.6 Escoamento Unidimensional, em Regime Permanente, Adiabático e Reversível de um Gás
Ideal em Bocais, 632
15.7 Descarga de um Gás Ideal em um Bocal Isotrópico, 634
15.8 Choque Normal no Escoamento de um Gás Ideal em um Bocal, 637
15.9 Coeficientes do Bocal e do Difusor, 641
15.10 Bocais e Orifícios como Medidores de Vazão, 643
Resumo, 646
Problemas, 651
Apêndice A – Propriedades Gerais, 659
Apêndice B – Propriedades Termodinâmicas, 675
Apêndice C – Calor Especíico de Gás Ideal, 708
Apêndice D – Equações de Estado, 710
Apêndice E – Figuras, 715
18
Fundamentos da Termodinâmica
Respostas para Problemas Selecionados, 719
Índice Remissivo, 725
Introdução e Comentários Preliminares
Introdução e
Comentários
Preliminares
O campo da termodinâmica se relaciona com a ciência da energia, com foco
em armazenamento e processos de conversão de energia. Neste livro, estudaremos os efeitos em substâncias diferentes, cujas massas podem ser submetidas
a aquecimento/resfriamento ou a compressão/expansão volumétrica. Durante
tais processos, estamos transferindo energia para ou de um sistema (massa),
que terá uma mudança nas suas condições que são expressas por propriedades
como temperatura, pressão e volume. Usamos vários processos semelhantes a
esse em nossas vidas diárias; por exemplo, aquecemos água para fazer café ou
chá, ou a resfriamos em um refrigerador para produzir água gelada ou pedras
de gelo em um congelador. Na natureza, a água evapora de oceanos e lagos e se
mistura com ar no qual o vento pode transportá-la, e mais tarde pode deixar o
ar, na forma de chuva (água líquida) ou neve (água sólida). Como estudamos
esses processos em detalhe, enfocaremos situações que são fisicamente simples
e, ainda, típicas de situações da vida real na indústria ou na natureza.
Descrevendo os processos envolvidos, podemos apresentar equipamentos
ou sistemas complexos — por exemplo, uma central elétrica simples a vapor
que é o sistema básico que gera grande parte da nossa potência elétrica. Uma
central elétrica que queima carvão e produz potência elétrica e água quente
para aquecimento distrital é mostrada na Figura 1.1. O carvão é transportado
por um navio, e as tubulações de aquecimento distrital são localizadas em túneis
subterrâneos e, dessa forma, não são visíveis. Uma descrição mais técnica e um
melhor entendimento é obtido a partir do esquema simples da central elétrica,
como mostrado na Figura 1.2. Nesse esquema são apresentadas as várias saídas
da planta como potência elétrica fornecida à rede, água quente para aquecimento distrital, escória de carvão queimado, e outros materiais como cinza e gesso;
a última saída é de um escoamento de gases de exaustão deixando a planta pela
chaminé.
Outro conjunto de processos fazem parte do refrigerador que usamos para
resfriar alimentos ou para produzir um escoamento de fluido a temperaturas
muito baixas para uma cirurgia criogênica, na qual o congelamento do tecido
causa um mínimo sangramento. Um esquema simples de um sistema desse tipo
é mostrado na Figura 1.3. O mesmo sistema pode, também, funcionar como
um condicionador de ar com o duplo objetivo de resfriamento de um edifício
21
1
22
Fundamentos da Termodinâmica
Calor para o ambiente
Vapor alta
temperatura
2
Condensador
Trabalho
3
Líquido
Válvula de
expansão ou
tubo capilar
Compressor
Evaporador
Vapor baixa
temperatura
1
Líquido frio
+ vapor
Calor do espaço
refrigerado
4
Figura 1.3
Esquema de um refrigerador.
no verão e aquecimento no inverno; neste último
modo de uso, é também chamado bomba de calor.
Considerando aplicações móveis, podemos desenvolver modelos simples para motores a gasolina e
diesel, normalmente utilizados para transporte, e
turbinas a gás, motores a jato dos aviões, em que o
baixo peso e volume são de grande preocupação.
Figura 1.1
Central termoelétrica Esbjerg, Dinamarca. (Cortesia Dong
Energy A/S, Denmark.)
Produtos de combustão
Tambor
de vapor
(tubulão)
Turbina
Gerador elétrico
Silo de
carvão
Chaminé
Sistema de
distribuição
elétrico
Óleo
Lavador
de
gases
Calcário
Despoeirador
Moedor
de carvão
Bomba
Cinza
volante
Ar
Figura 1.2
Esquema de uma central termoelétrica a vapor.
Cinza
fundida
Trocador
de calor
Sistema de
resfriamento
(aquecimento
distrital)
Propriedades de uma Substância Pura
Propriedades de uma
Substância Pura
Consideramos, no capítulo anterior, três propriedades bem conhecidas de uma
substância: volume específico, pressão e temperatura. Agora voltaremos nossa atenção para as substâncias puras e consideraremos algumas das fases em
que uma substância pura pode existir, o número de propriedades independentes que pode ter e os métodos utilizados na apresentação das propriedades
termodinâmicas.
O conhecimento do comportamento e das propriedades das substâncias é
essencial na análise de dispositivos e sistemas termodinâmicos. A usina de geração de energia a vapor mostrada na Figura 1.1 e outras usinas de geração de
energia que usam combustíveis diferentes, como o óleo, o gás natural ou a energia nuclear, apresentam processos muito similares, que utilizam a água como
fluido de trabalho. O vapor d’água é obtido a partir da ebulição de água a alta
pressão, no gerador de vapor, seguida de expansão para a turbina com pressão
mais baixa, resfriamento no condensador e retorno para o gerador de vapor
através de uma bomba que aumenta sua pressão, como mostrado na Figura 1.2.
É necessário conhecer as propriedades da água para dimensionar corretamente
os equipamentos tais como queimadores, trocadores de calor, turbinas e bombas, e obter a transferência de energia e escoamento da água desejados. Quando
a água passa do estado líquido para vapor, necessitamos conhecer a temperatura em uma dada pressão, bem como a densidade ou volume específico, para que
a tubulação seja dimensionada corretamente para o escoamento desejado. Caso
as tubulações sejam muito pequenas, a expansão criará velocidades excessivas, causando perda da pressão e aumentando o atrito. Isso demandará bombas
maiores, o que reduzirá a produção de trabalho da turbina.
Outro exemplo é o refrigerador mostrado na Figura 1.3. Nessa aplicação,
precisamos de uma substância que evapore a uma temperatura baixa, digamos
–20 °C. Esse processo absorve energia do ambiente refrigerado, mantendo-o
frio. Na “grade” preta localizada na parte traseira ou na base do refrigerador, o
fluido, agora quente, é resfriado pela passagem de ar ambiente através da grade.
Nesse processo, o fluido é condensado a uma temperatura ligeiramente maior
que a do ambiente. Quando um sistema desses é projetado, precisamos conhecer as pressões em que ocorrem esses processos, e as quantidades de energia
envolvidas – assunto coberto nos Capítulos 3 e 4. Precisamos conhecer também
53
2
54
Fundamentos da Termodinâmica
qual o volume ocupado pela substância, isto é, o
volume específico, para selecionar os diâmetros
das tubulações como mencionado na usina de produção de vapor. A substância deve ser selecionada de modo que a pressão seja razoável durante o
processo; não deve ser muito alta para evitar vazamentos e também por questões de segurança, e
não deve ser muito baixa para evitar a possibilidade de contaminação da substância pelo ar.
Um último exemplo de um sistema em que é
necessário o conhecimento das propriedades da
substância é a turbina a gás e sua variação, motor
a jato. Nesses sistemas, a substância de trabalho
é um gás (muito semelhante ao ar) e não ocorre
mudança de fase. Combustível e ar são queimados, liberando uma grande quantidade de energia,
provocando o aquecimento e consequente expansão do gás. Precisamos saber o quanto o gás
é aquecido e expandido para analisar o processo
de expansão na turbina e no bocal de descarga do
motor a jato. Nesses dispositivos, a velocidade do
fluido de trabalho deve ser alta no interior da turbina e no bocal de descarga do motor a jato. Essa
alta velocidade “empurra” as palhetas da turbina,
produzindo trabalho de eixo, ou, no caso do motor
a jato, empurra as palhetas do compressor (dando um impulso) para movimentar a aeronave para
frente.
Esses são apenas alguns exemplos de sistemas termodinâmicos em que uma substância
percorre vários processos, sofrendo mudanças de
estado termodinâmico e, portanto, alterando suas
propriedades. Com a progressão dos seus estudos,
outros exemplos serão apresentados para ilustrar
os diversos temas.
2.1 A SUBSTÂNCIA PURA
Uma substância pura é aquela que tem composição química invariável e homogênea. Pode existir
em mais de uma fase, mas a composição química
é a mesma em todas as fases. Assim, água líquida, uma mistura de água líquida e vapor d’água ou
uma mistura de gelo e água líquida são todas substâncias puras, pois cada fase apresenta a mesma
composição química. Por outro lado, uma mistura de ar líquido e ar gasoso não é uma substância
pura, porque as composições das fases líquida e
gasosa são diferentes.
Às vezes, uma mistura de gases, tal como o
ar, é considerada uma substância pura desde que
não haja mudança de fase. Rigorosamente falando,
isso não é verdade. Como veremos mais adiante,
pode-se dizer que uma mistura de gases, tal como
o ar, exibe algumas das características de uma
substância pura, contanto que não haja mudança
de fase.
Neste livro, daremos ênfase às substâncias
simples e compressíveis. Este termo designa
substâncias cujos efeitos de superfície, magnéticos e elétricos não são significativos. Por outro
lado, as variações de volume, tais como aquelas
associadas à expansão de um gás em um cilindro,
são muito importantes. Entretanto, faremos referência a outras substâncias nas quais os efeitos
de superfície, magnéticos ou elétricos são importantes. Chamaremos o sistema que consiste de
uma substância compressível simples de sistema
compressível simples.
2.2 AS FRONTEIRAS DAS FASES
Consideremos como sistema certa quantidade de
água contida no conjunto pistão-cilindro mantido a
uma pressão constante, como na Figura 2.1a e cuja
temperatura consigamos monitorar. Assuma que a
água comece o processo nas condições ambientais
P0 e T0, em que o estado seja líquido. Se a água é
aquecida gradativamente, a temperatura aumenta,
o volume aumenta apenas ligeiramente, porém,
por definição, a pressão permanece constante.
Quando a temperatura atinge 99,6 ºC, uma transferência adicional de calor resulta em uma mudança
de fase, com a formação de alguma quantidade de
vapor, como indica a Figura 2.1b. Nesse processo, a
temperatura permanece constante, mas o volume
aumenta consideravelmente. Mais aquecimento
gera mais e mais vapor e um aumento substancial
do volume até a última gota do líquido vaporizar.
Uma transferência adicional de calor resulta em
um aumento da temperatura e do volume específico do vapor, como mostra a Figura 2.1c.
O termo temperatura de saturação designa a
temperatura em que ocorre a vaporização a uma
dada pressão, também conhecido como temperatura de ebulição. Se o experimento for repetido
para diferentes pressões teremos uma temperatura de saturação diferente que pode ser marcado na
55
Propriedades de uma Substância Pura
P
Vapor d’água
Água líquida
Água líquida
(a)
( b)
S
L
V
T
Figura 2.2
A separação das fases de um diagrama de fases.
Vapor d’água
(c)
Figura 2.1
Mudança da fase líquida para vapor de uma substância
pura a pressão constante.
Figura 2.2, separando as regiões de líquido (L) e
vapor (V). Se o experimento for feito para resfriamento, ao invés de para o aquecimento, verificaremos que quando a temperatura diminui, alcançamos o ponto no qual o gelo (S para estado sólido)
começa a se formar, com um aumento de volume
associado. Durante o resfriamento, o sistema forma mais gelo e menos líquido a uma temperatura
constante, que é uma temperatura de saturação
diferente comumente chamada ponto de congelamento. Quando todo o líquido se transforma em
gelo, um resfriamento adicional reduzirá a temperatura e o volume será praticamente constante.
O ponto de congelamento é também marcado na
Figura 2.2 para cada conjunto de pressão, e estes
pontos separam a região de líquido da região de
sólido. Cada um destes dois conjuntos de marcadores, caso se formem suficientemente próximos,
formam a curva e ambos são curvas de saturação.
A curva da esquerda é conhecida como a linha
de fusão (praticamente uma reta), como se fosse
uma fronteira entre a fase sólida e a fase líquida,
enquanto a curva da direita é chamada curva de
vaporização.
Se o experimento é repetido para pressões
cada vez mais baixas, observa-se que as duas cur-
vas de saturação se encontram, e uma redução
adicional na pressão resulta em uma curva simples
de saturação denominada de a linha de sublimação, separando a fase sólida da fase vapor. O ponto
em que as curvas se encontram é chamado ponto
triplo e é a única combinação em que as três fases
(sólida, líquida e gasosa) podem coexistir; abaixo o ponto triplo, na temperatura ou pressão, nenhuma fase líquida pode existir. As três diferentes
curvas de saturação estão apresentadas na Figura
2.3 denominada diagrama de fases. Este diagrama
mostra os diferentes conjuntos de propriedades
de saturação (Tsat, Psat) em que é possível ter duas
fases em equilíbrio. Para uma pressão superior,
22,09 MPa, no caso da água, a curva de vaporização termina em um ponto chamado ponto crítico.
Acima dessa pressão, não há nenhum fenômeno
de ebulição, e aquecer o líquido produzirá um vapor sem ebulição em uma transição suave.
As propriedades no ponto triplo podem variar
significativamente entre as substâncias, como está
evidenciado na Tabela 2.1. O mercúrio, como outros metais, tem um ponto triplo de pressão baixo,
e o dióxido de carbono tem um ponto triplo alto,
P
Linha de fusão
Ponto crítico
S
L
V
b
Linha de sublimação
a
Ponto
triplo
T
Figura 2.3
Esboço de um diagrama de fase de água.
59
Propriedades de uma Substância Pura
Uma vez que a superfície tridimensional é
muito complicada, vamos indicar processos e estados em diagramas P-v, T-v, ou P-T para obter uma
visualização de como ocorrem as mudanças de
estado durante um processo. Desses diagramas,
o diagrama P-v será particularmente útil quando
falarmos sobre o trabalho feito durante um processo, no capítulo seguinte.
P
T = constante
g
L
e
-líquido
Líq
u
-va idopor
Lin
h
trip a
la
lid
Vo
lum
geral que afirma que, para uma substância pura simples, o estado é definido
por duas propriedades independentes.
l
c
Só
b
Gás
h
n
Va
k
po
ap
L
S
r g
a
o-v
Diagrama P.V. para a região de duas fases L.V.
Ponto
crítico
i
Líquido
P
ura
or
rat
pe
m
e
e
L
V
Sólido
T
Vapor
S
V
ura
rat
e
mp
Te
f
mo
S
L
Sólido
d
Líquido
l
Ponto
crítico
Vapor
Líquido-vapor
Gás
c
Linha tripla
Sólido-vapor
Volume
b
Líquido
Pressão
Sólido
Sólido-líquido
Pressão
e
V
Figura 2.9
d
Sólido
Pressão
Sólido
L+V
v
o
j m
h
i
Olhando para a superfície da P-v-T de cima,
em paralelo com o eixo de pressão, toda a superfície é visível e não sobreposta. Isto é, para cada
par de coordenadas (T, v) existe é um e somente
um estado na superfície, de modo que P é, então,
uma função única de T e v. Isto é um princípio
f
j
n
k
a
Ponto
S triplo
V
Ponto
crítico
L
V
Vapor
Gás
Temperatura
Figura 2.8
Superfície pressão-volume-temperatura para uma substância que contrai
na solidifcação.
Para entender o significado do termo propriedade independente, considere os estados líquido saturado e vapor
saturado de uma substância pura. Esses dois estados têm a mesma pressão
e a mesma temperatura, mas não são
definitivamente o mesmo estado. Portanto, em um estado de saturação, a
pressão e a temperatura não são propriedades independentes. São necessárias duas propriedades independentes,
tais como pressão e volume ou pressão
e título, para especificar um estado de
saturação de uma substância pura.
A razão para mencionar anteriormente que uma mistura de gases, como
o ar, tem as mesmas características que
uma substância pura, enquanto apenas
uma fase está presente, tem a ver precisamente com esse ponto. O estado
do ar, que é uma mistura de gases de
composição definida, é determinado especificando-se duas propriedades, contanto que permaneçam na fase gasosa.
Em seguida, o ar pode ser tratado como
uma substância pura.
Propriedades de uma Substância Pura
61
EXEMPLO 2.1
Determine a fase de cada um dos estados fornecidos, utilizando as tabelas do Apêndice B,
e indique a posição desses estados nos diagramas P-v, T-v, e P-T.
a. 120 °C e 500 kPa
b. 120 °C e 0,5 m3/kg
Poderíamos também ter consultado a Tabela
B.1.2 que mostra que a temperatura de saturação para a pressão de 500 kPa é 151,86 °C. Poderíamos dizer que é um líquido subresfriado.
Isto é, à esquerda da linha de saturação para
500 kPa do diagrama P-T.
Consulte a Tabela B.1.1 e veja que
vf = 0,001 06 m3/kg < v < vg = 0,891 86 m3/kg
Solução:
Encontre a temperatura de 120 °C na Tabela
B.1.1. A correspondente pressão de saturação
é 198,5 kPa, o que indica que temos um líquido comprimido – ponto a na Figura 2.11. Esse
ponto está acima da linha de saturação a 120 °C.
Dessa forma, o estado é uma mistura bifásica
líquido-vapor, representado pelo ponto b na Figura 2.11. O estado está localizado à esquerda
da condição de vapor saturado e à direita do
líquido saturado, ambos mostrados no diagrama T-v.
P
P
T
C.P.
C.P.
P = 500 kPa
C.P.
S
500
L
a
500 a
198
V
T = 120
b
P = 198 kPa
152
120
a
b
b
120
T
v
v
FIGURA 2.11
Diagramas para o Exemplo 2.1
2.5 OS ESTADOS BIFÁSICOS
fases podem ser tratadas exatamente da mesma
maneira.
Os estados de duas fases, bifásicos, já foram mostrados nos diagramas P-v-T e as projeções correspondentes em duas dimensões nos diagramas P-T,
T-v e P-v. Cada uma dessas superfícies descreve
a mistura da substância em duas fases, como se
fosse a combinação de certa quantidade de líquido com outra quantidade de vapor, como mostrado na Figura 2.1b. Admitimos, para este tipo de
misturas, que as duas fases estão em equilíbrio na
mesma P e T e cada uma das massas em um estado
de líquido saturado, sólido saturado ou vapor saturado, de acordo com a mistura. Trataremos a mistura líquido-vapor em detalhes, pois é a aplicação
técnica mais comum; as outras misturas de duas
Por convenção os subscritos l e v são utilizados para designar os estados de líquido saturado
e de vapor saturado respectivamente (o subscrito
v é usado para designar temperatura e pressão de
saturação). Uma condição de saturação em que
existe mistura de líquido e vapor saturados, como
a mostrada na Figura 2.1b, pode ser representada
em coordenadas T-v como na Figura 2.12. Todo o
líquido está no estado l, com volume específico vl,
e todo o vapor no estado v, com volume específico
vv. O volume total é igual à soma do volume de
líquido com o volume de vapor, ou seja,
V = Vlíq + Vvap = mlíq vf + mvap vg
A Primeira Lei da Termodinâmica e Equação da Energia
A Primeira Lei da
Termodinâmica e
Equação da Energia
Tendo completado a análise das definições básicas e dos conceitos, estamos
prontos para iniciar a discussão da primeira lei da termodinâmica e da equação da energia. Essas são expressões semelhantes que retratam a mesma lei
fundamental da física. Mais adiante veremos a diferença entre elas e reconheceremos que são consistentes entre si. O procedimento a ser adotado será estabelecer a equação da energia para um sistema submetido a um processo de
mudança de estado com o tempo. Faremos, então, a aplicação da mesma lei para
o ciclo completo, e identificaremos a primeira lei da termodinâmica, que historicamente veio a ser a primeira formulação da lei.
Depois da equação da energia ser formulada, a usaremos para relacionar a
mudança de estado no volume de controle com o total de energia que é transferida no processo na forma de trabalho ou calor. Como o motor de carro transfere
trabalho para o automóvel, aumentando sua velocidade, assim podemos relacionar energia cinética com trabalho; ou, se um fogão fornece certa quantidade de
calor para um recipiente com água, poderemos relacionar a elevação da temperatura da água com o calor transferido. Um processo mais complicado pode
ocorrer, tal como a expansão de gases a alta temperatura em um cilindro-pistão,
como no motor de carro, no qual trabalho é fornecido ao mesmo tempo em que
calor é transferido para a parede fria do cilindro. Em outras aplicações, podemos constatar uma mudança de estado sem fluir trabalho ou calor, tal como um
objeto caindo em que há mudança na energia cinética, ao mesmo tempo em que
há alteração na sua elevação. Em todos os casos, a equação da energia relaciona
as várias formas de energia no sistema com a transferência de energia na forma
de calor ou trabalho.
89
3
98
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 3.4
Considere o conjunto cilindro-pistão ligeiramente diferente, como mostrado na Figura
3.10. Neste exemplo o pistão tem massa mp e
atua sobre ele a pressão atmosférica P0, uma
mola linear e uma força F1. O pistão retém o
gás dentro do cilindro com a pressão P. Um balanço de forças no pistão, na direção do movimento, fornece
m pa ≅ 0 =
∑F − ∑F
↓
↑
P0
Para visualizar o processo em um diagrama
P-V, a distância x é convertida para volume dividindo-se e multiplicando-se por A assim
P = P0 +
mpg
A
F1 km
+
(V − V0 ) = C1 + C2V
A A2
Essa relação fornece a pressão como uma função linear do volume, com inclinação C2 = km/A2.
A Figura 3.11 mostra possíveis valores de P e
V para uma expansão. Independentemente de
qual substância está dentro do cilindro, qualquer processo terá de percorrer a linha no diagrama P-V. O trabalho para um processo quase
estático é dado por
g
F1
+
1W2
km
mp
=
∫
2
1
1W2
P dV =
=
área sob a curva
do processo
1
( P1 + P2 )(V2 − V1 )
2
x
P
FIGURA 3.10
Esboço do sistema físico
para o Exemplo 3.4.
Como uma aceleração nula em um processo
quase estático. As forças, quando a mola está
em contato com o pistão, são:
∑F
↑
∑F
↓
km
–––
A2
2
1
1 W2
= PA,
= m p g + P0 A + km ( x − x0 ) + F1
onde km é a constante da mola linear. A posição
do pistão para a força exercida pela mola ser
nula é x0, e x0 depende do modo como é instalada a mola. Dividindo-se o balanço de forças
pela área do pistão, A, obtemos a pressão no
gás, ou seja
P = P + [mpg + F1 + km(x – x0)]/A
V
FIGURA 3.11
Diagrama do processo mostrando uma possível combinação P-V para o Exemplo 3.4.
Se fosse uma compressão, em vez de expansão,
o processo iniciaria no ponto 1 e deslocaria no
sentido inverso, descrevendo uma linha com a
mesma inclinação mostrada na Figura 3.11.
120
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 3.15
O fogão a lenha, feito de ferro fundido, esboçado na Figura 3.27, apresenta massa igual
a 25 kg, e contém 5 kg de lenha de pinho e
1 kg de ar. A temperatura do conjunto é de
20 oC e a pressão é de 101 kPa. O fogão é aceso
e a madeira passa a queimar e transferir 1500 W
aquecendo o conjunto uniformemente. Despreze os vazamentos de ar e as mudanças na
massa da madeira e as perdas de calor para
o ambiente. Determine a taxa de variação de
temperatura do conjunto (dT/dt) e estime o
tempo necessário para que a temperatura do
conjunto atinja 75 oC.
FIGURA 3.27
Esboço para o Exemplo 3.15.
Solução:
Sistema: O fogão, a lenha e o ar.
Equação de energia em termos de taxa:
E = Q − W
Não temos variações de energia cinética e potencial e de massa, assim
U = mar uar + mmadeira umadeira + mferro uferro
E = U = mar u ar + mmadeira u madeira + mferro u ferro
= ( mar CV
ar
+ mmadeira Cmadeira + mferroCferro )
dT
dt
·
A equação da energia tem trabalho nulo e o calor liberado é Q. Aplicando-se a primeira lei temos
= ( mar CV
dT
=
dt
( marCV
=
ar
+ mmadeira Cmadeira + mferroCferro )
ar
Q
+ mmadeira Cmadeira + mferroCferro )
dT
= Q − 0
dt
W
1500
= 0,0828 K/s
1 × 0,717 + 5 × 1,38 + 25 × 0,42 kg (kJ/kg)
Admitindo a taxa de aumento da temperatura como constante, podemos calcular o tempo decorrido,
assim
T =
dT
dT
t
dt
t
75 − 20
t =
=
= 664 s = 11 min
dT
0,0828
dt
∫ dt dt =
121
A Primeira Lei da Termodinâmica e Equação da Energia
Também devemos observar que podemos
identificar muitas outras formas de trabalho em
processos que não são quase estáticos. Por exemplo, há trabalho realizado pelas forças de cisalhamento em um escoamento de fluido viscoso ou o
trabalho realizado por um eixo rotativo que atravessa a fronteira do sistema.
3.12 SISTEMAS GERAIS QUE
ENVOLVEM TRABALHO
Na seção precedente, discutimos sobre o trabalho,
olhamos o que foi produzido por uma força pontual ou por uma pressão decorrente de uma força
distribuída em uma área. Há outros tipos de força
e de deslocamentos que diferem dessa abordagem
pela natureza da força e de seu deslocamento.
Mencionaremos algumas situações mais típicas
que frequentemente aparecem e escreveremos a
equação do trabalho
1W2
=
∫
2
1
Fgeral dxgeral
A identificação do trabalho é um aspecto importante em muitos problemas termodinâmicos. Já
mencionamos que o trabalho pode ser identificado
somente nas fronteiras do sistema. Por exemplo,
considere a situação indicada na Figura 3.28, que
mostra um gás separado do espaço evacuado por
uma membrana. Deixe a membrana se romper e
o gás encher todo o volume. Desprezando qualquer trabalho associado com a ruptura da membrana, podemos indagar se há trabalho envolvido
no processo. Se tomarmos como sistema o gás e
o espaço evacuado, concluímos prontamente que
não há trabalho envolvido, pois nenhum trabalho
pode ser identificado na fronteira do sistema. Se
tomarmos o gás como sistema, temos uma variação de volume e podemos ser tentados a calcular
o trabalho pela integral
(3.46)
Nessa equação, temos força e deslocamento
genéricos. Para cada elemento, temos de saber
sua expressão e, também, como a força varia no
processo. Na Tabela 3.2, são listados exemplos
simples, e para cada caso a expressão resultante
para o trabalho pode ser alcançada desde que a
função Fgeral(xgeral) seja conhecida.
Para muitos desses casos, o sinal é positivo
quando o trabalho sai do sistema, com essa definição de sinal teremos a forma geral
2
≡ P dV
1
dW = P dV – dL – dA – dZ + … (3.47)
Entretanto, esse não é um processo quase estático e, portanto, o trabalho não pode ser calculado com essa relação. Como não há resistência na
fronteira do sistema quando o volume aumenta,
concluímos que, para esse sistema, não há trabalho envolvido no processo de enchimento do espaço inicialmente em vácuo.
em que outros termos podem ser acrescentados.
A taxa de variação do trabalho utilizando essa formatação representa potência, assim
dW
Wɺ =
= PVɺ − V − Aɺ − Zɺ + ⋯ (3.48)
dt
Tabela 3.2
Diversas combinações que produzem trabalho
Caso
Força
Unidade
Deslocamento
Unidade
Força única
F
N
dx
m
Pressão
P
Pa
dV
m3
= ks(x – x0)
N
dx
m
Arame tensionado
F
N
dx = x0 de
m
Tensão superficial
= AEe
N/m
dA
m3
volt
dZ*
Coulon
Mola
Elétrico
* Observe que a derivada no tempo dZ/dt = i, é corrente (em amperes).
122
Fundamentos da Termodinâmica
Vácuo
Gás
Fronteira
do
sistema
Gás
(a)
(b)
Figura 3.28
Exemplo de um processo que apresenta variação de volume e trabalho nulo.
EXEMPLO 3.16
Durante a carga de uma bateria, a corrente
i é 20 A e a voltagem é 12,8 V. A taxa de
transferência de calor pela bateria é 10 W. A
que taxa aumenta a energia interna?
Solução:
Como as mudanças na energia cinética e potencial são insignificantes, a primeira lei da
termodinâmica pode ser escrita em equação
de taxa como na Equação 3.31
dU
= Q − W
dt
onde c = velocidade da luz e E = energia. Concluímos, a partir dessa equação, que a massa de um
sistema varia quando a sua energia varia. Calculemos, então, a magnitude dessa variação de massa
para um problema típico e determinemos se essa
variação é significativa.
Consideremos 1 kg de uma mistura estequiométrica de ar com um hidrocarboneto combustível
(gasolina, por exemplo) contido em um recipiente rígido como sistema. Do nosso conhecimento
do processo de combustão, sabemos que, após a
realização desse processo, será necessário transferir cerca de 2900 kJ do sistema para que seja
restabelecida a temperatura inicial. Da equação da
energia
W = i = −12,8 × 20 = −256 W = −256 J/s
Assim,
dU
= Q − W = −10 − ( −256) = 246 J/s
dt
1Q 2
= U 2 – U 1 + 1W 2
com 1W2 = 0 e 1Q2 = –2900 kJ, concluímos que a
energia interna do sistema decresce de 2900 kJ
durante o processo de transferência de calor. Calculemos, então, a diminuição de massa durante
esse processo com a Equação 3.49.
A velocidade da luz, c, é 2,9979 × 108 m/s.
Portanto,
3.13 CONSERVAÇÃO DE MASSA
Na seção anterior, consideramos a primeira lei da
termodinâmica para um sistema que sofre uma
mudança de estado. Um sistema é definido como
uma quantidade de massa fixa. Surge agora uma
pergunta: A massa do sistema poderá variar quando houver a variação de energia do sistema? Se
isso acontecer, a nossa definição de sistema não
será mais válida quando a energia do sistema
variar.
Da teoria da relatividade, sabemos que a massa e a energia estão relacionadas pela equação
E = mc2
(3.49)
2900 kJ = 2 900 000 J = m(kg) ×
× (2,9979 × 108 m/s)2
e então:
m = 3,23 × 10–11 kg
Assim, quando a energia do sistema diminui
de 2990 kJ, a redução de massa é igual a 3,23 ×
10−11 kg.
Uma variação da massa com essa ordem de
magnitude não pode ser detectada nem com a
mais precisa balança. E, certamente, uma variação relativa de massa, com essa ordem de magnitude, está além da precisão necessária para a
Análise Energética para um Volume de Controle
Análise Energética
para um Volume de
Controle
No capítulo anterior desenvolvemos a análise energética para um sistema que
passa por determinado processo. Muitas aplicações em termodinâmica não são
adequadamente tratadas utilizando-se o conceito de sistema, mas são mais bem
trabalhadas quando adotamos a técnica mais geral que é a do volume de controle, como abordamos no Capítulo 1. Neste capítulo, nos preocupamos com o
desenvolvimento das equações de conservação de massa e energia para volumes
de controle, em situações em que estão presentes fluxos de substâncias.
4.1 CONSERVAÇÃO DE MASSA E O VOLUME DE CONTROLE
O volume de controle, apresentado no Capítulo 1, é útil para definir a parte do
espaço que inclui o volume de interesse para o estudo ou análise de um processo. A superfície que envolve esse volume é chamada superfície de controle
que veste completamente o volume. Massa, assim como o calor e trabalho, pode
atravessar a superfície de controle, e a massa junto com suas propriedades podem variar ao longo do tempo. A Figura 4.1 mostra o esquema de um volume de
controle que apresenta transferência de calor, trabalho de eixo, movimento de
fronteira e acúmulo de massa, com diversos fluxos. É importante identificar e
rotular cada fluxo de massa e energia, e as partes do volume de controle em que
a massa possa ser armazenada.
Consideremos, em princípio, a lei de conservação da massa aplicada a um
volume de controle. A lei física pertinente à massa, reportando à Seção 3.13,
nos diz que não podemos criar ou destruir massa. Agora expressaremos matematicamente, essa afirmação, aplicando-a ao volume de controle. Para isso, levemos em conta todos os fluxos de massa que entram, saem e o acúmulo líquido
no interior do volume de controle. Como um exemplo simples de um volume de
controle, consideremos um tanque com um conjunto cilindro-pistão e duas tubulações acopladas, como mostrado na Figura 4.2. A taxa de variação da massa
dentro do volume de controle pode ser diferente de zero se adicionamos ou retiramos massa do volume de controle, ou seja,
Taxa de variação = + entrada – saída
157
4
158
Fundamentos da Termodinâmica
Superfície de controle
Vapor à alta pressão
Vazão mássica
= m· e
Vapor à
pressão
intermediária
Acumulador
inicialmente
em vácuo
Turbina
à vapor
Eixo ligando a
turbina ao
gerador
·
W
Vapor à baixa pressão
Vazão mássica
= (m· s)vapor à baixa pressão
·
W
Vapor em
expansão
contra um
êmbolo
Trocador
de calor
Condensado
vazão mássica
= (m· s)condensado
·
QV.C. = taxa de transferência de calor
Figura 4.1
Diagrama esquemático de um volume de controle mostrando as transferências e acúmulos de massa e energia.
Como há diferentes possibilidades de fluxos,
escrevemos assim:
dmV.C.
=
dt
∑ m − ∑ m
e
(4.1)
s
essa equação estabelece que, se a massa no volume
de controle muda com o tempo, essa mudança se
Pe Te
ve ee
Superfície
de controle
dm V.C.
dt
Ps Ts
vs es
Escoamento
Escoamento
Fext
Figura 4.2
Diagrama esquemático de um volume de controle para
análise da equação da continuidade.
mV.C. =
deve à entrada e/ou à saída de massa.
Não há outra maneira de a massa no
interior do volume de controle mudar. A Equação 4.1 é normalmente chamada equação da continuidade. Entretanto, enquanto essa forma
de apresentação é suficiente para a
maioria das aplicações em termodinâmica, ela é frequentemente reescrita em termos de propriedades locais do fluido, no estudo da mecânica
dos fluidos e da transferência de calor. Neste livro, estamos mais interessados em balanços globais de massa
e, por isso, consideraremos a Equação
4.1 como a expressão geral da equação da continuidade.
A Equação 4.1 leva em consideração a massa total (um bolo só) contida no volume de controle. Mas, podem
ocorrer situações em que seja necessário considerar as várias contribuições
para essa massa total, ou seja,
∫ ρ dV = ∫ (1/v) dV = m
A
+ m B + mC +
A somatória das massas deve ser utilizada
quando o volume de controle apresenta regiões de
acúmulo de massa que possuem estados termodinâmicos diferentes.
Vamos considerar mais detalhadamente o escoamento através de uma superfície de controle.
Para simplificar, admitamos que um fluido esteja
escoando no interior de um tubo, ou duto, como
o mostrado na Figura 4.3. Nosso objetivo é estabelecer uma relação entre os termos de taxa que
aparecem na Equação 4.1 com as propriedades locais do fluido. O escoamento através da superfície
de controle pode ser representado pela velocidade média da corrente, como mostrado no lado esquerdo da válvula ou por uma distribuição de velocidades na seção transversal, como apresentado
à direita da válvula.
Nesses casos, a vazão volumétrica é dada por
V = VA =
∫V
local
dA
(4.2)
de modo que a vazão mássica se torna igual a
159
Análise Energética para um Volume de Controle
A
V
Escoamento
Figura 4.3
Escoamento através de uma superfície de controle que
apresenta seção transversal A. No lado esquerdo da válvula, é mostrada a velocidade média do escoamento, e,
no lado direito, o perfil de velocidade na seção transversal
do escoamento.
= ρ médioV = V /v =
m
∫ (V
local /v
) dA = VA /v
(4.3)
onde frequentemente usamos a velocidade média.
Observe que esse resultado, Equação 4.3, foi desenvolvido para um escoamento com direção normal à superfície de controle e que essa superfície é estacionária. Essa expressão é aplicável para
qualquer uma das várias correntes que entram
ou saem do volume de controle, contanto que se
respeitem as restrições impostas pelas hipóteses
adotadas.
QUESTÃO CONCEITUAL
a. Por que um fluxo mássico que entra em
um volume de controle deve ter um componente normal de velocidade?
4.2 A EQUAÇÃO DA ENERGIA PARA
UM VOLUME DE CONTROLE
Já consideramos a equação da energia para um
sistema, que encerra em uma quantidade fixa de
massa, e comentado, na Equação 3.5, que ela pode
ser escrita na forma
E 2 – E 1 = 1Q 2 – 1W 2
observamos, também, que essa equação pode ser
escrita em termos de taxas como na Equação 3.3.
dEM.C.
= Q − W
dt
(4.4)
Procederemos de modo análogo ao usado para
deduzir a equação da conservação da massa
para obter a equação da energia para um volume
de controle. Com esse propósito, um volume de
controle é apresentado na Figura 4.4 que envolve a taxa de calor transferido, a taxa de trabalho e os fluxos de massa. A lei fundamental da
física atesta que não podemos criar ou destruir
energia, de modo que a variação da energia no
volume de controle só pode ser provocada pelas
taxas de energia que entram ou saem do volume
de controle. Tendo já incluído as taxas de transferência de calor e trabalho na Equação 4.4, agora é necessário discutirmos a energia associada
às vazões mássicas que atravessam a fronteira do
volume de controle.
EXEMPLO 4.1
O ar escoa no interior de um tubo, que possui
0,2 m de diâmetro, com velocidade uniforme e
igual a 0,1 m/s. A temperatura é 25 °C e a pres-
são é igual a 150 kPa. Determine a vazão mássica do ar nesse tubo.
Solução:
Da Equação 4.3
A área da seção transversal do tubo é
= VA /v
m
Utilizando o valor de R referente ao ar da Tabela A.5, temos
v=
RT 0,287 kJ/kg K × 298,2 K
=
=
P
150 kPa
= 0,5705 m 3 /kg
A=
π
(0,2)2 = 0,0314 m 2
4
Portanto
= VA /v = 0,1 m/s × 0,0314 m2/
m
(0,5705 m3/kg) = 0,0055 kg/s
160
Fundamentos da Termodinâmica
O volume de controle realiza trabalho para
descarregar os escoamentos, Psvsm·s, e as vizinhanças realizam trabalho, Pevem·e, para que a
massa entre no volume de controle. O trabalho de
fluxo na fronteira do volume de controle, por unidade de massa, é então Pv. Portanto, a energia total por unidade de massa associada ao fluxo é
P T
m· i v e e e
e e
·
Wfronteira
·
Weixo
dE V.C.
dt
·
Q
e + Pv = u + Pv +
m· e
Ps Ts
vs es
Figura 4.4
Diagrama esquemático dos termos da equação da energia
para um volume de controle genérico.
O fluido que atravessa a superfície de controle entra ou sai com uma energia por unidade de
massa como
e= u+
1 2
V + gZ
2
referenciada a certo estado da substância e a uma
posição. Toda vez que o fluido entra no volume de
controle, em um estado e, ou sai do volume de controle, em um estado s, existe um trabalho de movimento de fronteira associado com esse processo.
Para explicar isso com mais detalhamento,
considere uma quantidade de massa que escoa
para o volume de controle. Para que essa massa
entre no volume de controle, a pressão na superfície anterior dessa massa deve ser maior que na
região frontal. O efeito líquido é que as vizinhanças empurram essa massa para dentro do volume
de controle, com certa velocidade injetando uma
taxa de trabalho no processo. De modo análogo, o
fluido que deixa o volume de controle em um estado s tem de empurrar o fluido do ambiente à sua
frente, realizando trabalho sobre ele, que é o trabalho que deixa o volume de controle. A velocidade vezes a área corresponde à vazão volumétrica
que entra no volume de controle, e equivale ao fluxo de massa vezes o volume específico no estado
em que a massa está. Agora temos condições de
expressar a taxa de trabalho de fluxo como:
W fluxo = FV =
∫ PVdA = PV = Pvm
(4.5)
1 2
1
V + gZ = h + V 2 + gZ (4.6)
2
2
Observe que utilizamos a definição da propriedade termodinâmica entalpia nessa equação.
EXEMPLO 4.2
Considere que estamos próximos da adutora principal de uma cidade. A água líquida
flui na tubulação a 600 kPa (6 atm) com uma
temperatura por volta de 10 °C. Queremos
injetar 1 kg de água líquida nessa tubulação,
por meio de uma ramificação que contém
uma válvula de controle. Qual é o trabalho
necessário para realizar essa injeção?
Se o 1 kg de água estiver em um balde e a
válvula for aberta com a intenção de fazê-la escoar para dentro do tubo, veremos que
acontecerá o escoamento no sentido contrário. A água escoará da região que apresenta pressão mais alta para a região que
apresenta pressão mais baixa (de 600 kPa
para 101 kPa).
Assim, torna-se necessário colocar 1 kg de
água em um conjunto cilindro-pistão (similar a uma bomba manual de poço) e conectá-lo à tubulação. Agora podemos mover o pistão até que a pressão interna no conjunto se
torne igual a 600 kPa. Nesse ponto, abrimos
a válvula e injetamos vagarosamente 1 kg
de água para dentro da tubulação. O trabalho realizado pela superfície do pistão sobre
a água é
W =
∫ P dV = P
água mv
= 600 kPa ×
× 1 kg × 0,001 m 3 /kg = 0,6 kJ
Este é o trabalho necessário para adicionar
1 kg de água à adutora.
A Segunda Lei da Termodinâmica
A Segunda Lei da
Termodinâmica
A primeira lei da termodinâmica estabelece que, para um sistema percorrendo
um ciclo, a integral cíclica do calor é igual à integral cíclica do trabalho. No entanto, a primeira lei não impõe nenhuma restrição quanto às direções dos fluxos
de calor e trabalho. Em um ciclo, no qual uma determinada quantidade de calor é cedida pelo sistema e uma quantidade equivalente de trabalho é recebida
pelo sistema, satisfaz a primeira lei da mesma maneira que um ciclo em que
essas transferências se dão em sentidos opostos. Sabemos, com base em nossas
experiências, que se um dado ciclo proposto não viola a primeira lei, não está
assegurado que esse ciclo possa realmente ocorrer. Esse tipo de evidência experimental levou à formulação da segunda lei da termodinâmica. Assim, um ciclo
somente ocorrerá, se tanto a primeira quanto a segunda lei da termodinâmica
forem satisfeitas.
Em um sentido amplo, a segunda lei indica que todos os processos conhecidos ocorrem em certo sentido e não no oposto. Uma xícara de café quente esfria
em virtude da transferência de calor com o ambiente, porém o calor não será
transferido do ambiente, que apresenta temperatura mais baixa que a do café,
para a xícara. Consome-se gasolina quando um carro sobe uma colina, mas o
nível de combustível do tanque de gasolina não pode ser restabelecido ao nível
original na descida da colina. Observações cotidianas como essas, juntamente
com várias outras, são evidências da validade da segunda lei da termodinâmica.
Neste capítulo, consideraremos em princípio a segunda lei para um sistema
percorrendo um ciclo e, nos próximos dois capítulos, estenderemos os conceitos para um sistema que sofre uma mudança de estado e, em seguida, para um
volume de controle.
203
5
204
Fundamentos da Termodinâmica
5.1 MOTORES TÉRMICOS E
REFRIGERADORES
Gás
Consideremos o sistema e o ambiente previamente apresentados e mostrados na Figura 5.1 (já os
analisamos no desenvolvimento da primeira lei).
Seja o sistema constituído pelo gás, e como no
nosso estudo da primeira lei, façamos com que
esse sistema percorra um ciclo. Inicialmente,
realiza-se um trabalho sobre o sistema, mediante
a redução do peso e por meio das pás do agitador,
e concluímos o ciclo, transferindo calor para o
ambiente.
Entretanto, com base em nossa experiência,
sabemos que não podemos inverter esse ciclo. Isto
é, se transferirmos calor ao gás, como observado
na flecha pontilhada, a sua temperatura aumentará, mas a pá não girará e não levantará o peso.
Com o ambiente dado (o recipiente, as pás e o
peso), esse sistema só poderá operar em um ciclo para o qual calor e trabalho são negativos, não
podendo operar segundo um ciclo no qual calor e
trabalho são positivos (apesar de esse ciclo não
violar a primeira lei).
Consideremos, utilizando nosso conhecimento experimental, outro ciclo impossível de ser
realizado. Sejam dois sistemas, um a temperatura elevada e outro a temperatura baixa. Suponha
um processo no qual determinada quantidade de
calor é transferida do sistema a alta para o de baixa temperatura. Sabemos que esse processo pode
ocorrer. Sabemos, além disso, que o processo inverso, ou seja: a transferência de calor do sistema a baixa, para o de alta temperatura, não pode
ocorrer e que é impossível completar o ciclo apenas pela transferência de calor. Isso está ilustrado
na Figura 5.2.
Essas duas ilustrações nos levam a considerar
o motor térmico e o refrigerador (que também é
conhecido como bomba de calor). O motor térmico
pode ser um sistema que opera segundo um ciclo,
realizando um trabalho líquido positivo e trocando
calor líquido positivo. A bomba de calor pode ser
um sistema que opera segundo um ciclo, que recebe calor de um corpo a baixa temperatura e cede
calor para um corpo a alta temperatura; sendo necessário, entretanto, trabalho para sua operação1.
1 O autor utiliza a nomenclatura: a) motor térmico, quando há trabalho líquido fornecido pelo dispositivo; b) bomba de calor ou re-
W
Gás
Q
Figura 5.1
Sistema percorrendo um ciclo que envolve calor e trabalho.
Alta temperatura
Q
Q
Baixa temperatura
Figura 5.2
Exemplo que mostra a impossibilidade de se completar
um ciclo por meio da transferência de calor de um corpo a
baixa temperatura para outro a alta temperatura.
Nós, agora, vamos considerar três motores térmicos simples e dois refrigeradores simples.
O primeiro motor térmico está ilustrado na Figura 5.3. Ele é constituído por um cilindro, com limitadores de curso, e um êmbolo. Consideremos o
gás contido no cilindro como sistema. Inicialmente, o êmbolo repousa sobre os limitadores inferiores e apresenta um peso sobre sua plataforma.
Façamos com que o sistema sofra um processo
durante o qual o calor é transferido de um corpo
a alta temperatura para o gás, fazendo com que se
expanda, elevando o êmbolo até os limitadores superiores. Nesse ponto, removamos o peso. Vamos
fazer com que o sistema retorne ao estado inicial
por meio da transferência de calor do gás para um
corpo a baixa temperatura e, assim, completando
frigerador, quando o dispositivo recebe calor de um reservatório
de baixa temperatura e rejeita calor para um reservatório de alta
temperatura, utilizando algum trabalho; c) máquina cíclica, para
indicar indistintamente um dos dois dispositivos. Em português, é
comum também utilizar a designação máquina térmica para indicar indistintamente um motor térmico ou refrigerador/bomba de
calor (N.T.).
l
A Segunda Lei da Termodinâmica
Gás
QH
Corpo a alta
temperatura
QL
Corpor a baixa
temperatura
Figura 5.3
Motor térmico elementar.
o ciclo. É evidente que o gás realizou o trabalho
durante o ciclo porque um peso foi elevado. Podemos concluir, a partir da primeira lei, que o calor
líquido transferido é positivo e igual ao trabalho
realizado durante o ciclo.
Esse dispositivo é denominado de motor térmico e a substância para e da qual o calor é transferido é chamada fluido de trabalho. Um motor
térmico pode ser definido como um dispositivo
que, operando segundo um ciclo termodinâmico,
realiza um trabalho líquido positivo à custa da
transferência de calor de um corpo a temperatura elevada e para um corpo a temperatura baixa.
Frequentemente, a denominação motor térmico
é utilizada em sentido mais amplo para designar
todos os dispositivos que produzem trabalho, por
meio da transferência de calor ou combustão,
mesmo que o dispositivo não opere segundo um
ciclo termodinâmico. O motor de combustão interna e a turbina a gás são exemplos desse tipo de
dispositivo e a denominação de motores térmicos é aceitável nesses casos. Neste capítulo,
entretanto, nos limitaremos a analisar os motores térmicos que operam segundo um ciclo
termodinâmico.
Uma instalação motora a vapor simples
(Figura 5.4) é um exemplo de motor térmico
no sentido restrito. Cada componente dessa
instalação pode ser analisado separadamente,
associando a cada um deles um processo em
regime permanente, mas se a instalação é considerada como um todo, ela poderá ser tratada
como um motor térmico no qual a água (vapor) é o fluido de trabalho. Uma quantidade
de calor, QH, é transferida de um corpo a alta
205
temperatura, que poderá ser os produtos da
combustão em uma câmara, um reator, ou
um fluido secundário que, por sua vez, foi
aquecido em um reator. O esquema da turbina também está mostrado na Figura 5.4.
Observe que a turbina aciona a bomba e que
o trabalho líquido fornecido pelo motor térmico é a característica mais importante do
ciclo. A quantidade de calor QL é transferida para um corpo a baixa temperatura que,
usualmente, é a água de resfriamento do
condensador. Assim, a instalação motora a
vapor simples é um motor térmico no sentido restrito, pois tem um fluido de trabalho, para, ou do qual, o calor é transferido, e
realiza uma determinada quantidade de trabalho,
enquanto percorre o ciclo.
Assim, por meio de um motor térmico, podemos fazer um sistema percorrer um ciclo que
apresenta tanto o trabalho líquido quanto a transferência de calor líquida positivos. Note que não
foi possível realizar isso com o sistema e o ambiente mostrados na Figura 5.1.
Ao utilizarmos os símbolos QH e QL afastamo-nos da nossa convenção de sinal para o calor, porque, para um motor térmico, QL deve ser negativo
quando se considera o fluido de trabalho como sistema. Neste capítulo será vantajoso usar o símbolo
QH para representar o calor transferido no corpo a
alta temperatura e QL para o transferido no corpo
a baixa temperatura. O contexto sempre evidenciará o sentido da transferência de calor o qual
será indicado por setas nas figuras.
•
QH
Gerador de vapor
Turbina
Bomba
Trabalho
•
WLíq
Condensador
•
QL
Fronteira
do sistema
Figura 5.4
Motor térmico constituído por processos em regime permanente.
206
Fundamentos da Termodinâmica
O tamanho, a função e a forma dos motores térmicos variam muito. Normalmente, as máquinas a
vapor e as turbinas a gás são equipamentos grandes, os motores a gasolina, utilizados nos automóveis, e os motores diesel, utilizados em automóveis
e caminhões, são motores de tamanho médio e os
motores utilizados para acionar ferramentas manuais, como os cortadores de grama, são pequenos. A eficiência térmica típica das máquinas reais
e dos sistemas operacionais de grande porte varia
de 35% a 50%, os motores a gasolina apresentam
rendimento térmico que varia de 30% a 35% e os
motores diesel apresentam eficiência térmica entre 35% e 40%. Motores térmicos pequenos podem
ter eficiência de apenas 20%, porque os sistemas
de carburação e de controle utilizados nesses equipamentos são muito simples, e algumas perdas se
tornam relevantes quando a máquina é pequena.
A esta altura, é apropriado introduzir o conceito de eficiência térmica para um motor térmico. Em geral, dizemos que a eficiência é a razão
entre o que é produzido (energia pretendida) e o
que é usado (energia gasta), porém essas quantidades devem ser claramente definidas. Simplificadamente, podemos dizer que a energia pretendida
em um motor térmico é o trabalho e a energia gasta é o calor transferido da fonte a alta temperatura (implica em custos e reflete os gastos com os
combustíveis). A eficiência térmica, ou rendimento térmico, é definida por:
ηtérmico =
W (energia pretendida)
=
QH (energia gasta)
Q − QL
Q
= H
= 1− L
QH
QH
(5.1)
EXEMPLO 5.1
A potência no eixo do motor de um automóvel é
136 HP e a eficiência térmica do motor é igual
a 30%. Sabendo que a queima do combustível
fornece 35 000 kJ/kg ao motor, determine a
taxa de transferência de calor para o ambiente
e a vazão mássica de combustível consumido
em kg/s.
A aplicação da primeira lei da termodinâmica
fornece
Q L = Q H − W = (1 − 0,3)Q H = 233 kW
A vazão mássica de combustível pode ser calculada por
Solução:
= Q H /q H =
m
Da definição de eficiência térmica, Equação
5.1, obtemos:
A Figura 5.5 mostra as principais rejeições
de energia no ambiente detectadas no motor,
quais sejam: por meio da transferência de calor no radiador – em que o fluido arrefecedor
é resfriado pelo ar atmosférico –, por transferência de calor do sistema de exaustão e por
meio do escoamento dos gases de combustão
quentes para o ambiente.
Utilizando a definição de eficiência térmica,
Equação 5.1, resulta
Q H − W /η térmico = 100/0,3 = 333 kW
Filtro de ar
Potência
do eixo
Produtos de
combustão
Radiador
Ventilador
W = η térmico = 136 HP × 0,7355 kW/HP = 100 kW
FIGURA 5.5
Esboço para o Exemplo 5.1.
333 kW
= 0,0095 kg/s
35 000 kJ/kg
Fluído
arrefecedor
Ar
atmosférico
Entropia
Entropia
Consideramos, até este ponto do nosso estudo da segunda lei da termodinâmica, apenas os ciclos termodinâmicos. Embora essa abordagem seja muito útil e
importante, em muitos casos estamos mais interessados na análise de processos
do que na de ciclos. Assim, podemos estar interessados na análise, baseada na
segunda lei, de processos que encontramos diariamente, tais como: de combustão em um motor de automóvel, de resfriamento de um copo de café ou dos
processos químicos que ocorrem em nossos corpos. É também desejável poder
lidar com a segunda lei, tanto qualitativa como quantitativamente.
No nosso estudo da primeira lei, estabelecemos, inicialmente, essa lei para
ciclos e, então, definimos uma propriedade, a energia interna, que nos possibilitou usar quantitativamente a primeira lei em processos. De modo análogo,
estabelecemos a segunda lei para um ciclo e agora verificaremos que a segunda
lei conduz a outra propriedade, a entropia, que nos possibilita aplicar quantitativamente a segunda lei em processos. Energia e entropia são conceitos abstratos
que foram idealizados para auxiliar a descrição de determinadas observações
experimentais. Conforme mencionamos no Capítulo 1, a termodinâmica pode
ser definida como a ciência da energia e da entropia. O significado dessa afirmação se tornará, agora, cada vez mais evidente.
241
6
244
Fundamentos da Termodinâmica
O significado da desigualdade de Clausius
pode ser ilustrado considerando o ciclo de potência a vapor d’água simples mostrado na Figura 6.3.
Esse ciclo é ligeiramente diferente do ciclo comum
dessas instalações de potência. A bomba é alimentada com uma mistura de líquido e vapor em uma
proporção tal que a água sai da bomba e entra na
caldeira como líquido saturado. Admitamos que
alguém nos informe que as características do fluido, no ciclo, são as fornecidas na Figura 6.3. Esse
ciclo satisfaz a desigualdade de Clausius?
Calor é transferido em dois locais, na caldeira
e no condensador. Assim,
∫
δQ
=
T
∫
δQ
T
+
caldeira
δQ
T
∫
δQ
=
1
T1
∫
2
1
δQ +
1
T3
condensador
3q 4
2066,3
1898,4
−
=
164,97 + 273,15 53,97 + 273,15
= −1,087 kJ/kg K
Assim, esse ciclo satisfaz a desigualdade de
Clausius, o que é equivalente a dizer que o ciclo
não viola a segunda lei da termodinâmica.
QUESTÕES CONCEITUAIS
b. A desigualdade de Clausius requer que a
temperatura T do denominador seja constante, como no ciclo de Carnot?
6.2 ENTROPIA – UMA PROPRIEDADE
DO SISTEMA
Considerando 1 kg de fluido de trabalho,
temos
1q 2
=
4
Q
Q
δQ = 1 2 + 3 4
3
T1
T3
∫
δQ
∫ T
a. A desigualdade de Clausius diz alguma coisa a respeito do sinal de d Q?
Como a temperatura permanece constante,
tanto na caldeira como no condensador, essa expressão pode ser integrada da seguinte forma,
∫ T
Portanto,
= h2 – h1 = 2066,3 kJ/kg,
T1 = 164,97 °C
= h4 – h3 = 463,4 – 2361,8 = – 1898,4 kJ/kg,
T3 = 53,97°C
Nesta seção, vamos mostrar, a partir da Equação
6.1 e da Figura 6.4, que a segunda lei da termodinâmica conduz à propriedade termodinâmica
denominada entropia. Façamos com que um sistema percorra um processo reversível do estado 1
ao 2, representado pelo caminho A, e que o ciclo
seja concluído por meio de um processo reversível, representado pelo caminho B.
Como esse ciclo é reversível, podemos escrever
δQ
∫ T
Vapor saturado, 0,7 MPa
=0=
∫
2
1
δQ
T
+
A
∫
1
2
δQ
T
B
2
Gerador
de vapor
P
Turbina
1
2
W
3
A
Título
90%,
15 kPa
B
Líquido saturado, 0,7 MPa
C
4
Condensador
Bomba
1
ν
Título 10%, 15 kPa
Figura 6.3
Figura 6.4
Instalação a vapor simples utilizada para demonstrar a desigualdade de Clausius.
Dois ciclos reversíveis (para demonstrar que a entropia é
uma propriedade termodinâmica).
246
Entalpia, kJ/kg
Na região de saturação, a entropia pode ser calculada utilizando-se o título. As relações são análogas às de volume específico e de entalpia. Assim,
Ponto
crítico
o
rad
atu
os
Pa
7
8
Esses diagramas são úteis tanto para apresentar dados termodinâmicos como para visualizar as
mudanças de estados que ocorrem nos vários processos. Com o desenvolvimento do nosso estudo,
o estudante deverá adquirir familiaridade
na visualização de processos termodinâmicos nesses diagramas. O diagrama temperatura-entropia é particularmente útil para
essa finalidade.
Pa
,55 M
h = 2800 kJ/kg
uid
%
Líq
10
Temperatura, °C
6
mentos principais dos diagramas temperatura-entropia e entalpia-entropia para o vapor d’água.
As características gerais desses diagramas são as
mesmas para todas as substâncias puras. A Figura E.1 (do Apêndice E) apresenta um diagrama
temperatura-entropia mais completo para vapor
d’água.
1,55 MPa
3 /kg
,13 m
v=0
Va
po
at
Tí
tu
Tí
tul
o
rs
ur
ad
o
lo
90
%
0
4
5
Diagrama entalpia-entropia para o vapor d’água.
P=1
300
3
4
Figura 6.6
m 3/kg
v = 0,13
Ponto crítico
2
Pa
Líquido saturado
Entropia, kJ/kg K
400
1
Pa
0%
3
As propriedades termodinâmicas de uma
substância são frequentemente apresentadas nos
diagramas temperatura-entropia e entalpia-entropia, que também é conhecido como o diagrama de
Mollier, em homenagem ao alemão Richard Mollier
(1863-1935). As Figuras 6.5 e 6.6 mostram os ele-
0
rado
1000
A entropia do líquido comprimido está tabelada
da mesma maneira que as outras propriedades.
Essas propriedades são principalmente uma função da temperatura e não são muito diferentes das
propriedades do líquido saturado à mesma temperatura. A Tabela 4 das tabelas de vapor d’água
de Keenan, Keyes, Hill e Moore está resumida na
Tabela B.1.4 do Apêndice e fornece, do mesmo
modo, que para as outras propriedades, a entropia
do líquido comprimido.
100
Vapo
r satu
Tít
ulo
8
2000
s = (1 – x)sl + xsv
s = sl + xslv
200
°C
10
k
Em geral, usamos o termo entropia para indicar tanto a entropia total como a entropia específica, pois o contexto ou o símbolo apropriado indicará claramente o significado preciso do termo.
400
20
0k
3000
2M
líquido saturado a 0,01 °C. Para muitos fluidos refrigerantes, atribui-se o valor zero para a entropia
do líquido saturado a −40 °C.
40
MP
a
Fundamentos da Termodinâmica
5
6
Entropia, kJ/kg K
Figura 6.5
Diagrama temperatura-entropia para o vapor d’água.
7
8
Para a maioria das substâncias, a diferença entre a entropia do líquido comprimido e a do líquido saturado, à mesma temperatura, é muito pequena. Normalmente,
o processo de aquecimento de um líquido
a pressão constante é representado por
uma linha coincidente com a linha de líquido saturado até que se atinja a temperatura de saturação correspondente (Figura
6.7). Assim, se a água a 10 MPa é aquecida
de 0 °C até a temperatura de saturação, o
processo pode ser representado pela linha
ABD, que coincide com a linha de líquido
saturado.
Entropia
249
EXEMPLO 6.1
60 °C no condensador da bomba de calor e o
fluido deixa o condensador como líquido saturado. Determine, nessas condições, a pressão de
descarga do compressor e o coeficiente de desempenho (COP) do ciclo térmico.
O fluido de trabalho utilizado em uma bomba
de calor, que opera segundo um ciclo de Carnot, é o R-134a. A temperatura do fluido refrigerante no evaporador da bomba de calor é 0 °C
e o fluido deixa o evaporador como vapor saturado. A temperatura do fluido refrigerante é
Solução:
O ciclo de Carnot é composto por dois processos isotérmicos com transferência de calor,
intercalados por dois processos adiabáticos reversíveis. A variação de entropia pode ser avaliada com a Equação 6.2
Estado 4: s4 = s3 = 1,2857 kJ/kg K
(Tabela B.5.1 entropia do líquido saturado a
60 °C)
Estado 1: s1 = s2 = 1,7262 kJ/kg K
(Tabela B.5.1 entropia do vapor saturado a
0 °C)
ds = dq/T
Estado 2: s2 = s1 e T = 60 oC
(Tabela B.5.2 entropia do vapor saturado a
0 °C)
e o diagrama geral do ciclo de Carnot pode ser
visto na Figura 6.8. A Figura 6.10 mostra os
diagramas P-v e T-s referentes às condições
deste exemplo. Assim
P
1682
294
T
3
1682 kPa
60 °C
2
0 °C
60
3
2
294 kPa
1
4
0
4
1
s
v
FIGURA 6.10
Esboço para o Exemplo 6.1.
Interpolando, na Tabela B.5.2, entre as pressões de 1400 e 1600 kPa, temos
P2 = 1400 + (1600 − 1400)
1,7262 − 1,736
=
1,7135 − 1,736
= 1487,1 kPa
Como a bomba de calor opera segundo um ciclo de Carnot, o coeficiente de desempenho
pode ser calculado por
β =
333,15
qH
TH
=
=
= 5,55
wIN TH − TL
60
É importante ressaltar que as variações de
pressão nos processos de transferência de calor
não são desprezíveis. Assim, nenhuma bomba
de calor, ou refrigerador, apresenta coeficiente de desempenho próximo àquele referente a
um ciclo de Carnot que opera entre os mesmos
reservatórios térmicos
Entropia
é um resultado dos processos irreversíveis que
ocorrem no interior do sistema. Se todos os processos internos ao sistema são reversíveis, a taxa
265
de variação de entropia será determinada apenas
pelo termo associado às transferências de calor na
fronteira do sistema.
EXEMPLO 6.10
Considere um sistema de ar-condicionado moderno que utiliza R-410a como fluido de trabalho e que está operando no modo de bomba de
calor, como mostrado na Figura 6.21. O coeficiente de desempenho do equipamento é 4 e a
potência elétrica consumida é 10 kW. O reservatório de baixa temperatura é o subsolo, que
se encontra a 8 °C e, o de alta temperatura é o
ambiente no interior da casa, mantido a 21 °C.
Como simplificação, admitida que o ciclo da
bomba de calor tenha a alta temperatura de
50 °C e a baixa temperatura de 10 °C (lembre-se
da Seção 5.10). O que queremos obter é a geração de entropia associada à operação da bomba
de calor, para o caso de regime permanente.
CV2
QH
H.P.
CV1
0=
Q L
Q L
−
+ S ger v.c.1
TL Tbaixa
Q L
Q
30 kW 30 kW
S ger v.c.1 =
− H =
−
= 7,3 W/K
Tbaixa TL
263 K 281 K
E, finalmente, consideremos o VC2, um sistema
que “une” a fronteira do trocador de calor de
alta temperatura da bomba de calor, a 50 °C, ao
ambiente no interior da casa, a 21 °C:
Equação da entropia:
−10 °C
W
QL
8 °C
FIGURA 6.21
Bomba de calor para uma casa.
Primeiro, vamos considerar a bomba de calor,
de volume de controle VCBC. A partir da definição de COP:
Q H = β BC × W = 4 × 10 kW = 40 kW
Equação da energia:
Q L = Q H − W = 40 kW − 10 kW = 30 kW
Equação da entropia:
0=
Equação da entropia:
CVBC
50 °C
21 °C
Consideremos agora o volume VC1, um sistema
que “une” o subsolo a 8 °C ao trocador de calor
a –10 °C, da bomba de calor:
Q L
Q
− H + S gerBC
Tbaixa Talta
Q L
Q
40 kW
S gerBC =
− H =
= 9,8 W/K
Tbaixa Talta
323 K
0=
Q H Q H
−
+ S ger v.c.2
Talta TH
Q
Q
40 kW 40 kW
S ger v.c.2 = H − H =
−
= 12,2 W/K
TH Talta
294 K 323 K
A entropia total gerada resulta
S ger TOT = S ger v.c.1 + S ger v.c.2 + S ger BC
Q L
Q
Q
Q
Q
Q L
− L+ H − H + H −
=
Tbaixa TL TH Talta Talta Tbaixa
Q H Q L 40 kW 30 kW
−
=
−
= 29,3 W/K
TH TL
294 K 3281 K
O último resultado também pode ser obtido
com um volume de controle que seja a reunião
dos três volumes considerados. Nesse caso,
contudo, não será possível determinar onde a
entropia foi gerada, ao contrário do que ocorreu na análise mais detalhada efetuada.
Segunda Lei da Termodinâmica Aplicada a Volumes de Controle
Segunda Lei da
Termodinâmica
Aplicada a Volumes
de Controle
7
Apresentamos a segunda lei da termodinâmica e a propriedade termodinâmica
entropia nos dois capítulos anteriores. Neste capítulo, desenvolveremos a forma
da segunda lei da termodinâmica adequada para a análise de fenômenos com
volumes de controle. Para isso, usaremos um procedimento similar àquele utilizado para obter a primeira lei adequada para a análise de processos em volumes
de controle. Discutiremos, também, várias definições de rendimentos termodinâmicos de processos.
7.1 A SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA PARA UM VOLUME
DE CONTROLE
O passo inicial do desenvolvimento da equação da segunda lei da termodinâmica
adequada para as análises de fenômenos com volumes de controle é a equação
da taxa de variação de entropia para sistemas, Equação 6.41,
dSsis
dt
=∑
Q
T
+ S ger
291
(7.1)
Observe que agora é necessário levar em consideração as contribuições dos
fluxos de massa que atravessam a fronteira do volume de controle. A Figura 7.1
mostra um exemplo muito simples desse tipo de situação. A única contribuição
dos fluxos de massa que cruzam a fronteira do volume de controle para a taxa de
variação da entropia do volume de controle é o transporte de certa quantidade
de entropia por unidade de tempo. A taxa de geração de entropia nos escoamentos normalmente não é nula, mas ocorre fora do volume de controle, ou dentro
dele. Levando em consideração esse fato, podemos estabelecer a equação do
balanço de entropia em um volume de controle. Esse balanço estabelece que a
taxa de variação total de entropia no volume de controle é igual à soma da taxa
292
Fundamentos da Termodinâmica
líquida de transporte de entropia para o volume de
controle, que ocorre através da superfície de controle, com a taxa de criação de entropia em razão
da transferência de calor ao volume de controle e
com a taxa de geração de entropia no volume de
controle. Assim,
·
W
m· e
Pe Te
veee
se
Taxa de variação = +(entradas) – (saídas) +
+ (geração)
·
Q
ou seja,
dSv.c.
dt
e se − ∑ m
s ss +∑
=∑m
Q v.c.
T
+ S ger
Sɺ ger = ∫ ρ sɺ ger dV = Sɺ ger, A + Sɺ ger, B + Sɺ ger, C + ⋯ (7.3)
Se o volume de controle é composto por várias
regiões de acúmulo, que apresentam propriedades
diferentes ou processos diversos, é necessário levar em consideração o somatório das contribuições
relativas a cada uma destas regiões. Se a transferência de calor para o volume de controle ocorrer
através de várias regiões da superfície de controle,
que apresentam temperaturas diferentes, a avaliação do termo referente à taxa de criação de entropia em virtude da transferência de calor pode ser
feita utilizando-se a taxa de transferência de calor
·
por unidade de área, (Q/A)local, e a temperatura
da região em que essa taxa é transferida para o
volume de controle. Deste modo,
T
=
∫
dQ
T
=
∫ superfície
(Q /A local)
·
Sger
(7.2)
Sv.c. = ∫ ρ s dV = m v.c. s = m A s A + m B s B + mC sC + ⋯
Q v.c.
dSv.c.
dt
m· s
Ps Ts vs es ss
Observe que os escoamentos que cruzam a superfície de controle transportam certa quantidade
de entropia (fluxo de entropia) e que a taxa de
transferência de entropia associada à transferência de calor para o volume de controle é igual à somatória das transferências de calor divididas pelas
temperaturas das regiões da superfície de controle em que ocorrem as transferências. Os termos de
acúmulo e geração de entropia são relativos ao volume de controle como um todo, ou seja, são adequados para a análise concentrada (ou integral)
dos fenômenos, de modo que:
∑
Superfície
de controle
(7.4)
TdA
A análise de fenômenos com volumes de controle compostos por várias regiões de acúmulo,
Figura 7.1
Balanço de entropia e um volume de controle.
normalmente, é trabalhosa e está fora do escopo
deste livro.
O termo associado à geração de entropia da
Equação 7.2 é positivo ou nulo. Assim, podemos
escrever
dSv.c.
dt
e se − ∑ m
s ss +∑
≥∑m
Q v.c.
(7.5)
T
em que a igualdade é valida nos processos internamente reversíveis e a desigualdade nos processos
internamente irreversíveis. As Equações 7.2 e 7.5
são expressões gerais da segunda lei da termodinâmica e, por isso, podemos utilizá-las para a análise de qualquer fenômeno. Normalmente, certas
classes de fenômenos são analisadas com as formas restritas dessas equações. Apresentaremos
várias aplicações dessas equações nas próximas
seções deste capítulo.
Note que se não houver escoamento para dentro, ou para fora, do volume de controle, a Equação 7.2 fica idêntica à Equação 6.42. Como essa
forma da segunda lei foi estudada no Capítulo 6,
agora consideraremos os casos analisados com a
primeira lei no Capítulo 4.
293
Segunda Lei da Termodinâmica Aplicada a Volumes de Controle
em que os vários fluxos de massa, a taxa de transferência de calor, a taxa de geração de entropia e
os estados são todos constantes com o tempo.
7.2 O PROCESSO EM REGIME
PERMANENTE E O PROCESSO EM
REGIME TRANSIENTE
Consideremos um volume de controle referente a um processo em regime permanente. Se
houver apenas uma área através da qual há entrada de massa, a uma taxa uniforme, e apenas uma
área pela qual há saída de massa e que também
apresenta taxa uniforme, podemos escrever
Consideremos, agora, a aplicação da equação da
segunda lei para volumes de controle, Equação 7.2
ou 7.5, aos dois modelos de processos desenvolvidos no Capítulo 4.
Processo em Regime Permanente
( ss − se ) = ∑
m
Para o processo em regime permanente, definido
na Seção 4.3, concluímos que a entropia específica, em qualquer ponto do volume de controle, não
varia com o tempo. Assim, o primeiro termo da
Equação 7.2 é nulo,
dSv.c.
dt
=0
v.c.
ss − se + ∑
T
v.c.
+ S ger
+ S ger
(7.8)
q
T
+ sger
(7.9)
Para um processo adiabático, com essas hipóteses, temos que
Desse modo, para o processo em regime
permanente,
Q v.c.
T
Dividindo-se pela vazão mássica, resulta
(7.6)
s ss − ∑ m
e se = ∑
0 =∑m
Q v.c.
ss = se + sger ≥ se
(7.10)
em que a igualdade é válida para um processo
adiabático reversível.
(7.7)
EXEMPLO 7.1
O vapor d’água entra em uma turbina a 300 °C,
pressão de 1 MPa e com velocidade de 50 m/s.
O vapor sai da turbina à pressão de 150 kPa e
com uma velocidade de 200 m/s. Determine o
trabalho específico realizado pelo vapor que escoa na turbina, admitindo que o processo seja
adiabático e reversível.
e
Pe = 1 MPa
Te = 300 °C
Ve = 50 m/s
Volume de controle: Turbina.
Esboço: Figura 7.2.
Estado na entrada: Determinado (Figura 7.2).
Estado na saída: Ps, Vs conhecidos.
Processo: Regime permanente.
Modelo: Tabelas de vapor d’água.
T
e
W
s
s
Ps = 150 kPa
Vs = 200 m/s
FIGURA 7.2
Esboço para o Exemplo 7.1.
s
294
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 7.1 (continuação)
Análise:
Equação da continuidade:
m· = m· = m·
s
e
Primeira lei da termodinâmica:
he +
Ve2
2
= hs +
Vs2
2
+w
Segunda lei da termodinâmica:
ss = se
Solução:
Das tabelas de vapor d’água
he = 3051,2 kJ/kg
e
se = 7,1228 kJ/kgK
As duas propriedades conhecidas do estado final são a pressão e a entropia
Ps = 0,15 MPa
e
ss = se = 7,1228 kJ/kgK
Portanto, o título e a entalpia do vapor d’água
que sai da turbina podem ser determinados.
se = 7,1228 = sl + xsslv = 1,4335 + xs 5,7897
xs = 0,9827
hs = hl + xshlv = 467,1 + 0,9827(2226,5) =
= 2655,0 kJ/kg
Portanto, o trabalho específico realizado pelo
vapor no processo isotrópico pode ser determinado utilizando-se a equação da primeira lei da
termodinâmica.
w = 3051,2 +
50 × 50
2 × 1000
− 2655,0 −
200 × 200
2 × 1000
= 377,5
kJ
kg
EXEMPLO 7.2
Considere o escoamento de vapor d’água em um
bocal. O vapor entra no bocal a 1 MPa, 300 °C
e com velocidade de 30 m/s. A pressão do vapor na saída do bocal é 0,3 MPa. Admitindo que
o escoamento seja adiabático, reversível e em
regime permanente, determine a velocidade do
vapor na seção de saída do bocal.
Volume de controle: Bocal.
Esboço: Figura 7.3.
Estado na entrada: Determinado (Figura 7.3).
Estado na saída: Ps conhecida.
Processo: Regime permanente, reversível de
adiabático.
Modelo: Tabelas de vapor d’água.
he +
Ve2
2
= hs +
Vs2
2
Segunda lei da termodinâmica:
se = ss
Solução:
Das tabelas de vapor d’água, temos
he = 3051,2 kJ/kg e se = 7,1228 kJ/kgK
As duas propriedades conhecidas no estado final são
ss = se = 7,1228 kJ/kgK e Ps = 0,3 MPa
Portanto
Análise:
Ts = 159,1 °C e hs = 2780,2 kj/kg
Como esse processo ocorre em regime permanente, em que o trabalho, a transferência de
calor e a variação de energia potencial são nulos, podemos escrever
Equação da continuidade:
m· = m· = m·
s
e
Primeira lei da termodinâmica:
Substituindo esses valores na equação da primeira lei da termodinâmica, temos
Vs2
2
= he − hs +
Ve2
2
= 271,5 kJ/kg
Vs = 737 m/s
= 3051,2 − 2780,2 +
30 × 30
2 × 1000
Segunda Lei da Termodinâmica Aplicada a Volumes de Controle
295
EXEMPLO 7.2 (continuação)
e
s
e
T
Pe = 1 MPa
Te = 300 °C
Ve = 30 m/s
Ps = 0,3 MPa
ss = se
s
s
FIGURA 7.3
Esboço para o Exemplo 7.2.
EXEMPLO 7.3
Um inventor alega ter construído um compressor frigorífico adiabático que recebe vapor
saturado de R-134a, a −20 °C e descarrega o
vapor a 1 MPa e 40 °C. Esse processo viola a
segunda lei da termodinâmica?
Volume de controle: Compressor.
Estado na entrada: Determinado (vapor
saturado a Te).
Estado na saída: Determinado (Ps, Ts
conhecidas).
Processo: Regime permanente e adiabático.
Modelo: Tabelas de R-134a.
Análise:
O processo é adiabático e ocorre em regime
permanente. A segunda lei da termodinâmica
indica que
ss = se + sger
Solução:
Das tabelas de R-134a
ss = 1,7148 kJ/kgK
e
se = 1,7395 kJ/kgK
Temos, então, que ss < se. A segunda lei da termodinâmica requer que ss ≥ se. Assim, o processo alegado viola a segunda lei da termodinâmica e, portanto, não é possível.
EXEMPLO 7.4
O ar é comprimido, em um compressor centrífugo, da condição ambiente, 290 K e 100 kPa,
até a pressão de 1,0 MPa. Admitindo que o processo seja adiabático, reversível e que as variações das energias cinética e potencial sejam
desprezíveis, calcule o trabalho específico no
processo de compressão e a temperatura do ar
na seção de descarga do compressor.
Volume de controle: Compressor.
Estado na entrada: Pe, Te conhecidas; estado
determinado.
Estado na saída: Ps conhecida.
Processo: Regime permanente.
Modelo: Gás ideal com calores específicos
constantes (Tabela A.5).
Análise:
Como esse processo é adiabático, reversível e
em regime permanente, podemos escrever
Equação da continuidade:
m· = m· = m·
e
s
Primeira lei da termodinâmica:
he = hs + w
Segunda lei da termodinâmica:
se = ss
Exergia
Exergia
Os capítulos anteriores apresentaram o conjunto básico de leis gerais para um
volume de controle e o aplicou a problemas das ciências térmicas envolvendo
processos de acúmulo de energia e transferência de energia por escoamento
de massa (fluido) ou na forma de transferência de trabalho e calor. Agora nos
dedicaremos à primeira extensão desses princípios, adicionando considerações
sobre processos e características dos sistemas baseadas no uso avançado das
equações da energia e da entropia. O que desejamos saber são os limites gerais
para operação de sistemas e dispositivos, de forma que possamos projetá-los
com uma ótima eficiência com uso mínimo de recursos para realizar uma determinada tarefa.
8.1 EXERGIA, TRABALHO REVERSÍVEL E IRREVERSIBILIDADE
Apresentamos o trabalho de fronteira reversível para um sistema no Capítulo 6
e o trabalho de eixo reversível de escoamento simples no Capítulo 7. Um tipo de
comparação diferente com relação a um dispositivo reversível foi realizado com
a eficiência apresentada para dispositivos simples, como uma turbina, compressor ou bocal. Essa eficiência comparava o resultado desejado de um dispositivo
real com o de um dispositivo similar reversível, e o resultado era medido em termos da propriedade energia. Agora, desenvolveremos um conceito geral para
usar na avaliação de sistemas e dispositivos reais.
Antes de entrarmos na análise específica, definiremos o conceito em palavras e estudaremos situações simples nas quais poderemos avaliá-lo. O conceito
de exergia é definido como o trabalho que pode ser extraído de um dado arranjo
físico, quando é permitido interagir com a vizinhança circundante e as propriedades do estado final do processo sejam P0, T0.
F = Wextraído, dado P0 e T0 ambientes
O conceito é bem próximo do trabalho reversível, conforme ilustraremos
com alguns exemplos. Mais adiante, neste mesmo capítulo, apresentaremos uma
definição mais precisa da propriedade exergia.
335
8
Exergia
zado por comparação com um volume de controle
similar, mas que inclua apenas processos reversíveis, que seria o equivalente ideal do volume de
controle real. O volume de controle ideal é idêntico ao volume de controle real em tantos aspectos
quanto os possíveis. Ele tem o mesmo efeito de
acúmulo ao longo do tempo (lado esquerdo das
·
equações), as mesmas transferências de calor Qj
à Tj nos mesmos estados, de forma que os quatro primeiros termos nas Equações 8.5 e 8.6 são
os mesmos. O que é diferente? Como ele deve ser
reversível (ideal), o termo de geração de entropia
deve ser zero, enquanto que o mesmo termo de
geração na Equação 8.6 para o caso real é positivo.
(a)
Entrada
Trocador
de calor
de fluido
Saída
de fluido
Q
W
Q0
T0
(b)
T
o
ssã
Pre
e
nt
sta
n
co
Energia
disponível
T0
Energia
indisponível
S
Figura 8.3
Fonte de energia com temperatura variável.
dm v.c.
dt
dE v.c.
dt
(8.4)
e −∑ m
s
= ∑m
e htot e − ∑ m
s htot s − W v.c. real
= ∑ Q j + ∑ m
(8.5)
dS v.c.
dt
=∑
Q j
Tj
e se − ∑ m
s ss − sger real (8.6)
+∑ m
Desejamos estabelecer uma medida quantitativa, em termos de energia, da extensão ou grau
de irreversibilidade do processo real. Isto é reali-
m· e
m· s
Ambiente
V. C.
dm v.c.
;
dt
Tj
Real
dEv.c.
dS v.c.
;
dt
dt
·
Sger real
337
T0
·
Wreal
·
Qj
Figura 8.4
Um volume de controle real, incluindo processos irreversíveis.
O último termo na Equação 8.6 é substituído
por um fluxo positivo reversível de S e, como o
único processo reversível que pode aumentar a
entropia é o recebimento de calor pelo volume de
controle, permitiremos que isso ocorra na forma
·
de transferência de calor Q0rev à temperatura T0.
Essa transferência de calor deve estar presente
também na equação da energia para o volume de
controle ideal, juntamente com um termo de trabalho reversível, ambos substituindo o termo de
trabalho real. Comparando somente os últimos
termos das Equações 8.5 e 8.6, para o volume de
controle real, com a parte análoga das equações
para o volume de controle ideal, resulta:
Termos para o V.C. real
Termos para o V.C. ideal
Q rev
S ger real = 0
T0
(8.7)
−W v.c. real = Q 0rev − W rev
(8.8)
Da igualdade da geração de entropia com o
fluxo de entropia na Equação 8.7, obtemos:
Q 0rev = T0 S ger real
(8.9)
E o trabalho reversível da Equação 8.8, torna-se:
W rev = W v.c. real + Q 0rev
(8.10)
Observe que o volume de controle ideal tem
transferência de calor do ambiente mesmo que o
volume de controle real seja adiabático, e somente
se o processo do volume de controle real for reversível essa transferência de calor será nula e os dois
volumes de controle idênticos.
339
Exergia
Processos em Regime Permanente
Considere agora um dispositivo permanente com
escoamento simples típico, envolvendo transferência de calor e trabalho real. Para um escoamento simples, a equação da continuidade simplifica-se para representar a igualdade entre as vazões
mássicas entrando e saindo do volume de controle
(lembre-se da Equação 4.11).
Para o caso em análise o trabalho reversível na
Equação 8.11 é dividido pela vazão e massa, resultando em trabalho específico reversível:
wrev = w
rev
T0
qj +
= ∑ 1−
m
Tj
e, para regime permanente, o último termo da
Equação 8.11 se anula. Para esses casos a irreversibilidade, nas Equações 8.12 e 8.13, é expressa
como uma irreversibilidade específica:
rev
rev
i= Im
= w − wvc real = q0 = T0 sger real
= T0 ss − se − ∑
(8.15)
qj
Tj
Os exemplos a seguir ilustrarão o trabalho reversível e a irreversibilidade para um trocador de
calor e um compressor envolvendo perda de calor.
(8.14)
+ ( htot e − T0 se ) − ( htot s − T0 ss )
EXEMPLO 8.1
Um aquecedor de alimentação recebe uma vazão de água de 5 kg/s, a 5 MPa e 40 °C, que é
aquecida a partir de duas fontes, conforme mostra a Figura 8.6. Uma das fontes adiciona 900 kW
a partir de um reservatório a 100 °C e a outra
fonte transfere calor a partir de um reservatório
a 200 °C, de forma que a água de saída tem propriedades 5 MPa e 180 °C. Determine os valores
do trabalho reversível e da irreversibilidade.
Volume de controle: Aquecedor de alimentação estendendo-se aos dois reservatórios.
Estado de entrada: Pe e Te conhecidas; estado determinado.
Estado de saída: Ps e Ts conhecidas; estado
determinado.
Processo: Adição de calor a pressão constante,
sem mudança na energia cinética ou potencial.
Modelo: Tabelas de vapor.
O trabalho reversível para a mudança de estado descrita é dado pela Equação 8.14, com as
transferências de calor q1 a partir do reservatório T1 e q2 a partir do reservatório T2
wrev = T0 ss − se − hs − he + q1 1 −
(
) (
)
T0
+ q2 1 −
T1
T0
T2
A partir da Equação 8.15, como o trabalho real
é nulo, temos
i = wrev – w = wrev
Solução:
Obtemos as propriedades dos estados de entrada e saídas a partir das tabelas de vapor
he = 171,95 kJ/kg
se = 0,5705 kJ/kgK
hs = 765,24 kJ/kg
ss = 2,1341 kJ/kgK
Análise:
O volume de controle descrito possui uma única entrada e saída, com duas transferências de
calor provenientes de reservatórios em condições distintas da vizinhança circundante. Não
há troca de calor ou trabalho real com a vizinhança, que está a 25 °C. Para o aquecedor de
alimentação real, a equação da energia se torna
he + q1 + q2 = hs
T1
T2
·
e
·
Q1
Q2
s
T0
FIGURA 8.6
O aquecedor de alimentação do Problema 8.1.
340
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 8.1 (continuação)
A segunda transferência de calor pode ser
quantificada a partir da equação da energia
= 298,2 ( 2,1341 − 0,5705 ) − (765,24 − 171,95 )
+ 180 1 −
q2 = hs – he – q1 = 765,24 – 171,95 – 900/5 =
= 413,29 kJ/kg
298,2
373,2
+ 413,29 1 −
298,2
473,2
= 466,27 − 593,29 + 36,17 + 152,84 = 62,0 kJ/kg
O trabalho reversível é
wrev = T0 ( ss − se ) − ( hs − he ) + q1 1 −
T0
T1
+ q2 1 −
T0
T2
A irreversibilidade é
i = wrev = 62,0 kJ/kg
EXEMPLO 8.2
Considere um compressor de ar que recebe ar
ambiente a 100 kPa e 25 °C. Ele comprime o ar
a uma pressão de 1 MPa e o libera à temperatura de 540 K. Como o ar liberado e a carcaça do
compressor ficam mais quentes que a vizinhança circundante, o equipamento perde 50 kJ
por quilograma de ar que é processado nele.
Determine o trabalho reversível e a irreversibilidade no processo.
Volume de controle: Compressor de ar.
Esquema: Figura 8.7.
Estado de entrada: Pe e Te conhecidas; estado determinado.
Estado de saída: Ps e Ts conhecidas; estado
determinado.
Processo: compressão não adiabática, sem
mudança na energia cinética ou potencial.
Modelo: Gás ideal.
Análise:
Esse processo, em regime permanente, tem
apenas uma entrada e uma saída de vazão, portanto, todas as quantidades são determinadas
com base na massa, como quantidades específicas. Das tabelas de gás ideal para o ar obtemos
he = 298,6 kJ/kg
s0Te = 6,8631 kJ/kgK
hs = 544,7 kJ/kg
s0Te
A equação da energia para o compressor real
permite avaliar o trabalho como
q = – 50 kJ/kg
w = he – hs + q = 298,6 – 544,7 – 50 =
= – 296,1 kJ/kg
O trabalho reversível para a mudança de estado
descrita é dado pela Equação 8.14, com Tj = T0
wrev = T0 ( ss − se ) − ( hs − he ) + q 1 −
T0
TH
= 298,2 (7,4664 − 6,8631 − 0,287 ln 10 ) −
− ( 544,7 − 298,6 ) + 0
= −17,2 − 246,1 = −263,3 kJ/kg
Da Equação 8.15, obtemos
i = wrev – wreal =
= – 263,3 – (– 296,1) =
= 32,8 kJ/kg
·
–Qv.c.
·
–Wv.c.
s
= 7,4664 kJ/kgK
e
FIGURA 8.7
Ilustração para o Exemplo 8.2.
343
Exergia
EXEMPLO 8.4
Um tanque rígido de 1 m3, ilustrado na Figura
8.8, contém amônia a 200 kPa, à temperatura
ambiente de 20 °C. O tanque está conectado a
uma linha por meio de uma válvula, por onde
flui amônia líquida saturada a –10 °C. A válvula
é aberta e o tanque é carregado rapidamente
até que o escoamento pare de fluir e então a
válvula seja fechada. Como o processo ocorre
muito rapidamente, não há transferência de
calor. Determine a massa final no tanque e a
irreversibilidade no processo.
Portanto, a massa inicial é
Volume de controle: Tanque e válvula.
Estado inicial: T1 e P1 conhecidos; estado
determinado.
Estado de entrada: T1 e x1 conhecidos; estado
determinado.
Estado final: P2 = Plinha, conhecida.
Processo: Adiabático, sem mudança de energia
cinética ou potencial.
Modelo: Tabelas de amônia.
u2 > he e o estado, portanto, é bifásico ou de vapor superaquecido. Vamos adotar inicialmente
o estado como bifásico, resultando em
m1 = V/v1 = 1/0,6995 = 1,4296 kg
O enunciado especifica apenas a pressão final,
então necessitamos de mais uma propriedade. As
incógnitas na equação da energia são a massa final e a energia interna. Como necessitamos especificar apenas mais uma propriedade para definir
o estado de saída, as duas quantidades não são
independentes. Da equação da energia, temos:
m2 (u2 – he) = m1 (u1 – he)
m2 = V/v2 = 1/(0,001 534 + x2 × 0,416 84)
= 133,964 + x2 × 1175,257
de forma que a equação da energia fica
133,964 + x2 × 1175,257 − 134,41
0,001 534 + x2 × 0,041 684
Análise:
Como a pressão da linha é maior que a pressão inicial dentro do tanque, a vazão ocorrerá no sentido
do tanque e cessará somente quando a pressão
interna aumentar até o nível da pressão da linha.
As equações de continuidade, energia e entropia, são
m2 – m1 = me
m2u2 – m1u1 = mehe = (m2 – m1)he
m2s2 – m1s1 = mese + 1S2, ger
onde as energias cinética e potencial são zero,
para os estados inicial e final, e foram desprezadas na vazão de entrada.
=
= 1,4296 (1369,5 − 134,41) = 1765,67 kJ
Esta equação é resolvida para o título (segunda
propriedade) e a partir da fixação do estado se
obtêm as demais propriedades
x2 = 0,007 182
x2 = 0,004 5276 m3/kg
x2 = 0,5762 kJ/kgK
Agora, poderemos encontrar a massa final e a
irreversibilidade
m2 = V/v2 = 1/0,004 5276 = 220,87 kg
1S2, ger = m2s2 – m1s1 – mese =
= 127,265 – 8,473 – 118,673 = 0,119 kJ/k
IV.C. = T0 1S2 ger = 293,15 × 0,119 = 34,885 kJ
Solução:
A partir das tabelas de amônia, as propriedades
para o estado inicial e linha de amônia, são
v1 = 0,6995 m3/kg
u1 = 1369,5 kJ/kg
he = 134,41 kJ/kg
s1 =5,927 kJ/kgK
se = 0,5408 kJ/kgK
Tanque
Linha de
suprimento
de amônia
FIGURA 8.8
Tanque e linha de amônia para o Exemplo 8.4.
Sistemas de Potência e Refrigeração – com Mudança de Fase
Sistemas de Potência
e Refrigeração – com
Mudança de Fase
Algumas centrais de potência, como a central simples a vapor d’água, que já
consideramos diversas vezes, operam segundo um ciclo. Isto é, o fluido de trabalho sofre uma série de processos e, finalmente, retorna ao seu estado inicial.
Em outras centrais de potência, tais como o motor de combustão interna e a
turbina a gás, o fluido de trabalho não passa por um ciclo termodinâmico, ainda
que o equipamento opere segundo um ciclo mecânico. Nesses casos, o fluido
de trabalho, ao final do processo, apresenta uma composição química diferente ou está em um estado termodinâmico diferente do inicial. Diz-se, às vezes,
que tais equipamentos operam segundo um ciclo aberto (a palavra ciclo, nesse
contexto, é realmente um termo incorreto), enquanto a unidade motora a vapor
opera segundo um ciclo fechado. A mesma distinção, entre ciclos abertos e
fechados, pode ser feita em relação aos aparelhos de refrigeração. É interessante analisar o desempenho do ciclo fechado ideal, semelhante ao ciclo real,
para todos os tipos de equipamentos que operam com ciclo aberto ou fechado.
Tal procedimento é particularmente vantajoso na determinação da influência
de certas variáveis no desempenho dos equipamentos. Por exemplo, o motor de
combustão interna, com ignição por centelha, é usualmente modelado como um
ciclo Otto. Da análise de um ciclo Otto é possível concluir que: aumentar a razão
de compressão ocasiona um aumento no rendimento do ciclo. Isso também é
verdadeiro para o motor real, embora os rendimentos dos ciclos Otto possam se
afastar significativamente dos rendimentos dos motores reais.
Este e o próximo capítulos tratam dos ciclos idealizados para os sistemas
de potência e de refrigeração. Neste capítulo, serão considerados os ciclos com
mudança de fase, que são sistemas nos quais são utilizados fluidos de trabalho
que apresentam mudança de fase durante o ciclo; já o Capítulo 10 trata dos
ciclos com fluidos de trabalho gasosos, que não apresentam mudança de fase.
Em ambos os capítulos, são ressaltados os motivos que levam os ciclos reais a se
desviarem dos ideais, além de serem feitas considerações acerca das modificações dos ciclos básicos que objetivam a melhoria do desempenho do ciclo. Essas
modificações são realizadas com a introdução de certos equipamentos, tais como
compressores e expansores de múltiplos estágios, regeneradores e resfriadores
intermediários. Várias combinações desses tipos de sistemas e também algumas
aplicações especiais, tais como os ciclos combinados, os ciclos de topo, os ciclos
369
9
370
Fundamentos da Termodinâmica
posteriores e a cogeração de energia e potência
elétrica, serão discutidos nestes capítulos e nos
seus respectivos problemas apresentados ao final
de cada um.
P
1
9.1 INTRODUÇÃO AOS CICLOS DE
POTÊNCIA
Na introdução da segunda lei da termodinâmica,
no Capítulo 5, consideramos as máquinas térmicas
cíclicas que utilizavam quatro processos distintos.
Vimos também que é possível operar essas máquinas em regime permanente, produzindo trabalho
na forma de rotação de um eixo (Figura 5.18), ou
a partir de processos que envolvem movimento
da fronteira de um volume de controle, como em
um pistão em um cilindro (Figura 5.19). No primeiro caso, o fluido de trabalho pode apresentar
mudanças de fase durante a execução do ciclo ou
permanecer em uma única fase1. Já no segundo
caso, o fluido de trabalho, geralmente, permanece
na fase gasosa, em todos os estados percorridos
pelo ciclo.
Para um processo reversível, em regime permanente desprezando-se as variações de energia
cinética e potencial, o trabalho por unidade de
massa envolvido no processo é dado pela Equação
7.15, ou seja:
w = − ∫ v ⋅ dP
O trabalho de movimento da fronteira, por
unidade de massa, em um processo reversível
para um sistema que engloba uma substância simples compressível é dado pela Equação 3.17.
w = ∫ P ⋅ dv
As áreas relativas às duas integrais estão mostradas na Figura 9.1. É interessante notar que não
há trabalho em processos a pressão constante para
o primeiro caso anterior, da mesma forma como
não há trabalho em processos a volume constante
para o segundo caso.
Consideremos agora um ciclo de potência
composto de quatro processos em regime per1
Normalmente, o fluido de trabalho permanece na fase vapor.
(N.T.)
2
v
Figura 9.1
Comparação entre os trabalhos realizados por eixo e por
movimento de fronteira.
manente, como o esquematizado na Figura 5.18.
Vamos admitir que todos os processos sejam internamente reversíveis e que estes não apresentem
variações significativas de energia cinética e potencial. Assim, o trabalho por unidade de massa,
em cada processo, pode ser calculado por meio da
Equação 7.15. Para facilitar a modelagem do ciclo,
vamos admitir que os processos de transferência
de calor (na caldeira e no condensador) ocorram
a pressão constante, sem realização de trabalho,
e também que os processos de expansão e compressão, que ocorrem na turbina e na bomba respectivamente, sejam adiabáticos e, dessa forma,
isotrópicos. A representação gráfica dos quatro
processos que formam esse ciclo, levando-se em
conta todas estas considerações, está mostrada na
Figura 9.2. Se todos os estados percorridos pelo
fluido de trabalho durante o ciclo pertencerem
à região de saturação líquido-vapor, o ciclo será
um de Carnot. Isso ocorre porque as transferências de calor ocorrem a pressão constante e, nessa
região, os processos a pressão constante também
são processos isotérmicos. Caso contrário, o ciclo
não será mais um ciclo de Carnot. Nessas duas situações, o trabalho líquido, por unidade de massa,
realizado pelo ciclo é:
2
4
2
4
1
3
1
3
wlíq = − ∫ v ⋅ dP + 0 − ∫ v ⋅ dP + 0 = − ∫ v ⋅ dP + ∫ v ⋅ dP
Como P2 = P3 e P1 = P4, e considerando que
os volumes específicos do fluido de trabalho no
processo de expansão (do estado 3 ao estado 4)
são maiores que os referentes ao processo de
Sistemas de Potência e Refrigeração – com Mudança de Fase
373
EXEMPLO 9.1
Determine o rendimento de um ciclo Rankine que utiliza água como fluido de trabalho.
A pressão no condensador do ciclo é igual a
10 kPa e a caldeira opera a 2 MPa. O vapor deixa a caldeira como vapor saturado.
Na resolução dos problemas sobre os ciclos
de Rankine, indicaremos por wb o trabalho na
bomba por quilograma de fluido que escoa no
equipamento e por qL o calor rejeitado pelo
fluido de trabalho por quilograma de fluido que
escoa no equipamento.
Na solução deste problema consideramos, sucessivamente, uma superfície de controle que
envolve a bomba, a caldeira, a turbina e o condensador. Em cada caso, o modelo termodinâmico adotado é aquele associado às tabelas de
vapor d’água e consideraremos que o processo
ocorre em regime permanente (com variações
de energias cinética e potencial desprezíveis).
Consideremos inicialmente a bomba:
Volume de controle: Bomba.
Estado de entrada: P1 conhecida, líquido saturado; estado determinado.
Estado de saída: P2 conhecida.
Análise:
Equação da energia (primeira lei da termodinâmica):|wb| = h2 – h1
Equação da entropia (segunda lei da termodinâmica): s2 = s1
Como s2 = s1 , wb =
2
∫1 vd ⋅ P
Solução:
Admitindo que o líquido seja incompressível
wb =
2
2
∫1 v ⋅ dP = v ∫1 dP = v ( P2 − P1 ) =
= 0,001 01
m3
(2000 − 10) kPa =
kg
= 2,10 kJ/kg
h2 = h1 + wb = 191,8 + 2,0 = 193,8 kJ/kg
Consideremos agora a caldeira:
Volume de controle: Caldeira.
Estado de entrada: P2 e h2 conhecidas; estado
determinado.
Estado de saída: P3 conhecida, vapor saturado; estado determinado.
Análise:
Equação da energia (primeira lei da termodinâmica): qH = h3 – h2
Solução:
qH = h3 – h2 = 2799,5 – 193,8 = 2605,7 kJ/kg
Analisando agora a turbina:
Volume de controle: Turbina.
Estado de entrada: Estado 3 determinado
(dado).
Estado de saída: P4 conhecida.
Análise:
Equação da energia (primeira lei da termodinâmica): wt = h3 – h4
Equação da entropia (segunda lei da termodinâmica): s4 = s3
Solução:
Podemos determinar o título no estado 4 a partir da entropia nesse estado. Assim
s3 = s4 = 6,3409 = 0,6493 + x47,5009 → x4 =
= 0,7588
h4 = 191,8 + 0,7588(2392,8) = 2007,5 kJ/kg
wt = h3 – h4 = 2799,5 – 2007,5 = 792,0 kJ/kg
Finalmente consideremos o condensador:
Volume de controle: Condensador.
Estado de entrada: Estado 4 conhecido.
Estado de saída: Estado 1 conhecido.
Sistemas de Potência e Refrigeração – com Mudança de Fase
381
EXEMPLO 9.4
Considere um ciclo regenerativo que utiliza
água como fluido de trabalho. O vapor deixa a
caldeira e entra na turbina a 4 MPa e 400 °C.
Após expansão até 400 kPa, parte do vapor é
extraída da turbina com o propósito de aquecer a água de alimentação em um aquecedor
de mistura. A pressão no aquecedor da água de
alimentação é igual a 400 kPa e a água na seção
de saída desse equipamento está no estado líquido saturado a 400 kPa. O vapor não extraído
é expandido na turbina até 10 kPa. Determine
o rendimento do ciclo.
O esquema e o diagrama T-s, desse ciclo, estão
mostrados na Figura 9.12.
Do mesmo modo utilizado nos exemplos anteriores, para cada volume de controle analisado,
o modelo termodinâmico é aquele associado
às tabelas de vapor d’água e admitiremos que
os processos ocorram em regime permanente
(com variações desprezíveis de energias cinética e potencial).
Dos Exemplos 9.2 e 9.3, temos as seguintes
propriedades:
h5 = 3213,6 kJ/kg
h6 = 2685,6 kJ/kg
h7 = 2144,1 kJ/kg
h1 = 191,8 kJ/kg
Para a bomba de baixa pressão:
Volume de controle: Bomba de baixa pressão.
Estado de entrada: P1 conhecida, líquido saturado; estado determinado.
Estado de saída: P2 conhecida.
Para a turbina:
Volume de controle: Turbina de alta pressão.
Estado de entrada: P5, T5 conhecidas, estado
determinado.
Estado de saída: P6 e P7 conhecidas.
Análise:
Equação da energia:
wt = (h5 – h6) + (1 – y)(h6 – h7)
Equação da entropia: s5 = s6 = s7
Solução:
A partir da segunda lei da termodinâmica, os
valores de h6 e h7, indicados aqui, já foram calculados nos Exemplos 9.2 e 9.3.
Para o aquecedor de água de alimentação:
Volume de controle: Aquecedor de água de
alimentação.
Estado de entrada: Estados 2 e 6 conhecidos,
estado determinado.
Estado de saída: P3 conhecida, líquido saturado; estado determinado.
Análise:
Equação da energia: y(h6) + (1 – y) h2 = h3
Solução:
Substituindo
Análise:
Equação da energia: |wb1| = h2 – h1
Equação da entropia: s2 = s1,
Como s2 = s1,
h2 − h1 =
2
∫1 v ⋅ dP = v ( P2 − P1 )
Solução:
|wb1| = h2 – h1 = v(P2 – P1)
= 0,001 01(400 – 10) = 0,4 kJ/kg
h1 = 191,8 kJ/kg
h2 = h1 + |wb1| = 191,8 + 0,4 = 192,2 kJ/kg
y(2685,6) + (1 – y)(192,2) = 604,7
y = 0,1654
Podemos agora calcular o trabalho produzido
pela turbina.
wt = (h5 – h6) + (1 – y)(h6 – h7) =
= (3213,6 – 2685,6) + (1 – 0,1654)
(2685,6 – 2144,1) = 9979,9 kJ/kg
Para a bomba de alta pressão:
Volume de controle: Bomba de alta pressão.
Estado de entrada: Estado 3 conhecido.
Estado de saída: P4 conhecida.
Sistemas de Potência e Refrigeração – com Mudança de Fase
6
ria justificada pelo custo inicial dos equipamentos
adicionais (aquecedores da água de alimentação,
tubulação etc.).
Vapor de extração
3
2
Água de
alimentação
Condensado
6a
6b
Purgador
6a
6c
Bomba de
condensado
Condensado para o
aquecedor de baixa
pressão ou para o
condensador
Figura 9.13
Arranjo esquemático de um aquecedor de água de alimentação do tipo superfície.
lizados mais do que cinco estágios. O número,
naturalmente, é determinado por considerações
econômicas. É evidente que utilizar um grande
número de estágios de extração e de aquecedores
da água de alimentação permite que o rendimento
do ciclo se aproxime daquele do ciclo regenerativo
ideal da Figura 9.11, em que a água de alimentação
entra na caldeira como líquido saturado a pressão
máxima. Entretanto, na prática, isso não pode ser
justificado economicamente, porque a economia
alcançada com o aumento do rendimento não se-
Caldeira
A Figura 9.14 mostra um arranjo típico dos
principais componentes de uma central de potência real. Note que um dos aquecedores da água de
alimentação de mistura é um aquecedor e desareador da água de alimentação. Esse equipamento tem duplo objetivo: o de aquecimento e o de
remoção de ar da água de alimentação. A menos
que o ar seja removido da água, pode ocorrer corrosão excessiva na caldeira. Note também, que o
condensado dos aquecedores a alta pressão escoa
(através de um purgador) para um aquecedor intermediário; o condensado do aquecedor intermediário é drenado para o aquecedor e desaerador
e o condensado do aquecedor a baixa pressão é
drenado para o condensador.
Muitas instalações reais de potência apresentam a combinação de um estágio de reaquecimento com vários de extração. Os fundamentos já considerados se aplicam facilmente a tal ciclo.
8,7 MPa
500 °C
320 000 kg/h
80 000 kW
Turbina de
baixa pressão
Bomba de
alimentação
da caldeira
/h
a
Pa
kg
MP
kg/h ,9 M 000
2,3
0
0
0
28
28 0
Aquecedor
de alta
pressão
Aquecedor
de pressão
intermediária
Aquecedor
desaerador de
contato direto
da água de
alimentação
75 kPa
25 000 kg/h
h
210 °C
9,3 MPa
Turbina de
alta pressão
330
k
12 Pa
000
kg/
4
Gerador
Condensador
227 000 kg/h
5 kPa
Bomba de
condensado
Aquecedor
de baixa
pressão
Bomba
auxiliar
Purgador
Purgador
383
Purgador
Figura 9.14
Disposição dos aquecedores em uma instalação real que utiliza aquecedores regenerativos de
água de alimentação.
386
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 9.5 (continuação)
T
Análise:
4
Equação da energia: |wb| = h2 – h1
Equação da entropia: s2s = s1
Como s2s = s1
∫
2
1
6s 6
h2s − h1
wb
=
s
FIGURA 9.18
Diagrama T-s para o Exemplo 9.5.
h2s − h1
h2 − h1
Resultando em
h2 s − h1 v ( P2 − P1 )
=
ηb
ηb
Solução:
wb =
2s
v ⋅ dP = v ( P2 − P1 )
O rendimento da bomba é
wb =
5
2
1
h2s − h1 =
ηb =
3
v ( P2 − P1 ) 0,001009(5000 − 10)
=
=
0,80
ηb
= 6,3 kJ/kg
Portanto
wlíq = wt – |wb| = 894,1 – 6,3 = 887,8 kJ/kg
Finalmente, para a caldeira:
Volume de controle: Caldeira.
Estado de entrada: P3, T3 conhecidas; estado
determinado.
Estado de saída: P4, T4 conhecidas; estado
determinado.
Análise:
Equação da energia: qH = h4 – h3
Solução:
q H = h4 − h3 = 3213,6 − 171,8 = 3041,8 kJ/kg
ηtérmico =
wlíq
qH
=
887,8
3041,8
= 29,2%
O rendimento obtido para o ciclo Rankine análogo, calculado no Exemplo 9.2, é 35,3%.
9.7 COGERAÇÃO E OUTRAS
CONFIGURAÇÕES
Existem unidades industriais que utilizam um ciclo de potência a vapor para gerar eletricidade e o
processo produtivo requer um suprimento de outra forma de energia (na forma de vapor ou água
quente). Nesses casos, é apropriado considerar a
utilização do vapor expandido até uma pressão intermediária, em uma turbina de alta pressão do
ciclo de potência, como fonte de energia do processo produtivo. Assim, não será necessária a
construção e utilização de uma segunda caldeira
dedicada unicamente ao processo produtivo. Um
arranjo dessa situação pode ser visto na Figura
9.19, em que o vapor extraído a uma pressão intermediária da turbina é encaminhado para atender a uma necessidade específica de um processo
especial na instalação – talvez para fornecer vapor
a um processo específico ou, em outros casos, prover uma forma de aquecer ambientes.
Esse tipo de aplicação é denominado cogeração3, no sentido de que a geração de um subproduto está atrelada à geração principal. Em alguns
casos, vapor d’água é o principal produto e eletri3 O termo em inglês CHP – Combined Heat and Power também é
utilizado para instalações de cogeração. (N.T.)
388
Fundamentos da Termodinâmica
Reator
nuclear
Gerador
de vapor
Turbina e gerador
elétrico
©Luis Mmolina/iStockphoto
Circuito de vapor
Condensador
Circuito primário
Figura 9.20
Diagrama esquemático de um sistema nuclear de propulsão naval.
567 °C
Receptor
Sal
Tanque de
sal frio
Tanque de
sal quente
290°C
Sal
Heliostat
Torre
Turbina e
gerador
Sal
Água de alimentação
Vapor d’água
Vapor de saída da turbina
Condensador
Figura 9.21
Esquema de uma planta de concentração solar.
Sistemas de Potência e Refrigeração – Fluidos de Trabalhos Gasosos
Sistemas de Potência e
Refrigeração – Fluidos
de Trabalhos Gasosos
No capítulo anterior, estudamos sistemas de potência e refrigeração que utilizam
fluidos de trabalho que apresentam mudança de fase, em particular os que envolvem processos em regime permanente com trabalho de eixo. Observou-se que fluidos de trabalho com mudança de fase apresentam a máxima diferença em termos
de trabalho (–∫ v dP) nos processos de expansão e compressão. Neste capítulo,
continuaremos a estudar sistemas de potência e de refrigeração envolvendo processos em regime permanente, mas estudaremos aqueles que utilizam fluidos de
trabalho que permanecem no estado gasoso durante todo o ciclo, reconhecendo
que a diferença em termos de trabalho, entre os processos de expansão e compressão, é consideravelmente menor. Serão estudados, então, os ciclos de potência
para sistemas de cilindro-pistão envolvendo o trabalho de movimento de fronteira.
Concluiremos o capítulo examinando arranjos de sistemas com ciclos combinados.
Começamos o capítulo introduzindo o conceito do ciclo padrão a ar, o modelo básico a ser usado com sistemas de potência, utilizando gases como fluidos
de trabalho.
10.1 CICLOS PADRÃO A AR
Consideramos, na Seção 9.1, dois ciclos ideais baseados em quatro processos,
incluindo processos em regime permanente e aqueles realizados por ciclos de
movimento entre pistão e cilindro. Foram mencionados, ainda, aspectos relativos
a ciclos com mudança de fase e ciclos com apenas uma fase do fluido de trabalho. Em seguida, examinou-se detalhadamente o ciclo Rankine em instalações de
potência, que é o modelo teórico de ciclos de potência, em que o fluido de trabalho apresenta mudança de fase. Entretanto, muitos equipamentos dedicados à
produção de trabalho (motores) utilizam um fluido de trabalho que está sempre
no estado gasoso. O motor de ignição por centelha automotivo é um exemplo
familiar, bem como o motor diesel e a turbina a gás convencional. Em todos esses
motores há uma mudança na composição do fluido de trabalho, porque, durante
a combustão, ele varia de uma mistura de ar e combustível para produtos da
combustão. Por essa razão, esses motores são chamados motores de combustão
interna. Em contrapartida, a planta de geração de potência a vapor pode ser
419
10
420
Fundamentos da Termodinâmica
chamada motor de combustão externa, porque
o calor é transferido dos produtos de combustão
ao fluido de trabalho. Já foram construídos motores de combustão externa que utilizam um gás
como fluido de trabalho (usualmente o ar). Até o
momento, têm tido uma aplicação muito limitada,
mas o uso do ciclo de turbina a gás, em associação
com um reator nuclear, tem sido extensivamente investigado. Atualmente, tem sido dada muita
atenção a outros motores de combustão externa,
com o objetivo de combater o problema da poluição do ar.
Apesar do motor de combustão interna operar
em um ciclo mecânico, ele opera segundo um ciclo
denominado aberto, porque o fluido de trabalho
não passa por um ciclo termodinâmico completo.
Entretanto, para analisar os motores de combustão interna, é vantajoso conceber ciclos fechados
que se aproximam muito dos ciclos abertos. Uma
dessas aproximações é o chamado ciclo padrão a
ar, que é baseado nas seguintes hipóteses:
1. O fluido de trabalho é uma massa fixa de ar ao
longo de todo o ciclo, e o ar é sempre considerado como um gás ideal. Assim, não há processo de alimentação nem de descarga.
2. O processo de combustão é substituído por
um processo de transferência de calor de uma
fonte externa.
10.2 O CICLO BRAYTON
Na Seção 9.1, discutindo ciclos ideais de potência,
compostos por quatro processos em regime permanente, foi examinado um ciclo envolvendo dois
processos isobáricos e dois processos isotrópicos
(o diagrama desse ciclo pode ser visto na Figura
9.2). Esse ciclo teórico, utilizando um fluido de
trabalho com mudança de fase, é denominado ciclo Rankine. Quando esse ciclo teórico é utilizado
sem mudança de fase, com um fluido de trabalho
gasoso, é denominado ciclo Brayton. O ciclo padrão a ar Brayton é o ciclo ideal para a turbina
a gás simples. A Figura 10.1 mostra o diagrama
esquemático de uma turbina a gás simples de ciclo aberto, que utiliza um processo de combustão
interna e o de uma de ciclo fechado, que utiliza
dois processos de transferência de calor. O ciclo
padrão a ar Brayton é mostrado nos diagramas P-v
e T-s, na Figura 10.2.
A análise do ciclo Brayton é feita considerando-se um volume de controle ao redor de cada um
dos quatro elementos mostrados na Figura 10.1b,
(a)
Combustível
Câmara de
combustão
3. O ciclo é completado pela transferência de calor às vizinhanças (diferentemente do processo de exaustão e admissão em um motor real).
Compressor
4. Todos os processos são internamente reversíveis.
1
5. Usualmente, é admitida a hipótese adicional
de que o ar apresenta calor específico constante, determinado a 300 K, denominado propriedades do ar frio, reconhecendo-se que
este não é o modelamento mais preciso.
2
3
Turbina
Wlíq
4
Ar
Produtos de
combustão
(b)
QH
Trocador
de calor
3
2
O principal valor do ciclo padrão a ar consiste em permitir o exame qualitativo da influência
de diversas variáveis no desempenho do ciclo. Os
resultados quantitativos obtidos no ciclo padrão a
ar, tais como o rendimento e a pressão média efetiva, serão consideravelmente diferentes daqueles
relativos ao motor real. Portanto, a ênfase na análise do ciclo padrão a ar está, principalmente, nos
aspectos qualitativos.
Compressor
Turbina
Wlíq
1
Trocador
de calor
4
QL
Figura 10.1
Turbina a gás operando segundo o ciclo Brayton: (a) Ciclo
aberto; (b) Ciclo fechado.
421
Sistemas de Potência e Refrigeração – Fluidos de Trabalhos Gasosos
P
2
P2
T
= 2
P1
T1
3
s=
con
sta
s=
k /( k −1)
T3 T2 T3 T4
=
=
∴
T4 T1 T2 T1
nte
con
stan
t
4
T
ηtérmico = 1 −
3ʹ
3ʹʹ
te
2
3
n
sta
n
=
co
te 4
n
sta
on
c
P = 4ʹʹ
1
s
Figura 10.2
Ciclo padrão a ar Brayton.
e os resultados para as equações de energia e entropia são mostrados na Tabela 10.1. O rendimento do ciclo padrão Brayton pode ser determinado
do seguinte modo:
ηtérmico = 1 −
−
e
T3
T
−1 = 4 −1
T2
T1
O rendimento do ciclo fica:
v
P
k /( k −1)
P3
T
= 3
P4
T4
e
1
2ʹ
=
qL
h − h1
= 1− 4
≈ 1−
qH
h3 − h2
C P (T4 − T1 )
T (T /T − 1)
= 1− 1 4 1
C P (T3 − T2 )
T2 (T3 /T2 − 1)
Do ciclo ideal, sabemos que a razão de aumento da pressão no compressor é igual à razão de
redução da pressão na turbina, então
P3
P
= 2
P4
P1
A partir dos dois processos isotrópicos obtemos as relações de potência:
T1
T2
= 1−
1
( P2
( k−1) k
P1 )
(10.1)
Assim, o rendimento do ciclo padrão a ar
Brayton é função da relação de pressão isotrópica.
O fato de o rendimento aumentar com a relação de
pressão é evidente a partir da análise do diagrama
T-s da Figura 10.2. Aumentando-se a relação de
pressão; o ciclo muda de 1-2-3-4-1 para 1-29-39-41. Esse último ciclo tem um fornecimento de calor
maior e o mesmo rejeitado do ciclo original, e, portanto, apresenta um rendimento maior. Observe,
além disso, que o último ciclo opera com uma temperatura máxima maior (T39) que a do ciclo original (T3). Em uma turbina a gás real, a temperatura
máxima do gás que entra na turbina é fixada pelas
características dos materiais utilizados. Portanto,
se fixarmos a temperatura T3 e aumentarmos a relação de pressão, o ciclo resultante será 1-29-3040-1. Esse ciclo teria um rendimento maior que o
do ciclo original, mas há mudança do trabalho por
quilograma de fluido que escoa no equipamento.
Com o advento dos reatores nucleares, a turbina a gás de ciclo fechado tornou-se mais importante. O calor é transferido do combustível no reator nuclear, diretamente ou por intermédio de um
segundo fluido, ao fluido de trabalho do ciclo e é
rejeitado do fluido de trabalho para as vizinhanças.
A turbina a gás real difere do ciclo ideal principalmente em virtude das irreversibilidades no
compressor e na turbina, em decorrência da que-
Tabela 10.1
Processos do ciclo Brayton
Componente
Equação de Energia
Equação de Entropia
Processos
Compressor
0 = h1 + wC – h2
0 = s1 – s2 + (0/T) + 0
q = 0, s1 = s2
Combustão
0 = h2 + h3 – qH
0 = s2 – s3 + ∫ dq/T + 0
P3 = P2 = C
Turbina
0 = h3 – h4 – wT
0 = s3 – s4 + (0/T) + 0
q = 0, s3 = s4
Trocador de calor
0 = h4 – h1 – qL
0 = s4 – s1 – ∫ dq/T + 0
P4 = P1 = C
424
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 10.2
Considere uma turbina a gás em que o ar entra no compressor nas mesmas condições do
Exemplo 10.1 e o deixa à pressão de 1,0 MPa.
A temperatura máxima no ciclo é de 1100 °C.
Admita que as eficiências do compressor e da
turbina sejam, respectivamente, iguais a 80%
e 85%. Sabendo que a queda de pressão no escoamento de ar entre o compressor e a turbina
é igual a 15 kPa, determine o trabalho no compressor, o trabalho da turbina e o rendimento
do ciclo.
O rendimento é
ηcomp =
h2s − h1
h2 − h1
T2s − T1
=
=
T2 − T1
556,8 − 288,2
T2 − T1
= 0,80
Dessa forma
T2 − T1 =
556,8 − 288,2
0,80
= 335,8,
T2 = 624,0 K
wc = h2 − h1 = C p (T2 − T1 ) =
= 1,004 ( 624,0 − 288,2) = 337,0 kJ/kg
Como no exemplo anterior, admitiremos, novamente, para cada um dos volumes de controle
analisados, que o ar se comporte como gás ideal, que o ar apresente calor específico constante (avaliado a 300 K), que cada processo ocorra em regime permanente e que as variações
de energia cinética e potencial nos processos
sejam desprezíveis. O diagrama dos processos do ciclo analisado está mostrado na Figura
10.3. Vamos avaliar os processos que ocorrem
no compressor, na turbina e no trocador de calor de alta temperatura.
Volume de controle: Turbina.
Estado na entrada: P3 (queda de P2) conhecida e T3 conhecido. Estados determinados.
Estado de saída: P4 conhecida.
Análise:
Equação da energia: wt = h3 – h4
T3
s4 s = s3
Volume de controle: Compressor.
Estado na entrada: P1, T1 conhecidas e
determinados.
Estado de saída: P2 conhecida.
T4 S
P3
=
(k 1) /k
P4
Em adição:
ηturb =
h3 − h4
h3 − h4 s
=
T3 − T4
T3 − T4 s
Solução:
Análise:
Substituindo os valores, obtemos
Equação da energia: wc = h2 − h1
P3 = P2 − queda de pressão = 1,0 − 0,015 =
Equação da entropia no processo ideal:
T2S
s2s = s1
T1
P2
=
(k 1) /k
P1
Em adição:
ηcomp =
h2s − h1
h2 − h1
=
T2s − T1
T2 − T1
Solução:
Resolvendo para T2, temos
P2
P1
( k−1) / k
=
T2S
T1
= 10
0,286
= 1,932, T2S = 556,8 K
= 0,985 MPa
P3
P4
( k−1) / k
=
ηturb =
T3
T4 S
= 9,850,286 = 1,9236, T4 S = 713,9 K
h3 − h4
h3 − h4 s
=
T3 − T4
T3 − T4 s
= 0,85
T3 − T4 = 0,85 (1373,2 − 713,9 ) = 560,4 K
T4 = 812,8 K
wt = h3 − h4 = C p (T3 − T4 )
= 1,004 (1373,2 − 812,8 ) = 562,4 kJ/kg
wlíq = wt − wc = 562,4 − 337,0 = 225,4 kJ/kg
430
Fundamentos da Termodinâmica
10.5 O CICLO PADRÃO A AR PARA
PROPULSÃO A JATO
nt
e
T
P
ta
ns
o
=c
Consideraremos, agora, o ciclo padrão motor a ar
que é utilizado na propulsão a jato. Nesse ciclo, o
trabalho efetuado pela turbina é exatamente igual
ao necessário para acionar o compressor. Assim, os
gases são expandidos na turbina até uma pressão
tal que o trabalho da turbina seja exatamente igual
ao trabalho consumido no compressor. Dessa forma, a pressão na seção de descarga da turbina será
superior à da vizinhança e o gás pode ser expandido em um bocal até a pressão desse ambiente.
s
Figura 10.8
Diagrama temperatura-entropia que mostra como o ciclo
da turbina a gás, com muitos estágios, aproxima-se do ciclo Ericsson.
Como os gases saem do bocal a alta velocidade, esses apresentam uma variação de quantidade
Regenerador
QL
QH
Compressor
Compressor
QH
Turbina
Turbina
Gerador
Turbina
Gerador
Resfriador
intermediário
QL
Compressor
QH
QL
Resfriador
intermediário
Compressor
Turbina
QH
Regenerador
QL
Figura 10.9
Alguns arranjos dos componentes que podem ser utilizados em turbinas a gás estacionárias.
431
Sistemas de Potência e Refrigeração – Fluidos de Trabalhos Gasosos
EXEMPLO 10.5
Considere um ciclo ideal de propulsão a jato em que o ar entra no compressor a 0,1 MPa e 15 °C. A
pressão de saída do compressor é 1,0 MPa e a temperatura máxima do ciclo é 1100 °C. O ar expande
na turbina até uma pressão tal que o trabalho da turbina seja exatamente igual ao trabalho no compressor. Saindo da turbina, o ar expande em um bocal, adiabática e reversivelmente, até 0,1 MPa.
Determine a velocidade do ar na seção de descarga do bocal.
Fluxo secundário
(ou “bypass”)
Fluxo
principal
Fluxo do desvio
FIGURA 10.10
Motor a jato do tipo turbofan. (Adaptado de General Eletric Aircraft Engines).
Injeção de combustível
Entrada de ar
Exaustão
de gases
quentes
Difusor Compressor
(a)
1
2
Câmara de
combustão
Câmara de Turbina
combustão
(b) T
P
3
3
Turbina
5
Bocal
2
3
2
4
4
a
Compressor
Bocal
4
5
a
a
1
1
s
FIGURA 10.11
Ciclo ideal de turbina a gás para um motor a jato.
5
v
445
Sistemas de Potência e Refrigeração – Fluidos de Trabalhos Gasosos
saturação e as temperaturas para um ciclo combinado água-metal líquido típico estão mostradas no
diagrama T-s apresentado na Figura 10.23.
Outro tipo de ciclo combinado, que tem recebido muita atenção ultimamente, é o baseado na
utilização do “calor perdido” na exaustão da turbina a gás do ciclo Brayton (ou de outro motor de
combustão, como o ciclo Diesel) como fonte térmica para um ciclo de potência a vapor d’água ou
de outro fluido. Assim, o ciclo a vapor opera com
um ciclo de bottoming do ciclo de potência a gás e
isso é feito para aproveitar o alto rendimento térmico do ciclo combinado. Uma dessas combinações,
composta por uma turbina a gás e um ciclo a vapor
do tipo Rankine, é mostrada na Figura 10.24. Nessa
combinação, o resfriamento dos gases de exaustão
da turbina a gás é a fonte de energia para os processos de transferência de calor com mudança de fase
(ebulição) e de superaquecimento do vapor gerado
O projeto dessas instalações deve ser feito de
modo a evitar o ponto de pinça (pinch point), ou
·
QH
P 3 = P2
Aquecedor
1
3
2
Ciclo de turbina
a gás Brayton
·
Wlíq
P5 = P4
TG
Turbina
a gás
Compressor
4
5
7
P7 = P6
·
Wlíq
Ciclo de vapor
d’água Rankine
6
Turbina
a vapor
TV
Condensador
9
·
W
bomba
8
P8 = P9
·
QCond
Figura 10.24
Ciclo de potência combinado Brayton/Rankine.
Superaquecedor de vapor
d’água e caldeira de mercúrio
4
H2O
3
Turbina
de vapor
d’água
W
H2O
W
c
Turbina de
mercúrio
5
d
Condensador
Condensador de mercúrio
e caldeira de vapor d’água
1
a
b
2
Bomba
Bomba
T
c′
562 °C, c
1,6 MPa
309 °C,
0,04 MPa
b
a
2
1
4
d
260 °C, 4,688 MPa
3
10 kPa
5
s
Figura 10.23
Ciclo combinado água-metal líquido.
seja, deve-se evitar que a temperatura dos gases
atinja a temperatura de mudança de fase do vapor sem que se tenha transferido a quantidade de
energia necessária para que o processo de evaporação esteja completo.
Outro modo de utilizar o “calor perdido” na
exaustão do ciclo Brayton é a instalação de um
ciclo de potência que opera com uma mistura de
substâncias como fluido de trabalho. Um exemplo
dessa aplicação é o ciclo Kalina, que utiliza uma
mistura água-amônia como fluido de trabalho em
um ciclo de potência do tipo Rankine. Essa combinação de ciclos pode apresentar eficiências muito
altas, pois as diferenças de temperatura entre os
dois fluidos podem ser controladas por meio do
projeto criterioso do ciclo combinado.
Ciclos combinados de refrigeração são utilizados quando a diferença entre as temperaturas do
ambiente e a do espaço refrigerado é grande, como
mostrado nos sistemas em cascata no Capítulo 9.
Esses ciclos também podem ser constituídos pela
junção de um ciclo de um motor térmico que produz o trabalho necessário para acionar um ciclo de
refrigeração, como mostrado na Figura 10.25. Isso
é o que ocorre quando o motor de um carro produz
Mistura de Gases
Mistura
de Gases
463
11
Até aqui, em nosso desenvolvimento da termodinâmica, consideramos apenas
substâncias puras. Um grande número de problemas da termodinâmica envolve
misturas de substâncias puras diferentes. Às vezes, essas misturas são denominadas soluções, particularmente quando estão nas fases líquida e sólida.
Neste capítulo, nossa atenção estará voltada para várias considerações termodinâmicas relativas às misturas de gases. Iniciaremos pela análise de um problema simples, que é o das misturas de gases ideais. Essa análise nos leva a um
modelo simplificado, porém muito utilizado, de certas misturas, tais como ar e
vapor d’água, que podem envolver a fase condensada (sólida ou líquida) de um
dos componentes.
11.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS E MISTURAS DE
GASES IDEAIS
Considere uma mistura de N componentes, cada um deles constituído por uma
substância pura, de modo que a massa total e o número total de mols sejam
dados por:
mtot = m1 + m2 + + m N = ∑ mi
ntot = n1 + n2 + + n N = ∑ ni
A mistura é usualmente descrita pelas frações mássicas (concentrações)
ci =
mi
(11.1)
mtot
ou pelas frações molares de cada componente,
yi =
ni
(11.2)
ntot
Essas duas frações podem ser relacionadas por meio da massa molecular,
Mi, pois mi = ni Mi. Assim, podemos converter a fração na base molar para a
base mássica do seguinte modo:
464
Fundamentos da Termodinâmica
ci =
mi
mtot
=
ni M i
ni M i /ntot
=
=
yi M i
∑ n j M j ∑ n j M j /ntot ∑ y j M j
(11.3)
e da base mássica para a base molar:
yi =
ni
ntot
=
mi /M i
mi /( M i mtot )
=
=
(11.4)
A massa molecular da mistura pode ser escrita
do seguinte modo:
mtot
ntot
=
∑ ni Mi =
ntot
∑ yi Mi
A análise da composição de uma mistura gasosa forneceu os seguintes resultados, em
base molar:
ci /M i
∑ m j /M j ∑ m j /( M j mtot ) ∑ c j /M j
M mist =
EXEMPLO 11.1
CO2
O2
N2
CO
12,0%
4,0%
82,0%
2,0%
Determine a composição da mistura em
base mássica e sua massa molecular.
Sistema: Mistura gasosa.
Estado: Composição conhecida.
(11.5)
TABELA 11.1
Massa kg
por kmol
de mistura
Composição
em base
mássica
Considere uma mistura de dois gases (não
necessariamente gases ideais), tal como mostra a
Figura 11.1. Que propriedades podemos medir experimentalmente nessa mistura? Certamente, podemos medir a pressão, a temperatura, o volume
e a massa da mistura. Também podemos determinar, experimentalmente, a composição da mistura
e, assim, calcular as frações molares e mássicas.
Componente
Mol
%
CO2
12
0,12
× 44,0
= 5,28
5,28
—
= 17,55
30,08
O2
4
0,04
× 32,0
= 1,28
1,28
—
=
30,08
N2
82
0,82
× 28,0
= 22,96
22,96
— = 76,33
30,08
Suponha que essa mistura sofra um processo ou uma reação química e desejemos fazer uma
análise termodinâmica desse processo ou reação.
Que tipo de dados termodinâmicos deveríamos
utilizar nessa análise? Uma possibilidade seria
usar tabelas de propriedades termodinâmicas de
misturas. Entretanto, tendo em vista o grande
número possível de misturas diferentes, seja em
virtude da natureza das substâncias componentes
ou das composições possíveis, seria necessária
uma biblioteca repleta de tabelas de propriedades
termodinâmicas para abranger todas as situações
possíveis. Seria muito mais simples se pudésse-
CO
2
0,02
× 28,0
0,56
=—
30,08
0,56 = —
1,86
—
30,08 100,00
Temperatura = T
Gases A + B
Volume V
Solução:
A construção da Tabela 11.1 é uma maneira
conveniente de se resolver esse tipo de problema. A massa molecular da mistura determinada nesses cálculos é igual a 30,08.
Se a análise tivesse sido fornecida em base
mássica, as porcentagens ou frações molares seriam determinadas, como mostrado
na Tabela 11.2.
Massa kg
Massa
por kmol
molecular
de mistura
Fração
molar
Mol
%
Componente
Fração
mássica
CO2
0,1755
÷ 44,0
= 0,003 99
0,120
12,0
O2
0,0426
÷ 32,0
= 0,001 33
0,040
4,0
N2
0,7633
÷ 28,0
= 0,027 26
0,820
82,0
÷ 28,0
0,000 66
=—
0,033 24
0,020
—
1,000
2,0
—
100,0
CO
Uma mistura de dois gases.
4,26
TABELA 11.2
Pressão = P
Figura 11.1
Fração Massa
molar molecular
0,0186
478
Fundamentos da Termodinâmica
formam a linha de saturação (umidade relativa
igual a 100%) até que o ponto 3 seja atingido. Note
que a temperatura do ponto 3 é inferior àquela do
ponto 2. Outros processos também podem ser representados no diagrama psicrométrico de modo
similar.
Vários processos importantes envolvem o
aquecimento ou resfriamento do ar atmosférico,
com adição ou remoção de umidade. Deve-se ter
atenção especial no projeto de equipamentos de
modo que seja evitada a corrosão causada pela
condensação da umidade. Na construção de um
sistema de ar-condicionado, seja ele composto por
uma unidade simples ou por um sistema central,
haverá condensação de umidade quando o ar for
resfriado abaixo de sua temperatura de orvalho,
o que torna necessário um sistema adequado de
drenagem.
Um exemplo de uma unidade de ar-condicionado é apresentado na Figura 11.11. Ele é operado
no modo de resfriamento, de forma que o trocador
de calor interno corresponde ao evaporador do ciclo de refrigeração. A parte externa compreende
o compressor e o trocador de calor para condensação, que rejeita energia para o ar ambiente, auxiliado por um ventilador que força a passagem de
ar sobre sua superfície quente. Essa mesma unidade poderia funcionar como uma bomba de calor,
revertendo-se o fluxo de modo que o trocador de
calor interno se tornaria o condensador e o exter-
Ar frio
Exterior
Interior
Ar quente
Ventilador
Saída
Condensador
Evaporador
Entrada
Dreno
de
água
Compressor
Ar do ambiente exterior
Ar do ambiente interior
Motor do ventilador
Umidostato
Ventilador
Controles
Relê
Compressor
Serpentina
do condensador
Recipiente
de coleta de
condensado
Serpentina
do evaporador
Sensor de
transbordamento5
Figura 11.12
Uma unidade doméstica de desumidificação de ar.
no o evaporador. Nesse modo, é possível a formação de gelo na parte externa se a temperatura no
evaporador for baixa o suficiente.
Um ciclo de refrigeração é também empregado na pequena unidade de desumidificação de
ar apresentada na Figura 11.12, em que um ventilador força a passagem do ar sobre a superfície
do evaporador, de modo a resfriá-lo abaixo da
temperatura de orvalho, causando a condensação de umidade que é recolhida em um recipiente
ou drenada. O ar que teve a umidade reduzida é
aquecido pelo escoamento sobre a superfície do
condensador, como mostra a Figura 11.13. Essa
figura também mostra o esquema do ciclo de refrigeração. Tomando-se um volume de controle que
envolva todos os componentes, percebemos que o
efeito líquido global desse processo é a remoção
de alguma água relativamente fria e o fornecimento de trabalho, que aquece o ar.
Figura 11.11
Um aparelho de ar-condicionado operando no modo de
refrigeração.
5 Desliga o aparelho para evitar que haja transbordamento do recipiente de recolhimento de condensado. (N.T.)
Mistura de Gases
Evaporador
Válvula
Condensador
1
Distribuição de
água quente
Retorno
do ar para
o ambiente
Compressor
Entrada
do ar
2
479
Venezianas
3
Colmeia
Colmeia
· líq
m
Figura 11.13
Dreno
Esquema de funcionamento do desumidificador de ar.
Saída de ar quente
Água fria
Torre de tiragem induzida e
fluxo duplo cruzado
Figura 11.15
Uma torre de resfriamento para uma planta de potência.
Ventilador
Sistema de circulação
de água de resfriamento
Atomização
da água
Superfície de
contato entre a
água e o ar
(colmeia)
Entrada do ar
Reservatório de
água de
resfriamento
Bomba
Compressor
Ciclo de
refrigeração
Condensador
Entrada de
ar do exterior
Filtros
de ar
Sistema de
circulação de ar
Ventilador
Serpentina
de
aquecimento
Sistema de
circulação
do fluido
refrigerante
Ar refrigerado
para o interior
Serpentina
de
resfriamento
Retorno de ar
do espaço
refrigerado
Figura 11.14
Uma torre de resfriamento para uso em sistema de ar-condicionado de edifícios.
O efeito de resfriamento observado no processo de saturação adiabática é aproveitado em
dispositivos de resfriamento por evaporação, uti-
lizados para reduzir a temperatura da água para
valores abaixo daqueles que seriam obtidos com
o uso de trocadores de calor operando em condição ambiente. Em larga escala, esse processo é
usado em plantas de potência em que não existe
uma fonte de água em quantidade suficiente para
absorver a energia do condensador. Uma combinação com um ciclo de refrigeração é apresentada
na Figura 11.14 com o propósito de aplicação em
sistemas de ar-condicionado de edifícios, em que
a torre de resfriamento mantém uma temperatura de condensação reduzida visando aumentar o
valor do COP. Torres de resfriamento muito maiores, como mostra a Figura 11.15, são empregadas
em ciclos de potência para fornecer água fria ao
condensador. Nessas unidades, é necessária a reposição da água que evapora. Uma grande nuvem,
causada pela condensação do vapor d’água em pequenas gotas misturadas com o ar atmosférico, é
geralmente observada, saindo dessas torres.
RESUMO
Uma mistura de gases pode ser descrita tanto pela
composição mássica como pela molar. Definem-se,
assim, a fração mássica e a fração molar, ambas
consideradas medidas de concentração. A mistura
possui uma massa molecular média e tantas outras
propriedades que podem ser expressas em base
molar ou mássica. O modelo de mistura de Dalton,
um modelo simples de mistura de gases ideais,
foi apresentado, e o modelo nos levou à definição
da pressão parcial como sendo a contribuição de
cada componente, dada por sua fração molar, para
Relações Termodinâmicas
Relações
Termodinâmicas
Diversas propriedades termodinâmicas já foram definidas e utilizadas. As propriedades mais empregadas até este ponto foram a pressão, o volume específico, a massa específica, a temperatura, a massa, a energia interna, a entalpia, a
entropia, os calores específicos a volume e a pressão constantes e o coeficiente
de Joule-Thomson. Duas outras propriedades, as funções de Helmholtz e Gibbs,
serão introduzidas e utilizadas extensivamente nos próximos capítulos. Também tivemos a oportunidade de empregar as tabelas de propriedades termodinâmicas para diversas substâncias.
Surge agora uma questão importante. Quais são as propriedades termodinâmicas que podem ser medidas experimentalmente? Para responder a essa questão, considere as medições que podemos efetuar em um laboratório. Algumas
propriedades, tais como a energia interna e a entropia, não podem ser medidas
diretamente e precisam ser calculadas com base em outros dados experimentais. Se analisarmos cuidadosamente todas as propriedades termodinâmicas,
concluiremos que existem somente quatro propriedades que podem ser medidas diretamente: a pressão, a temperatura, o volume e a massa.
Isso leva a outra questão: como determinar os valores das propriedades
termodinâmicas que não podem ser medidas de modo experimental, com base
nos dados das propriedades termodinâmicas que podem ser medidas experimentalmente? Para responder essa questão, desenvolveremos certas relações
termodinâmicas gerais. Em vista do fato de que milhões de tais equações podem
ser escritas, nosso estudo se limitará a certas considerações básicas e daremos
ênfase à determinação de propriedades termodinâmicas com base em dados
experimentais. Consideraremos, também, alguns assuntos correlatos, tais como
os diagramas generalizados e as equações de estado.
499
12
500
Fundamentos da Termodinâmica
12.1 A EQUAÇÃO DE CLAPEYRON
Os cálculos de propriedades termodinâmicas,
como a entalpia ou a entropia, em função de propriedades mensuráveis, podem ser agrupados em
duas grandes categorias. A primeira é composta
pelas avaliações das diferenças entre as propriedades de duas fases e a segunda é composta pelos
cálculos das variações de propriedades em uma
fase única e homogênea. Nesta seção, analisaremos a primeira categoria, ou seja, aquela que é
composta pelos problemas em que existem duas
fases distintas. Analisaremos situações nas quais
as fases são líquida e vapor, mas essa análise se
aplica aos casos em que existem outras fases em
equilíbrio.
Considere o motor térmico que opera segundo
o ciclo de Carnot e entre dois reservatórios térmicos. As temperaturas dos reservatórios térmicos
de baixa e alta temperatura são, respectivamente, iguais a T e T − ∆T. As pressões de saturação
correspondentes a essas temperaturas são P e
P − ∆P. O ciclo de Carnot opera com quatro dispositivos em regime permanente. No processo de
transferência de calor a alta temperatura, o fluido
de trabalho muda de líquido saturado no ponto 1
para vapor saturado no ponto 2, como mostrado
nos dois diagramas da Figura 12.1.
Da Figura 12.1a, para transferência de calor
em processos reversíveis:
qH = Tslv;
qL = (T – ∆T)slv
De modo que:
wlíq = qH – qL = ∆Tslv
(12.1)
Da Figura 12.1b, tem-se que cada etapa do
ciclo de Carnot está em regime permanente e é
reversível, de modo que o trabalho em cada etapa
pode ser calculado pela Equação 7.15:
w = − ∫ v dP
Aplicando essa equação às quatro etapas do
ciclo, tem-se:
3
1
2
4
wlíq = 0 − ∫ v dP + 0 − ∫ v dP
(a)
T
≈−
P
T
≈ P
2
1
P – ΔP
T – ΔT
−
2
P
T
2
( P − P + P )
v1 + v4
(12.2)
2
slv
≈
v2 + v3
2
1
4
−
v1 + v4
2
Na situação limite em que ∆T → 0, v3 → v2 =
vv, v4 → v1 = vl, que resulta em:
2
T
P – ΔP
v2 + v3
v1 + v4
Agora, combinando as Equações 12.1 e 12.2 e
rearranjando:
P
P
2
( P − P − P ) −
(quanto menor ∆P, melhor a aproximação).
3
4
s
(b)
v2 + v3
lim
T →0
3
T – ΔT
v
Figura 12.1
Ciclo de Carnot operando com uma pequena diferença de
temperatura entre dois reservatórios térmicos.
P
T
=
dPsat
dT
=
slv
vlv
(12.3)
Sendo a transferência de calor entre os estados 1 e 2 a pressão e temperatura constantes,
tem-se que:
qH = hlv = Tslv
Relações Termodinâmicas
e o resultado geral da Equação 12.3 fica da seguinte forma:
dPsat
dT
=
slv
vlv
=
hlv
Tvlv
(12.4)
Essa equação é conhecida como a Equação
de Clapeyron. É uma relação simples, mas muito importante. Podemos determinar experimentalmente o lado esquerdo da Equação 12.4, que
representa a inclinação da curva de pressão de
saturação como função da temperatura. Podemos
também medir os volumes específicos das fases
vapor e líquida em uma dada temperatura, o que
significa que podemos calcular a entalpia específica de vaporização e a entropia específica de vaporização, ambas pela utilização da Equação 12.4.
Assim, tem-se um meio para realizar cálculos de
primeira e segunda leis em processos com mudança de fase, o que foi um dos objetivos desse nosso
desenvolvimento.
Podemos utilizar o mesmo procedimento para
processos de mudanças de fase de sólido para
líquido (fusão) e de sólido para vapor (sublimação). Em cada caso, devemos utilizar na equação
de Clapeyron a pressão de saturação, os volumes
específicos e as variações de entalpia e entropia
apropriadas. Por exemplo, a forma da equação de
Clapeyron adequada para o processo de fusão, em
que a fase sólida e a líquida são representadas pelos índices s e l, é:
dPfusão
dT
ssf
=
vsf
=
hsf
501
(12.5)
Tvsf
Normalmente, a variação de volume específico
verificada no processo de fusão (vsl = vl – vs) é
pequena, de modo que a inclinação da linha de fusão é quase vertical. No caso da água, a inclinação
dessa curva, além de quase vertical, é negativa, e
esse comportamento não usual se deve ao fato de
vil ser negativo.
A forma da equação de Clapeyron adequada
para o processo de sublimação, em que as fases
sólida e vapor são representadas pelos índices s
e v, é
dPsublimação
dT
=
ssg
vsg
=
hsg
(12.6)
Tvsg
A equação de Clapeyron pode ser simplificada
nos casos em que a temperatura é baixa e a pressão de saturação é muito pequena. O volume específico do vapor vl é, então, muito maior que aquele
da fase condensada, líquida na Equação 12.4 ou
sólida na Equação 12.6. Além disso, esse volume é
bem representado pela equação de estado de gás
ideal. A equação de Clapeyron então pode ser reescrita do seguinte modo:
dPsat
dT
hlv
=
Tvlv
=
hlv Psat
(12.7)
RT 2
EXEMPLO 12.1
Determine a pressão de saturação da água a
−60 °C utilizando os dados fornecidos pelas tabelas de vapor.
2 dP
∫1
ln
Sistema: Água.
Solução:
A Tabela B.1.5 do Apêndice não fornece as
pressões de saturação para temperaturas menores que −40 °C. Entretanto notamos que hsv
é relativamente constante nessa faixa e, portanto, vamos utilizar a Equação 12.7 e a integraremos entre os limites −40 °C e −60 °C.
P
=
2 hsg
∫1
P2
P1
dT
R T
=
2
=
hsg
R
2 dT
∫1 T 2
hsg T2 − T1
R
T1T2
Como
P2 = 0,0129 kPa, T2 = 233,2 K e T1 = 213,2 K,
temos
ln
P2
P1
=
2838,9
233,2 − 213,2
0,461 52 233,2 × 213,2
P1 = 0,001 09 kPa
= 2,4744
502
Fundamentos da Termodinâmica
O valor da entalpia específica de vaporização
(hlv) não varia muito com a temperatura na região em que a temperatura é baixa (não próxima
à temperatura crítica). Se admitirmos que essa
entalpia de vaporização seja constante, podemos
rearranjar e integrar a Equação 12.7 em um intervalo de temperatura para calcular a pressão de
saturação relativa a certa temperatura. O próximo
exemplo ilustra esse procedimento.
12.2 RELAÇÕES MATEMÁTICAS PARA
FASE HOMOGÊNEA
Na seção anterior, desenvolvemos um procedimento para calcular as diferenças de entalpia (e,
portanto, também de energia interna) e de entropia relativas à mudança de fase com base em propriedades termodinâmicas mensuráveis. Nas próximas seções, desenvolveremos expressões para
calcular diferenças de propriedades em uma fase
única, compressível e homogênea (vapor, líquida
ou sólida). É interessante apresentar, inicialmente, duas relações matemáticas que são muito úteis
no desenvolvimento dessas equações.
12.2. A figura mostra a superfície P-v-T referente à região de vapor superaquecido de uma substância pura. Note que os planos de temperatura,
pressão e volume específico constantes se interceptam, sobre a superfície, no ponto b. Assim, a
derivada parcial (∂P/∂v)T é a inclinação da curva
abc no ponto b. A linha que representa a tangente à curva abc no ponto b. Uma interpretação semelhante pode ser feita para as derivadas parciais
(∂P/∂T)v e (∂v/∂T)P.
Se desejarmos estimar a derivada parcial ao
longo de uma linha de temperatura constante,
podemos aplicar as regras para as derivadas ordinárias. Portanto, para um processo a temperatura
constante, podemos escrever
∂P
∂v
=
T
dPT
dvT
e a integração pode ser efetuada da maneira usual.
Isso será demonstrado mais adiante em diversos
exemplos.
Retomemos as considerações sobre a relação
dz = M dx + N dy
Considere uma variável (propriedade termodinâmica), z, que é função contínua de x e y:
z = f ( x , y)
dz =
∂z
∂x
dx +
y
∂z
∂y
dy
x
a
É conveniente reescrever essa expressão na
forma
dz = M dx + N dy
d
te
(12.8)
b
o
Vc
tan
ns
stante
P con
M=
∂z
∂x
== derivada parcial de z em relação a x,
y
mantida y constante.
N=
Tc
on
sta c
nte
Vo
∂z
∂y
Pressão
Em que:
== derivada parcial de z em relação a y,
x
lum
spe
cífi
co
ura
rat
e
mp
mantida x constante.
O significado físico das derivadas parciais e
como se relacionam com as propriedades de uma
substância pura pode ser explicado com a Figura
e
ee
Te
Figura 12.2
Representação esquemática das derivadas parciais.
Reações Químicas
Reações
Químicas
Muitos problemas termodinâmicos envolvem reações químicas. Entre eles, os
mais familiares são os que apresentam a oxidação de combustíveis hidrocarbonetos, pois esse processo é utilizado na maioria dos dispositivos geradores de
potência. Entretanto, podemos pensar em muitos outros processos que envolvem
reações químicas, incluindo, por exemplo, os que ocorrem no corpo humano.
O nosso objetivo, neste capítulo, é analisar os processos nos quais ocorre
uma reação química utilizando a primeira e a segunda leis da termodinâmica.
Em muitos aspectos, este capítulo é simplesmente uma extensão de nossas considerações prévias sobre essas leis. Entretanto, será necessário introduzirmos a
terceira lei da termodinâmica e alguns termos novos.
Neste capítulo, o processo de combustão será tratado detalhadamente. As
duas razões que justificam essa ênfase são: o processo é essencial para o funcionamento de muitas máquinas, motores e equipamentos industriais e é um
excelente veículo para o ensino dos princípios básicos da termodinâmica das
reações químicas. O estudante deve estar atento a essas razões durante o estudo deste capítulo.
O equilíbrio químico será considerado no Capítulo 14 e, portanto, o tópico
sobre a dissociação será adiado até lá.
13.1 COMBUSTÍVEIS
Um livro-texto de termodinâmica não é o lugar adequado para uma exposição
detalhada sobre combustíveis. Entretanto, para analisar os processos de combustão, é necessário conhecer algumas características fundamentais dos combustíveis. Esta seção é, portanto, dedicada a uma breve análise de alguns combustíveis constituídos por hidrocarbonetos. A maioria dos combustíveis pode
ser classificada em três categorias: carvão, hidrocarbonetos líquidos e hidrocarbonetos gasosos.
O carvão é formado por restos de depósitos de vegetação, de eras geológicas
passadas, submetidos à ação de agentes bioquímicos, alta pressão, temperatura
e imersão. As características do carvão variam, consideravelmente, em função
543
13
544
Fundamentos da Termodinâmica
de sua localização. É interessante notar que podem ocorrer variações de composição entre carvões de uma mesma mina.
A análise de uma amostra de carvão pode ser
realizada de duas maneiras diferentes. A primeira,
conhecida como análise imediata, fornece as porcentagens da umidade, material volátil, carbono
fixo e de cinzas presentes no carvão, em base mássica. A segunda, conhecida como análise elementar, fornece as porcentagens de carbono, enxofre,
hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e cinzas presentes no carvão, em base mássica. A análise imediata
pode ser fornecida na base seca ou nas condições
em que a amostra foi recebida no laboratório. Assim, a análise elementar na base seca não fornece
a umidade presente na amostra e, para determiná-la, torna-se necessário realizar a análise imediata.
Outras propriedades também são importantes para avaliar se um carvão é adequado para um
determinado fim. Algumas delas são: distribuição
granulométrica da amostra, temperatura de amolecimento das cinzas, energia necessária para alterar a granulometria da amostra de um estado
padrão a outro estado padrão (essa propriedade
indica qual é o trabalho necessário para acionar os
moinhos de pulverização) e características abrasivas da amostra.
A maioria dos combustíveis compostos por
carbono e hidrogênio, líquidos e gasosos, é constituída de uma mistura de muitos hidrocarbonetos
diferentes. Por exemplo, a gasolina é constituída
por uma mistura de cerca de 40 hidrocarbonetos
diferentes e com traços de muitos outros. Na análise dos combustíveis constituídos por hidrocarbonetos é interessante considerar, brevemente, as
famílias mais importantes dos hidrocarbonetos. A
Tabela 13.1 reúne essas famílias e apresenta as características mais importantes de cada uma.
Três termos devem ser definidos. O primeiro se refere à estrutura da molécula. Os tipos
importantes de estrutura são as cíclicas e as em
cadeia. A diferença entre elas está apresentada
na Figura 13.1. A mesma figura ilustra a definição
de hidrocarbonetos saturados e não saturados.
Um hidrocarboneto não saturado possui dois ou
mais átomos de carbonos adjacentes, unidos por
uma ligação dupla ou tripla, enquanto nos hidrocarbonetos saturados, todos os átomos de carbono
são unidos por uma ligação simples. O terceiro ter-
Tabela 13.1
Características de algumas famílias de hidrocarbonetos
Família
Fórmula
Estrutura
Saturado
Parafínicos
CnH2n+2
Cadeia
Sim
Olefínicos
CnH2n
Cadeia
Não
Diolefínicos
CnH2n–2
Cadeia
Não
Naftalenos
CnH2n
Cíclica
Sim
Benzenos
CnH2n–6
Cíclica
Não
Naftalenos
CnH2n–12
Cíclica
Não
Aromáticos
mo a ser definido é um isômero. Dois hidrocarbonetos com o mesmo número de átomos de carbono
e hidrogênio e estruturas diferentes são chamados
isômeros. Assim, existem inúmeros octanos diferentes (C8H18), cada qual possuindo 8 átomos de
carbono e 18 átomos de hidrogênio, mas cada um
apresentando uma estrutura diferente.
As várias famílias de hidrocarbonetos são identificadas por um sufixo comum. Os compostos da
família parafínica terminam todos em ano (como
propano e octano). Analogamente, os compostos
da família olefínica terminam em eno (como propeno e octeno) e os da família diolefínica terminam em dieno (como butadieno). A família dos
naftalenos apresenta fórmula química geral igual
à da família dos olefínicos, mas apresentam estruturas cíclicas em vez de estruturas em cadeia.
Os hidrocarbonetos da família naftaleno são identificados pelo acréscimo do prefixo ciclo (como
ciclopentano).
A família dos aromáticos inclui as séries do
benzeno (CnH2n−6) e do naftaleno (CnH2n−12).
A série do benzeno possui uma estrutura cíclica
insaturada.
A maior parte dos combustíveis líquidos, constituídos por hidrocarbonetos, são misturas obtidas
da destilação ou destilação fracionada do petróleo. A separação do ar em seus dois componentes
principais, nitrogênio e oxigênio, utilizando uma
coluna de destilação, mostrada na Figura 9.27.
Analogamente, mas de modo mais complicado,
uma coluna de destilação fracionada de petróleo
é utilizada para separar o petróleo em seus vários
C
H
—
C
C
H
—
H H H H
—
—
H– C – C =C – C – H
H H H H
–
–
–
–
H– C – C – C – C – H
C
H
—
H
—
—
H
—
H
– –
–
–
– –
–
–
–
–
H H H H
—
—
H
—
—
Reações Químicas
H
H
Estrutura em cadeia,
saturada
Estrutura em cadeia,
insaturada
H
Estrutura cíclica,
saturada
Figura 13.1
Estrutura molecular de alguns combustíveis constituídos
por hidrocarbonetos.
545
constituintes. Esse processo é esquematicamente
mostrado na Figura 13.2. O óleo cru é gaseificado
e entra próximo ao fundo da coluna de destilação.
As frações pesadas possuem ponto de ebulição
maior e condensam em temperaturas maiores na
parte inferior da coluna, enquanto as frações mais
leves condensam a temperaturas mais baixas na
parte superior da coluna. Assim, a partir de um
determinado tipo de petróleo, podemos produzir
gasolina, querosene, gasolina de aviação, óleo diesel e óleo combustível.
C1 a C4 gases
Coluna de
destilação
Gás liquefeito de petróleo
20 °C
C5 a C9
nafta
Produtos químicos
Frações com
massa específica
e ponto de
ebulição
decrescentes
70 °C
C5 a C10
gasolina
Gasolina para veículos
120 °C
C10 a C16
querosene
(óleo parafínico)
Gasolina para aviação,
parafina para iluminação
170 °C
C14 a C20
óleo diesel
Combustíveis diesel
270 °C
Óleo cru
C20 a C50
óleo lubricante
Óleos lubrificantes,
ceras e polidores
C50 a C70
óleo combustível
a) Diagrama esquemático.
Figura 13.2
Coluna de destilação de petróleo.
600 °C
> C70 resíduo
Asfalto para estradas
e coberturas
© Hanquan Chen/iStockphoto
Frações
com massa
específica e
ponto de ebulição
crescentes
Combustíveis para
embarcações,
fábricas e centrais
termoelétricas
b) Fotografia de uma coluna de destilação em uma refinaria
550
Fundamentos da Termodinâmica
EXEMPLO 13.2
Determine a análise molar dos produtos de
combustão do octano C8H18, quando este é
queimado com 200% de ar teórico, e o ponto
de orvalho dos produtos. Admita que a pressão nos produtos de combustão seja igual a 0,1
MPa.
Número total de kmols dos produtos
8 + 9 + 12,5 + 94,0 = 123,5
Análise molar dos produtos
CO2 = 8/123,5
= 6,47%
= 7,29%
H2O = 9/123,5
O2
= 12,5/123,5 = 10,12%
= 94/123,5
= 76,12%
N2
—
= 100,00%
Solução:
A equação da combustão do octano com 200%
de ar teórico é
A pressão parcial da água é 100(0,0729) =
7,29 kPa. A temperatura de saturação correspondente a essa pressão, que também é a temperatura do porto de orvalho, é 39,7 °C.
C8H18 + 12,5(2) O 2 + 12,5(2)(3,76) N2 →
8 CO2 + 9 H2O + 12,5 O2 + 94,0 N2
EXEMPLO 13.3
O gás produzido na gaseificação de carvão betuminoso (ver Tabela 13.2) é queimado com 20% de
excesso de ar. Calcule a relação ar-combustível nas bases volumétrica e mássica.
Solução:
Para calcular a quantidade do ar teórico necessária, escreveremos a equação da combustão para as
substâncias combustíveis contidas em um kmol de combustível
0,14H2 + 0,070O2 → 0,14H2O
0,27CO + 0,135O2 → 0,27CO2
0,03CH4 + 0,060 O2 → 0,03 CO2 + 0,06 H2O
0,265 = kmol de O2 necessários/kmol de combustível
− 0,006 = kmol de O2 no combustível/kmol de combustível
0,259 = kmol de O2 necessário/kmol de combustível
Assim, a equação completa para 1 kmol de combustível é
Combustível
0,14 H 2 + 0,27 CO + 0,03 CH 4 + 0,006 O 2 + 0,509 N 2 + 0,045 CO 2
Ar
+0,259 O 2 + 0,259(3,76) N 2 → 0,20 H 2O + 0,345 CO 2 + 1,482 N 2
kmol de ar
kmol de combustível
= 0,259 ×
teórico
1
= 1,233
0,21
Se o ar e o combustível estiverem à mesma pressão e temperatura, esse valor também representa
a relação entre o volume de ar e o volume de combustível. Para 20% de excesso de ar, a relação
ar-combustível em base molar é igual a 1,2 × 1,233. Ou seja, a relação é igual a 1,48. A relação ar–
combustível em massa é
560
Fundamentos da Termodinâmica
Tabela 13.3
Entalpia de combustão, em kJ/kg, para alguns hidrocarbonetos (HC) a 25 ºC
Água líquida nos produtos
Hidrocarboneto
Fórmula
HC Líq.
HC Gás
Vapor d’água nos produtos
HC Líq.
HC Gás
Parafínicos
CnH2n+2
Metano
CH4
−55 496
−50 010
Etano
C 2H 6
−51 875
−47 484
Propano
C 3H 8
−49 973
−50 343
−45 982
−46 352
n−Butano
C4H10
−49 130
−49 500
−45 344
−45 714
n−Pentano
C5H12
−48 643
−49 011
−44 983
−45 351
n−Hexano
C6H14
−48 308
−48 676
−44 733
−45 101
n−Heptano
C7H16
−48 071
−48 436
−44 557
−44 922
n−Octano
C8H18
−47 893
−48 256
−44 425
−44 788
n−Decano
C10H22
−47 641
−48 000
−44 239
−44 598
n−Duodecano
C12H26
−47 470
−47 828
−44 109
−44 467
n−Cetano
C16H34
−47 300
−47 658
−44 000
−44 358
Olefínicos
CnH2n
Eteno
C 2H 4
−50 296
−47 158
Propeno
C 3H 6
−48 917
−45 780
Buteno
C 4H 8
−48 453
−45 316
Penteno
C5H10
−48 134
−44 996
Hexeno
C6H12
−47 937
−44 800
Hepteno
C7H14
−47 800
−44 662
Octeno
C8H16
−47 693
−44 556
Noneno
C9H18
−47 612
−44 475
Deceno
C10H20
−47 547
−44 410
Alquilbenzênicos
C6+nH6+2n
Benzeno
C 6H 6
−41 831
−42 266
−40 141
−40 576
Metilbenzeno
C 7H 8
−42 437
−42 847
−40 527
−40 937
Etilbenzeno
C8H10
−42 997
−43 395
−40 924
−41 322
Propilbenzeno
C9H12
−43 416
−43 800
−41 219
−41 603
Butilbenzeno
C10H14
−43 748
−44 123
−41 453
−41 828
Gasolina
C7H17
−48 201
−48 582
−44 506
−44 886
Diesel
C14,4H24,9
−45 700
−46 074
−42 934
−43 308
Metanol
CH30H
−22 657
−23 840
−19 910
−21 093
Etanol
C2H5OH
−29 676
−30 596
−26 811
−27 731
Nitrometano
CH3NO2
−11 618
−12 247
−10 537
−11 165
Fenol
C6H5OH
−32 520
−33 176
−31 117
−31 774
Hidrogênio
H2
Combustível de jato JP8
C13H23,8
Outras Substâncias
–141 781
–45 707
–46 087
–119 953
–42 800
–43 180
569
Reações Químicas
Considere uma reação reversível
que ocorre à temperatura constante e
igual à do ambiente. O trabalho realizado na célula combustível é
Carga
4e–
Ânodo
4e–
–
+
Cátodo
W =−
Membrana de
troca iônica
Câmaras de
gás
Eletrodos
catalíticos
Hidrogênio
H2
O2
em que ∆G é a variação da função de
Gibbs para a reação química global.
Também percebemos que o trabalho
é dado em função dos elétrons que se
movem em um campo que apresenta
potencial elétrico . Assim,
Oxigênio
4e–
4e–
2H2
4H+
4H+
O2
2H2O
W = neN0e
em que ne é o número de mols de elétrons que circulam no circuito externo e
H2O
Figura 13.6
Esquema de uma célula de combustível do tipo membrana de troca iônica.
em íons hidrogênio e elétrons. Os íons hidrogênios
atravessam a membrana/eletrólito e os elétrons se
direcionam para o circuito externo, combinando-se com o oxigênio no cátodo para produzir água.
Existe uma diferença de potencial entre o ânodo e
o cátodo que forma o fluxo de elétrons da corrente
elétrica, pela qual o trabalho é gerado.
(∑ ns gs −∑ ne ge ) = −G
N0e = 6,022 136 × 1026 elet/kmol ×
1,602 177 × 10–22 kJ/elet V =
= 96 485 kJ/kmol V
Portanto, para uma determinada reação, o potencial elétrico máximo (reação reversível), 0, de
uma célula de combustível, em certa temperatura,
é dado por:
0 =
− G
96 485 ne
(13.28)
EXEMPLO 13.15
Calcule a força eletromotriz (FEM) reversível
para a célula de combustível de hidrogênio-oxigênio descrita na Figura 13.6. Admita que a
temperatura seja igual a 25 °C.
Admitamos que cada componente esteja na
pressão padrão (0,1 MPa) e que a água formada na reação esteja no estado líquido. Assim
H 0 = 2h 0f H2O(l ) − 2h 0f H2 − h 0f O2 =
= 2( −285 830) − 2( 0 ) − 1(0) = −571 660 kJ
Solução:
0
A reação no ânodo é
2 H2 → 4 H+ + 4e–
e no cátodo
S = 2s 0f H2O(l ) − 2s 0f H2 − s 0f O2 =
= 2(69,950) − 2(130,678) − 1(205,148) =
= −362,604 kJ/K
G 0 = −571 660 − 298,15( −326,604) = −474 283 kJ
4 H + + 4 e – + O 2 → 2 H 2O
Portanto, a reação global, para cada 4 kmols de
elétrons que circulam no circuito externo, é
2 H 2 + O 2 → 2 H 2O
Utilizando a Equação 13.28, obtemos
0 =
−( −474 283)
96 485 × 4
= 1,229 V
Introdução ao Equilíbrio de Fases e ao Equilíbrio Químico
Introdução ao
Equilíbrio de Fases e
ao Equilíbrio Químico
Até este ponto, admitimos a hipótese de que os sistemas analisados estavam em
equilíbrio ou em um estado em que os desvios da condição de equilíbrio eram infinitesimais, por exemplo, nos processos de quase equilíbrio ou reversíveis. Não
fizemos nenhuma tentativa de descrever os estados percorridos pelo sistema
durante um processo irreversível e lidamos apenas com os estados inicial e final,
no caso de sistemas fechados, e com as entradas e saídas, nos casos dos volumes
de controle. Consideramos válida a hipótese de equilíbrio global, ou pelo menos
local, em todas as análises termodinâmicas feitas até este ponto.
Neste capítulo, examinaremos os critérios para a existência do equilíbrio, e
deles extrairemos certas relações que permitirão, sob certas condições, determinar as propriedades de um sistema quando em equilíbrio. Concentraremos nossa
atenção na análise do equilíbrio químico em uma única fase (equilíbrio homogêneo), e em alguns outros assuntos correlatos.
14.1 CONDIÇÕES PARA O EQUILÍBRIO
O postulado geral que estabelece o estado de equilíbrio é: um sistema está em
equilíbrio quando não há nenhuma possibilidade de efetuar o trabalho quando
isolado das vizinhanças. Ao aplicar esse critério a um sistema, é útil dividi-lo em
dois ou mais subsistemas e considerar a possibilidade de o trabalho ser efetuado
por qualquer interação concebível entre tais subsistemas. Por exemplo, na Figura 14.1, um sistema foi dividido em dois subsistemas, e um motor, de qualquer
espécie concebível, foi colocado entre eles. Um sistema pode ser definido de
modo a incluir a sua vizinhança imediata. Nesse caso, podemos admitir a vizinhança imediata como sendo um subsistema e, então, considerar o caso geral de
equilíbrio entre um sistema e suas vizinhanças.
A primeira exigência para o equilíbrio é que os dois subsistemas tenham a
mesma temperatura. Se isso não ocorresse, poderíamos operar um motor térmico
entre os dois sistemas e produzir trabalho. Assim, concluímos que um requisito
para que o sistema esteja em equilíbrio é que apresente temperatura uniforme.
Também é evidente que não pode haver uma força mecânica desbalanceada entre os dois subsistemas, pois se poderia produzir trabalho com a operação de
593
14
594
Fundamentos da Termodinâmica
Subsistema
1
Motor
Subsistema
2
W
Figura 14.1
Dois subsistemas que interagem por meio de um motor.
Se considerarmos um processo em regime permanente, para um volume de controle que engloba
esse motor, a aplicação da Equação 8.14 para a mudança de estado entre e e s fornece:
V2
e he + e + gZe − T0 se −
W rev = m
2
s hs +
−m
uma turbina, ou um motor de êmbolo entre os dois
subsistemas.
Gostaríamos de estabelecer critérios gerais
para o equilíbrio aplicáveis a todas as substâncias
compressíveis simples, incluindo as que são submetidas a reações químicas. Veremos que a função de
Gibbs é uma propriedade particularmente relevante para a definição dos critérios de equilíbrio.
Inicialmente, vamos apresentar um exemplo
qualitativo para ilustrar esse ponto. Considere um
poço de gás natural com 1 km de profundidade e
admita que a temperatura do gás seja constante ao
longo do poço. Suponha conhecida a composição
do gás na parte superior do poço e que gostaríamos
de conhecer a composição no fundo do poço. Além
disso, admita que prevaleçam as condições de equilíbrio no poço. Se isso for verdadeiro, é de se esperar que um motor, tal como o mostrado na Figura
14.2 (que opera com base na mudança de pressão
e de composição do gás com a elevação e que não
envolve combustão), não seja capaz de produzir
nenhum trabalho.
z
Vs2
2
+ gZs − T0 ss
Sendo as temperaturas Te, Ts e T0 = constantes, podemos utilizar a função de Gibbs, g = h −
Ts (Equação 12.14) para reescrever a equação
anterior.
V2
V2
e ge + e + gZe − m
s gs + s + gZs
W rev = m
2
2
Entretanto,
W rev = 0
e=m
s
m
e
Ve2
2
=
Vs2
2
então, temos:
ge + gZe = gs + gZs
Assim, a exigência para o equilíbrio entre dois
níveis no poço separados pela distância dZ é
dgT + g dZT = 0
Diferentemente de um poço de gás profundo, a
maioria dos sistemas que consideramos é de tal tamanho que ∆Z é desprezível e a pressão no sistema
pode ser considerada uniforme.
e
Fluxo de massa = 0
Poço
de
gás
Motor
reversível
Wrev = 0
s
Figura 14.2
Esquema que mostra a relação entre o trabalho reversível
e os critérios para o equilíbrio.
Isso conduz à expressão geral de equilíbrio
que é aplicável aos sistemas compressíveis simples
e que podem sofrer uma mudança na composição
química. Isto é, no equilíbrio
dGT, P = 0
(14.1)
No caso de ocorrência de reação química, pensamos no estado de equilíbrio como aquele em que
a função de Gibbs é mínima. Por exemplo, considere um sistema inicialmente composto por nA mols
de substância A e nB mols de substância B, que reagem de acordo com a relação
v AA + v BB v CC + v DD
595
Introdução ao Equilíbrio de Fases e ao Equilíbrio Químico
Por definição,
G total
∂G
T = constante
P = constante
1
∂n
∂G
= g1
∂n
T, P, n 2
2
= g2
T, P, n1
Portanto, a temperatura e pressão constantes,
(
dG = g1dn1 + g 2dn 2 = dn1 g1 − g 2
Ponto de equilíbrio
)
No equilíbrio (Equação 14.1),
nA
dGT, P = 0
Figura 14.3
Ilustração da condição para o equilíbrio químico.
Admita que a reação ocorra à pressão e temperatura constantes. Se representarmos G para esse
sistema em função de nA, o número de mols de A,
teremos uma curva como a mostrada na Figura
14.3. No ponto mínimo da curva dGT, P = 0. Esse
ponto corresponde à composição de equilíbrio na
temperatura e pressão desse sistema. O estudo do
equilíbrio químico será aprofundado na Seção 14.4.
Portanto,
g1 = g 2
(14.2)
Isto é, nas condições de equilíbrio, as funções
de Gibbs de cada fase de uma substância pura são
iguais. Vamos verificar essa afirmação determinando as funções de Gibbs da água líquida saturada e
do vapor d’água saturado a 300 kPa. Das tabelas de
vapor d’água:
Para o líquido:
14.2 EQUILÍBRIO ENTRE DUAS FASES
DE UMA SUBSTÂNCIA PURA
gl = hl – Tsl = 561,47 – 406,7 × 1,6718 = – 118,4 kJ/kg
Como outro exemplo dessa exigência para o equilíbrio, estudemos o equilíbrio entre duas fases de
uma substância pura. Consideremos um sistema
formado por duas fases de uma substância pura
em equilíbrio. Sabemos que, nessa condição, as
duas fases estão à mesma pressão e temperatura. Consideremos a mudança de estado associada
com uma transferência de dn mols da fase 1 para
a fase 2, enquanto a temperatura e a pressão permanecem constantes. Assim,
gv = hv – Tsv = 2725,3 – 406,7 × 6,9919 = – 118,4 kJ/kg
A Equação 14.2 também pode ser obtida da
relação
T ds = dh – v dP
aplicada a uma mudança de fase a temperatura e
pressão constantes. Essa relação pode ser integrada do seguinte modo:
sv
hv
∫ T ds = ∫ dh
dn1 = – dn2
A função de Gibbs para esse sistema é dada por
1
Para o vapor:
2
sl
hl
T ( sv − sl ) = ( hv − hl )
G = f(T, P, n , n )
hl − Tsl = hv − Tsv
em que n e n indicam o número de mols em cada
fase. Portanto,
gl = gv
1
dG =
+
2
∂G
∂T
dT +
P, n1, n 2
∂G
1
∂n
dn1 +
T, P, n 2
∂G
dP +
∂P
T, n1, n 2
∂G
∂n
2
dn 2
T, P, n1
A equação de Clapeyron, apresentada na Seção
12.1, pode ser obtida por outro método que considera o fato de que as funções de Gibbs das duas
fases em equilíbrio são iguais. No Capítulo 12 consideramos que, para uma substância simples compressível, é válida a relação (Equação 12.15):
596
Fundamentos da Termodinâmica
dg = v dP – s dT
Admita um sistema fechado, formado por líquido saturado e vapor saturado em equilíbrio, e
que esse sistema sofra uma variação de pressão dP.
A variação correspondente de temperatura, determinada da curva de pressão de vapor, é dT. As
duas fases apresentarão mudanças nas funções de
Gibbs, dg, mas como as fases sempre apresentam
os mesmos valores da função de Gibbs quando em
equilíbrio, temos que
dgl = dgv.
Da Equação 12.15 temos que
dg = v dP – s dT
do que decorre
dgl = vl dP – sl dT
dgv = vv dP – sv dT
Como
dgl = dgv
vem que
vl dP − sl dT = vvdP − svdT
dP ( vv − vl ) = dT ( sv − sl )
dP
dT
=
slv
vlv
=
(14.3)
hlv
Tvlv
Resumindo, quando fases diferentes de uma
substância pura estão em equilíbrio, cada fase
apresenta o mesmo valor de função de Gibbs por
unidade de massa. Esse fato é relevante para as
diferentes fases sólidas de uma substância pura e
é importante em aplicações da termodinâmica na
metalurgia. O Exemplo 14.1 ilustra esse princípio.
EXEMPLO 14.1
Qual é a pressão necessária para fazer diamantes a partir da grafite à temperatura de 25 °C?
Os dados referentes à temperatura de 25 °C e
pressão de 0,1 MPa são os seguintes:
g
v
bT
Grafita
0
0,000 444 m3/kg
0,304 × 10–6 1/MPa
Diamante
2867,8 J/mol
0,000 284 m3/kg
0,016 × 10–6 1/MPa
(a)
dgT = v dPT
Agora, o volume específico pode ser calculado, a qualquer pressão e na temperatura dada,
com base na relação que utiliza o fator de compressibilidade isotérmico. Assim
∂v
P
v = v0 + ∫
P = 0,1
= v0 − ∫
P = 0,1
P
∂P
T
dP = v0 + ∫
P
v ∂v
P = 0,1 v
∂P
dP
T (b)
vβT dP
Análise e solução:
O princípio básico utilizado na solução deste
exemplo é que a grafita e o diamante podem existir em equilíbrio quando suas funções de Gibbs
específicas forem iguais. A função de Gibbs do
diamante é maior que a da grafita quando a
pressão é igual a 0,1 MPa. Contudo, a razão de
crescimento da função de Gibbs com a pressão
é maior para a grafita que para o diamante. Assim, pode existir uma pressão em que as duas
formas estejam em equilíbrio. O nosso problema é encontrar essa pressão.
Já tínhamos visto que
dg = v dP – s dT
Como estamos considerando um processo que
ocorre a temperatura constante, essa relação
fica reduzida a
O índice sobrescrito “0” será utilizado, neste
exemplo, para indicar as propriedades à pressão de 0,1 MPa e temperatura de 25 °C.
O volume específico varia pouco com a pressão e, assim, v ≅ v0. Admitamos, também, que
bT seja constante e que estamos considerando
uma pressão muito elevada. Com essas hipóteses, a integração dessa equação fornece
v = v0 – v0 bT P = v0(1 – bT P)
(c)
Podemos agora substituir essa equação e obter
dgT = v0 (1 − βT P ) dPT
(P −(P ) )
0 2
2
(
)
g − g0 = v0 P − P 0 − v0 βT
2
(d)
597
Introdução ao Equilíbrio de Fases e ao Equilíbrio Químico
EXEMPLO 14.1 (continuação)
Se admitirmos que P0 << P , temos
g − g0 = v0 P −
βT P 2
Portanto
(e)
2
Para a grafita, g0 = 0 e, assim, podemos escrever
gG = vG0 P − ( βT )G
P
2
2
Para o diamante, g0 tem um valor definido, e
assim
P2
gD = g0D + v0D P − ( βT ) D
2
No equilíbrio, as funções de Gibbs da grafita e
do diamante são iguais
gG = gD
Ponto em que a condensação
começaria, se prevalecesse o equilíbrio
a
b
c
Ponto em que a condensação ocorre
de maneira muito abrupta
T
1
a
c
b
s
h
1
a
b
c
s
Figura 14.4
Ilustração do fenômeno de supersaturação em um bocal.
vG0 P − ( βT )G
(v
0
G
P2
2
= g0D + v0D P − ( βT ) D
)
− v0D P − vG0 ( βT )G − v0D ( βT ) D
P2
2
P2
2
= g0D
( 4,44 − 2,84 ) × 10−4 P − ( 4,44 × 10−4 × 3,04 × 10−7
− 2,84 × 10−4 × 1,6 × 10−8 )
P2
2
=
2867,8
12,011 × 1000
Resolvendo essa equação, encontramos
P = 1493 MPa
Isto é, a 1493 MPa e 25 °C, a grafita e o diamante podem coexistir em equilíbrio e existe
a possibilidade para a conversão da grafita em
diamantes.
14.3 EQUILÍBRIO METAESTÁVEL
Apresentaremos, nesta seção, uma breve introdução ao estudo do equilíbrio metaestável, pois um
tratamento mais aprofundado desse assunto está
fora do escopo deste livro. Em princípio, vamos
considerar um exemplo de equilíbrio metaestável.
Considere um vapor levemente superaquecido,
tal como o vapor d’água, expandindo-se em um bocal convergente-divergente (veja Figura 14.4). Vamos admitir que o processo seja reversível e adiabático. Assim, o vapor d’água seguirá o caminho 1-a
no diagrama T-s, e no ponto a deveríamos esperar
condensação do vapor. Contudo, se o ponto a é atingido na parte divergente do bocal, observa-se que
não ocorre nenhuma condensação até que o ponto
b seja atingido. Nesse ponto, a condensação ocorre
abruptamente, sendo chamada choque de condensação. Entre os pontos a e b a água existe como vapor, mas a temperatura é menor que a de saturação
para a pressão dada. Isso é conhecido como estado
metaestável. A possibilidade de um estado metaestável existe em qualquer transformação de fase. As
linhas tracejadas no diagrama de equilíbrio da Figura 14.5 representam possíveis estados metaestáveis
para o equilíbrio sólido-líquido-vapor.
Escoamento Compressível
Escoamento
Compressível
Este capítulo apresenta os aspectos termodinâmicos do escoamento compressível unidimensional, através de bocais e passagens. Muitos dos ciclos apresentados nos Capítulos 9 e 10 apresentam escoamentos internos por meio de bocais
e difusores. Por exemplo, um conjunto de bocais no interior de uma turbina a
vapor converte escoamento de um fluido a alta pressão em outro, de baixa pressão e alta velocidade, que atravessa a passagem entre as pás. Depois de passar
por várias seções, o vapor d´água atinge uma câmara que se comporta como um
difusor e, em seguida, passa novamente por outro conjunto de bocais. O escoamento em um turbofan tem várias regiões, em que o gás escoando atinge elevadas velocidades e sua compressibilidade deve ser considerada; primeiro o gás
escoa por um difusor, segue pelas pás do ventilador, depois por um compressor,
atravessa uma passagem entre as pás da turbina e, finalmente, deixa o equipamento por um bocal. Um exemplo final de escoamento compressível é aquele
que ocorre no turbocompressor de um motor a diesel; depois de passar pelo
compressor, o ar escoa pelo sistema de admissão, atravessa válvulas, até atingir,
no final, os cilindros do motor. Em todos os casos citados, são necessárias análises apropriadas do escoamento para que a vazão de fluido seja determinada de
forma precisa, assim como o trabalho, as transferências de calor e as energias
cinéticas envolvidas. É esse procedimento que precede o projeto e o estudo do
comportamento operacional do motor como um todo.
Todos os exemplos mencionados, anteriormente, são problemas de razoável complexidade, principalmente em decorrência das complexas geometrias
envolvidas. Não obstante, para facilitar o estudo e a apresentação de conceitos,
serão aqui considerados modelos simplificados, admitindo-se que o escoamento
seja unidimensional, que as substâncias escoando sejam puras, e, na maioria das
vezes, comportem-se como um gás ideal. Essas simplificações permitirão que o
foco de atenção seja dirigido para a compressibilidade do escoamento, em que
a velocidade do som e o número de Mach surgem como variáveis de especial
importância para a análise do escoamento.
623
15
624
Fundamentos da Termodinâmica
15.1 PROPRIEDADES DE
ESTAGNAÇÃO
EXEMPLO 15.1
Nos problemas que envolvem escoamentos, muitas discussões e equações podem ser simplificadas
pela introdução do conceito de estado de estagnação isotrópico e as propriedades a ele associadas. O estado de estagnação isotrópico é o estado
que o fluido teria se sofresse uma desaceleração
adiabática e reversível até a velocidade nula. Neste capítulo, esse estado é indicado pelo índice 0.
Podemos concluir, a partir da equação da energia,
que para um processo em regime permanente,
h+
V2
2
= h0
=P
0
pi
ca
tró
is o
o
na
çã
es
ta
g
de
2
e
Pr
ss
ão
Se admitirmos que o ar se comporte como
um gás ideal e que o calor específico seja
constante e dado pela Tabela A.5, a aplicação da Equação 15.1 resulta em
V2
2
Fica evidente, a partir da análise da Figura
15.1, que a entalpia é a mesma para os dois estados de estagnação, real e isotrópico (admitindo
que o processo real seja adiabático). Portanto, para
V
2
Análise e Solução:
(15.1)
Os estados de estagnação real e isotrópico,
para um gás típico ou vapor, estão representados no diagrama h–s mostrado na Figura 15.1.
Algumas vezes, é vantajoso fazer uma distinção
entre os estados de estagnação real e isotrópico.
O estado de estagnação real é o estado atingido
depois de uma desaceleração real até a velocidade nula (como aquele no nariz de um corpo colocado em uma corrente de fluido). Assim, pode
haver irreversibilidades associadas ao processo
de desaceleração. Por isso, o termo propriedade de
estagnação, algumas vezes, é reservado para
as propriedades associadas ao estado real, e o termo propriedade total é usado para o estado de estagnação isotrópico.
h
O ar, a 150 kPa e 300 K, escoa em um conduto com velocidade de 200 m/s. Determine
a temperatura e a pressão de estagnação
isotrópica.
Pressão de estagnação
real
Estado de estagnação
isotrópico
= h0 − h = C P 0 (T0 − T )
(200)2
= 1,004 (T0 − 300 )
2 × 1000
T0 = 319,9 K
A pressão de estagnação pode ser determinada da relação
T0
T
319,9
=
=
P0
( k−1)/ k
P
P0
0,286
150
300
P0 = 187,8 kPa
Nós também poderíamos ter utilizado a tabela para o ar (Tabela A.7) na resolução do
exemplo. Essa tabela foi obtida a partir da
Tabela A.8. Assim, a variação do calor específico com a temperatura seria considerada. Como os estado real e o de estagnação
isotrópica apresentam a mesma entropia,
podemos utilizar o seguinte procedimento:
Usando a Tabela A.7.2
Estado de estagnação real
Pressão real = P
Estado real
T = 300 K
h0 = h +
s
Figura 15.1
Diagrama entalpia-entropia ilustrando a definição do estado de estagnação.
V2
h = 300,47 kJ/kg
= 300,47 +
2
T0 = 319,9 K
(200)2
2 × 1000
Pr 0 = 1,3956
P0 = PPr 0 /Pr = 150 ×
1,3956
1,1146
Pr = 1,1146
= 320,47 kJ/kg
= 187,8 kPa
627
Escoamento Compressível
EXEMPLO 15.2 (continuação)
Para os dois observadores, o fixo e o móvel, o
primeiro termo desaparece, porque Vy da massa no volume de controle é zero. Entretanto,
para a massa que cruza a superfície de controle, Vy = 10 m/s e m· = – 1 kg/s. Assim
15.3 FORÇAS QUE ATUAM SOBRE
UMA SUPERFÍCIE DE CONTROLE
Consideramos, na última seção, a equação da conservação da quantidade de movimento para um
volume de controle. Agora, desejamos calcular a
força líquida sobre a superfície de controle que
causa essa variação da quantidade de movimento. Para isso, considere o sistema que envolve a
curva de um conduto, mostrado na Figura 15.4.
A superfície de controle é designada pelas linhas
tracejadas e é escolhida de tal modo que o fluxo
seja normal à superfície de controle nas seções em
que o fluido cruza a fronteira do sistema. Vamos
admitir que as forças de cisalhamento nas seções
em que o fluido atravessa a fronteira do sistema
sejam desprezíveis.
A Figura 15.4a mostra as velocidades, e a Figura 15.4b mostra as forças envolvidas. A força R
é a resultante de todas as forças externas sobre o
sistema, exceto a provocada pela pressão das vizinhanças. A influência da pressão das vizinhanças, P0, age em toda a fronteira, exceto em Ae e As,
em que o fluido atravessa a superfície de controle
(Pe e Ps representam as pressões absolutas nesses
pontos).
As forças líquidas que atuam no sistema nas
direções x e y, Fx e Fy, são iguais à soma das componentes das forças de pressão e da força externa
R, nas respectivas direções. A influência da pressão das vizinhanças P0 é, na maior parte das vezes,
facilmente levada em consideração, observando-se que ela age em toda a fronteira do sistema, exceto em Ae e As. Assim, podemos escrever
∑ Fx = ( Pe Ae )x − ( P0 Ae )x + ( Ps As )x − ( P0 As )x + Rx
∑ Fy = ( Pe Ae )y − ( P0 Ae )y + ( Ps As )y − ( P0 As )y + Ry
Essas equações podem ser simplificadas, recombinando os termos de pressão.
Fy = (10 m/s) × (– 1 kg/s) = 10 N
O sinal negativo indica que o sentido da força é
oposto ao sentido de Vy.
(a)
Ve
Vey
Vs
Vex
Vsy
Vsx
(b)
P0
Pe
P0
Ps
P0
Ry
R
Rx
P0
Figura 15.4
Forças que atuam sobre uma superfície de controle.
∑ Fx = ( Pe − P0 ) Ae
∑ Fy = ( Pe − P0 ) Ae
x
y
+
+
( Ps − P0 ) As x + Rx
( Ps − P0 ) As y + Ry
(15.14)
Note que é necessário empregar, em todos
os cálculos, o sinal adequado para cada pressão
e força.
As Equações 15.8, 15.9 e 15.14 podem ser
combinadas do seguinte modo:
∑ Fx = ∑ m s ( Vs )x − ∑ m e ( Ve )x
= ∑ ( Pe − P0 ) Ae + ∑ ( Ps − P0 ) As
x
∑ Fy = ∑ ms ( Vs )y − ∑ m e ( Ve )y
= ∑ ( Pe − P0 ) Ae + ∑ ( Ps − P0 ) As
y
x
+ Rx
y
+ Ry
(15.15)
Se existir somente um fluxo de entrada e um
de saída na superfície de controle, as Equações
628
Fundamentos da Termodinâmica
15.11, 15.12 e 15.14 podem ser combinadas e
fornecer:
∑ Fx = m ( Vs − Ve )x = ( Pe − P0 ) Ae
+
( Ps − P0 ) As
x
( Ps − P0 ) As
y
+
+ Rx
∑ Fy = m ( Vs − Ve )y = ( Pe − P0 ) Ae
+
x
(15.16)
+
y
+ Ry
Uma equação semelhante poderia ser escrita
para a direção z. Essas equações são muito úteis
pois permitem determinar as forças que estão envolvidas em um processo que está sendo analisado
em um volume de controle.
15.4 ESCOAMENTO UNIDIMENSIONAL,
ADIABÁTICO E EM REGIME PERMANENTE, DE UM FLUIDO INCOMPRESSÍVEL EM UM BOCAL
Um bocal é um dispositivo no qual a energia cinética de um fluido é aumentada segundo um processo adiabático. Essa elevação envolve uma diminuição na pressão que é provocada por uma variação
apropriada da área de escoamento. Um difusor
é um dispositivo que possui a função inversa, ou
seja, elevar a pressão pela desaceleração do fluido.
Nesta seção, discutiremos os bocais e os difusores,
que, genericamente, serão denominados bocais.
EXEMPLO 15.3
Um motor a jato está sendo testado em uma bancada de ensaio (Figura 15.5). A área da seção
de alimentação do compressor é igual a 0,2 m2
e o ar entra no compressor a 95 kPa e 100 m/s.
A pressão atmosférica é 100 kPa. A área da
seção de descarga do motor é igual a 0,1 m2
e os produtos de combustão deixam essa se-
ção à pressão de 125 kPa e com velocidade de
450 m/s. A relação ar-combustível é 50 kg ar/kg
combustível, e o combustível entra no motor a
baixa velocidade. A vazão de ar que entra no
motor é de 20 kg/s. Determine o empuxo Rx
sobre o motor.
Combustível 0,4 kg/s
Ae = 0,2 m2
Ve = 100 m/s
Pe = 95 kPa
As = 0,1 m2
Vs = 450 m/s
Ps = 125 kPa
m· e = 20 kg/s
m· s = 20,4 kg/s
Rx
FIGURA 15.5
Esboço para o Exemplo 15.3.
Análise e Solução:
Vamos admitir que as forças e as velocidades
sejam positivas quando apontam para a direita.
Utilizando a Equação 15.16
( Pe − P0 ) Ae
Rx +
x
+
( Ps − P0 ) As
x
=
s Vs − m
e Ve )
= (m
x
[
] [
]
Rx + [(95 − 100) × 0,2] − [(125 − 100) × 0,1] =
=
20,4 × 450 − 20 × 100
1000
Rx = 10,68 kN
Observe que a quantidade de movimento do
combustível que entra no motor foi desprezada.
649
Escoamento Compressível
Tabela A.12
Funções de escoamento compressível para escoamento isotrópico unidimensional (gás ideal com calor específico e massa molecular constantes; k = 1,4).
M
M*
0,0
0,00000
A/A*
P/P0
r/r0
T/T0
1,00000
1,00000
1,00000
0,1
0,10944
5,82183
0,99303
0,99502
0,99800
0,2
0,21822
2,96352
0,97250
0,98028
0,99206
0,3
0,32572
2,03506
0,93947
0,95638
0,98232
0,4
0,43133
1,59014
0,89561
0,92427
0,96899
0,5
0,53452
1,33984
0,84302
0,88517
0,95238
0,6
0,63481
1,18820
0,78400
0,84045
0,93284
0,7
0,73179
1,09437
0,72093
0,79158
0,91075
0,8
0,82514
1,03823
0,65602
0,73999
0,88652
0,9
0,91460
1,00886
0,59126
0,68704
0,86059
1,0
1,0000
1,00000
0,52828
0,63394
0,83333
1,1
1,0812
1,00793
0,46835
0,58170
0,80515
1,2
1,1583
1,03044
0,41238
0,53114
0,77640
1,3
1,2311
1,06630
0,36091
0,48290
0,74738
1,4
1,2999
1,11493
0,31424
0,43742
0,71839
1,5
1,3646
1,17617
0,27240
0,39498
0,68966
1,6
1,4254
1,25023
0,23527
0,35573
0,66138
1,7
1,4825
1,33761
0,20259
0,31969
0,63371
1,8
1,5360
1,43898
0,17404
0,28682
0,60680
1,9
1,5861
1,55526
0,14924
0,25699
0,58072
2,0
1,6330
1,68750
0,12780
0,23005
0,55556
2,1
1,6769
1,83694
0,10925
0,20580
0,53135
2,2
1,7179
2,00497
0,93522E-01
0,18405
0,50813
2,3
1,7563
2,19313
0,79973E-01
0,16458
0,48591
2,4
1,7922
2,40310
0,68399E-01
0,14720
0,46468
2,5
1,8257
2,63672
0,58528E-01
0,13169
0,44444
2,6
1,8571
2,89598
0,50115E-01
0,11787
0,42517
2,7
1,8865
3,18301
0,42950E-01
0,10557
0,40683
2,8
1,9140
3,50012
0,36848E-01
0,94626E-01
0,38941
2,9
1,9398
3,84977
0,31651E-01
0,84889E-01
0,37286
3,0
1,9640
4,23457
0,27224E-01
0,76226E-01
0,35714
3,5
2,0642
6,78962
0,13111E-01
0,45233E-01
0,28986
4,0
2,1381
10,7188
0,65861E-02
0,27662E-01
0,23810
4,5
2,1936
16,5622
0,34553E-02
0,17449E-01
0,19802
5,0
2,2361
25,0000
0,18900E-02
0,11340E-01
0,16667
6,0
2,2953
53,1798
0,63336E-03
0,51936E-02
0,12195
7,0
2,3333
104,143
0,24156E-03
0,26088E-02
0,09259
8,0
2,3591
190,109
0,10243E-03
0,14135E-02
0,07246
9,0
2,3772
327,198
0,47386E-04
0,81504E-03
0,05814
10,0
2,3905
535,938
0,23563E-04
0,49482E-03
0,04762
2,4495
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Fundamentos da Termodinâmica
Tradução da 8ª Edição
Claus Borgnakke
Richard E. Sonntag
Lançamento 2013
ISBN: 9788521207924
Páginas: 730
Formato: 21 x 27,5 cm
Série Van Wylen
BORGNAKKE
· SONNTAG
TERMODINAMICA
NA
8ª
ÃO
CA
E DIÇ
Reações Químicas
Introdução ao Equilíbrio de Fases
e ao Equilíbrio Químico
dução d
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a
FUNDAMENTOS DA
t
Relações Termodinâmicas
A M E RI
TEXTO
INTEGRAL
A obra Fundamentos da Termodinâmica, em sua oitava edição, reafirma sua
importância como literatura de referência para o estudo da Termodinâmica sob a
perspectiva da Engenharia. Sua adoção pelas melhores escolas de engenharia do
mundo se deve a sua qualidade e capacidade de renovação.
As características principais da oitava edição são:
• Aplicações na engenharia, relacionadas ao assunto de cada capítulo, que procuram deixar
mais clara a importância da Termodinâmica na atividade do engenheiro.
• Questões conceituais ao longo do texto, para provocar alguma reflexão e melhorar a
assimilação dos conceitos.
Equações de Estado
Figuras
Houve uma reorganização dos capítulos e todo o conteúdo foi revisto e complementado pelos
autores. Vale destacar a ênfase dada às aplicações com os fluidos refrigerantes dióxido de
carbono e R-410a, esse último em substituição ao já abolido R-22.
Esta nova edição, traduzida integralmente da 8a edição americana, traz a totalidade dos capítulos
e os apêndices de fácil consulta: Propriedades Gerais, Propriedades Termodinâmicas, Calor
Específico de Gás Ideal, Equações de Estado e Figuras. Seu conteúdo, muito bem ilustrado e
diagramado, faz com que seja uma obra bastante agradável de ler da série Van Wylen.
Exergia
de Fase
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Refrigeração – Fluidos de