Análise Psicológica (2006), 3 (XXIV): 279-287
Para uma fenomenologia da identidade
pessoal
PAULA PONCE DE LEÃO (*)
INTRODUÇÃO
O sentido da reflexão que me proponho elaborar
visa a compreensão do homem concreto e singular
pensado a partir da fenomenologia de Husserl e
da analítica do Dasein. Enigma em si e para si
mesmo o homem cedo constituiu uma aporia para
o pensamento ocidental, expressa na máxima socrática:
“conhece-te a ti mesmo.” Como explicar porém
que este tema continue ainda hoje a interpelar o
pensamento contemporâneo? Mais ainda, como
respeitar a legitimidade de um saber que parece
escapar ao ideal da objectividade epistémica ao
integrar na sua reflexão a narração dos estados de
consciência experimentados pelo sujeito? Foi face
às dificuldades suscitadas por este tipo de conhecimento que o homem se apressou a substituir por
outros temas a meditação sobre si próprio. Ao
voltar-se para o conhecimento “das coisas da terra
e das coisas do céu”, o pensamento grego descobriu
que podia considerar o homem de uma forma menos
problemática, menos exigente e, sobre tudo menos
comprometedora. Herdeira da Grécia, a tradição
ocidental não se preocupou até ao início do século
XX em analisar o homem como um todo, antes o
dividiu em secções distintas integrando a seguir
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.
Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Existencial.
cada uma dessas partes no campo científico que
se afigurava mais adequado. Foi este tipo de reflexão
que Husserl se propõe não só criticar como ultrapassar.
Ao procurar interpretar o ser humano a partir do
acto de conhecer, Husserl analisa os princípios
metodológicos por ele utilizados para articular o
sentido e fundar a predicação, quando se propõe
garantir o conhecimento verdadeiro. Nesta óptica,
o nosso autor abre o campo da reflexão antropológica a experiências novas, a grelhas interpretativas
diferentes, ao mesmo tempo que demonstra quanto
o homem sabe pouco sobre si mesmo. Ao contrapor-se à redução da consciência a um simples conjunto
de factos empíricos, a fenomenologia postula a
necessidade da dimensão a priori das leis lógicas
se o homem quer fundamentar a especificidade e
a originalidade do acto de conhecer. O método
fenomenológico transforma-se deste modo num
processo de fundamentação que visando o universal
se pode aplicar a qualquer ciência. Na interpretação
de J. Paisana a fenomenologia justifica a sua
própria existência quando ao iniciar o seu trabalho
de reflexão surge como uma teoria crítica do
conhecimento. Contudo o recurso à intencionalidade
apenas pode garantir a validade objectiva do sentido,
mas não a validade do conhecimento real. Só a
ida às “coisas mesmas” é capaz de preencher a
intenção significativa. O conhecimento torna-se,
por isso mesmo, uma resultante da relação entre
a presença intuitiva da coisa e o acto intencional
que a visa. Porém, o caminho metodológico só se
torna possível se a teoria geral do conhecimento
279
se construir como fenomenologia. Mais ainda, o
método fenomenológico só se poderá realizar plenamente a nível reflexivo.
Decorrente desta modificação estrutural, a
fenomenologia transforma-se numa reflexão
sobre os critérios de verdade do acto de conhecer,
cabe-lhe distinguir os conceitos de evidência e
de verdade, revelando, desde logo a dimensão
ambivalente que a constitui. Por um lado é uma
teoria geral do conhecimento mas, por outro, tem
um objecto próprio e um método que lhe é adequado.
Ao debruçar-se sobre a essência pura do acto de
consciência a descrição fenomenológica ganha um
carácter pluridisciplinar abrindo consequentemente
a cultura contemporânea a uma multiplicidade de
antropologias. Religião, Medicina, Psicologia, Psicoterapia e Direito, entre outros saberes, envidam
hoje o melhor dos seus esforços no sentido de, ao
reflectirem sobre o homem, descreverem em primeiro
lugar a singularidade dos seus actos para a seguir
melhor os poderem explicar ou compreender. Como
seu objecto próprio, a fenomenologia sublinha o
estudo da linguagem e a análise da experiência
pessoal e das suas condições.
1. CRISE E CRÍTICA DO PENSAR
CONTEMPORÂNEO
A antropologia dualista norteou durante séculos
a reflexão sobre o homem reconhecendo-o composto
por dois princípios ontologicamente distintos: o
corpo, mortal e perecível, ao qual se contrapunha
a alma, eterna e imortal. O modo de estabelecer
a relação entre estes dois princípios constitutivos
do homem não foi sempre interpretado da mesma
forma pelos vários autores ao longo da história;
oscilando entre uma separação total entre corpo e
alma, um e outra apenas instrumentalmente ligados
no homem, ou apresentados como uma relação
ontológica onde ambos estão de igual modo comprometidos na constituição de uma mesma substância
que os subsume. Sabemos como este paradigma
de raiz grega se mantêm ao longo da história do
pensamento embora se confronte por vezes com
a proposta judaico-cristã em tudo distinta. Hoje a
maioria dos autores tende a reconhecer a insustentabilidade da proposta dualista onde o homem é
compreendido a partir do modelo do mundo e não
a partir de si mesmo ou do outro.
Ao reconhecer a unidade do homem e o papel
280
do corpo/finitude como condição do pensar, o século
XX impõe ao homem contemporâneo, o consequente
afastamento das certezas absolutas do cogito, assim
como exige que o problema do sentido se transforme
no horizonte que preside a qualquer reflexão. A
metafísica e as ontologias de carácter quer teológico
quer filosófico desmoronaram-se ao longo do último
século porque aceitaram por modelo compreensivo
do homem a dualidade dos princípios que o compunham pelo que as manifestações que desenvolviam
no mundo eram necessariamente contraditórias.
Ao outorgar à alma, enquanto de natureza espiritual
e universal, um carácter imortal a razão moderna
separa-a do corpo, que de natureza concreta e
material é perecível, permitindo-se deste modo
explicar a sua constituição e o seu funcionamento
de forma técnico-científica. Descartes ilustrou
sobejamente esta posição, Kant deu-lhe dimensão
crítica e, finalmente, Nietzsche radicalizou-a ao
entender o homem como vontade de poder.
O enigma da existência pode ser pensado hoje
através da metáfora de uma elípse onde se contrapõem,
mas mutuamente se remetem, duas grandes questões:
seremos apenas matéria totalmente perecível, um
corpo em tudo semelhante ao do animal ou, pelo
contrário, a dimensão trágica do corpo vivido que
somos, dará ao homem uma realidade inviolável
permitindo-lhe ultrapassar a dimensão de corpo-objecto? Como explicar que a noção de corpo se
integra uma simbólica antes de poder ser conhecido
através de uma explicação biológica? Como entender,
neste contexto, o sofrimento e a doença? Como
justificar a raiz do mal que na nossa cultura é
sistematicamente atribuído a uma alteridade radical
que, vinda de fora, se impõe ao eu? Se adiada a
reflexão sobre o homem entendido como um todo,
fica por compreender a raiz humana do mal e,
neste sentido, o abismo da liberdade passa a ter
de se submeter a uma teoria processual da justiça
de raiz kantiana. Será o homem constituído por
uma simples estrutura de partículas elementares?
– como pretende Laín Entralgo, aproximando-se
dos físicos e dos biólogos contemporâneos. Caber-lhe-á apenas integrar-se no eterno retorno que
tudo leva e anula como pretendia Nietzsche? Ou,
pelo contrário, será necessário entendê-lo como
responsabilidade incarnada tal como propõem Buber,
Ricoeur e Levinas? Como restabelecer hoje o encontro
necessário entre a realidade concreta e o princípio
que a regula? Será o fenómeno misterioso da vida
humana um jogo entre moléculas sem qualquer
finalidade própria onde apenas têm carácter as
regras do próprio jogo? Como religar o conhecimento
do cérebro ao conhecimento de si que a psicologia
reclama como seu objecto próprio? Binswanger
procura responder a estas questões construindo uma
antropologia existencial que ultrapassa os desafios
do naturalismo e do psicologismo e se organiza a
partir da hermenêutica do Dasein heideggeriano.
De facto, sem uma causa que explique de forma
nova a nossa existência, sem uma finalidade que
dê sentido ao movimento contínuo da presença que
nos constitui, a vida humana revela-se insuportável.
O homem precisa de reencontrar a confiança transcendental no horizonte de sentido de que as coisas
e a interpelação do outro são condições inultrapassáveis.
A ideia que o homem faz da sua própria identidade
está hoje mais ameaçada do que nunca pelo “sem-sentido” de regras tanto biológicas como sociais,
que esquecem a valorização do indivíduo e o seu
carácter insubstituível. Será, enquanto resposta a
esta problemática que a fenomenologia e as filosofias
da existência têm, algo de novo a propôr ao evidenciarem como é impossível separar os conhecimentos,
as acções e os sentimentos quando nos propomos
conhecer a identidade pessoal. Mais ainda, torna-se
impossível separar qualquer acto humano da linguagem
que o diz. A dimensão narrativa da experiência
ultrapassa de longe o cientismo e o biologismo
ao entrar numa relação íntima mas obscura com
as forças pulsionais. Apesar da opacidade do mundo
e do homem o pensamento holístico mostra-nos
a mútua interdependência que preside a qualquer
tipo de fenómenos, desde os fisicos e os biológicos
aos psíquicos, filosóficos e culturais.
Importa compreender a realidade humana como
religada ao mundo e ao outro, importa reconhecê-la como pertencendo a um animal simbólico, marcado
pela dimensão de projecto; urge considerá-la como
estruturando um ser imperfeito mas perfectível,
animal único capaz de transcender a apatia da carne
e de a transformar em corpo próprio. Todavia, porque
é um ser com outros e para outros, a realização
biológica não basta ao homem, que aspira “a um
mais” que nunca se esgota. A pergunta Quem sou?
tem, por isso mesmo, pleno sentido.
2. A FENOMENOLOGIA COMO
EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS
No século XX o homem experienciou sobejamente
a realidade e a sua absoluta contingência tal como
elaborou uma compreensão de si próprio que o
conduziu a uma consciência de si inteiramente nova.
A consciência descobre-se hoje como sendo capaz
de conjugar opostos sem ter de recorrer para tal a
uma síntese dialecticamente elaborada. Vivenciou
de forma dolorosa o facto da sua liberdade não
corresponder à pura autonomia que a modernidade
lhe havia prometido. Percebeu de forma trágica,
como a autonomia radica paradoxalmente numa
indigência fundamental. Indigência que habita o
homem apesar de todos os progressos da racionalidade e dos desenvolvimentos da tecnologia
procurarem afastá-la para longe. Daí a urgência
que se lhe depara em ultrapassar e combater a
experiência de passividade que o constitui. Experimentar-se como ser corpóreo é experimentar-se,
em simultâneo, como um ser que não domina o
corpo, nem é capaz de compreender plenamente
as suas leis e dinamismos face à questão da morte
e da relação interpessoal. Daí a importância de
uma reflexão sobre a fenomenologia que, partindo
da ambição de ir “às coisas mesmas”, acentua a
dimensão intencional da vida teórica assim como
define a consciência como “consciência de...”.
Dividirei a minha reflexão em dois momentos
tendentes a responder às questões enunciadas.
2.1. Num primeiro momento, irei retomar o
contributo metodológico de Husserl para
com ele repensar a noção de fenomenologia como ciência reflexivo-explicativa,
procurando igualmente mostrar como a
partir da teoria da intencionalidade é possivel
abrir à psicologia e à psicopatologia fenomenológica.
2.2. Num segundo momento, abordarei de forma
menos abstracta a hermenêutica do “eu
sou”, isto é, a hermenêutica da finitude,
onde o cuidado e a afirmação de si repõem
a exegese existenciária do ser para a morte,
da pergunta e da linguagem procurando
ainda pôr em evidência o carácter “terapêutico” desta forma de estar no mundo.
2.1. Fenomenologia e encontro.
Husserl, na palavra de Ricoeur, “não é toda a
fenomenologia mas é o seu nó fundamental”.
Comecemos então por analisar a concepção husserliana
de fenomenologia.
Inserida no pensar ocidental a fenomenologia
281
inicia um movimento novo de reflexão e valorização da relação do sujeito com o mundo e repõe
a necessidade de uma fundamentação radical de
todas as ciências exigindo que a filosofia retome
o seu lugar como ciência de rigor. A fenomenologia constitui um vasto projecto que visa menos
tornar-se uma doutrina do que criar uma metodologia que, entendida de diversas formas, procura
não só reinterpretar, alargando a “atitude natural”,
como repensar a constituição do fenómeno. Neste
sentido, ela é, antes de mais, uma teoria do conhecimento. A operação da consciência, seu ponto de
partida, inicia-se não com uma reflexão do sujeito
sobre si próprio, mas com a descoberta da relação
deste com as coisas através dos signos, tal como a
cultura falada os elabora. Daí a importância que exige
a questão do método. Porque o carácter a priori do
cogito cartesiano não aparece a Husserl como
suficientemente radical para poder constituir o
fundamento do saber, é que este autor lhe contrapõe
uma noção de sujeito transcendental considerado
a partir de uma total ausência de pressupostos.
Regressar “às coisas” é, assim, o único critério
que tem de norteá-lo no sentido de criar uma ciência
reflexivo-explicativa. Mais ainda, para Husserl, o
ponto de partida da reflexão tem de assentar em algo
evidente em si, i.e., não é preciso procurar-lhe
um fundamento já que ele próprio constitui fundamento de si mesmo. Porque as ciências experimentais
não podiam corresponder a esta exigência de fundamentação, já que são a posteriori, Husserl, nas
Investigações Lógicas opõe-se ao Psicologismo que
inicialmente o tinha deslumbrado ao tentar conjugar
a reflexividade com a análise experiencial.
Na sua perspectiva, o Psicologismo esqueceu
que havia uma profunda diferença entre a lei
psicológica que rege o “acto” de pensar e o “conteúdo
deste mesmo acto”. Reduzir a apreensão do conteúdo
do acto ao acto em si, tal como fazia esta escola,
correspondia a mergulhar no subjectivismo e no
relativismo da verdade. Urgia, para evitar tal perigo,
fazer o movimento em sentido inverso. São as ciências
práticas que devem basear-se nas ciências teóricas
e não ao contrário. O acto de conhecer tem de estar
vinculado à lei que o conteúdo expressa. O modelo
de ciência a seguir será, pois, o da lógica da contradição que postula a verdade ao abrir às coisas em
si e ao considerá-las como impossíveis de serem
pensadas de qualquer outra forma.
A primeira grande aporia do pensamento
husserliano decorre, exactamente, desta tomada
282
de posição já que o impulso lógico ao ser progressivamente racionalizado fecha a fenomenologia dentro
de si própria, tornando-a abstracta e separando-a
das coisas, sua raiz concreta. A reflexão sobre
esta noção de evidência torna-se então o antídoto
indispensável para superar esta dificuldade fundamental, obrigando igualmente o autor a reflectir
sobre a noção de intencionalidade e de intuição.
O que é a intencionalidade? A intencionalidade é
a propriedade que a consciência possui de se voltar
para o diferente de si – o mundo e as coisas –
tornando-se, deste modo consciência de… (qualquer
coisa). Ao constituir-se como poder de pensar o
outro na sua ausência, ou pelo contrário, como poder
de o conceber na sua presença, a intencionalidade
apresenta duas finalidades distintas. Não só abre
ao sentido que todos os actos de significação
procuram dizer ao visarem uma mesma coisa,
tornando-se desta forma raiz da lógica; como, ao
visar a presença, conduz à intuição da coisa de
que a percepção é a base concreta, aproximandose da ontologia. Quando reduz a sua reflexão, na
última parte da sua obra, a uma fenomenologia da
percepção, Husserl tende a esquecer a dialéctica
essencial entre o sentido e a presença que esta
ambivalência pressupunha. A percepção, ao constituir
a antecipação da unidade de sentido da “coisa”,
torna-se indispensável para a sua conceptualização.
Neste sentido, a evidência primordial só pode ser
radicalmente fundamentada porque se alicerça na
“percepção” de um objecto. A evidência é, assim,
pensada por Husserl a partir do objecto, mas porque
há três níveis de objectos, os sensíveis, os categoriais
(atribuição de predicado) e os universais (as essências
e os conceitos) há também três níveis de evidência.
A evidência apodítica, a mais radical, pressupõe
a adequação perfeita entre o intencionado e o
intuído. Será, pois, no “fenómeno” que a evidência
tem lugar. “Fenómeno” não é qualquer objecto
exterior à consciência, mas antes o puro objecto
imanente à consciência, já que o objecto enquanto
pensado ao ultrapassar o seu carácter fáctico ganha
uma dimensão eidética.
Clarificando: “fenómenos” são as coisas enquanto
evidentes à consciência. Mas como pode a coisa
em si tornar-se fenómeno, isto é, aparecer como
uma evidência apodítica à consciência? A experiência concreta do objecto ao ser exterior à consciência permite erros. Só a consciência do objecto
exterior é segura e pode impor-se apoditicamente.
As coisas concretas não constituem uma base
certa para a consciência, por isso, é que face a
elas o filósofo deve suspender o juízo. Neste aspecto
Husserl é claro, a époché não destrói o mundo
concreto, apenas o reduz à consciência, para poder
teorizá-lo a partir de certezas insofismáveis.
Há pois necessidade de considerar dois tipos
de realidade: a transcendente que são as coisas, e
a transcendental que visa os objectos enquanto
reduzidos à consciência ou seja, enquanto “fenómenos”. “O que significa significar?”, questiona-se
Husserl. Dito de outra forma, em que consiste o
movimento redutor do mundo à consciência? Decorre
em dois momentos: a redução psicológica e a
redução transcendental. Suspendemos, na primeira,
os nossos juízos sobre aquilo que é exterior à
consciência. Neste estádio, o homem apenas considera
o próprio sujeito que conhece, a sua existência
natural e os seus actos conscientes. Até este ponto,
também Descartes tinha chegado na sua reflexão
sobre o cogito. Husserl quer ir mais longe, libertando-se, desde logo, do domínio psicológico porque
sempre particularizante. Impunha-se para tal o
afastamento da natureza física e biológica do Eu
para considerarmos apenas o sentido das coisas.
Onde e como encontrá-lo? Na perfeita conjunção
entre o eu penso, desinteressado e imparcial, e o
fenómeno presente à consciência. O idealismo de
Husserl é, assim, diferente do de Descartes. Para
Descartes, o eu penso o mundo e, ao pensá-lo,
constrói-o. Em Husserl o mundo permanece, embora
“reduzido” face a um Ego que, para o poder teorizar
tem, não só de se libertar da sua dimensão existencial,
como de “construir” o objecto pensável. Pensar o
sentido da relação sujeito/objecto obriga-nos, assim,
a procurar saber como é que a “consciência pura”
constitui o objecto. A constituição é uma operação
da consciência ou do eu onde se entrelaçam os
elementos naturais do objecto (cor, tamanho, etc.)
com o elemento formal, a sua dimensão lógica,
presente na intencionalidade. É esta que unifica
os dados naturais em ordem à constituição do
objecto enquanto consciente ou significado.
A nóesis é a compreensão do sentido do objecto,
mas ao pretender projectá-lo, em ordem à sua
designação, dá origem ao nóema. Da nóesis ao
nóema eis o caminho que o objecto tem de percorrer
na consciência. Este idealismo, transporta em si
algo novo, permitindo a Husserl dizer: “É evidente
que o mundo é o que é, em si e por si, quer vivamos
ou morramos, quer conheçamos ou não.” Porque
visa o rigor e constitui uma reflexão necessária,
é que importa recorrer à redução fenomenológica.
Terá, contudo, o objecto intencional uma dimensão
de verdade absoluta? Poderá ele ser aceite por
qualquer sujeito cognoscente? O conhecimento
só atingirá a esfera da objectividade se simultaneamente for intersubjectivo. Como passar, então,
do Eu ao Nós transcendental? Husserl considera
que a consciência transcendental é comum a vários
Eus que, idênticos a mim, são igualmente sujeitos
transcendentais.
O objecto transcendental na fenomenologia
conjuga o objecto real, ao qual se refere a consciência,
com a dimensão nóetico-nóematica, que não só
revela a realidade universal daquele, como lhe
confere carácter absoluto ao visitá-lo a partir da
intersubjectividade.
Metodologicamente, podemos considerar que
a fenomenologia oferece às ciências humanas
duas noções chave pois revela-se: em primeiro
lugar, como um método de evidenciação e, em
segundo lugar, como um método de descrição. A
justificar a primeira asserção está o facto de Husserl,
com tal objectivo pretender salientar a presença do
objecto libertando-o da subjectividade do eu, e,
transformando-o, em seguida, em fenómeno, ou
objecto intencional da consciência. A confirmar
a segunda está a vocação descritiva da fenomenologia. Ao filósofo ou ao cientista cabe, apenas,
a descrição do fenómeno que se oferece à consciência
subjectiva, também ela, por sua vez, depurada.
Porque os campos da experiência transcendental
são múltiplos, as possibilidades de inovação da
descrição são infinitas ao poderem ser continuamente
renovadas. O aspecto da evidenciação proposto
pelo método fenomenológico foi abandonado pelos
continuadores de Husserl que cedo compreenderam
que, à necessidade de pôr tudo entre parêntesis,
correspondia a impossibilidade de atingir a significação, uma vez que não é possível significar aquilo
que não tem existência concreta. Efectivamente
se o nóema é necessário para que o objecto intencional
se constitua, não deverá ser igualmente necessária
a existência real do objecto como condição justificativa do próprio nóema?
Para responder a esta aporia, a fenomenologia
procura desenvolver a criatividade que está implicita
no método descritivo que a psicologia e a filosofia
existencial retomam e continuam. A filosofia existencial, ao partir do eu concreto irá recorrer à
descrição como processo de análise e conjugá-la-á a seguir com a interpretação hermenêutica,
283
no sentido de ultrapassar o âmbito do imediatamente
descritivo e de mostrar como a consciência dos
limites do eu constitui a prova do exercicio da sua
liberdade. Caber-lhe-á, ainda, reflectir sobre a
impassibilidade da razão e sobre a relação necessária
com o sensível.
2.2. A analítica do Dasein e psicoterapias
existênciais
A questão das condições transcendentais da
experiência concreta manifesta-se nas psicoterapias
existênciais pela dificuldade de entender a
facticidade que, ao ligar-se à existência, fica aberta
à possibilidade de múltiplas interpretações. Porque
a fenomenologia parece não ter conseguido ultrapassar a dimensão subjectiva em que o psicologismo se debatia, as psicopatologias herdaram esta
questão e repõem-na quando perguntam se o sentido
das evidências reside no universal que a lei representa
ou no facto clínico com o qual o psicoterapeuta
se confronta. Como entender o sintoma? Poderá
a noção de evidência englobá-lo? Efectivamente,
é impossível confundir a lei lógica que estrutura
o conteúdo do pensamento com a lei psicológica
que se refere ao acto de pensar. No volume II das
Investigações Lógicas o novo método fenomenológico constituiu-se como o fundamento adequado
do pensar qualquer que seja o campo a que este
se aplique.
Se a fenomenologia ao debruçar-se sobre a
actividade intencional é irredutível ao correlato
noemático das ideias puras, tal não se verifica no
discurso das psicopatologias existênciais. Ao
procurarem fundamentar a existência concreta através
da catalogação da multiplicidade dos fenómenos,
as psicopatologias ajudam a registar um número
complexo de doenças, ganhando desta forma uma
prospeção eidética fecunda. O fenómeno da existência
adquire assim um carácter transcendental que lhe
confere não só uma dimensão gnosiológica mas
tambem axiológica. Paradoxalmente, porém, a
existência na psicoterapia, não é dedutível mas
tem de ser experimentada. Daí a dificuldade, não
só de unificar num mesmo discurso as terminologias
multívocas das psicopalogias existênciais, como
a recusa de sistematizar filosoficamente o campo
da clínica. Mas a este um outro problema se acrescenta. A constituição do objecto, do fenómeno,
pedra base do edifício fenomenológico tem como
correlato na psicologia a construção do objecto
284
interno do paciente. Ora, nesta constituição, a
ética está indirectamente presente. A existência
de um sujeito livre ao revelar-se através das suas
escolhas e das suas acções manifesta, desde logo,
a sua dimensão ética. Como encararam então os
psicoterapeutas esta presença provocatória? Numa
frente comum, Minkowski, Strauss e outros consideram
que o fenómeno humano tem de ser interpretado
através de uma simbólica dos valores. A modalidade
das acções humanas desdobra-se no dass (para
quê) e no was (porquê). Se o “porquê” explica
causalmente as acções, a normatividade diz o seu
“para quê” ao conjugar as convicções e o bem que
estas visam, pondo a descoberto o sentido da vida
humana. Como unificar então o transcendental
gnosiológico com o sentido ético? Estarão os psicólogos e os psicanalistas com Kant ao considerarem
estes domínios inseparáveis? Não será necessário,
em primeiro de tudo, reformular o transcendental
kantiano de que Husserl se faz eco? As Investigações
Lógicas e as Ideias ao patentearem as dificuldades
do pensar husserliano dão azo à dispersão das psicoterapias da existência abrindo a uma pluralidade
de interpretações possíveis. O princípio da existência
patológica tem porém de respeitar os dados que
o psicoterapeuta organiza. Mas como respeitar
conexões conceptuais que integram aspectos
culturais determinantes quanto ao “para quê” dos
fenómenos humanos? A racionalização metodológica
que a causalidade requer pode ser alargada perdendo
o seu carácter teórico pela recuperação do estatuto
discursivo da existência. Daí a importância de
Dilthey e do seu método compreensivo onde vida
e hermenêutica se interpenetram no sentido de
ultrapassarem a dimensão limitativa da percepção.
O contacto com “as coisas mesmas” característica
da psicologia experimental, é reposto pela fenomenologia que entrelaça o fáctico com o eidético
ao construir os “fenómenos”. Não serão porém os
fenómenos meros estados da consciência apreendidos
intuitivamente, isto é, não serão eles apenas fenómenos psicológicos?
A dificuldade, que sempre preocupou Husserl,
de criar um método que estabelecesse a relação
entre a consciência e o objecto, se por um lado
revela, a marca do psicologismo na sua reflexão,
por outro, manifesta o legado da fenomenologia
ao existêncialismo e às psicoterapias existenciais.
O sentido do mundo, ou seja do mundo enquanto
conhecido, garante a evidência apodítica, mas
simultanamente, o mundo real e concreto torna-se
enigmático ao ser reduzido pela époche.
Como passar da subjectividade e da sua dimensão
psicológica à objectividade da dimensão transcendental? Se o mundo exterior foi facilmente
reduzido, o mundo da consciência tem de sofrer
idêntica depuração. O Ego transcendental de Husserl
é uma pura significação que, paradoxalmente, não
fica limitado mas se abre e converte num cogito
e na multiplicidade dos seus cogitata transformando-se, pela exigência do próprio método, numa mera
consciência transcendental. Característica fundamental do método fenomenológico aplicado aos
eventos psíquicos – a analítica da consciência –
mantém-se e desenvolve-se na psicologia. A
dificuldade do conhecimento do outro, enquanto
construção em mim do objecto singular que ele
constitui, é não só um problema evidente mas,
também, altamente obscuro. Husserl designa este
modo de conhecer o outro por “Einfülung” (intropatia).
Na psicanálise o paciente requer a transferência
para o analista que, se não é garante da objectividade do conhecimento do outro, inicia um tipo
específico de inter-relação projectiva. Se a fenomenologia após ter justificado a dimensão transcendental
do outro apenas pode descrever analiticamente as
riquezas da subjectividade transcendental, a análise
ao recorrer à terapia pela palavra procura encontrar
analiticamente as riquezas do eu sem nunca esquecer
a sua dimensão concreta e empírica, isto é, a sua
subjectividade. Husserl confirma esta interpretação
dizendo nas Investigações Lógicas: “A distinção
radical entre subjectividade psicológica e subjectividade transcendental indica a distinção radical
entre Psicologia e Filosofia transcendental.” O
encontro consigo próprio ao ser paralelo com o
encontro com o outro transforma-se num parâmetro
que torna possível a aproximação entre sintomas
mórbidos aparentemente sem sentido. Daí a coerência
que permitindo a relação permite também a reciprocidade.
Referi atrás que o método analítico-descritivo
tinha sido também desenvolvido pelos filósofos
da existência, também eles leram Husserl. Considerarei
o contributo de Heidegger, embora pudesse assinalar
outros autores, como Sartre, Merleau-Ponty e P.
Ricoeur. Heidegger irá ser abordado a partir da
hermenêutica do “eu sou” que procede da refutação
do Cogito que deixa de ser tematizado neste autor
apenas como simples princípio epistemológico,
passando a mostrar como entre a questão do Ser
e a do Dasein há uma remissão estreita. A analítica
do Dasein permite ainda criticar a noção de representação. Consideraremos finalmente, a tarefa de
dizer o ser que, ao caber ao Dasein, nos mostra
como nela ele próprio se revela. Pensar o homem
deste modo e conceber a linguagem como palavra
falante constitui “um único e mesmo problema”.
Ao iniciar Ser e Tempo pela afirmação “a
questão do Ser caiu no esquecimento” Heidegger
procura desde logo mostrar como o ponto de partida
da interrogação filosófica deixou de ser o sujeito
transformando-se na questão do Ser. Mas, porque a
questão do Ser toma a forma de uma interrogação
ela implica indirectamente a referência ao Dasein
que a formula. Embora só perguntemos por aquilo
que não sabemos, a questão do Ser levanta dois
tipos de pressupostos. Começar uma reflexão filosófica
pelo acto de perguntar implica à partida a destruição
do Cogito cartesiano que ao afirmar-se como lugar
das certezas absolutas surgia como uma garantia
epistemológica inequívoca. Considerada a este nível,
a mudança introduzida por Heidegger teria apenas
dimensão epistemológica. O que importa verdadeiramente a este autor, tal como no-lo diz no Prefácio
de Ser e Tempo, é que o objecto questionado passou
a orientar a direcção da própria pergunta. É claro
que esta posição desvaloriza o papel do Cogito
mas, simultaneamente, abre a outra forma de o
compreender. O Dasein passou a ter apenas uma
prioridade ôntica na formulação da questão do
Ser, embora esta prioridade seja inseparável da
prioridade ontológica que o próprio Ser representa.
Há, deste modo, uma relação circular na questão
sobre o sentido do Ser, “já que a compreensão do
Ser constitui à partida a determinação existencial
do Dasein que sobre ele pergunta”. Designa-se
esta mútua remissão por círculo hermenêutico.
Este círculo, porém, não é vicioso já que o Ser
ao aparecer como referência última ou horizonte
de qualquer questão, permite, em simultâneo, que
o ser do ente que pergunta receba o seu próprio
modo de ser como sujeito, i.e., se compreenda como
cuidado.
Um segundo aspecto importa também considerar
na questão do sujeito em Heidegger. Ao afirmar
o Cogito, Descartes tinha-se esquecido de determinar
a sua significação, i.e., de dizer quem ele é. Este
autor reconhece-o apenas como certeza absoluta.
Em que sentido poderá Heidegger acusar o cogito
assim teorizado de fazer esquecer a pergunta pelo
Ser? Na época em que o cogito foi pensado por
285
Descartes a verdade estava reduzida à verdade dos
sentidos. Era mera adequação dum predicado a um
sujeito e o homem tinha a certeza se um predicado
convinha ou não à substância. Ora, tal procedimento,
correspondia à adequação perfeita entre certeza e
representação mental. O Cogito ao ser o lugar onde
se verificava a objectividade da representação,
revelava-se também como condição da verdade e
consequentemente como certeza da própria representação. O sujeito em Descartes adquire, desta
forma, uma nova dimensão. Sujeito não é apenas
o Eu enquanto que se opõe ao objecto, é também
o fundamento e a real condição de toda a verdade.
Assim, na idade da técnica, o homem ao procurar
dominar as coisas continua, simplesmente, o modo
de pensar cartesiano. Para Heidegger, porém impõe-se um outro conceito de verdade – o de desvelamento
– o qual, se exige a destruição do Cogito, concebe
o homem como tarefa inacabada.
Um terceiro ponto de reflexão tem então de ser
considerado. Heidegger parece propôr para o Dasein
duas definições. Define-o não só como “aquele
que pergunta”, mas também como “aquele que é
o núcleo de todas as suas manifestações”. Nos
parágrafos 9, 12 e 25 de Ser e Tempo o Dasein
compreende-se a partir do seu modo de existir que,
ou o faz esquecer de si próprio na necessidade de
responder à pressão do imediato ou, pelo contrário,
o conduz a pensar as suas próprias possibilidades
de ser e de pensar. Neste campo, no § 25 é possível
aproximar Heidegger de Freud. Para ambos a questão
“Quem é o homem?” permanece uma questão em
aberto. O homem não é um dado, não é uma coisa
possível de definir, é antes uma coisa sobre a qual
é preciso continuar a perguntar. Paradoxalmente
perguntar por si próprio não é a primeira pergunta
que preocupa o homem. Ao viver com outros ele
pode transformar-se num Se, ganhando uma dimensão
impessoal já que na quotidianeidade e no mundo,
“cada um se transforma no outro e ninguém é ele
próprio”.
O eu torna-se, então, uma questão ao aparecer
no quotidiano sob um aspecto que não corresponde
àquilo que ele próprio é. Mesmo a nível ôntico, o
Dasein levanta o problema ontológico da sua
identidade. Quero dizer com isto, que não é possível
saber “quem sou eu?” sem nos situarmos no mundo
e nos relacionarmos com os outros. A identidade
só pode ser conhecida através duma viagem que,
tal como a de Ulisses, nos confronta com os outros
e com as nossas próprias possibilidades. Tal como
286
ele vamos regressar a Ítaca (à reflexão sobre nós
próprios) pois temos a necessidade de narrar aos
outros a nossa própria história para nos podermos
identificar connosco próprios. A filosofia da linguagem
e a narração de si conjugam-se tomando o primeiro
plano tendo sempre, porém, como horizonte a relação
ética. A partir da palavra, Heidegger considera
na Introdução à Metafísica que é por ela que o
Dasein toma consciência de si e se descobre como
pertencendo à constância do Ser. Pensar-se é, assim
nomear-se, isto é, aceitar-se como recoleção de
momentos, com uma delimitação obrigatória. O
Dasein é, então, na e pela linguagem que nasce.
Dito de outra forma, o aparecer da linguagem corresponde ao aparecer da possibilidade de reflexão. O
Dasein, ao ser resposta, preserva a linguagem do
Ser. Psicologia e filosofias da existência mais uma
vez se cruzam. O método hermenêutico ao dizer
o homem, aproxima-se do método da psicanálise.
Se diferenças há, importa porém sublinhar as aproximações entre eles. A hermenêutica questiona o
sentido do ser como condição interpretativa da finitude
do homem, paradoxalmente, lugar do ainda por
dizer. O método psicoterapêutico ao procurar a
sobredeterminação do símbolo relê o presente do
Ego a partir de uma recordação do passado no sentido
de compreender o presente e permitir o futuro.
Em síntese, o que mais aproxima estas duas
reflexões é o facto de no cerne das suas interpretações estar não só o carácter não definitivo da
identidade pessoal como o reconhecimento da
necessidade da sua contínua reconstrução.
A abertura intencional da consciência, ao recusar
o fixo e o definitivo, inicia a procura do sentido do
humano a partir da análise do acto de conhecer
enquanto que a analítica do Dasein procura o sentido
do acto de existir através do captável nas obras,
nas práticas e nas interacções. Via longa e via curta
combinam-se no tempo histórico que infinitamente
indeterminado permite a compreensão do homem
como cuidado e tarefa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Binswanger, L. (1971). Introduction à l’analyse existentielle .
Textes choisis. Tradução francesa de J. Verdeaux.
Paris: Les Éditions de Minuit.
Buber, M. (1971). Das Problem des Menchen. Heidelberg:
M. Schneider.
Dastur, F. (1992). Phénoménologie et thérapie dans Zollikoner
Seminaire. In Figures de la subjectivité. Paris: Editions
du CNRS.
Fink, E. (1974). De la phénoménologie. Paris: Les Éditions
de Minuit.
Fragata, J. (1962). Problemas da fenomenologia de Husserl.
Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia de Braga.
Franck, D. (1981). Chair et corps. Paris: Les Éditions de
Minuit.
Gevaert, J. (1997). El problema del hombre. Tradução
espanhola de A. Ortiz. Salamanca: Sigueme.
Heidegger, M. (1986). Sein und Zeit. Tuebingen: M. Niemeyer.
(§ 9; 12; 25).
Husserl, E. (1950). Ideen zu einer Phaenomenologie und
phaenomeenologischen Philosophie. La Haye: M.
Nijhoff. (§ 8; 31; 51).
Husserl, E. (1984). Logische Untersuchungen. I e II. La
Haye: M. Nijhoff. (Vol. I § 18; 36. Vol. II § 1; 10).
Laín Entralgo, P. (1992). Cuerpo y alma. Madrid: Espasa
Calpe.
Maldiney, H. (1991). Penser l’homme et la folie. À la
lumière de l’analyse existentielle et de l’analyse du
destin. Grenoble: J. Millon.
Paisana, J. (1992). Fenomenologia e Hermenêutica. Lisboa:
Editorial Presença.
Ricoeur, P. (1969). Le confit des interprétations. Essais
d’herméneutique I. Paris: Éditions du Seuil.
Ricoeur, P. (1986). À l’école de la phénoménologie. Paris:
Vrin.
Ricoeur, P. (1995). La critique et la conviction. Paris:
Calmann-Lévy.
Valdinoci, S. (1992). Un transcendental d’existence en
psychiatrie. In Figures de la subjectivité. Approches
phénoménologiques et psychiatriques. Paris: Éditions
du CNRS.
RESUMO
Este estudo procura ser uma introdução aos métodos
fenomenológicos da descrição e da análise eidética assim
como lançar as bases para a reflexão hermenêutica do
Dasein como ser-no-mundo, no sentido de articular o
Ego transcendental e a analítica do ser-aí com a dimensão
de possibilidade e de passividade que lhes é inerente.
A aproximação filosófica reenvia assim para a análise
psicológica onde subjectividade, identidade e incarnação
são visadas e, confrontando-se, tomam parte numa aposta
comum.
Palavras-chave: Fenomenologia, metodologia, descrição,
evidência, “époché”, análise existencial, Dasein e cuidado.
ABSTRACT
This work attempts to introduce the subject of description
methods and eidetic analysis as well as to set the foundations
for the hermeneutic approach to the Dasein as “beingin-the-world”, because it proposes to articulate the transcendental Ego and the Dasein’s analytic with the dimension
of possibility and passivity inherent to them. The philosophical approach implies therefore the psychological
analysis where subjectivity, identity and incarnation
are appreciated, and in opposing each other, take part
in a common challenge.
Key words: Phenomenology, methodology, description,
evidence, “époché”, existential analysis, Dasein and Sorge.
287