UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROJETO KAR
MANEJO DE IRRIGAÇÃO
Abelardo Montenegro
Ronaldo Moura
Francisco Xavier dos Santos
Tafnes Andrade
José Roberto Lopes da Silva
Recife, novembro de 2005
I-
Introdução:
Dentre as variáveis relacionadas a um a manejo correto da irrigação, destacam-se a
evapotranspiração e a precipitação, essenciais para estimativa do requerimento hídrico dos
cultivos. Durante a condução do Projeto KAR, ações foram realizadas no sentido de
simplificar as estimativas das necessidades hídricas das culturas, em particular utilizando
equipamentos apropriados às condições de agricultura familiar.
Tais equipamentos, de baixo custo, e propostos pelo Prof. Ronaldo Moura, da UFRPE,
foram avaliados quanto às suas estimativas, e disseminados nas comunidades, fornecendo
leituras de relevância, e possibilitando um maior entendimento por parte dos agricultores no
tocante a medições de lâminas.
Em áreas com qualidade de água inferior, a adoção de frações de lixiviação é recomendada,
como forma de propiciar uma lavagem, ao menos parcial, dos sais presentes no solo,
oriundos muitas vezes da própria água de irrigação. Autores, entretanto, têm buscado,
alternativamente, a redução parcial ou total de tais lâminas extras, particularmente em
locais com lençol freático raso, passível de contaminação.
No âmbito do projeto KAR, verificou-se o elevado potencial das precipitações em remover
os sais do perfil e, adicionalmente, diluir as águas subterrâneas. Desse modo, a alternativa
de lixiviação incompleta mostra-se promissora. Para efeito de cálculo de lâminas nesse
relatório, não foi considerada a lavagem do perfil, de modo a reduzir as extrações e
bombeamentos, bem como diminuir os aportes de sais para a superfície.
Atividades foram desenvolvidas a nível de lotes experimentais demonstrativos, objetivando
verificar o efeito dos manejos promovidos pelos agricultores na distribuição de umidade do
perfil. O acompanhamento das umidades foi realizado através de tensiômetros de mercúrio.
Com base na qualidade da água de irrigação, para diferentes períodos (1,2,3), e para os três
domínios, elaborou-se recomendação quanto à escolha da cultura, em função da época do
ano, considerando as informações do monitoramento da qualidade da água, e da
disponibilidade hídrica dos aluviões, bem como do potencial de extração dos diferentes
poços.
II-
Climatologia
A Figura 1 apresenta os totais mensais de precipitação ocorridos no período de
novembro de 2003 a outubro de 2004 para as áreas de Mutuca, Rosário e Campo Alegre.
Os dados apontam para a existência de épocas bem definidas e correlacionadas entre as
áreas avaliadas. O período chuvoso é delimitado entre os meses de abril e julho, sendo
caracterizado por chuvas elevadas e de longa duração. Os totais mensais nesse período
chegam a atingir mais de 327 mm (Campo Alegre) até valores inferiores a 50 mm
(Mutuca), o que se deve ao efeito da variabilidade espacial, inerente aos eventos
pluviométricos, entre as três áreas.
350
250
200
150
100
Sep-05
Jul-05
May-05
Mar-05
Jan-05
Nov-04
Sep-04
Jul-04
May-04
Mar-04
0
Jan-04
50
Nov-03
Pluviômetria (mm)
300
Meses
Rosário
Mutuca
Campo Alegre
Figura 1. Totais mensais de precipitação nas áreas de Mutuca, Rosário e Campo
Alegre, entre os períodos de novembro de 2003 a outubro de 2005 (Dados levantados pelos
próprios agricultores).
Os totais mensais de evapotranspiração de referênc ia para o mesmo período de
precipitação estão exibidos na Figura 2. Globalmente pode-se inferir que as taxas são
elevadas, com a existência de meses em que a demanda atmosférica ultrapassa os 240 mm,
o que implica em uma média diária mensal superior a 8 mm de água evapotranspirada. As
áreas apresentam a mesma escala de variação entre os meses, em que se pode identificar a
faixa de maior demanda compreendida entre os meses de agosto e março, sendo
identificado dois sub-períodos, um seco inicial e outro seco final, que vão de agosto a
novembro e de dezembro a março, respectivamente. Os totais mensais médios de
evapotranspiração para as três áreas foram 117,67, 170,50 e 185,15 mm, respectivamente,
para os períodos chuvoso, seco inicial e seco final.
A consistência dos dados pode ser demonstrada pelo confrontamento entre os
gráficos, em que os períodos de maior demanda evapotranspirativa e de menor precipitação
se complementam. Do ponto de vista de variabilidade entre os valores de ETo entre as áreas
avaliadas, nota-se os mesmos não variam com magnitude semelhante aos dados de
pluviometria. A condição de parelelismo e de aproximação dos valores de ETo é bem mais
evidente. Isto pode ser explicado pelo fato de que os elementos meteorológicos,
principalmente a radiação solar, dada a sua contribuição de maior peso, é pouco variável
entre elas, haja visto que as área avaliadas se situam na mesma região geográfica.
300
Evaporação (mm)
250
200
150
100
50
Oct-05
Sep-05
Aug-05
Jul-05
Jun-05
May-05
Apr-05
Mar-05
Feb-05
Jan-05
Dec-04
Nov-04
Oct-04
Sep-04
Aug-04
Jul-04
Jun-04
Apr-04
May-04
Mar-04
Feb-04
Jan-04
Dec-03
Nov-03
0
Meses
Rosário
Campo Alegre
Mutuca
Figura 2. Totais mensais de evapotranspiração de referência nas áreas de Mutuca,
Rosário e Campo Alegre, entre os períodos de novembro de 2003 a outubro de 2005.
(Dados levantados pelos próprios agricultores).
III- Manejo de irrigação – proposições para tamanho de área de plantio em função da
classes de vazões disponíveis nos poços
A escala de vazão dos poços existentes nas três áreas é bastante variável, sendo esta
variação condicionada aos períodos do ano, das caracterísiticas hidráulicas da zona
subterrânea e da intensidade de exploração do poço. Em linhas gerais, as vazões se
estendem em uma amplitude desde valores de 5 m3 /h a 10 m3 /h, conforme verificado
através de testes de bombeamento. Esta condição pode limitar o tamanho das áreas de
exploração com agricultura irrigada. Tais limitações sofrem influência direta do período do
ano e da cultura de interesse, onde os períodos de maior demanda evapotranspirativa e as
culturas com Kc (coeficiente de cultura) mais elevado imprimem maior grau de restrição à
extensão de área aos plantios irrigados.
Um outro fator relevante no manejo da irrigação para as condições locais é no tocante
à escolha dos momentos de irrigar ao longo dia. Esses momentos devem compreender as
horas em que a incidência de radiação solar é diminuída. A Figura 3 mostra a evolução ao
longo do dia da taxa de radiação solar em dias compreendendo os períodos seco inicial,
seco final e chuvoso. O período seco inicial é altamente restritivo, apresentando elevadas
taxas de radiação solar desde as 8 horas, chegando a atingir valores próximos a 1 KWh, que
se prolongam até as 16 horas. Nos peródos seco final e chuvoso, a incidência solar limitante
se pronuncia por volta das 10 horas, e se estende também até as 16 horas.
Partindo da recomendação geral de que não se deve irrigar entre 10 e 16 horas e
estabelecendo como tempo máximo de irrigação 8 horas diárias, alocado no período
excludente e distribuído entre os usuários dos poços, pode-se estabelecer a área máxima
cultivável em função da vazão crítica dos poços existentes, da demanda hídrica da cultura,
da eficiência do método de irrigação e do período do ano. As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam as
áreas máximas recomendadas em função dos critérios supracitados, considerando uma
eficiência de irrigação média de 80%, a ETo média do período, e incluindo as culturas
comumente cultivadas na região, para os períodos seco inicial, seco final e chuvoso.
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
1500
1600
1700
1800
1900
2000
2100
2200
2300
2400
2500
graus; %
100
80
60
40
20
0
KW
1
dia 25 (25 Jan 2004)
temperatura
umidade relativa
radiacao solar
dia 125 (04 Maio de 2004)
2
0.8
0.6
0.4
0.2
temperatura
umidade relativa
2500
2400
2300
2200
2100
2000
1900
1800
1700
1600
1500
1400
1300
1200
1100
900
1000
800
700
600
500
400
300
200
0
0
100
0
radiacao solar
dia 275 ( 1 de Outubro de 2004)
3
100
graus; %
KW
1
80
60
40
20
1
80
0.8
60
0.6
40
0.4
20
0.2
temperatura
umidade relativa
2400
2500
2100
2200
2300
1800
1900
2000
1500
1600
1700
1200
1300
1400
900
1000
1100
700
800
500
600
0
300
400
0
100
200
0
KW
graus; %
100
radiacao solar
Figura 3. Flutuação de alguns elementos meteorológicos ao longo do dia em
momentos contemplados aos períodos seco final (1), chuvoso (2) e seco inicial (3). (Dados
de estação PCD de Rosário , adquirida com recursos do CNPq/ CT-Hidro-Brasil)
Tabela 1. Áreas máximas (ha) recomendadas para o período seco inicial. ETo média diária:
5,68 mm.
Cultura
ETc
Banana
Batata Doce
Beterraba
Cebola
Cenoura
Feijão de Corda
Fruteira
Goiaba
Jerimum
Mamão
Maracujá
Maxixe
Melancia
Melão
Milho
Pimentão
Pepino
Repolho
Tomate
4.83
4.26
5.12
5.97
6.25
5.40
3.13
3.13
4.83
5.68
5.68
4.83
4.83
4.83
4.83
5.40
4.83
5.40
4.83
Vazão crítica (m3 /hora)
5
7.5
0.66
0.99
0.75
1.13
0.63
0.94
0.54
0.80
0.51
0.77
0.59
0.89
1.02
1.54
1.02
1.54
0.66
0.99
0.56
0.84
0.56
0.84
0.66
0.99
0.66
0.99
0.66
0.99
0.66
0.99
0.59
0.89
0.66
0.99
0.59
0.89
0.66
0.99
10
1.32
1.50
1.25
1.07
1.02
1.19
2.05
2.05
1.32
1.13
1.13
1.32
1.32
1.32
1.32
1.19
1.32
1.19
1.32
12.5
1.66
1.88
1.56
1.34
1.28
1.48
2.56
2.56
1.66
1.41
1.41
1.66
1.66
1.66
1.66
1.48
1.66
1.48
1.66
Tabela 2. Áreas máximas (ha) recomendadas para o período seco final. ETo média diária:
6,17 mm.
Cultura
Etc
Banana
Batata Doce
Beterraba
Cebola
Cenoura
Feijão de Corda
Fruteira
Goiaba
Jerimum
Mamão
Maracujá
Maxixe
Melancia
Melão
Milho
Pimentão
Pepino
Repolho
Tomate
5.25
4.63
5.55
6.48
6.79
5.86
3.39
3.39
5.25
6.17
6.17
5.25
5.25
5.25
5.25
5.86
5.25
5.86
5.25
Faixas de vazão (m3/hora)
5
7.5
10
0.61
0.91
1.22
0.69
1.04
1.38
0.58
0.86
1.15
0.49
0.74
0.99
0.47
0.71
0.94
0.55
0.82
1.09
0.94
1.41
1.89
0.94
1.41
1.89
0.61
0.91
1.22
0.52
0.78
1.04
0.52
0.78
1.04
0.61
0.91
1.22
0.61
0.91
1.22
0.61
0.91
1.22
0.61
0.91
1.22
0.55
0.82
1.09
0.61
0.91
1.22
0.55
0.82
1.09
0.61
0.91
1.22
12.5
1.52
1.73
1.44
1.23
1.18
1.36
2.36
2.36
1.52
1.30
1.30
1.52
1.52
1.52
1.52
1.36
1.52
1.36
1.52
Tabela 3. Áreas máximas (ha)vrecomendadas para o período chuvoso. ETo média diária:
3,92 mm.
Cultura
ETc
Banana
Batata Doce
Beterraba
Cebola
Cenoura
Feijão de Corda
Fruteira
Goiaba
Jerimum
Mamão
Maracujá
Maxixe
Melancia
Melão
Milho
Pimentão
Pepino
Repolho
Tomate
3.33
2.94
3.53
4.12
4.31
3.73
2.16
2.16
3.33
3.92
3.92
3.33
3.33
3.33
3.33
3.73
3.33
3.73
3.33
Faixas de vazão (m3/hora)
5
7.5
10
0.96
1.44
1.92
1.09
1.63
2.18
0.91
1.36
1.81
0.78
1.17
1.55
0.74
1.11
1.48
0.86
1.29
1.72
1.48
2.23
2.97
1.48
2.23
2.97
0.96
1.44
1.92
0.82
1.22
1.63
0.82
1.22
1.63
0.96
1.44
1.92
0.96
1.44
1.92
0.96
1.44
1.92
0.96
1.44
1.92
0.86
1.29
1.72
0.96
1.44
1.92
0.86
1.29
1.72
0.96
1.44
1.92
12.5
2.40
2.72
2.27
1.94
1.85
2.15
3.71
3.71
2.40
2.04
2.04
2.40
2.40
2.40
2.40
2.15
2.40
2.15
2.40
A amplitude geral das áreas compreende faixas de valores entre 0,47 – 1,20 ha (cenoura) e
1,48 – 3,71 ha (fruteira), entretanto mais de 50% congregando áreas entre 0,8 e 1,5 ha.
Nota-se que as maiores limitações ocorrem no período seco, em especial para as culturas da
cenoura, cebola e feijão-de-corda, haja visto que apresentam os maiores valores de Kc
médio. Assim, para este período crítico, deve-se dar primazia aos cultivos de menor
demanda hídrica.
O cultivo irrigado no período chuvoso, do ponto de vista de disponibilidade, é amplo,
considerando inclusive o caráter complementar das precipitações. Para esse período,
entretanto, faz-se necessário considerar outras limitações, tais como tolerância das plantas
ao excesso de umidade.
IV- Uso e ocupação do solo – culturas, irrigação e qualidade da água
Alguns dados referentes ao uso e ocupação do solo são apresentados na Tabela 4, na
qual figuram as áreas de agricultura familiar exploradas com culturas anuais e semiperenes, irrigadas por poços amazonas. As áreas plantadas variam de 700 a mais 50000 m2 ,
predominando, porém, plantios com menos de 10000 m2 . Nos três períodos levantados, é
observado maior incidência de culturas olerícolas cultivadas em áreas reduzidas. Isto
expressa o caráter familiar do aluvião, em que o policultivo é praticado de forma esparsa..
Do total de 110 ha da área da Fazenda de Rosário, por exemplo, cerca de 10% são
irrigados, valendo salientar a tendência de crescimento segundo os três épocas avaliadas.
Dentre as culturas mais exploradas, em termos de frequência, as olerícolas se sobressaem,
destacando-se a cenoura, o pimentão, o repolho e o tomate, tanto por estarem sendo
cultivadas em ciclos sucessivos ao longo do ano, como por ocuparem áreas maiores e serem
mais distribuídas em relação às demais olerícolas. Sugere-se como principal razão para tal
fato o rápido retorno econômico proporcionado por essas culturas, dado ao ciclo cultural
reduzido (anual). As frutíferas e os grãos são menos freqüentes; entretanto, apresentam
maiores extensões de área, e responderam por mais de 45% da área total. A Figura 4
registra a contribuição, em termos de área plantada, das principais culturas (cenoura,
pimentão e milho) nos três períodos avaliados, para a região de Rosário. Para Mutuca e
Campo Alegre-Xukuru, a mesma tendência permanece, embora se note uma potencial
redução de frutíferas nos vales. No caso de Mimoso Seco, na região do vale de Mutuca, há
uma preferência pelo cultivo de beterraba, preferência essa também verificada em Cafundó
II, igualmente no vale de Mutuca.
Tabela 4. Relação das culturas irrigadas em diferentes períodos na área do Assentamento
Nossa Senhora do Rosário.
Cultura
Área (m2)
mai/04
Banana
Batata Doce
1538.5
Beterraba
1923.1
%
jan/05
out/05
plantada
769.2
5000.0
1.8
11538.5
Feijão de Corda
1538.5
4615.4
Jerimum
10000.0
Mamão
Maracujá
4.6
18076.9
11363.6
13.1
17692.3
4545.5
7.1
5000.0
1.6
4545.5
4.5
5000.0
3.2
12307.7
10000.0
Maxixe
9090.9
6.4
1538.5
0.5
13030.3
Melão
1538.5
Milho
23846.2
Pepino
6.8
10000.0
Melancia
Pimentão
1.1
14393.9
Fruteira
Goiaba
área
0.5
Cebola
Cenoura
de
7692.3
4.2
0.5
54545.5
17.4
6060.6
12.0
1538.5
0.5
Repolho
10769.2
8461.5
4545.5
7.6
Tomate
5384.6
13846.2
1515.2
6.6
Total (m2)
79615.4
100000.0
133636.4
Os volumes hídricos demandados pelas culturas irrigadas figuram na Tabela 5, com
base em levantamento de uso e ocupação do solo do vale aluvial. O crescimento da área
plantada é sempre acompanhado do crescimento do aporte hídrico, praticamente na mesma
magnitude, o que mantém o consumo específico pouco variável. Isto indica que,
independentemente do período do ano, a escolha das culturas por parte dos agricultores não
tem levado em consideração as épocas de diferentes disponibilidades hídricas, não havendo
até o momento atitude no sentido de implantar culturas menos exigentes em água nas
épocas de maior escassez. Este fato aponta para a necessidade de implantação de um
planejamento de plantio (calendário agrícola) de âmbito comunitário, em que os irrigantes
programem os plantios de modo a alocar as culturas de menor demanda hídrica e mais
tolerantes ao estresse hídrico nas épocas de escassez de água.
Tabela 5. Volume hídrico subterrâneo necessário para agricultura irrigada no vale aluvial,
considerando a ocupação do solo em diferentes períodos.
jan/05
Out/05
área irrigada (m2)
79615.38
100000.00
133636.36
Volume (m3)
14818.35
17583.16
23715.01
volume/área
0.19
0.18
0.18
volume explotado (m3)
mai/04
25000
20000
15000
10000
5000
0
1
2
3
meses
principais culturas
total
Figura 4. Contribuição das principais culturas quanto a explotação hídrica subterrânea para
irrigação para os meses de maio/2004 (1), janeiro/2005 (2) e outubro/2005 (3).
As Tabelas 6 e 7 apresentam a qualidade da água de irrigação em termos de
salinidade de diferentes poços instalados na extensão do vale aluvial e as respectivas
culturas exploradas, bem como indica a faixa de produtividade relativa esperada em dois
meses distintos. Os valores médios de condutividade elétrica da água (CEa) para os
períodos avaliados foram semelhantes, 1,30 e 1,23 mS/cm, com desvios padrão de 0,60 e
0,42 mS/cm, respectivamente. Em ambos os períodos, as culturas da cenoura e do pimentão
se destacam tanto em frequência como em extensão de área plantada, chegando a
representar cerca de 50% (maio/04) e mais 1/3 (janeiro/05).
No tocante à qualidade da água dos poços destinados à irrigação dessas cultur as em
maio de 2004, verifica-se que a água dos poços não ofereceram risco de quebra de
produtividade para a cenoura (produtividade relativa de 100%), registrando níveis de
salinidade abaixo do limiar (0,7 mS/cm). Entretanto, todos os plantios de pimentão se
situavam em áreas cujos poços apresentavam valores de CEa acima do limiar de salinidade
para esta cultura, indicando possibilidade de quebra entre 10 e 50% de produtividade. No
segundo período avaliado, verifica-se um agravamento do número de culturas com risco de
perda de produtividade (Figura 5), aumentando em 18 pontos percentuais em relação ao
primeiro, em detrimento da manutenção e da introdução de culturas sensíveis aos níveis de
salinidade presentes (Tabela 7).
O panorama local denota o caráter natural do vale em armazenar água de salinidade
bastante variável, mas mostra também a falta de um plano de orientação comunitário que
objetive a adaptação do plantios à qualidade da água dos poços, de maneira a implementalos com culturas e cultivares mais tolerantes sob condições de maior salinidade dos poços.
Tabela 6. Salinidade da água (CEa) em poços amazonas utilizada na irrigação para o mês
de maio de 2004, e faixa de produtividade relativa de algumas culturas, segundo (Ayers e
Westcot, 1999).
Poço
Cultura
CEa poço(mS/cm)
Faixa
de
relativa (%)
CA-2 Malaquias
Cenoura
0.7
100
Batata Doce
0.7
100
CA-2 Dedê
Cenoura
0.7
100
CA-3 Elizabete
Cenoura
0.68
100
Beterraba
0.68
100
CA-5 Zito
Pimentão
1.45
90-100
CA-16 Jean
Cenoura
0.77
90-100
CA-19 Barboza
Jerimum
1.47
100
CA-20 Paulo
Pimentão
1.15
90-100
Tomate
1.15
100
CA-25 Zé Jacinto
Cenoura
0.62
100
CA Novo Josa - Neco
Repolho
0.87
100
Poço-1Nildo
Maracujá
1.76
100
Goiaba
1.76
100
Pimentão
1.76
75-90
Beterraba
1.76
100
Pimentão
1.76
75-90
Pimentão
2.34
50-75
Repolho
2.34
75-90
Poço-2 Tida
Repolho
2.34
75-90
Poço-3 Carlinhos
Pimentão
1.42
90-100
Poço-4 Bilú
Pimentão
0.56
100
Poço-1 Zé Paulo
Poço-2 Geraldo Santos
produtividade
Tabela 7. Salinidade da água em poços amazonas utilizada na irrigação, para o mês de
janeiro de 2005, e faixa de produtividade relativa de algumas culturas, segundo (Ayers e
Westcot, 1999).
Poço
Cultura
Cea (mS/cm)
Faixa de produtividade relativa (%)
CA-3 Elizabete
Cenoura
0.90
90-100
CA-9 Manuel Raimundo
Pimentão
0.77
100
Banana
0.77
100
CA-10 Gino
Pimentão
0.77
100
CA-13 Geraldo
Feijão de Corda
1.25
75-90
CA-14 Pedro
Cenoura
1.20
75-90
CA-17 Vivaldo
Pimentão
1.14
90-100
Cenoura
1.14
75-90
CA-19 Novo Barboza
Tomate
0.63
100
CA-20 Oscar
Feijão de Corda
1.03
75-90
CA-24 Geraldina
Cenoura
1.03
90-100
Beterraba
1.03
100
CA-25 Zé Jacinto
Pimentão
1.36
90-100
CA-27 Antônio Renato
Tomate
0.98
100
CA Novo Josa - Neco
Tomate
0.99
100
Poço-1 Rozenildo
Goiaba
0.97
100
Maracujá
0.97
100
Mamão
0.97
100
Pepino
0.97
100
Feijão de Corda
1.89
50-75
Melão
1.89
100
Maxixe
1.89
100
Poço-2 Tida
Repolho
1.89
75-90
Poço-2 Louro
Mamão
1.89
100
Feijão de Corda
1.89
50-75
Poço-2 Nena
Feijão de Corda
1.89
50-75
Poço-3 Carlinhos
Cenoura
1.62
75-90
Beterraba
1.62
75-90
Poço-4 Jerônimo
Repolho
0.82
100
Poço-4 Bilu
Cenoura
0.82
90-100
Poço-2 Geraldo Santos
13%
20%
100
100
90-100
90-100
75-90
75-90
37%
50-75
55%
50-75
29%
20%
21%
Figura 5. Frequência de produtividade relativa de algumas culturas em função da salinidade
da água de irrigação (CEa) de poços amazonas, em Rosário.
De modo a generalizar as discussões, e permitir aplicação dos resultados às áreas de Campo
Alegre e Mutuca, apresenta-se na Tabela 8 uma recomendação geral quanto à salinidade
limite da água de irrigação, de modo a não acarretar redução de produtividade em mais de
75%. As informações são derivadas de compilações de diversos materiais, dentre eles o
trabalho de Ayres e Westcot (1999), e as experiências das Universidades Federal Rural de
Pernambuco, Federal de Campina Grande (Paraíba), e da Escola Superior de Agricultura de
Mossoró (ESAM), no Rio Grande do Norte.
A sensibilidade à salinidade e ao estresse hídrico são fatores que podem limitar o cultivo.
Ambos os fatores concorrem para a diminuição da produtividade agrícola, o primeiro pela
perturbação de processos fisiológicos, e o segundo pela limitação ou mesmo paralisação do
crescimento. Outro fator que pode apresentar um efeito sinérgico aos anteriores é a
sensibilidade ao encharcamento pela redução da oxigenação das raízes e geração de
microclima favorável ao desenvolvimento de doenças, principalmente a alguns tubérculos,
tuberosas e frutos suculentos. Nos três vales aluviais estudados pode-se verificar a
ocorrência isolada ou conjugada desses fatores em três épocas definidas do ano: chuvosa,
seca inicial e seca final.
Tabela 8- Recomendações de salinidades limite nas águas de irrigação
CULTURA
Banana
Batata Doce
Beterraba
Cebola
Cenoura
Feijão de Corda
Fruteira
Goiaba
Jerimum
Mamão
Maracujá
Maxixe
Melancia
Melão
Milho
Pimentão
Pepino
Repolho
Tomate
CE lim(dS/m)
3.00
2.50
4.50
1.80
1.90
1.50
2.20
3.00
3.20
4.00
3.00
3.00
3.00
4.00
2.50
2.20
2.90
2.90
3.40
A época chuvosa corresponde aos meses de abril a julho, sendo caracterizado pela recarga
do lençol freático e lixiviação de sais do perfil do solo e por chuvas de baixa intensidade e
longa duração. Essa última condição, aliada a ocorrência de solos com incapacidade em
permitir a infiltração com taxas superiores a lâmina precipitada, pode provocar o
surgimento de períodos de encharcamento por tempo suficiente para promover danos às
culturas sensíveis.
A época seca inicial se estende entre os meses de agosto e novembro. Na transição para esta
época, a freqüência de chuvas se reduz ou praticamente se anula, o nível do lençol freático
se abaixa, e o solo apresenta os menores níveis de salinidade, em virtude da lavagem do
perfil no período anterior. Configura-se então, na época mais adequada a realização dos
plantios, principalmente daquelas menos tolerantes ao encharcamento e à salinidade.
Compreendendo os meses de dezembro a março, a época seca final é caracterizada pela
elevação da salinidade média da água do aluvião, da demanda hídrica atmosférica (ETo), e
pela redução da disponibilidade de água para irrigação suplementar, verificada pela
depleção do nível do lençol freático, que apresenta em geral as maiores profundidades do
ano hidrológico. Isto se deve a uma relação de causa e efeito, em que as taxas
evapotranspirativas se elevam, o aporte hídrico subterrâneo se reduz, ao mesmo tempo que
a salinidade da água utilizada tende a aumentar. Isto condiciona o aumento da CEa na zona
saturada, pela concentração de sais, e o acúmulo de sais no perfil do solo cultivado pela
prática da irrigação, que começa a ser lixiviado para o lençol com a ocorrência das
primeiras chuvas, que são, via de regra, intensas e de curta duração nessa época.
A condutividade média mensal ao longo período avaliado é variável; entretanto, tomandose como exemplo para discussão o vale de Rosário, verifica-se uma tendência de
crescimento da época seca inicial (1,35 mS/cm) à época chuvosa (1,43 mS/cm).
Levando em consideração os critérios de limitação aos cultivos já discutidos, a maioria das
culturas desenvolvidas localmente apresentou potencial de queda de produtividade relativa.
No tocante à salinidade, com exceção das culturas do tomate e da beterraba, todas as
demais apresentaram limiar de salinidade abaixo dos valores observados nas três épocas
relacionadas, com diferentes graus de queda de produtividade relativa.
Dentre as culturas exploradas localmente, as que sofrem as maiores limitações nas
épocas são:
•
Cebola;
•
Cenoura;
•
batata-doce;
•
feijão-de-corda;
•
repolho;
•
, pimentão;
•
melão;
•
jerimum.
Deve-se dar ênfase para as quatro primeiras, que sofrem em duas épocas: seca final e
chuvosa. A primeira por conta do estresse hídrico e da salinidade, e a segunda devido ao
risco de encharcamento e da salinidade. Na época seca final, a restrição ao cultivo, em
especial, de cenoura, de cebola e de feijão de corda se justifica devido à elevada quantidade
de água demandada por essas culturas. Já na época chuvosa, a produção pode ser
comprometida pela elevada intolerância ao excesso de umidade, haja visto que se tratam de
tuberosa, tubérculo e grão.
Com base nos dados apresentados, pode-se inferir que a época que oferece melhores
condições a prática da agricultura irrigada no aluvião é a seca inicial, por não apresentar
limitações quanto ao encharcamento, o lençol freático está recarregado e o nível se
salinidade da água serem os menos restritivo s, conforme esclarece a Figura 6, embora
claramente haja elevada necessidade de irrigação. A Figura 7 mostra que existe, em termos
médios e para Rosário, uma elevada robustez na salinidade da água, que tende a não limitar
os cultivos. Resultados semelhantes podem ser verificados para Mutuca e Campo Alegre,
embora os valores médios sejam ligeiramente superiores, conforme apresentado no
120.00
0.00
100.00
-0.50
80.00
-1.00
60.00
-1.50
40.00
-2.00
20.00
-2.50
0.00
-3.00
seco inicial
ETc media culturas
seco final
irrigacao suplementar
chuvoso
lencol freatico
Figura 6. Evolução da necessidade de irrigação suplementar e consumo hídrico médio das
culturas nas três épocas avaliadas.
profundidade NA (m)
mm
relatório sobre análise das águas subterrâneas.
2.00
1.50
1.00
CE(dS/m); m
0.50
0.00
-0.50
seco inicial
seco final
chuvoso
-1.00
-1.50
-2.00
-2.50
-3.00
lencol freatico
Ceirrig(dS/m)
Figura 7. Evolução dos níveis de salinidade e da condutividade elétrica da água subterrânea
nas três épocas avaliadas, para o aluvião de Rosário.
V- Consumo hídrico e manejo de irrigação em áreas demonstrativas
As áreas demonstrativas foram utilizadas durante o projeto para avaliações do
umedecimento do solo, estudos de eficiência, e para capacitações sucessivas voltadas aos
agricultores, bem como a estudantes e professores das escolas locais. Em cada área,
realizou-se o balanço hídrico da zona de raízes, em diferentes instantes, conforme discutido
a seguir, para alguns períodos selecionados. Para efeito de manejo, foram considerados os
seguintes equipamentos: a) hidrôme tros; b) tensiômetros; c) pluviômetros; d) tanques
evaporimétricos.
Os solos das áreas foram devidamente caracterizados, ao longo do perfil.
As Figuras 8a a 8d ilustram os diversos equipamentos utilizados.
Fig
ura
8aMe
did
a
de
evaporação e Precipitação.
Figura 8b- Medida de lâmina e eficiência.
Figura 8c- Manutenção e medida de tensão.
Figura 8d- Montagem e medida de vazão.
V.1-Consumo hídrico da área de Vivaldo:
A área de Vivaldo possui 1300m2, com solo classificado como argilo-arenoso,
localizado na Fazenda Nossa Senhora do Rosário, município de Pesqueira–PE. No mês de
dezembro a área estava sendo cultivada com pimentão, utilizando irrigação com
microaspersor. A área é dotada de hidrômetro fixo, e os dados de evaporação e precipitação
são do tanque classe “A” e pluviômetro Ville de Paris, instalados em Rosário. Para o
cálculo da evapotranspiração foi adotado um kc (coeficiente de cultura) de 0,60.
A tabela 9 contém os dados de consumo de água, a lâmina média aplicada por dia,
precipitação e a evapotranspiração mensal em meses de dezembro de 2004.
Tabela 9: Consumo de água, lâmina aplicada, precipitação e evapotranspiração mensal.
Consumo de
Lâmina média / dia / Precipitação em Evapotranspiração
água em m3
planta em mm
mm
em mm
189.70
4.71
3.20
97.50
Dezembro 2004
Pela figura 9, percebe-se que os potenciais matriciais, em geral, foram negativos
durante o período observado, com exceção da camada de 80cm, que se apresentou quase
sempre saturada. A camada de 120cm ficou na faixa de água disponível, bem como as de
30cm, 60cm e 100cm, sem restrição de umidade à cultura.
25
20
15
10
mm
Potencial Matricial
Dez 04 (área de vivaldo)
200
100
0
-100
-200
-300
-400
-500
-600
-700
-800
5
0
1
3
5
Precipitação
10cm
40cm
100cm
7
9
11
13
15
17
19
21
Dias
Evapotranspiração
20cm
60cm
120cm
23
25
27
29
31
Irrigação
30cm
80cm
Figura 9: Potencial Matricial, Evapotranspiração, Irrigação e Precipitação da área de cultivo
do pimentão no mês de Dezembro de 2004.
A curva de evapotranspiração acumulada e precipitação mais irrigação mostra que a cultura
esteve com saldo de umidade devido as lâminas de irrigação terem sido sempre superiores
que a evapotranspiração, conforme a figura 10, tendo-se optado pela alternativa de
lixiviação comple ta dos sais.
Dez 04 (área de Vivaldo)
160
Resposta em mm
140
120
100
80
60
40
20
0
1
3
5
7
9
Evapotranspiração acumulada
11
13
Dias
15
17
19
21
23
Irrigação +precipitação acumulada
Figura 9: Gráfico da evapotranspiração e irrigação mais precipitação acumulada no mês de
dezembro de 2004.
Verifica-se que a aplicação em excesso, para lixiviação completa de sais, pode causar
saturação parcial do perfil do solo, particularmente em áreas com texturas não homogêneas
ao longo da profundidade, como acontece nos solos aluviais estudados, onde intercalações
argilosas são comuns, conforme ilustrado nas figuras 10a e 10b.
Camada arenosa- fácil
percolação e lavagem
Camada argilosa- saturação
parcial
Figura 10a- Solo heterogêneo.
Figura10b- idem.
Com o objetivo de verificar a direção do fluxo de água para assim observar se há ascensão
capilar, foi feita a observação dos potenciais matriciais totais nas camadas de 30cm, 40cm e
60cm, como pode ser visto na Figura 11. Essas camadas foram escolhidas por se
localizarem no final e abaixo da zona radicular do pimentão, que possui raízes de 30cm a
40cm. Tendo em vista que a água se movimenta do maior potencial total para o menor, pela
observação dos gráficos verifica-se que existe fluxo de água ascendente da camada de
40cm para a de 30cm, motivado provavelmente pela extração radicular maior na camada de
30cm, com exceção apenas do dia 27 de dezembro, quando o fluxo é invertido. A camada
de 60cm, abaixo da zona radicular do pimentão, esteve com potencial total inferior às
outras duas camadas, na maior parte do tempo, indicando presença de perfil drenante. A
estabilização das tensões na camada de 60cm pode ser motivada pela presença de saturação
parcial da camada de 80cm, conforme já discutido, que tende a manter o perfil de solo
acima umedecido.
0
-100
-200
-300
-400
-500
-600
-700
-800
-900
16
11
6
1
mm
Potencial total
Dez 04 (área de Vivaldo)
-5
-10
-15
1
3
5
7
9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Dias
(Precp.+Irrig.)-Evapo
30cm
40cm
60cm
Figura 11: Potencial Total da área do pimentão para o mês de dezembro de 2004.
V.2- Consumo hídrico da área de Nido.
A área de Nido possui 5054m2 , com solo classificado como franco arenoso,
localizado na Fazenda Nossa Senhora do Rosário, município de Pesqueira–PE. Há
aproximadamente três anos, a área vem sendo cultiva com goiaba, utilizando irrigação
localizada, método do macarrão. São 900 plantas com área de cova total de 942m2 , sendo a
área dotada de hidrômetro. Os dados de evaporação e precipitação são do tanque classe “A”
e pluviômetro Ville de Paris instalados em Rosário. Para o cálculo da evapotranspiração foi
adotado um kc (coeficiente de cultura) de 0.55, conforme a literatura. A zona radicular da
goiabeira é de aproximadamente 100cm de profundidade. Isso significa que apenas o
tensiômetro a 120cm se localiza abaixo da zona radicular.
No mês de janeiro de 2005 foram consumidos 66.37m3 de água, e a lâmina média
aplicada por dia em cada planta foi de 2.27mm. A precipitação total foi 11.90mm e a
evapotranspiração total de 112.70mm.
Observando-se a figura 12, percebe-se que os potenciais matriciais foram sempre negativos,
com exceção dos dias 8,10 e 24, quando houve saturação do solo. As camadas de 10cm e
20cm, por estarem mais sujeitas aos fenômenos da evaporação, foram as que apresentaram
maior variação durante o mês. Os potenciais ao longo do perfil do solo se mantiveram em
ótimas condições de umidade, indicando que a cultura está sendo bem suprida de água.
Apenas nos dias 30 e 31, devido ao fato de não ter ocorrido irrigação ou precipitação, a
camada de 10cm, mais sujeita as variações atmosféricas, teve o seu potencial diminuído
abaixo da capacidade de campo. Cabe salientar que cobertura morta (“mulching”) é usada
no cultivo.
Os potenciais acompanharam as variações da evaporação e da precipitação e
irrigação, com as estatísticas clássicas apresentadas na Tabela 10. A evapotranspiração
acumulada no mês de janeiro foi superior à precipitação somada a irrigação acumulada, e as
diferenças entre as curvas foram aumentando com o passar do tempo, devido à diminuição
50
100
0
90
-50
80
-100
70
-150
60
-200
50
-250
40
-300
30
-350
20
-400
10
-450
mm
Potenciais Matriciais
da lâmina diária de irrigação aplicada, conforme se observa na figura 13.
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Dias
Precipitação
Evapotranspiração
Irrigação
10cm
20cm
80cm
30cm
100cm
40cm
120cm
60cm
Figura 12: Tensões Matriciais, Evapotranspiração, Irrigação e Precipitação da área de
cultivo da goiaba no mês de Janeiro de 2005.
Tabela 10: Médias, desvio padrão e coeficiente de variação para os potenciais matriciais no
mês de janeiro.
Dia/Profund.
10
Média
DP
CV
20
30
40
-21.85
60
-17.99
-19.25
80
-18.87
100
120
-23.94
-20.42
-47.83
-35.63
54.98
40.85
19.84
16.12
9.30
10.17
7.47
7.52
-114.95 -114.64
-90.82
-89.59
-48.30
-53.92
-31.18
-36.81
300
250
mm
200
150
100
50
0
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
Dias
Evapotranspiração acumulada
Irrigação +precipitação acumulada
Figura 13: Gráfico da evapotranspiração e irrigação mais precipitação acumulada, no mês
de janeiro de 2005.
No mês de março de 2005 foram consumidos 44.76m3 de água, e a lâmina média aplicada
por dia, em cada planta, foi de 1.53mm. A precipitação total foi 202.12mm e a
evapotranspiração total de 88.20mm.
Pela figura 14, percebe-se que os potenciais matriciais foram sempre negativos. As
camadas de 10cm e 20cm, por estarem mais sujeitas aos fenômenos da evaporação, foram
as que apresentaram maior variação durante o mês. Os potenciais ao longo do perfil do solo
se mantiveram em ótimas condições de umidade, indicando que a cultura está sendo bem
suprida de água Apenas nos dias 30 e 31, devido ao fato de não ter ocorrido irrigação ou
precipitação, a camada de 10cm, mais sujeita as variações atmosféricas, teve o seu
potencial diminuído abaixo da capacidade de campo.
Os potenciais acompanharam as variações da evaporação e da precipitação e
irrigação. A evapotranspiração acumulada no mês de janeiro foi superior à precipitação
somada a irrigação acumulada, e as diferenças entre as curvas foram aumentando com o
passar do tempo, devido à diminuição da lâmina diária de irrigação aplicada, conforme se
observa na figura 14.
100
0
90
-50
80
-100
70
-150
60
-200
50
-250
40
-300
30
-350
20
-400
10
-450
mm
Potenciais Matriciais
50
0
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
Dias
Precipitação
20cm
80cm
Evapotranspiração
30cm
100cm
Irrigação
40cm
120cm
10cm
60cm
Figura 14: Tensões Matriciais, Evapotranspiração, Irrigação e Precipitação da área de
cultivo da goiaba no mês de Março de 2005.
Tabela 11- Estatística básica do potencial matricial na área de Nido.
Dia/Profund.
Média
DP
CV
10
-80.67
84.98
-105.35
20
-34.17
26.47
-77.47
30
-29.26
22.72
-77.66
40
-23.74
17.39
-73.25
60
-26.98
8.53
-31.63
80
-30.31
6.98
-23.02
100
-34.39
6.04
-17.55
120
-33.90
7.71
-22.76
V.3- Consumo hídrico da área de Paulo:
A área de Paulo possui 2736m2 , com solo classificado como franco arenoso,
localizado na Fazenda Nossa Senhora do Rosário, município de Pesqueira–PE. Durante os
meses de outubro de 2004 a janeiro de 2005, a área estava sendo cultivada com tomate
utilizando irrigação localizada, método da fita, que se constitui em um sistema de gotejo
simplificado. Foram plantadas aproximadamente 16416 plantas, com área de cova total de
1159.79m2 . A área é dotada de hidrômetro, e os dados de evaporação e precipitação são do
tanque classe “A” e pluviômetro Ville de Paris instalados em Rosário. Para o cálculo da
evapotranspiração foi adotado um kc (coeficiente de cultura) médio de 0.71, de acordo com
a literatura. A zona radicular do tomateiro é de aproximadamente 60cm de profundidade.
A Tabela 12 contém um resumo dos dados de consumo de água, a lâmina média
aplicada por dia em cada planta, precipitação e a evapotranspiração mensais nos meses de
outubro e novembro de 2004.
Tabela 12: Consumo de água, lâmina aplicada, precipitação e evapotranspiração mensal dos
meses observados.
Consumo de água em Lâmina média / dia /
Precipitação
Evapotranspiraç
m3
planta em mm
em mm
ão em mm
Outubro - 2004
140.31
3.90
0
122.30
Novembro - 2004
159.20
4.58
9.12
158.22
Pela figura 15, percebe-se que os potenciais matriciais foram sempre negativos em todo o
período observado. Os potenciais durante o mês de outubro foram maiores que em
novembro, indicando que o solo estava mais úmido nesse mês; também se observa que as
camadas de 10cm e 20cm, mais sujeitas aos fenômenos da evaporação, quase sempre se
apresentaram abaixo da capacidade de campo, não tendo ocorrido chuvas no mês de
outubro de 2004, e assim toda a necessidade hídrica da cultura foi suprida apenas por
irrigação. Em novembro, até o dia 05 apenas as camadas de 30cm e 60cm estavam com
potenciais dentro da faixa de água disponível; do dia 05 ao 11, apesar da área está sendo
irrigada, todo o perfil estava abaixo da capacidade de campo; a partir de então, a camada
de 30cm apresentou-se sempre saturada e observam-se também períodos em que as
profundidades de 20cm, 40cm e 60cm estão com água disponível reduzida.
Nov 04 (área do Tomate)
100
12
0
10
-100
8
-300
-400
6
mm
Potencial Matricial
-200
-500
4
-600
-700
2
-800
-900
0
1
2
3
4
Precipitação
5
6
7
8
9 10 11 12 13 1 4 15 16 17 18 19 20 2 1 22 2 3 24 25 26 27 28 29 30
Dias
Evapotranspiração
Irrigação
10cm
20cm
30cm
40cm
60cm
Figura 15a- Potenciais Matriciais, Evapotranspiração, Irrigação e Precipitação da área de
cultivo do tomate no mes de Novembro de 2004.
Out 04 (àrea do tomate)
100
14
0
12
10
-200
-300
8
-400
mm
Potenciais Matriciais
-100
6
-500
-600
4
-700
2
-800
-900
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Dias
Evapotranspiração
Irrigação
10cm
20cm
30cm
40cm
60cm
Figura 15b: Potenciais Matriciais, Evapotranspiração, Irrigação e Precipitação da área de
cultivo do tomate no mese de Outubro de 2004.
As curvas de evapotranspiração acumulada e precipitação mais irrigação ficaram
bastante próximas, quase não havendo diferenças significativas entre elas durante os dois
meses estudados, indicando de que o déficit hídrico provocado pela evapotranspiração foi
suprido de maneira adequada pela irrigação. Ocorreu apenas um dia com chuvas de
9.22mm em 22 de novembro, e esta foi suficiente para suprir a cultura apenas nesse dia
(Figura 16). A figura 17 indica que o manejo foi feito de maneira correta, embora a textura
do solo, mais arenosa, tenha contribuído para oscilações fortes de potencial matricial.
Área de Paulo Outubro 2004
( Tomate )
140
Resposta (mm)
120
100
80
60
40
20
0
0
5
10
15
20
25
30
35
Dias
Evapotranspiração acumulada
Irrig. acum. + Precip. acum.
Figura 16a: Gráfico da evapotranspiração e irrigação mais precipitação acumulada no mes
de outubro de 2004.
Respostas (mm)
Área de Paulo Nov-2004
(Tomate)
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30
Dias
Evapotranspiração acumulada
Irrig. acum. + Precip. acum.
Figura 16b: Gráfico da evapotranspiração e irrigação mais precipitação acumulada no mes
de novembro de 2004.
Out 04 (àrea do tomate)
0
8
-100
-150
3
-200
mm
Potenciais Matriciais
-50
-250
-2
-300
-350
-7
-400
-450
-500
-12
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
Dias
(precip.+irrig)-evap.
10cm
20cm
30cm
40cm
60cm
Figura 17a: Potenciais Totais da área da goiaba para o mes de outubro de 2004.
Potencial Total
Nov 04 (área do Tomate)
100
25
0
20
-100
15
-200
10
-300
5
-400
0
-500
-5
-600
-10
-700
-15
-800
-20
-900
-25
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
Dias
(preip.+irrig.)-evap.
10cm
20cm
30cm
40cm
60cm
Figura 17b: Potenciais Totais da área da goiaba para o mes de novembro de 2004.
VI- Salinidade do solo
Com base em leituras de condutividade elétrica de pastas saturadas de amostras de solo,
bem como em leituras eletromagéticas em campo (utilizando equipamento GEONICS,
conforme descrito em Leal et al. (2003)), a salinidade do solo não se constitui em problema,
salvo em condições locais, facilmente identificadas pela formação de crostas superficiais e
presença de plantas indicadoras.
Do ponto de vista de salinidade, sem dúvida a salinidade da água de irrigação é o parâmetro
indicador de maior relevância a ser considerado, o qual é, inclusive, mais facilmente
monitorável que o solo.
A Figura 18 apresenta a salinidade de solo para as camadas de 0-30cm e 30-60cm,
amostradas segundo as locações indicadas em azul, para o vale de Rosário, em Outubro de
2004. Os valores, embora superiores a 4dS/m, o que classicamente representa o limite a
partir do qual o solo é considerado salino, são absolutamente normais para o semi-árido
brasileiro, não chegando a limitar a produção agrícola.
Figura 18- Salinidade do solo, em dS/m, em Rosário (Outubro de 2004).