Polymatheia – Revista de Filosofia
11
A SENTENÇA-RAMSEY, CARNAP E O REALISMO ESTRUTURAL
Marco Antônio Sousa Alves1
Resumo: O presente artigo tem duas pretensões básicas: (1) analisar a sentençaRamsey, sobretudo a interpretação feita por Rudolf Carnap, mostrando qual o papel que
ela desempenha no debate acerca do realismo e do anti-realismo científico; e (2) mostrar
como, contrariamente às intenções empiristas e anti-realistas de Carnap, a sentençaRamsey conduz ao realismo estrutural, no qual mitigamos o realismo e sua pretensão de
nomear as entidades que compõem o mobiliário do mundo e também o anti-realismo e
sua descrição de teorias como meros construtos formais.
Palavras-chave: Carnap, Ramsey, Teoria científica, Sentença-Ramsey, Realismo
estrutural.
THE RAMSEY-SENTENCE, CARNAP, AND THE STRUCTURAL REALISM
Abstract: This article has two basic aims: (1) analyze the Ramsey-sentence, specially
the interpretation made by Rudolf Carnap, trying to show the role it plays in the debate
about scientific realism and antirealism; and (2) present how, against the empiricist and
antirealistic intentions of Carnap, the Ramsey-sentence leads to a structural realism,
where the realism is mitigated in its ambitions to name the entities in the world, as well
as the antirealism in its description of theories as mere formal constructs.
Keywords: Carnap, Ramsey, Scientific theory, Ramsey-sentence, Structural realism.
Introdução
O presente artigo tem duas pretensões básicas: (1) analisar a sentença-Ramsey
(Ramsey-sentence), sobretudo a interpretação feita por Rudolf Carnap; e (2) mostrar
como ela conduz ao realismo estrutural (structural realism). Para introduzir o tema,
colocarei algumas questões, inspiradas e/ou retiradas de Carnap.2 Pode-se dizer, em
linhas gerais, que teorias científicas usam predicados para entidades inobserváveis a fim
de explicar fenômenos observáveis. Daí surge a questão: como esses predicados
1
Doutorando em Filosofia pela UFMG. Professor de
[email protected]
2
cf. Carnap, R. An introduction to the philosophy of science, p. 248.
Lógica
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
da
FAJE.
E-mail:
Polymatheia – Revista de Filosofia
12
adquirem significado empírico? Ou seja, será que os termos teóricos (propriedades,
forças, eventos descritos em uma teoria) não têm significado da mesma forma que os
termos observacionais? Genes, elétrons, etc., têm significado empírico? Esses termos
descrevem a estrutura real do mundo ou são apenas uma invenção abstrata e artificial?
Podemos dizer que um elétron existe no mesmo sentido que uma barra de ferro existe?
De que forma os termos teóricos se conectam com o mundo real e se sujeitam a algum
teste empírico? Como diferenciá-los dos termos metafísicos, que povoam a tradição
filosófica e não possuem qualquer significado empírico?
Essas perguntas, ainda que possam ser consideradas insidiosas por um realista,
permitem vislumbrar um pouco o que se pretende tratar. Dentro da questão mais geral
acerca do realismo científico, que opõe aos realistas (que dizem que os termos teóricos
descrevem entidades teóricas existentes) os anti-realistas (que negam qualquer
comprometimento ontológico com os termos teóricos), há um capítulo bem interessante
e complexo, introduzido por Ramsey e desenvolvido por Carnap. Esse capítulo da
questão, que desenvolverei a seguir, trata da possibilidade de se retirar qualquer
comprometimento ontológico dos termos teóricos sem, contudo, reduzi-los seja a
termos observacionais, seja a meros instrumentos lógicos. Na primeira parte,
apresentarei o que veio a ficar conhecido como sentença-Ramsey e, na segunda parte,
analisarei a interpretação de que ela abre uma via média entre realistas e anti-realistas
que se pode chamar de realismo estrutural.
1. A sentença-Ramsey
O texto básico para se estudar a sentença-Ramsey é o artigo Theories, escrito por
Frank Plumpton Ramsey em 1929. Convém, de início, ressaltar que se trata de um
trabalho fragmentário e precursor, de difícil penetração e variadas interpretações.
Quanto à dificuldade imposta pelo texto para sua compreensão, cito Psillos, para quem
“Theories é um artigo profundo e denso. Ele praticamente não prepara o terreno. A
visão de Ramsey é apresentada de forma compacta e não é contrastada ou comparada a
outras visões”.3 Não se pretende, neste artigo, desatar nenhum nó e nem apresentar
3
Psillos, S. Ramsey`s Ramsey-sentences, s.p. (tradução minha).
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
13
alguma nova interpretação, mas apenas enfrentar o texto apoiando-se, sobretudo, em
Rudolf Carnap, Stathis Psillos e Grover Maxwell.
Quanto ao caráter precursor da obra, basta observar que se trata de um trabalho
escrito ainda na década de vinte do século XX para perceber seu pioneirismo, pois o
tema só veio a entrar na ordem do dia já na segunda metade da década de cinqüenta.
Sobre a história do desenvolvimento desse debate, gostaria de abrir um pequeno
parêntese para contar como Carnap descobriu (ou melhor, redescobriu) a obra de
Ramsey. Essa história se justifica também como introdução à questão. Assim, ao invés
de falar do que antecedeu a publicação do artigo de Ramsey, falarei do que se passou
depois, mais de vinte anos depois, época em que a sentença-Ramsey entrou no debate da
filosofia da ciência.
1.1. De como Carnap redescobriu a sentença-Ramsey
Carnap é daqueles filósofos dos quais é difícil dizer quais teses ele sustentou,
uma vez que as constantes mudanças de posição fazem de seus textos o retrato de uma
permanente transformação. Esse traço, contudo, não deve ser visto imediatamente como
o sinal de uma fraqueza, mas antes como a marca de alguém que levou a sério as críticas
recebidas, apesar de ter insistido toda a vida em manter alguns pontos-chave do
empirismo lógico. Quanto à questão do vocabulário das teorias científicas, abordaremos
o abandono de Carnap de uma postura reducionista ou eliminativista e a posterior
redescoberta da sentença-Ramsey.
Primeiro, Carnap, juntamente com seus colegas do empirismo lógico, sustentou
uma proposta reducionista ou eliminativista, na qual os termos teóricos presentes em
uma teoria poderiam todos ser reduzidos a termos observacionais. Esta possibilidade
eliminava o problema do sentido e da existência dos termos teóricos, pois poderiam
sempre ser traduzidos em termos observacionais. Carnap mantém esta postura até 1936,
quando publica Testability and Meaning, texto em que seu empirismo já aparece
mitigado. Nessa obra, Carnap observa que termos disposicionais (como frágil e solúvel)
não podem ser totalmente definidos valendo-se apenas de termos observacionais. A
disposição ela mesma é algo que não pode ser observado. Na ausência de uma definição
explícita (apenas em termos observacionais), Carnap admitiu uma interpretação parcial
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
14
(partial interpretation) do significado dos termos teóricos. Essa possibilidade de uma
interpretação parcial abriu a porta para uma abordagem mais mitigada do empirismo
lógico que, a partir de meados dos anos cinqüenta, passou a adotar uma nova visão
acerca da linguagem da ciência, conhecida como modelo da dupla linguagem (double
language model).
O problema da proposta reducionista ou eliminativista apareceu quando se
percebeu que o discurso teórico tem um excesso de significado (excess or surplus
meaning), ou seja, ele possui termos teóricos (T-terms) e postulados que são irredutíveis
aos termos observacionais e leis. Ao aceitar isso (o excesso de conteúdo dos termos
teóricos), estamos a um passo de aceitar um tipo de realismo científico, no qual os
termos teóricos têm referência factual, ou seja, designam entidades teóricas ou
inobserváveis. Carnap percebeu logo que o empirismo lógico estaria em perigo se se
aceitasse que entidades teóricas são reais. O desafio que se impunha a ele era manter a
abordagem empirista evitando comprometimentos ontológicos com entidades teóricas.
Na tentativa de vencer esse desafio, Carnap passa por uma espécie de corda-bamba e
articula uma posição que não é realista, pois não aceita nenhum comprometimento
existencial para as entidades inobserváveis das teorias científicas, nem instrumentalista,
pois as teorias científicas não são apenas instrumentos de predição e controle. É
justamente esta via média que se busca compreender melhor neste artigo, e é aí que a
sentença-Ramsey aparece. Mas, antes de aprofundar esta questão, voltemos à história do
desenvolvimento do pensamento de Carnap.
Em 1956, no texto The methodological character of theoretical concepts, e em
1958, em Observation Language and Theoretical Language, Carnap abandona
completamente a proposta reducionista ou eliminativista e coloca lado a lado, na
linguagem das teorias científicas, o vocabulário observacional (Vo) e o vocabulário
teórico (Vt),
composto de postulados teóricos
(T-Postulates)
e
regras
de
correspondência (C-Rules). Em linhas gerais, a proposta de Carnap consistiu em dividir
a linguagem total da ciência em duas sub-linguagens: a observacional Lo
(completamente interpretada) e a teórica Lt (cujo vocabulário descritivo Vt consiste em
temos teóricos). A Lt é mais rica e contém toda classe matemática (expressões e
variáveis para todos os objetos). Enquanto uma sentença da Lo descreve um evento
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
15
observável e pretende que ele seja real, a Lt não funciona exatamente assim. Questões
quanto à realidade dos elétrons ou dos campos eletromagnéticos são questões ambíguas.
Carnap aceita um certo comprometimento existencial, mas diz que afirmar a realidade
de um sistema de entidades como um todo (elétrons, por exemplo) é algo diferente de
afirmar a existência de entidades teóricas particulares (uma certa configuração de
elétrons, por exemplo).
No desenvolvimento do pensamento de Carnap, ele acreditou ter encontrado
uma posição satisfatória somente após ter reinventado e desenvolvido a abordagem da
sentença-Ramsey para teorias científicas. Carl Gustav Hempel teria mostrado a Carnap
que a posição que ele vinha desenvolvendo já havia sido levada a termo por Ramsey.
Em uma carta escrita a Hempel em 1958 e citada por Psillos, diz Carnap:
O caso da sentença-Ramsey é um exemplo muito instrutivo
sobre como nos iludimos facilmente com respeito à
originalidade de nossas idéias. Na conferência de Feigl de 1955
[...] eu representei a forma existencializada de uma teoria como
uma recente idéia original minha. [...] Eu procurei no livro do
Ramsey no lugar que você se referiu e lá estava, claramente
sublinhado por mim mesmo. Não há dúvida que eu tinha lido
isso antes no livro do Ramsey. Creio que foi na época de Viena
ou Praga. De qualquer forma, eu tinha me esquecido
completamente tanto da idéia quanto da origem.4
Realmente, só a partir da segunda metade da década de cinqüenta que Ramsey
reaparece no cenário dessa discussão. O capítulo sobre a sentença-Ramsey, que está no
livro The philosophical foundations of physics (reimpresso como An introduction to the
philosophy of science), foi escrito em 1961, finalizado em 1964 e publicado apenas em
1966. O aparecimento tardio, porém, não retira o valor de sua redescoberta, como
Carnap salienta em vários momentos. A sentença-Ramsey aparece como uma espécie de
fórmula mágica, capaz de resolver o problema da existência dos termos teóricos.
Convém agora analisar mais de perto o que vem a ser a sentença-Ramsey e por que
Carnap acreditou que ela poderia ajudá-lo a evitar qualquer comprometimento
ontológico com os termos teóricos sem precisar cair no reducionismo ou
eliminativismo.
4
Psillos, S. Carnap, the Ramsey-sentence and the realistic empiricism, p. 259-260 (tradução minha).
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
16
1.2. Da visão de Ramsey acerca das teorias científicas
No artigo Theories, de 1929, Ramsey sustenta que teorias pretendem explicar
fatos, que podem ser capturados no interior de um sistema primário. Um sistema
primário é entendido como o conjunto de todas as leis (proposições gerais do sistema
primário) e fatos observacionais singulares (as conseqüências ou afirmações
singulares). A totalidade dessas leis e conseqüências é, para Ramsey, aquilo que a teoria
afirma ser verdadeiro. Como esclarece Ramsey: “Primeiro, consideremos os fatos a
serem explicados. Estes ocorrem em um universo discursivo que chamaremos de
sistema primário, este sistema sendo composto de todos os termos e proposições
(verdadeiras ou falsas) no universo em questão”.5
Além do sistema primário, Ramsey indica a existência de um sistema
secundário, que é uma construção teórica que pretende explicar o sistema primário. Ele
é um conjunto de axiomas (ou postulados teóricos – T-terms – usando a terminologia de
Carnap) e um dicionário (ou regras de correspondência – C-Rules – usando a
terminologia de Carnap). O dicionário é constituído por uma série de definições das
funções do sistema primário nos termos das funções do sistema secundário, o que faz
com que os dois tipos de termos funcionem juntos em uma teoria. Em suma, cabe ao
dicionário ligar as variáveis aos predicados observacionais.
Ramsey chega a sustentar que o sistema secundário é eliminável, pois podemos
simplesmente nos prender ao sistema primário sem delinear um sistema secundário.
Essa tese aponta para um instrumentalismo eliminativista ou reducionista, no qual as
expressões teóricas são em massa sistematicamente eliminadas e, então, o problema do
significado delas não aparece. Contudo, apesar de aceitar a possibilidade dessa
eliminação, Ramsey observa em seguida que ela implicaria em uma complexidade e
arbitrariedade das definições, o que seria metodologicamente inadequado. O problema é
que as leis e conseqüências podem ser feitas verdadeiras por diferentes conjuntos de
fatos e correspondendo a cada um deles nós podemos ter diferentes definições.
Encontrar um único conjunto de definições que irá fazer o dicionário e axiomas
5
Ramsey, F. P. Theories, p. 101 (tradução minha).
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
17
verdadeiros é um problema ainda insolúvel. O fato de não haver uma única solução que
satisfaça os axiomas está baseado, em parte, no fato de o sistema secundário possuir
uma grande multiplicidade ou um maior grau de liberdade que o sistema primário. E
esse crescimento da multiplicidade, segundo Ramsey, é uma característica universal das
teorias úteis.6
Para Ramsey, a distinção entre sistema primário e secundário não é fixa e
estática. Assim, podemos substituir uma variável (do sistema secundário) por um nome
ou uma constante (movendo-a para o sistema primário), quando acreditamos saber qual
o seu valor. Em outras palavras, com o crescimento da ciência e de nosso conhecimento
do mobiliário do mundo, nós modificamos nossa afirmação existencial em
desenvolvimento. Somos, portanto, livres para trocar uma variável por um nome.
Ramsey parece, neste ponto, caracterizar o sistema secundário como fictício e dizer que
sua importância está apenas no fato de ele ser um mero sistematizador do conteúdo do
sistema primário. Na realidade, não há distinção em princípio entre qualidades fictícias
ou não. Ao crescer nosso conhecimento do mundo, funções proposicionais que
expressavam qualidades fictícias (e eram substituídas por variáveis existencialmente
ligadas ou determinadas) podem muito bem ser tomadas para caracterizar quantidades
conhecidas e então serem re-introduzidas na teoria em desenvolvimento (growing
theory) como nomes ou constantes. Ele dá o exemplo do calor, que deixou de ser
fictício ao se descobrir que consiste no movimento de pequenas partículas.
Não é necessário, para Ramsey, que o significado das afirmações no sistema
secundário sejam dadas por seus critérios no sistema primário.7 A teoria não precisa ser
vista como um resumo daquilo que se pode dizer no interior do sistema primário. As
leis e conseqüências não podem representar toda a base empírica da teoria. Para
construir uma teoria por meio de definições explícitas não é preciso que os axiomas
devam se seguir das leis e conseqüências apenas. Assim, apesar da suspeita inicial de
que Ramsey estaria assumindo uma postura instrumentalista reducionista ou
eliminativista, ele, mais à frente no texto, diz que as teorias têm um conteúdo excedente
(excess content) sobre seus sistemas primários, de modo que a possibilidade de certo
6
7
cf. Ramsey, F. P. Theories, p. 111.
cf. Ramsey, F. P. Theories, p. 117.
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
18
tipo de realismo está aberta. Esse conteúdo excedente é visto quando a teoria é
formulada como expressando um juízo existencial.
Ramsey considera as teorias como construções significativas existenciais
(juízos), que podem ser avaliadas em termos de verdade e falsidade. Assim, ele se
distancia dos empiristas lógicos, como Schlick e o primeiro Carnap, para quem as
teorias eram sistemas dedutivos formais que flutuavam livremente, pois nenhum
conceito que ocorria na teoria designava algo real. Para eles, a construção de uma
ciência dedutiva estrita tinha apenas o sentido de um jogo com símbolos, uma mera
construção sintática. O insight de Ramsey vai contra essa postura, pois não precisamos
divorciar a teoria de seu conteúdo nem restringi-la ao interior do sistema primário,
contanto que se trate a teoria como um juízo existencial. Ramsey trata as funções
proposicionais do sistema secundário como variáveis, mas, em oposição aos empiristas
lógicos, ele pensa que uma teoria empírica não acarreta apenas uma afirmação “se...
então”, mas existem entidades que satisfazem a teoria (o que é capturado pelos
quantificadores existenciais com os quais a teoria é prefixada). Os quantificadores
existenciais fazem com que o sistema axiomático (axiom-system) passe de um conjunto
de fórmulas abertas (open formulas) para um conjunto de sentenças (portanto, com
valor de verdade – truth-valuable).
1.3. Dos juízos existenciais ou sentenças-Ramsey
Após essa breve apresentação da abordagem de Ramsey das teorias científicas,
convém entrar detalhadamente em sua grande contribuição: a sentença-Ramsey. O
insight básico de Ramsey é o seguinte: numa perspectiva empirista, o que realmente
importa é o conteúdo empírico da teoria. Ao se apresentar uma teoria, usa-se termos
teóricos e predicados. Contudo, não precisamos tratá-los como nomes. Ou seja, eles não
precisam se referir a entidades (objetos, coisas no mundo). Isso não é necessário para
um uso legítimo da teoria. Ao invés de nomes de diversos tipos que juntos formam uma
proposição atômica, Ramsey sugere que o sistema primário tem uma estrutura e
qualquer estrutura pode ser representada por números. Todos os termos do sistema
primário podem ser adequadamente simbolizados por números. Pode-se simplesmente
tratar as funções proposicionais (termos teóricos e predicados) da linguagem teórica
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
19
como genuínas variáveis que são ligadas a quantificadores existenciais e que resultam
na construção de uma sentença. Como uma sentença, a construção resultante possui
valor de verdade. Logo, ela pode ser usada para expressar um juízo. A sentença-Ramsey
implica a existência de classes de entidades que realizam a sentença-Ramsey, mas ela
não se compromete com a existência de algum conjunto particular dessas entidades.
Ramsey oferece o seguinte exemplo: cores e odores têm uma estrutura que pode
ser designada por três números (sendo 0 a ausência de cor ou odor). O momento 3 tem a
cor 1 e o odor 2 e pode ser assim escrito: χ (3) = 1 e ф (3) = 2, χ e ф correspondendo às
formas gerais da cor e odor e sendo, provavelmente, funções com um número limitado
de valores (por exemplo, ф (3) = 55 pode ser sem sentido, pois não existe o 55 o odor).
Esse exemplo pode parecer estranho, e a estranheza se deve ao fato de que, ainda que
esta mudança possa ser feita, ela não traz vantagens em casos como este, em que temos
relativamente poucos termos. Mas, em casos mais complexos, como o tempo, nós não
podemos nomeá-lo e, assim, ao invés de o tomarmos em sua individualidade, indicamos
apenas sua posição.
Tentaremos explicar melhor como isso funciona. Quando dizemos que “x é um
fóton” não se trata de um predicado, mas de uma variável existencialmente ligada ou
determinada (existentially bound variables). Ou seja, uma teoria começa tacitamente
com quantificadores (propriedades existem, chamamos elas “ser um fóton, tal que...”,
etc.). Assim, Ramsey escapa da questão acerca da existência desses termos, dizendo que
há certos eventos observáveis que podem ser descritos por certas funções matemáticas
dentro do quadro de um certo sistema teórico. Esses juízos existenciais de Ramsey
(Ramsey`s existencial-judgements) são conhecidos como sentença-Ramsey (Ramseysentence), termo esse cunhado por Hempel. Seu papel é eliminar os problemáticos
predicados das teorias enquanto mantém sua estrutura e conseqüências observacionais.
Expondo isto de uma forma mais técnica, temos que a sentença-Ramsey RTC
junta os axiomas da teoria TC (T indica os postulados teóricos da teoria e C indica os
postulados que dão as regras de correspondência) em uma única sentença, que substitui
todos os predicados teóricos por variáveis distintas e então liga essas variáveis
colocando um igual número de quantificadores existenciais. Em suma, a sentençaFortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
20
Ramsey elimina os termos teóricos (T-terms) como tais e provê uma abordagem do
conteúdo empírico da teoria. São três os passos para essa façanha:
a)
Primeiro passo: pegamos uma teoria empírica que podemos representar
da seguinte maneira: TC (t1 . . . tn, o1 . . . om). Aqui, t indica os termos teóricos e o os
termos observacionais.
b)
Segundo passo: substituímos os termos teóricos (T-terms) por variáveis.
Podemos representar o resultado da seguinte forma: TC (x1 . . . xn, o1 . . . om). Aqui, x
indica uma variável.
c)
Terceiro passo: quantifica-se existencialmente as variáveis. Ou seja: x1
. . . xn TC (x1 . . . xn, o1 . . . om). Ou ainda, resumindo: x TC (x, o). Termos teóricos se
tornam variáveis existencialmente ligadas ou determinadas (existentially bound
variables). A fórmula precedida por um quantificador existencial diz que há ao menos
uma entidade (do tipo ao qual se refere) que satisfaz a condição expressa pela fórmula.
Resumindo, a sentença-Ramsey RTC é lida assim: “Existem algumas (não
especificadas) relações tais que TC (x1 . . . xn, o1 . . . om) é satisfeita quando as variáveis
designam essas relações (ou seja, existem relações r1 . . . rn tais que TC (x1 . . . xn, o1 . . .
om) é satisfeita quando xi designa o valor ri, e 1 i m)”. Desta forma, a sentençaRamsey captura o conteúdo factual da teoria e constitui uma formulação adequada para
as necessidades da ciência.
Carnap oferece um interessante exemplo dessa tradução da teoria em uma
sentença-Ramsey.8 Tomemos o símbolo “Mol” para uma classe de moléculas. Ao invés
de chamar algo “uma molécula”, chamemos isso “um elemento de Mol”. De maneira
similar, “Hymol” significa “a classe de moléculas de hidrogênio”, e “uma molécula de
hidrogênio” é “um elemento de Hymol”. Em termos gerais, a linguagem teórica contém
termos de classe (class terms) e termos de relação (relation terms). Como diz Carnap,
isso não significa dizer que coisas como elétrons simplesmente desaparecem, mas sim
que o que quer que seja que exista no mundo e que é simbolizado pela palavra ‘elétron’
desaparece.9 A sentença-Ramsey continua afirmando, através de seu quantificador
existencial, que há algo no mundo que tem todas as propriedades que o físico atribui ao
8
9
cf. Carnap, R. An introduction to the philosophy of science, p. 249.
cf. Carnap, R. An introduction to the philosophy of science, p. 252.
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
21
elétron. Isto não questiona a existência ou realidade disso, mas apenas propõe uma
maneira diferente de falar sobre isso.
Outro exemplo que pode ilustrar o que foi dito é oferecido por Maxwell.10
Tomemos uma axiomatização simplificada da teoria cinética: “Todos os gases são
compostos inteiramente por moléculas. As moléculas estão em movimento rápido e em
freqüente colisão, etc.”. Para fins de simplificação, consideremos que ‘moléculas’ é o
único termo teórico. A sentença-Ramsey dessa teoria diria algo como: “Há um tipo de
entidade tal que todos os gases são compostos inteiramente por essas entidades. Elas
estão em movimento rápido e em freqüente colisão, etc.”.
2. O Realismo Estrutural
Nesta segunda parte do artigo, pretendo mostrar como a sentença-Ramsey pode
ser interpretada como uma abertura a uma certa postura realista chamada realismo
estrutural. De início, convém definir o que vem a ser isso. Trata-se de uma postura
realista, pois afirma a existência de um mundo independente de nossas representações, e
é estrutural, uma vez que o que é conhecível do mundo é apenas sua estrutura.11 Em
suma, podemos resumir essa posição no seguinte slogan proposto por Psillos: é a tese de
que o conhecimento pode atingir apenas as características estruturais do mundo.12
O realismo estrutural assume uma clara posição intermediária. Ele não se
confunde com o realismo mais forte, que afirma a existência de entidades específicas e
sustenta a possibilidade de a ciência conhecê-las em suas teorias. Indo além da
estrutura, esta postura realista forte atinge o conteúdo, a matéria, nomeando o mobiliário
10
cf. Maxwell, G. The ontological status of theoretical entities, p.16.
Podemos dividir o realismo estrutural em dois grupos: o epistemológico e o metafísico ou ontológico.
Esta distinção apareceu inicialmente em um importante texto de James Ladyman de 1998, chamado What
is structural realism?, e guia a discussão atual sobre o tema. O primeiro tipo é aquele que sustenta que o
conteúdo cognitivo de uma teoria é inteiramente capturado pela sua sentença-Ramsey e o segundo tipo,
mais problemático e misterioso, sustenta não apenas que nosso conhecimento está limitado à estrutura do
mundo, mas vai além ao afirmar que tudo o que há além do fenômeno é a estrutura. O realismo estrutural
epistemológico levanta a questão acerca daquilo a que temos acesso epistêmico. Já o realismo estrutural
metafísico coloca outro problema em jogo, acerca da estrutura da natureza e a relação entre estrutura e
conteúdo. Qual é a diferença entre matéria e forma, conteúdo e estrutura? Trata-se de uma diferença
objetiva na natureza ou ela existe apenas em nossas representações da natureza? Não pretendo aprofundar
essas questões, mas apenas situar o tipo de realismo estrutural que será tratado aqui, e que parte da
sentença-Ramsey e da tese epistemológica de que apenas conhecemos do mundo suas características
estruturais, reveladas pelas teorias. Sobre o tema, cf. Pooley, O. Points, particles, and structural realism; e
também Van Fraassen, B. C. Structure: its shadow and substance.
12
cf. Psillos, S. Is Structural Realism Possible?, s.p.
11
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
22
do mundo. Da mesma forma, o realismo estrutural não se confunde com o anti-realismo
ou instrumentalismo, que reduz as teorias a simples instrumentos ou construtos formais
sem qualquer pretensão de se referir a qualquer entidade real. O realismo estrutural
aponta claramente para uma linha média e, em função disso, atraiu tanto anti-realistas
quanto realistas. Como observa Psillos, há duas vias de chegada ao realismo
estrutural:13
a)
Um trajeto de subida (the upward path), que parte de premissas
empiristas em direção a uma postura realista sustentável;
b)
Um trajeto de descida (the downward path), que parte de premissas
realistas em direção a uma postura realista enfraquecida ou mitigada.
Como salienta Votsis, o número de adeptos do realismo estrutural é crescente.14
Conta-se em suas fileiras nomes importantes como Maxwell, Worrall e Ladyman.
Mesmo notáveis anti-realistas aproximam-se de posições realistas estruturais, mas, para
deixar claro que não se trata de assumir uma postura realista tout court, preferem
nomear suas propostas de empirismo estrutural (structural empiricism), como Otávio
Bueno, ou estruturalismo empírico (empiricist structuralism), como Van Fraassen.
Voltando então ao tema tratado na primeira parte do artigo, gostaria, a seguir, de
mostrar como podemos discordar da interpretação carnapiana da sentença-Ramsey,
mostrando sua feição realista. Carnap, ao menos segundo Maxwell, também pode ser
enquadrado entre os pensadores que abraçaram o realismo estrutural. Seu trajeto é o de
alguém que, mesmo sem abandonar o empirismo lógico, vê-se obrigado a mitigar suas
posições iniciais e afastar-se cada vez mais do puro instrumentalismo em direção a certo
realismo. Em Carnap, encontramos claramente colocada a diferença entre fato (fact) e
estrutura (framework), cara ao realismo estrutural.
É bem verdade que Carnap, em 1958, no texto Observation language and
theoretical language, interpretou a sentença-Ramsey como se as variáveis
existencialmente quantificadas não classificassem entidades físicas inobserváveis, mas
entidades matemáticas. Assim, o excesso de conteúdo das teorias ocorre porque elas
caracterizam fisicamente entidades matemáticas. Esta interpretação de Carnap, chamada
13
14
cf. Psillos, S. Is Structural Realism Possible?, s.p.
cf. Vostsis, I. Is structure not enough?, p. 885.
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
23
por Feigl de positivismo sintático (syntactical positivism), é claramente uma forma de
instrumentalismo, uma vez que dá uma interpretação matemática aos conceitos teóricos
nas ciências empíricas, ou seja, sustenta que essas entidades são nada mais que úteis
construtos formais e as teorias são apenas modelos matemáticos. Carnap manteve ao
longo de sua vida uma posição assumidamente empirista e acreditou que a sentençaRamsey o auxiliava nessa tarefa, afastando-o dos realistas.15
Grover Maxwell discordou de Carnap quanto à crença de que a sentençaRamsey poderia conduzir a um tipo de instrumentalismo e foi o primeiro a apontar para
a aproximação entre ela e o realismo. Apesar de as características (ou propriedades)
estruturais não serem predicados de referência direta (não nomeiam entidades no
mundo), isso não faz dessas estruturas meras características formais. Para Maxwell, a
sentença-Ramsey, apesar de eliminar os nomes das entidades teóricas, ainda assim se
compromete com a existência de certo número de tipos de entidades inobserváveis. 16 Ou
seja, mesmo conseguindo evitar o uso de termos teóricos, ela não pode (nem na letra
nem no espírito) eliminar a referência a entidades inobserváveis ou teóricas. Trata-se,
portanto, de uma postura realista. Porém, a sentença-Ramsey desenvolve um realismo
um pouco diferente, chamado de realismo estrutural.
Para o realista estrutural, teorias científicas resultam em comprometimentos
existenciais para entidades inobserváveis. Todo conhecimento sobre inobserváveis é
conhecimento estrutural (structural knowledge), ou seja, conhecimento não das
propriedades intrínsecas ou de primeira-ordem, mas das propriedades estruturais ou de
ordem superior (higher-order). Sustenta-se que há uma certa estrutura que satisfaz a
sentença-Ramsey e a estrutura do mundo é isomórfica a essa estrutura. Temos, portanto,
como conseqüência da sentença-Ramsey, uma posição claramente realista estrutural, na
qual apenas a estrutura do mundo inobservável seria conhecível, não as entidades elas
mesmas. Segundo Maxwell: “Nosso conhecimento sobre o teórico é limitado às suas
15
Posteriormente, sendo muito criticado tanto pelos realistas quanto pelos anti-realistas, e influenciado
pela leitura realista de Maxwell sobre a sentença-Ramsey, Carnap passou a adotar uma postura neutra,
nem realista nem anti-realista. Ele sustentou que essas duas visões não estariam em conflito, sendo apenas
maneiras diferentes de falar, constituindo, assim, um conflito essencialmente lingüístico. Seria, apenas,
uma questão de qual jeito de falar é preferível em certas circunstâncias.
16
cf. Maxwell, G. The ontological status of theoretical entities, p. 17.
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
24
puras características estruturais e nós somos ignorantes no que concerne à sua natureza
intrínseca”.17
Conclusão
Espero, após estas páginas pouco pretensiosas, ter atingido os dois objetivos
deste artigo: (1) explicar melhor em que consiste a sentença-Ramsey e como ela entrou,
pelas mãos de Carnap, no debate acerca do realismo e do anti-realismo científico, e (2)
mostrar como a sentença-Ramsey, contrariamente às intenções empiristas e antirealistas de Carnap, nos conduz a uma posição intermediária nomeada realismo
estrutural, na qual mitigamos o realismo e sua pretensão de nomear as entidades que
compõem o mobiliário do mundo e também enfraquecemos o anti-realismo e sua
descrição de teorias como meros construtos formais que flutuam independentemente de
como o mundo é.
Referências:
CARNAP, Rudolf. The methodological character of theoretical concepts. In: FEIGL,
H.; SCRIVEN, M. (eds.) Minnesota Studies in the philosophy of science. Vol. I.
Minneapolis: University of Minnesota Press, p.38-76, 1956.
______. Testabilidade e Significado. In: ____. Coleção Os pensadores: Schlick,
Carnap, Popper. Tradução de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Abril Cultural,
p.177-225, 1975.
______. Observation language and theoretical language. In: HINTIKKA, J. (ed.) Rudolf
Carnap, logical empiricist. Tradução de H. Bohnert. Dordrecht: Reidel, 1975.
______. An introduction to the philosophy of science. New York: Basic Books, 1995.
LADYMAN, James. What is Structural Realism? Studies in History and Philosophy of
Science, vol. 29, p. 409-24, 1998.
17
Maxwell, G. Structural Realism and the Meaning of Theoretical Terms, p. 188 (tradução minha).
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575
Polymatheia – Revista de Filosofia
25
MAXWELL, G. The ontological status of theoretical entities. In: FEIGL, H.;
MAXWELL, G. (eds.) Minnesota Studies in the Philosophy of Science – vol. III.
Minneapolis: University of Minnesota Press, p.3-27, 1962.
______. Structural Realism and the Meaning of Theoretical Terms. In: RADNER, M.;
WINOKUR, S. (eds.) Minnesota Studies in the Philosophy of Science – vol. IV.
Minneapolis: University of Minnesota Press, p. 181-192, 1970.
POOLEY, Oliver. Points, particles, and structural realism. In: RICKLES, D.; FRENCH,
S.; SAATSI, J. (eds.) The structural foundations of quantum gravity. Oxford: Oxford
University
Press,
2006.
Disponível
em:
<philsci-
archive.pitt.edu/archive/00002939/01/pvsp-dec05.pdf>. Acesso em 09 jun. 2009.
PSILLOS, Stathis. Carnap, the Ramsey-sentence and the realistic empiricism.
Erkenntnis,
n.
52,
p.
253-279,
2000.
Disponível
em:
<http://www.phs.uoa.gr/~psillos/Publications_files/Carnap(ERK).pdf>. Acesso em 09
jun. 2009.
______. Is Structural Realism Possible? Philosophy of Science, Vol. 68, n. 3, p. 13-24,
2001.
______. Ramsey`s Ramsey-sentences. In: GALAVOTTI, M. C. (ed.) Cambridge and
Vienna: Frank P. Ramsey and the Vienna Circle. Dordrecht: Springer, p. 67-90, 2006.
Disponível em: <http://philsci-archive.pitt.edu/archive/00001762/>. Acesso em 09 jun.
2009.
RAMSEY, F. P. Theories. In: MELLOR, D. H. (ed.) Foundations: Essays in
philosophy, logic, mathematics and economics. London: Routledge, p.101-125, 1978.
VAN FRAASSEN, Bas C. Structure: its shadow and substance. British Journal for the
Philosophy of Science, vol. 57, n. 2, p. 275-307, 2006. Disponível em: <http://philsciarchive.pitt.edu/archive/00000631/00/StructureBvF.pdf>. Acesso em 09 jun. 2009.
VOTSIS, Ioannis. Is structure not enough? Philosophy of Science, Supplement,
University of Chicago Press, vol. 70, n. 5, p. 879-890, 2003. Disponível em:
<http://www.votsis.org/PDF/Is_Structure_Not_Enough.pdf>. Acesso em 09 jun. 2009.
Fortaleza – Volume 10 – Número 16, Jan./Jun. 2017
ISSN: 1984-9575