1
;
Ah &Aia•
·1
ISSN 1679-5385
,,.,.~~
,1'1•1,,~.-
~'''r-•'.
'•
~
~-""'
.
•••
'
1
~
.' .' i.
-
•
~
.1
~
\
•
'
1
•
i -
ÁGORA FILOSÓFICA
A hermenêutica do Verbo:
~lgumas considerações sobre a interpretação de Gadamer do opúsculo
"Sobre a diferença entre a palavra divina
e a humana", de São Tomás de Aquino Felipe Arruda Sodré1
Resumo: em seu livro Verdade e Método - traços fundamentais de uma
hermenêutica filosófica, Gadamer procura esclarecer um sentido relevante da
filosofia medieval, particularmente da filosofia da linguagem de São Tomás de
Aquino: a relação entre lingüisticidade e compreensão. Assim, segundo o pensamento de Gadamer, a afinidade que deve existir entre lingilisticidade e pensamento determina o tema da Trindade, enquanto medida de perfeição que se
contrapõe ao homem e verdadeira reflexão sobre o fenômeno da 1inguagem.
Dessa maneira, estabelecer a tensão existente no espírito humano entre a compreensão e a fala significa comparar o "aparelho" intelectivo humano à intelecção
pura de Deus, ou seja, é preciso especificar tanto o caráter da palavra humana,
quanto da palavra divina, visando a mostrar que tanto em Deus quanto no
homem, lingüisticidade e pensamento são indissociáveis, se bem que, no homem, a unidade do verbo é discursiva e, em Deus, perfeita. Palavras-chave:
Hermenêutica filosófica, Filosofia da Linguagem, Tomás de Aquino.
Abstract: in his book Verdade e Método - traços fundamentais de uma
hermenêutica filosófica, (Truth and Method - fundamental traces of a
philosophical hermeneutics) Gadamer seeks to clarify a meaning relevant from
mediaeval philosophy, particularly from the philosophy of the language of St
Thomas Aquinas: the relationship between linguisticity and comprehension.
Thus, according to Gadamer's thought, the affinity which must exist the study
of linguistics and thought determines the theme of the Trinity, as a measure of
perfection which is counterpointed to man and a true reflection on the
phenomenon of language. ln this way, to establish the tension existing in the
human spirit between comprehension and speech signifies to compare the human
intellectual "apparatus" to the pure intellection of God, which is to say that it is
necessary to specify both the character of the human word and the divine word,
with a view to showing that both in God and in man, the study of linguistics and
thought are indissociable, albeit that, in man, the unity of the verb is discursive
and, in God, perfect.
Ano 3 • n°' 1/2 • jan ./dez. 2003 - 51
DE FILOSOFIA - - - - .
...•~
DfA'RTAIW-''. -
eneutics, Philosophy of Languag e, 1'hotq
. hilOSoPhicaJ herJJl
gey-tr0rdS· P
Aquinas-
htfrOduçiO
as Of
osoficamente signific a desv
fil
ar
ns
pe
os
g ,
. ples do mundo. As . eiar
- s s1m
esde os gre
oe
aç
ag
ind
s
da
de
sun' ar'ºlnla
d
l
i
"d
d
•
Fi!
concretuificial da maiona os vu ga ores'' da
. art
, quanª
1~ ª em à atividade do filósofo, caracteriza a Curios1~dSadofia
.
e·
simP
.
•
.
ren
ine
re
t·l
e1e
an
ser
c1o
uma s1ng'duladndade inf I quet.
tividade como sendo
. ,, a 1 a e adulta. D
01 Pre.
re a~ aao longo da adolesce,.nc1a
ate
. sidade deessa lllaneira
'f'1ca a, cuno
fil
d
servada
umac . ça,
comparar a ativida e 1oso
.
nan
a
m
co
aose
unta simples
1lllatun.da
,
udeza de uma. perg
ag
a
-se
de
d
n
de
nfu
.
de
Fil
a
co
na, tenrunan o por tra"ns~formar
osofia,e01110
uma pergunta simpló
p
do
d
era
tol
1J
o
ca
m
nu
a,
1 gerê •
diz a metáfora d_erernan o esso
pe
d
l
• o"•Ora, desvebar_adacodnc~et~ e das indagações ;eia
~v
porserinofens
1111.
do
ão
aç
en
ali
e
e
e
v1
o
a
e
qu
ar
str
ne
do mundo e mo
. mais compropen. sar nto,
. a porque exig
, ng
Pies
e
sso com a
e que a Filosofia e pe os "'
,, is o esforçnu
fi ,
d
o
.
po
,
s
nte
ce
ino
s
sta
O
po
res
m
co
e
qu
do
nta
pergu
l. É, portanto ' nesse sentid_tlooqsofo
éparafai.ersu.rgiradúvidaintoleráve
expressa assim: qual O si gJU.ficaue.
se
e
qu
ta
un
rg
pe
a
a
tad
rec
ap
ser
ve
de
s al ª': as?. Essa e, a questão. que norteará nossa reflexão
, .o da
do propn _ p
.
to em São Tomás de Aq umo
en
am
ns
pe
e
em
ag
gu
lin
tre
en
sao
ten
sobre a
ando do seu comentário a~
qu
r
me
cla
Ga
ns
Ha
r
po
sto
po
ex
é
e
tema qu
diferença entre apalavra
a
re
ob
"S
o
ad
am
ch
,
ate
uin
Aq
do
• opúsculo
2
deslocar a questão do âmito
ér
m
o
m
co
tem
e
qu
,
"
na
ma
hu
a
divina e
m isso desmerecer opensaco
m
se
,
ico
óf
os
fil
o·
ra
pa
ico
lóg
bito teo
mão consegue apontar no
ale
o
of
ós
fil
o
ja,
se
ou
s,
má
Tó
o
Sã
mento de
são da unidade interna de
ten
a
de
on
ato
ex
ar
lug
o
ta
~s
to
to
pensamen
lo seguro para areflexão
so
um
ce
ele
tab
es
to
en
am
ns
pe
e
linguagem
e o ato criativo de Deus
qu
de
e
ad
id
ss
ce
ne
a
r:
be
sa
a
a,
tic
hermenêu
. .
•
:
seja verbal.
as en co nt ra ~
: Dessa forma, Gadamer não apen
o Tomás, o que afé•.~ ,. .
Sã
de
to
en
am
ns
pe
~o
a
tic
êu
en
rm
:he
ófico, mas asse
algo comum a qualquer sistema filos
D
ª
ÁGORA FILOSÓFICA
.
aquinatense em princípios hennenêuticos. Contudo O u
orreta apropriação da filosofia tomista pelo pe ' q e determma a
nsamento de Gadamer
" h· . .
." • d
e
é a consc1enc1a. ~dqude a istonc1dade da pré-sença [sic 1humana em
_
toda a sua mob1h a e do atender e do esquecere, a cond.içao
de pos.
d
.
11zaçao
.
o v1gor-de-ter-sido"3, e que, ponsso,
'bilidade de atua
,
0 pen,
s1
fi
atual,jágueé umdia'logoquerede meos
samento filosofico e. sempre
.
a exposição que iremos fazer do coAssim,
.
horizontes da tradzçao
mentário de Gadam~r ao texto de São Tomás indica uma retomada do
e, que o_coloca vigorosamente em di a,1ogocom
pensamento do
,.. Aqmnat
a contemp?ranea compreensao do sentido da linguagem como 0
medium universal.
Portanto, para que o tema da linguagem passe a assumir 0
lugar de proeminência fil~s~fica no_ pensamento de São Tomás, é preciso orientar toda a metafisica tomtsta pela disposição verbal do ato
criativo de Deus, já que, partindo desse princípio, a experiência da
Iingüisticidade atinge a máxima densidade ontológica. Dessa maneira,
a afirmação da lingüisticidade como o fato ontológico primordial caracteriza as naturezas mediadoras da palavra e da linguagem como
condições de possibilidade da compreensão, uma vez que a concepção criadora de Deus é a medida de toda compreensão. Contudo, ao
se tomar a lingüisticidade como medium do pensamento, a tensão en- ·tre verbo e compreensão toma-se ainda mais forte, já que, agora, a
todo pensamento deve corresponder um medium próprio, o que significa que o lugar específico e imperfeito da intelecção humana é a
linguagem, enquanto a perfeição do verbo divino é constatada pela
ausência de linguagem e pela supremacia de uma única palavra, responsável por tudo o que existe. Isso significa que a linguagem é a expressão imperfeita da lingüistícidade -e, por isso, também, de toda
aquela compreensão que não é plenamente criadora-, ou seja, não
existe linguagem perfeita, apenas a palavra pode ser perfeita, nunca o
discurso. Portanto, o princípio da reflexão hermenêutica não pode estar nem na palavra, nem no discurso, mas na condição de que todo
discurso visa à superação do que diz, enquanto diz primeiro a
lingüisticidade.
Ano 3 • n"' 1/2 • jan./dez. 2003 - 53
j
- - - - - - - - DEPARTAMENTO DE FILOSOAA - - - - - - -
1 A falsa disposição semiótica da linguagem
4
O tenno Semi6tica, segundo Abbagnano , no sentido da filosofia contemporânea, é usado em três dimensões: como estudo das
relações do signo para com os objetos a que se referem (semântica);
como estudo das relações de uso dos signos (pragmática); e por
último, como o estudo das relações formais dos signos entre si (sintática). Todavia, para que a reflexão hermenêutica possa estabelecer-se
filosoficamente, é preciso que essa concepção da linguagem enquanto
mapeamento isomórfico da realidade se mostre insuficiente na descrição do fenômeno lingüístico, ou seja, para que a hermenêutica filosófica de Gadamer seja possível, é necessário descobrir que à linguagem
não convém o caráter de calculus ratiocinator, pois a lingüisticidade
não pode ser reduzida à lógica do uso das idéias, tal qual um cálculo
ou uma sintaxe. Nesse sentido, Gadamer diz que "o intérprete não se
serve das palavras e dos conceitos como o artesão que apanha e deixa
de lado suas ferramentas"5, pois ao supor que as palavras são ferramentas, o discurso passa a ser apenas a exteriorização de idéias (pragmática), como se fosse unicamente uma representação sensível cuja
essência é o puro indicar. Dessa maneira,
já não se pergunta pelo ser ou pelo caráter medial
das palavras partindo da coisa, mas sim, partindo do
médio da palavra, pergunta-se pelo que e como medeia àquele que a usa. A essência do signo é que tem
seu ser na função do seu emprego, e isto de tal modo
que soa aptidão consiste unicamente em ser um indicador6.
Portanto, o signo é aquilo que desaparece em seu significado
(semântica), pennitindo que a compreensão das palavras - tanto quanto dos discursos - seja unívoca, e por isso, operacional. Assim, a falsa
disposição semiótica da linguagem é que possibilitaria a s~acomp~
ensão como cálculo. Tal equivoco se faria ver pela distinção
de signo da de palavra.
Dessa fonna, é justamente a impos
entendida enquanto signo, que detennina a a
54 • UNIVBRSIDADB CATÓL tÇA~AM BUCO
ÁGORA FILOSÓFICA
e pensamento, pois entender a rtnguagem c
. ,
.
.
0
geJllacteristzca
mo uma
unzversa1is e considerá-la
um ente desp •
iff .
chafi
rov1do de
de um arti.l',czo que se é obrigado a
usar com v· 1 ,
verda '
zs as a rea[i.
"'o de uma tarefa. Nesse sentido a palav ,
ra e tomada
'
.
zaça
como um
. trurnento que em s1 mesmo não é detentor de ai
go verdadeiro m
'b•t·
t
.
1ns
o poss1 1 1ta o alcance à verdade ou sei , as
, , verdadeiro enquan
fi .,. . .
soe
reza está na e 1c1enc1a de negar-se enquanto .. ' .Ja, sua
coisa, para russo re
.
. da 1·da
natu
1 de. Assim a linguag
rea
detenruna
urna
em e, compreendida
,
.
velar
.
as três dimensões dosigno
1111 oticamente, na medida em que
depen
.
d
seu....
,. re uzem, umcamente ao seu uso (p ragmatica)
111 e de fato se
de.~. .,
_
a palavra,
pode•
. do ponto de vista. semi·o't·1co, nao
.
Conseqüentemente,
.
. _
uma
. coisa, e sim, algo que. possibilita acomumcaçao
,
ser considerada
da coisa. E por isso que Gadamer, refenndo-se ao pensamento de
Platão, diz:
o. fato . de que, o verdadeiro ser das coi·sas deva ser
1n~es~1gado sem os nomes' quer dizer que no ser
propno das palavras como tais não existe acesso algum à verdade, por mais que qualquer buscar, perguntar, responder, ensinar e distinguir esteja obrigado
a realizar-se com os meios lingüísticos. Com isso fica
dito também que o pensar se destaca de tal modo do
ser próprio das palavras - tomando-as como simples
signos, através dos quais traz à vista o designado, a
relação inteiidéia, a coisa-, que a palavra fica numa
,
ramente secundária com a coisa. E um simples instrumento da comunicação, que extrai e apresenta o
intencionado no âmbito da voz. O fato de que um
sistema ideal de signos, cujo sentido único fosse a
submissão unívoca de todos os signos, tem como conseqüência que ele faz aparecer a força das palavras,
o lastro da variação do contigente inscrito nas línguas históricas concretas, como mera distorção de
sua utilidade. O que aqui se anuncia é o ideal de uma
1
characteristica universalis •
. Portanto, este ideal da superação da linguagem, que ligaria
Platão àAujkliirung, afinna que a finitude e a imperfeiç~o humana
eStá localizada na equivocidade das línguas naturais- no nuto da torre
Ano 3 • n"' 1/2 •janJdez. 2003 - 55
- - - - - - - DEPmAMFNTO oE Fn.osoAA
de Babel-, de maneira que, ao estabelecer-se um siste~a de símbolos
artificiais defmidos univocamente, não seria mai~ pos~!ve! 0 engano, 0
que determinaria a constituição de uma verdadeira ci~ncta, que, atr~vés da correta manipulação dos signos, nos fomecena um conhecimento apodíctico.
No entanto, apenas um estudo apressado da filosofia de Tomás de Aquino, uma vez que prioriza o que nele há de Aristóteles e não
percebe sua originalidade, cometerá o equívoco de inseri-lo na tradição_que leva ao ideal da linguagem como cálculo. Alinguagem nunca
poderá ser reduzida a sua disposição semiótica, já que o mundo, no
qual está presente o homem, é, para São Tomás de Aquino, essencialmente uma afirmação e, nesse sentido, todas as coisas possuem um
significado verbal, pois, enquanto seres criados, refletem o pensamento de Deus. Assim, "as criaturas produzidas por Deus são como que
palavras de Deus"ª e, por isso, não são meros signos. Gadamer percebe que com Tomás de Aquino o pensamento cristão se volta demasiadamente para a filosofia grega, todavia, "em Tomás não coincidem
por completo os eonceitos de logos e verbum''9, ou seja, a linguagem
é algo mais que o signo das idéias, pois a palavra ontologicamente é
um acontecer, isto é, ela não se reduz simplesmente à comunicação,
ao contrário, ela determina a inflexão do pensamento de maneira tal
que pensar é um dizer-se. Isso significa que, para o Aquinate, o pensamento é uma conversação interior da alma consigo mesma, como
afirmava Platão, contudo, ela não é um signo, já que a palavra "é a
própria coisa que então está presente nela; por conseqüência, a palavra não é propriamente uma ferramenta. Tomás encontrou para isso
urna imagem esplêndida: a palavra é como um espelho, em que se vê a
coisa"1º. Portanto, a lingüisticidade só pode ser entendida a partir da
noção da palav~ enquanto verbum, e da linguagem enquanto verbo
impetfeito.
'
2 A hermenêutica do verbo: a palavra interior
Para São Tomás, o que caracteriza o ho~em não é tão somente a sua capacidade abstrativa, mas o modo como o seu in
se expõe, pois ."em nós, di~r não significa só enten~ mas
56 • UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
•
ÁGORA FILOSÓFICA
exprimir algum conceito a partir de si mesmo Es,
coril der exprimindo um tal conceito. Por isso em , • o podemos
enten o·arnente um dizer"11. Assim, segundo Gadamnos, ,~ooo entender
er aexeg •
/ prop
ta O fato da palavra tornar-se som, [como] u '. 1 . ese m.e
mrru agre igual ao
.
"12
terpre
d .
mil
maior
"o
todavia,
,
carne
tomar-se
Deus
e
a lmguaagre
.
fato d
1avra se faça carne e a
pa
a
que
em
estnba
se
ão
pareça em seu
d
geril n
maIli.testa em sua
se
e
emerge
que o que
e
fato
no
mas
rior
,, p .
. ,, ,,
exte ,
1avra 13. or isso, para oDoutor A 'li
pa
sempre
e
Jª
teriorização
nge co,
t . .
., .
eXL:
1esmen e o s1gm61cado da palavra fal d
,
s1mp
e
não
ceito
a a,maseo
. ,. . d
0 con
o conceito e' tanto "causa
,
respOnsável pela ex1stenc1a .,essa, porque
e por nos expresso precisamente para
ai porque o verbo vocal
,"
b . . ..)'
fitn
manifestar o veri o ~nteno, , quanto e causa eficiente porque[...] no
caso do falar preexiste um certo modelo exemplar do verbo exterior
na mente de quem profere esse verbo exterior'' 14. Nesse sentido, este
modelo exemplar, que é a palavra interior, por ser a causa do dizer, é
a conversação interior do pensamento sem ser uma linguagem fechada
sobre si mesma, de modo que o verbum intellectus "é mais do que
uma simples imagem, já que a relação humana de pensamento e linguagem se corresponde, apesar de sua imperfeição, com a relação
divina da trindade. A palavra interior do espírito é tão essencialmente
• igual ao pensamento como o é Deus-Filho a Deus-Pai"15. Assim, segundo Gadamer;para São Tomás "a doutrina da 'palavra interior' é o
pressuposto evidente, sob o qual investiga o nexo de forma e
verbum" 16, ou seja, ao mesmo tempo que o verbo interior é o modelo
exemplar da palavra falada, ele também é, na medida que é um dizerse-a-si-mesmo da alma, a máxima realização do pensamento.
Dessa maneira, a palavra interior estabelece os limites do falar humano 17 , partindo da sua capacidade intelectiva, pois, antes de
toda expressão sensível da palavra (vox), é preciso que a intelecção
humana faça, no interior da alma mesma, uma apresentação verbal dos
conceitos, ou seja, no processo cognitivo só é conhecimento aquilo
que possui a forma verbal correspondente ao intelecto, isto é, 0 pensamento para Tomás de Aquino está sempre imerso na lingüi sticidade
do intelecto. Assim, Gadamer afinna que:
0
Ano 3 • n°" 1/2 • janJdez. 2003 - 57
a palavra interior, na medida em que expressa o pensar, reproduz ao mesmo tempo a finitude da nossa
compreensão discursiva. Como a nossa compreensão não está em condições para abarcar num só golpe do pensar tudo o que sabe, não tem outro remédio
que trazer para fora, a partir de si mesma, em cada
caso, o que pensa, pondo-o diante de si, numa espécie de própria declaração interna. Nesse sentido todo
•
pensar é um dizer-se18.
Conseqüentemente, a doutrina tomista da palavra interior visa
a expor a discursividade do pensamento e da palavra humana. No
entanto, se a disposição da palavra interior na alma humana corresponde
à relação das pessoas divinas na Trindade, então a discursividade humana não pode ser temporal, pois, nas palavras de Gadamer:
quando o pensamento humano passa de uma coisa a
outra, pensa primeiro uma coisa e depois outra, não
se vê arrastado, apesar disso, de um ao outro. Não
pensa primeiro um e depois o outro na mera ordem
de seqüencialidade - o que significaria que se está
transfarmando constantemente. Quando pensa o um •
e o outro, quer dizer, antes, que sabe o que faz com
isso, e isto significa que sabe vincular um ao outro.
Por conseguinte, o que temos ante nós não é uma
relação temporal, mas um processo espiritual, uma
19
emanatio intellectualis •
Ora, o conceito de emanação, a princípio, não seria compatível com nenhum pensamento católico. Assim, como é que
Gadamer afinna que -"com esse conceito neoplatônico, Tomás procura descrever o caráter processual da palavra interior, tão bem
como o mistério da trindade"1D? A resposta encontra-se no sentid~
novo - e 1>9r isso não plotiniano - que Tomás dé Aqui.no llie dá pela
noção de participatio, ou seja, fisicameritepartieipariéTeikz-ar
parcialmente em si aquilo que está totàlm_,"'_
determinando uma ordem hierárqu~ca
quando se aplica o conceito de parti
o signifi· do de ------ão este volta a possuir
ca
-.
•1ote1eCç '
. , . ernana1;,;2 .
ar de sennos seres f1n1tos, o nosso pnnc1p
. , pc,1s
.
_
.
es
P nossa 1ntelecçao, ainda assim poss . 10 v·1ta1, que
car· ·te-'
ac
u1 um alto
rtZª a
. . . grau de pcrf .
,., uma vez que, embora o conhecimento se 1nicie
e1,
.
Çao,
, , compreendido quando e subsumido nos . . no sensível, ele
.
Primeiro
soe
. sprzncípios23
1 a em que conhecemos alg uma coisa
. e' na med'd
,
isto ,
conhecemos
,
.
,
.
primeiros
comitantemente os nossos
Prtncipios e .
.
.
fl
con
, por isso a
. t ligência re ete a s1 mesma enquanto e0 h
n ece alg A . '
.
1n e
, º· ss1rn, a
natio intellectualzs a que se refere G d
a amer e a ca .
ema
pac1dade
d01•ntelecto humano de se manter imanente conhecend0 .
as1 rnesenquanto subsume os conceitos das coisas .
Particulares aos .
..
, . C
m0
Pn.
eiros princzpzos. onsequentemente, como O
conce1 to de e
.
.
.
.
,n
maação não 1mphca movimento, a discursividade do.
mte1ecto huma. ..
n
não pode ser temporal, o que s1gn1f1ca que no ho
mem apalavra
.
n0
tem sua ongem. em outra palavra como uma conclus~ao ret·irada das
,
arigor n~ao e, mutável
P~emissas, por isso, o pensamento do homem
, Des~a ~an~1ra, para São T~m~; segundo Gadamer, apala~
vra não e um 1ndicat1vo de um conceito Jafonnado no intelecto,mas
ela é a realiza?ãº-~º _p~óprio conhecimento, o que determina que a
relação entre hngu1sttc1dade e pensamento é imanente ao intelecto24.
~im,
ª.
,
'
•
1.
compreende-se, dessa forma, que a geração da palavra possa ser entendida como uma cópia autêntica
da trindade. Trata-se de uma verdadeira generatio,
de um verdadeiro nascimento, ainda que, naturalmente, aqui não apareça nenhuma parte concepcional junto
à geradora. Precisamente este caráter intelectual da
geração da palavra é o decisivo para a sua função de
modelo teológico. Há realmente algo comum ao pro25
cesso das pessoas divinas e ao pensar •
• dade e apalavrahumanaé
_ entre a Tnn
No entanto a relaçao
- eontinuar desenvol, • e por isso' Gadamer aconse1ha a nao
.
analog1ca
T • dadeéumITIIs.
vendo essa analogia, já que, em últtma 1nstancia, nn _
d ossa questao. Assim, o
.
,.
. ai ,ra
teno teológico e não pode ilununar de to O n
aP ª'
entre
nças
d'fi
.
• • • ,
mais importante é o estabelecimento das 1ere. _ da alavrahu, das imperfe1çoes P
• e a humana, porque so, atraves
di v1na
'
'
'
•
•
•
A
ª
ª
?003 - 59
• J'-1
Ano 3 • n• 1/2. • Jaíl uez. -
_ _ _ _ _ _ _ ~AM f)IT O DE F~O
AA
nder mais clara. _ di . é que poderemos ente
mana frente à perfetçao Vtna
mente o nexo entre a lingüisticidade e a compreensao.
3 As diferenças entre a palavra divina e a hum ana
De uma fonn a geral, Deus, na medida em que co~ ece a
ui uma
si mes mo, ao mes mo tempo que conhece todos os entes, poss
pala vra.
cont emp laçã o (intuitus) criadora, que é expr essa por Sua
s esse nNes se sentido, a palavra humana é detentora de três diferença
ciais com relação à palavra divina, a saber.
é
A prim eira diferença entre a pala vra divina e a hum ana
ao ato.
que o intelecto hum ano nece ssita sem pre pass ar da potê ncia
Isso significa que
enquanto o intelecto está em processo de discorrer
raciocinando, lançando de um lado para o outro, não
há fonnação perfeita até que perfaça o conceito da
própria essência do objeto, e é só ao perfazer a ratio
26
da cois a que essa ratio adquire caráter de palavra ,
conseqüentemente, por cont a da disc ursi vida de do intel
ecto hum ano
tudo que é ente ndid o por nós depende realmente de
outr a coisa: com o as conclusões proc edem dos princípios f...] Assim, o verbo do intelecto, em nós, requer por natu reza duas coisas: que seja ente ndid o27e
tamb ém que seja expr esso por algu ma outr a cois a ;
porque o ato inteJectivo está associado ao entendimento na formação
consdo conceito, que, por sua vez, não pertence à alma de maneira a
titui-la essencialmente, mas apenas acidentalmente. Dessa forma, afirSão Tomás que "em nós todo entender é propriamente • di~
ma
re,.''28, ~is aprópria exi ~ci a cJo conceito na almajá
cfé..
enten~men_to,justamente na medida em que o coneei
entendido. Logo, o entendimento de algo é a e1Jrnff
tan
e seótido, é UDl dizer. Por
ness
,
que
o,
ceit
côn
' ..
.
.
.
...
(j{J • UNJ\IBRSJDADB CAT6uCA DBPERNAMBuco
~wií~~~l
a nossa palavra é antes formável d
pois quando quero conceber a ess" º.que forrnada:
enc1a de pe<lr
. .
lt-.
nho de rac1oc1nar para chegar a ela , e assim
tambt
; .
_ ---m
~
em tudo o que e obJeto de nossa inte1ecçao,
a nao 5eT
. .
no caso dos pnme1ros princípios, que - sendo conh
.
ec1dos naturalmente sem discurso da razao
- são·
•mediatamente conhecidos29.
ª
,. .
Isso significa que a palavra humana é primeiramente potencia
. d
f"ecisa ser atualiza a, para que nossa. alma possa captar aqui.1o
p1.
ue
q
to divino •No entanto
isas expressam segundo o entendimen
Co
.
,
ueas
q
rque em Deus não p<><!e haver pote~cia al~uma, Sua Palavra encon~
de em Sua natureza,
em ato,
Po
_ ; d d1scurs1vida
_ havendo
. nao
tra_se sempre
''assim O termo cog1taçao nao e a equado ao Verbo de Deus"30. Uma
vez que a passage~_da potência ao ~o no intele~to humano só é pos"vel pela discurs1 v1dade, a formaçao do conceito deve_ na medida
:~ que possibilita a intuição da realidade - ainda ser considerada
como intermediária entre o intelecto e a coisa conhecida. Mas, quando O conceito já está formado, o intelecto possui a própria realidade da coisa, ocasionando a identificação entre o que é conhecido e
aquilo pelo qual a coisa é conhecida31 , ou seja, o ato do intelecto
deixa de ser raciocínio quando perfaz a natureza da coisa inteligida,
e passa a manter atualizada a realidade da coisa no intelecto32. Nesse
sentido, expressando seu realismo, S. Tomás nos diz que "o que é
entendido é tanto a própria coisa quanto o conceito do intelecto",
explicando que "de modo semelhante pode-se afinnar que o que é
33
dito é o próprio verbo ou a coisa por ele expressa" .
A segunda distinção feita por Tomás de Aquino entre o
Verbo divino e o humano é a distinção entre o conhecimento direto,
completo e simples; e o conhecimento discursivo, fracionado e complexo. Segundo Gadamer,
1.
nenhuma palavra humana pode expressar nosso espírito de uma maneira perfeita[...]. Apalavra re~~oduz de fato e por completo aquiloª que O espinto
• -' • - do espírito humano
.
.
Antes, a 1mpe11e1çao
1ntenc1ona.
· • • a autopresença
consiste em que não possui Jamais um
Ano 3 • n... 1n •janJdez. 2003 - 61
1
OFIA - - ~ ~ - - - - - - - - - - DEPARTAMENTO DE FILOS
completa, mas que está disperso, tendo em mente
uma vez isso, outra, aquilo[...] porque nosso intelecto é imperfeito, isto é, não é inteiramente presente a
si mesmo naquilo que sabe, tem necessidade de34 muitas palavras. Não sabe realmente o que sabe .
Assim,já que a palavra humana é reflexo da discursividade,
ela necessariamente "comporta não apenas manifestação mas35também
um processo real de encaminhamento de uma coisa a outra" , caracterizando-se de fonna imperfeita, pois caminha através do pensamento e da cogitação, o que impede o homem de expressar, em uma única
palavra, tudo o que está presente na sua alma, fazendo com que manifestemos todo o nosso conhecimento de maneira fragmentária e
setoria136. Enquanto que o Verbo divino, por sua perfeição, "expressa
tudo o que é em Deus"37, que "pode entender sem que nenhuma coisa
proceda realmente Dele, pois Nele se identificam o cognosce38nte, a
coisa conhecida e o conhecer- o que não acontece conosco" .
Já a terceira e última distinção fundamental entre a nossa palavra e a de Deus é caracterizada da seguinte forma pelo
Aquinate:
a nossa palavra não constitui uma única natureza
conosco, enquanto o verbo divino constitui uma mesma natureza com Deus e subsiste na natureza divina. Pois a ratio intelectiva que nosso intelecto forma
de algo só tem ser na alma intelectiva; pois o conhecer intelectualmente não se identifica com a própria
alma, já que a alma não é a sua operação. E, assi~, ~
termo [o verbum] que o nosso intelecto forma nao e
da essência da alma, mas apenas seu acidente. Já
em Deus entender e ser é o mesmo, e, ass~ , o ~er-bo formado pelo intelecto divino não é al~o aciden~.
mas de Sua natureza: daí que necessaoamente se
subsistente, já que tudo que
Deus39:
ÁGORA Fn.os óACA
Nas palavras de Gadamer:
.
desse modo, o pensamento faz
ho rumo a
concepções sempre novas e °nocamm
_
d
f
,
un o, nao é
' '
perfectivel de todo em nenh
uma d J Sua
. .
.
as.
1mperfect1v1dade tem como reverso O quee co
• .
..
nst1tu1
.
pos1t1vamente a verdadei·ra 1•nfimitu
dedoe , •
spmto, que
semp
itual
espir
esso
num proc
vai mais
ado
renov
re
, d .
l
Iiberd
a
nisso
a e~ e s1 mesmo e encontra
ade para
proJetos sempre novos40.
três diferença. s .fundamentais da pa1 avra humana
Port
, . , .as
_ anto
nc1ahdade, a "fragmentalídade,,,ea
a d1 v1na - da pote
com relaçao
. .
. d
eza
acidentahda e - apesar e significarem aspectos da nossa natur
itos
intelectiva, revelam que o homem, na medida em que possui conce
soelaborados, não apenas capta as essências das coisas, mas tão
mente as detém de fonna verbal.
Conclusão
Pelo percurso traçado no desenvolvimento da íntetpretação
ea
de Gadamer do opúsculo "Sobre a diferença entre a palavra divina
o
humana", de São Tomás de Aquino, estabeleceu-se que o pensament
ira
tomista pode ser estruturado em princípios hennenêuticos, de mane
to
tal que suas reflexões teológicas podem ser deslocadas para o âmbi
da hermenêutica filosófica sem com isso desmerecer suas intenções.
Nesse sentido, a pergunta pelo significado próprio das palavras foi desenvolvida e radicalmente trabalhada, possibilitando o delineamento de um horizonte de respostas que indicam conexões com
outras problemáticas filosóficas. Contudo, nesta concJusão, atenderemos àquilo que deste horizonte pode possibilitar um desfecho -mes
mo que provisório - para nossa pergunta inicial sobre o significado das
palavras.
Assim, a leitura que Gadamer faz de São Tomás mostra que
a palavra não pode ser um signo, pois não se limita ao uso p~e ~te
indicativo, não sendo, portanto, uma ferramenta. Dessa mane~,ª disposição semiótica da linguagem, porque esconde um ideal da
Ano 3 •
0 ..
1/2 • janld ez. 2003 - 63
oAA
_ _ _ _ _ _ _ DEPARTAMENTO DE Fn..os
clzaracteristica wiiversalis, acredita que a finitude humana se caracteriza pela falta de unidade semântica entre as línguas, tal como se
pensamento e linguagem estivessem dissociados, sendo a linguagem
um puro artifício de comunicação. Dessa fonna, determinou-se a característica da palavra enquanto verbum e, por isso, passou-se a tratar da suas relações analógicas com a Trindade, donde se firmou a
natureza intelectual das palavras e sua inseparabilidade do processo
intelectivo como verbo interior. Não obstante, passamos para uma
caracterização mais detalhada da palavra humana, na medida em que
a
foram definidos seus três aspectos fundamentais (a potencialidade,
"fragmentalidade", e a acidentalidade) frente à perfeição do verbo divino. De onde se conclui que,
a unid ade inter na de pens ar e dize r-se, que
corresponde ao mistério trinitário da encarnação,
encerra em si que a palavra interior do espírito não
se form a por um ato reflexivo. A interioridade da
pala vra[ ...] é a causa de que se ignore tão facilmente o caráter direto e irreflexivo da 'palavra' [...]. A
palavra não surge num âmbito do espírito, livre, ain41
da, do pensamento (in aliquo sui nudo)" ,
pois a intelecção humana é propriamente verbal.
Notas
1
2
Mestrando em Filosofia pela UFPE.
Cf. Comentário de Gadamer ao opús
Hans-Georg. Verdade e método: traço fimüdJlentl
de Flávio
r!lf m~'ltÍ'l1u1.tUll!ft111.-
b
ÁGORA f JLOSÓFICA
10
11
12
13
t4
1s
16
11
Jbíd., p. 617.
AQUINO, Tomás de. De verbo, art. II res
.
.
GADAMER, 1999,p.610.
' ponsioadobiecta,5
Ibid., p. 611.
AQUINO, Tomás de. De verbo, art. I, responsio
GADAMER, 1999,p.612.
Ibid., p. 613.
"A linguagem humana pode recobrir tudo e sugerir mu·t
1o, mas nunca nela se
,
· d
.
encontrara mais o que pode colocar ah. a inteligên
cia
hum
• posso
,
ana. Ass1m
querer
falar
de
um
c1rculo
quadrad
lha d'e uma
.
_
.
. o, e chamá-lo círculo A·. a
etiqueta nao tornou o obJeto mais pensável" (ROUSSELOT esco
p·1erre. A teona
.
da mtehgencia segundo Tomas de Aquino Trad de Paulo M
•
·
eneses. s-ao
Paulo: Edições Loyola, 1999, p. 94).
GADAMER, 1999,p.614.
Jbid., p. 614.
Ibid., p. 614.
Cf.AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios, 4ª parte, cap. 11.
Cf. Idem, Suma Teológica, I, q. 27, a.2.; bem como, I, q. 34, a. 2.
Cf. ldem, Suma Contra os Gelllios, 2ª parte, cap. 83.
Os termos - o verbo do coração e o verbo interior - apesar de indicarem
uma mesma coisa, concomitantemente revelam os matizes das operações da
mente. Se, por um lado, S. Tomás diz que o verbo interior é "a própria coisa
enquanto conhecida interiormente", e, por outro, afirma que o verbo do
coração "é aquilo que é considerado em ato pelo intelecto" (AQUINO, Tomás de. De verbo, art. I, responsio), é porque aborda o conceito de duas
maneiras distintas: primeiramente, com relação ao verbo do coração, ressalta
o aspecto cognoscitivo do conceito, que é objeto real ainda que de forma
abstrata; e posteriormente, com relação ao verbo interior, sublinha o caráter
discursivo do conceito, quando explica que o intelecto, para manter s_ua
intelecção, mesmo na ausência da coisa, elabora "uma certa noção da cmsa
concluída, que é o conceito da mesma, [expresso ou] significado pela definição" (AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios, lªparte,cap. 53, l). No
entanto, as distinções mais rigorosas entre o verbo do coração e O ~~rbo
interior esbarram nestas palavras do Aquinate: "embora quanto_ª nos ª
•
•
manifes
tação a outro requeira verbo vocal, a mam·,1est ªça- 0 para s1 mesmo
- precede àquela E
faz-se também pelo verbo do coração e esta mam·,1estaçao
•
•
. • " (Aquino Tomás de. De
assim verbo é primariamente um verbo mtenor
~
. ,
.
verbo mtenor e causa
verbo, art. I, responsio ad obiecta, 5); ou seJa,
se O . .á,
•resta
exemplar do verbo exterior, é porque o próprio verbo intenor J .eª maru
a conçao mental do verbo do coração, não havend°d.ts t'tnções reais entre
,
_
.
. ara s.
o verbo
~epç~o do conceito e o seu entendm~ento, ~is, P UINOTomas,
Tomás de. De
tntenor é formado pelo próprio ato de mtelecçao (AQ
.
'
d' e 0
."
d Iuerent
ia, cap. I, 4). É por isso, então, que o Doutor Angélico nos 1z qu
•
1s
19
20
21
22
23
24
•
A
•
,
,
Ano 3 • n°' 1/2 • janJdez. 2003 - 65
____
_ _ DEPARi i\Mf.N10 DE Fn.osof\A
. • é..aC
verbo m
\u\\o que é en d' dO" enquan • t,electo em a H ,
ten
to e o pr n t ' b to o im:
U\NO 'fomte
prioentendeorr.,
o
á
a
s
6
rt
d
e
.
(A
D
r
e
.Q \ •.
e ver , •1 sponsio ad .
u GADAM
o
'
b
1
e
c
ta
E
, l).
R \<)99,p. 6 6
1 6 AQ, tn.~Q 1' m
uu, , O ás de. De d
·
ifferent1a, ca 4 '2 ·
n Idem, De
p. ,
.
verbo, art. Il,
respo~sio
n lbid., art
. Il, responsio
ad obiecta, 5
n ldem, De
differentia, c
ap. 4, \
lO lbid
.,
l\ Note cap. 4G4
itode ,adam ""nto de n
artida da ex
mem6n•a, o q - er,o r
posição é o
ue nao va·i de enconrtr
conhe
o
a
o sentido da
coq,o do tex~• como s
• - f c·imento \)e\a
expos1çao
·
vale diz.er qu o, . e "k"" """'e notar quand
eit
"
a a.cima no
e apalavra hu
,
o
.
e
\e
a
firma: e
.
man
mas não form
ada. O proce a e potencia\ antes de atu • m pnm
E'ef uo lu, gar
sso do pens
a
nos vem à m
h
z
a
r-se. orm
ar se in
ente
ave\,
implica que a a partir da memória. 'fa icia precisamente por
que a\go
mbém isso
me
é uma ema
vem assim à mória seja despojada o
nação, não
u l)C
men
contrário, é a te não é ainda completo rca a\go. No entanto,
o que nos
gora
, ne
espírito se ap \'.\Ue começa o verdade m está l)Cnsado até o
f
ir
ressà de um
ao outro, re o movimento do pens ina\. Ao
outro e busc
vo\uteia da
a, a
qui para lá, ar, no que o
investigação ssim, a expressão plen
sopesa um
(in
a
eo
. l)nmeiro n quisitio) e reflexão (cogit de suas idéias pe\o c
o pensamento
aminho da
atio). A pala
vra plena fo
e, ne
mas, quando
rma-se, pois
emerge na p ssa medida, forma-se
,
como uma
lena l)erfeiç
l)rodU7. com
ferramenta
ão do l)Cns
ela nada nov
,
amento, en
o. A
ne\a~ \)Or con
tão já não
seqüência, a ntes, é a própria coisa
se
que então e
p~lavra não
mâs encontr
s
é
tá
o
p
u
p
r
opriamente
r
\ho emnues para isso uma im
uma ferram esente
a
g
e
• , ev"
m
e
•
s
p
e
lê
nta. 'fondida: a pala
ncnhu~mom e a co~sa. M
. as, o que h
vra é como
e
n
to
á
um CSl)Ca. Nele nao
,
d
se refletevaniamais além da imagee especial neste esl)C
•
m
\h
d
a •
o é que, em
da coisa.
con1unto•de s.
r,tandiosod i mesmo nãomfaazis. que essa c · , .
odoisa umca
perfeito dae • '.
s~ imagem é senaorepr uz.usu ' de maneira que no
aimagem(
\lCnSamcntocoisa, como exqpu e ª palavra é con
similitudo'
re
c
a
e
s
b
s
u
ã
id
).0
o
e
di •
a
d
,
a
a
q
ui, como um
.s
u A~~nào q ' na rea .
fi
a
r
c
e
o
f
le
i
xo
,e
sedãnadaan lidade deve
â\ogo" (GA
toda a ica para trás o cam
13 "\l.\JlNO,io
DAME.R ~
· ,. · N inho do
lbid., an. n, mãsdc Dcv 'oo
e
x
1
··
14 GA1
17 7:1,p stenc1a. o espm
)A.Ut::n tesponsio ad ': .
,
to
.6
'a
11-618).
lS Ã "
, U \ N ~ \99
Outcctar,t.3 l , tcsponsio a
d
o
9
biecta, 2.
l6
·' ,(
0,Tomild,pe.6\I.
.D
evtl\)o
ldan, Decliff
ll lbid
ereeti,,,
3
li 1 .
'att. n, 1e&\l
-, •
,caq,
0nsio ad obie
dan.O-e ..
cta l
>t Idem
'
, D&
40
OA1)
•1
lbid., p. 619
.
ÁGORA
i t e fe r ê n c i
f 1LOSÓF1CA
as
BAGNAN ....l. \ a Dici
onário d e
O , i,,.,co
AB
Filosofia.
São Pau \o.. M a r t i n s F o n t•
2. e d . T r a d
e s , 1998.
. d e Alfred
o Bosi.
AQUINO, S t o T o m á s de. Q
uaestione
nt
e C o nh e C:u- ean
s Disputat
o
T
r
a
d
u
e notas d e
a
•
•
M á n o B r u S e: De Veritate. /ri: V
•
Fontes, 199
n o prov1•
erdade
9•
ero. s-a o P l M
a
u o : a rt'
. Quaestio
ms
n
e
s
Disputata
Conhecim
e: D e Verb
ento. T r a d
o. fo: ( n o m
.
e
n
o
tas d e L u i z
e d o autor
1m.
Jean L a u a
?). V e r d a
nd. S ã o Pa
de e
u
lo: M a r t i n
_ _ _. Q
s Fontes,
uaestione
s Disputat
ln: (nome d
ae: D e Di
o
fferentia V
Lauand. Sã auto!'?). Verdade e C
erbi D i v i n
o Paulo: M
o
n
h
ecimento.
i et Hwna
artins Fon
Trad. e no
ni.
t e s , 1999.
t
as d e L u i z
o r . •~u
Jean
iveira. Saomma Tbeo\ogica.
T
Paulo: Edi
ções Loyorad. coord. p o r C a r l
l a , 2 0 0l .
os-Josaph
at P i n t o d e
·
D
Ode
ilão M o u r aVeritate C
Escola Sup e L u d e atJholz' cae F'd • I
S
eri
z
Universida or d e i r ~ ~s~:rs, r e 1 . n: umma C o n
tr
ev. d e L u i s
de d e Ca1· ~
Alberto D a G e n t i \ e s . T r a d . d
odg1aS ao L
e Boni. Po
e
xias o u \ o r e n ç o d e
rto Alegr
Brindes, S
, 1990.
~ADAME
e·
u\i~a ~ C a i
xias do Su
; ; ; ; e n ê u t iR, Hans-Georg V
l:
c a füosófic
d d
,
a. 3.
.
•
Ta :
• • r a • ~ m e t ~ o : traços f u
R
nd
e F\áv10 Pa
o
ulo Meureamentais d e u m a
d ussa
r. P e t r ó p o
e Paulo MOeT , P i e n e A t
\is· ' ,
e
o
•
. vozes,
•
.
n
a d a intelig
neses. S ã o
ên
Paulo: Edi
ções Loycoia s e g u n d T
,
\a, 1999.º
nde
~,
ornas de A
· ••, '
quino. Tr
' 1
., .
ad.
---·
:ir