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CINEMA: a estética do holocausto e nazismo

2018

Como de alguma forma é possível que o Holocausto, um homicídio em massa, possa ser associado à estética, que no conhecimento popular é o significado do belo? De uma maneira que parece contraditória, as marcas do horror vivido na Segunda Guerra Mundial foram registradas como insígnia de uma vitória que transmite e provoca, aos olhos de quem observa estes arquivos de dor e horror, uma compaixão e sentimentos extremos relatados pela sombra das imagens de quem viveu aqueles infindáveis dias. Sem pretensão de ser um estudo conclusivo, o tema do presente artigo é meramente um relato comparativo do conteúdo estudado, pesquisado eassistido propriamente para a problematização deste nó que envolve Arte, dor física e moral na Estética diante daslentes do cinema

View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk brought to you by CORE provided by Publicações Online Editora UNIASSELVI (Associação Educacional Leonardo da Vinci) CINEMA: a estética do holocausto e nazismo Cinema: the aesthetics of the holocaust and nazism Taís Verdade1 Ana Lúcia Oliveira Fernandez Gil2 Resumo: Como de alguma forma é possível que o Holocausto, um homicídio em massa, possa ser associado à estética, que no conhecimento popular é o significado do belo? De uma maneira que parece contraditória, as marcas do horror vivido na Segunda Guerra Mundial foram registradas como insígnia de uma vitória que transmite e provoca, aos olhos de quem observa estes arquivos de dor e horror, uma compaixão e sentimentos extremos relatados pela sombra das imagens de quem viveu aqueles infindáveis dias. Sem pretensão de ser um estudo conclusivo, o tema do presente artigo é meramente um relato comparativo do conteúdo estudado, pesquisado e assistido propriamente para a problematização deste nó que envolve Arte, dor física e moral na Estética diante das lentes do cinema. Palavras-chave: Holocausto. Cinema. Estética. Filosofia da Arte. Abstract: How is it possible that the holocaust, a mass homicide, may be associated with Aesthetics, which in popular knowledge is the meaning of beauty? In a way that seems contradictory, the marks of the horror lived in World War II were recorded as a badge of a victory that conveys and provokes, to the eyes of who watches these files of pain and horror, a compassion and extreme feelings reported by the shadow of images of the ones who lived those endless days. Without pretension to be a conclusive study, the theme of this article is merely a comparative report of the content which was studied, researched and watched exactly to the problematization of this node that involves Art and physical and moral pain on Aesthetics in front of Cinema lens. Keywords: Holocaust. Cinema. Aesthetics. Philosophy of art. Introdução Segundo Heidegger (1992, p. 44), “a beleza é um modo de ser da verdade”, significando que a beleza e a verdade estão diretamente ligadas e “o belo faz parte do acontecer da verdade”. Essas citações tornam-se cada vez mais polêmicas, haja vista que o tema da morte é um tema presente nas obras de arte em diversas manifestações artísticas. Assim, imortalizando subjetivamente a reflexão da morte e a destruição da estética, confirmando desse modo que na obra de arte “o apelo da verdade” gera um consenso entre seus estudiosos. Para Bazin (1991, apud DELEUZE, 2007, p. 9), a necessidade de critérios estéticos era uma forma variável dos acontecimentos, o “real não era mais representado ou reproduzido, mas visado” e então, no cinema, ao invés de representar uma realidade compreensível e decifrada, o neorrealismo visava uma representação com sentido ambíguo. A estética está embutida em nossos dias, avaliamos o tempo todo o conceito de bonito e feio. Nossa concepção foi transferida genealogicamente, com um ideal estipulado por uma sociedade. Todavia, o que é bonito e feio? Na Arte, a Estética trata de Filosofia, Arte e Ciência. Pretende-se tratar aqui o conceito de Estética e Crítica por um viés filosófico e as sensações 1 Acadêmica do Curso de Artes Visuais – Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI – Rodovia BR 470 – Km 71 – nº 1.040 – Bairro Benedito – 89130-000 – Indaial/ SC Fone (47)32819000 – Fax (47) 3181-9090 – Site: www.uniasselvi.com.br 2 Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI –. Rodovia BR 470 - Km 71 - no 1.040 – Bairro Benedito – Caixa Postal 191 – 89130-000 – Indaial/SC Fone (47) 3281-9000 – Fax (47) 3281-9090 – Site: www. uniasselvi.com.br 35 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 5, n.01, p. 35-52, 2018 que suas representações artísticas, particularmente, transmitem no cinema. A sétima arte exige a necessidade do sublime, que não é representado somente pelas belezas divinas inatingíveis, mas como na Arte, o sublime está na natureza ou nas ações humanas. Quem nunca viu um vídeo de uma tempestade no mar ou mesmo de um vulcão em erupção e não ficou extasiado com tal horror e beleza? Assim como o olhar de uma cobra que hipnotiza, podemos chamar de sublime. Conforme afirma Bazin (1991, p. 276), seriam questões fundamentais para a análise e para a crítica de cinema: [...] teria sido talvez o primeiro crítico a perceber e a analisar a mudança fundamental que ocorreu no cinema nos anos 40 e no pós-guerra, a separação entre um primeiro cinema — “realista” — e um cinema moderno — “neorrealista”. O que fazia esse novo cinema diferente e o que nele possibilitava essa nova relação com o espectador, ou, ao contrário, o que aconteceu ao cinema e ao mundo para que se buscasse uma nova relação filme espectador. Nas ações humanas ocorre algo próximo. A representação do sublime pode ser simbolizada pela antiga concepção do belo com imagens do chamado “paraíso”, ou mesmo no terror humano. Bazin (1991, p. 187) diz que “o mistério nos dá medo”, mas que imagens fortes encantam. As representações das atrocidades do ser humano também atraem e podem, de certa forma, até “encantar”. Identificar e reconhecer a estética em filmes com temas do holocausto desenvolvem uma série de questionamentos sobre a chamada sétima arte. Os cineastas tornavam possíveis, mas ainda não haviam estabelecido as novas imagens. No neorrealismo, é descoberto o que se pode chamar da “função” que as crianças tinham nas telas, despertando as situações sensóriomotoras. Nesse sentido, a evolução do cinema ganha força. Figura 1. Cena do filme A lista de Schindler Fonte: Disponível em: <https://bit.ly/2LC8QAv>. Acesso em: 7 nov. 2016. Antissemitismo Holocausto é uma palavra de origem grega que significa "sacrifício pelo fogo". As autoridades alemãs perseguiram outros grupos além dos judeus, por sua dita "inferioridade 36 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 racial": ciganos, deficientes físicos e mentais, e alguns povos eslavos (poloneses e russos). Outros grupos também perseguidos foram: políticos, ideológicos e comportamentais (entre eles os comunistas, os socialistas, as Testemunhas de Jeová e os homossexuais). O grande objetivo de Hitler era criar um novo império alemão, pois acreditava que os alemães eram uma raça superior provenientes do Deus Thor, da mitologia nórdica. A propaganda na Segunda Guerra Mundial estava direcionada para as campanhas que incitavam o racismo contra judeus. As propagandas criticavam os inimigos, demonstravam o comportamento que os alemães deveriam seguir na guerra, como economizar e evitar luxos, preparando o povo para a guerra e, dessa forma, o governo nazista estabeleceu ordem e recebeu aceitação da população alemã, gerando lealdade ao nazismo, disseminando o seu ideal de Nacional Socialismo, que estimulava o racismo, o antissemitismo e o comunismo. Voltando um pouco no tempo, em 1933, de acordo com o Museu do Holocausto, Hitler foi nomeado chanceler pelo presidente Hindenburg. Este era chefe do Partido Nacional Socialista. A Alemanha foi denominada Terceiro Reich e começaram as perseguições. O partido nazista foi declarado o único partido da Alemanha e seu objetivo era a discriminação e o racismo. Quando Hindenburg morreu, Hitler passou a ser chanceler e chefe do exército e das forças armadas. Nesse momento, os judeus são declarados inimigos da Alemanha e foram banidos de empregos públicos, escolas, universidades e tinham que usar estrela amarela para diferenciá-los da população. Desse momento em diante, os alemães queriam eliminar os judeus, pois eram desnecessários. Depois que os judeus foram expulsos, a população alemã tomou conta das casas e negócios deles. A propaganda trata de impor uma doutrina a todo o povo; a organização aceita no seu quadro unicamente aqueles que não ameaçam se transformar em obstáculo a uma maior divulgação da ideia. A propaganda estimula a coletividade no sentido de uma ideia, preparando-a para a vitória dela; a organização tem de ganhar a vitória mediante concentração dos adeptos corajosos, capazes de combater pelo triunfo comum. A vitória de uma ideia será mais fácil quanto mais intensa for a propaganda e quanto mais exclusiva, rígida e sólida for a organização que, praticamente, toma a si a realização do combate (HITLER, 1926, p. 307). Figura 2. “Ele é o culpado pela guerra" (1932) Fonte: Disponível em: <https://bit.ly/2uOvCOI>. Acesso em: 11 nov. 2017. 37 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Figura 3. "Demführer - Die Jugend" Propaganda post karte – Deutschland Fonte: Disponível em: <https://bit.ly/2Lwb4F6>. Acesso em: 11 nov. 2017. De acordo com o Museu do Holocausto, as propagandas insistiam em demonstrar o final trágico que seria caso os soviéticos ganhassem a guerra e o perigo iminente que os judeus causavam aos alemães de “raça pura”. O cinema, nesse período, teve um papel fundamental na disseminação das ideias de Hitler, o antissemitismo racial, a supremacia da raça pura alemã (ariana) e a também superioridade do poder militar alemão como era apresentado pela ideologia nazista. Os filmes representavam os judeus como uma raça sub-humana, que estavam contaminando a raça ariana, como vermes. Depois que a Segunda Guerra foi deflagrada, as propagandas começaram a demonstrar os judeus não apenas como “coisas” desumanas, mas também como inimigos perigosos para o Reich1 alemão, para assim ter apoio silencioso e subentendido da população no extermínio dos judeus. Por outro lado, enquanto a população alemã estava sendo “enriquecida” de orgulho nacional nazista, os judeus estavam em campos de extermínio. Os soldados da SS obrigavam ainda os judeus a demonstrar uma vida normal e uma fachada de comunidade “em férias”. Antes de entrar para as câmeras de gás, a SS obrigava os judeus a escreverem um cartão postal para parentes e amigos, falando o quanto estavam sendo bem tratados nos campos e possuíam uma vida tranquila, incentivando dessa maneira deportá-los não só da Alemanha, mas dos países por ela ocupado. Em meados de 1944, a população estava curiosa para saber o que estava acontecendo com os judeus deportados. Foi então que a Cruz Vermelha fez uma inspeção no Campo de Theresienstadt, localizado no Protetorado de Boêmia e Moravia, hoje República Tcheca; na preparação para a visita, o campo recebeu um “embelezamento” e assim produziram um filme usando os moradores do gueto para demonstrar o quanto eram bem acolhidos, e que Theresienstadt recebia muito bem os judeus2. Reich foi um termo cunhado pela propaganda do regime nazista da Alemanha, e que tinha como objetivo demonstrar a grandeza do projeto de Hitler para transformar seu país em uma incontestável potência mundial. 2 Logo após a gravação, todo o elenco foi deportado para campo de extermínio Auschwitz-Birkenau. 1 38 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Os nazistas aplicaram as propagandas com êxito para envolver a população alemã no apoio à guerra e também para incentivar aqueles que executavam os extermínios em massa dos judeus, ciganos e tantas outras vítimas do regime de Hitler, transformando o povo em expectadores, testemunhas e cúmplices de um crime de tamanha proporção. Figura 4. Cartaz para exposição antimaçônica Fonte: Disponível em: <https://bit.ly/2mvMnu8>. Acesso em: 20 jul. 2018. Figura 5. Cartaz para exposição antimaçônica Fonte: Disponível em: <https://bit.ly/2LxGreR>. Acesso em: 11 nov. 2016. 39 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Outro acontecimento relevante a ser citado foi a “Noite dos Cristais” (Kristallnacht, em 9 de novembro de 1938) marcada pois os nazistas quebraram todas os vidros das residências e vitrines dos judeus e de símbolos judaicos. Os reflexos da luz da lua nos vidros quebrados no chão refletiam como cristais, por isso o nome. Contudo, a perseguição já havia começado tempos atrás, mas foi essa noite que marcou o início do Holocausto. Na noite dos Cristais, cerca de sete mil e quinhentas oficinas foram destruídas e centenas de residências danificadas. Mil judeus foram assassinados. Vinte e seis mil foram mandados para campos de concentração. Figura 6. Imagens Kristallnacht Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/86/86838.jpg>.Acesso em: 11 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/50/50378.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/04/04467.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/74/74445.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. 40 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Fonte: Disponível em: <ttps://www.ushmm.org/lcmedia/ photo/lc/image/85/85287.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/97/97572.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Figura 7. As crianças e os “indesejáveis” Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/lcmedia/ photo/lc/image/85/85124.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.dw.com/ image/16444955_403.jpg>. Acesso em: 7 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://cdn.playbuzz. com/cdn/116a06a9-b01e-41e4-b5f6cdadc766ef82/5eba6ad0-94d0-4e6b-ad00f4baa2a76509.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.dw.com/ image/18002214_403.jpg > Acesso em 07/11/2016>. Acesso em: 7 nov. 2016. 41 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Figura 8. Experimentos com humanos nos campos de concentração Fonte: Disponível em: <http://auschwitz.org/gfx/auschwitz/_ thumbs/en/defaultgalerie/713/11/1/20080516_1382570511_ big_1111,oHuCn6impHCVqcKHZpY.jpg>. Acesso em: 7 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://78.media.tumblr. com/2def62a7b2915e3b5f722db23cec3cdf/ tumblr_inline_pa0hb5ePrW1qdcbec_400. jpg>. Acesso em: 7 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://ichef.bbci.co.uk/news/624/media/ images/80564000/jpg/_80564251_51400549.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http://2. bp.blogspot.com/-EXzEHqbV24A/ U2YTfU7ilgI/AAAAAAAABhE/ m--QhDuax-o/s1600/485pxSlave_laborers_at_Buchenwald. jpg>. Acesso em: 7 nov. 2016. 42 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Também, segundo o Museu do Holocausto5, os alemães definiam os judeus pela religião de seus avôs e avós. Em 1935, quando foi proclamada a Lei de Nuremberg, na qual o povo alemão era proibido de casar ou manter relações com arianos, e quem desrespeitasse a lei era preso e levado para o campo de concentração de Dachau, que foi o primeiro campo criado em 19336. Estas informações e curiosidades podem ser observadas na íntegra em “exemplos de legislação antissemita, 1933-1939” no site do US Holocaust Memorial Museum. Conforme US Holocaust Memorial Museum, o campo de concentração de Buchewald foi aberto em julho de 1937. Segundo a fonte, o que os nazistas queriam era que os judeus saíssem das terras da Alemanha. No entanto, após a Noite dos Cristais, o caminho para o Holocausto estava livre, não havia mais limites. Todas as crianças foram expulsas das escolas. “Afinal de contas, de qualquer maneira, temos que queimar esta praga bubônica”, Friedrich Uebelhor (chefe nazista na cidade de Lodz). O objetivo maior era a expropriação, era a aniquilação desse povo, conforme documentário A Propaganda na Segunda Guerra Mundial Canal Philos, de 2016. Figura 9. Holocausto Fonte: Disponível em: <https://seuhistory.com/noticias/operacoes-de-fuga-e-caca-aos-nazistas-da-segundaguerra>. Acesso em: 13 ago. 2018. United States Holocaust Memorial Museum, Copyright © Washington, DC. Disponível em: <https://www. ushmm.org/learn>. Acesso em: 7 jul. 2016. 6 Curiosidade: pouco antes desse acontecimento, os alemães lançaram um jogo semelhante ao banco imobiliário, em que o objetivo era retirar o máximo dos judeus das terras da Alemanha. Dessa maneira, já cultuavam a ideia nazista desde pequenos, visto que os jogos eram destinados à faixa etária de oito a oitenta anos. 5 43 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Fonte: Disponível em: <https://1.bp.blogspot.com/-nsmWYcL-92M/WEQtx2FKdJI/ AAAAAAAAPEM/L7PEjg6iS_AcwjRH7o-jMxCi8WupS0D3gCLcB/s1600/ Holocausto%2Bna%2BSegunda%2BGuerra%2BMundial.png>. Acesso em: 07 nov. 2016. Segundo a documentação do acervo do Museu do Holocausto, após a invasão da Rússia em 1941, as Einsatzgruppen (Unidades Móveis de Extermínio), seguindo o exército nazista ficavam atrás das linhas de fogo para realizar operações de assassinato em massa. Nos países com influência alemã também ocorriam a extinção dos judeus, os mortos eram jogados nas ruas, para que um grupo especializado recolhesse. No gueto de Varsóvia, cidade de Lodz e em outras cidades e guetos, em um espaço, no qual cabiam, no máximo, 30 mil pessoas, foram levadas 160 mil. Os judeus que estavam confinados nos guetos recebiam duzentas calorias por dia de alimento e precisavam trabalhar para receber. Nos guetos era proibido engravidar. As primeiras pessoas levadas dos guetos foram os idosos, doentes e crianças de até doze anos; e para os que ficavam, os nazistas davam esperanças de sobrevivência. Nos guetos de Varsóvia, foram filmadas propagandas que mostram como judeus comem, se vestem e são bem tratados. Existem também álbuns de fotografias criados pela SS, para demonstrar o quanto era fantástico viver nos campos de concentração, escondendo o genocídio que realmente acontecia. Figura 10. Fotografias criadas pela SS Fonte: Disponível em: <https:// secure.i.telegraph.co.uk/ multimedia/archive/03559/ aushwitz_3559929b.jpg>. Acesso em: 16 ago. 2018. Fonte: Disponível em: <https:// www.ushmm.org/lcmedia/photo/lc/ image/77/77205.jpg >. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http:// www.fpp.co.uk/pictures/train. JPEG>. Acesso em: 30 jun. 2018. 44 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Fonte: Disponível em: <https:// www.ushmm.org/lcmedia/photo/ lc/image/90/90326.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <https://i.pini mg.com/originals/73/bd/21/73bd2 13c05a8d63105cae951fc557c6 1.jpg>. Acesso em: 16 ago. 2018. Fonte: Disponível em: <https:// www.ushmm.org/lcmedia/photo/lc/ image/78/78893.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Cinema e estética Hitler possuía visão do que desejava alcançar com seus filmes, mas foi com a cineasta Leni Riefenstahl, que se tornou tão poderoso, utilizando os filmes e propagandas como uma arma de guerra, um verdadeiro instrumento nazista. Sua obra mais polêmica foi o documentário Triunfo da Vontade, o mais influente filme de propaganda nazista já realizado. Com esse filme, a cineasta aperfeiçoou as técnicas, no comando de sessenta câmeras e quatrocentos quilômetros de película, desenvolveu técnicas de fotografia, câmera lenta, subaquáticas e tomadas aéreas, além de outros efeitos. A partir de então, muitos filmes conhecidos nossos, utilizam a mesma técnica de Leni Riefenstahl, de desenhos infantis a ficção. Nos Jogos Olímpicos de Berlim, de 1938, utilizou o que o nazismo idealizava como corpos perfeitos, movimento e vigor físico, filmando os atletas, trazendo uma referência aos Deuses do Olímpio. Uma cena marcante registrada pela cineasta foi quando Jesse Owens, atleta negro, venceu o campeão alemão no salto em distância. Joseph Goebbels, ministro da propaganda, não queria negros no filme, porém, Leni o convenceu do contrário e na narração o comentarista diz: “Dois corredores negros contra o mais forte da raça branca”. Figura 11. Jogos Olímpicos Fonte: Disponível em: <http://www. atlasgallery. com/wp-content/ uploads/2016/10/ Dive-from-10meters-tower768x1024.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http://www. atlasgallery. com/wp-content/ uploads/2016/10/ The-DiscusThrower-789x1024. jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http://www. atlasgallery. com/wp-content/ uploads/2016/10/ Gold-medal-winner817x1024.jpg >. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http://www.artne t.com/WebServices/images/ll00060llde pVJFgDVECfDrCWQFHPKcNEXF/leni -riefenstahl-high-jumper.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. 45 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Fonte: Disponível em: <http://iv1.lisimg.com/ image/9095866/620fullFonte: Disponível olympia-part-two%3Afestival-of-beautyFonte: Disponível em: <https:// collections. screenshot.jpg>. Acesso em: <https:// ushmm.org/ em: 30 jun. 2018. collections. iiif-b/assets/ ushmm.org/ thumbs/764938>. iiif-b/assets/ thumbs/789084>. Acesso em: 30 jun. 2018. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <https://collections. ushmm.org/search/?f%5Bf_key_ event%5D%5B%5D=nazi_olympics>. Acesso em: 1 nov. 2016. Não se sabe até hoje qual era o grau de ignorância da cineasta referente ao que realmente ocorria nos campos de extermínio e concentração. No pós-guerra, Leni Riefenstahl passou quatro anos presa em um campo de concentração francês como colaboradora do regime. Leni sempre se dizia inocente, mas seu biógrafo, Rainer Rother, autor do livro Leni Riefenstahl: The Seduction of Genius (2002), afirmava em entrevista que seu vínculo com o nazismo era inegável: “ela nunca negou seu fascínio por Hitler e falou o quanto o admirava, quase até o final da guerra. Por isso, em sua visão, não havia problemas em trabalhar para ele, apesar de saber o que se passava na Alemanha e que estava trabalhando para uma ditadura”. O que se sabe e pode-se dizer a respeito da cineasta Leni Riefenstahl é que seu legado estético é gigantesco e reflete em filmes contemporâneos, como: ângulos de câmera, enquadramentos, movimentos de massas e nus, foram as grandes descobertas de registro. Conforme documentário apresentado pela Philos TV: A Propaganda na Segunda Guerra (2010), “sua genialidade também foi sua ruína”. Era chamada de “gênio maldito”, nunca mais reergueuse como cineasta. Morreu em setembro de 2003, como a última figura famosa do nazismo. Figura 12. Triumph des Willens Fonte: Disponível em: <https://collections. ushmm.org/iiif-b/assets/756326 >. Acesso em: 1 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://www.imdb.com/title/ tt0025913/mediaviewer/rm2493992960>. Acesso em: 7 nov. 2016. 46 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Alguns filmes com referências ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial: Título do Filme Título do Filme Toy Story 3 (2010) Um ato de Liberdade (2009) Star Wars (1980 e 2015) O pianista (2003) Remember (2015) O diário de Anne Frank (1959) O menino do pijama listrado (2008) Harry Potter – Toda série (2001 a 2011) A Lista de Schindler (1993) Jogos Vorazes (2012) O Labirinto do Fauno (2006) O Jogo da Imitação (2014) O Lar das Crianças Peculiares (2016) A História de Irena Sendler (1940) Bastardos Inglórios (2009) Capitão América (2011) A vida é bela (1999) Cavalo de Guerra (2012) Fonte: A autora. Estética Identificar e reconhecer a estética em filmes com temas do holocausto desenvolve uma série de questionamentos sobre a chamada sétima arte. Os cineastas tornavam possíveis, mas ainda não haviam estabelecido as novas imagens. O escritor, roteirista, Artaud (1995, p. 13611369) em artigo publicado faz uma constatação: “o que o cinema privilegia não é a força do pensamento, é seu “impoder” e o pensamento nunca teve outro problema, e essa é a glória sombria do cinema, o roubo dos pensamentos”, ou então, como diz Georges Duhamel (1930, p. 52): “não posso mais pensar o que quero, as imagens móveis substituem meu próprio pensamento”. O que a propósito foi essa a arte das massas, que Hitler usou para se tornar o “Grande Fürer” e ter ascensão, manipulando os filmes; a imagem em movimento foi a encenação das vítimas, com tal cuidado e destreza que aliava Hitler a Hollywood até hoje. As grandes manipulações de massa, que não foram criadas por uma pessoa mediana, e sim por Leni Riefenstahl, cineasta que conseguiu ligar a imagem/movimento à estratégia de guerra, tendo nos bastidores a realidade e os horrores do holocausto. Kant, tentando superar a dualidade entre objetividade e subjetividade afirma que o belo “é aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente” (ARANHA; MARTINS, 1997, p. 379). Então o belo é o atributo que fornecemos a certos objetos para exprimir com subjetividade o que sentimos; sendo assim, não há belo, nem regras. Conforme afirma Dufrenne (2002, p. 571-572): “se nós podemos sentir o trágico de Racine ou o patético de Beethoven ou a serenidade de Bach é porque temos uma ideia – anterior a qualquer sentimento – do trágico, do patético ou do sereno, vale dizer, daquilo que doravante deveremos chamar de categorias afetivas”. De acordo Deleuze (2007), a experiência estética diz que na Fenomenologia, a descrição do objeto e da percepção estética, salienta o sentimento. Desse modo, podemos questionar a cultura? O homem recebe a cultura historicamente de seus antepassados, porém o homem é condicionado pela cultura, mas tem capacidade de adquirir cultura e se cultivar. Essa não é uma crítica da Fenomenologia, mas possui vínculos com Husserl (2002) e a crítica de Kant (1997). 47 ISSN: 2525-8648 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 Somando esse conceito, a experiência estética situa-se dentro da realidade e não temos dúvida de que o homem é condicionado pela cultura. De acordo com tal premissa, afirma Merleau Ponty (2006, p. 307): “Se ele contempla uma paisagem é com os olhos que foram educados pela pintura; se ele acolhe o imaginário, é com ajuda das imagens que foram fornecidas pelas mitologias ou pelas artes”. Dufrenne (2002, p. 571-572) apresenta que o “pensamento utópico é o pensamento do possível que se anuncia no real e nele encontra o começo da realização”. Figura 13: Enciclopédia do Holocausto Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/lear>. Acesso em: 1 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/74/74994.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/ lcmedia/photo/lc/image/06/06668.jpg>. Acesso em: 1 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot. com/_3IPy4irskdQ/TLbqjMVnaHI/AAAAAAAAAoA/ TC3tzc72dH8/s1600/0000013943_1_web.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot. com/_3IPy4irskdQ/TLbqjMVnaHI/AAAAAAAAAoA/ TC3tzc72dH8/s1600/0000013943_1_web.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2018. 48 Revista Maiêutica, Indaial, v. 6, n.01, p. 35-52, 2018 ISSN: 2525-8648 Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_3IPy4irskdQ/ TLbxoBX7NYI/AAAAAAAAAqI/OFQNcUD5XRc/ s1600/0000021236_1_web.jpg>. Acesso em: 1 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm.org/lcmedia/ photo/lc/image/83/83761.jpg>. Acesso em: 1 nov. 2016. Fonte: Disponível em: <https://www.ushmm. org/lcmedia/photo/lc/image/85/85196.jpg>. Acesso em: 1 nov. 2016. 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As montagens estéticas no cinema propiciam grandes resultados. As questões debatidas com relação ao cinema político são bastante longas e causaram grandes debates e discussões. No entanto, não podemos deixar de considerar o grande resultado da união entre a Arte e a Política, assunto que chama atenção de estudiosos, historiadores, críticos, dentre outros nos registros da história da humanidade. No século passado, o fascismo, o comunismo e o nazismo procuraram o apoio das artes. Nesses casos não será mencionado o preço que cada artista pagou se sujeitando à censura, insubordinação ou à própria vida. Assim, essas forças também descobriram como o cinema poderia trabalhar a favor da política. Com o nazismo não foi diferente, Joseph Goebbels, ministro da propaganda do Terceiro Reich, usou o cinema alemão como ferramenta para conquistar o mundo e, assim, as propagandas nazistas foram as mais bem-sucedidas campanhas para realizações do nazismo, utilizando o cinema como instrumento da vida real. Considerações finais Até que ponto essas obras cinematograficamente políticas são eficazes? E se esse espectador não partilha da mesma ideia? O que se pode afirmar com tantas imagens é que, independentemente da estética utilizada, podendo ser a melhor cena, tomada ou montagem, nunca se conhecerá em profundidade a dor vivida na Segunda Guerra Mundial. O cinema nos traz a presença dos horrores do Holocausto; a estética nos faz ter uma empatia com os elementos apresentados; com a estética do cinema, ganhamos uma identificação afetiva ou intelectual com a situação apresentada, com aquelas dores e vidas perdidas. O cinema é o espaço que tem excelência para análise do passado e presente. O cinema traz-nos memórias e as lentes, com seus movimentos, ângulos e proximidades, não somente define o que vai captar, mas também o que o espectador precisa sentir, quais os efeitos mentais e psicológicos trazidos à tona quando a cena é exibida. O cinema é a “Arte inesgotável”. Os números de mortes e atrocidades registradas dos povos ditos imperfeitos, aqueles que não pertenciam a suposta raça superior ariana, representa a dimensão daquele período cinza de nossa história, entretanto, acredito que não dimensione a dor, a humilhação e a frustração de quem sofreu na pele as barbaridades executadas pelo sistema nazista. Que o cinema permaneça homenageando em suas películas e, consequentemente, abrindo novas portas para uma humanidade menos intolerante e hostil. Referências A PROPAGANDA NA SEGUNDA GUERRA. Brasil: Canal Philos, 2010. Programa e série exibida Canal Philos. Disponível em: <https://philos.tv>. Acesso em: 20 ago. 2017. 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