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ISSN on-line: 1982-2014
Doi:10.17058/signo.v40i68.3461
Recebido em 21 de Março de 2013
Aceito em16 de Abril de 2015
Autor para contato:
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O signo para Humboldt, para Saussure e para Bakhtin
The sing for Humboldt, for Saussure and for Bakhtin
Sebastião Elia s Mila ni
Universidade Federal de Goiás–UFG – Goiânia – Goiás - Brasil
Resumo:Este artigo mostra três das principais concepções de signo dos estudos
sobre a linguagem, diferenças e semelhanças. Para Humboldt, o signo é a
representação material ou a imagem acústica para o conceito, a ele se soma a
identidade do som articulado da língua. Essas três partes, signo, conceito e identidade
do som, constroem as formas da língua que são as palavras. Para Saussure, signo é o
nome da relação entre significante e significado. Saussure propôs a substituição dos
termos imagem acústica e conceito, que estavam plenos de sugestionalidades e
conceituações prévias, pelos termos significante e significado. Para Bakhtin, o signo é
a forma da estrutura que realiza em som articulado um sentido, ideologicamente
completado pelo pensamento. O encontro entre o som articulado e o conceito dá o
elemento resultante da semiose, por isso todo signo é semiótico.
Palavras-chave:Signo. Humboldt. Saussure. Bakhtin.
Abstract:This article shows three of the principal sign conceptions of the studies about
language, differences and similarities. The sign is for Humboldt the material
representation, or sound-image, of the concept, besides the identity of the articulated
language sound; these three parts, sign, concept and sound identity, make the form of
the language that is the word. The sign is for Saussure the name of the relation
between the signified and the signifier. Saussure proposed the substitution of the terms
sound-image and concept, that were full of suggestions and prior conceptualization, to
the terms signified and signifier. The sign in Bakhtin is the form of the structure that
accomplishes an ideologically sense completed by thought through articulated sound.
The meeting between the articulated sound and the concept gives the resulting
element of semiosis, so every sign is semiotic.
Keywords: Sign. Humboldt. Saussure. Bakhtin.
Signo.SantaCruzdo Sul, v.40,n. 68,p. 55-65, jan./jun. 2015.
A matéria publicada nesse periódico é licenciada sob forma de uma
Licença CreativeCommons – Atribuição 4.0 Internacional
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
56
Milani, S. E.
Brugmann etc., entre esses, Ferdinand de Saussure
1 Introdução
que, ao explicar a terminologia da Linguística,
O ponto de partida neste artigo é o de que
explicou também como se deveria empregar o termo
Humboldt explicou o signo pela perspectiva do som
signo e suas partes, o significante e o significado.
articulado, o de que Saussure o fez pela perspectiva
Assim, após o Curso de Linguística Geral, o conceito
do sistema da língua e o de que Bakhtin o fez pela
primeiro para o termo signo é significante mais
perspectiva da estrutura da linguagem. Os três
significado, unidade arbitrária que pertence ao
entenderam a comunicação humana como uma
universo concreto da língua.
estrutura que dá suporte ao pensamento. Nos três a
Durante o século XX, além de Bakhtin,
preocupação com a demonstração do método é tão
apresentado adiante neste artigo, outros pensadores
grande quanto com a exposição dos conceitos.
estudaram a estrutura da língua, já como parole, a
Assim, os três pontos de vista são completos e exatos
partir da relação entre significante e significado.
na análise que fazem do objeto que adotaram para
Provavelmente, a mais brilhante de todas e também a
estudo.
mais profícua foi a de Louis T. Hjelmslev: a
Desde a antiguidade clássica, especificamente
Glossemática. Hjelmslev apresentou uma divisão do
Platão como o mais antigo, discutia-se a relação na
enunciado em Plano de Expressão e Plano de
linguagem entre o pensamento e sua manifestação.
Conteúdo, ambos comportando uma relação entre
Sempre se falou que a manifestação acontecia por
forma e substância.
meio da articulação de sons e que o pensamento
Tanto Saussure, como Whitney, Schleicher,
provia a significação e, em Platão, no Crátilo, já está
Bakhtin, Hjelmslev e também Eugenio Coseriu, Noam
explicada essa relação. Portanto, os conceitos aqui
Chomsky, Émile Benveniste etc., pagariam muitos
abordados são continuidade, e o que se pode mostrar
tributos a Wilhelm von Humboldt. Humboldt aplicaria a
de mudança entre esses pensadores é o método com
noção platônica, já interpretada por Condillac, Herder
o qual cada um abordou o tema, gerando a cada vez
e Immanuel Kant, entre outros, ao estudo da
uma ruptura.
linguagem.
Estabeleceu dois
extremos para
a
terminologia
linguagem: forma interna e forma externa. Na forma
metalinguística, o termo signo aparece com mais de
interna, todas as estruturas linguísticas são iguais e,
uma significação específica. Mas, ao longo da
na forma externa, todas as estruturas linguísticas são
história, em se tratando da relação entre os
diferentes. Aplicou-se em estudar a diversidade das
elementos envolvidos na realização da articulação,
formas das línguas a partir do som articulado e
nomeou-se essa relação também como palavra e
concluiu que é no som articulado que as línguas e
como nome. Citando-se alguns autores, como
todos os seus elementos se tornam diferentes entre
amostragem, em Platão e também em Aristóteles, foi
si.
Em
se
tratando
de
chamada de nome e de palavra. Na Gramática de
Port-Royal, de Arnauld e Lancelot, de signo e de
2 Para Humboldt: signo, conceito e identidade
palavra. Em John Locke e em Etiéne B. de Condillac,
de palavra. De forma geral, o termo palavra continuou
Como disse Humboldt, os sons articulados se
desde a antiguidade até a pós-modernidade usado
distinguem
para representar metalinguisticamente a relação entre
intencionalidade e por sua capacidade de significar. A
a imagem acústica e o conceito.
comparação com gritos e com a sonoridade musical
dos
outros
sons
animais
pela
Quando a Linguística foi feita ciência, durante
mostra que os sons articulados não podem ser
o século XIX, o termo signo assumiria relevância para
descritos por suas características, mas somente pela
a metalinguagem nesse contexto. Podem ser citados
maneira como são produzidos. O som, na articulação,
Friedrich
é somente uma forma de torná-la mais facilmente
Schleicher,
William
D.
Whitney,
Karl
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O signo
perceptível, sendo possível separá-la dele. Então, de
formação da língua, às sílabas, unidades sonoras,
acordo com Humboldt, não se fala somente porque se
vinculam-se conceitos, convertendo-as em palavras,
pensa, mas porque se possui uma capacidade de
ou seja, torna-se palavra a unidade sonora a que se
juntar o pensamento e os instrumentos da língua.
vincula um conceito. Geralmente são necessárias
A contundência dos sons articulados, segundo
várias sílabas para a composição de uma base
Humboldt, faz com que sejam mais facilmente
sonora para um conceito. Disse Humboldt que a
percebidos. Quanto mais enérgica for a intenção de
palavra é composta de uma dupla unidade: a do
produzi-los, mais nítidos eles serão, pois se formam
conceito e a do som. É como palavras que as
na junção ou na oposição com outros sons, e esta
unidades sonoras se convertem em fala, já que, na
cooperação é necessária para a perfeição do
carência de conceito, elas não podem ser entendidas,
discurso. A diversidade dos sons, que obriga cada
ou não existem. Segundo Humboldt, se a língua for
povo a realizar somente os sons linguísticos que
um mundo à parte, descrito objetiva e subjetivamente
interessam
pela
pelo indivíduo a partir das impressões que recebe da
diversidade de órgãos da fonação que interferem na
natureza, as palavras são os objetos individuais do
articulação, pelo lugar em que esta é produzida e
mundo, que se compõem aos olhos dos indivíduos
pelas características do som a ser produzido. As
como parte independente e dependente do todo: são
características do som devem se fundir à articulação
objetos distintos e por isso devem ser preservadas
e somente as mudanças necessárias e próprias do
em suas formas distintivas.
para
sua
língua,
é
gerada
som devem acontecer. Para que não ocorram
No
livro
Uber
die
degenerações, jamais uma característica de um som
VerschiedenheitdesmenschlichenSprachbauesundihre
deve ser aplicada a outro que não a tenha por sua
nEinflussauf
natureza.
geistigeEntwicklungdesMenschengeschlechts [1831-
die
O sistema fônico se forma dos modos pelos
1835], obra traduzida para o espanhol como Sobre
quais os sons articulados se associam na formação,
ladiversidad de laestructuradellenguaje humano y su
por semelhança ou por oposição de séries. As séries
influencia
se formam a partir da totalidade de possibilidades das
lahumanidad(1990), Humboldt escreveu (1990: 98)
relações entre os sons. Na evolução fonética das
“chamamos palavra ao signo que corresponde a um
línguas, sons articulados muito próximos uns dos
conceito”. A forma da palavra corresponde às
outros tendem a se fundir ou a se confundir. De
unidades que encerram em si uma significação, ou
acordo com Humboldt, quanto mais precisa for
um conceito. O termo signo equivale à unidade
mantida a distinção dos sons da língua, mais rica em
sonora que leva à correspondência de um conceito.
possibilidades e agradável ao ouvido estrangeiro ela
No pensamento
será. Quanto à riqueza em sons, Humboldt fala na
necessidade da articulação dos sons. No mesmo
abundância de sons necessários para a fala e na
parágrafo, “a sílaba forma uma unidade sonora; só se
limitação a um número de sons necessários para um
converte em palavra quando obtém uma significação
equilíbrio entre eles. Esses fatores têm que brotar da
própria”,
língua, que é como uma imensa e rica organização
referência à condição que deve ter um som
em que todas as partes estão relacionadas entre si.
articulado, como sílaba, para ganhar status de língua.
De qualquer ângulo que ela seja estudada, ao falar,
As palavras mostram dupla unidade: sonora e
os homens somente utilizam uma pequena parte
conceitual. A língua tem sempre uma forma típica na
dessa organização, mas nessa pequena parte está
cultura para representar cada conceito. Isso é uma
sempre pressuposta e atuante a organização inteira.
constante. Logo, a expressão de um conceito por
sobre
eldesarrollo
espiritual
de
tem-se a ideia, que gera a
Humboldt,
obviamente,
está
fazendo
A língua forma, pelo processo de juntar sons
meio de sons articulados segue o processo típico do
articulados, unidades sonoras chamadas sílabas. Na
modo como um povo costuma fazer: os sons
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Milani, S. E.
articulados já estão previamente definidos na língua e
percebido
os conceitos seguirão o modo da cultura, juntos
representarem, há uma grande lacuna que separa o
formarão a unidade da palavra na fala.
mundo dos objetos linguísticos do mundo dos outros
pelo
indivíduo.
Apesar
de
se
Humboldt propõe que se veja a língua como
objetos reais. A palavra é composta, então, de um
um segundo mundo, sob a perspectiva do indivíduo,
conceito de algo que existe no mundo e que, ao se
do modo como ele recebe as sensações do mundo
formar no interior do indivíduo, é dado a conhecer aos
verdadeiro. Desse modo as palavras seriam os
outros indivíduos através da articulação sonorizada. A
objetos individuais desse segundo mundo, e elas são
articulação, antes de tudo, possui uma identidade
indivíduos, cujas formas devem ser preservadas. Ou
que, reconhecida como um som, pertencente à
seja, para que a palavra cumpra sua função de
língua. A articulação pode se tornar um signo, isto é,
comunicar é preciso que ela mantenha a estrutura
um símbolo que leva os indivíduos a identificar o
sonora de sua forma, para também manter a do
conceito, a língua, o indivíduo, a nação etc.
sentido. Nessa condição não há censura, na medida
Resumindo: a palavra é o signo associado a um
em que a ideia está pronta na mente, o pensamento
conceito e à identidade sonora de uma cultura. Nos
usará os recursos da língua, por meio dos sons
casos
articulados, para dar a conhecer essa ideia. Nesse
reconhecida como parte da língua, não esteja clara
fato, não é a fala que se compõe de palavras, mas as
suficiente para virar signo, o conceito não será
palavras que nascem do conjunto do discurso.
identificado e o som não será palavra.
em
que
a
identidade
sonora,
mesmo
Claramente, o que Humboldt está propondo é que o
Essa divisão da palavra, porém, pode se tornar
sentido das formas depende do uso delas no
mais perceptível: ao ouvir /ba/, um falante da língua
discurso.
reconhecerá sem dificuldades que se trata de um som
A palavra é a última instância em que atua a
de sua língua materna. Portanto, encontrou uma
ação formadora da língua. Ela é o produto básico da
identidade para este som, que é, com certeza, um
língua. No discurso, a língua se limita a prescrever
símbolo da língua, uma vez que ela foi reconhecida
uma forma reguladora para as palavras, que,
neste som. Por isso /ba/ é um signo dessa língua. No
enquanto formas prontas, são um conjunto de
entanto, /ba/ em princípio não possui conceito e, para
possibilidades semânticas, organizadas em torno de
que se forme um conceito, vai-se precisar de mais
um sentido. No discurso, pela relação estabelecida
unidades sonoras adicionais. Segundo Humboldt, a
com outras palavras e com a ideia, elas têm definido
identificação como som de uma língua, ou mesmo
seu papel. Importante notar que a língua, na
como um som articulado, é a identidade do som, mas
composição do discurso, limita-se a exigir um
não é suficiente para ser signo de um conceito. É
emprego
de
interessante observar que, em geral, para ter uma
possibilidades semânticas. Nessa escolha atua a
palavra, os seres humanos fazem uso de vários sons,
individualidade do falante, que realiza a configuração
que são certamente frutos de uma elaboração e de
a ser dada. Mesmo que uma palavra seja empregada
um amadurecimento linguísticos que se deram ao
isoladamente, seu entendimento está atrelado a um
longo de gerações. Então, /ba/ não é uma palavra,
continuum, um contexto ou uma narrativa, e esse
porque não possui conceito, mas é um símbolo da
entendimento, para ser correto, depende dos fatores
língua (portuguesa), porque faz parte dela. Logo, para
linguísticos que compõem esse continuum estarem
ser palavra, é preciso ter um símbolo ou conjunto de
desenvolvidos na língua.
símbolos (sons) que, ao se transformarem em signo,
que
esteja
previsto
no
conjunto
A palavra é, pois, um objeto que substitui na
adquirem conceito, ou que se transformem em signo
mente dos indivíduos outro objeto real. O objeto
ao adquirirem conceito – há simultaneidade nesse
linguístico representa as características do objeto
processo pelas explicações de Humboldt.
real, segundo o modo pelo qual esse objeto real foi
Humboldt estudou a comunicação verbal pelo
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O signo
aspecto da manifestação em sons articulados. Para
Saussure, no Curso de Linguística Geral (1995: 80),
ele era na materialização que estava a excelência de
afirmou que “o signo linguístico une não uma coisa e
uma língua, tanto do ponto de vista da nação como
uma palavra, mas um conceito e uma imagem
do
determinados
acústica”. Na língua só existem imagens acústicas
estiverem os sons articulados de um discurso mais
feitas de unidades de sons articulados: os fonemas.
exatos serão os conceitos vinculados. Como som
Saussure demonstrou que não são os sons que foram
articulado, o signo representa os elementos da
articulados
linguagem, da língua e do pensamento, bem como do
psíquicas.
indivíduo.
discurso.
Quanto
Existe
na
mais
bem
materialização
em
sons
pelo
falante,
mas
as
impressões
O som é uma coisa concreta, como coisa
articulados – imagem acústica, além do estímulo
concreta
material sensível e o conceito, a identidade da língua,
processamento das informações no cérebro, assim, o
como som inconfundível entre qualquer língua do
que é transportado desde os ouvidos até o cérebro
mundo, e a identidade do falante, cujo som articulado
são as impressões psíquicas que os sons articulados
em sua voz é inconfundível entre todos os falantes. A
causam nos indivíduos que recebem a mensagem.
língua contribui com seus aspectos tipológicos e de
Então, a imagem acústica não é material e sim
cultura e o indivíduo com seu conhecimento da língua
psíquica. A sensação de que ela é material deve-se à
e na língua e seu aparelho fonador: a qualidade do
necessidade que os ouvintes têm de separá-la do
discurso é resultado da intersecção desses fatos
conceito, que é claramente psíquico. Outra razão é o
aprendidos.
fato de a imagem acústica ter uma origem externa ao
não
pode
chegar
até
o
centro
de
indivíduo, na forma de uma estrutura física, que é o
Llamamos palabra al signo que corresponde
a un concepto. La sílaba forma una unidad
sonora; solo se convierte en palabra cuando
obtiene una significatividad propia, lo que con
frecuencia requiere la unión de varias sílabas.
Por eso la palabra muestra una doble unidad,
la del sonido y la del concepto. Es así como
las palabras se convierten en los verdaderos
elementos del habla, ya que las sílabas
carentes de significación propia no pueden
considerarse realmente como tales. Si
imaginamos la lengua como un segundo
mundo, objetivado por el individuo desde sí
mismo a partir de las impresiones que recibe
del mundo verdadero, las palabras serán los
objetos individuales de ese mundo, y por ello
les conviene La condición de individuos, que
debe preservarse también en su forma (...) En
la realidad no es el habla la que se compone
de palabras que le preceden, sino que son, a
la inversa, las palabras las que nacen del
conjunto del discurso (…) La palabra es el
límite hasta el cual la lengua ejerce
espontáneamente su labor conformadora. La
palabra simple es la flor perfecta brotada de
ella. En la palabra el producto terminado
pertenece a la lengua misma. En cambio a la
frase y al discurso la lengua se limita a
prescribir-les
una
forma
reguladora
(HUMBOLDT 1990: 98).
som articulado. Por isso, parece inevitável concluir
que o signo linguístico é sempre composto por dois
elementos de natureza completamente psíquica: a
imagem acústica e o conceito.
Pode-se afirmar que não há possibilidade de
separação entre os dois elementos do
linguístico.
signo
Saussure detectou um problema de
terminologia relativo ao uso que era feito da palavra
signo. Ele relembrou que o uso corrente dessa
palavra era como designativo apenas da imagem
acústica. Argumentou que, quando se usa um
determinado segmento sonoro – um signo –, esse
segmento exprime um conceito, que leva à conclusão
de que a parte perceptível implica diretamente a ideia
total, ou seja, a imagem acústica e o conceito. Por
isso, propôs que o termo signo fosse empregado para
designar a unidade completa: conceito mais imagem
acústica. Ainda, propôs, para desfazer qualquer
ambiguidade, que o termo conceito fosse substituído
por significado e o composto imagem acústica, por
3Para Saussure: os signos da língua
significante.
O significado está ligado ao significante, logo,
A língua está composta por signos linguísticos
quando alguém emite um som articulado (significante,
concretos de natureza essencialmente psíquica.
um som significante, ou melhor, aquilo que se
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Milani, S. E.
encarrega de fazer um signo significar), esse som
imotivados, são relativamente motivados. Também
corresponde a uma convenção social relativa a uma
são relativamente motivados termos derivados que
ideia ou coisa (o significado, algo significado, ou
são variações num mesmo campo de significação:
melhor, aquilo que o signo está encarregado de
vaqueiro, fruteira, cerejeira, macieira etc. De todas as
significar).
mente
formas que podem ser analisadas e apontadas como
receptora o reconhecimento do significado (a ideia ou
formas com origem sugestiva, Saussure é categórico
coisa
de
quanto ao fato de que, por mais que se encontre
relacionamento entre as duas partes do signo é
sugestão num termo, não existe sugestão absoluta,
realizado por um vínculo estabelecido socialmente
porque a relação entre os termos, quando separados,
que faz com que todos os falantes reconheçam essa
que formam o termo derivado, nunca é absolutamente
relação,
combinação
igual no resultado derivado, principalmente por causa
espontânea entre todos. Em síntese, eles são
das mutilações que as arrumações fonéticas tendem
forçados, pela própria vontade ou necessidade de
a fazer.
Esse
referida
como
significanteestimula
pelo
se
signo).
existisse
O
uma
na
processo
constituição ou preservação do grupo, a aceitar os
O sistema da língua, explicou Saussure,
signos tal como eles se apresentam. O significante é
repousa sobre o princípio irracional da arbitrariedade
relacionado no pensamento do falante ao significado
do signo. No entanto, as forças da racionalidade
por um vínculo completamente arbitrário: não há
tendem para a amenização desse caos natural do
nenhuma relação de sugestão entre a estrutura
sistema linguístico. Essa inteligência cria ordem e
sonora e o significado. Assim, qualquer unidade
certa regularidade em muitas das partes da língua.
significante poderia ser relacionada a qualquer
Desse modo, boa parte dos signos é recuperável pelo
significado,
do
raciocínio lógico assentado nos hábitos e fórmulas da
significado e nem a relação dele com a cadeia
língua. Como a maior parte do sistema linguístico traz
sincrônica.
em si a estrutura que recebeu da natureza, esse
em
nada
modificando
o
valor
Saussure não discutiu a relação entre o
mecanismo
de
reconstrução
do
sistema
pela
como
uma
significante e seu referente, ou a intenção originária
racionalidade
que criou o significante. Entretanto, explicou outra
diminuição
questão que também implica na sugestão ou não do
absolutamente arbitrárias. Essa fórmula de organizar
signo: a diferença entre o arbitrário absoluto e o
o caos linguístico visa, certamente, a facilitar a
arbitrário relativo. Mostrou a diferença que existe
relação com a imensa quantidade de signos possíveis
entre um termo que não é direcionado em hipótese
na língua. Muito importante para a linguística, quanto
alguma para o referente ou para o significado e um
a mudanças nas línguas, é a afirmação: “a própria
termo que traz em sua concepção acústica ou
arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo de toda
significante a ideia da coisa ou de sua significação.
tentativa que vise a modificá-la” (SAUSSURE 1995: 87).
Usou como exemplo dessas circunstâncias os
As línguas não mudam em seu estado sistemático,
numerais. Assim, vinte, dez, nove etc. não têm, em
como linguagem estruturada. A mudança está numa
sua estrutura, a ideia da quantidade a que fazem
infidelidade relativa ao passado, acima de tudo o
referência, ou seja, não apresentam sugestão alguma
signo é continuidade, por isso tem condições de
entre o significante e o significado. No entanto, em
sofrer alterações: (SAUSSURE 1995: 89) “o signo está
línguas como o francês e o português, os numerais
em condições de alterar-se porque se continua” (…)
como
quatre-vingt
“oitenta”,
quatre-vingt-dix-huit
deve
ou
ser
estudado
atenuação
das
estruturas
“a infidelidade ao passado é apenas relativa”.
“noventa e oito”, dezenove, dezoito, vinte e nove etc.,
O signo é instalado no discurso como unidade
de acordo com sua estrutura acústica, oferecem uma
concreta, material e forma física. Por isso, cada signo
análise de seu significado. Esses signos, em relação
ocupa um espaço fixo e determinado. Na verdade, o
ao vinte, dez,
significante toma espaço na construção discursiva por
nove, que
são completamente
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O signo
modificá-la (SAUSSURE 1995: 87) (...) o signo
está em condições de alterar-se porque se
continua. O que domina, em toda alteração, é
a persistência da matéria velha; a infidelidade
ao passado é apenas relativa. Eis porque o
princípio de alteração se baseia no princípio
de continuidade (SAUSSURE 1995: 89).
ter a característica de matéria, sendo realizado, desse
modo, numa ordem que prevê o concurso do tempo.
Esse é o espaço ocupado pelo significante: de acordo
com o tempo empregado para realizá-lo. Isso
equivale a dizer que dois significantes não ocupam o
mesmo espaço/tempo, é necessário respeitar a forma
física de cada um, porque eles sempre aparecem
4Para Bakhtin: signo ideológico e semiótico
numa cadeia linear. A escrita, segundo Saussure, é
particularmente constituída por essa característica do
signo linguístico. Retoma-se a questão da mudança.
De fato o afrouxamento da relação entre os
elementos do signo acontece no uso ou na fala,
portanto, no pensamento, quando os indivíduos
fazem as palavras significar suas ideias particulares.
Saussure não deixou dúvida de que a relação
entre significante e significado seja arbitrária, até
mesmo nos casos das onomatopeias, nas quais fica
difícil afastar toda e qualquer sugestão entre o
significante e o objeto/referente. Tal concepção deriva
da atitude metodológica de Saussure. Quando
estabeleceu como objeto de estudo a língua,
estrutura concreta, o signo apresentado foi aquele
que compõe na memória a linguagem estruturada, em
que uma forma representa um conhecimento. Tomado
por esse aspecto, afastada qualquer interferência dos
indivíduos e de seus atos de particularização das
ideias, tudo é absolutamente estável, durável e
constante. A sugestão implica num processo de
analogia entre os elementos e isso somente é
possível quando um pensamento agita as ideias e os
signos. Isso somente ocorre nos exercícios de fala.
O signo linguístico une não uma coisa e uma
palavra, mas um conceito e uma imagem
acústica. Esta não é o som material, coisa
puramente física, mas a impressão psíquica
desse som, a representação que dele nos dá
o testemunho de nossos sentidos; tal imagem
é sensorial e, se chegamos a chamá-la
“material”, é somente neste sentido, e por
oposição ao outro termo da associação, o
conceito, geralmente mais abstrato (...) o
signo linguístico é, pois, uma entidade
psíquica de duas faces (...) esses dois
elementos estão intimamente unidos e um
reclama o outro (SAUSSURE 1995: 80) (...) o
caráter arbitrário do signo nos fazia admitir a
possibilidade
teórica
da
mudança;
aprofundando a questão, vemos que, de fato,
a própria arbitrariedade do signo põe a língua
ao abrigo de toda tentativa que vise a
Na obra Marxismo e filosofia da linguagem,
Bakhtin (1995) propôs o signo como semiótico e
como produto ideológico de uma realidade. Para ser
semiótico, todo signo precisa de um corpo físico/
material e uma significação. A semiose ocorre
exatamente no encontro entre essas duas partes do
signo: a representação material e a significação.
Importante dizer que, nessa obra, o ponto em debate
é a linguagem, ou seja, da estrutura realizada pelo
pensamento para significar. Desse modo, toda
representação ideológica deriva de uma situação
social organizada por indivíduos. A materialidade da
linguagem, independentemente de qual realidade o
signo estiver atrelado, sempre é natural ou social,
mas sempre depende do indivíduo, ou seja, de seus
sentidos e dos valores envolvidos.
Bakhtin disse (1995) que tudo que for ideologia
tem um referente fora de si mesmo, então, têm-se
sempre duas realidades: uma ideológica e uma
material (social ou natural). Se tudo que é ideológico
é signo, porque sem signos não existiria ideologia, e
se todo signo é semiótico, porque remete às duas
realidades, então, tudo que é ideológico é semiótico e
possui uma realidade fora da ideologia. Logo, a
representação em signos de uma coisa é sempre
uma
materialização
em
outra
substância,
ou
infraestrutura de linguagem, de uma realidade física,
social ou natural, em uma forma, ou superestrutura.
Existem dois mundos, um que se costuma
chamar de real, em que se encontram os fenômenos
da natureza, o material tecnológico e os artigos de
consumo, e outro que Bakhtin chamou de mundo dos
signos, que se torna particular, porque “todo signo
está sujeito aos critérios de avaliação ideológica”
(BAKHTIN 1995: 32). Esse universo de signos é
também o universo da ideologia. O encontro entre as
partes do signo coloca em jogo o ideológico e o valor
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Milani, S. E.
semiótico. Tudo que é ideológico tem valor semiótico.
comunicação e os sons articulados como o meio mais
Para ter valor semiótico, tudo precisa ser signo, logo,
utilizado. Uma palavra está na dependência da
tudo que é signo tem valor semiótico.
articulação, por isso representa um signo interior,
O signo é pertencente ao mundo exterior como
porque expressa não somente um significado social
qualquer objeto, porque ele existe somente na
previamente
interação entre os indivíduos. Desse modo, qualquer
idiossincrasias típicas dos falantes e do momento em
e todos os signos pertencem ao social, determinados
que estiver sendo produzida, ou seja, representa
pelo ideológico que é a matéria social dos signos. A
estados
questão importante a ser salientada é a de que, para
raciocínios e ideologias.
que existam os signos, é preciso que haja sociedade,
estabelecido,
emotivos,
Concretamente,
como
as
mas
paixões,
palavras
também
vontades,
representam
ou seja, que os indivíduos estejam socialmente
signos
organizados, portanto, os signos são elementos das
subsistem enquanto estiverem em uso, ou seja,
instituições sociais. Daí poder aplicar com absoluta
qualquer criação ideológica deve ser revitalizada pelo
segurança aos signos linguísticos os caracteres de
discurso. O discurso produz uma imanência, a partir
ideológicos e de semióticos por excelência, porque
de
são pertencentes à língua. Eles são criados a partir
produzidas apoiada nas palavras, que são os
de uma função ideológica, para representá-la, desse
verdadeiros signos das ideologias. Desse modo, o
modo, sempre estarão determinados por ela. Signo e
discurso revitaliza constantemente as palavras como
função ideológica jamais poderiam se separar.
signo de uma ideologia, se acontecer de parar esse
ideológicos estabelecidos
uma
estrutura
de
socialmente
ideologias
e
previamente
A unidade mais conhecida da língua é a
processo, o signo desaparece. Isso não quer dizer
palavra, segundo Bakhtin, (1995: 36) “um fenômeno
que a palavra desapareceu, ela pode continuar
ideológico por excelência”. Disse isso e, para
existindo como signo de outras ideologias. Assim
completar e explicar, disse: “a palavra é o modo mais
sendo, toda a estrutura ideológica em uso, de estudo
puro e sensível de relação social”. Para trocar em
ou de análise da linguagem, está fundamentada
miúdos, um pouco mais, as palavras existem como
numa filosofia do signo ideológico. Esse pressupõe
objetos nas relações de troca de informação e de
uma manifestação do pensamento nos objetos
comercialização
sociais, as palavras, e na estrutura de linguagem
entre
os
indivíduos.
Deve-se
considerar também o fato de elas serem as
portadoras do conhecimento e nelas o pensamento
específica para comunicação verbal, a língua.
Toda
a
relação
entre
infraestrutura
e
dar forma ao conhecimento. Elas apresentam uma
superestrutura, segundo Bakhtin, é de causalidade.
característica geral: são ideologicamente neutras.
Todo processo de transformação ideológica percorre
São
são
o caminho que vai da materialidade do discurso, som
atualizadas no discurso, podendo preencher qualquer
articulado na linguagem verbal, até o conjunto da
função ideológica. Isso significa que dependem do
estrutura indivisível. As mudanças partem sempre do
uso do falante para se atualizarem como unidade da
arranjo material e faz remissão ao conceito. Desse
língua e da ideologia.
modo, considerando o processo inteiro, é
ideologicamente
específicas
quando
O ser humano pode se comunicar por muitas
formas
de
linguagem.
A
ideologia
pode
na
superfície do discurso onde as formas de ideologia
ser
variam. É a materialidade substanciada da forma do
transmitida, desde a enunciação, por qualquer um
discurso que faz o sentido ser significado e faz
dos sentidos, fazendo uso da substância que possa
também variar os valores e as ideologias.
ser uma forma reconhecível psiquicamente. Porém, a
Há
uma
separação
entre
sentido
e
comunicação na vida cotidiana privilegia o uso da
transformação ideológica. É claro que isso ocorre no
palavra, por esse prisma pode-se dizer que Bakhtin
interior de um contexto. Qualquer transformação no
reconheceu a primazia da língua como veículo de
espaço físico temporal e espacial de interferência da
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O signo
ideologia resulta num novo sentido, como duas partes
individualidade. Essas são elementos do pensamento
que se encaixam com perfeição. Toda mudança parte
que não se separam no interior de nenhuma estrutura
da instalação do pensamento de um indivíduo nesse
de linguagem e são processos prototipicamente
espaço físico. Isso significa que a reação que
realizados no discurso linguístico.
ocorreria na estrutura da linguagem ou ideologia
Bakhtin estudou a comunicação pelo viés da
provém do pensamento dos indivíduos, são eles que
manifestação
são atingidos pelas mudanças, tanto como reflexo
linguagem, o órgão do cérebro responsável pelas
como refração do signo ideológico. Bakhtin, conforme
estruturações. Considerou a língua como o principal
exposto acima, chama esses dois elementos da
mecanismo da comunicação em sociedade, sendo a
formação
palavra o lugar privilegiado da manifestação das
da
comunicação
comunicação,
linguística,
em
de
específico
conjunto
único
da
e
ideologias.
do
pensamento,
Separou
em
portanto,
infraestrutura
da
e
indivisível, ou de toda esfera ideológica, ou de
superestrutura os elementos que compõem o signo:
superestrutura e de infraestrutura.
da primeira faz parte tudo o que é exterior ao
No signo linguístico essa relação é claramente
pensamento e da segunda tudo o que é interior, e
explicita porque a comunicação verbal é intensa e
descartou a possibilidade de divisão mesmo que
muito frequente por isso assimila todos e mínimos
metodológica entre essas partes. É desse ponto de
ajustes que ocorram na infraestrutura. Pode-se
vista, da linguagem estruturada numa materialidade,
avançar na questão linguística e fazer lembrar que o
sons articulados na linguagem verbal, que definiu o
sistema verbal em sons articulados produz signos que
signo como uma atualização num material de
substituem qualquer realidade no pensamento. Assim,
infraestrutura da ideologia significada na forma de
toda forma de pensamento se realiza primeiro na
uma superestrutura.
infraestrutura do signo ideológico, depois em sons
articulados dentro da superestrutura da língua. Sendo
então o espaço privilegiado da comunicação entre os
seres humanos, o material verbal do discurso
linguístico apresenta as mínimas alterações que o
pensamento possa ter alcançado, mantendo uma
refração perfeita entre a esfera ideológica, língua e
cultura e entre a infraestrutura, sons articulados e
pensamento.
Bakhtin
nomeou
a
realidade
refletida
e
refratada pelo signo como psicologia social, como fez
Saussure, e como espírito do povo, como fizera
Humboldt. Saussure, no entanto, não discutiu o
processo de materialização na fala. Humboldt no
início do século XIX o fizera. Para ele, o discurso é
sempre nacionalmente individual, ou seja, manifesta o
espírito do povo e a idiossincrasia. Bakhtin disse que
na enunciação a psicologia social se manifesta
inteiramente na palavra, no gesto e no ato. No
enunciado, o indivíduo materializa tudo o que de
ideológico contém e mantém dentro de si. Sendo ele
uma enunciação, inevitavelmente o princípio é de
uma
continuidade
entre
a
coletividade
e
a
Os signos também são objetos naturais,
específicos, e, como vimos, todo produto
natural, tecnológico ou de consumo pode
tornar se signo e adquirir, assim, um sentido
que ultrapasse suas próprias particularidades.
Um signo não existe apenas como parte de
uma realidade; ele também reflete e refrata
uma outra. Ele pode distorcer essa realidade,
ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de
vista específico, etc. Todo signo está sujeito
aos critérios de avaliação ideológica (isto é:
se é verdadeiro, falso, correto, justificado,
bom, etc.) . O domínio do ideológico coincide
com o domínio dos signos: são mutuamente
correspondentes. Ali onde o signo se
encontra, encontra-se também o ideológico.
Tudo que é ideológico possui um valor
semiótico (BAKHTIN 1995: 32) (...) esse
espaço semiótico e esse papel contínuo da
comunicação social como fator condicionante
não aparecem em nenhum lugar de maneira
mais clara e completa do que na linguagem.
A palavra é o fenômeno ideológico por
excelência. A realidade toda da palavra é
absorvida por sua função de signo. A palavra
não comporta nada que não esteja ligado a
essa função, nada que não tenha sido gerado
por ela. A palavra é o modo mais puro e
sensível de relação social (BAKHTIN 1995: 36).
5Conclusão
A questão historiográfica neste artigo é a da
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Milani, S. E.
continuidade conceitual: existe obviamente uma
as coisas.
profunda ligação entre os três estudiosos. Foi
Bakhtin estudou como a estrutura se torna
justamente a discussão que Bakhtin fez sobre os
significação e como o pensamento se torna estrutura.
conceitos de Humboldt e de Saussure que despertou
O sentimento (ou sensação) existe na sociedade para
o interesse em dispor os três num mesmo lugar. No
todos os indivíduos, mas, para a explicitação da
entanto,
sensação numa forma estruturada, é preciso que um
o
texto
lida
com
a
dos
três,
por
isso
metodológica
individualidade
evitou-se
a
deles consiga completar todos os elementos dessa
comparação, optou-se pela síntese de cada um em
sensação no pensamento e então possa realizar a
justaposição, permitindo uma leitura cronológica e
estrutura da linguagem: somente assim ele poderá
comparativa do tema. Para propor a conclusão, é
dar
preciso lembrar que Humboldt foi um Gramático
composição. Uma vez estruturada na superestrutura
Comparatista, do período platônico-antropocêntrico e
e nomeada, outros indivíduos poderão completar no
da afirmação do racionalismo. Saussure foi um
pensamento as sensações e adaptá-las à realidade e
filólogo da neogramática e do cientificismo. E Bakhtin
à ideologia de seus discursos.
nome
a
essa
sensação
e
explicar
sua
viveu numa nação subjugada por uma filosofia
O signo, para os três pensadores, tem sua
opressora e muito violenta, em que os mecanismos
definição adaptada ao método de cada um, por isso o
de coerção ideológica estavam muito evidentes e
evidente mecanismo de ruptura de cada conceito. O
operavam no sentido de igualar todos os indivíduos.
signo para Humboldt é marcado por pura identidade:
Humboldt entendeu a linguagem pelo elemento
da materialidade e da individualidade: o
som
os sons articulados são identificados na língua.
Mesmo que eles pudessem
ser
vinculados à
articulado. Para ele, a beleza dos elementos da
articulação de sons muito semelhantes em outras
língua, a identidade nacional, o espírito da língua, a
línguas, jamais um falante nativo de uma língua será
perfeição do discurso etc. estavam na abundância e
capaz de se disfarçar em falante nativo de outra
precisão
e
língua. Os conceitos expressos por esses sons
principalmente na competência da língua nacional e
articulados também estão vinculados à cultura, de tal
da
forma que nunca poderiam ser plenamente expressos
língua
dos
do
sons
articulados,
falante
para
inclusive
transmitir
seus
pensamentos. Para Humboldt, fora do elemento
nos
material e racional não existiria manifestação, numa
Racionalmente, todos os elementos da natureza e da
evidente asseveração dos conceitos racionalistas
língua nacional, como a tradutora principal da
kantianos para a metafísica e o inatismo, nem
natureza, são únicos (individuais) e não poderiam
perfeição, logo, o grotesco e o sublime eram estágios
nunca ser repetidos.
perfeitos de aperfeiçoamento.
sons
articulados
de
outras
línguas.
Para Saussure, o signo é uma representação
Saussure tomou a língua, a estrutura básica
social. Ele não estudou, sem negar a existência, os
para as relações sociais, como ponto de partida para
elementos da fala e se restringiu ao contexto da
suas pesquisas e conclusões. Definiu didaticamente
sociedade para explicar a comunicação entre os
os três elementos que comporiam o exercício do
seres humanos. Assim, o signo passa a ser algo fora
pensamento e da inteligência: linguagem, língua e
do controle do indivíduo, pertencendo à coletividade.
fala. A linguagem como abstrata e inata, também no
Do ponto de vista da coletividade, a relação entre
sentido kantiano, seria inata porque é física. A fala
significante e significado é puramente arbitrária, a
como a materialização do pensamento, tendo como
única análise possível é da convenção social entre
formas, para o revestimento plástico, os fonemas, que
uma articulação de sons e um conceito, ambos pré-
são unidades compostas na articulação de sons. A
estabelecidos socialmente. A língua é a estrutura que
língua, a forma para o pensamento, se torna a
se coloca entre os indivíduos e os signos, seus
fórmula (estrutura de linguagem) para realizar todas
objetos, e que também se coloca entre os indivíduos
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O signo
e que jamais pertenceria somente a um deles.
Bakhtin leu Humboldt e Saussure e propôs o
signo como a realização do encontro entre o
pensamento
e
a
articulação.
Oprimido
pelas
estruturas sociais e manifestando-se por essas
estruturas sociais, principalmente a língua, o indivíduo
faz das ideologias sociais suas ideologias e aplica
seus pensamentos (ideologias) aos sons articulados.
Nesse momento ocorre a semiose, logo, todo signo é
semiótico. Inevitavelmente, todo signo é pleno dos
elementos ideológicos das estruturas e pleno dos
arranjos da identidade ideológica do indivíduo que
atualiza a estrutura pelo discurso. É pela estrutura da
linguagem que o signo pode existir como semiose e é
dessa perspectiva que Bakhtin o propôs.
É inevitável perceber que a visão de Bakhtin,
como leitor dos outros dois, se aproxima mais da de
Humboldt do que da de Saussure. Afastando
questões de contexto, a linguagem é intimamente
relacionada ao pensamento, lugar em que todos os
seres inteligentes são absolutamente individuais. A
perspectiva do som articulado e da linguagem prima
pela marca da individualidade, ou seja, é preciso ver
o que tem de diferente cada um de seus elementos,
na estruturação e na manifestação, para saber o que
cada um é. Ao contrário, a língua se coloca em meio
àquilo que todos e cada um dos elementos de uma
coletividade têm em comum, obrigando a agrupar as
diferenças,
nessa
perspectiva,
como
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