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O signo para Humboldt, para Saussure e para Bakhtin

A matéria publicada nesse periódico é licenciada sob forma de uma Licença CreativeCommons – Atribuição 4.0 Internacional Resumo:Este artigo mostra três das principais concepções de signo dos estudos sobre a linguagem, diferenças e semelhanças. Para Humboldt, o signo é a representação material ou a imagem acústica para o conceito, a ele se soma a identidade do som articulado da língua. Essas três partes, signo, conceito e identidade do som, constroem as formas da língua que são as palavras. Para Saussure, signo é o nome da relação entre significante e significado. Saussure propôs a substituição dos termos imagem acústica e conceito, que estavam plenos de sugestionalidades e conceituações prévias, pelos termos significante e significado. Para Bakhtin, o signo é a forma da estrutura que realiza em som articulado um sentido, ideologicamente completado pelo pensamento. O encontro entre o som articulado e o conceito dá o elemento resultante da semiose, por isso todo signo é semiótico. Palavras-chave:Signo. Humboldt. Saussure. Bakhtin. Abstract:This article shows three of the principal sign conceptions of the studies about language, differences and similarities. The sign is for Humboldt the material representation, or sound-image, of the concept, besides the identity of the articulated language sound; these three parts, sign, concept and sound identity, make the form of the language that is the word. The sign is for Saussure the name of the relation between the signified and the signifier. Saussure proposed the substitution of the terms sound-image and concept, that were full of suggestions and prior conceptualization, to the terms signified and signifier. The sign in Bakhtin is the form of the structure that accomplishes an ideologically sense completed by thought through articulated sound. The meeting between the articulated sound and the concept gives the resulting element of semiosis, so every sign is semiotic.

Http://online.unisc.br/seer/index.php/signo ISSN on-line: 1982-2014 Doi:10.17058/signo.v40i68.3461 Recebido em 21 de Março de 2013 Aceito em16 de Abril de 2015 Autor para contato: [email protected] O signo para Humboldt, para Saussure e para Bakhtin The sing for Humboldt, for Saussure and for Bakhtin Sebastião Elia s Mila ni Universidade Federal de Goiás–UFG – Goiânia – Goiás - Brasil Resumo:Este artigo mostra três das principais concepções de signo dos estudos sobre a linguagem, diferenças e semelhanças. Para Humboldt, o signo é a representação material ou a imagem acústica para o conceito, a ele se soma a identidade do som articulado da língua. Essas três partes, signo, conceito e identidade do som, constroem as formas da língua que são as palavras. Para Saussure, signo é o nome da relação entre significante e significado. Saussure propôs a substituição dos termos imagem acústica e conceito, que estavam plenos de sugestionalidades e conceituações prévias, pelos termos significante e significado. Para Bakhtin, o signo é a forma da estrutura que realiza em som articulado um sentido, ideologicamente completado pelo pensamento. O encontro entre o som articulado e o conceito dá o elemento resultante da semiose, por isso todo signo é semiótico. Palavras-chave:Signo. Humboldt. Saussure. Bakhtin. Abstract:This article shows three of the principal sign conceptions of the studies about language, differences and similarities. The sign is for Humboldt the material representation, or sound-image, of the concept, besides the identity of the articulated language sound; these three parts, sign, concept and sound identity, make the form of the language that is the word. The sign is for Saussure the name of the relation between the signified and the signifier. Saussure proposed the substitution of the terms sound-image and concept, that were full of suggestions and prior conceptualization, to the terms signified and signifier. The sign in Bakhtin is the form of the structure that accomplishes an ideologically sense completed by thought through articulated sound. The meeting between the articulated sound and the concept gives the resulting element of semiosis, so every sign is semiotic. Keywords: Sign. Humboldt. Saussure. Bakhtin. Signo.SantaCruzdo Sul, v.40,n. 68,p. 55-65, jan./jun. 2015. A matéria publicada nesse periódico é licenciada sob forma de uma Licença CreativeCommons – Atribuição 4.0 Internacional http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ 56 Milani, S. E. Brugmann etc., entre esses, Ferdinand de Saussure 1 Introdução que, ao explicar a terminologia da Linguística, O ponto de partida neste artigo é o de que explicou também como se deveria empregar o termo Humboldt explicou o signo pela perspectiva do som signo e suas partes, o significante e o significado. articulado, o de que Saussure o fez pela perspectiva Assim, após o Curso de Linguística Geral, o conceito do sistema da língua e o de que Bakhtin o fez pela primeiro para o termo signo é significante mais perspectiva da estrutura da linguagem. Os três significado, unidade arbitrária que pertence ao entenderam a comunicação humana como uma universo concreto da língua. estrutura que dá suporte ao pensamento. Nos três a Durante o século XX, além de Bakhtin, preocupação com a demonstração do método é tão apresentado adiante neste artigo, outros pensadores grande quanto com a exposição dos conceitos. estudaram a estrutura da língua, já como parole, a Assim, os três pontos de vista são completos e exatos partir da relação entre significante e significado. na análise que fazem do objeto que adotaram para Provavelmente, a mais brilhante de todas e também a estudo. mais profícua foi a de Louis T. Hjelmslev: a Desde a antiguidade clássica, especificamente Glossemática. Hjelmslev apresentou uma divisão do Platão como o mais antigo, discutia-se a relação na enunciado em Plano de Expressão e Plano de linguagem entre o pensamento e sua manifestação. Conteúdo, ambos comportando uma relação entre Sempre se falou que a manifestação acontecia por forma e substância. meio da articulação de sons e que o pensamento Tanto Saussure, como Whitney, Schleicher, provia a significação e, em Platão, no Crátilo, já está Bakhtin, Hjelmslev e também Eugenio Coseriu, Noam explicada essa relação. Portanto, os conceitos aqui Chomsky, Émile Benveniste etc., pagariam muitos abordados são continuidade, e o que se pode mostrar tributos a Wilhelm von Humboldt. Humboldt aplicaria a de mudança entre esses pensadores é o método com noção platônica, já interpretada por Condillac, Herder o qual cada um abordou o tema, gerando a cada vez e Immanuel Kant, entre outros, ao estudo da uma ruptura. linguagem. Estabeleceu dois extremos para a terminologia linguagem: forma interna e forma externa. Na forma metalinguística, o termo signo aparece com mais de interna, todas as estruturas linguísticas são iguais e, uma significação específica. Mas, ao longo da na forma externa, todas as estruturas linguísticas são história, em se tratando da relação entre os diferentes. Aplicou-se em estudar a diversidade das elementos envolvidos na realização da articulação, formas das línguas a partir do som articulado e nomeou-se essa relação também como palavra e concluiu que é no som articulado que as línguas e como nome. Citando-se alguns autores, como todos os seus elementos se tornam diferentes entre amostragem, em Platão e também em Aristóteles, foi si. Em se tratando de chamada de nome e de palavra. Na Gramática de Port-Royal, de Arnauld e Lancelot, de signo e de 2 Para Humboldt: signo, conceito e identidade palavra. Em John Locke e em Etiéne B. de Condillac, de palavra. De forma geral, o termo palavra continuou Como disse Humboldt, os sons articulados se desde a antiguidade até a pós-modernidade usado distinguem para representar metalinguisticamente a relação entre intencionalidade e por sua capacidade de significar. A a imagem acústica e o conceito. comparação com gritos e com a sonoridade musical dos outros sons animais pela Quando a Linguística foi feita ciência, durante mostra que os sons articulados não podem ser o século XIX, o termo signo assumiria relevância para descritos por suas características, mas somente pela a metalinguagem nesse contexto. Podem ser citados maneira como são produzidos. O som, na articulação, Friedrich é somente uma forma de torná-la mais facilmente Schleicher, William D. Whitney, Karl Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p. 55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 57 O signo perceptível, sendo possível separá-la dele. Então, de formação da língua, às sílabas, unidades sonoras, acordo com Humboldt, não se fala somente porque se vinculam-se conceitos, convertendo-as em palavras, pensa, mas porque se possui uma capacidade de ou seja, torna-se palavra a unidade sonora a que se juntar o pensamento e os instrumentos da língua. vincula um conceito. Geralmente são necessárias A contundência dos sons articulados, segundo várias sílabas para a composição de uma base Humboldt, faz com que sejam mais facilmente sonora para um conceito. Disse Humboldt que a percebidos. Quanto mais enérgica for a intenção de palavra é composta de uma dupla unidade: a do produzi-los, mais nítidos eles serão, pois se formam conceito e a do som. É como palavras que as na junção ou na oposição com outros sons, e esta unidades sonoras se convertem em fala, já que, na cooperação é necessária para a perfeição do carência de conceito, elas não podem ser entendidas, discurso. A diversidade dos sons, que obriga cada ou não existem. Segundo Humboldt, se a língua for povo a realizar somente os sons linguísticos que um mundo à parte, descrito objetiva e subjetivamente interessam pela pelo indivíduo a partir das impressões que recebe da diversidade de órgãos da fonação que interferem na natureza, as palavras são os objetos individuais do articulação, pelo lugar em que esta é produzida e mundo, que se compõem aos olhos dos indivíduos pelas características do som a ser produzido. As como parte independente e dependente do todo: são características do som devem se fundir à articulação objetos distintos e por isso devem ser preservadas e somente as mudanças necessárias e próprias do em suas formas distintivas. para sua língua, é gerada som devem acontecer. Para que não ocorram No livro Uber die degenerações, jamais uma característica de um som VerschiedenheitdesmenschlichenSprachbauesundihre deve ser aplicada a outro que não a tenha por sua nEinflussauf natureza. geistigeEntwicklungdesMenschengeschlechts [1831- die O sistema fônico se forma dos modos pelos 1835], obra traduzida para o espanhol como Sobre quais os sons articulados se associam na formação, ladiversidad de laestructuradellenguaje humano y su por semelhança ou por oposição de séries. As séries influencia se formam a partir da totalidade de possibilidades das lahumanidad(1990), Humboldt escreveu (1990: 98) relações entre os sons. Na evolução fonética das “chamamos palavra ao signo que corresponde a um línguas, sons articulados muito próximos uns dos conceito”. A forma da palavra corresponde às outros tendem a se fundir ou a se confundir. De unidades que encerram em si uma significação, ou acordo com Humboldt, quanto mais precisa for um conceito. O termo signo equivale à unidade mantida a distinção dos sons da língua, mais rica em sonora que leva à correspondência de um conceito. possibilidades e agradável ao ouvido estrangeiro ela No pensamento será. Quanto à riqueza em sons, Humboldt fala na necessidade da articulação dos sons. No mesmo abundância de sons necessários para a fala e na parágrafo, “a sílaba forma uma unidade sonora; só se limitação a um número de sons necessários para um converte em palavra quando obtém uma significação equilíbrio entre eles. Esses fatores têm que brotar da própria”, língua, que é como uma imensa e rica organização referência à condição que deve ter um som em que todas as partes estão relacionadas entre si. articulado, como sílaba, para ganhar status de língua. De qualquer ângulo que ela seja estudada, ao falar, As palavras mostram dupla unidade: sonora e os homens somente utilizam uma pequena parte conceitual. A língua tem sempre uma forma típica na dessa organização, mas nessa pequena parte está cultura para representar cada conceito. Isso é uma sempre pressuposta e atuante a organização inteira. constante. Logo, a expressão de um conceito por sobre eldesarrollo espiritual de tem-se a ideia, que gera a Humboldt, obviamente, está fazendo A língua forma, pelo processo de juntar sons meio de sons articulados segue o processo típico do articulados, unidades sonoras chamadas sílabas. Na modo como um povo costuma fazer: os sons Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p.55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 58 Milani, S. E. articulados já estão previamente definidos na língua e percebido os conceitos seguirão o modo da cultura, juntos representarem, há uma grande lacuna que separa o formarão a unidade da palavra na fala. mundo dos objetos linguísticos do mundo dos outros pelo indivíduo. Apesar de se Humboldt propõe que se veja a língua como objetos reais. A palavra é composta, então, de um um segundo mundo, sob a perspectiva do indivíduo, conceito de algo que existe no mundo e que, ao se do modo como ele recebe as sensações do mundo formar no interior do indivíduo, é dado a conhecer aos verdadeiro. Desse modo as palavras seriam os outros indivíduos através da articulação sonorizada. A objetos individuais desse segundo mundo, e elas são articulação, antes de tudo, possui uma identidade indivíduos, cujas formas devem ser preservadas. Ou que, reconhecida como um som, pertencente à seja, para que a palavra cumpra sua função de língua. A articulação pode se tornar um signo, isto é, comunicar é preciso que ela mantenha a estrutura um símbolo que leva os indivíduos a identificar o sonora de sua forma, para também manter a do conceito, a língua, o indivíduo, a nação etc. sentido. Nessa condição não há censura, na medida Resumindo: a palavra é o signo associado a um em que a ideia está pronta na mente, o pensamento conceito e à identidade sonora de uma cultura. Nos usará os recursos da língua, por meio dos sons casos articulados, para dar a conhecer essa ideia. Nesse reconhecida como parte da língua, não esteja clara fato, não é a fala que se compõe de palavras, mas as suficiente para virar signo, o conceito não será palavras que nascem do conjunto do discurso. identificado e o som não será palavra. em que a identidade sonora, mesmo Claramente, o que Humboldt está propondo é que o Essa divisão da palavra, porém, pode se tornar sentido das formas depende do uso delas no mais perceptível: ao ouvir /ba/, um falante da língua discurso. reconhecerá sem dificuldades que se trata de um som A palavra é a última instância em que atua a de sua língua materna. Portanto, encontrou uma ação formadora da língua. Ela é o produto básico da identidade para este som, que é, com certeza, um língua. No discurso, a língua se limita a prescrever símbolo da língua, uma vez que ela foi reconhecida uma forma reguladora para as palavras, que, neste som. Por isso /ba/ é um signo dessa língua. No enquanto formas prontas, são um conjunto de entanto, /ba/ em princípio não possui conceito e, para possibilidades semânticas, organizadas em torno de que se forme um conceito, vai-se precisar de mais um sentido. No discurso, pela relação estabelecida unidades sonoras adicionais. Segundo Humboldt, a com outras palavras e com a ideia, elas têm definido identificação como som de uma língua, ou mesmo seu papel. Importante notar que a língua, na como um som articulado, é a identidade do som, mas composição do discurso, limita-se a exigir um não é suficiente para ser signo de um conceito. É emprego de interessante observar que, em geral, para ter uma possibilidades semânticas. Nessa escolha atua a palavra, os seres humanos fazem uso de vários sons, individualidade do falante, que realiza a configuração que são certamente frutos de uma elaboração e de a ser dada. Mesmo que uma palavra seja empregada um amadurecimento linguísticos que se deram ao isoladamente, seu entendimento está atrelado a um longo de gerações. Então, /ba/ não é uma palavra, continuum, um contexto ou uma narrativa, e esse porque não possui conceito, mas é um símbolo da entendimento, para ser correto, depende dos fatores língua (portuguesa), porque faz parte dela. Logo, para linguísticos que compõem esse continuum estarem ser palavra, é preciso ter um símbolo ou conjunto de desenvolvidos na língua. símbolos (sons) que, ao se transformarem em signo, que esteja previsto no conjunto A palavra é, pois, um objeto que substitui na adquirem conceito, ou que se transformem em signo mente dos indivíduos outro objeto real. O objeto ao adquirirem conceito – há simultaneidade nesse linguístico representa as características do objeto processo pelas explicações de Humboldt. real, segundo o modo pelo qual esse objeto real foi Humboldt estudou a comunicação verbal pelo Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p. 55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 59 O signo aspecto da manifestação em sons articulados. Para Saussure, no Curso de Linguística Geral (1995: 80), ele era na materialização que estava a excelência de afirmou que “o signo linguístico une não uma coisa e uma língua, tanto do ponto de vista da nação como uma palavra, mas um conceito e uma imagem do determinados acústica”. Na língua só existem imagens acústicas estiverem os sons articulados de um discurso mais feitas de unidades de sons articulados: os fonemas. exatos serão os conceitos vinculados. Como som Saussure demonstrou que não são os sons que foram articulado, o signo representa os elementos da articulados linguagem, da língua e do pensamento, bem como do psíquicas. indivíduo. discurso. Quanto Existe na mais bem materialização em sons pelo falante, mas as impressões O som é uma coisa concreta, como coisa articulados – imagem acústica, além do estímulo concreta material sensível e o conceito, a identidade da língua, processamento das informações no cérebro, assim, o como som inconfundível entre qualquer língua do que é transportado desde os ouvidos até o cérebro mundo, e a identidade do falante, cujo som articulado são as impressões psíquicas que os sons articulados em sua voz é inconfundível entre todos os falantes. A causam nos indivíduos que recebem a mensagem. língua contribui com seus aspectos tipológicos e de Então, a imagem acústica não é material e sim cultura e o indivíduo com seu conhecimento da língua psíquica. A sensação de que ela é material deve-se à e na língua e seu aparelho fonador: a qualidade do necessidade que os ouvintes têm de separá-la do discurso é resultado da intersecção desses fatos conceito, que é claramente psíquico. Outra razão é o aprendidos. fato de a imagem acústica ter uma origem externa ao não pode chegar até o centro de indivíduo, na forma de uma estrutura física, que é o Llamamos palabra al signo que corresponde a un concepto. La sílaba forma una unidad sonora; solo se convierte en palabra cuando obtiene una significatividad propia, lo que con frecuencia requiere la unión de varias sílabas. Por eso la palabra muestra una doble unidad, la del sonido y la del concepto. Es así como las palabras se convierten en los verdaderos elementos del habla, ya que las sílabas carentes de significación propia no pueden considerarse realmente como tales. Si imaginamos la lengua como un segundo mundo, objetivado por el individuo desde sí mismo a partir de las impresiones que recibe del mundo verdadero, las palabras serán los objetos individuales de ese mundo, y por ello les conviene La condición de individuos, que debe preservarse también en su forma (...) En la realidad no es el habla la que se compone de palabras que le preceden, sino que son, a la inversa, las palabras las que nacen del conjunto del discurso (…) La palabra es el límite hasta el cual la lengua ejerce espontáneamente su labor conformadora. La palabra simple es la flor perfecta brotada de ella. En la palabra el producto terminado pertenece a la lengua misma. En cambio a la frase y al discurso la lengua se limita a prescribir-les una forma reguladora (HUMBOLDT 1990: 98). som articulado. Por isso, parece inevitável concluir que o signo linguístico é sempre composto por dois elementos de natureza completamente psíquica: a imagem acústica e o conceito. Pode-se afirmar que não há possibilidade de separação entre os dois elementos do linguístico. signo Saussure detectou um problema de terminologia relativo ao uso que era feito da palavra signo. Ele relembrou que o uso corrente dessa palavra era como designativo apenas da imagem acústica. Argumentou que, quando se usa um determinado segmento sonoro – um signo –, esse segmento exprime um conceito, que leva à conclusão de que a parte perceptível implica diretamente a ideia total, ou seja, a imagem acústica e o conceito. Por isso, propôs que o termo signo fosse empregado para designar a unidade completa: conceito mais imagem acústica. Ainda, propôs, para desfazer qualquer ambiguidade, que o termo conceito fosse substituído por significado e o composto imagem acústica, por 3Para Saussure: os signos da língua significante. O significado está ligado ao significante, logo, A língua está composta por signos linguísticos quando alguém emite um som articulado (significante, concretos de natureza essencialmente psíquica. um som significante, ou melhor, aquilo que se Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p.55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 60 Milani, S. E. encarrega de fazer um signo significar), esse som imotivados, são relativamente motivados. Também corresponde a uma convenção social relativa a uma são relativamente motivados termos derivados que ideia ou coisa (o significado, algo significado, ou são variações num mesmo campo de significação: melhor, aquilo que o signo está encarregado de vaqueiro, fruteira, cerejeira, macieira etc. De todas as significar). mente formas que podem ser analisadas e apontadas como receptora o reconhecimento do significado (a ideia ou formas com origem sugestiva, Saussure é categórico coisa de quanto ao fato de que, por mais que se encontre relacionamento entre as duas partes do signo é sugestão num termo, não existe sugestão absoluta, realizado por um vínculo estabelecido socialmente porque a relação entre os termos, quando separados, que faz com que todos os falantes reconheçam essa que formam o termo derivado, nunca é absolutamente relação, combinação igual no resultado derivado, principalmente por causa espontânea entre todos. Em síntese, eles são das mutilações que as arrumações fonéticas tendem forçados, pela própria vontade ou necessidade de a fazer. Esse referida como significanteestimula pelo se signo). existisse O uma na processo constituição ou preservação do grupo, a aceitar os O sistema da língua, explicou Saussure, signos tal como eles se apresentam. O significante é repousa sobre o princípio irracional da arbitrariedade relacionado no pensamento do falante ao significado do signo. No entanto, as forças da racionalidade por um vínculo completamente arbitrário: não há tendem para a amenização desse caos natural do nenhuma relação de sugestão entre a estrutura sistema linguístico. Essa inteligência cria ordem e sonora e o significado. Assim, qualquer unidade certa regularidade em muitas das partes da língua. significante poderia ser relacionada a qualquer Desse modo, boa parte dos signos é recuperável pelo significado, do raciocínio lógico assentado nos hábitos e fórmulas da significado e nem a relação dele com a cadeia língua. Como a maior parte do sistema linguístico traz sincrônica. em si a estrutura que recebeu da natureza, esse em nada modificando o valor Saussure não discutiu a relação entre o mecanismo de reconstrução do sistema pela como uma significante e seu referente, ou a intenção originária racionalidade que criou o significante. Entretanto, explicou outra diminuição questão que também implica na sugestão ou não do absolutamente arbitrárias. Essa fórmula de organizar signo: a diferença entre o arbitrário absoluto e o o caos linguístico visa, certamente, a facilitar a arbitrário relativo. Mostrou a diferença que existe relação com a imensa quantidade de signos possíveis entre um termo que não é direcionado em hipótese na língua. Muito importante para a linguística, quanto alguma para o referente ou para o significado e um a mudanças nas línguas, é a afirmação: “a própria termo que traz em sua concepção acústica ou arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo de toda significante a ideia da coisa ou de sua significação. tentativa que vise a modificá-la” (SAUSSURE 1995: 87). Usou como exemplo dessas circunstâncias os As línguas não mudam em seu estado sistemático, numerais. Assim, vinte, dez, nove etc. não têm, em como linguagem estruturada. A mudança está numa sua estrutura, a ideia da quantidade a que fazem infidelidade relativa ao passado, acima de tudo o referência, ou seja, não apresentam sugestão alguma signo é continuidade, por isso tem condições de entre o significante e o significado. No entanto, em sofrer alterações: (SAUSSURE 1995: 89) “o signo está línguas como o francês e o português, os numerais em condições de alterar-se porque se continua” (…) como quatre-vingt “oitenta”, quatre-vingt-dix-huit deve ou ser estudado atenuação das estruturas “a infidelidade ao passado é apenas relativa”. “noventa e oito”, dezenove, dezoito, vinte e nove etc., O signo é instalado no discurso como unidade de acordo com sua estrutura acústica, oferecem uma concreta, material e forma física. Por isso, cada signo análise de seu significado. Esses signos, em relação ocupa um espaço fixo e determinado. Na verdade, o ao vinte, dez, significante toma espaço na construção discursiva por nove, que são completamente Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p. 55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 61 O signo modificá-la (SAUSSURE 1995: 87) (...) o signo está em condições de alterar-se porque se continua. O que domina, em toda alteração, é a persistência da matéria velha; a infidelidade ao passado é apenas relativa. Eis porque o princípio de alteração se baseia no princípio de continuidade (SAUSSURE 1995: 89). ter a característica de matéria, sendo realizado, desse modo, numa ordem que prevê o concurso do tempo. Esse é o espaço ocupado pelo significante: de acordo com o tempo empregado para realizá-lo. Isso equivale a dizer que dois significantes não ocupam o mesmo espaço/tempo, é necessário respeitar a forma física de cada um, porque eles sempre aparecem 4Para Bakhtin: signo ideológico e semiótico numa cadeia linear. A escrita, segundo Saussure, é particularmente constituída por essa característica do signo linguístico. Retoma-se a questão da mudança. De fato o afrouxamento da relação entre os elementos do signo acontece no uso ou na fala, portanto, no pensamento, quando os indivíduos fazem as palavras significar suas ideias particulares. Saussure não deixou dúvida de que a relação entre significante e significado seja arbitrária, até mesmo nos casos das onomatopeias, nas quais fica difícil afastar toda e qualquer sugestão entre o significante e o objeto/referente. Tal concepção deriva da atitude metodológica de Saussure. Quando estabeleceu como objeto de estudo a língua, estrutura concreta, o signo apresentado foi aquele que compõe na memória a linguagem estruturada, em que uma forma representa um conhecimento. Tomado por esse aspecto, afastada qualquer interferência dos indivíduos e de seus atos de particularização das ideias, tudo é absolutamente estável, durável e constante. A sugestão implica num processo de analogia entre os elementos e isso somente é possível quando um pensamento agita as ideias e os signos. Isso somente ocorre nos exercícios de fala. O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la “material”, é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato (...) o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces (...) esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro (SAUSSURE 1995: 80) (...) o caráter arbitrário do signo nos fazia admitir a possibilidade teórica da mudança; aprofundando a questão, vemos que, de fato, a própria arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo de toda tentativa que vise a Na obra Marxismo e filosofia da linguagem, Bakhtin (1995) propôs o signo como semiótico e como produto ideológico de uma realidade. Para ser semiótico, todo signo precisa de um corpo físico/ material e uma significação. A semiose ocorre exatamente no encontro entre essas duas partes do signo: a representação material e a significação. Importante dizer que, nessa obra, o ponto em debate é a linguagem, ou seja, da estrutura realizada pelo pensamento para significar. Desse modo, toda representação ideológica deriva de uma situação social organizada por indivíduos. A materialidade da linguagem, independentemente de qual realidade o signo estiver atrelado, sempre é natural ou social, mas sempre depende do indivíduo, ou seja, de seus sentidos e dos valores envolvidos. Bakhtin disse (1995) que tudo que for ideologia tem um referente fora de si mesmo, então, têm-se sempre duas realidades: uma ideológica e uma material (social ou natural). Se tudo que é ideológico é signo, porque sem signos não existiria ideologia, e se todo signo é semiótico, porque remete às duas realidades, então, tudo que é ideológico é semiótico e possui uma realidade fora da ideologia. Logo, a representação em signos de uma coisa é sempre uma materialização em outra substância, ou infraestrutura de linguagem, de uma realidade física, social ou natural, em uma forma, ou superestrutura. Existem dois mundos, um que se costuma chamar de real, em que se encontram os fenômenos da natureza, o material tecnológico e os artigos de consumo, e outro que Bakhtin chamou de mundo dos signos, que se torna particular, porque “todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica” (BAKHTIN 1995: 32). Esse universo de signos é também o universo da ideologia. O encontro entre as partes do signo coloca em jogo o ideológico e o valor Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p.55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 62 Milani, S. E. semiótico. Tudo que é ideológico tem valor semiótico. comunicação e os sons articulados como o meio mais Para ter valor semiótico, tudo precisa ser signo, logo, utilizado. Uma palavra está na dependência da tudo que é signo tem valor semiótico. articulação, por isso representa um signo interior, O signo é pertencente ao mundo exterior como porque expressa não somente um significado social qualquer objeto, porque ele existe somente na previamente interação entre os indivíduos. Desse modo, qualquer idiossincrasias típicas dos falantes e do momento em e todos os signos pertencem ao social, determinados que estiver sendo produzida, ou seja, representa pelo ideológico que é a matéria social dos signos. A estados questão importante a ser salientada é a de que, para raciocínios e ideologias. que existam os signos, é preciso que haja sociedade, estabelecido, emotivos, Concretamente, como as mas paixões, palavras também vontades, representam ou seja, que os indivíduos estejam socialmente signos organizados, portanto, os signos são elementos das subsistem enquanto estiverem em uso, ou seja, instituições sociais. Daí poder aplicar com absoluta qualquer criação ideológica deve ser revitalizada pelo segurança aos signos linguísticos os caracteres de discurso. O discurso produz uma imanência, a partir ideológicos e de semióticos por excelência, porque de são pertencentes à língua. Eles são criados a partir produzidas apoiada nas palavras, que são os de uma função ideológica, para representá-la, desse verdadeiros signos das ideologias. Desse modo, o modo, sempre estarão determinados por ela. Signo e discurso revitaliza constantemente as palavras como função ideológica jamais poderiam se separar. signo de uma ideologia, se acontecer de parar esse ideológicos estabelecidos uma estrutura de socialmente ideologias e previamente A unidade mais conhecida da língua é a processo, o signo desaparece. Isso não quer dizer palavra, segundo Bakhtin, (1995: 36) “um fenômeno que a palavra desapareceu, ela pode continuar ideológico por excelência”. Disse isso e, para existindo como signo de outras ideologias. Assim completar e explicar, disse: “a palavra é o modo mais sendo, toda a estrutura ideológica em uso, de estudo puro e sensível de relação social”. Para trocar em ou de análise da linguagem, está fundamentada miúdos, um pouco mais, as palavras existem como numa filosofia do signo ideológico. Esse pressupõe objetos nas relações de troca de informação e de uma manifestação do pensamento nos objetos comercialização sociais, as palavras, e na estrutura de linguagem entre os indivíduos. Deve-se considerar também o fato de elas serem as portadoras do conhecimento e nelas o pensamento específica para comunicação verbal, a língua. Toda a relação entre infraestrutura e dar forma ao conhecimento. Elas apresentam uma superestrutura, segundo Bakhtin, é de causalidade. característica geral: são ideologicamente neutras. Todo processo de transformação ideológica percorre São são o caminho que vai da materialidade do discurso, som atualizadas no discurso, podendo preencher qualquer articulado na linguagem verbal, até o conjunto da função ideológica. Isso significa que dependem do estrutura indivisível. As mudanças partem sempre do uso do falante para se atualizarem como unidade da arranjo material e faz remissão ao conceito. Desse língua e da ideologia. modo, considerando o processo inteiro, é ideologicamente específicas quando O ser humano pode se comunicar por muitas formas de linguagem. A ideologia pode na superfície do discurso onde as formas de ideologia ser variam. É a materialidade substanciada da forma do transmitida, desde a enunciação, por qualquer um discurso que faz o sentido ser significado e faz dos sentidos, fazendo uso da substância que possa também variar os valores e as ideologias. ser uma forma reconhecível psiquicamente. Porém, a Há uma separação entre sentido e comunicação na vida cotidiana privilegia o uso da transformação ideológica. É claro que isso ocorre no palavra, por esse prisma pode-se dizer que Bakhtin interior de um contexto. Qualquer transformação no reconheceu a primazia da língua como veículo de espaço físico temporal e espacial de interferência da Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p. 55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 63 O signo ideologia resulta num novo sentido, como duas partes individualidade. Essas são elementos do pensamento que se encaixam com perfeição. Toda mudança parte que não se separam no interior de nenhuma estrutura da instalação do pensamento de um indivíduo nesse de linguagem e são processos prototipicamente espaço físico. Isso significa que a reação que realizados no discurso linguístico. ocorreria na estrutura da linguagem ou ideologia Bakhtin estudou a comunicação pelo viés da provém do pensamento dos indivíduos, são eles que manifestação são atingidos pelas mudanças, tanto como reflexo linguagem, o órgão do cérebro responsável pelas como refração do signo ideológico. Bakhtin, conforme estruturações. Considerou a língua como o principal exposto acima, chama esses dois elementos da mecanismo da comunicação em sociedade, sendo a formação palavra o lugar privilegiado da manifestação das da comunicação comunicação, linguística, em de específico conjunto único da e ideologias. do pensamento, Separou em portanto, infraestrutura da e indivisível, ou de toda esfera ideológica, ou de superestrutura os elementos que compõem o signo: superestrutura e de infraestrutura. da primeira faz parte tudo o que é exterior ao No signo linguístico essa relação é claramente pensamento e da segunda tudo o que é interior, e explicita porque a comunicação verbal é intensa e descartou a possibilidade de divisão mesmo que muito frequente por isso assimila todos e mínimos metodológica entre essas partes. É desse ponto de ajustes que ocorram na infraestrutura. Pode-se vista, da linguagem estruturada numa materialidade, avançar na questão linguística e fazer lembrar que o sons articulados na linguagem verbal, que definiu o sistema verbal em sons articulados produz signos que signo como uma atualização num material de substituem qualquer realidade no pensamento. Assim, infraestrutura da ideologia significada na forma de toda forma de pensamento se realiza primeiro na uma superestrutura. infraestrutura do signo ideológico, depois em sons articulados dentro da superestrutura da língua. Sendo então o espaço privilegiado da comunicação entre os seres humanos, o material verbal do discurso linguístico apresenta as mínimas alterações que o pensamento possa ter alcançado, mantendo uma refração perfeita entre a esfera ideológica, língua e cultura e entre a infraestrutura, sons articulados e pensamento. Bakhtin nomeou a realidade refletida e refratada pelo signo como psicologia social, como fez Saussure, e como espírito do povo, como fizera Humboldt. Saussure, no entanto, não discutiu o processo de materialização na fala. Humboldt no início do século XIX o fizera. Para ele, o discurso é sempre nacionalmente individual, ou seja, manifesta o espírito do povo e a idiossincrasia. Bakhtin disse que na enunciação a psicologia social se manifesta inteiramente na palavra, no gesto e no ato. No enunciado, o indivíduo materializa tudo o que de ideológico contém e mantém dentro de si. Sendo ele uma enunciação, inevitavelmente o princípio é de uma continuidade entre a coletividade e a Os signos também são objetos naturais, específicos, e, como vimos, todo produto natural, tecnológico ou de consumo pode tornar se signo e adquirir, assim, um sentido que ultrapasse suas próprias particularidades. Um signo não existe apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico, etc. Todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica (isto é: se é verdadeiro, falso, correto, justificado, bom, etc.) . O domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico. Tudo que é ideológico possui um valor semiótico (BAKHTIN 1995: 32) (...) esse espaço semiótico e esse papel contínuo da comunicação social como fator condicionante não aparecem em nenhum lugar de maneira mais clara e completa do que na linguagem. A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social (BAKHTIN 1995: 36). 5Conclusão A questão historiográfica neste artigo é a da Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p.55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 64 Milani, S. E. continuidade conceitual: existe obviamente uma as coisas. profunda ligação entre os três estudiosos. Foi Bakhtin estudou como a estrutura se torna justamente a discussão que Bakhtin fez sobre os significação e como o pensamento se torna estrutura. conceitos de Humboldt e de Saussure que despertou O sentimento (ou sensação) existe na sociedade para o interesse em dispor os três num mesmo lugar. No todos os indivíduos, mas, para a explicitação da entanto, sensação numa forma estruturada, é preciso que um o texto lida com a dos três, por isso metodológica individualidade evitou-se a deles consiga completar todos os elementos dessa comparação, optou-se pela síntese de cada um em sensação no pensamento e então possa realizar a justaposição, permitindo uma leitura cronológica e estrutura da linguagem: somente assim ele poderá comparativa do tema. Para propor a conclusão, é dar preciso lembrar que Humboldt foi um Gramático composição. Uma vez estruturada na superestrutura Comparatista, do período platônico-antropocêntrico e e nomeada, outros indivíduos poderão completar no da afirmação do racionalismo. Saussure foi um pensamento as sensações e adaptá-las à realidade e filólogo da neogramática e do cientificismo. E Bakhtin à ideologia de seus discursos. nome a essa sensação e explicar sua viveu numa nação subjugada por uma filosofia O signo, para os três pensadores, tem sua opressora e muito violenta, em que os mecanismos definição adaptada ao método de cada um, por isso o de coerção ideológica estavam muito evidentes e evidente mecanismo de ruptura de cada conceito. O operavam no sentido de igualar todos os indivíduos. signo para Humboldt é marcado por pura identidade: Humboldt entendeu a linguagem pelo elemento da materialidade e da individualidade: o som os sons articulados são identificados na língua. Mesmo que eles pudessem ser vinculados à articulado. Para ele, a beleza dos elementos da articulação de sons muito semelhantes em outras língua, a identidade nacional, o espírito da língua, a línguas, jamais um falante nativo de uma língua será perfeição do discurso etc. estavam na abundância e capaz de se disfarçar em falante nativo de outra precisão e língua. Os conceitos expressos por esses sons principalmente na competência da língua nacional e articulados também estão vinculados à cultura, de tal da forma que nunca poderiam ser plenamente expressos língua dos do sons articulados, falante para inclusive transmitir seus pensamentos. Para Humboldt, fora do elemento nos material e racional não existiria manifestação, numa Racionalmente, todos os elementos da natureza e da evidente asseveração dos conceitos racionalistas língua nacional, como a tradutora principal da kantianos para a metafísica e o inatismo, nem natureza, são únicos (individuais) e não poderiam perfeição, logo, o grotesco e o sublime eram estágios nunca ser repetidos. perfeitos de aperfeiçoamento. sons articulados de outras línguas. Para Saussure, o signo é uma representação Saussure tomou a língua, a estrutura básica social. Ele não estudou, sem negar a existência, os para as relações sociais, como ponto de partida para elementos da fala e se restringiu ao contexto da suas pesquisas e conclusões. Definiu didaticamente sociedade para explicar a comunicação entre os os três elementos que comporiam o exercício do seres humanos. Assim, o signo passa a ser algo fora pensamento e da inteligência: linguagem, língua e do controle do indivíduo, pertencendo à coletividade. fala. A linguagem como abstrata e inata, também no Do ponto de vista da coletividade, a relação entre sentido kantiano, seria inata porque é física. A fala significante e significado é puramente arbitrária, a como a materialização do pensamento, tendo como única análise possível é da convenção social entre formas, para o revestimento plástico, os fonemas, que uma articulação de sons e um conceito, ambos pré- são unidades compostas na articulação de sons. A estabelecidos socialmente. A língua é a estrutura que língua, a forma para o pensamento, se torna a se coloca entre os indivíduos e os signos, seus fórmula (estrutura de linguagem) para realizar todas objetos, e que também se coloca entre os indivíduos Signo [ISSN 1982-2014]. Santa Cruz do Sul, v. 40, n. 68, p. 55-65, jan./jun. 2015. http://online.unisc.br/seer/index.php/signo 65 O signo e que jamais pertenceria somente a um deles. Bakhtin leu Humboldt e Saussure e propôs o signo como a realização do encontro entre o pensamento e a articulação. Oprimido pelas estruturas sociais e manifestando-se por essas estruturas sociais, principalmente a língua, o indivíduo faz das ideologias sociais suas ideologias e aplica seus pensamentos (ideologias) aos sons articulados. Nesse momento ocorre a semiose, logo, todo signo é semiótico. Inevitavelmente, todo signo é pleno dos elementos ideológicos das estruturas e pleno dos arranjos da identidade ideológica do indivíduo que atualiza a estrutura pelo discurso. É pela estrutura da linguagem que o signo pode existir como semiose e é dessa perspectiva que Bakhtin o propôs. É inevitável perceber que a visão de Bakhtin, como leitor dos outros dois, se aproxima mais da de Humboldt do que da de Saussure. Afastando questões de contexto, a linguagem é intimamente relacionada ao pensamento, lugar em que todos os seres inteligentes são absolutamente individuais. A perspectiva do som articulado e da linguagem prima pela marca da individualidade, ou seja, é preciso ver o que tem de diferente cada um de seus elementos, na estruturação e na manifestação, para saber o que cada um é. Ao contrário, a língua se coloca em meio àquilo que todos e cada um dos elementos de uma coletividade têm em comum, obrigando a agrupar as diferenças, nessa perspectiva, como afirmou CONDILLAC. É. Bonnot de. Traité des sensations. Paris, Fayard, 1754. COSERIU, Eugenio. O homem e sua linguagem. Rio de Janeiro/ São Paulo, Presença/EDUSP, 1982. 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