Metodologia da Alfabetização de Adultos: um
balanço da produção do conhecimento*
Vera Maria Masagão Ribeiro
Marilena Nakano
Orlando Joia
Sérgio Haddad
INTRODUÇÃO
agentes e educadores e a insuficiência das
atividades de supervisão. Constata-se também
a precariedade dos recursos materiais.
Este texto é parte de um trabalho mais
amplo (Ribeiro et al., 1992), que buscou
estabelecer um “estado da arte” sobre a
metodologia da alfabetização de adultos realizado a partir de um extenso levantamento bibliográfico, abarcando livros, artigos de periódicos
especializados, dissertações e teses, relatórios,
documentos oficiais, relatos de experiências,
papers e outros avulsos.
Com relação à clientela, há pelo menos um
indicador constante que merece séria consideração: a população que recorria a esse programa
de alfabetização de adultos era bastante jovem.
Aproximando os diversos estudos, constata-se
que algo em torno de 60% dos estudantes do
Mobral tinham menos de 20 anos e que mais da
metade deles já havia freqüentado escola
anteriormente. Esta é uma tendência verificada
também atualmente em diversas agências que
promovem escolarização de adultos. Seu público
não é majoritariamente o suposto adulto maduro,
que não teve acesso à escola na infância ou que
passou muitos anos dela afastado. A maioria
substancial da clientela dos programas de
educação de adultos são adolescentes e jovens
que fracassam no sistema regular e buscam uma
segunda chance para realizar seus estudos. Sem
dúvida, esse é um dado fundamental a ser
considerado pelos planejadores educacionais,
tanto no que se refere à política quanto aos
aspectos pedagógicos.
Apresentamos aqui uma síntese desse
“estado da arte”, com os objetivos de mapear as
principais tendências detectadas no exame da
produção escrita do período e indicar algumas
lacunas e aspectos da produção que necessitam
ser aprofundados ou desenvolvidos de modo
mais abrangente e extenso.
O MOBRAL
Um primeiro aspecto digno de análise diz
respeito aos trabalhos realizados pelo Setor de
Pesquisas do Mobral ou por ele apoiados. A
maioria dos que tivemos acesso são surveys para
caracterização da clientela e seu rendimento, além
dos recursos humanos e materiais do Programa
de Alfabetização Funcional (PAF). São pesquisas
que abarcam amostragens bastante grandes, que
contrastam com a pobreza das análises e
conclusões tiradas de seus resultados (Speranza,
1973; Castro, Almeida, 1976; Almeida, 1978;
Almeida, Leblond, 1982).
No que diz respeito ao rendimento dos
alunos do Mobral no aprendizado da leitura e
escrita, é notável o fato de que os resultados das
pesquisas realizadas pelo próprio Mobral são
discrepantes com relação àqueles encontrados
por pesquisadores não vinculados ao órgão.
Enquanto nas pesquisas de Castro e Almeida
(1976), Almeida (1978) e Pereira (1987) o
rendimento dos alunos é considerado bom,
principalmente nos itens de leitura e cálculo, e
pior no item escrita, Mendonça (1985), utilizando
Com relação aos recursos humanos,
constata-se o baixo nível de formação dos
* A pesquisa que deu origem a este trabalho foi realizada pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) e financiada
parcialmente pelo Inep.
23
a mesma bateria de testes, encontra dados que
apontam para um índice de apenas 13% de
produtividade com relação aos alunos matriculados. Em Fletcher (1983), encontramos também
dados pouco otimistas quanto ao rendimento e
quanto à questão da regressão.
político-sociais para os participantes do programa. Seus dados revelam que a alfabetização
empreendida pelo Mobral não resultou em
mudanças de renda e ocupação dos supostamente alfabetizados, nem numa maior participação em trabalhos comunitários e associações.
O Mobral enunciava dois princípios básicos
em sua metodologia de alfabetização de adultos:
a funcionalidade e a aceleração. Ao se postular
a funcionalidade da alfabetização, entendia-se
que ela não devia se limitar ao ensino das técnicas da leitura e escrita, mas também induzir o
aluno adulto a descobrir sua função social, ensinando-o a viver em comunidade, capacitando-o
a integrar-se no mercado de trabalho e ao exercício da cidadania. Nesse sentido, todo o trabalho
pedagógico deveria estar voltado para a situação
existencial do aluno, sua realidade e seus
interesses mais imediatos. A aceleração justificava-se pelo fato de o programa estar dirigido a
adultos que, graças à maturação biológica e à
adaptação ao meio social, já estariam maduros
nos aspectos da percepção e motricidade, de
modo que não seria necessário que seguissem
todos os passos da instrução tradicional.1
Ao contrário das outras pesquisas sobre
clientela empreendidas pelo Mobral, nestas
encontramos um esforço de análise dos dados
encontrados. O autor questiona a possibilidade
de a educação, enquanto fator isolado, interferir
em aspectos que dependem da dinâmica do
mercado de trabalho. Nesse aspecto, fica
evidente o caráter puramente ideológico das
propostas do Mobral. De fato, dificilmente um
programa de alfabetização, mesmo que massivo,
poderia promover a melhoria na renda das
populações mais pobres, quando o modelo de
desenvolvimento é excludente e concentrador de
renda. Também no que diz respeito à participação
social, seria absurdo esperar que os egressos
do Mobral intensificassem seu exercício de
cidadania sob a vigência de uma ditadura que
havia reprimido toda a participação popular.
Já no final da década de 70, eram constantes os questionamentos da eficiência do Mobral,
tanto no que diz respeito à alfabetização
propriamente dita quanto à sua funcionalidade.
Além disso, o Movimento tinha dificuldades em
conseguir a quantidade de matrículas que
correspondesse a suas metas propagandeadas
e defrontava-se com altos níveis de evasão
(Paiva, 1982).
Para atingir o objetivo da funcionalidade,
além da silabação de palavras geradoras, o
método de alfabetização proposto pelo Mobral
previa também a discussão de temas relacionados com as necessidades básicas dos homens,
como saúde, habitação, trabalho, etc. As
discussões deveriam ser desencadeadas a partir
das palavras geradoras e das ilustrações onde
elas eram representadas. Uma avaliação do
material didático utilizado nacionalmente pelo
Mobral, realizada pelo próprio Setor de
Pesquisas da instituição, exemplifica de forma
bastante clara as dificuldades encontradas em
operacionalizar o princípio da funcionalidade
apregoado (Murtinho, 1985).
Nesse contexto, é interessante analisarmos
a emergência, nas pesquisas, do tema da
motivação e rejeição à alfabetização entre os
alunos do Mobral. Nos trabalhos que compilamos,
é notável a existência de duas abordagens bem
distintas sobre este tema. Numa delas, o próprio
adulto analfabeto pode ser culpabilizado pelos
fracassos do programa. Ele não se motivaria pela
alfabetização por ser pobre e ter outras necessidades mais urgentes ou porque sua condição de
analfabeto o impediria de conscientizar-se dos
benefícios da alfabetização (Amorim, 1978).
Pesquisa de Bandeira (1986) revela que esta
Em termos de resultados, o princípio da
funcionalidade é também questionado em
pesquisas realizadas por Lovisolo (1978a,
1978b), que abordam o rendimento dos alunos
do Mobral especificamente no que diz respeito à
funcionalidade da alfabetização, ou seja, em que
medida ela determina mudanças econômicas e
1
Os princípios metodológicos do Mobral são enunciados em Costa (1980).
24
Mobral, inspiradas diretamente em Paulo Freire e
por outras manifestações das teorias pedagógicas de esquerda.
visão era predominante entre os agentes do
Mobral.
Em abordagens mais antropológicas, como
as de Dauster et al. (1981) e M. K. Oliveira (1982),
identifica-se nos alfabetizandos adultos uma
consciência razoavelmente forte da importância
da instrução para uma melhoria das condições
de vida. Há diferenças importantes nos enfoques
dessas autoras, mas ambas observam que, além
da resolução de problemas concretos e imediatos,
tais como identificar o destino dos ônibus ou
assinar seus documentos, a alfabetização tem
para os adultos de baixa renda um forte conteúdo
simbólico. Nas populações estudadas, imigrantes,
favelados e subempregados de grandes centros
urbanos, a alfabetização é valorizada como
condição para sua independência e porta de
entrada para o universo da “sociedade moderna”.
Evidentemente, as propostas do Mobral
não tinham esse teor, o que talvez tornasse
apenas discursivas suas propostas didáticas que
se referem ao incentivo a uma relação pedagógica dialógica (Cruz, Toscano, 1979).
Encontramos pesquisas que se dedicam
especificamente a cotejar as propostas do Mobral
e de Freire. Jannuzzi (1983) procura demonstrar
que a diferença de princípios entre as duas
propostas reverte em metodologias também
distintas. Cardoso (1988) pesquisa diferenças
entre as duas propostas pedagógicas a partir da
relação entre alfabetizador e alfabetizandos.
Incluímos, no capítulo sobre a referência
de Paulo Freire na alfabetização de adultos,
alguns relatos de experiência que descrevem
minuciosamente todos os procedimentos do
método, como os de Poel (1981) e Cedi (1984).
PAULO FREIRE E A ALFABETIZAÇÃO
DE ADULTOS
Paralelamente ao trabalho realizado pelo
Setor de Pesquisas do Mobral, a obra de Paulo
Freire foi, sem dúvida, a principal referência do
período para a alfabetização de adultos. Algumas
das técnicas didáticas propostas por Freire foram
utilizadas também pelo Mobral: palavras geradoras ilustradas por codificações a partir das quais
se desenvolvem discussões; desmembramento
da palavra em sílabas, apresentação das famílias
silábicas com as quais o alfabetizando cria novas
palavras.
A APRENDIZAGEM DA ESCRITA
Nas décadas de 70 e 80, o referencial das
ciências lingüísticas também se fez presente nos
estudos sobre alfabetização em geral e de adultos
especificamente. Nesse campo se inscrevem os
trabalhos de Lima (1979) e Avelar (1981), onde
se discute o problema da estigmatização das
variantes lingüísticas populares e o papel da
escola como unificador da norma culta.
Entretanto, a especificidade de Freire não
se encontra nessas técnicas didáticas; o método
de alfabetização silábico, por exemplo, já era
largamente utilizado antes de sua proposta para
alfabetização de adultos. O que caracteriza o
enfoque em que Freire [...] é principalmente um
postulado filosófico-pedagógico, o diálogo,
ancorado numa postura política bastante definida:
o reconhecimento do alfabetizando adulto como
pertencente a um grupo social oprimido. Isso
implica o compromisso do educador com a
superação dessa opressão, a consideração do
oprimido como sujeito desse processo, a busca
de relações mais igualitárias e, principalmente,
um conteúdo de crítica à ordem social vigente.
Essa é a perspectiva de muitos estudos realizados a partir de experiências alternativas à do
Também nesse período são divulgados
trabalhos de psicolingüistas que se contrapõem
às concepções associacionistas sobre a aprendizagem da escrita e criticam a redução da alfabetização, mesmo nos estágios iniciais, ao treino de
habilidades perceptivas e à decifração de letras
e sons. Em tais abordagens, considera-se que o
aprendizado da linguagem escrita implica a
compreensão dos mecanismos da representação
simbólica e a compreensão das funções sociais
da escrita.
No Brasil, essas críticas às concepções
associacionistas e à consideração da leitura e
escrita como algo mais que o exercício de decifrar
letras e sons popularizaram-se principalmente
25
iluminam a compreensão da alfabetização: as
relações entre escrita e fala e a problemática
geral do simbolismo e da significação.
através da divulgação dos estudos de Emília
Ferreiro. A psicopedagoga argentina, a partir do
referencial teórico de Piaget, estuda a psicogênese da escrita em crianças e estabelece as fases
através das quais se realiza sua aprendizagem.
Em um trabalho sobre as concepções dos
adultos analfabetos sobre a escrita, encontra
padrões semelhantes aos das crianças préescolares (Ferreiro, 1983).
Considerando que o chamado “método
Paulo Freire” foi o grande referencial para as
práticas de alfabetização de adultos no período,
é fundamental que se possa fazer uma avaliação
clara de suas potencialidades e limitações. É
preciso considerar as críticas à ênfase na
silabação de palavras geradoras, tal como
proposta no método utilizado por Freire. Por outro
lado, recentes estudos da psicolingüística
corroboram a importância que Freire sempre
atribuiu à construção do significado desde o início
da alfabetização; corroboram as críticas do autor
às cartilhas com textos tais como “Eva viu a uva”
ou “O boi bebe e baba”, onde a repetição dos
fonemas para memorização destrói a integridade
da linguagem significativa. Em Freire, a ênfase
na significação das palavras tinha implicações
mais amplas e relacionava-se com a questão da
“conscientização”, da valorização da cultura
popular, da “leitura do mundo”, etc. Entretanto,
mesmo no que diz respeito à aprendizagem da
leitura e escrita especificamente, a construção
do significado é o elemento chave, e a partir dele
se orienta a tarefa da decifração (Goodman,
1987, p. 11-22). Também considerando a escrita
como sistema de representação mediado pela
representação da fala, pode-se considerar a
importância de os alfabetizandos terem a
oportunidade de ver, desde o início do processo,
suas próprias palavras representadas na escrita,
como proposto por Freire e enfatizado por
experiências que dialogavam com seus referenciais (Oliveira, 1982; Garcia, 1985).
Na área de alfabetização de adultos,
elencamos três trabalhos em que as autoras
aproximam os postulados de Emília Ferreiro aos
de Paulo Freire na discussão e proposição de
metodologias: Oliveira (1988), Hara (1988, 1990).
As autoras encontram identidades nas concepções de Freire e Ferreiro no que diz respeito à
concepção do aprendiz como sujeito do conhecimento. Enfatizam a necessidade de se considerar
os conhecimentos que o adulto analfabeto tem
sobre o sistema de escrita e criticam a ênfase na
silabação de palavras geradoras propostas no
método utilizado por Paulo Freire. No tocante às
propostas metodológicas, a tendência é combinar
ou substituir a silabação de palavras geradoras
pela leitura de textos reais e pela escrita
espontânea, sem se prender a uma gradação
rígida dos fonemas e letras apresentados. Apesar
de Emília Ferreiro evitar indicações metodológicas,
as propostas pedagógicas que se orientam por
seus postulados propõem atividades próximas às
utilizadas pelo método natural ou método de
experiências de linguagem, onde os alfabetizandos aprendem a partir do contato direto com textos
e escritas significativas, orientados pelo professor,
e não pela insistência em exercícios de montagem
e desmontagem de palavras.
O ALFABETIZANDO ADULTO
Hara e Oliveira, além da descrição das
atividades propostas, exemplificam ou contabilizam os progressos que os adultos obtiveram
durante o processo de alfabetização.
Encontramos um número relativamente
significativo de pesquisas abordando as capacidades cognitivas dos adultos analfabetos ou de
baixa escolaridade. A partir de um enfoque
psicológico, a maioria delas pretende trazer
algumas indicações quanto à alfabetização ou à
educação de adultos de uma forma geral.
A incorporação dessas novas interpretações sobre a aquisição da escrita, desenvolvidas
no campo da psicolingüística, é bastante recente
no Brasil. Na alfabetização de adultos, a produção
orientada nesse sentido é escassa e recente.
Além da psicogênese espontânea da linguagem
escrita, tema central da abordagem de Emília
Ferreiro, há outros temas importantes que
O referencial teórico predominante é a
psicologia genética de Jean Piaget. Há pesquisas
em que os adultos analfabetos são submetidos
às provas operatórias utilizadas por Piaget e sua
26
equipe para determinar as fases do desenvolvimento intelectual da criança (Dauster, 1975;
Baeta, 1978; Costa, 1987). Todos eles indicam que
tais adultos têm um atraso intelectual, não
ultrapassam a fase das operações concretas, ou
seja, a fase em que a criança é capaz de realizar
operações lógicas manuseando materiais
concretos. As conseqüências pedagógicas que
podem ser tiradas desses estudos restringem-se
à constatação de que o nível de desenvolvimento
intelectual dos educandos deve ser levado em
conta pelas metodologias de alfabetização.
prioritariamente do domínio lingüístico e da
cultura. Dias (1984) e Tfouni (1988) apresentam
dados que questionam a incapacidade dos adultos
analfabetos de desenvolver raciocínios teóricos ou
lógicosilogísticos. M. K. Oliveira (1982) questiona
a generalidade dos testes psicométricos, argumentando que eles medem habilidades
intelectuais específicas, requisitadas pelo
aprendizado escolar e vivência em sociedades
urbanas burocratizadas.
Um balanço geral das produções nessa
área indica que as abordagens histórico-culturais
ou antropológicas do desenvolvimento cognitivo
trazem indicações mais sólidas para o campo
da pedagogia. São abordagens que consideram,
como fator essencial, o problema central da
educação, ou seja, como os instrumentos sociais
de pensamento (a linguagem, por exemplo) e as
práticas sociais (a ação alfabetizadora, a escola,
o trabalho, etc.) determinam o desenvolvimento
cognitivo dos indivíduos.
Sem dúvida, essa pobreza de indicações
pedagógicas é devida ao próprio referencial
teórico que orienta as pesquisas. Piaget postula
que o desenvolvimento intelectual é um processo
espontâneo que depende da maturação orgânica
e da experiência e sobre o qual a alfabetização
ou a aprendizagem escolar de forma geral não
interferem essencialmente. Ainda assim, encontramos em Baeta (1978) um questionamento da
linearidade da descrição dos estágios da
inteligência de Piaget e, em Dauster (1975), a
indicação de que o trabalho pedagógico com
adultos analfabetos deve incidir justamente sobre
sua carência no domínio lingüístico.
A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA
A importância atribuída comumente pelos
educadores envolvidos na alfabetização de
jovens e adultos à Matemática não encontra
respaldo na produção levantada. Apenas duas
dissertações de mestrado (Duarte, 1987; Souza,
1988) tratam do processo de aquisição dos
conhecimentos vinculados ao [...], além de
alguns estudos isolados abordando aspectos
parciais (como o de Avelar, Campelo, 1987). A
primeira delas (antecedida de numerosos
escritos com resultados parciais da pesquisa
realizada durante o processo de alfabetização
de funcionários da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) analisa uma seqüência de
ensino-aprendizagem da Matemática. A segunda
analisa a ação de alfabetizadoras no ensino de
Matemática junto a adultos que freqüentavam
classes de pós-alfabetização em Vitória (ES).
Lauro de Oliveira Lima, renomado divulgador da teoria piagetina no Brasil, numa perspectiva
bastante ortodoxa, chega a questionar a possibilidade de uma educação de adultos que ultrapasse
o mero condicionamento e doutrinação, relembrando o ditado popular de que “papagaio velho
não aprende a falar” (Lima, 1982). Já Freitag
(1988) sugere, a partir de um estudo de caso, que
a alfabetização pôde promover a redinamização
das estruturas mentais de uma educanda adulta,
mas que sua consolidação depende da superação
de limitações culturais impostas pela situação
socioeconômica.
Outros estudos sobre a cognição dos
adultos analfabetos ou de baixa escolaridade,
que incorporam outros referenciais teóricos,
indicam relações determinantes entre a capacidade cognitiva e o letramento, a alfabetização
e a escolarização de uma maneira geral. Cunha
(1974) discute o postulado, defendido por certas
correntes da psicometria, de que o crescimento
intelectual só ocorre na infância e adolescência.
A autora distingue duas modalidades de inteligência, sendo que uma delas depende
Um outro conjunto de pesquisas levantado
provém da área de psicologia cognitiva da
Universidade Federal de Pernambuco UFPE
(Abreu, 1988; Acioly, 1985; Carraher, 1988;
Carraher et al., 1988a, 1988b; Lima, 1985;
Magalhães, Schliemann, 1989; Schliemann,
Acioly, 1989; Schliemann, Carraher, 1988).
27
Iniciados aparentemente em 1982, esses
estudos não tratam diretamente da alfabetização
matemática enquanto processo de ensino e
aprendizagem; antes enfocam as capacidades
cognitivas dos adultos analfabetos ou de pouca
escolaridade, seu desempenho na solução de
problemas, as características do conhecimento
matemático adquirido no “quotidiano” e as
relações entre esse conhecimento matemático
e aquele adquirido na escola.
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indicando a necessidade de investimento maciço
em pesquisa e experimentação nesse campo.
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