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Memorial USP

2023, Memorial

Trata-se do memorial preparado para o concurso de Professor Doutor de Teoria das Ciências Humanas da FFLCH-USP

Universidade de São Paulo Memorial de Alessandra Affortunati Martins Concurso para Professor Doutor do Departamento de Filosofia Área: Teoria das Ciências Humanas 1. Introdução O pecado mortal da crítica não é tanto ter uma ideologia como silenciar sobre o fato de tê-la. Roland Barthes É certo que a Filosofia se ocupou da definição do eu tanto quanto o fez a Psicologia. Mas foi a Psicanálise a permitir a sua dissecação definitiva, observando nele o cerne de uma divisão que abalou de maneira irreversível o estatuto da consciência. A leitora ou o leitor dessas linhas notará que meus caminhos pela Filosofia não são unívocos – há um percurso que se embrenha em duas esferas: a Psicanálise e a Filosofia. Os dois campos ganham o mesmo peso e estão solidamente arraigados em minha trajetória. Por isso, a narrativa que se constituirá aqui oscilará entre esses dois territórios que vagarosamente se apresentarão de modo intimamente entrelaçados em minha vida profissional. Nos últimos anos, um terceiro campo somou-se aos dois primeiros: o Feminismo. Com ele circunscrevi com maior precisão o lugar a partir do qual o eu que me constitui fala. É filosófica e psicanaliticamente problemática, bem sei, a noção em voga sobre o “lugar de fala”. Entretanto, a célebre frase de Jacques Lacan em “O aturdito”1, “que se diga fica esquecido por trás do que se diz naquilo que se ouve”, aponta para o fato de que o dizer, demonstrável por escapar ao dito que se ouve, tem a capacidade de complexificar e enriquecer a noção mais contemporânea de “lugar de fala”. Ou seja, não estaria submerso algum lugar de poder aparentemente neutro exatamente no ponto de esquecimento de que alguém diz o que diz? Trata-se de uma questão cujas tonalidades são claramente foucaultianas. Evidentemente não evoco aqui o corpo anatômico que profere um determinado discurso, mas me refiro a articulações de linguagem já inseridas em determinadas formas de poder que se colocam sem que se questione de onde e de que forma se articulam. Lembrar de meu lugar, portanto, é ao mesmo tempo denunciar a não neutralidade de nenhum outro. Não raro, enunciados que marcam seu lugar, para além daqueles aparentemente neutros, são condenados, desqualificados ou desprezados em formulações que assumem a forma da crítica modulada a partir de um olho superior supostamente neutro – por vezes, o olho crítico apresenta-se sem a marca do lugar específico. É curioso observar que alguns psicanalistas e filósofos ainda resistem diante da questão. Em geral, são frágeis os argumentos avessos ao “lugar de fala” e não precisaria recorrer a nenhuma militância fervorosa para demonstrar a validade de tal noção. Bastaria, inclusive, seguir um pouco mais pelas linhas de “O aturdito”, de Lacan: “O que é lembrado [na formulação anteriormente citada] é que a enunciação é momento de existência – é que, 1 Lacan, J. “O aturdito”. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 448. 1 situada pelo discurso, ela [a existência] “ex-siste” à verdade”2. Aqui, sublinha que, embora pareçam estar fora do jogo, ato e consistência de um corpo que fala entram em cena. O discurso tido como identitário, no qual o Feminismo frequentemente é alocado junto a outros no interior das teorias do reconhecimento, relembra justamente a presença da existência enlaçada em redes estruturais de poder e do ato que profere suas palavras. Na gramática que assume uma posição como força e fraqueza, sem foracluir a clivagem que a constitui, o eu não se coloca enquanto unidade, mas em suas fraturas desejantes, defensivas e vulneráveis mais evidentes. Mas como será o eu abarcado neste enredo? Já dizia o velho Jacques Lacan que o eu é uma formação subjetiva de natureza sintomática e imaginária. Cristalização de defesas psíquicas. Espécie de capa sedimentada em vários níveis, ele acumula uma densidade temporal. Como um gesso emoldurado em torno do desejo e de feridas, o eu torna-se uma espécie de cicatriz suturada e revestida por uma bela maquiagem. Decifrar suas camadas significa recuperar mediações de uma história que não é apenas individual. Embora seja expressão de faltas desejantes e fragilidades, o escudo por trás do qual se esconde o vulnerável corpo erótico e mortal concentra uma importância que atravessa simultaneamente dois campos: o subjetivo e o objetivo. Elementos que aparentemente restringem-se à história de uma vida subjetiva, atingem, em verdade, várias dimensões espaço-temporais determinadas social, política e historicamente. Em outros termos: escolhas estão sempre situadas em redes estruturadas. É certo, então, que os caminhos do desejo são, quase sempre, percorridos no escuro. O prisma do agente não alcança as determinações mais obscuras dos anseios. Ímpetos e traços inconscientes conduzem a algumas direções e ignoram outras. É necessário reconhecer que volições se materializaram numa certa conformação aleatória. E, quando narrado, o eu já é Outro, e aquele que escreve é apenas o que resta de um processo. Desenham-se, assim, as linhas daquilo que se costuma chamar destino. Só-depois – nachträglich – acontece o trabalho de tessitura de uma narrativa como esta, capaz de enredar incongruências, fracassos, conquistas, erros e acertos. Nas histórias já construídas, contingências e forças pulsionais ganham feições de escolhas deliberadas; processos e estruturas sociais emergem sob a conotação enganosa da trajetória planejada. O caminho, porém, não é linear. É feito de desvios, deslocamentos, mudanças inesperadas de rumos. Se as circunstâncias nos constrangem a seguir determinados passos, os atalhos nos devolvem aos traços irregulares do desejo. Ele, porém, já não será o mesmo. Daí este memorial não almejar o sentido encerrado de uma subjetividade, nem a linearidade de uma narrativa pautada em fatos profissionais. Camadas sobrepostas e vias paralelas confluem para formar alguns predicados atribuídos ao meu nome. Neles estão justapostos a formação filosófica e psicanalítica que recebi, os impasses intelectuais que me ocuparam, minha vida de pesquisadora acadêmica e de docente, minha prática clínica e institucional. 2 Ibdem, p. 449. 2 2. Da graduação em Psicologia aos primeiros passos na carreira [...] o caminhar não é apenas expressão do desejo de alcançar uma meta, mas também sua realização. Walter Benjamin Assumi o protagonismo de minha história profissional aos treze anos de idade com o esboço de um desejo: cursar Psicologia na graduação. Com essa perspectiva em vista, comecei aos quatorze anos meu primeiro processo analítico, para terminá-lo aos dezenove, quando já era aluna da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Lá quase tudo era atraente, um mundo inteiro que se abria. Além das aulas do curso, adquiri o hábito da leitura voraz de autores clássicos da literatura, um vício que teve início com as coleções inteiras de obras clássicas ofertadas pelo jornal Folha de São Paulo3. Predileções se desdobravam. Foi assim que li várias obras de Franz Kafka e Vladimir Nabokov. Essa atividade antropofágica de leitura não visava, porém, ao acúmulo para esbanjar futura erudição. Sua função, penso hoje, consistia em conceder materialidade aos conceitos que sobrevoavam abstratos nas teorias às quais estava sendo apresentada. Ingressar na PUC trouxe também algumas dificuldades. Sofri até entender a etiqueta que governava a vida dos meus colegas, a lógica comunitária da elite intelectualizada paulistana, códigos tácitos e convenções alheias ao meu repertório social prévio. É verdade que havia outros grupos, menos alinhados ao perfil geral das boas escolas da Zona Oeste, mas quem dava o tom mais cultivado àquela atmosfera tinha endereço e acervo educacional conhecidos. Minha avidez por aprender talvez tenha sido o contrapeso à carência desse patrimônio – não sei. Logo comecei um estágio no setor de Psiquiatria do Hospital do Servidor Público. A loucura não era mais um fantasma. Estava diante de mim. Discutiam-se os casos e tratamentos dos psicóticos da Psiquiatria e, em seguida, assistiam-se os psicodramas direcionados por Luís Altenfelder, o médico responsável pela ala. Também participávamos deles. Tudo isso era uma experiência mais antropológica do que propriamente psiquiátrica. Divertia-me sobremaneira com as atuações dos pacientes e os papéis inusitados. Mas também pesava a dor da existência, esmagada pelo sofrimento psíquico. Joguei-me em leituras sobre psicose e loucura: Memórias do delírio, de L. F. Barros4, O Alienista, de Machado de Assis5, O futuro dura muito tempo, de Louis Althusser6, Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, de Michel Foucault7. Com isso, a loucura tornavase cada vez menos estrangeira ao meu olhar. A pletora de filmes, livros e casos clínicos observados no estágio exigiam maior compreensão teórica. Dentre todas as disciplinas que cursei, foram duas as que me fisgaram e passaram a ocupar meus estudos mais constantes: Psicanálise e Fenomenologia-existencial. Husserl e Heidegger foram amor à primeira vista. Entendia pouco das aulas, mas elas me capturavam de maneira avassaladora. Fazia expediente extra, com muita leitura, para entrar naquele novo mundo. Com a Psicanálise, o amor parecia mais brando, mas não parava de crescer. Biblioteca Folha-Clássicos da Literatura Universal. São Paulo: Publifolha, 1998. Barros, L. F. Memórias de um delírio. Rio de Janeiro: Imago, 1994. 5 Assis, M. O Alienista. In: https://www.machadodeassis.net/. 6 Althusser, L. O futuro dura muito tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 7 Foucault, M. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão. São Paulo: Graal, 1977. 3 4 3 Foi rápida minha entrada num grupo de estudos dedicado à leitura sistemática das obras de Sigmund Freud, coordenado pela psicanalista Deborah Joan de Cardoso, membra do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Nos cinco anos em que frequentei o grupo (1998-2003), seguíamos à risca os textos de Freud e, em seguida, abríamos debates amplos, repletos de reflexões clínicas sobre nossas análises pessoais e a de pacientes. O campo da Filosofia abriu-se aos poucos, mas de maneira decisiva. Desde 1996 integrei um grupo coordenado pelo prof. Nichan Dichtchekenian que estudava as obras de Gaston Bachelard (1996-2000), especialmente A poética do espaço8 e A poética do devaneio9. Meu programa semanal ainda incluía outro grupo de estudos, conduzido também por Nichan, em que nos debruçávamos sobre Ser e tempo, de Martin Heidegger10; neste, passei três anos (19982000). O convívio com os colegas e as leituras minuciosas foram essenciais para a minha formação. Havia ainda outra camada significativa do período de graduação que evocava fragmentos perturbadores da infância: a política. Embora estivesse mais envolvida com a Fenomenologia-existencial e a Psicanálise, de modo algum passaram batidas as aulas sobre Karl Marx e o materialismo histórico-dialético. Na disciplina de Psicologia Geral, Sociologia e Psicologia Social, trabalhávamos sobretudo com as noções marxistas de alienação e dialética. Na Psicologia Social, as aulas conduzidas pela profa. Ana Bock trouxeram uma perspectiva inteiramente nova, que se confrontava, porém, com frações da história guardadas em minhas remotas lembranças. Neta de italianos, que imigraram após a miséria deixada pela Segunda Guerra Mundial, vi muitas das conquistas de meus avós. Uma pequena fábrica de dobradiças de porta de carro foi crescendo aos poucos até se tornar uma indústria média, com cerca de 250 funcionários. Ela ficava no ABC Paulista e fornecia peças para as principais montadoras de automóveis. Desnecessário explicar detalhes para contextualizar esse enredo familiar. Fragmentos e esparsas palavras, que remanescem na memória, fazem parte de uma narrativa com a perspectiva de quem estava no comando da fábrica. O aspecto mais intrigante, relacionado a esse vago passado de minha infância, era percebê-lo à luz de um novo contexto: muitos professores que eu admirava no curso de Psicologia posicionavam-se favoravelmente aos trabalhadores. Esse cortante desajuste entre meus afetos familiares e minhas identificações intelectuais foi, entretanto, o que verdadeiramente despertou o fulgor pela política. Tinha que responder interna e externamente àquele embate afetivo-identificatório que me obrigava a olhar de frente para a situação concreta do país e do mundo. Se minha infância foi marcada pela quase ausência de engajamento dos adultos que rondavam minha vida, restando apenas tênues reminiscências de uma luta de classes que, em verdade, descobri posteriormente ter tido peso extremo para os rumos do país, minha juventude manejava conflitos de ideias e afetos que só com muito estudo, reflexão e trabalho psíquico puderam se configurar em uma posição mais clara no interior do debate político: a defesa de justiça social, igualdade e liberdade para todos. E meu lado na luta pela emancipação passou a trair minhas origens. Fazer parte da PUC-SP, que havia sido palco de resistência durante o regime militar, foi fator decisivo na construção desse Bachelard, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Bachelard, G. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 10 Heidegger, M. Ser e Tempo I e II. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. 8 9 4 lugar. Importante dizer, porém, que tal luta se deu preponderantemente no campo da linguagem, dos interesses de pesquisas, da clínica e da escrita teórica. Os professores de Psicanálise puderam mostrar como a matéria era um universo amplo, de infinitos prismas, para abordar o sofrimento, a sexualidade e o desejo. Camila Pedral Sampaio ensinava a complexidade dos textos sociais de Freud. Com ela, estudamos Psicologia das massas e análise do eu11, Totem e tabu12, O futuro de uma ilusão13 e Mal-estar na civilização14; Com uma perspectiva foucaultiana, Maria Cristina Vicentin, cujo objeto de pesquisa era a violência que perpassa o funcionamento de instituições brasileiras, transmitia a árdua tarefa de analisar a arbitrariedade de sistemas prisionais como a FEBEM; com Isabel Kahn, aprendia-se a olhar psicanaliticamente as dinâmicas familiares; Lorival de Campos Novo decifrava os mais invisíveis afetos em suas supervisões clínicas; Rubens Marcelo Vollich aprimorava o olhar para os conflitos psíquicos transfigurados em doenças corpóreas; Franklin Goldgrub, cujas aulas de Teorias e Práticas Clínicas em Psicanálise eram delicadamente preparadas, elucidava distinções entre a visão médica e a visão psicanalítica dos sintomas; Caterina Koltai traçava um panorama sócio-histórico sobre a família burguesa e o narcisismo do indivíduo moderno à luz de Freud e Christopher Lasch15; Felicia Knobloch apresentava-nos suas ousadas pesquisas sobre Sandór Ferenczi; Maria de Lourdes Trassi Teixeira, mestre em sua decifração da infância, mapeava conosco modos de atuação clínica com crianças; Miriam Debieux Rosa mostrava-nos como obter precisão nos psicodiagnósticos em Psicanálise; Regina Cavalcante de Carvalho, a Chu, ensinava-nos Melanie Klein de maneira límpida – por mais obscuros que fossem os afetos primitivos e os objetos internos kleinianos –; e Marina Massi, cujas análises eram capazes de desenovelar as conturbadas cenas afetivas dos filmes de Ingmar Bergman, como Cenas de um casamento ou Persona (1973), ensinou-nos os imbróglios afetivos das famílias. Até mesmo figuras mais antiquadas da Psicanálise, como a de Lígia Marcondes, esposa de Durval Marcondes, pioneiro do movimento psicanalítico no Brasil, foram ingredientes essenciais para a composição dessa vasta paisagem que se desdobra em várias partes do mundo após o marco inaugural de Freud com o advento da Psicanálise na Viena fin-de-siècle. Na Fenomenologia-existencial, outro território a ser desvendado. Com Guto Pompéia, partia-se da leitura de Édipo-rei, de Sófocles16, para que as críticas aos limites da Psicanálise fossem mais precisas – a lógica trágica era, para ele, mais relevante na reflexão sobre o trauma e a culpa do que a configuração burguesa da família com a figura de um pai que introduz, pela sua presença, a angústia de castração e a Lei contra o incesto. Introduzia, então, Michel Foucault de Doença mental e Psicologia17. Com este, desenhavam-se os contornos históricos da loucura. Depois passávamos aos tópicos da análise existencial na teoria e na clínica. Com Ari Rehfeld líamos o Eu e Tu, de Martin Buber18, a fim de pensar a relação com 11 Freud, S. “Psicologia das massas e análise do eu”. In: Obras Completas, v. 15. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 12 Freud, S. “Totem e tabu”. In: Obras Completas, v. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 13 Freud, S. “O futuro de uma ilusão”. In: Obras Completas, v. 17. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. 14 Freud, S. “Mal-estar na civilização”. In: Obras Completas, v. 18. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 15 Lasch, C. Refúgio num mundo sem coração. São Paulo: Paz e Terra, 1991 e A cultura do Narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1983. 16 Sófocles, “Édipo Rei”. In: A trilogia tebana. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. 17 Foucault, M. Doença mental e Psicologia. Laranjeiras-RJ: Tempo brasileiro, 1975. 18 Buber, M. Eu e Tu. São Paulo: Editora Centauro, 1974. 5 o outro. Carlos Eduardo Freire, o Edu, destrinchava Ser e tempo de Martin Heidegger19. Este, por sua vez, era vasculhado em suas raízes com o ensino de Edmund Husserl por Hélio Deliberador. Nichan Dichtchekenian despertava nos alunos o fascínio pela matéria logo nos primeiros anos da graduação. Durante o período de formação em Psicologia, eu apreciava quase tudo. O Materialismo-Histórico-Dialético na Psicologia Social I e II, o curso introdutório de Bases epistemológicas I e II, as diferentes metodologias de pesquisa transmitidas em Modelos de Investigação I e II, Antropologia, Sociologia, Psicologia Analítica. Até mesmo as disciplinas que se tornaram mais distantes de meu campo de atuação, como aquelas de Psicologia Organizacional, conduzidas por Sigmar Malvezzi, traziam elementos que considerava extremamente relevantes. Com ele, assistimos a Tempos modernos, de Chaplin (1936), à luz dos conceitos marxistas, e estudamos detidamente A loucura do trabalho, de Christophe Dejours20. Os campos de atuação também eram diversos. Cuidar do sofrimento e desimpedir os embaraços do desejo eram tarefas às quais tentávamos nos dedicar. Meus estágios em Psicanálise no quarto ano foram na Casa da Menina Mãe, uma unidade da FEBEM para adolescentes grávidas, e na Clínica Ana Maria Poppovic. Na Escola Teófilo Otoni desenvolvi meu estágio de Psicologia da Educação, observando a atuação do professor em sala de aula e a do orientador na escola. Para Psicologia Organizacional, foram feitas visitas a uma fábrica, nas quais sentíamo-nos um pouco como Sherlock Holmes a buscar evidências da exploração do trabalho e indícios concretos da alienação. Fazíamos entrevistas e estabelecíamos contato com vários funcionários de diferentes níveis. Todas essas experiências práticas da Psicologia me ensinaram a transformar o invisível em matéria a ser manejada, trabalhada, costurada e interpretada. Nem sempre era simples lidar com professores. A tensão maior talvez tenha brotado no curso de Psicopatologia, com Osmar Araújo. Tratava-se de um polêmico professor que ensinava autores da Filosofia para compreender as doenças mentais. Líamos o Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã21, No castelo do Barba Azul, de George Steiner22 – que pouco compreendi naquela época –, A invenção da liberdade, de Jean Starobinski23, dentre outros textos. O ponto a ser ressaltado, porém, é o viés pelo qual transmitia esses conteúdos. Com mensagens misóginas, ironizava a posição das mulheres, rebaixando-as com frequência. Embora muitos alunos não se importassem com essas observações fora de contexto e tratassem sua misoginia cotidiana de maneira displicente, as maledicências frequentes referentes à imagem da mulher não passaram em branco para mim. Lembro-me de ter levado para umas férias no Peru os dois volumes de O segundo sexo, de Simone de Beauvoir24, para tentar elaborar, ainda que apenas internamente, alguma resposta para aquele professor – naquele período de minha juventude não havia, pelo menos em meus círculos, uma terceira onda feminista tão clara como agora. O último ano da Psicologia foi intenso. Paralelamente ao curso integral que, além das aulas teóricas, exigia um Trabalho de Conclusão de Curso e estágios supervisionados, fui Heidegger, M. Ser e Tempo I e II. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. Dejours, C. A loucura do trabalho. São Paulo: Editora Cortez, 1992. 21 Roterdã, E. Elogio da loucura. São Paulo: Martins Fontes, 2019. 22 Steiner, G. No castelo do Barba Azul. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. 23 Starobinski, J. A invenção da liberdade. São Paulo: UNESP, 1994. 24 Beauvoir, S. O segundo sexo I e II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 19 20 6 aprovada na seleção de estágio em Psicologia Hospitalar na UTI do Hospital Israelita Albert Einstein. Lá fiz triagens, discussões de casos e traduções (inglês-português) das bibliografias de pesquisas realizadas pelos profissionais da equipe de Psicologia Hospitalar. Estimulada pelas reflexões sobre pacientes que acompanhava em meu estágio na UTI, decidi fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre a morte e os familiares que acompanham o enfermo acometido de grave doença. A pesquisa, que intitulei Acompanhar a morte de perto: um caminho para a autenticidade?, foi uma importante descoberta – fiquei absolutamente tomada pelo tema e lia tudo que achava sobre a morte. Na literatura, ia de A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói25, a Todos os homens são mortais, de Simone de Beauvoir26. Não dispensava elementos da história, com autores como Philippe Ariès, cuja obra A história da morte no Ocidente27 foi referência essencial. Lançava-me de cabeça nos existencialistas (Camus28, Sartre29 e Simone de Beauvoir30). O eixo principal, de todo modo, era o segundo volume de Ser e tempo, de Martin Heidegger31. A experiência com a pesquisa despertou o desejo embrionário de seguir a carreira acadêmica após a graduação com uma inclinação especial em direção à Filosofia, naquela época heideggeriana. Meu fascínio pela Fenomenologia-existencial e pela Psicanálise seguia forte, e os estágios clínicos da graduação do último ano se dividiram entre essas duas frentes – atendimentos de família com supervisão em Psicanálise de um lado e, de outro, atendimento individual com supervisão em Fenomenologia-existencial. Depois de formada, e com um processo analítico consistente em curso com Maria de Fátima Vicente, do Sedes, decidi continuar a clínica que havia começado nos estágios de graduação. Agora, a escolha para orientar minha escuta firmara-se na Psicanálise. Duas foram as razões que definiram minha decisão – uma, intelectual, e a outra, clínica. Não eram poucas as vezes em que as dificuldades com a transferência me conduziram à literatura psicanalítica, na qual encontrava material rico para dissolver embaraços que se apresentavam. Quase nada era encontrado, por outro lado, na literatura da clínica Fenomenológico-existencial, e essa decepção abriu meus olhos para outro obstáculo dessa abordagem: com raras exceções, não havia uma fortuna de pesquisas sólidas que fosse capaz de dar vigor contemporâneo aos velhos mestres. Esse problema redundava numa espécie de devoção acrítica aos autores de referência, sobretudo Heidegger, que acabava por assumir feições de uma espécie de guru entre seus discípulos da Psicologia. Gaston Bachelard e Heidegger continuavam a ser autores cruciais, mas ficava cada vez mais claro que minha inclinação era pela Filosofia de maneira mais abrangente, e que a Psicanálise era um universo a ser explorado na escuta dos pacientes. 3. A Filosofia ganha volume: da paixão à formação sistemática 25 Tostói, L. “A morte de Ivan Ilitch”. In: Biblioteca Folha-Clássicos da Literatura Universal. São Paulo: Publifolha, 1998. 26 Beauvoir, S. Todos os homens são mortais. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. 27 Ariès, P. A história da morte no Ocidente. Lisboa: Editora Teorema, 1989. 28 Camus, A. A morte feliz. Rio de Janeiro: Record, 1971 29 Sartre, J. P. O ser e o nada. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. 30 Beauvoir, S. Uma morte muito suave. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 e Ibdem. Todos os homens são mortais. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. 31 Heidegger, M. Ser e Tempo I e II. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. 7 Depois de formada, optei por seguir, como ouvinte e aluna especial, alguns cursos da pós-graduação de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Já sabia que faria mestrado, só não sabia muito bem onde e como. Ainda estava às voltas com a ontologia heideggeriana e a espacialidade bachelardiana, mas queria subsumir meu impasse clínico sobre a transferência lida aos moldes freudianos em uma questão de cunho filosófico: como se dá o encontro com o Outro? Melhor: qual é a consistência exata da confrontação entre o sujeito e o Outro? Parecia-me que os desajustes entre as duas matérias que ocupavam minhas reflexões – Psicanálise e Fenomenologia – concentravam-se nesse lugar de encontro com o Outro. Não encontrei nada que pudesse responder a essa questão específica nas matérias ofertadas na pós-graduação da Filosofia. De algum modo, porém, já havia ficado claro que meu interesse pela Filosofia ultrapassava significativamente as linhas desse pequeno recorte. Confesso que um pouco às cegas, dentre as disciplinas ofertadas pelo departamento no primeiro semestre de 2000, escolhi participar das aulas dedicadas ao estudo da obra Origem do drama barroco alemão, de Walter Benjamin32, ministradas pela profa. Olgária Chain Féres Matos. Segui também o curso sobre Iluminismo francês (Voltaire33, Diderot34, Chaderlot de Laclos35 e D’Alembert36) com o prof. Luiz Fernando Franklin de Matos. Foram as finas distinções benjaminianas entre o herói trágico e o príncipe do drama barroco os elementos que me obrigaram a traçar uma nova curva na minha formação: a graduação em Filosofia na USP. Walter Benjamin foi paixão avassaladora. Para aproximar-me de seu pensamento, aprendi alemão, cursei Filosofia e estreitei relações com os textos sociais de Freud – minha linha seria trabalhar com os dois dali em diante. * Textos áridos, professores mais distantes, o método estruturalista de leitura à la Gueroult e Goldschmidt – entrar no universo da FFLCH foi um choque de várias proporções. Meu envolvimento com essa graduação foi outro. Embora chegasse com sede às aulas e lesse absolutamente tudo e mais um pouco daquilo que os cursos demandavam, minha vida na academia era bem mais modesta do que fora na Psicologia. Mais velha, trabalhava intensamente e quase não pude experimentar muitos dos debates políticos e eventos extras ofertados pela universidade. Teria sido extremante proveitoso um laço mais estreito com os pares, que nem chegavam a ser tão mais novos do que eu; um elo maior com os professores, frequentemente conquistado em colóquios, seminários e debates, também teria trazido bons frutos. Na época, porém, estabelecer-me profissional e economicamente na clínica era mais urgente, e nela mergulhei de cabeça, fazendo supervisões constantes e atendendo em ritmo frenético. Sobrava pouco tempo para a expansão social, ainda mais se se considerar que meu ingresso na segunda graduação foi quase simultâneo ao ingresso no mestrado na PUC-SP. Na Filosofia, os meus voos mais altos estavam na Estética e na Teoria Crítica. Além Benjamin, W. Origem do drama barroco alemão. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. Voltaire. Cândido ou o otimismo. São Paulo: Editora 34, 2013. 34 Diderot. A religiosa. São Paulo: Círculo do livro, 1982. 35 Laclos, C. Ligações perigosas. Porto Alegre: L&PM, 2015. 36 D’Alembert & Diderot. Enciclopédia. 6 volumes. São Paulo: UNESP, 2015. 32 33 8 do primeiro curso da disciplina, obrigatória no curso de Filosofia, sobre a Poética, de Aristóteles37, Fedro38 e Íon39, de Platão, Tratado da Enéadas, de Plotino40, Do sublime, de Longino41, e Dos Deveres, de Cícero42, ministrada pelo prof. Marco Aurélio Werle, segui o curso de Estética II que abordou o Laocoonte, de G. E. Lessing43, e Reflexões sobre a arte antiga, de J. J. Winckelmann44. Este curso também foi dado pelo prof. Marco Aurélio Werle em conjunto com Luiz Fernando Franklin de Matos. Frequentei também Estética III, na qual o prof. Márcio Suzuki esquadrinhava a Crítica do juízo, de Kant45. Comecei com desânimo Teoria das Ciências Humanas I, apesar do genuíno interesse pela bibliografia proposta. Ricardo Terra planejara seminários conduzidos pelos alunos sobre vários dos filósofos da Escola de Frankfurt, e eu sempre preferia as aulas dadas pelos professores às enfadonhas apresentações dos estudantes. Daquela vez, contudo, uma surpresa. Aprendemos a preparar bons seminários, além do panorama frankfurtiano ter sido excepcional. Começávamos com História e consciência de classe, de Lukács46, passávamos por Teoria tradicional e teoria crítica, de Horkheimer47, íamos para a Dialética do esclarecimento, de Adorno e Horkheimer48, depois Ideia sobre uma teoria crítica da sociedade, de Marcuse49, além da segunda geração com O discurso filosófico da modernidade, de Jürgen Habermas50 e assim sucessivamente. Acabávamos com Nancy Fraser. Expus as famosas teses de Sobre o conceito de história, de Walter Benjamin51, com comentários de Michel Löwy52. Dentro do tópico histórico-temporal o mapa das relações entre Freud e Walter Benjamin configurou-se de maneira mais nítida para mim. Sim, pois, como se sabe, o aparelho psíquico é, para Freud, um aparelho de memória. Essa temporalidade mnêmica que estrutura a dinâmica psíquica não recai em um viés solipsista da subjetividade – o inconsciente está fora, é o Outro. Embora não encerre a subjetividade sob algum eixo substancial interno, Freud não detalha minuciosamente o modo pelo qual essa densidade mnemônica impregna os aspectos formais da cultura (exceto, talvez, em seu ensaio sobre Moisés). Curiosamente, o materialismo-histórico-dialético heterodoxo de Walter Benjamin mostrou-se capaz de estabelecer uma conexão muito íntima com as elaborações espaçotemporais freudianas, como aliás fica claro em muitos estudos, como por exemplo os de Sérgio Paulo Rouanet em Édipo e o Anjo53, de Rebecca Comay em Perverse History: Fetishism and Aristóteles, Poética. São Paulo: Editora 34, 2015. Platão, Fedro. São Paulo: Editora 34, 2014. 39 Platão, Íon. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. 40 Plotino, Tratado da Enéadas. São Paulo: Editora Polar, 2000. 41 Longino, Do Sublime. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 42 Cícero, M. T. Dos deveres. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 43 Lessing, G. E. Laocoonte. São Paulo: Iluminuras, 1998. 44 Winckelmann, J. J. Reflexões sobre a arte antiga. Porto Alegre: Editora Movimento, 1975. 45 Kant, I. Crítica do juízo. Petrópolis: Vozes, 1998. 46 Lukács, G. História e consciência de classe. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 47 Horkheimer, M. “Teoria tradicional e teoria crítica”. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 48 Adorno, T. e Horkheimer, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 49 Marcuse, H. Ideias sobre uma teoria crítica da sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. 50 Habermas, J. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 51 Benjamin, B. “Sobre o conceito de história” In: Löwy, M., Aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, 2005. 52 Löwy, M. Aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, 2005 53 Rouanet, S.P. Édipo e o Anjo. Laranjeiras-RJ: Tempo Brasileiro, 1990. 37 38 9 Dialectic in Walter Benjamin54 ou de Sigrid Weigel em Body-And Image-Space55. De volta ao cotidiano das salas no Departamento de Filosofia: Estética e Teoria Crítica não eram tudo. Meu entusiasmo, de fato, abundava. Seguir as aulas do prof. Carlos Alberto de Moura sobre Husserl talvez tenha sido a maior experiência como discente nesse curso. Seus gestos singelos, mas teatrais, e sua voz arrebatada carregavam vagarosamente a matéria. No início, o método afligia. Era preciso apelar para a paciência, pois o conteúdo era apresentado sem pressa. Ficava-se no vazio, apenas com poucos fios. De repente, porém, as linhas se entrelaçavam numa trama meticulosamente costurada. A clareza advinha, assim, da própria complexidade da Filosofia husserliana, e não de uma simplificação grosseira dos conteúdos. Fiz com gosto e empenho as básicas. Introdução à Filosofia ficou a cargo de Olgária Chain Féres Matos, que abriu um espaço afetivo-intelectual importante nos estudos de Walter Benjamin. João Vergílio Cuter ensinava-nos as maravilhosas maluquices de Berkeley. Com Moacyr Novaes tínhamos o exemplo do destrinchar estrutural – o alvo da dissecação era O discurso do método, de Descartes56. Era monótono o Aristóteles de Marco Zingano. É verdade que, naqueles arranjos arbitrários de comparação dialética armados em minha cabeça, nunca superei minha queda por Platão. Li, ávida, A República57, Teeteto58, Ménon59, Sofista60, Fédon61, Banquete62, Protágoras63. E sei que li mal a Metafísica64 de Aristóteles, e sua Lógica65. A Poética66 e a Política67, por outro lado, foram dignas de esmero. Filosofia Moderna I e II ficavam invariavelmente a cargo de Maria Lúcia Cacciola; líamos linha por linha a Crítica da razão pura68. A palavra “mônada”, que figurava, indecifrável, no prefácio de Origem do drama barroco alemão69, passou a ganhar figurabilidade precisa nas aulas de Luís César Oliva sobre Leibniz70. Santo Agostinho foi uma das mais reveladoras descobertas; devorei as Confissões71 para as aulas de Filosofia Medieval, dadas por Moacyr Novaes. Sartre, transmitido pela voz de Franklin Leopoldo e Silva, adquiria toda outra aura. Se na Psicologia já tinha ensaiado aprofundar os estudos de O ser e o nada72, na Filosofia descobri o materialismo-histórico de Sartre e as entranhas de seus engajamentos políticos. Nietzsche, ensinado por Scarlett Marton, seguidora inveterada do filósofo, perdia o ímpeto expresso em seu famoso bordão “Retribui-se mal um mestre quando se permanece Comay, R. “Perverse History: Fetishism and Dialectic in Walter Benjamin”. In: Research in Phenomenology v. 29, pp. 51-62, 1999. 55 Weigel, S. Body-And Image-Space. Nova York: Routledge, 1996. 56 Descartes, R. O discurso do método. São Paulo: Martins Paulo, 2001. 57 Platão. A República. Belém: UFPA, 2016. 58 Platão. Teeteto. São Paulo: Edições Loyola, 2020. 59 Platão. “Ménon”. In: Diálogos de Platão. Belém: UFPA, 2020. 60 Platão. “Sofista”. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1972. 61 Platão. “Fédon”. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1972. 62 Platão. Banquete. Belém: UFPA, 2018. 63 Platão. “Protágoras”. In: Diálogos de Platão. Belém: UFPA, 2021. 64 Aristóteles, Metafísica. São Paulo: Edições Loyola, 2002. 65 Aristóteles, Órganon. Lisboa: Guimarães, 1986. 66 Aristóteles, Poética. São Paulo: Editora 34, 2015. 67 Aristóteles, “Política”. In: Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1972. 68 Kant, I. Crítica da razão pura. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. 69 Benjamin, W. Origem do drama barroco alemão. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. 70 Leibniz, G. Discurso de metafísica e outros textos. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 71 Agostinho, S. Confissões. Petrópolis: Vozes, 2015. 72 Sartre, J. P. O ser e o nada. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. 54 10 sempre e somente discípulo”73. Nem Nietzsche livrava-se do rigor estrutural do especialista fiel. Lembro-me bem do texto redigido para a avaliação final. Não obtive uma de minhas melhores notas, mas abri trilhas promissoras para investigações futuras. Eram paralelos e cruzamentos acerca do lugar da mulher na Filosofia pelas perspectivas de Nietzsche e Benjamin. Lacunas permaneceram. Algumas não pude sanar – não assisti às aulas de Marilena Chaui, Paulo Arantes, Lorenzo Mammì, nem as de Ruy Fausto, por falta de tempo e oportunidade. As de Vladimir Safatle, que acabara de entrar na USP, eram voltadas à Filosofia da Música, matéria que seria difícil de acompanhar. Mais tarde pude, porém, reparar algumas dessas faltas. 4. O universo do trabalho docente e da clínica: entre a Filosofia e a Psicanálise Outra atividade de extrema relevância entre os anos de 2003 e 2004 foi como psicóloga do Grupo de Apoio à Escolarização Trapézio, cujo trabalho era destinado ao tratamento de crianças e adolescentes que apresentavam dificuldades no processo de escolarização em escolas públicas e particulares de São Paulo. Ali coordenava atividades em grupo, fazia atendimentos individuais, triagens, supervisão de estágio e organização da produção científica da instituição, sempre articulando o estudo da área de Educação à Psicanálise. A orientação institucional era lacaniana, inspirada, sobretudo, nas pesquisas dos professores da Faculdade de Educação da USP, Maria Cristina Kupfer e Rinaldo Voltolini, criadores do Lugar de Vida. Intensificaram-se os atendimentos do consultório, mais pela gravidade dos casos que pela quantidade deles. Recebia sobretudo crianças e adolescentes órfãos que integravam o Projeto Semear. As supervisões em Psicanálise com a profa. Renate Meyer Sanches tinham uma orientação predominantemente inglesa – Donald Winnicott e Melanie Klein eram os principais autores de referência. Vinculada ao Projeto Semear, a publicação do livro Winnicott na clínica e na instituição74 explicava o que realizávamos ali; nele, assinei o capítulo “Psicoterapia analítica de crianças em situação de abandono: uma visão winnicottiana”. O exercício de separar necessidades elementares de sobrevivência das questões psíquicas extremamente dolorosas foi o maior aprendizado dessa época. Devo aos pacientes do Projeto Semear a capacidade que adquiri de não responder imediatamente à queixa, de desenhar de modo preciso a demanda, de identificar o desejo para apostar em seus caminhos, acolhendo ao mesmo tempo a dor psíquica. O último ano da graduação em Psicologia havia sido muito pesado devido a triagens e outros trabalhos com pacientes terminais da UTI do Einstein, além das reflexões teóricas sobre a morte em meu TCC. Por isso, ao concluir essa graduação, busquei um trabalho que ao mesmo tempo me provesse de um salário fixo e trouxesse vida para meus dias. Já tinha desenhado, nas minhas fantasias, um futuro como professora e psicanalista. Com esse fim, faltava a experiência docente e uma formação mais sólida em Psicanálise. Decorre disso minha grande satisfação ao conquistar, em 2000, uma vaga de professora de Filosofia para 73 74 Nietzsche, F. Assim Falou Zaratustra, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998, p. 105. Sanches, R. M. (org.). Winnicott na clínica e na instituição. São Paulo: Editora Escuta, 2005. 11 alunos do Ensino Médio de uma pequena escola de São Paulo. Embora animada com a porta que se abrira, tinha consciência do desafio de ensinar uma disciplina tão árida para adolescentes. Segui o conselho de uma amiga e fui conversar com o prof. José Sérgio Fonseca, que tinha formação em Filosofia e havia sido professor dessa disciplina durante muitos anos em escolas públicas e particulares. Tornara-se, nos últimos tempos, professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da USP. Depois de uma conversa na própria faculdade, ele convidou-me para assistir suas aulas e, caso necessitasse, que fosse consultá-lo com minhas dúvidas no horário de atendimento para os estudantes da USP. Nesse mesmo dia, ajudou-me a elaborar os planos de ensino: alunos dos primeiros e segundos anos seriam introduzidos à passagem do mythos ao logos pelo tema do amor – partiríamos da definição de mythos e abordaríamos Eros e Psiquê, bem como o mito de Narciso, e depois passaríamos ao Banquete de Platão75. Esse repertório seria uma espécie de convite para debates sobre os amores na contemporaneidade e na adolescência (filmes, poemas e contos seriam apresentados). Nos terceiros anos, por sua vez, o fio das aulas seria a própria adolescência. Trabalharíamos com um pequeno livro sobre o tema, escrito por Contardo Calligaris76, e pensaríamos em temas da Ética na Antiguidade Clássica (liberdade, responsabilidade, escolha). Conforme adquirisse confiança em minha nova posição, introduziria leituras mais ousadas. As aulas de Filosofia da Educação trouxeram um norte metodológico para a condução do ofício recém-conquistado. A principal referência do professor José Sérgio Fonseca era o ensaio “A crise na educação”, de Hannah Arendt77; com ele, tecia algumas críticas ao ensino de viés construtivista. Minhas consultas ao professor e essa pequena instrução informal deixaram marcas importantes sobre uma educação alinhada à tradição da cultura, em contraposição às metodologias que pregavam o novo e o agradável acima de qualquer laço estreito com as heranças do passado. Simultaneamente a esse trabalho como professora, passei a fazer algumas horas de monitoria para o professor de Filosofia, bem como para a de Psicologia Social, no Colégio Oswald de Andrade, onde posteriormente me tornei professora de Filosofia e Ética. No total, o exercício da atividade como docente de Filosofia no Ensino Médio durou cerca de oito anos, e tive a sorte de tê-la realizado em algumas boas escolas de São Paulo (Colégio Oswald de Andrade, Escola Vera Cruz e Escola Viva). No Colégio Oswald de Andrade, onde exerci essa função por mais tempo (20002008), além das aulas convencionais em Filosofia orientei a redação de monografias em Ética e Psicologia Social; a escola oferece uma formação coerente com os moldes acadêmicos, havia inclusive bancas de defesa das melhores monografias. Essa experiência foi muito importante para minha formação no campo da pesquisa, tanto pela quantidade de trabalhos (orientava cerca de doze monografias por ano) quanto pela diversidade de temas escolhidos pelos alunos; a precariedade de muitas produções também exigiu tarefas especialmente intensas na área, direcionadas sobretudo ao cuidado com a redação dos alunos. Merece ênfase a íntima relação que eu sempre buscava estabelecer entre as Artes Visuais e a Filosofia, participando dos eventos anuais de Mostra Cultural com exposição de Platão. Banquete. Belém: UFPA, 2018. Calligaris, C. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. 77 Arendt, A. “A crise na educação”. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997. 75 76 12 trabalhos capazes de expressar essa interface. Foi por essa razão que a direção da escola me concedeu uma verba, que se juntou a uma bolsa da Fundação Carlos Chagas, para o curso Criatividade: Ação e Pensamento, no Instituto Tomie Ohtake. O programa de um semestre era focado na obra do artista Nuno Ramos e promovia uma aproximação dos participantes com a Arte Contemporânea; um curso extremamente rico, composto de visitas a ateliês, produção de obras, leituras e exercícios de observação, apreciação e crítica de peças artísticas. Devo aos anos de Oswald minhas reflexões mais profundas sobre métodos de ensino. Ali estabeleci planos de aulas orientados pelas formas privilegiadas de conjugar o conteúdo ao método de sua transmissão. O núcleo do programa das aulas de Filosofia dividia-se em três pilares: 1) Antiguidade Grega (mitologia e logos, tragédia grega, Alegoria da Caverna (República)78 e Apologia de Sócrates79, de Platão; 2) O nascimento da tragédia80 e o “Prefácio” de Além do bem e do mal81, de Nietzsche; 3) Dialética do esclarecimento, de Max Horkheimer e Theodor Adorno82. A ideia central era mostrar a busca da verdade como movimento incessante, processo inesgotável, e não como fim último e definitivo – esses autores ofereciam essa possibilidade edificante, já que a crítica que Nietzsche fazia a Sócrates/Platão diluía o caráter da verdade bem estabelecido anteriormente com a Apologia de Sócrates, assim como a crítica feita por Adorno e Horkheimer ao pensamento de Nietzsche era capaz de estremecer a verdade arduamente construída com os alunos a partir de O nascimento da tragédia e do “Prefácio” de Além do bem e do mal. Elogio da Filosofia, de Maurice Merleau-Ponty83, ou O herói e o monstro, entrevista concedida por Pierre Vernant à Folha de São Paulo84, eram alguns dos textos que complementavam o eixo que sustentava o curso. Essa estratégia recebeu elogios da direção e tive oportunidade de explicitá-la em um pequeno artigo na revista Discutindo Filosofia. Na disciplina de Ética, introduzi, além de autores clássicos sobre o tema (O que é esclarecimento?, de Kant85, O existencialismo é um humanismo, de Sartre86 e partes da Ética, de Spinoza87), o tópico sobre a ética do desejo na Psicanálise. Os adolescentes trouxeram vibração para cada uma dessas tarefas e, em oposição ao caminho anterior, ligado à morte em uma UTI de hospital, encontrei um lugar no qual o meu desejo pulsava. Nesses anos de atividade frenética, estabeleci os alicerces do que seria o desenrolar de minha carreira como filósofa, psicanalista e acadêmica. 5. O percurso intelectual-acadêmico logo após a graduação 5.1 Dilemas do mestrado, descobertas filosóficas e alguns desdobramentos Platão. A República. Belém: UFPA, 2016. Platão. “Apologia de Sócrates”. In: Diálogos de Platão. Belém: UFPA, 2015. 80 Nietzsche, F. O nascimento da tragédia. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 81 Nietzsche, F. Além do bem e do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 82 Adorno, T. e Horkheimer, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985 83 Merleau-Ponty, M. Elogio da Filosofia. Lisboa: Guimarães Editores, 1998. 84 Vernant, J.-P. O herói e o monstro, In: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1004200522.htm 85 Sartre, J.-P. O existencialismo é um humanismo. Petrópolis: Editora Vozes, 2014. 86 Kant, I. “Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?”. In: Textos seletos. Petrópolis: Editora Vozes, 2012. 87 Spinoza, B. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 78 79 13 O duplo interesse pela Psicanálise e pela Fenomenologia-existencial, que havia nascido na graduação em Psicologia, conduziu-me então ao mestrado entre os anos de 2001 e 2004. Naquela ocasião, Freud e Heidegger, minhas duas antigas paixões, pareciam os autores ideais a serem contemplados em minha pesquisa – meu conhecimento de Benjamin ainda era incipiente. O prof. Zeljko Loparic, que articulava a Psicanálise a estudos de Heidegger, parecia ser o orientador mais indicado para abarcar meus interesses investigativos. Meu projeto teórico tinha raízes clínicas e filosóficas: o conceito de transferência articulado ao ser-com-os-outros, categoria da ontologia heideggeriana. Na época, não conseguia decidir se a relação analítica preservava elementos ônticos únicos e originais que emergiam no tratamento e com os quais o analista deveria trabalhar primordialmente na abertura para o outro, como propunha a ontologia de Heidegger88 por meio de sua caracterização do ser-com-os-outros (e intensificada, por exemplo, pela noção de rosto de Emmanuel Lévinas89), ou se o foco deveria recair sobre os fatores que revelavam uma estrutura e se tornavam padronizados e repetitivos nos sintomas e na transferência, como sugeria Freud, sobretudo em seus textos sobre técnica. Esse primeiro projeto, contudo, não se manteve. Avancei por caminhos propostos pelo meu orientador, que incluíam a obra de Donald Winnicott e dialogavam com meu trabalho clínico, voltado principalmente para crianças órfãs do Projeto Semear e para casos difíceis oriundos do Grupo de Apoio à Escolarização Trapézio. O afastamento do projeto inicial se deveu também à uma discordância quanto à leitura de Freud à luz de Heidegger, sugerida pelo meu orientador na época. A estratégia de leitura de meu orientador consistia, grosso modo, em identificar os aspectos epistemológicos da Psicanálise freudiana que estariam vinculados à Filosofia moderna (Kant, Descartes, Mach90), como fez Heidegger em várias passagens de seus Seminários de Zollikon91, e, por outro lado, mostrar como o filósofo alemão estaria propondo que se criasse uma Psicanálise alinhada à sua ontologia – para Zeljko Loparic, a Psicanálise winnicottiana se encaixava nas propostas da Filosofia heideggeriana. Toda a complexa investigação dessa linha de pesquisa parecia articular bem muitos interesses e questões teórico-clínicas que eu mesma carregava naquele período. Dediquei-me a ela e ao conceito de transferência nas obras de Freud e Winnicott, com o auxílio de uma bolsa concedida pela CAPES. Heidegger passou, então, a figurar como um dos pilares epistemológicos da Psicanálise winnicottiana, tal como propunha o professor Zeljko Loparic. O distanciamento definitivo da linha que segui em meu mestrado, entretanto, se deve ao pressuposto de que a Psicanálise seria uma ciência, nos moldes estabelecidos pelo filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn em A estrutura das revoluções científicas92. Comecei a questionar tal leitura a partir das aulas de Filosofia da Ciência com o professor Oswaldo Pessoa Junior, na graduação em Filosofia da USP, quando passei a ler outros filósofos da ciência, além de Thomas Kuhn – como Paul Feyerabend93, Imre Lakatos94 e textos de Heidegger, M. Ser e Tempo I e II. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. Lévinas, E. Entre nós, ensaios sobre a alteridade. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. 90 Cf. Fulgêncio, O método especulativo em Freud. São Paulo: EDUC/FAPESP, 2008. 91 Heidegger, M. Seminários de Zollikon. Editado por Medard Boss. Petrópolis/São Paulo: Vozes/EDUC, 2001. 92 Kuhn, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2017. 93 Feyerabend, P. Contra o método. São Paulo: UNESP, 2011. 94 Lakatos, I. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas, 1991. 88 89 14 epistemologia do próprio Gaston Bachelard95, que ofereciam perspectivas menos engessadas para pensar os paradigmas das ciências. Eu também guardava algumas restrições ao pensamento winnicottiano, muito voltado ao papel da mãe suficientemente boa e a um modelo de amadurecimento que, a meu ver, naturalizava fenômenos do processo de subjetivação e estava claramente marcado por um lugar burguês designado historicamente – e não naturalmente – à mãe. Além disso, pela minha ótica, o fato de a metafísica heideggeriana prescindir da história importou em óbice para a adoção de tal perspectiva na análise de questões subjetivas. O estudo de filósofos frankfurtianos, especialmente Walter Benjamin, me distanciou de Heidegger. De meu ponto de vista, os fenômenos precisavam ser pensados de maneira menos circunscrita a uma pura ontologia, levando-se em conta aspectos de ordem social, histórica e cultural. Expressei de forma tímida, em uma comunicação e um artigo, minhas primeiras dificuldades em relação ao pensamento winnicottiano; tratava-se de uma tentativa singela de ampliar a esfera do holding e do handling para uma espacialidade que ultrapassasse o corpo, as palavras e os cuidados da mãe suficientemente boa. “A casa e o holding: conversas entre Winnicott e Bachelard”96, apresentado em 2008 no XIII Colóquio Winnicott e esboçado ainda durante o período de mestrado, foi publicado em 2009 pela revista Natureza Humana. Só muito depois, em 2016, publiquei uma crítica mais dura a toda essa perspectiva que orientou minha pesquisa de mestrado, num debate transcorrido no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo. O ponto de partida da discussão foi o artigo “Do colo materno ao convívio social na Psicologia de Winnicott”97, escrito por Loparic para o jornal. Minha resposta à sua visão saiu, subsequentemente, sob o título “Psicanalista responde a texto de Zeljko Loparic sobre Psicologia de Winnicott”98. Duas psicanalistas, Caroline Vasconcelos Ribeiro e Cláudia Dias Rosa, ambas da Sociedade Winnicott, presidida por Loparic, publicaram uma réplica ao meu texto, intitulada “Para entender as teorias de Winnicott não basta ir ao cinema”99. Finalmente, encerrou a sequência minha tréplica, “O polêmico debate sobre o caráter científico da Psicanálise”100. Não se pode negar, entretanto, que o grupo de pesquisa orientado por Loparic de fato esmiuçava Winnicott. Realizava colóquios anuais sobre o psicanalista inglês, aulas e publicações sobre cada detalhe de sua obra. Na época, me tornei leitora da revista Natureza Humana, produzida pelo Programa de Práticas Clínicas. Além dos vários olhares sobre Winnicott e Heidegger, descobri nela e nos colóquios o pensamento de Oswaldo Giacoia Junior, que conquistou minha atenção com suas resenhas sobre Hans Jonas e seus ensaios Bachelard, G. A formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007. Parente, A. A. M. “A casa e o holding: conversas entre Winnicott e Bachelard”. Nat. hum., v.11, n.1, pp. 73100, 2009. 97 Loparic, Z. “Do colo materno ao convívio social na Psicologia de Winnicott”. In: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/05/1768529-do-colo-materno-ao-convivio-social-napsicologia-de-winnicott.shtml 98 Parente, A. A. M. “Psicanalista responde a texto de Zeljko Loparic sobre Psicologia de Winnicott.” In: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/05/1772906-psicanalista-responde-a-texto-de-zeljkoloparic-sobre-psicologia-de-winnicott.shtml 99 Ribeiro, C. V. e Rosa, C. D. “Para entender as teorias de Winnicott não basta ir ao cinema”. In: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/06/1777897-para-entender-as-teorias-de-winnicott-naobasta-ir-ao-cinema.shtml 100 Parente, A. A. M. “O polêmico debate sobre o caráter científico da Psicanálise”. In: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/06/1781705-o-polemico-debate-sobre-o-caratercientifico-da-psicanalise.shtml 95 96 15 sobre Nietzsche. A maneira mais profunda de dar forma aos meus incômodos e questionamentos sobre o fato de a Psicanálise ser enquadrada como uma Ciência, comparável à Física ou à Química, revelou-se no estudo das Artes e da Estética em suas interfaces com a Psicanálise. Nas disciplinas do mestrado, tinha assistido às aulas de Renato Mezan101, que analisava as composições de Franz Schubert para pensar a escuta na clínica sob a chave de temas e variações. O mesmo método era aplicado ao conto “José Matias”, de Eça de Queiroz102, em que se vislumbrava uma versão bastante singular do complexo de Édipo, e a própria composição dos conceitos freudianos era lida a partir da lógica musical de temas e variações. Isto porque, se o complexo de Édipo repetia estruturas, ele invariavelmente introduzia novos elementos a depender do caso. Descobri, então, que para implodir a lógica kuhniana aplicada à Psicanálise bastava alargar o próprio campo psicanalítico – o que Luís Cláudio Figueiredo fazia em seus cursos minuciosamente preparados para abarcar as várias camadas de cada um dos autores da área. Dentre todos, pude acompanhar aqueles sobre Heinz Kohut e Jacques Lacan. Além dessas atividades de graduação e mestrado, lia em um grupo horizontal de colegas a obra Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust103. Foi de reflexões feitas ali que saíram, então, outros dois artigos, um deles publicado pela revista Imaginário da USP, cujo título era “Freud, Proust e Benjamin: aproximações”104, e outro publicado pela revista Trieb, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, cujo título era “O gesto da escrita na Psicanálise”105. 5.2. Limites e explorações estilísticas [o psicanalista precisa] ser sem escrúpulos, expor-se, arriscar-se, trair-se, comportar-se como o artista que compra tintas com o dinheiro da casa e queima os móveis para que o modelo não sinta frio. Sem alguma dessas ações criminosas, não se pode fazer nada direito. Freud Um dos achados dessa época foram as edições do Congresso de Filosofia e Psicanálise, que depois formou o GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF, do qual hoje sou membra. Fui em quase todas, desde que começaram; algumas vezes apresentei trabalhos, em outras não. De todo modo, minha presença era quase invisível. A vida ainda não era compartilhada com os pares. Mulher e casada, vieram os filhos. Certas vezes, fugi para amamentar, em outras corri para vê-los. Carregava-os vez ou outra para os Congressos, mas não sobrava tempo para sociabilizar nos intervalos entre as apresentações. Mal terminava de assistir o que tinha planejado ou apresentar o que tinha preparado, saía em disparada. Renato Mezan publicou o escopo desta aula em “Parte I – A Clínica na Cultura” In: Tempo de muda: ensaios de psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 102 Mezan, R. “O estranho caso de José Matias”. In: Tempo de muda: ensaios de psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 103 Proust, M. Em busca do tempo perdido. Rio de Janeiro: Globo, 1988. 104 Parente, A. A. M. “Freud, Proust e Benjamin: aproximações.” Imaginário, v. XII, p. 121-138, 2007. 105 Parente, A. A. M. “O gesto da escrita na Psicanálise.” Trieb, v. VI, p. 355-366, 2007. 101 16 A vida de mãe esfacelou, por algum tempo, projetos intelectuais de fôlego. O currículo de fato ganha intervalos, preenche-se de forma mais esparsa. Mas a experiência da maternidade trouxe carne e vigor para infinitas filigranas de noções psicanalíticas, feministas e filosóficas. Viver afetos primordiais, observar a aquisição da linguagem e acompanhar a constituição da subjetividade são lições de valor inestimável. No esforço de juntar cacos em horas clandestinas de trabalho, bem distante das horas contínuas de biblioteca, o exercício intelectual acabou carregando paixão e cansaço, renúncias e um esgotamento que, no entanto, não tornaram meu pensamento menor, acredito. A uma precariedade soma-se a vivacidade a que posições masculinas, em nome de um suposto rigor, parecem ter renunciado. Há, sim, experiências de intelectuais homens que se aproximam daquelas que vivem a mulher-mãe. São aqueles que ficaram em um lugar nebuloso entre o rigor, o tormento e a leveza; sempre foram filhos do fracasso – ou ao menos assim eu os via ao fazer essa reflexão enquanto tentava elaborar mais um texto a ser enviado para um dos congressos de Filosofia e Psicanálise, sem que encontrasse os meios efetivos para fazê-lo. Se assim aconteceu, algo diferente e importante também se realizou por esse desvio. Da maternidade em diante, meu estilo se esculpiu sobre derrotas e traições. Foi um alento encontrar em Histórias do sr. Keuner, de Bertolt Brecht106, um diálogo que se tornou uma espécie de lema. Sob o título “O esforço dos melhores”, lê-se: “Em que está trabalhando?”, ao que o sr. K. responde: “Tenho muito o que fazer, preparo meu próximo erro”. Essa toada me orientava, ainda sem poder avaliar a qualidade de minha produção – o esforço era não dar brecha à consciência infeliz, no sentido de Hegel107. Ou, dito com termos de inclinação lacaniana: não eliminava nem me desviava do Real; meu empenho era o de dar ao Gozo destinos diferentes ao de uma imersão passiva. Bordejando o vazio da falta, sem me entregar às vicissitudes paralisantes do sintoma, atado às sensações de frustração, fiz dela, em suas novas configurações concretas, meu periclitante caminho. A traição era mais complexa, mas nem por isso se diferia inteiramente da noção de erro a que me entreguei. Basta ler os grandes para notar a falta de seu apreço pela fidelidade – os desvios que fazem de seus mestres seriam, então, erros? Só pela traição se pensa verdadeiramente, e, embora essa tática rondasse vagamente minhas reflexões, foi em Hugo von Hofmannsthal108, e nas leituras feitas por Peter Szondi109 das tragédias gregas, que tudo se aclarou e se firmou como método pessoal. Seguindo o léxico alemão, percebe-se que o termo Tat significa ação e, ao mesmo tempo, crime, e que a palavra Täter (agente) também pode ser interpretada com o sentido de criminoso. Diante disso, somos levados a pensar que aquele que age com liberdade sempre será uma espécie de criminoso por trair a lei e sair da condição de submissão inerente à heteronomia. Essa perspectiva é confirmada em Totem e tabu, de Freud110, que introduz a autonomia dos irmãos justamente como efeito do crime contra a lei do pai primevo. Nesse sentido, as ponderações de Hofmannsthal sobre o crime/a ação (Tat) ser a condição Brecht, B. Histórias do sr. Keuner. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 17. Hegel, G. W. F. Fenomenologia do espírito. Petrópolis: Vozes, Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2014. 108 Hofmannsthal, H. v. Gesammlte Werke. “Reden und Aufsätze II”, Frankfurt/Main: Fischer Verlag, 1979, p. 34. 109 Szondi, P. Ensaio sobre o Trágico. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 110 Freud, S. “Totem e tabu”. In: Obras Completas, v. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 106 107 17 originária para a estrutura sociocultural convergem com preceitos freudianos. Como afirma Maria Rita Kehl em Sobre ética e Psicanálise: “Entre a sujeição e o crime, ainda que simbólico, o sujeito ético da Psicanálise não tem como não escolher, custe o que custar, o crime”111 Sem crime, há tão somente uma pré-existência, e dela Hofmannsthal diz: “O espírito soberano vê o mundo de cima”112. O que falta a tal espírito em seu estado soberano transcendental é, então, uma existência no mundo, mais claramente, uma existência histórica e dialética. Talvez seja por tal razão que Hofmannsthal nutrisse o desejo de tornar-se outro ao escrever – traindo a versão imaginária de seu eu – e de ter leitores infiéis. Para dar vida ao texto não se deve desvendá-lo apenas em consonância com as intenções originárias do autor; da perspectiva de Hofmannsthal, a traição – mais uma vez, o Tat – é a melhor forma de recepção que o autor pode almejar. De minha parte, trair autores era uma alegria – não por uma espécie de fetiche ou pendor sublimatório capaz de substituir um desejo inconfessável de traição conjugal ou coisa que o valha; certo tipo de infidelidade significava, antes, discutir de maneira viva e sem hierarquias com cada autor escolhido. Por outro lado, isso de saída me afastava dos comentários. Embora reconhecesse e apreciasse o trabalho de bons comentadores e especialistas, não tinha a virtude da lealdade submissa na vida intelectual. Talvez por isso tenha recentemente me identificado com a brincadeira libertadora feita por Jacqueline Rose em uma de suas conferências: “Se para Freud o superego da mulher é fraco, não cabe a mim dizer o contrário. Aliás, nada mal! Livramo-nos das opressões dessa instância psíquica. Freud tinha razão: nós, mulheres, temos mais o que fazer do que lidar com o superego!”. Uma das fronteiras que eu entrevia em algumas produções do Departamento de Filosofia da USP era o esvaziamento de vida nas usuais leituras estruturais dos textos filosóficos. Sem mencionar que a própria estratégia de estudo podia ser capaz de minar a beleza da escrita. Não raro a herança francesa oprimia ou convertia erudição e inteligência em processos colonizados de produção; aprendíamos alguns métodos que sinalizavam rendição prévia a finos comentários dos europeus, colocados em horizontes transcendentais, de forma que o inegável e impressionante preparo dos professores e alunos muitas vezes não implicava a aquisição de um estilo próprio marcante. Inspirada por esses audazes percursos, não me conformei ao estilo geral do especialista profissional, o que certamente me trouxe tanto problemas, quanto realizações. 5.3 Formas da Cultura: pontos de partida para reflexões futuras [...] há duas senhas que se confrontam: o “uma vez por todas” e o “uma vez só é nada”. Obviamente, há casos em que tudo se resolve com a primeira – no jogo, no exame, no duelo. Mas nunca no trabalho. O trabalho julga de seu direito o “uma vez só é nada”. Walter Benjamin À esfera da literatura, a que me dedicava no grupo de leituras de clássicos como Proust, Homero, Hesíodo, Dante, somou-se à das Artes Visuais, quando integrei como convidada, entre 2009 e 2010, o grupo Arte e Psicanálise, composto por alguns psicanalistas 111 112 Kehl, M. R. Sobre ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 46. Hofmannsthal, H. v. Gesammlte Werke. “Reden und Aufsätze II”, Frankfurt/Main: Fischer Verlag, 1979. 18 do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos (EBEP): Gustavo Henrique Dionisio, Andrea Masagão, Silvia Nogueira e Alessandra Monachesi Ribeiro. As leituras giravam em torno de Didi-Huberman, Alain Didier-Weil, João Frayze-Pereira, Joel Birman, Hal Foster, Rosalind Krauss, Tania Rivera, dentre outros. Visitas frequentes a ateliês de importantes artistas do cenário brasileiro, como Regina Silveira, Artur Lescher, Carmela Gross, Sofia Borges, Sérgio Fingermann, Ana Paula Oliveira, Marilá Dardot, eram outra atividade do grupo. Tinham lugar também debates e eventos realizados por nós. Reuníamos mensalmente psicanalistas, artistas e críticos de arte no espaço B_ARCO da Galeria Virgílio. Em um desses eventos, Como Olhar a Obra, compus a mesa que debatia com o crítico José Bento Ferreira a obra de Ana Paula Oliveira. Essa apresentação foi posteriormente transformada em artigo e publicada na revista Estudos Lacanianos do Programa de PósGraduação em Psicologia e do Laboratório de Psicanálise da Universidade Federal de Minas Gerais, sob o título “Ana Paula Oliveira: deleite interrompido e a urgência do Real”113. Por mais estranho que possa parecer, minha verdadeira entrada em Lacan se deu pela Revista October114, cujos artigos eram lidos nesse grupo. Meus parcos conhecimentos sobre sua obra vinham de quando trabalhava no Trapézio, mas nunca refletiram um saber sistemático. A decisão lacaniana de trazer as discussões filosóficas para o interior dos textos psicanalíticos abria um campo de intimidade extremamente fértil entre as duas áreas que alimentavam minhas reflexões e estudos. Daí talvez que minhas leituras dos seminários tenham sido feitas de maneira quase desesperada: acabava um para na sequência recomeçar sua leitura, sempre duas leituras seguidas do mesmo livro. A estratégia serviu muito bem, me parece. Quando emperrava em algum ponto dos seminários, apelava aos comentários. Meus estudos em Psicanálise continuavam também com a formação realizada no Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, que escolhi por me identificar com várias (os) psicanalistas daquela instituição. Ali segui lendo a obra freudiana e a de pósfreudianos, apresentei trabalhos escritos e fiz supervisões clínicas. Um de meus trabalhos, escrito para o seminário dedicado à Interpretação dos sonhos115 e apresentado em colóquio do departamento, foi publicado na revista Ágora da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob o título “A encenação dos sonhos: imagens de Freud e de Benjamin”116. Nele, estabeleci relações entre as produções onírica e cinematográfica, olhando para elementos sociais de tais produções. Esse artigo é um pequeno retrato do meu esforço intelectual dali em diante: o de articular certas conformações subjetivas com as produções da cultura, cujas formas são também social e historicamente determinadas. Estava mais bem alocada no território da Teoria Crítica. Na mesma época, publiquei “Aura das palavras”117 na revista IDE da SBPSP, onde tracei paralelos entre a ideia de agalma para Lacan e a de aura para Benjamin: o divã e a análise clássica eram comparados, em diversas dimensões, com a arte moderna, ao passo que atendimentos extramuros, isto é, fora dos consultórios, poderiam ser equiparados à arte Parente, A. A. M. “Ana Paula Oliveira: deleite interrompido e a urgência do real.” Revista Estudos Lacanianos, v. 3, p. 213-224, 2011. 114 Revista October. In: https://direct.mit.edu/octo 115 Freud, S. (1900). “A Interpretação dos Sonhos”. In: Obras Completas, v.4. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 116 Parente, A. A. M. “A encenação dos sonhos: imagens de Freud e de Benjamin”. Ágora, v. XVII, p. 9-26, 2014. 117 Parente, A. A. M. “Aura das palavras”. Ide (São Paulo), v. 34, p. 247-259, 2011. 113 19 contemporânea pós-aurática, tal como pensada por Walter Benjamin. Nas minhas leituras alucinadas dos seminários de Lacan, o de número 8, sobre A transferência118 teve lugar cativo. Não apenas porque ele alargava, até quase destruir, tudo que eu tinha visto sobre o tema no meu mestrado; o assombro irrompeu mesmo da leitura inédita e genial que Lacan faz do Banquete, de Platão119. Eu já tinha lido vários helenistas durante minha graduação em Filosofia, tinha ensinado o Banquete para alunos do Ensino Médio, tinha pesquisado os meandros dos discursos dedicados ao amor, mas o texto nunca tinha se mostrado de modo tão impactante quanto se revelara a mim pela leitura do Seminário 8. A imagem de Alcebíades ganhou todo outro relevo, e o desenho das algamata compôs uma forma precisa para o que antes era conceitualmente difuso, a respeito do objeto causa do desejo, o objeto a. Lacan tornou-se então, ao lado de Freud, autor indispensável a mim. Foi nesse período que emprestei na biblioteca do Sedes o livro Paixão do negativo, de Vladimir Safatle120. Devorei-o em poucos dias, sentindo as profundas lacunas na minha formação em Hegel. Por coincidência – ou não –, ele ofereceu em 2009 o curso sobre a Ciência da lógica, de Hegel121, na pós-graduação do Departamento de Filosofia, que frequentei pois já alimentava a ideia de prestar a prova para ingressar no doutorado. Ao final do curso, porém, estava grávida de meu segundo filho, e o projeto foi adiado. Tratava-se de uma gravidez de risco, o que me trancou em casa e no hospital. Como Elias Canetti, vi na clausura a oportunidade única de me entregar a alguns autores que não participavam das leituras diárias profissionais. Assim pude acabar os últimos volumes de Em busca do tempo perdido122, e também foi a ocasião de conhecer a maravilhosa biografia de Marcel Duchamp, escrita por Calvin Tomkins123. Foi a partir dessa leitura despretensiosa que redigi, pouco depois, “Duchamp: dândi contra a melancolia?”124, que apresentei no II Simpósio de Estética da PUC-SP e publiquei posteriormente na revista ArteFilosofia da UFOP. Passado o período de turbulência, teve início a pesquisa de doutorado, orientada por João Augusto Frayze-Pereira, criador do Laboratório de Estudos em Psicologia da Arte no PST- IP (USP). Crescia meu entusiasmo diante das relações entre Arte, Estética e Psicanálise, e cursei as disciplinas dadas por Ricardo Fabrinni na Filosofia da USP e por Elza Ajzenberg na ECA; desses cursos saíram os artigos “Mira Schendel e Psicanálise: sussurrar do invisível”125, apresentado na III Outrarte – De um Discurso Sem Palavra, na UNICAMP, e publicado pela Revista Brasileira de Psicanálise, da SBPSP, e “O que vem de dentro me atinge”126, que está na revista Percurso, do Departamento de Psicanálise do Sedes. Outras disciplinas completaram os créditos exigidos para o doutoramento, mas de maneira menos marcante. Lacan, J. (1961-1962). O Seminário, Livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed. 1992. Platão. Banquete. Belém: UFPA, 2018. 120 Safatle, V. A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo: Editora UNESP, 2006. 121 Hegel, G. W. F. Ciência da Lógica volumes I, II e III. Petrópolis: Vozes, 2016. 122 Proust, M. Em busca do tempo perdido. Rio de Janeiro: Globo, 1988. 123 Tomkins, C. Duchamp: uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2004. 124 Parente, A. A. M. “Duchamp, dândi contra melancolia?”. Artefilosofia, v. 14, p. 84-95, 2013. 125 Parente, A. A. M. “Mira Schendel e psicanálise: sussurrar do invisível”. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 47, p. 147-158, 2013. 126 Parente, A. A. M. “O que vem de dentro me atinge”. Percurso 48, v. 48, p. 29-38, 2012. 118 119 20 * Era 2010. Desde 2009 eu trabalhava como professora adjunta da Universidade Paulista (UNIP), ministrando diferentes disciplinas no curso de Psicologia em vários campi. Exerci essas tarefas durante sete anos, em viagens permanentes pelas mais distantes regiões de São Paulo, entre as unidades Pinheiros, Tatuapé e Anchieta. Entrei na UNIP como professora de Ética e Cidadania. Tratava-se de uma grande empresa de Ensino Superior, com todas as características problemáticas do setor: ensino de massa, salas lotadas, padronização e normatividade na formação, programas de ensino prontos, precarização do trabalho. Era possível equiparar o esquema de ensinoaprendizagem a uma linha de montagem de fábrica. De outro prisma, o ensino superior privado foi um fenômeno da década de 1990 que trouxe novos rostos para as universidades, daí que meu entusiasmo viesse principalmente do encontro com alunos oriundos dos mais diferentes universos e camadas sociais. No campus Tatuapé, o perfil era bem específico: jovens que trabalhavam muito durante o dia e chegavam com ânimo redobrado para as aulas. Os olhos vidrados diante do conteúdo apresentado revelavam avidez inesgotável pelo saber. Salas de mais de cem alunos exigiam o uso de microfone. Nessa espécie de show, as aulas tinham que ser preparadas com afinco para que a densidade do conteúdo fosse preservada. Em Ética e Cidadania, sempre intercalava as mais amplas e complexas discussões teóricas com dilemas éticos concretos e cotidianos. No campus Anchieta, o retrato social dos estudantes era um pouco diferente: pessoas que cursavam uma segunda faculdade se mesclavam aos jovens oriundos de famílias de baixa renda, além de outros de núcleos mais abastados. Era difícil compor todas essas versões da Grande São Paulo em impasses decisórios e morais. Por outro lado, era exatamente essa multiplicidade que trazia debates quentes e ricos. Os autores do programa eram Aristóteles, Kant, Sartre e Marx, e também estavam na lista a DUDH e o ECA. No semestre seguinte de 2009, ministrei aulas de Teorias e Sistemas em Psicologia e de Psicoterapia Breve. Em TSP, os alunos tinham um panorama geral das abordagens da Psicologia – Psicanálise, fenomenologia existencial, comportamental, sócio-histórica e humanismo. Com a Psicoterapia Breve, tive oportunidade de aprender ensinando – a Psicologia do Ego de Ernest Kris, Franz Alexander, Rudolph Loewenstein, Hans Hartmann e Otto Fenichel, alvos diretos das críticas de Jacques Lacan, servia como pano de fundo do curso, cujo foco principal eram autores argentinos, mais contemporâneos, neles inspirados. O programa de História do Pensamento Filosófico previa aulas introdutórias menos ambiciosas do que as por mim elaboradas, quando lecionava no Ensino Médio. Já Filosofia, Comunicação e Ética era um curso mais livre – dentro do programa previsto, leituras complementares eram bem-vindas. Em História da Psicologia, o trabalho era o de escavar raízes. Fiz malabarismos para despertar entusiasmo no curso de Ética Profissional. O programa previsto era muito calcado no Código de Ética do Psicólogo e em debates oriundos dos Conselhos Regionais de Psicologia. Os alunos tocavam em questões profundas, relativas aos impasses da profissão, de modo que desvios para debates mais filosóficos eram recebidos com muita animação. Dentre as disciplinas dadas também estavam as atividades na clínicaescola da UNIP (Supervisão Clínica em Psicodiagnóstico e Supervisão Clínica em 21 Atendimentos em Psicanálise) e as de Teorias Psicanalíticas e de Desdobramentos da Teoria Psicanalítica, em que eram lecionadas as obras de Freud, M. Klein e D. W. Winnicott. A clínica-escola da universidade era um pequeno laboratório das profundezas que formam partes periféricas de São Paulo. Na disciplina de Psicodiagnóstico, os pacientes supervisionados frequentemente apresentavam a peculiaridade de se verem identificados pelas nomenclaturas diagnósticas de manuais psiquiátricos, o que dificultava um trabalho de engajamento dos sujeitos em relação ao próprio sintoma e ao próprio sofrimento. Essas “identidades” diagnósticas (depressão, déficit de atenção, hiperatividade etc.) chegavam de escolas, médicos em geral e psiquiatras, e os sujeitos se alienavam nesses nomes como se suas subjetividades fossem entidades alheias. Perdendo o elo com as palavras, o sofrimento desligava-se da história e tornava-se uma espécie de vírus a ser eliminado. Dito de maneira mais clara: o enquadre de afetos e comportamentos em padrões normativos extremamente restritos, transfigurados em diagnósticos psiquiátricos, psicológicos, médicos, pedagógicos, pareciam sancionar, para os pacientes, a desconexão entre subjetividade, sofrimento e sintoma. Com um véu fetichista, os nomes do DSMs eram o passe para o consumo de tratamentos e remédios. Em lugar da cidadania e dos questionamentos em relação aos limites de seu exercício pelas más condições políticas e sociais, tem-se hoje a classificação nosológica no campo da saúde mental, que introduz o sujeito num rol de instituições de cuidados e acolhimento. Nesse contexto perverso, o Gozo de possuir uma doença e os ganhos secundários dela inibem as potencialidades subjetivas e políticas dos cidadãos. Do lado mais abastado da cidade de São Paulo, uma lógica semelhante, mas invertida, emergia nas queixas de pacientes. No consultório, não era incomum que se buscassem identidades fixas nos ideais imaginários, construídos com os ingredientes mais clichês da propaganda e da vida alheia exposta nas redes sociais – sucesso, amor perfeito, filhos, beleza. O dia a dia acabava desvitalizado, sempre insuficiente ante as belas imagens construídas. Aqui o trabalho não era desconstruir a dor e o sofrimento que garantiam um lugar – o pior possível – de existência, como ocorria nas clínicas e hospitais para a população menos favorecida; o exercício contínuo era, ao contrário, apontar fraturas nas imagens reluzentes imaginariamente perpetradas e abalar a insatisfação incessante que se alastrava em contraste com as identidades desenhadas pelas agências de propaganda ou pelas postagens vibrantes de amigos invejáveis. Foi diante dessas realidades difíceis que aos poucos notei a importância do fenômeno do estranhamento que mais para frente viria a ser um objeto central de pesquisa acadêmica. Estranhar e deixar-se estranhar não só pelo sofrimento, como em relação às soluções construídas social e politicamente e que orientavam a fala dos pacientes. Trabalhar com o conceito de estrangeiro no pós-doutorado foi uma tentativa de percorrer um caminho avesso àquele que encontrava no discurso da clínica – mas sobre esse tópico falarei mais adiante. Seja como for, um primeiro movimento em direção à questão do estrangeiro foi a realização e a curadoria de uma exposição de Arte Visuais e Psicanálise intitulada Fronteiras: lugar do estrangeiro127, em 2012, na Casa Contemporânea. Tinha em mente que a arte seria uma maneira de poder lançar-me à materialidade dos objetos para deles extrair uma forma – ou Parente, A. A. M. Exposição Fronteiras: lugar do estrangeiro. In: https://casacontemporanea370.com/exposicoes/exposicao-fronteiras-lugar-do-estrangeiro/. 127 22 seja, a forma não seria dada a priori em moldes ideais ou fórmulas prontas, mas nasceria da relação de estranhamento com a matéria ou a coisa. Esse método poderia ser pensado também na escrita dialética de meus textos, no estudo de autores e na clínica, tanto com pacientes que se apresentavam das maneiras acima descritas quanto com outros muito presos a modelos identitários pouco flexíveis (mulheres, negros, população LGBTQIAP+ que encarnavam e reproduziam moldes fundados em próteses socialmente determinadas). A exposição contou com obras de Artur Lescher, Silvia Mecozzi, Carmela Gross, Flávia Junqueira, Claudio Matsuno, Sofia Borges, Adriana Affortunati, José Spaniol e Geórgia Kyriakakis. Me empenhei em muitas conversas com os artistas, visitas aos ateliês, leitura de catálogos e bibliografias que servissem como referência para entender cada produção. Em seguida, o trabalho foi o de escolher as obras e, por fim, a escrita vertiginosa do catálogo. Na Casa Contemporânea também se realizaram debates entre filósofos, psicanalistas, artistas e curadores, que refletiam sobre toda a exposição. Nessa época, produzi e apresentei diversos trabalhos, cuja maior parte foi publicada em revistas especializadas: “Entre Freud e Benjamin, o sonho de Lynch”, no VII Congresso Internacional de Teoria Crítica, realizado pelo IEL-UNICAMP; “O divã na Psicanálise: aura das palavras”, no III Encontro de Filosofia e Psicanálise (UFF/UFRJ); “Auscultar corpos”, no I Seminário de Estética e Crítica de Arte (FFLCH-USP); “Cinema e sonhos: cenas de Freud e de Benjamin”, na Casa Contemporânea; “Nas margens da arte moderna: a aura e a lógica edípica”, no V Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise (UNIFESP); “Artur Lescher e o barroco na arte brasileira contemporânea”, no VII Encontro Psicanalítico da Teoria dos Campos (IP-USP/CETEC), dentre outros. O período de ensino na Universidade Paulista, por sua vez, desembocou em atividades interessantes como a coordenação de grupos de estudos de Freud e Lacan, além de supervisões clínicas. O grupo com ex-alunos da UNIP, que coordenava em meu consultório, dedicava-se sobretudo ao Seminário 9 e algumas derivações dele. O desenho de uma subjetividade não-identitária, presente no seminário sobre a “Identificação”, é especialmente importante para minhas atuais investigações, como ficará cada vez mais evidente aqui. Desse grupo, desdobrou-se outro que segue em curso: o Lab Identificações, vinculado ao GEPEF (Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas), sobre o qual falarei mais adiante. A pesquisa de nosso laboratório, que acontece desde 2020, dedica-se a campos interseccionais de classe, raça e gênero. Ali, debruçamo-nos sobre os textos de Frantz Fanon128, Judith Butler129, Toni Morrison130, Anne McClintock131, Eduardo Viveiros de Castro132, Hanna Limulja133, entre outros. Importante salientar a forma de funcionamento do laboratório. Inicialmente, a coordenação das leituras ficava sob minha responsabilidade e recebia um valor mensal pelo trabalho. Conforme as leituras avançaram, passamos a questionar esse modelo de funcionamento no qual uma pessoa coordenava e tinha mais Fanon, F. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu Editora, 2020. Butler, J. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. 130 Morrison, T. A origem dos outros: Seis ensaios sobre racismo e literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 131 McClintock, A. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. 132 Viveiros de Castro, E. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições, 2018. 133 Limulja, H. O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos yanomami. São Paulo: Ubu Editora, 2022. 128 129 23 poder de fala. A leitura de Couro Imperial134 abalou significativamente nossas visões convencionais sobre funcionamento de grupos. O capítulo “O escândalo da hibridez – a resistência das negras e a ambiguidade narrativa”, começa com a epígrafe “Forma é poder”135, frase de Thomas Hobbes. Ali, McClintock apresenta a história entrelaçada de Elsa Joubert, mulher branca africâner, e de Poppie Nongena (nome fictício). A primeira estava prestes a sair de férias quando soube da história de Nongena e decidiu escrever sobre ela. Publicada em africâner e traduzida para o inglês em 1980, a obra The Long Journey of Poppie Nongena obteve sucesso estrondoso. A grande questão era a autoria – a história de vida havia sido escrita com as pegadas de Nongena, mas só atingiu o público quando chegou sob forma escrita pelas mãos de Elsa Joubert. Esse entrelaçamento é tratado de modo complexo e minucioso por McClintock, mas no nosso laboratório decidimos que não era mais o caso de eu dar o tom principal e a forma às leituras de nossos textos. Passamos a funcionar horizontalmente, o pagamento passou a ser um caixa para futuros trabalhos de nosso grupo de pesquisa e o preparo dos textos funciona rotativamente (cada responsável pela apresentação recebe um valor fixo pelo trabalho). Esse modelo se configurou de maneira paulatina, conforme fomos considerando que a forma de funcionamento do grupo teria que ser condizente com as questões discutidas a partir das leituras que estavam sendo feitas. Mas voltemos alguns anos, pois ainda não expus os meandros de minha pesquisa de doutoramento. 6. O doutorado: entre a sublimação e o Unheimliche, Freud e Walter Benjamin Definir a própria relação entre a imaginação humana e a praxe zoológica [tal como propõe Caillois], revela-se ao olhar mais detido, uma reedição com ares chiques de uma das piores teorias de Freud, a da sublimação – e a isso deveria prender-se a frase sobre o ridículo a que se expõe a Psicanálise. Theodor Adorno Defendi minha tese de doutorado, Sublimação e Unheimliche: entre Freud e Walter Benjamin, orientada pelo prof. João Frayze-Pereira no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo, em meados de 2015. O foco era conceder consistência às questões em que eu vinha pensando de maneira ainda imprecisa: como processos psíquicos inerentes ao fazer artístico engastavam-se nos aspectos formais das obras de arte e da cultura? Importava a pergunta na medida em que parecia ser impróprio pensar processos sublimatórios de maneira isolada, isto é, sem que se considerassem os resultados concretos de sua articulação – as próprias obras de arte e da cultura. Uma série de implicações decorria dessa questão, pois olhar de modo fino para os aspectos formais de uma peça artística, por exemplo, exige que sejam levadas em conta a tradição cultural na qual está inserida, bem como as dimensões epistêmicas, sócio-históricas e políticas que a circundam. Observando a produção artística contemporânea, não era difícil constatar limites McClintock, A. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. 135 Ibdem. p. 442. 134 24 intransponíveis nas análises de obras feitas por Freud – era, por conseguinte, o conceito de sublimação a entrar em xeque e a requerer uma crítica minuciosa. De outro prisma, a categoria de Unheimliche aparecia de maneira extremamente fértil na observação das obras contemporâneas e dos processos psíquicos envolvidos nas produções artísticas mais recentes. Dois problemas mais circunscritos, então, se revelaram: em primeiro lugar, ainda se usava da mesma maneira que Freud, no fim do século XIX e início do XX, o conceito de sublimação, importante para conduzir aspectos da escuta clínica e para pensar a cultura – um viés anacrônico de ver quer arte e cultura, quer a clínica; em segundo lugar, sob o nome de sublimação alguns autores transformavam significativamente o conceito de Freud e mesclavam-no ao de Unheimliche, descaracterizando o pensamento freudiano. O exemplo mais claro disso talvez seja o Seminário, livro 7 A ética da psicanálise136, de Lacan. O problema em relação a essa estratégia é o de, mais uma vez, desvincular aspectos psíquicos, epistêmicos, sociais e políticos da materialidade e da forma engastadas nas obras concretas. Deixando de explicitar mediações da inextrincável relação entre processos subjetivos, sociais e políticos específicos e aspectos formais das peças artísticas, cai-se em um idealismo ingênuo com tintas psicanalíticas. Compreender a formação conceitual da sublimação em seu contexto sócio-histórico permitia, ao contrário, observar que a própria formulação do conceito freudiano foi talhando-se a partir de um determinado modelo de produção artística-cultural. De outra parte, os resultados desses processos sublimatórios revelavam-se de maneira coerente com certa configuração epistêmica e espaço-temporal mais abrangente. Não eram aleatórios nem estavam confinados a aspectos puramente psicológicos ou de todo abstratos e universais; faziam parte, mais exatamente, de estruturas formais e epistêmicas da cultura, modelos políticos em vigor e de aspectos psíquicos preponderantes no momento da história no qual foram arquitetados. Nesse contexto, dois episódios precisam ser destacados. Sabemos que Freud escreveu seus textos sobre Metapsicologia durante a Primeira Guerra Mundial. Segundo James Strachey137 e Ernest Jones138, havia entre os demais um artigo dedicado ao conceito de sublimação; reza a lenda que ele teria sido queimado por Freud. O segundo episódio referese ao esboço esquecido sobre a categoria de Unheimliche, que teria sido retirado de sua gaveta em 1919, logo após o fim de um dos capítulos mais tenebrosos da história. A hipótese que se levanta é a seguinte: no pós-guerra, esse par de gestos não teria sido sinal de uma percepção sobre os limites dos modelos civilizatórios engendrados de modo sublimatório? Daí que, originalmente, o desenvolvimento de minha pesquisa de doutorado no interior do Laboratório de Estudos em Psicologia da Arte (LAPA) previa uma breve distinção entre esses dois conceitos que se revertiam em obras da cultura. Diferenciá-los permitiria olhar para os limites da sublimação nos dias de hoje e pensar a arte contemporânea como parte do fenômeno unheimlich. O conceito de Unheimliche, aliás, era a ideia freudiana que precisava o fenômeno do estranhamento, ao qual eu vinha dedicando minha atenção clínica e intelectual. Diante da complexidade do problema, esse breve prólogo tornou-se o próprio Lacan, J. (1959-1960). O Seminário, Livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1997. Strachey, J. “Introdução do Editor Inglês”. In: Freud, S. A história do movimento psicanalítico, Artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Cf. Strachey, J. p. 111-112). 138 Jones, E. A vida e a obra de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1989. 136 137 25 trabalho de pesquisa. O resultado foi publicado em 2017 sob o título Sublimação e Unheimliche, pela editora Pearson/Casa do Psicólogo139, integrando a Coleção Clínica Psicanalítica, organizada pelo psicanalista Flávio Ferraz. No dia do lançamento, convidei dois debatedores para discutirem partes da publicação, um deles filósofo, o outro psicanalista. No momento em que André Carone tomou a palavra, disse que, sem dúvida, meu livro estava na esfera da Filosofia, pois esta é o lugar em que se discute a formação de conceitos ou em que se produzem conceitos; segundo ele, meu trabalho estava às voltas com esse ponto específico de estabelecer contornos conceituais. Feitas essas observações filosóficas, chegou a vez de Gustavo Henrique Dionísio assumir a palavra. Declarou de saída que meu livro se inseria na esfera da Psicanálise, pois tratava partes obscuras e escondidas das tramas teóricas psicanalíticas com as ferramentas oferecidas pelo método inaugurado por Freud. Na ocasião, rimos. Mas essa visão dupla teve um impacto. Como sempre oscilava entre ambas as áreas, o duplo lugar, ali publicamente reconhecido, validou a tarefa de desempenhar bem os dois papéis e interligá-los de maneira rigorosa e viva em minhas produções intelectuais como filósofa e psicanalista. 6.1. A Viena de Freud, a Berlim de Benjamin e as novas descobertas A Psicanálise, porém, que durante minha longa vida se difundiu por muitos países, não encontrou ainda um lar que lhe fosse mais propício do que a cidade na qual nasceu e cresceu. Freud Não há nada de especial em não nos orientarmos numa cidade. Mas perdermo-nos numa cidade, como nos perdemos numa floresta, é coisa de que precisa de se aprender. Walter Benjamin Os problemas colocados pela pesquisa do doutorado, apresentados em diversas camadas, demandavam uma imersão na obra de Walter Benjamin. Como disse, já tinham ficado muito claros, especialmente após publicar “Entre as ruínas do tempo: Walter Benjamin e Sigmund Freud”, nos Cadernos Walter Benjamin do GEWEBE140, os cruzamentos íntimos e promissores entre o modelo através do qual operava a lógica temporal (Nachträglichkeit) na articulação psíquica e a perspectiva histórica tal como desenhada por Benjamin nas suas teses de Sobre o conceito de história141. Esse elo espaço-temporal era absolutamente central; por meio dele se materializavam as ressonâncias entre processos psíquicos e obras culturais, epistêmicas, políticas e artísticas. Tratava-se, então, de expandir esse fio de ligação entre Benjamin e Freud para mirar as críticas benjaminianas das obras por esse viés. Foi assim que, depois de anos de dedicação à língua alemã no Instituto Goethe de São Paulo, enfrentei o desafio de aprofundar o estudo da obra de Walter Benjamin num Parente, A. A. M. Sublimação e Unheimliche. São Paulo: Pearson, 2017. Parente, A. A. M. “Entre as ruínas do tempo: Walter Benjamin e Sigmund Freud”. Cadernos Walter Benjamin, v. 12, p. 1-13, 2014. 141 Benjamin, W. “Sobre o conceito de história”. In: Löwy, M., In: Aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, 2005. 139 140 26 período de estágio no Zentrum für Literatur-und Kulturforschung em Berlim, realizado durante o doutorado com auxílio da bolsa CAPES. O ZfL era uma instituição privilegiada para a abordagem da minha tese, já que muitos de seus pesquisadores eram benjaminianos e tratavam a obra do autor em relação expansiva com obras mais recentes da cultura, das artes e da literatura. Fiquei sob orientação da profa. dra. Sigrid Weigel com quem realizei seminários sobre obra benjaminiana. Estudamos As afinidades eletivas de Goethe142, Infância em Berlim143, Destino e caráter144, Para uma crítica da violência145, Pequena história da fotografia146, A tarefa do tradutor147. Além disso, tive a oportunidade de acompanhar as reuniões dos integrantes do ZfL, o que me ensinou, pelas entranhas, um método alemão de fazer pesquisa – não via simplesmente os eventos acabados ou as publicações finalizadas. Essas reuniões eram modos de pensar a produção intelectual-acadêmica de uma instituição bastante conceituada na área a que se dedicava. Os eventos ali oferecidos, voltados sobretudo a Walter Benjamin e a Aby Warburg, eram estimulantes e vivos, frequentados por intelectuais de várias partes do globo. Berlim oferecia muito aos meus interesses, e os passeios eram quase todos voltados para exposições, teatro, cinema, debates e conferências. Merece destaque o seminário sobre Teoria estética de Theodor Adorno148 que segui semanalmente na Freie Universität, sob a coordenação do prof. George Bertram. Graças a ele, a crítica que eu esboçava quase intuitivamente ao conceito de sublimação em Freud ganhou feições legíveis. O grande problema estava diagnosticado logo no início da obra de Theodor Adorno: embora do ponto de vista psíquico o processo sublimatório, tal como pensado por Freud, resguardasse elementos de resistência ao status quo burguês, o aspecto formal das obras era desconsiderado nas análises freudianas e as peças artísticas não eram vistas de maneira crítica pelo pai da Psicanálise. Tal problema comprometia toda a análise crítica de viés psicanalítico, que se tornava conservadora. Adorno também não foi insensível à aplicação grosseira de conceitos psicanalíticos, feita muitas vezes por Freud, para a interpretação de obras e artistas. Destrinchar esses pontos foi essencial para compor a totalidade da tese. Também ali descobri Hugo von Hofmannsthal por meio da obra Das Drama der Souveränität, de Marcus Twellmann149. De fato, só foi possível penetrar nas mazelas e dores profundas deixadas pela Primeira Grande Guerra, cenário da Parte II de meu trabalho, com a leitura da peça Der Turm150 e a análise do personagem Sigismund. Duas resenhas escritas por Walter Benjamin, dedicadas às diferentes versões da peça, concederam as chaves para análises formais do drama. Delas desdobraram-se camadas mais densas de uma cultura que, como definiu Benjamin, “rejeita a imagem do homem tradicional, solene, nobre, adornado 142 Benjamin, W. “As afinidades eletivas de Goethe”. In: Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. São Paulo: Editora 34, 2018. 143 Benjamin, W. “Infância em Berlim por volta de 1900”. In: Obras escolhidas II. Rua de Mão única. São Paulo: Brasiliense, 1995. 144 Benjamin, W. “Destino e caráter”. In: Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Duas Cidades, 2013. 145 Benjamin, W. “Para uma Crítica da violência”. In: Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Duas Cidades, Editora 34, 2011. 146 Benjamin, W. “Pequena história da fotografia”. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasilienses, 1994. 147 Benjamin, W. A tarefa do tradutor. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2008. 148 Adorno, T. W. Teoria Estética. São Paulo: Martins Fontes, 1982. 149 Twellmann, M. Das Drama der Souveränität: Hugo von Hofmannsthal und Carl Schmitt. München: Wilhelm Fink Verlag, 2004. 150 Hofmannsthal, H. v. Der Turm: Zwei Fassungen. Berlin: Hofenberg, 2014. 27 com todas as oferendas do passado, para dirigir-se ao contemporâneo nu, deitado como recém-nascido nas fraldas sujas da nossa época”151. Foi determinante a viagem que fiz a Viena, também nesse período. Meu trabalho ganhou uma corporeidade genuína, que talvez jamais tivesse adquirido se as palavras dos livros não tivessem sido transpostas a paisagens concretas. Casa de Secessão, Burgertheater, exposições das obras de Gustav Klimt e Egon Schiele, o Palácio de Schönbrunn, a Casa de Freud na Berggasse 19 podem parecer curiosidades supérfluas ou interesses antiquados, com um quê kitsch, mas foram centrais para minha investigação (a primeira parte de minha pesquisa foi orientada predominantemente pela composição da atmosfera da Viena fin-desiècle) e me aproximaram mais fortemente das bases de Freud. As visitas aos Arquivos Walter Benjamin foram outra experiência em Berlim. Em minha tese, não cheguei a ser aquela espécie de comentadora que pretende encontrar conteúdos inéditos nos manuscritos ou verificar minuciosamente os originais para confrontá-los às diferentes recepções e interpretações da obra do autor; inicialmente, estive nos arquivos como uma simples admiradora curiosa, mas houve algo importante que aprendi ali. Com as folhas preenchidas pelas letras e rasuras de Benjamin, pude penetrar nas vísceras de suas produções. Detive minha atenção sobretudo nas estratégias compositivas do filósofo judeu-berlinense. Observar como ele confeccionava seus escritos e como procedia nas montagens de suas ideias teve um impacto para pensar sobre o estilo que queria assumir. Walter Benjamin, ao contrário de alguns filósofos que prezam pela polidez da versão definitiva, não esconde totalmente suas artimanhas, deixando que a seiva pulsional de suas ideias impregne de algum modo sua obra. De minha parte, a preservação do húmus das ideias no corpo da escrita pareceu condizente com a perseguição da verdade filosófica, que, a meu ver, não deveria figurar totalmente apartada da honestidade sobre o caráter procedimental daquele que escreve. Além disso, nos Arquivos estabeleci interlocuções com outros pesquisadores e trocas em cafés alimentaram meus conhecimentos. A biblioteca de obras dedicadas ao filósofo que ali ficava, embora pequena, também permitiu boas descobertas. O melhor para quem estuda Benjamin era poder caminhar pelas ruas e parques que faziam parte de seus escritos, olhar monumentos e obras sobre os quais ele escreveu, respirar um pouco da atmosfera na qual viveu – junto aos estudos, isso tudo também foi Berlim nesse período. Na época do doutorado, apresentei “Distinção metapsicológica dos conceitos de sublimação e Unheimliche em Freud” no Colóquio Freud: Filosofia e Psicanálise na UFSCAR; “A sombra do eu e o objeto”, no I Encontro do Grupo de Trabalho Psicanálise, Subjetividade e Cultura Contemporânea (IP-USP); “Entre Egon Schiele e Gustav Klimt: algumas inflexões na obra freudiana”, no VI Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise (UFES); “Duplo: face profana do gênio romântico”, no II Encontro Nacional de Estética, Literatura e Filosofia (ENELF)/ Romantismo: desdobramentos contemporâneos (UFCE), dentre outros. A maior parte desses trabalhos também foi publicada em revistas especializadas das respectivas áreas. Foi uma experiência importante difundir parte de minhas pesquisas em cursos livres dados na Livraria da Vila – A figura do duplo: Romantismo e Psicanálise – na Livraria Martins Benjamin, W. “Experiência e pobreza”. In: O anjo da história. São Paulo: Autêntica Editora, 2012. pp. 1156, pp. 115-6. 151 28 Fontes – O estrangeiro como categoria estética – no Espaço Revista Cult – O estrangeiro em Freud e Benjamin – e, finalmente, como convidada da equipe de formação teórica de artistas, coordenados pela coreógrafa Marta Soares, para preparação da performance Deslocamentos, cuja apresentação ocorreu entre os meses de outubro e novembro de 2018 no Octógono da Pinacoteca de São Paulo. 7. O pós-doutorado: ainda entre a Filosofia e a Psicanálise 7.1. O Estrangeiro (Fremd), o Moisés de Freud e a Estética Se à Estética se tem muitas vezes reservado um lugar subalterno na hierarquia das ciências filosóficas, isto se deve a mais das vezes à ignorância pura e simples de seu poder sintetizador de épocas e vivências. Ricardo Timm de Souza Depois do doutorado, ficou clara a ideia de mapear uma teoria estética no interior da obra freudiana. O impacto dessa perspectiva é grande, pois as relações entre Psicanálise, Estética e Artes são feitas, em geral, por meio de analogias ou até de aplicações selvagens.152 Considerar que a Psicanálise resguarda um pensamento estético, no sentido filosófico dado por Baumgarten ao termo, implicava desenvolvimentos ainda mais complexos entre Filosofia, Estética e Psicanálise. A Estética dedica atenção às formas pelas quais processos psíquicos e epistêmicos assumem uma configuração material nas obras da cultura. Sem esquecer que há, em Freud, uma homologia entre os termos civilização e cultura, tratar tópicos como belo, sublime, gosto, percepção, formas, gênio, criação, recepção estética, fazer artístico significa, no fundo, pensar a partir das estruturas formais de peças artísticas os meios pelos quais se organizam diferentes modos de vida (éthos). Só é possível apreender o gosto ou a percepção de um objeto, por exemplo, quando se levam em conta múltiplos níveis de determinação capazes de compor seja o campo sensível, seja o perfil dado ao objeto apreciado/percebido. De modo similar, o belo jamais será belo em si, mas expressão de camadas valorativas e judicativas que subjazem alguma aparência específica e a maneira singular pela qual ela é fitada. Em síntese: cultura é justamente a maneira pela qual uma civilização específica assume determinados contornos formais.153 Como estes se engendram implica uma análise filosófica e psicanalítica, pois, no campo da Estética, a subjetividade e materialidade formal estão embrenhadas nos elementos estudados e analisados. Como primeiro passo para realizar esse projeto, dei início a uma pesquisa de pósdoutorado do Departamento de Filosofia da USP sob supervisão do prof. Vladimir Safatle, com financiamento da FAPESP. O objetivo era estudar a categoria de estrangeiro, forma não-identitária de processos de simbolização que se revertem em obras da cultura. Ela Há, evidentemente, estudos sólidos na interface entre arte e Psicanálise aos quais essa crítica não se aplica. Tal crítica, inclusive, é tecida por autores da Psicanálise, como João Frayze-Pereira (2005 e outros), Tania Rivera (2013 e outros), Alessandra Monachesi Ribeiro (2009; 2013 e outros), Gustavo Henrique Dionisio (2012 e outros), Renato Tardivo (2012; 2018 e outros), Andrea Masagão (2008 e outros). 153 Seria o caso de estabelecer também diferenças entre cultura e arte, como faz Antonio Teixeira, mas não há espaço para esse debate aqui. 152 29 aparece especialmente em Moisés e o monoteísmo154, mas traz elementos extremamente relevantes para se pensar o cenário atual em que ideias sobre reconhecimento, lutas identitárias e movimentos interseccionais (classe, raça e gênero) estão em constante debate. Essa pesquisa já é, em verdade, uma tentativa de concluir o que considero ser o mapeamento de categorias estéticas no interior da obra freudiana, que havia sido iniciado no doutorado com os conceitos de sublimação e Unheimliche. Tal vertente não-identitária de subjetivação, concentrada na categoria freudiana de estrangeiro (Fremd), levou-me mais uma vez à leitura das obras de Jacques Lacan, principalmente voltada ao Seminário 9155. Coerente com a estratégia lacaniana, a categoria freudiana de estrangeiro radicaliza até um limite extremo o discurso da clivagem, colocando em evidência a profunda descontinuidade entre o saber da consciência e a verdade do inconsciente. Determinar a verdade como exílio significa depositá-la sobre o limite da realização do saber. Esse viés é extremamente relevante para os estudos do Moisés de Freud – pois deve-se levar em conta que, num momento histórico no qual apodrecem os pilares de sustentação das bases civilizatórias (as cenas de fundo são as de Auschwitz, mas também as do colonialismo e as do neofascismo atual), tornar periclitantes os códigos do saber normatizados é passo essencial. Se, para Lacan, a verdade do desejo aloca-se na falta que se apresenta na realização do saber da consciência, buscá-la significará estremecer articulações fixas de simbolização e de construções imaginárias. Tal tarefa parecia urgente na era nazista, pois seria impossível compactuar com modelos civilizatórios ligados aos fundamentos do Holocausto. A categoria de estrangeiro traz como referência a destituição de códigos e convenções conhecidas e familiares – o estrangeiro é figura de contornos difusos e seu idioma é destituído do domínio da linguagem comum e compartilhada, das convenções e das regras de convívio. Como Moisés, o estrangeiro deve desenhar mapas contínuos e traçar linhas de fuga pelo desejo convocado incessantemente em lugar desconhecido. A pesquisa dividiu-se em três camadas: a dimensão espaço-temporal do estrangeiro, em uma sobreposição entre o cenário bíblico e o da República de Weimar; a linguagem do estrangeiro; e as ressonâncias atuais dos aspectos formais ligados ao estrangeiro. O espaço sem fronteiras do deserto na paisagem do Êxodo156, percorrida por Moisés, bem como a aposta de libertação do líder judaico e de seu povo retiram qualquer apoio identitário ou normativo de sustentação para seguir os caminhos de realização do desejo. O conceito de limiar, tal como compreendido por Walter Benjamin, deixa de ser uma linha fronteiriça que divide duas áreas identitárias para ganhar sua espessura e densidade na própria indeterminação; o limiar é lugar do estrangeiro. A temporalidade também não obedece a uma lógica convencional linear e nem mesmo à lógica do trauma (Nachträglichkeit) – a expressão da temporalidade pode ser vislumbrada pela própria escritura do Pentateuco: sobreposição em várias camadas de tempos distintos e anacrônicos que se coadunam para compor uma história composta por reverberações e ressonâncias. O cenário no qual se depositam os aspectos formais ligados à categoria de estrangeiro é a República de Weimar. O sugestivo título Weimar Culture: The Outsider as Insider, dado por Freud, S. “Moisés e o monoteísmo”. In: Obras Completas, v. 19. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Lacan, J. (1961-1962). O Seminário, Livro 9: a identificação. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife, 2003. 156 “Êxodo”. In: Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus Editora, 1981. 154 155 30 Peter Gay157 ao seu livro sobre a época, ilustra bem os caminhos pelos quais se aborda o período pré-nazista. Com uma pletora vanguardista em várias áreas da cultura, Weimar era um local propício para experimentações ousadas. A reação que representou a ascensão de Hitler significava, entre outras coisas, recuperar modelos identitários fixos (o ideal ariano, o nacionalismo, os valores da tradição classicista greco-romana ocidental etc.) A segunda camada da pesquisa, que se debruçou sobre a linguagem do estrangeiro, pressupunha que é no entre idiomas que nasce o idioma do estrangeiro, assim como o limiar espacial é o seu lugar. Moisés, como profeta bíblico que é “pesado de boca” (Êxodo), arrastase no entre as línguas divina e do povo. A teoria da tradução de Walter Benjamin e a linguagem do inconsciente – que exige constantes procedimentos de tradução – tornam-se métodos para abordar tal gênero de linguagem. Por fim, os processos de migração em massa, a ascensão da extrema-direita no globo, as novas formas de racismo, as construções de muros ao redor de países, o nacionalismo, a valorização de identidades fixas colocam a categoria do estrangeiro no centro dos estudos contemporâneos. A estratégia para abordar todos esses tópicos e camadas foi semelhante à utilizada na pesquisa de doutorado. Por meio de peças artísticas específicas e de uma reconstrução da atmosfera estudada, tenta-se extrair os aspectos formais da cultura em consonância com os processos psíquicos, epistêmicos, sociais e políticos que os engendram. Uma particularidade é que a própria confecção de Moisés e o monoteísmo158 entra em tal análise, pois supõe-se que o estilo da escrita adotado ali por Freud coloca questões para toda o arcabouço teórico da Psicanálise. Com o avanço da investigação, considerei necessário realizar uma pesquisa na biblioteca de Freud, situada em Londres, o que me permitiria observar de perto como seu Moisés foi tecido – a partir da pesquisa das obras que ele mesmo lia na época e de uma aproximação mais fina daquilo que ele estava pensando na ocasião. A hipótese é que, diante do horror nazista, presente no momento da redação deste trabalho (entre 1934 e 1938), Freud inaugura uma categoria que estremece a cultura vigente na época e, ao mesmo tempo, faz uso de uma outra forma coerente com o polêmico conteúdo em torno da figura de seu Moisés egípcio. Essa parte do projeto pôde ser parcialmente realizada sob a orientação do prof. dr. Stephen Frosh, da Birkbeck, University of London. Algumas dessas questões foram tratadas em apresentações feitas em congressos e colóquios e publicadas em alguns artigos: IX SOFIA – Semana de Orientação Filosófica e Acadêmica da UNIFESP; “O estrangeiro no teatro: uma pesquisa de linguagens”, na São Paulo Escola de Teatro do Governo do Estado de São Paulo; “Categorias estéticas na obra freudiana”, na Universidade Federal de Lavras; “O discurso dilacerado e o corpo da palavra”, no VII Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise na Universidade Federal do Piauí; “O nome de Moisés: uma torção na ordem do destino”, na Benjaminiana 2017: encontro de pesquisadores de Walter Benjamin (UFRJ), dentre outras exposições. Grande parte deste material foi ou será publicada em breve em revistas especializadas. 7.2 Freud como estrangeiro: a experiência do exílio e a ontologia do não lugar 157 158 Gay, P. Weimar Culture: The Outsider as Insider. New York/London: W. W. Norton & Company, 2001. Freud, S. “Moisés e o monoteísmo”. In: Obras Completas, v. 19. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 31 [...] a pátria será quando todos seremos estrangeiros. Poeta anônimo citado por Giorgio Agamben Como disse, com o auxílio FAPESP, parti determinada a me dedicar à biblioteca de Freud. Acabei tragada pela diversidade. Londres foi uma experiência de múltiplas dimensões. Se não as limitei foi porque elas me devolviam às amplas camadas ligadas ao próprio caráter monumental do Moisés de Freud, previstas no meu projeto original. Os primeiros passos em Londres levaram-me na direção das escrituras sagradas, que formam o pano de fundo de O homem Moisés e a religião monoteísta. Segui as aulas virtuais do crítico literário canadense Northrop Frye159, acompanhada de comentários do Pentateuco. O foco foi o Êxodo. Com ele era possível perceber uma territorialidade destituída de fronteiras – o deserto – e uma temporalidade que contradizia a chave convencional pela qual se entende a Nachträglichkeit – uma teoria que implica a dialética entre dois tempos do trauma. O Moisés de Freud introduz múltiplas camadas sobrepostas de espaço-tempo que, de certa maneira, estremecem essa lógica dialética. Fui à biblioteca de Freud para diversas consultas de obras e formei um extenso catálogo de seus livros relacionados ao Moisés. No interior dos estudos dedicados ao Moisés de Freud, essas simples visitas para catalogação já permitiram que uma ideia extremamente potente se esboçasse: ao contrário do que imaginava Edward Saïd em Freud e os não europeus160, a atenção de Freud para o Oriente não era pontual, mas exaustivamente cultivada. Saïd considera tardia a disposição de Freud pelo Oriente; o psicanalista teria acordado para a questão oriental e colonialista apenas com a ascensão nazista – sabe-se que na época de Freud havia uma espécie de fetiche pelo Oriente, especialmente pelo Egito. Entretanto, o que se observa de suas leituras e de suas coleções é um interesse genuíno e um envolvimento intenso, longe do apreço diletante e descompromissado; ele estava profundamente conectado aos resultados mais recentes de investigações etnográficas, artísticas e teóricas relacionadas ao Oriente, um tópico que suscita diversas implicações teóricas que não caberia desenvolver aqui. Nessas idas à biblioteca de Freud, pesquisei especialmente sua coleção da revista Die 161 Antike , editada por Werner Jaeger. Descobri como essas facetas arquetípicas das estruturas epistêmicas, culturais, sociais e políticas da Antiguidade são parcialmente impregnadas de algumas ideologias que nasceram no século XIX e se estendem até os dias atuais. Jaeger, o famoso helenista que escreveu Paideia162, resgatava elementos clássicos greco-romanos, recusando qualquer ligação da República de Weimar com raízes orientais, tidas por ele como inferiores e exóticas. Essa escolha purista refletiu-se, depois, em sua posição política, bastante alinhada ao nazismo, como prova a tese do pesquisador do Departamento de História da Frye, N. Aulas Universidade de Toronto, In: https://www.youtube.com/watch?v=lbTIAto5PrQ. Saïd, E. W. Freud e os não-europeus. São Paulo: Boitempo, 2004. 161 Jaeger, W. (1928). Platos Stellung im Aufbau der griechischen Bildung. Die Antike: Zeitschrift für Kunst und Kultur des Klassischen Altertums, v. 4, 1-13. Jaeger, W. (1929). Die geistige Gegenwart der Antike. Die Antike: Zeitschrift für Kunst und Kultur des Klassischen Altertums, v. 5, 167-186. 162 Jaeger, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013. 159 160 32 USP, Bruno Hübscher (2017)163. Ante a ameaça ariana, Freud, ao contrário de Jaeger, escava a tradição em outra direção e compromete-se com raízes que rompiam com qualquer caráter puro – o Ocidente fundado em bases judaico-cristãs mescla-se à África, já que a religião judaica nasce pela força de um egípcio. Tais pesquisas reverberam em estudos póscolonialistas ou descoloniais com os quais pude ter contato através do prof. Lewis Gordon, que deu aulas na Summer School da Birkbeck, University of London. O rico curso de Teoria Crítica da Summer School alimentou ainda mais alguns aspectos das minhas pesquisas. Um artigo de divulgação sobre os primeiros resultados dessa pesquisa sobre documentos de Freud foi publicado pela revista Cult com o título “Fascismo ontem e hoje: o Moisés de Freud e Werner Jaeger”164, e duas versões diferentes mais detalhadas saíram pela Revista Brasileira de Psicanálise da SBPSP e pelo Journal of Psychosocial Studies (2023). Novas pesquisas nesse mesmo sentido serão futuramente desenvolvidas com o material recolhido da biblioteca – trata-se de um projeto que não se esgota com o término do pós-doutorado. Depois de ter publicado, o artigo “Freud com Kafka: a linguagem do estrangeiro”165 na revista Cadernos Benjaminianos da UFMG, uma questão formulada pelo colega Bruno Magalhães, do grupo de orientação da USP, me perseguiu insistentemente. No final de meu artigo, mencionava o erro de Freud, na parte III de seu Moisés, ao diferenciar matriarcado de patriarcado, associando este último ao progresso na civilização, à maior capacidade intelectual, à sublimação e ao monoteísmo, ao passo que àquele se ligariam os instintos agressivos e sexuais, a corporeidade e a sensorialidade, formas inferiores de organização subjetiva e social. Com leituras de feministas como Silvia Federici166, Maria Mies167 e Seyla Benhabib168, e de marxistas como David Harvey169 e Nicos Poulantzas170, pude traçar contornos mais precisos de uma crítica a Freud, resgatando a análise marxista sobre o caráter ideológico da divisão entre trabalho manual/ corporal e trabalho intelectual. A ideia marxista de acumulação primitiva como acumulação perpétua por despossessão aparece como uma parte importante nos estudos feministas. Com essas leituras e rastreando as origens da divisão sexual do trabalho no início do monoteísmo e na Bíblia, foi possível traçar uma crítica contemporânea ao viés pelo qual Freud aborda o problema naquele trecho de sua obra. Mas voltando à questão formulada pelo pesquisador Bruno Magalhães: “como pensar”, questionava, “uma estrutura simbólica que não seja orientada pelo lugar vazio da Lei?”. Em Moisés, tal lugar é o de YHWH. Sem saber como responder, a pergunta 163 Hübscher, B. Werner Jaeger e o 'Terceiro Humanismo': o ideal político antigo na Alemanha, 1919-1936. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. 164 Martins, A. A. “Fascismo ontem e hoje: o Moisés de Freud e Werner Jaeger.” Revista Cult, In: https://revistacult.uol.com.br/home/o-moises-de-freud-e-werner-jaeg er/ 165 Parente, A. A. M. “Freud com Kafka: a linguagem do estrangeiro.” Cadernos Benjaminianos, v. 13, p. 315336, 2017. 166 Federici, S. Calibã e a Bruxa: Mulheres, Corpos e Acumulação Primitiva. São Paulo: Elefante, 2017. 167 Mies, M. Patriarchy and Accumulation on a World Scale: Women in the International Division of Labour. London: Zed Books, 2014. 168 Benhabib, S. “Feminismo e pós-modernismo: uma aliança complicada.”; “Subjetividade, historiografia e política: reflexões sobre o ‘debate feminismo/pós-modernismo’.” In: Debates feministas - Um intercâmbio filosófico. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018. 169 Harvey, D. Novo Imperialismo. São Paulo, Loyola, 2005. 170 Poulanskas, N. As classes sociais no capitalismo de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. 33 apresentou uma série de problemas subsequentes a serem tratados. Todos giravam em torno do Nome-do-Pai e do problema do lugar da mulher na história da Filosofia e da Psicanálise. Tive a oportunidade de assistir a diversos debates na Birkbeck, University of London, com reconhecidas feministas da Psicanálise e da Filosofia e outros pensadores que estavam às voltas com o tema do feminismo por lá (Jacqueline Rose, Judith Butler, Slavoj Žižek, Silvia Federici, Jean-Claude Milner e Laura Mulvey). Munida de novo repertório, não pude deixar de voltar à parte III do Moisés. Dessas pesquisas resultou “Freud como grão-burguês e o patriarcado na Psicanálise”171, pela revista Peixe-elétrico. Observar a visão patriarcal nos interstícios da escrita freudiana, sobretudo nessa parte III de seu Móises, rendeu muitas reflexões importantes ampliadas com a coletânea “Freud e o patriarcado: leituras para os nossos tempos” (Hedra, 2020)172, organizada por mim e Léa Silveira. Mas isso não bastava. Deveras capciosa, a questão sobre o lugar simbólico na Psicanálise ainda precisava de respostas refinadas. “Materialist Mutations of the Bilderverbot”, de Rebecca Comay, traduzido por mim em Londres e publicado nos Cadernos Benjaminianos da UFMG173, foi uma nova luz. Trata-se de uma fonte essencial, junto com “The Nonexistent Seminar”, de Jacques Alain Miller174. Comay recupera a ópera de Arnold Schoenberg, Moses und Aron175, e a reatualiza no interior da disputa entre Walter Benjamin e Theodor Adorno acerca da imagem dialética. Aqui delimita-se a questão de maneira precisa: o lugar da Lei – o vazio que se apresenta após a morte do pai – deixa rastros histórico-materiais e corpóreos da figura que ocupava o poder? Se a resposta para essa questão é sim, então, ao contrário do que o próprio Freud diz, Moisés e o monoteísmo176 não seria uma maneira de recuperar elementos já tratados de maneira equivalente em Totem e tabu177. Pelo contrário: haveria em seu Moisés uma alternativa extremamente potente e revolucionária capaz de substituir a perspectiva patriarcal hobbesiana de Totem e tabu. Isto é, o fato de Moisés ser um líder que aposta no desejo emancipatório de seu povo, bem como sua corporeidade na batalha com os israelitas, não pode ser equiparado a um modelo pervertido de soberania de poder (ou seja, tirânico) de um pai que pensava apenas em seu próprio Gozo. Tais questões complexas foram publicadas ou apresentadas em alguns eventos, como o 11th Meeting da SIPP – International Society of Psychoanalysis and Philosophy, em Estocolmo, sob o título “The Body of Absence in Schoenberg’s Moses and Aaron: A Freudian Reading”. * Enquanto pesquisava documentos e livros da biblioteca de Freud, também frequentei o curso Psychoanalysis and Culture, ministrado pelo prof. Stephen Frosh. Muitos pontos Parente, A. A. M. “Freud como grão-burguês e o patriarcado na psicanálise”. In: Tiago Ferro, Ricardo Lísias e Mika Matsuzake. (Org.). Revista Peixe-elétrico. São Paulo: E-galáxia, v. 9, p. 1-203, 2019. 172 Parente, A. A. M.; Silveira, L. Freud e o patriarcado. São Paulo: Hedra/FAPESP, 2020. 173 Comay, R. “Mutações materialistas da Bilderverbot”. Trad. Alessandra Affortunati Martins. Cadernos Benjaminianos, v. 15, n. 1, p. 281-322, 2019. 174 Miller, J.-A. “The Non-Existent Seminar”. The Symptom. In: https://www.lacan.com/symptom12/thenon.html. 175 Schoenberg, A. Moses und Aron: opera in three acts. Belmont Music Publishers, 1957. 176 Freud, S. “Moisés e o monoteísmo.” In: Obras Completas, v. 19. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 177 Freud, S. “Totem e tabu.” In: Obras Completas, v. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 171 34 ligavam-se aos temas do meu projeto. Participei das reuniões de orientação de pesquisas do grupo supervisionado pelo professor Frosh, onde, além do debate de ideias dos projetos, abordavam-se os diferentes modelos estilísticos de escrita na academia e métodos de produção intelectual. Tais discussões influenciaram decisivamente minhas leituras e meus escritos durante todo o período em Londres. Além dos eventos na própria Birkberck, fui a palestras, conferências e debates relacionados à minha pesquisa em outros locais, como Home, Belonging and Language, no King’s College, ou Psychoanalysis and Exile – 1938-2018, no Museu de Freud. A oferta da cidade é imensa. Apresentei diversos trabalhos em congressos, todos eles na Birkbeck, University of London: “The Threshold Between Uncanny and Foreigner”, na International Conference The Uncanny in Language, Culture and Literature; “Freud and Walter Benjamin: Times of Memory, Times of History”, na Spatiality and Temporality International Conference: Time, Space and Self; “Gesture and Performance as Inauguration of History and Social Life”, na Play, Masks and Make Believe: Exploring Boundaries of Fictional Contexts, e finalmente “Translation as a Feminine Language”, na Psychosocial Boundaries: Interrogating Gender Through Myth. 8. De volta ao Brasil: os rumos de uma carreira profissional Lá onde o pensamento se projeta para além daquilo a que, resistindo, ele está ligado, acha-se a sua liberdade. Essa segue o ímpeto expressivo do sujeito. A necessidade de dar voz ao sofrimento é condição de toda verdade. Pois sofrimento é objetividade que pesa sobre o sujeito; aquilo que ele experimenta como seu elemento mais subjetivo, sua expressão, é objetivamente mediado. Theodor Adorno A leitora ou o leitor, cujos olhos acompanharam as linhas deste memorial, notará agora uma brusca mudança de ritmo. Até aqui, ela ou ele – você – percorreu um vagaroso entrelaçar de temas e áreas. Uma vez que as diferentes esferas de interesses e estudos em jogo desenharam uma trança inarredável, o esforço de exposição deixa de ser a demorada tessitura dos fios aparentemente dispersos para tornar-se o de mostrar a solidificação de um lugar pela produção mais sistemática de trabalhos intelectuais e clínicos. Ou seja, o compasso do texto segue, em certa medida, a temporalidade da vida profissional. Seja como for, viu-se que pesquisa, ensino e clínica amarraram minha carreira na medida dos desejos, das necessidades materiais e das possibilidades encontradas pelo caminho. É importante notar que nela o desejo sempre esteve mais inclinado à atividade intelectual. Tanto assim que, mesmo em períodos nos quais essa atividade não provia o retorno financeiro necessário para o sustento de minha vida e de meus filhos, encontrava meios de não parar minha escrita, minhas investigações teóricas e filosóficas e as aulas em cursos livres e de extensão. Somado ao período de consolidação dos diferentes ramos de pesquisas, houve o fato de que, de volta da Inglaterra, tive apenas mais dois meses de bolsa FAPESP, minha clínica estava desértica e, no âmbito pessoal, vivi um divórcio complicado. Precisei urgentemente 35 fazer dinheiro para sobreviver. O consultório tornou-se a possibilidade de retomar o chão. Aos poucos ele foi se recompondo, mas tive que retomar alguns trabalhos partindo quase do zero e com pouco respaldo material. Em razão de certo desespero vital, adotei um ritmo frenético e, nessa linha suscetível na qual me encontrava, tracei alguns planos que pudessem garantir meu lugar como intelectual e psicanalista clínica: 1) Depois de pensar no Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas (GEPEF), esforcei-me por dar consistência ao projeto, assumindo a sua coordenação por quatro anos (2018-2021). Ali desempenhei as seguintes atividades: a) Organizei com algumas parcerias dois eventos (As Intelectuais Brasileiras como Autoras de Referência (orgs: Alessandra Affortunati Martins, Léa Silveira e Aline Souza Martins) e Limiares: Desafios Contemporâneos da Psicanálise (orgs: Alessandra Affortunati Martins, Léa Silveira e Érico Andrade (UFPE; UFLA, GEPEF, Cátedra Edward Saïd (UNIFESP)); b) Coordenação do Grupo de estudos sobre Identificação e depois idealização do Lab de Identificações do GEPEF no qual lemos autores e autoras que se inserem na esfera de debates interseccionais (classe, raça e gênero). c) Elaboração do site do Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas; d) Organização de uma rodada de publicações originais de textos das membras no site do GEPEF; e) Coordenação das reuniões quinzenais administrativas e das reuniões de debates sobre textos produzidos tanto pelas membras do grupo como por autoras feministas que queríamos pesquisar. 2) Retomei minha participação no LATESFIP (iniciada em 2016) no GT Esquizoanálise, coordenado por Larissa Drigo Agostinho. Desliguei-me do Laboratório em 2019; 3) Ingressei como pesquisadora na Cátedra Edward Saïd na UNIFESP e como pósdoutoranda em Filosofia (UNIFESP) sob supervisão da Prof. Olgária Matos; 4) A partir do texto “‘Apesar de’: o valor do trabalho intelectual e artístico na era do coronavírus”178, recebi o convite de Daysi Bregantini para assinar uma coluna mensal no site da Revista CULT; 5) Eu, Aline Souza Martins e Larissa Drigo Agostinho (depois substituída por João Paulo Ayub da Fonseca) coordenamos “Quarentena com Lacan” e “Lacanibalizar” (uma série extensa de encontros dedicados às lições dos seminários 1, 2, 3 e 4 de Jacques Lacan, lidas à luz das teorias interseccionais de classe, raça e gênero. 6) Elaborei uma série de aulas livres e avulsas sobre Psicanálise e Estética. Nelas abordei sobretudo os debates sobre Expressionismo alemão das décadas de 1920-30, na Alemanha. Com isso, visava me familiarizar com as discussões sobre Estética que tinham como horizonte formas de resistência ao fascismo europeu; 7) Observando uma exigência de internacionalização do pesquisador e almejando Martins, A. A. “’Apesar de’: o valor do trabalho intelectual e artístico na era do coronavírus”. In: https://revistacult.uol.com.br/home/intelectuais-e-artistas-coronavirus/ 178 36 ampliar trocas em minha área, em 2022 tornei-me membra da SIPP (International Society of Psychoanalysis and Philosophy) e irei em setembro para o encontro “Limits, Frontiers, Rims and Borders” em Chipre. 8) Apresentei diversos trabalhos em vários Eventos e Congressos Nacionais e Internacionais (Cf. Curriculum Vitae) 9) Retomei a coordenação do Projeto Causdequê? (detalhes mais adiante); 10) Publiquei alguns artigos acadêmicos (Cf. Curriculum Vitae); 11) Publiquei o livro O Sensível e a Abstração: Três ensaios sobre o Moisés de Freud (Coleção Peixe-elétrico-E-galáxia); 12) Redigi o livro Breve história da carne (Editora Iluminuras – no prelo); 13) Idealizei o Dossiê Walter Benjamin e a República de Weimar na Revista Limiar (UNIFESP)179 que organizei com Francisco Pinheiro Machado, Francisco Camelo e Leonardo Alves de Lima; 14) Ministrei 7 cursos: O estrangeiro em Freud e Walter Benjamin (2 vezes no Espaço CULT e 1 vez em versão estendida como curso de extensão no Departamento de Filosofia da UNIFESP); Introdução ao Pensamento de Walter Benjamin (Espaço CULT); Judith Butler e seus duplos (Espaço CULT); Relações amorosas e seus contratempos (Casa do Saber); 15) Ministrei aulas em cursos de pós-graduação; (Cf. Curriculum Vitae) 16) Fui membra de bancas de doutorado e mestrado. Sobre esse conjunto de atividades, gostaria de traçar apenas alguns detalhamentos a fim de circunscrever meus interesses de pesquisas mais recentes e de como eles relacionar-se-iam com o cargo que almejo a partir deste concurso. 8.1. Sobre minha pesquisa atual, que se divide em duas esferas: 1) Moisés de Freud Minhas investigações na Cátedra Edward Saïd, ainda em curso, pretendem avaliar uma extensa literatura filosófica e psicanalítica com o objetivo de repensar, à luz de estudos póscolonialistas e/ou descoloniais, alguns eixos de sustentação dessas duas áreas de estudos que têm se mostrado insuficientes quanto aos princípios emancipatórios que, supõe-se, deveriam orientá-las nas sociedades contemporâneas. Na intersecção entre Filosofia e Psicanálise, o marco da discussão pós-colonial e/ou descolonial se deu com análises de Frantz Fanon180 e, no Brasil, com elaborações teóricas de Lélia Gonzalez181 e outros(as) que os seguiram. Entretanto, é possível identificar, já no próprio Freud, um feixe extremamente potente de ideias em torno do qual se concentra uma série de camadas a serem desdobradas a partir de leituras pós-colonialistas e/ou descoloniais da Psicanálise e da Filosofia: essas ideias se 179 Martins, A. A.; Machado, F. P.; Camêlo, F.; Lima, L. A. “Walter Benjamin e a República de Weimar”. Revista Limiar, v. 9 n. 17, p. 1-8, 2022. 180 Fanon, F. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu Editora, 2020. 181 Gonzales, L. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. Revista Ciências Sociais Hoje, São Paulo, p. 233-244, 1987. 37 localizam na caracterização de seu Moisés, tal como apresentada em Moisés e o monoteísmo182. Em 2003 foi publicado Freud e os não-europeus183, debate entre Edward Saïd, Jacqueline Rose e Christopher Bollas sobre o Moisés de Freud. Ali, Saïd mostrava haver um rasgo no seio da Psicanálise freudiana que permitiria estudos anticolonialistas a partir de uma releitura de Freud e, por extensão, da Psicanálise de viés ocidental-europeu como um todo. Na pesquisa de pós-doutorado, sob a supervisão de Vladimir Safatle e Stephen Frosh, busquei realizar parcialmente esse esforço, mas dediquei-me sobretudo à parte europeia que impregna o texto freudiano sobre Moisés, situando-a na República de Weimar. Em função das numerosas camadas que precisavam ser exploradas e esmiuçadas, a pesquisa atual se propõe a avançar nesses estudos, agora dedicando-os à parte que reverbera da Antiguidade Oriental até os nossos dias (não esquecendo as implicações de Freud ter registrado seu Moisés como um egípcio). A escolha institucional para a realização da pesquisa teve um papel importante: a Cátedra Edward Saïd (UNIFESP) reúne vários estudiosos e colaboradores especialistas no assunto pós-colonialista, anticolonial e descolonial a ser explorado e, sob a supervisão da prof. Olgária Matos, meu recorte ainda herda as linhas benjaminianas que me formaram. Além de desempenhar seu ofício clínico, o psicanalista cumpre a função de epistemólogo de memórias e afetos, enredados aos diferentes eventos que formam a história das civilizações. Hegel concebeu a história como o desdobrar do Espírito no tempo, estabelecendo uma aliança inextrincável entre universalidade e particularidade. Com isso, inaugura-se a exigência de incorporar uma dimensão concreta da temporalidade na cadeia do pensamento; todavia, essa dimensão histórica só pode ganhar seu verdadeiro peso na passagem do idealismo alemão para o método materialista-histórico-dialético. Tal método toma as relações materiais, de caráter econômico, bem como conflitos entre classes sociais, como fatores dinâmicos de transformações de forças político-sociais e produtivas. Trata-se de uma inversão: não são as ideias a formarem o campo social, mas as bases concretas de produção e de conflitos de interesses entre classes a erguerem uma superestrutura. À materialidade econômica – estruturas de produção e sua organização social – e às superestruturas sociais seria possível acrescer outra camada de equiparável peso na composição do caráter material determinante da configuração estrutural da sociedade: vibrações afetivas, que, como mostrou Freud, impregnam inclusive palavras e ideias – representações. Há um paralelo entre afetos que se desdobram nas relações humanas palpáveis e marcam a vida anímica e o trabalho que são o solo das diferentes superestruturas sociais. Esta pesquisa fixa-se no campo freudo-marxista, tomando como referência vários autores que herdaram essa interconexão como eixo de suas investigações. Com a tarefa de pensar dinâmicas político-sociais e afetivas historicamente moldadas, trata-se de estabelecer leituras espaço-temporais (históricas, epistêmicas, geopolíticas e culturais) para delas extrair modulações estruturais de poder que têm em seu subsolo traumas, opressões, discriminações, explorações do trabalho e do corpo. Tais modulações se sustentam sobre ideologias e valores que precisam ser analisados. Aqui, especificamente, os eixos centrais de análise são processos de colonização da América e da África pelos países europeus e os impactos desses eventos 182 183 Freud, S. “Moisés e o monoteísmo”. In: Obras Completas, v. 19. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Saïd, E. W. Freud e os não-europeus. São Paulo: Boitempo, 2004. 38 nas elaborações teóricas da Psicanálise e da Filosofia em diferentes edifícios de pensamento constituídos na Europa moderna e contemporânea. 2) Carne Outra parcela das questões, que se articularam a partir de meus estudos sobre o Moisés de Freud, está situada na parte III do ensaio freudiano. Alguns elementos importantes para a sua leitura saíram de “Mutações materialistas da Bilderverbot”, de Rebecca Comay184. Entre outros componentes desse belíssimo artigo, há a cena bíblica da idolatria e da Lei transgredida no ato de confecção do Bezerro de Ouro (cena dramatizada e adensada, como mencionei anteriormente, na ópera Moses und Aron, de Schoenberg). O debate em torno do estatuto da imagem que ocupou Walter Benjamin e Theodor Adorno é resgatado pela filósofa canadense, que reatualiza questões intrincadas sobre a negatividade e a materialidade. Evidentemente seria impossível saltar ingenuamente do campo categórico para atingir um fora da linguagem, tocando a coisa-em-si. Tal como estabeleceu Immanuel Kant em sua Crítica185, há um impossível de ser tocado fora do campo categorial ou conceitual da linguagem. Seja como for, as diferentes formas como se delineiam a materialidade na história do pensamento estão longe de terem sido esgotadas. Em meus recortes de pesquisa sobre os contrapontos matéria-abstração, corpo-palavra, carne-espírito encontrei frequentemente uma hierarquia difícil de ser diluída. Na tradição ocidental filosófica, observa-se mais comumente uma ênfase na abstração que quase sufoca a vibração circunstancial que emerge no seio de léxicos e sintaxes gramaticais. De outro lado, filósofos que buscaram questionar essa tendência à abstração quase demoliam edifícios inteiros da tradição do pensamento ao inverter a hierarquia e realçar o polo antes soterrado. Em diversos artigos, tenho buscado manter o lugar de tensão entre materialidade e negatividade, sem recair em algum dos dois polos antitéticos, ou tenho procedido de maneira ainda mais radical ao buscar dissolver essa antítese que amiúde se mostra pouco consistente ou mesmo ideológica. Com efeito, meus estudos na esfera feminista tentam trabalhar a tradição filosófica em seus meandros a partir desse recorte exposto. Alguns artigos e dois livros (O sensível e a abstração: três ensaios sobre o Moisés de Freud186 e Breve história da carne (no prelo)187 inserem-se no escopo desse recorte epistêmico. 8.2. O trabalho na CASA do Adolescente (CSI-SUS) Embora aparentemente escapem dos interesses mais diretos, ligados ao cargo que agora se apresenta no Departamento de Filosofia, considero que certas experiências sejam amplamente favoráveis ao exercício da docência e da pesquisa em vários níveis: a escuta Comay, R. “Mutações materialistas da Bilderverbot”. Trad. Alessandra Affortunati Martins. Cadernos Benjaminianos, v. 15, n. 1, p. 281-322, 2019. 185 Kant, I. Crítica da razão pura. Petrópolis: Editora Vozes, 2015. 186 Martins, A. A. O sensível e a abstração: três ensaios sobre o Moisés de Freud. São Paulo: e-galáxia, 2020. 187 Martins, A. A. Breve história da carne. São Paulo: Editora Iluminuras, 2023. No prelo. 184 39 clínica de desejos e dores psíquicas adensa conceitos filosóficos, desafia e exige mais precisão dos contornos abstratos, embaralha a articulação do universal pela singularidade e pelo que emerge de modo circunstancial ou sintomático. Além disso, como uma das idealizadoras desse projeto, pude pensar dispositivos de intervenção e articular toda uma estrutura complexa de trabalho que, imagino, tenha me concedido capacidade de conceber estruturas e projetos em outros lugares. Daí meu interesse em expor agora o Projeto Causdequê? que idealizei com a psicanalista Fabiana Takiuti. Em 2016, eu e Fabiana integramos uma equipe de profissionais da saúde que tinha uma verba para um projeto teatral na CASA do Adolescente (SUS). Ali, a questão do estremecimento de identidades fixas, por meio da experiência de estranhamento, também se mostrou relevante. O trabalho com adolescentes consistia, no início, em rodas de conversas e identificação de conflitos vividos pelos integrantes do grupo em suas experiências de vida. Os conflitos transformavam-se nos jogos teatrais, inspirados nas técnicas de Augusto Boal (Teatro do Oprimido). As dinâmicas teatrais eram orientadas por um psicólogo formado nessa área (Raul Araújo), enquanto eu e Fabiana identificávamos os conflitos mais importantes pela escuta dos casos. Conforme a sua gravidade, alguns adolescentes recebiam atendimento individual de uma das duas integrantes da equipe. No segundo semestre de 2016, o atendimento de casos especificamente ligados a questões de classe, raça e gênero passou a nortear o trabalho. Eu e Fabiana criamos o Projeto Causdequê? a partir da escuta de angústias e desejos dos jovens que frequentavam a CASA do Adolescente para além do projeto teatral. Partindo do caos discursivo, próprio ao caráter híbrido de afetos resistentes às convenções e normas sociais, moldamos um conjunto de dispositivos clínicos de orientação psicanalítica, que passaram a fazer parte do Centro de Saúde Pinheiros, integrado, por sua vez, ao Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. As questões de base eram: quais objetos causam propriamente o desejo desses adolescentes, cujas origens apresentavam problemas extremamente difíceis e cujas escolhas sexuais eram ousadas, corajosas e, ao mesmo tempo, difíceis, sofridas? Escutamos construções de histórias, movimentos singulares, lutas, amores e angústias. Dos significantes caos, causa e “causos” emergiu o nome do projeto; sob forma de pergunta, ele indicava um trabalho em permanente construção, que se configurava de acordo com as demandas que emergiam de desejos, angústias e dores psíquicas dos adolescentes atendidos. O projeto funcionou em caráter laboratorial até o final do primeiro semestre de 2017. Uma vez estabelecidos os dispositivos que funcionavam, o Projeto Causdequê? foi implementado como parte da CASA do Adolescente. Dos vários modelos de atendimento testados, adotamos os seguintes procedimentos: 1- Atendimentos psicanalíticos em grupo realizados quinzenalmente, voltados especificamente aos adolescentes LGBTQIAP+; 2- Encontros quinzenais (intercalados com o atendimento grupal) entre profissionais da saúde, adolescentes LGBTQIAP+, convidados dos adolescentes e seus pais; 3- Atendimento individual voltado aos casos mais graves; 4- Núcleo de formação – a equipe tem se dedicado aos estudos de gênero, às questões relativas à comunidade LGBTQIAP+, questões de classe e de raça, além de estudos sobre a saúde coletiva; 40 5- Programa de estágio com convenio com a PUC-SP no qual oferecemos supervisão e formação; O estudo voltado à saúde coletiva teve como fonte autores brasileiros da Psicanálise com larga experiência na área: Luciano Elia, Sonia Alberti, Antonio Lancetti, Regina Benevides, Eduardo Passos, entre outros. Tais estudos permitiram adquirir uma visão mais precisa sobre os lugares da saúde pública nas decisões políticas dos diferentes governos no Brasil. A partir de conversas com a psicanalista Cleusa Pavan, que foi coordenadora da Política Nacional de Humanização do Estado de São Paulo, publicamos a quatro mãos “HumanizaSUS e a escuta do indeterminado” na revista Percurso, do Instituto Sedes Sapientiae. Outra publicação a quatro mãos (Fabiana Takiuti e eu) saiu pela revista Analytica, da UFSJ, sob o título “Causdequê?: um espaço intermediário”188. Fabiana Takiuti e eu apresentamos o trabalho “Os lances de Helena: o caráter híbrido da identidade de gênero em atendimentos psicanalíticos na Casa do Adolescente” no I Colóquio Psicanálise, Gênero e Feminismos: Perspectivas no IP-USP, “Relatos de experiências na saúde integral do adolescente”, no 8th International Meeting of Child and Adolescent Health, e “Causdequê?: atendimento aos adolescentes LGBTQIAP+”, no VIII Seminário Internacional de Boas Práticas em Saúde do Adolescente nas Américas e no XV Congresso Brasileiro de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência. 8.3. Latesfip e a importância do caráter não-identitário da subjetividade Sendo tais questões identitárias extremamente relevantes para a reflexão da clínica e da cultura atuais, fazia-se necessário, ainda, olhar como esse modelo de subjetivação se acirra no presente pelos novos modelos de produção técnica e econômica – algo que Walter Benjamin realizou quando pensou sobre os efeitos do advento do cinema, da fotografia e do rádio na modernidade. As novas tecnologias e a cibernética são fatores de evidente favorecimento de modelos identitários, principalmente quando se pensa na cultura do algoritmo, capaz de captar repetições de escolhas e buscas e apreender identidades políticas, estéticas, profissionais etc. Adotada por empresas de grande impacto econômico e social na atualidade (Google, Facebook, Amazon etc.), a cultura do algoritmo incrementa novos núcleos de consumo e modelos de trabalho que favorecem o acúmulo de Capital desses oligopólios. Foi com esse problema em vista que em 2016 passei a integrar o Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP (Latesfip), cujo objetivo, na época, era compreender as relações entre neoliberalismo e formas subjetivas, político-sociais e culturais que se constituíam no interior dessa estrutura econômica. Integrei o subgrupo coordenado pelo prof. Nelson da Silva Jr., que observava diferentes camadas de subsunção formais e reais do psiquismo ao modelo neoliberal. Uma dessas camadas aparece na combinação entre cibernética e neoliberalismo. Observar, portanto, as implicações e consequências psíquicosociais da utilização da teoria da informação como potente máquina de fixação de identidades, capaz de acelerar o consumo e promover a precarização do trabalho, foi minha Parente, A.A.; Takiuti, F. D. “Causdequê? um espaço indeterminado”. Analytica: Revista de Psicanálise, v. 7, p. 72-83, 2018. 188 41 tarefa no grupo de pesquisa. O primeiro resultado desse estudo foi apresentado em 2017 na reunião pública do laboratório, realizada na FFLCH-USP. O texto “Cibernética e neoliberalismo: a crítica como mercadoria”189, que redigi para a ocasião, saiu pela N-1 Edições. De volta do período em Londres, em 2019 foi preciso me adequar aos grupos existentes. Então, o Latesfip dedicava-se à pesquisa “Clínicas da transformação” para tentar avançar da crítica, anteriormente traçada ao modelo neoliberal, a uma prática clínica transformadora. No interior dessa temática, integrei o subgrupo coordenado pela Larissa Drigo Agostinho, dedicado ao Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari190. Coube a mim delimitar com precisão a crítica que os autores faziam ao complexo de Édipo. Redigido para apresentação pública dos resultados de trabalho do laboratório, minha parte recebeu o título “Entre a multiplicidade e a dialética: da neurose de Theodor Adorno à Esquizoanálise de Deleuze e Guattari”. Sobre esse trabalho, publiquei o artigo “Sublimar é um ato de criação?”191 na coluna que assino no site da Revista CULT. Apresentei o trabalho internamente nas reuniões do laboratório, bem como no I Encontro Deleuze e Guattari: desejo e política, realizado no Departamento de Filosofia da USP e organizado pelo próprio grupo do Latesfip. 8.4. Grupo de Estudos Pesquisas e Escritas Feministas O GEPEF nasceu quando ainda estava em Londres. Observando detidamente o modo como as feministas se organizavam na vida pública e acadêmica do ambiente londrino que frequentei na Birkbeck, sugeri a algumas parceiras de trabalho que formássemos um grupo, no qual leríamos os textos umas das outras e produziríamos fortunas críticas de obras de intelectuais brasileiras. Imaginei que, uma vez unidas, nosso trabalho intelectual teria maior alcance, ganharia força e teria mais impacto nas reivindicações teóricas e práticas que considerávamos importantes. Eu e Léa Silveira já tínhamos iniciado uma troca intelectual intensa sobre Feminismo, Filosofia e Psicanálise, tanto no GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF, como em nossas leituras e publicações, que passaram a se articular explícita ou implicitamente. Com Aline Souza Martins dividia quase tudo o que descobria sobre Feminismo, Psicanálise e Filosofia em Londres e, entusiasmadas, queríamos trazer ao Brasil o que aprendíamos por lá. Inara Marin, pesquisadora de Teoria Crítica e Psicanálise do CEBRAP, pareceu uma boa parceira aos olhos de Léa Silveira. Vera Cotrim sabia Marx de cabo a rabo e estava estudando as reivindicações das mulheres durante a Revolução Russa. Nossos primeiros encontros foram animados. Passamos a ler tudo o que seria uma bibliografia elementar para aquelas que se pretendem feministas: Angela Davis192, Judith Martins, A. A. “Cibernética e neoliberalismo: a crítica como mercadoria”. N-1 Edições, 2022. Deleuze, G.; Guattari, F. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2010. 191 Martins, A. A. “Sublimar é um ato de criação?” Revista Cult, In: https://revistacult.uol.com.br/home/sublimar-e-um-ato-de-criacao/ 192 Davis, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. 189 190 42 Butler193, Jéssica Benjamin194, Donna Haraway195, Gloria Anzaldúa196, Rita Segatto,197, Paul B. Preciado198, Lélia González199, Audre Lorde200, Nancy Fraser201 etc. De lá para cá, muitas águas rolaram. Hoje, o GEPEF é uma rede de mulheres das áreas de Filosofia e Psicanálise que produz, discute e pesquisa textos articulados em torno do Feminismo. Há um esforço contínuo para que se mantenha um espaço democrático e seguro entre as membras do grupo, especialmente nas discussões que incluem críticas e discordâncias, esperadas e profícuas. Temos ainda como norte a consolidação e a difusão de nossa escrita autoral e o maior alcance de nossas reivindicações políticas e pensamentos feministas. O foco segue sendo a produção de fortunas críticas de autoras mulheres, mas diferentemente do que pensava de início, essas mulheres não são apenas as brasileiras. Dessa malha inicial também surgiram outros projetos específicos e atividades como cursos, seminários, traduções, entrevistas e aulas avulsas. O GEPEF segue tendo como objetivo principal a construção de um solo comum ao trabalho intelectual das mulheres, o que é algo ainda incipiente nos espaços de cultura e conhecimento no Brasil. Transformar nossa produção em um conjunto articulado com outras é ampliar o corpo dessa produção; disseminá-la em rede significa amplificar diferentes vozes. Também é alvo de nosso grupo criar tensões e convergências discursivas, de pensamentos e posições, algo ainda preponderante no círculo masculino da intelectualidade brasileira. Projetos em curso no GEPEF: 1) Abertura (Coordenado por Virgínia Ferreira da Costa): aulas avulsas para difusão introdutória do pensamento feminista na Psicanálise e na Filosofia; 2) Tertúlias (Coordenado por Lívia Santiago e Aline Souza Martins): curso sobre as principais pensadoras feministas 3) Lab Identificações: pesquisa sobre identificações nos campos de estudos interseccionais (classe, raça e gênero) 4) Ler, Escrever, Feministas (Coordenado por Jéssica Kellen Rodrigues e Graziela Marcheti): encontros abertos e mensais de discussão de textos feministas que ocupam os estudos das membras do grupo. Butler, J. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.; Butler, J. Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.; Butler, J. “Fundações contingentes: feminismo e a questão do ‘pós-modernismo’” e “Por uma leitura cuidadorsa” In: Debates feministas - Um intercâmbio filosófico. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018. 194 Benjamin, J. The Bonds of Love: Psychoanalysis, Feminism, and the Problem of Domination. New York: Pantheon Books, 1988. 195 Haraway, D.J. “Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo socialista no final do século XX”. In: Tadeu, T (org.) Antropologia ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. 196 Anzaldua, G. “Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000. 197 Segato, R. L. O édipo brasileiro: a dupla negação de gênero e raça. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006. (Série Antropologia). 198 Preciado, P. B. Testo Junkie: Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: N-1 edições, 2018. 199 Gonzales, L. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. Revista Ciências Sociais Hoje, São Paulo, p. 233-244, 1987. 200 Lorde, A. “Usos do erótico: O erótico como poder”. In: Irmã outsider. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019 201 Fraser, N. “Falsas antíteses: uma resposta a Seyla Benhabib e Judith Butler.”; “Pragmatismo, feminismo e a virada linguística.” In: Debates feministas - Um intercâmbio filosófico. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018. 193 43 Ainda que não tenha feito um caminho linear, integrar o corpo docente na área de Filosofia em uma universidade pública sempre foi um sonho. Por muito tempo, considereio distante, acima de minhas forças. Reunindo esses elementos dispersos, considero possuir agora um repertório sólido e consistente para assumir o lugar de Professora de Teoria das Ciências Humanas no Departamento de Filosofia da FFLCH-USP. 44 Curriculum Vitae 1. Identificação: Alessandra Affortunati Martins Nascimento: 03/10/1975 RG: 25.044.894-4 CPF: 283.054.998-80 Endereço: Rua Henrique Schaumann, 1180, apto 64, Pinheiros. São Paulo/SP – CEP: 05413-010 Telefone: (11) 966336852 E-mail: [email protected] Assinaturas: PARENTE, A. A. M. (até 2020) MARTINS, A. A. 45 2. Títulos Acadêmicos: 2011 – 2015. Doutorado em Psicologia Social - Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Doutorado com período sanduíche em Zentrum für Literatur- und Kulturforschung Berlin (Orientador: Sigrid Weigel). Título: Sublimação e Unheimliche: entre Freud e Walter Benjamin. Orientador: João Augusto Frayze-Pereira. 2001 – 2004. Mestrado em Psicologia Clínica (Conceito CAPES 4) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil. Título: Estudo Comparativo do Conceito de Transferência em Freud e Winnicott. Orientador: Prof. Dr. Zeljko Loparic. 2002 – 2007. Graduação em Filosofia. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. 1995 – 1999. Graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil. 3. Pós-doutorado: 2021. Pós-Doutorado. Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, Brasil. Título: O Moisés de Freud: Eixo de pesquisa individual e conjunta em torno de uma psicanálise e uma filosofia descoloniais e/ou pós-colonialistas. 2016 – 2019. Pós-Doutorado. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Título: O estrangeiro nas margens do eu: estudos sobre o Moisés e o monoteísmo de Freud. 2018 – 2018. Pós-Doutorado. Birkbeck, University of London, BBK, Inglaterra. Título: The foreigner in the fringes of the ego: Studies on Freud’s Moses and Monotheism. 4. Bolsas e Auxílios Recebidos: 2018 – 2018. FAPESP-BEPE. Pós-doutorado, Birkbeck, University of London, BBK, Inglaterra. 2016 – 2019. FAPESP. Pós-doutorado, Universidade de São Paulo, USP, Brasil. 2011 – 2015. CAPES. Bolsa de Doutorado Sanduíche, Universidade de São Paulo, USP, Brasil. 2001- 2004. CAPES. Bolsa de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC, Brasil. 2006 – Bolsa Fundação Carlos Chagas. Curso “Criatividade: Ação e Pensamento”, Instituto Tomie Ohtake, Brasil. 46 5. Formação complementar: 2018. Extensão universitária em Summer School. (Carga horária: 39h). Birkbeck, University of London, BBK, Inglaterra. 2015 – 2016. Formações Clínicas do Campo Lacaniano. Fórum de São Paulo, FCL/SP, Brasil. 2014. Seminário na Freie Universität sobre Ästhetische Theorie (Theodor Adorno) – coordenado pelo Prof. Dr. George Bertram. 2014. Seminário sobre a obra de Walter Benjamin. (Carga horária: 15h). Zentrum für Literatur- und Kulturforschung Berlin, ZfL, Alemanha. 2009 – 2010. Psicanálise. Instituto Sedes Sapientiae, SEDES, Brasil. (Interrompido) 2009 – 2010. Grupo de Arte e Psicanálise. (Carga horária: 154h). Grupo de Arte e Psicanálise do EBEP, EBEP, Brasil. 2004. Projeto Criatividade: Ação e Pensamento. (Carga horária: 48h). Instituto Tomie Ohtake, TOMIE OHTAKE, Brasil. 1998 – 2003. Psicanálise - Obras de Sigmund Freud. (Carga horária: 200h). Grupo de estudos de psicanálise, São Paulo, Brasil. 2000. Clínica Psicanalítica: conflito e sintoma. (Carga horária: 68h). Instituto Sedes Sapientiae, SEDES, Brasil. 1998 – 2000. Fenomenologia-existencial - Obras de M Heidegger. (Carga horária: 80h). Grupo de estudos de fenomenologia-existencial, São Paulo, Brasil. 1996 – 2000. Fenomenologia-existencial - Obras de G. Bachelard. (Carga horária: 360h). Grupo de estudos de fenomenologia-existencial, São Paulo, Brasil. 6. Participação em sociedades científicas e profissionais: 2022 – Atual. Membra da SIPP – International Society of Psychoanalysis and Philosophy 2021 – Atual. Pesquisadora na Cátedra Edward Saïd, UNIFESP 2016 – Atual. Membra Permanente do GT de Filosofia da Psicanálise da ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia 2018 – Atual. Membra idealizadora do GEPEF – Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas • 2021 – Atual. Membra e pesquisadora • 2018 – 2021. Coordenadora do GEPEF 47 2016 – 2019. Membra do LATESFIP – Laboratório Interunidades de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise • Grupo de trabalho Matriz Psicológica da Episteme Neoliberal • Grupo de trabalho Esquizoanálise (Deleuze e Guattari) 7. Linhas de pesquisa: 2020 – Atual. Membra pesquisadora do Laboratório Identificações (Estudos psicanalíticos a partir de pesquisas interseccionais de classe, raça e gênero). • 2021 – Atual. Pesquisadora • 2020 – 2021. Coordenadora do Lab 2016 – Atual. Integra o Projeto Causdequê? Atividades: 1. Pesquisas e produções dedicadas aos estudos de questões relativas à comunidade LGBTQIAP+, gênero, raça, classe e saúde coletiva; 2. Núcleo de formação dos usuários do serviço e dos profissionais da saúde; 3. Parceria de estágio com a Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 8. Experiência profissional 8.1 Experiência como psicóloga e psicanalista: 2000 – Atual. Consultório Particular • Psicanalista 2011 – Atual. Consultório Particular • Supervisora clínica 2014 – Atual. Seminários Clínicos do Centro De Estudos Psicanalíticos 2016 – Atual. Psicanalista na Casa do Adolescente – UBS-SUS Atividades: 1. Idealizadora do Projeto Causdequê? com Fabiana Takiuti. O projeto atende a população adolescente LGBTQIAP+ em uma perspectiva interseccional da clínica psicanalítica; 2. Atendimentos individuais e grupais dos adolescentes; 3. Reuniões de formação com a equipe multidisciplinar; 4. Atendimentos aos pais, familiares e educadores responsáveis pelos adolescentes. 48 2003 – 2004. Psicanalista no Grupo de Apoio à Escolarização Trapézio Atividades: 1. Coordenadora de grupos constituídos por crianças e adolescentes com dificuldades escolares; 2. Organização do material de psicanálise e educação discutido pelo grupo de estudos da equipe da instituição; 3. Atendimentos clínicos; 4. Triagem. 2000 – 2003. Psicanalista no Projeto Semear • Atendimento clínico de crianças e adolescentes órfãos 1999. Estágio no Hospital Israelita Albert Einstein • Estagiária de Psicologia Hospitalar (UTI) 1996 – 1998. Estágio no Hospital do servidor público municipal • Estagiária: discussão de diagnósticos e psicodramas com pacientes psicóticos 8.2. Experiência como docente: 2009 – 2016. Professora Adjunta na Universidade Paulista (UNIP) Disciplinas ministradas: 1º semestre de 2009: Ética e Cidadania 2º semestre de 2009: Psicoterapia Breve Teorias e Sistemas em Psicologia 1º semestre de 2010: Ética e Cidadania 2º semestre de 2010: Desdobramento da Teoria Psicanalítica 1º semestre de 2011: Psicodiagnóstico Teorias Psicanalíticas da Personalidade 2º semestre de 2011: Psicodiagnóstico Interventivo Desdobramentos da Teoria Psicanalítica 1º semestre de 2012: Psicodiagnóstico Teoria Psicanalítica 2º semestre de 2012: Desdobramentos da Teoria Psicanalítica 1º semestre de 2013: Filosofia, Comunicação e Ética Teoria Psicanalítica 49 2º semestre de 2013: Desdobramento da Teoria Psicanalítica Teorias e Sistemas em Psicologia 2º semestre de 2014: Ética Profissional 1º semestre de 2015: História da Psicologia História do Pensamento Filosófico Ética Profissional Filosofia, Comunicação e Ética 2º semestre de 2015: Teorias e Sistemas em Psicologia 1º semestre de 2016: Filosofia, Comunicação e Ética História da Psicologia História do Pensamento Filosófico Intervenções Clínicas Breves • Supervisora na Clínica Escola da UNIP Psicodiagnóstico Infantil Atendimento em Psicanálise 2008. Escola Viva • Professora de Filosofia no Ensino Fundamental II 2008. Escola Vera Cruz • Professora de Filosofia no Ensino Médio 2001 – 2007. Colégio Oswald de Andrade Caravelas • Professora de Filosofia e Ética no Ensino Médio • Monitora de Psicologia Social e Filosofia no Ensino Médio 2000 – 2001. Colégio Costa Zavagli • Professora de Filosofia no Ensino Médio 9. Cursos livres e de extensão 9.2. Cursos ministrados • Judith Butler e seus duplos: as referências da filósofa em sua obra (8 horas). Espaço Cult, online, dias 15, 22 e 29 de maio e 05 de junho de 2023. 50 • Freud e o Patriarcado (8 horas). Curso de Pós-Graduação em História da Filosofia e do Pensamento Feminino da Faculdade Vicentina, online, Curitiba, 30 de maio de 2023. • O estrangeiro em Freud e Walter Benjamin (16 horas). Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 25 de maio de 2023. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 17 e 24 de abril e 08 de maio de 2023. • Relações Amorosas e seus Contratempos (8 horas). Curso online, Plataforma da Casa do Saber, São Paulo, 06 de abril de 2023. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 06 e 13 e 20 de outubro de 2022. • A língua das mães no cinema (8 horas). Programação do 48° Festival SESC Melhores Filmes, São Paulo, dias 11, 13, 18 e 20 de abril de 2022. • Introdução ao pensamento de Walter Benjamin (8 horas). Espaço Cult, online, dias 07, 08, 09 e 10 de fevereiro de 2022. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 20 e 27 de setembro e 04 de outubro de 2021. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 23 e 30 de novembro e 07 de dezembro de 2020. • O estrangeiro em Freud e Walter Benjamin (8 horas). Espaço Cult, online, dias 09, 10, 11 e 12 de novembro de 2020. • O inquietante como categoria estética (21 horas). Projeto Criação e Circulação de Espetáculos 2016/2017 – 21º Fomento a Dança, Marta Soares e Cia de Dança, São Paulo 24 de junho de 2017. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 16, 23 e 30 de maio de 2017. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 07, 28 de abril e 05 de maio de 2017. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 27 de outubro, 03 e 10 de novembro de 2016. • A figura do duplo: romantismo e psicanálise (8 horas). Livraria da Vila, São Paulo, 19 de outubro de 2016. 51 • O estrangeiro como categoria estética (8 horas). Livraria Martins Fontes, São Paulo, dias 20, 27 de abril e dias 04 e 11 de maio de 2016. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 30 de março, 06 e 13 de abril de 2015. • Seminários Clínicos (4 horas e 30 minutos). Centro de Estudos Psicanalíticos, São Paulo, dias 03, 10 e 17 de fevereiro de 2014. 9.3. Cursos previstos • Arte, Psicanálise Patriarcal e Psicanálise Antropofágica: Questões de Arte, Gênero e Sexualidade no Debate Atual da Filosofia da Psicanálise (12 horas). Curso de pós-graduação Filosofia, Psicanálise e Cultura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. 1º Semestre de 2024. • Arte, Questões Políticas Contemporâneas e a Dimensão Social da Atividade do Psicanalista (7 horas). Curso de pós-graduação Filosofia, Psicanálise e Cultura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. 1º Semestre de 2024. • Literatura dos pactos diabólicos e psicanálise (8 horas). Espaço Cult, online, dias 07, 14, 21 e 28 de agosto de 2023. 9.4. Grupos de estudo e aulas avulsas: • Coordenação do Grupo Lacanibalizar, com Aline Martins e João Paulo Ayub Leituras Antropofágicas de Jacques Lacan – O Seminário, livro 4. Encontros semanais online, 2022. • Coordenação do Grupo de Estudos: Psicanálise, Estética e Artes Visuais. Encontros mensais. Aulas ministradas: - O modelo etnográfico e suas problematizações – Psicanálise, Estética e Artes Visuais, dia 26 de novembro de 2021. - Relações entre Expressionismo Alemão e Psicanálise – Psicanálise, Estética e Artes Visuais, dia 29 de outubro de 2021. - O Debate sobre o Expressionismo Alemão e o Fascismo – Psicanálise, Estética e Artes Visuais, dia 24 de setembro de 2021. • Coordenação do Grupo de Estudos: Quarentena com Lacan, com Aline Souza Martins e Larissa Drigo Agostinho. 52 - O Seminário, Livro 3 – As Psicoses. Encontros Semanais online, novembro 2020. - O Seminário, Livro 2 – O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Encontros semanais online, julho 2020. - O Seminário, Livro 1 – Os escritos técnicos de Freud. Encontros semanais online, abril 2020. 10. Participação em bancas examinadoras 10.2. Qualificações de Mestrado 1. & Martins A. S.; Perrone, C. M.; Gurski, R. Gabriela Gomes da Silva. O corpo e o olhar: (des)construindo imagens a partir do enlace entre teoria psicanalítica e a arte de Ana Mendieta. Mestranda em Programa de Pós-Graduação Psicanálise Clínica e Cultura - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2022. 2. & Carone, A.; Ab’Saber, T. Amanda Malerba. A questão do outro para Freud e Bauman, Mestranda em Filosofia - Universidade Federal de São Paulo, 2020. 3. & Endo, P.; Dionisio, G. H. Rafael da Silva Shirakava. Unheimlich e Fascismo: um estudo do estranho-familiar sob a ótica da teoria psicanalítica de Freud e seus desdobramentos na análise do autoritarismo. Mestrando em Psicologia Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2019. 4. & Cesarotto, O.; Mezan, R. Fernanda Esteves Fazzio. O Tempo e o Impacto da Experiência Estética na Era da Pre(s)as. Mestrando em Psicologia Clínica - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018. 10.3. Qualificação de Doutorado 1. & Silveira, L.; Chatelard, D. S. Mariah Neves Guerra. O (não) reconhecimento do abjeto em sua infamiliaridade: testemunhos sobre as fraturas das normatizações diante das fotografias de Diane Arbus. Doutoranda em Psicologia Clínica e Cultura - Universidade de Brasília, 2020. 10.4. Defesas de Mestrado 53 1. & Fonseca, E. R.; Caia, E. C. P. Sylvia Regina Floriani. O ato psicanalítico no seminário XV de Jacques Lacan e as possíveis relações com o ato artístico. Mestrado em Filosofia da Psicanálise - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2023. 2. & Estevao, I. André Ferreira Bezerra. O mal-estar tecnológico: uma reflexão psicanalítica sobre os gadgets. Mestrado em Psicologia - Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2020. 3. & Mezan, R.; Barbosa, A. P. Fernanda Esteves Fazzio. O Tempo e o Impacto da Experiência Estética na Era da Pre(s)as. Mestrado em Psicologia Clínica - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2019. 4. & Endo, P.; Dionisio, G. H. Rafael da Silva Shirakava. Unheimliche e Fascismo: um estudo acerca do estranho-familiar na teoria freudiana e seus desdobramentos na Escola de Frankfurt em sua análise sobre o autoritarismo. Mestrado em Psicologia Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2019. 10.5. Defesas de doutorado 1. & Chatelard, D. S.; Silveira, L.; Antloga, C. Mariah Neves Guerra. Vejo freaks, o abjeto me estranha: um ensaio feminista da abjeção diante do unheimlich freudiano nas fotografias de Diane Arbus. Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura Universidade de Brasília, 2023. 2. & Dionisio, G. H.; Checchia, M.; Okamoto, M.; Costa, J. P. Paulo Sérgio Pereira Ricci. Crise da autoridade e emergência da Psicanálise: da Modernidade à possibilidade de psicanalisar. Doutorado em Programa de Pós-Graduação Psicologia e Sociedade - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2022. 3. & Silveira, L.; Fonseca, E. R.; Caia, E. C. P.; Bocca, F. V. Amanda Marilia Seabra Pereira Leite. O corpo em cena: sexualidade feminina e o lugar da mulher na psicanálise freudiana. Doutorado em Filosofia - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2021. 4. & Rosa, M. D.; Dunker, C.; Marin, I.; Guerra, A.; Cyfer, I. Aline Souza Martins. As voltas do reconhecimento na clínica e política da psicanálise. Doutorado em Psicologia - Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2020. 10.6. Orientação de pesquisa acadêmica: 54 1. A intervenção psicológica no contexto da UTI. Nathalia Rodrigues Gimenes. Iniciação Científica. Graduação em Psicologia - Universidade Paulista, 2012. 11. Publicações 11.2. Livros: 1. Breve história da Carne. São Paulo: Editora Iluminuras, 2023. No prelo. 2. Freud e o patriarcado. (& Silveira, L.). São Paulo: Hedra/FAPESP, 2020. 3. O sensível e a abstração. São Paulo: e-galáxia, 2020. 4. Sublimação e Unheimliche. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2017. 11.3. Capítulos de livros publicados 1. Sexualidade infantil e a língua das mulheres-mãe. In: Iotti, C.; Jaskulski, L.; Feldmann, L.; Padilha, N.; Rosa, R.; Nora, R. (Org.). Pluralidades: a Psicanálise entre o Feminismo, o Racismo e as questões de Gênero. 1. ed. Porto Alegre: Centro de Estudos Psicanalíticos, 2022, v. I, p. 15-48. 2. Fragilidade exposta: sobre os impasses de “E se a porta cair...”. In: Cia de Teatro Acidental. (Org.). Trilogia dos Afetos Políticos. 1. ed. São Paulo: Editora Javali, 2022, v. I, p. 169-182. 3. Teoria Estética na obra de Freud. In: Carlota Ibertis; Rosa Gabriella de Castro Gonçalves. (Org.). Filosofia e Psicanálise: Olhares sobre Arte e Literatura. 1. ed. Salvador: EDUFBA, 2020, p. 15-52. 4. Conferência: Cinema e Psicanálise. In: Sérgio Paulo Rouanet. (Org.). De Kant a Machado de Assis - reflexões sobre a modernidade no Brasil. 1. ed. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados-USP, 2020, v. 4, p. 209-223. 5. A torre destroçada de Hugo von Hofmannsthal. In: Francisco Camêlo; Leonardo Alves de Lima; Patrick Gert Bange; Ricardo Pinto de Souza. (Org.). Benjaminiana: outros ensaios sobre arte, política, linguagem e história. 1. ed. Rio de Janeiro: Desalinho/ Laboratório de Edição de Ciência da Literatura, 2019, v. 1, p. 338-360. 55 6. Freud como grão-burguês e o patriarcado na psicanálise. In: Tiago Ferro, Ricardo Lísias e Mika Matsuzake. (Org.). Revista Peixe-elétrico. 1. ed. São Paulo: Egaláxia, 2019, v. 9, p. 1-203. 7. Psicoterapia analítica de crianças em situação de abandono: uma visão winnicottiana. (& Sanches, R. M.; Moraes, A. L. G). In: Renate Meyer Sanches. (Org.). Winnicott na clínica e na instituição. 1. ed. São Paulo: Escuta, 2005, p. 109-132. 11.4. Artigos aceitos para publicação 1. O messianismo do Moisés de Freud: um ajuste de contas a partir de Walter Benjamin. Revista VirtuaJus (PUC-Minas), v. 8, nº 14, julho de 2023. No prelo. 11.5. Artigos completos publicados em periódicos 1. Language’s navel in Freud’s Moses. Journal of Psychosocial Studies, v. 16, p. 78-93, 2023. 2. Léa Silveira: olhar microscópico. Eleuthería, v. 6, p. 375-384, 2021. 3. Brecht e Benjamin: em torno do caráter insondável da obra de Kafka. Dissonância: Revista de Teoria Crítica, v. 5, p. 169-205, 2021. 4. O umbigo da língua no Moisés de Freud. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 54, p. 131-146, 2020. 5. Unicórnias pretas contra a necropolítica: tensões em Além do princípio do prazer. Princípios: Revista de Filosofia, v. 27, p. 11-41, 2020. 6. Uma leitura feminista decolonial de O mal-estar na civilização. Revista Natureza Humana, v. 22, p. 44-61, 2020. 7. O nome de Moisés: uma torção na ordem do destino. Revista Natureza Humana, v. 20, p. 134-148, 2018. 8. Causdequê? um espaço indeterminado. (& Takiuti, F. D.). Analytica: Revista de Psicanálise, v. 7, p. 72-83, 2018. 9. A escrita de Moisés e o monoteísmo como gesto político: uma leitura benjaminiana. Ide (São Paulo), v. 63, p. 217-226, 2017. 10. HumanizaSUS e a escuta do indeterminado. (& Pavan, C.). Revista Percurso, v. 59, p. 1-15, 2017. 56 11. Freud com Kafka: a linguagem do estrangeiro. Cadernos Benjaminianos, v. 13, p. 315-336, 2017. 12. A sombra do eu sobre o objeto. A Peste: Revista de Psicanálise e Sociedade, v. 7, p. 120, 2016. 13. Bússola dos afetos e outras formas políticas. Revista Lacuna, v. n-1, p. 14-14, 2016. 14. A encenação dos sonhos: imagens de Freud e de Benjamin. Ágora (UFRJ), v. XVII, p. 9-26, 2014. 15. Entre as ruínas do tempo: Walter Benjamin e Sigmund Freud. Cadernos Walter Benjamin, v. 12, p. 1-13, 2014. 16. Mira Schendel e psicanálise: sussurrar do invisível. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 47, p. 147-158, 2013. 17. Duchamp, dândi contra melancolia? Artefilosofia (UFOP), v. 14, p. 84-95, 2013. 18. Artur Lescher e o barroco na arte brasileira contemporânea. Psicanálise & Barroco em Revista, v. 11, p. 184-197, 2013. 19. O que vem de dentro me atinge. Percurso 48, v. 48, p. 29-38, 2012. 20. Almodóvar ainda habita sua própria pele. Orson - Revista dos Cursos de Cinema do Cearte (UFPEL), v. 2, p. 239-244, 2012. 21. Aura das palavras. Ide (São Paulo), v. 34, p. 247-259, 2011. 22. Ana Paula Oliveira: deleite interrompido e a urgência do real. Revista Estudos Lacanianos, v. 3, p. 213-224, 2011. 23. A casa e o holding: conversas entre Bachelard e Winnicott. Natureza Humana, v. 11, p. 39-52, 2009. 24. O gesto da escrita na psicanálise. Trieb (Rio de Janeiro), v. VI, p. 355-366, 2007. 25. Freud, Proust e Benjamin: aproximações. Imaginário (USP), v. XII, p. 121-138, 2007. 11.6. Textos em jornais de notícias/revistas 1. Carne em Oswald de Andrade: um furo no discurso psicanalítico. N-1 Edições, 21 março de 2023. 2. Tár, onde nada mais converge. Revista Cult, 23 fevereiro de 2023. 3. Sobre primórdios e fins do mundo. N-1 Edições, 20 janeiro de 2023. 4. Vibrações contra imbrocháveis. Revista Cult, 12 setembro de 2022. 57 5. David Cronenberg: os rasgos de Crimes do futuro. Outras Palavras, 22 julho de 2022. 6. Fascismo: passado no presente. Revista Cult, 30 maio de 2022. 7. Quando A mulher submersa emite sua voz. Revista Cult, 22 março de 2022. 8. Às mulheres que atravessaram minha vida. Revista Cult, 04 março de 2022. 9. Cibernética e neoliberalismo: a crítica como mercadoria. N-1 Edições, 04 fevereiro de 2022. 10. Sublimar é um ato de criação? Revista Cult, 21 fevereiro de 2022. 11. Ilusão de ser única e outros desejos de mulheres. Revista Cult, 17 janeiro de 2022. 12. Caminho como perda. Revista Cult, 22 dezembro de 2021. 13. Os difusos lugares da culpa. Revista Cult, 18 novembro de 2021. 14. Freud, um expressionista. Revista Cult, 13 outubro de 2021. 15. O gozo e o mal: além do princípio de nomear. Revista Cult, 23 agosto de 2021. 16. Boletos, prestígio e a exploração do trabalho artístico no sistema neoliberal. Revista Cult, 21 junho de 2021. 17. Freud entre duas mulheres: implosão do Édipo e conflito de classes. Revista Cult, 24 maio de 2021. 18. Queda da aura: palavras, imagens e mídias sociais. Revista Cult, 12 abril de 2021. 19. Da melancolia à mania suicida: o círculo demoníaco brasileiro. N-1 Edições, São Paulo, p. 1-26, 09 abril de 2021. 20. O pretuguês na psicanálise: reflexões de Lélia Gonzalez. Revista Cult, 12 fevereiro e 2021. 21. Vagina pulsante e penetração intelectual: sobre a filosofia de Paul B. Preciado. Revista Cult, 05 janeiro de 2021. 22. A órbita dos homens-planeta. Revista Cult, 24 de novembro de 2020. 23. Olhares remotos: os oitenta anos da morte de Walter Benjamin. Revista Cult, 21 outubro de 2020. 24. Como dói do dedo na ferida! Revista Cult, 10 setembro de 2020. 25. Mulheres e poder: o nome próprio e os índices da liberdade. Revista Cult, 11 agosto de 2020. 26. Duplo: face profana do gênio romântico. Revista Cult, 15 junho de 2020. 27. “Apesar de”: o valor do trabalho intelectual e artístico na era do coronavírus. Revista Cult, 27 maio de 2020. 58 28. Fernanda Gomes: por uma geometria da fragilidade. Revista Cult, 16 janeiro de 2020. 29. Paul Preciado e sua epistemologia mutante. (& Silveira, L.). Revista Cult, 10 janeiro de 2020. 30. Os demônios da liberdade. Revista Cult, 11 novembro de 2019. 31. Conhecer pode ser destruir. Revista Cult, 07 outubro de 2019. 32. Breve homenagem a Wagner Schwarz II. Revista Cult, 22 março de 2019. 33. Tensas relações entre arte e política: as vanguardas e o modelo etnográfico. Revista Cult, 29 agosto de 2018. 34. Fascismo ontem e hoje: o Moisés de Freud e Werner Jaeger. Revista Cult, 09 agosto de 2018. 35. O polêmico debate sobre o caráter científico da psicanálise. Caderno Ilustríssima - Folha de São Paulo, 15 junho de 2016. 36. Psicanalista responde a texto de Zeljko Loparic sobre psicologia de Winnicott. Caderno Ilustríssima - Folha de São Paulo, 19 maio 2016. 37. O golpe e a batalha da Maria Antônia revisitados. Ilustríssima - Folha de São Paulo, 01 abril de 2016. 38. O chão e a utopia em Nuno Ramos. Ilustríssima - Folha de São Paulo, 25 outubro de 2015. 39. O que ainda resta de verdade nestas eleições? BlogBoitempo, 24 outubro de 2014. 40. Lars von Trier: desbravador de horizontes intocáveis. Boletim Online do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, 22 abril de 2010. 41. Em busca da verdade. Discutindo Filosofia (Cessou em 2008. ISSN 1984-1388 Conhecimento Prático Filosofia), ano 1, n. 5, p. 64-65. 11.7. Dossiê Walter Benjamin e a República de Weimar (& Machado, F. P.; Camelo, F.; Lima, L. A.). Revista Limiar, v. 9 n. 17, 2022. 11.8. Outras produções bibliográficas: 59 1. Das Próteses ao Fim do Mundo. Prefácio. In: Bezerra, A. F. O Mal-Estar Tecnológico: uma reflexão psicanalítica sobre os gadgets. São Paulo: Editora Dialética, 2023. 2. Apresentação da tradução de Freud, S. “Moisés e o Monoteísmo”, Editora Martin Claret, 2022. 3. Verdade, confiança e manipulação da impressão na legitimidade democrática. Dunn, J. São Paulo: Revista Exilium, 2021. Tradução de Alessandra Affortunati Martins e Eduardo Seincman. 4. Mutações materialistas da Bilderverbot. Comay, R. Cadernos Benjaminianos, v. 15, n. 1, p. 281-322, 2019. Tradução de Alessandra Affortunati Martins. 5. Fronteiras: lugar do estrangeiro. Catálogo: Casa Contemporânea, 2012. 12. Comunicações Apresentadas em Congressos e Reuniões Científicas 12.2. No exterior Aceito para a apresentação: 1. Fascism – challenges to treat a family disease. 2023 Conference of the International Society of Psychoanalysis and Philosophy. University of Cyprus. Nicósia, 21 a 23 de setembro de 2023. Apresentados: 1. The body of absence in Schoenberg´s Moses and Aaron: a Freudian reading. 11th Meeting of SIPP&ISPP. Södertörn University, online (skype), Estocolmo, 03 de março de 2022. 2. Performance as Inauguration of History and Social Life. Play, Masks and Make-believe: Exploring Boundaries of Fictional Contexts. London Centre for Interdisciplinary Research, Londres, 22 de setembro de 2018. 3. The Threshold Between Uncanny and Foreigner. International Conference ‘The Uncanny in Language, Literature and Culture’. London Centre for Interdisciplinary Research, Londres, 18 de agosto de 2018. 4. Freud and Benjamin: times of memory, times of history. Time, Space and Self. London Centre for Interdisciplinary Research, Londres, 07 de julho de 2018. 60 5. Translation as a Feminine Language. Psychosocial Studies Doctoral Conference, Birkbeck, University of London, Londres, 14 de junho de 2018. 6. Präsentation von Walter Benjamins Wahlverwandtschaft von Goethe. Zentrum für Literatur- und Kulturforschung Berlin, Alemanha, 25 de julho de 2014. 12.3. No Brasil 1. Onde está a vulva? Questões para uma psicanálise contemporânea. 1º Simpósio Diálogos Psicanalíticos da ANEP: A Ética da Psicanálise. Associação Nacional de Estudos Psicanalíticos. Sorocaba, 01 de junho de 2023. 2. Encontros na Biblioteca – Da posição histérica ao feminismo: revisando obras clássicas da psicanálise. Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre. Porto Alegre, 25 de maio de 2023. 3. O canto das sereias e o abalo de Ulisses. Psicanálise e Arte: o que dizer (d)Isso. NEPE Núcleo de Estudos de Psicanálise e Educação, Poços de caldas, 31 de março de 2023. 4. Sobre a inveja da vulva na psicanálise. Abertura – Aulas introdutórias sobre Psicanálise, Política e Teoria Crítica a partir da perspectiva feminista. GEPEF, modalidade online, 03 de dezembro de 2022. 5. Participação mesa: Uma abordagem epistêmico feminista sobre a psicanálise. III Colóquio Feminismo e Psicanálise: Anarquia e Subversão, Grupo de Estudos Filosofia em Perspectiva. Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2022. 6. O Belo e o véu nas trocas simbólicas do patriarcado: uma leitura crítica de Lacan. XIX Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF. Goiânia, 10 a 14 de outubro de 2022. 7. & Silveira, L.; Ambra, P.; Fonseca, E. R. Debate de lançamento do livro “A travessia da estrutura em Jacques Lacan” de Léa Silveira, Canal Grupo de Trabalho Filosofia e Psicanálise da ANPOF - Youtube, 22 de setembro de 2022. 8. Por que ainda hoje o conceito e a função do falo na psicanálise lacaniana? 1º Seminário Mal-estar colonial. PSILACS - Universidade Federal de Minas Gerais, 26 de agosto de 2022. 9. Participação do debate presencial após a sessão especial do filme: Crimes do futuro. CINESESC. SESC, São Paulo, 14 de julho de 2022. 10. Tecnologia, Produção e Gênero em Judy Wajcman. LEF – Ler Escrever Feministas. GEPEF, modalidade online, 28 de maio de 2022. 61 11. Antropofagia e o lugar da carne na psicanálise. VI Ciclo de Seminários Clínicos da Formação Continuada em Psicanálise. Instituto de Clínica e Pesquisa em Psicanálise – INCLIPP, 09 de abril de 2022. 12. O gesto e a resistência à melancolia. IX Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 09 de dezembro de 2021. 13. & Menezes, F.; Safatle, V.; Longo, M. C.; Socha, E. Participação no Debate e lançamento do livro “A potência das fendas” de Fio Menezes e Vladimir Safatle. XXX Semana de Filosofia: arte, cultura e política brasileira. Canal PPGFIL UFRN – Youtube, 26 de novembro de 2021. 14. Participação no evento Relendo Freud de uma perspectiva decolonial. Grupo de Estudos Filosofia em Perspectiva, online, 24 de outubro de 2021. 15. & Silva, D. M.; Rocha, M.; Soares, M. U.; Piccirillo, D. Participação no debate Acesso à justiça e as diferentes violências contra as mulheres. Canal do Instituto Pro Bono - Youtube, 10 de março de 2021. 16. Arte e Psicanálise: O Afeto da Culpa. Projeto Trilogia dos Afetos Políticos: CULPA. Cia. De Teatro Acidental, 20 de janeiro de 2021. 17. Debate “O estranho infamiliar: uma conversa sobre Freud e Isaac Bashevis Singer. Coletivo Shlepers, Círculo de Reflexão sobre Judaísmo Contemporâneo, online, 13 de dezembro de 2020. 18. Léa Silveira: olhar microscópico. I Encontro GEPEF - As Intelectuais Brasileiras como Autoras de Referência. GEPEF, modalidade online, 26 de novembro de 2020. 19. & Silveira, L.; Fischer, M.; Moraes, D.; Pereira, H.; Vilela, M. Debate sobre o livro “Freud e o Patriarcado”. Circuito de Lives Externas. Canal Latesfip Cerrado - Youtube, 08 de outubro de 2020. 20. Uma leitura feminista decolonial de O mal-estar na civilização. Colóquio Filosofia, Psicanálise e Pandemia: Contemporaneidade, sofrimento e morte. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 20 de julho de 2020. 21. Conversas infamiliares- 100 anos do ensaio ‘Das unheimliche’ de Sigmund Freud. Tapera Taperá, São Paulo, 23 de novembro de 2019. 22. Multiplicidade e dialética em Adorno e Deleuze e Guattari. Esquizoanálise – Clínicas da transformação, Apresentações Públicas do Latesfip. Universidade de São Paulo, São Paulo, 23 de novembro de 2019. 62 23. Fantasia e destrutividade em psicanálise. VIII Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 20 de novembro de 2019. 24. Sublimação e dialética no Moisés de Freud: uma leitura deleuzo-guattariana. I Encontro Deleuze e Guattari: desejo e política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 24 a 27 de setembro de 2019. 25. O caráter insondável das obras de arte: Uma leitura de Freud a partir dos debates Brecht e Benjamin. II Jornada de Filosofia, Arte e Estética da Unicamp. IFCH/UNICAMP, Campinas, 18 de setembro de 2019. 26. O messianismo do Moisés de Freud: um ajuste de contas a partir de Walter Benjamin. Benjaminiana 2019 – III Encontro de Pesquisadores em Walter Benjamin. Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2019. 27. O Moisés de Freud como Estrutura Revolucionária da Psicanálise. Colóquio ‘Psicanálise e Política: Poderes e Subjetivação’, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2019. 28. Deleuze e Guattari e as impurezas do Édipo. Esquizoanálise – Clínicas da transformação, Apresentações Públicas do Latesfip. Universidade de São Paulo, São Paulo, 08 de junho de 2019. 29. Arte e Psicanálise: articulações entre Freud e a ópera ‘Moisés e Arão’ de Schoenberg. Semana de Psicologia da USP. Instituto de Psicologia - USP, São Paulo, 13 a 17 de maio de 2019. 30. Causdequê? atendimento aos adolescentes LGBTI. VIII Simpósio Internacional de Boas Práticas em Saúde do Adolescente nas Américas. 10 de dezembro de 2018. 31. A representação da violência na imagem. V Semana de Filosofia e Política do CAF-USP. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 05 a 09 de novembro de 2018. 32. Causdequê – Um projeto com adolescentes. Núcleo de Psicanálise e Práticas Clínicas na Saúde. Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP. São Paulo, 16 de outubro de 2018. 33. O nome de Moisés: uma torção na ordem do destino. I Benjaminiana 2017 – Encontro de Pesquisadores em Walter Benjamin. Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2017. 63 34. Categorias estéticas e processos de simbolização em Freud. Semana de Integração/Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 07 de novembro de 2017. 35. Os lances de Helena: o caráter híbrido da identidade de gênero em atendimentos psicanalíticos na Casa do Adolescente. I Colóquio Psicanálise, gênero e feminismo: perspectivas, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 25 de outubro de 2017. 36. O discurso dilacerado e o corpo da palavra. VII Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 22 de setembro de 2017. 37. & Takiuti, F. D.; Araujo, R; Kerr, J. S.; Takiuti, A. D. Relatos de Experiências na Saúde Integral dos Adolescentes. 8th International Meeting of Child and Adolescent Health. São Paulo, 06 a 10 de setembro de 2017. 38. Categorias estéticas na obra freudiana. Núcleo de estudos em filosofia e psicanálise. Universidade Federal de Lavras, Lavras, 21 de agosto de 2017. 39. Apresentação do livro: Sublimação e Unheimliche. II Workshop Internacional de Filosofia Política e Psicanálise. Universidade Estadual de Campinas, dias 13 e 14 junho de 2017. 40. A matriz psicológica da episteme neoliberal – Cibernética e neoliberalismo: a crítica como mercadoria. Reunião aberta dos trabalhos do Latesfip. USP, 10 de junho de 2017. 41. Evento: Cinema e psicanálise: uma história de convergências e divergências. Conferências do Instituto de Estudos Avançados, USP, São Paulo, 12 de setembro de 2016. 42. Estrangeiro no Campo das Artes. Curso de Extensão Cultural ‘O Estrangeiro no Teatro: Uma Pesquisa de Linguagens – Fundamentos do Processo Criativo’. SP Escola de Teatro, São Paulo, 29 de julho de 2016. 43. Duplo: a face profana do gênio romântico. IV Simpósio de Estética: Impulso Criativo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 20 de maio de 2016. 44. Debate “Os limites da sublimação”. Centro de Estudos Psicanalíticos, 13 de novembro de 2015. 45. Do sonho ao ato: Hofmannsthal e a psicanálise. XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise. São Paulo, 28 a 31 de outubro de 2015. 46. A escrita de Moisés e o monoteísmo como gesto político? uma leitura benjaminiana. IX SOFiA – Semana de Orientação Filosófica e Acadêmica. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 15 de setembro de 2015. 64 47. Adorno, Freud e a ‘escória do mundo dos fenômenos’. IX SOFiA – Semana de Orientação Filosófica e Acadêmica. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 15 de setembro de 2015. 48. A sombra do eu e o objeto. I Encontro Internacional do GT (ANPEPP): Psicanálise, Subjetividade e Cultura Contemporânea: ‘Narcisismo e Sexualidade’. Universidade de São Paulo, São Paulo, 12 de agosto de 2015. 49. Duplo: a face profana do gênio romântico. II ENELF – Encontro Nacional de Estética, Literatura e Filosofia – Romantismo: Desdobramentos Contemporâneos. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 29, 30 e 31 de julho de 2015. 50. Debate sobre o filme “A gangue”. Cinepsique – CINESESC. SESC, São Paulo, 02 de junho de 2015. 51. Distinção metapsicológica dos conceitos de sublimação e Unheimliche em Freud. Colóquio Freud: Filosofia e Psicanálise. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 15 de maio de 2015. 52. Entre Egon Schiele e Gustav Klimt: algumas inflexões na obra freudiana. VI Congresso Internacional de Filosofia e Psicanálise. Universidade Federal do Espírito Santo, 17 de setembro de 2015. 53. Édipo na torre e a queda da ordem patriarcal. XVI Encontro Nacional da ANPOF. Campos do Jordão, 31 de outubro de 2014. 54. Nas margens da arte moderna: a aura e a lógica edípica. V Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 01 de novembro de 2013. 55. Freud com Benjamin e a dimensão política da temporalidade. XVII Congresso Interamericano de Filosofia. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 11 de outubro de 2013. 56. Auscultar corpos. I Seminário de Estética e Crítica da Arte. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 12 de setembro de 2013. 57. Artur Lescher e o barroco na arte brasileira contemporânea. VII Encontro Psicanalítico da Teoria dos Campos “Psicanálise com Arte: Clínica e Cultura” Instituto de Psicologia da USP, São Paulo, 08 de junho de 2013. 58. Silêncios da linguagem: Silvia Mecozzi e psicanálise. Hímeros: I Colóquio sobre Arte e Psicanálise. Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, 19 a 21 de abril de 2013. 65 59. Duchamp: dândi contra melancolia. II Simpósio de Estética. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 25 de abril de 2012. 60. Mira Schendel e psicanálise: sussurrar do invisível. X Jornada Corpolinguagem e III Encontro Outrarte. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 03 a 05 de novembro de 2010. 61. Cinema e sonhos: cenas de Freud e Benjamin. Café Contemporâneo, uma conversa sobre cinema, sonho e psicanálise. Casa Contemporânea. São Paulo, 23 de outubro de 2010. 62. A encenação dos sonhos: imagens de Freud e de Benjamin. VII Colóquio do Curso de Psicanálise: Teoria e Clínica. Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo, 02 de outubro de 2010. 63. Entre Freud e Benjamin, o sonho de Lynch. VII Congresso Internacional de Teoria Crítica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 13 a 17 de setembro de 2010. 64. Como olhar a obra de Ana Paula Oliveira. Grupo de Arte e Psicanálise do EBEP-SP. São Paulo, 25 de junho de 2010. 65. O divã na psicanálise: aura das palavras. III Encontro Nacional de Pesquisadores em Filosofia e Psicanálise. Universidade Federal Fluminense, 24 a 27 de novembro de 2008. 66. O holding e a casa em Winnicott e Bachelard. XIII Colóquio Winnicott. Os Casos Clínicos de Winnicott. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 31 de maio de 2008. 67. Freud, Proust e Benjamin: aproximações. II Congresso Internacional de Filosofia da Psicanálise. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 28 de setembro de 2007. 68. Encontro “Ensaios sobre a sedução”. Debatedora no Diálogos do Lacaneando. Livraria da Vila, São Paulo, 26 de novembro de 2022. 69. Encontro “Entre o riso e repartitório: um olhar crítico sobre a responsabilidade subjetiva”. Debatedora no evento do Transas GEPEF. São Paulo, 9 de novembro de 2022. 70. Conferência Ciência e Psicanálise, Debatedora no evento do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. USP, São Paulo, 12 de setembro de 2016. 13. Organização de eventos, congressos, exposições e feiras 1. Membra da comissão organizadora de “Limiares: Desafios Contemporâneos da Psicanálise”. Promovido pelo DCH, Universidade Federal de Lavras, Lavras, dias 13 a 15 de setembro de 2021. 66 2. Membra da comissão organizadora do “I Encontro GEPEF - As Intelectuais Brasileiras como Autoras de Referência”. 26 e 27 de novembro de 2020. 3. Membra da comissão organizadora (GT de Esquizoanálise do Latesfip) do “I Encontro Deleuze e Guattari: desejo e política”. FFLCH – USP, dias 24 a 27 de setembro de 2019. 4. Membra da comissão organizadora do “IV Colóquio Latesfip: Dos limites do neoliberalismo aos desenhos de transformação”. Instituto de Psicologia da USP, 30 de novembro de 2018. 5. Membra da comissão organizadora do “Colóquio Bento Prado Jr. – As aventuras da filosofia brasileira”. Departamento de Filosofia. FFLCH – USP, São Paulo, 05 e 06 de junho de 2017. 6. Coordenadora do Ciclo de debates: “Fronteiras: lugar do estrangeiro”, Casa Contemporânea, São Paulo, 31 de agosto e 14 de setembro de 2012. 7. Curadora da Exposição: “Fronteiras: lugar do estrangeiro”, Casa Contemporânea, São Paulo, 24 a 29 de agosto de 2012. 14. Participação em Comissões Editoriais, Consultorias Ad-hoc e Pareceres. 1. Parecer de assessoria para FAPESP, 2023. 2. Comissão Editorial da Editora Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre. 2023. 3. Texto para quarta capa do livro: SILVEIRA, L. A travessia da estrutura em Jacques Lacan, São Paulo: Blucher, 2022. 4. Parecer ad hoc para Revista Natureza Humana – Filosofia e Psicanálise, 2018. 5. Integrante da Comissão Científica de Benjaminiana 2018: II Encontro de Pesquisadores de Walter Benjamin. URFJ, 2018. 6. Parecer ad hoc – Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa (UnB), 2018. 7. Parecer ad hoc de artigo filosófico - Revista doispontos (UFSCar/UFPR), 2016. 15. Entrevistas, mesas redondas, programas e comentários na mídia 1. & Bernardi, T. Onde está a vulva? Episódio do podcast ‘Meu Inconsciente Coletivo’, Folha de São Paulo, 31 de março de 2023. 2. & Rivera, T.; Fonseca, E. R. Entrevistas Temáticas com Tania Rivera. Canal GT Filosofia e Psicanálise da ANPOF – Youtube, 18 de junho de 2021. 67 3. Entrevista: A atualidade de 'Moisés e o monoteísmo’ de Freud. Conversações Filosóficas, Canal Caio Souto – Conversações Filosóficas, Youtube, 22 de fevereiro de 2021. 4. & Machado, F. P.; Osorio, L. C.; Palhares, T. Nascimento, B. Participação no Mosaico de Citações (n.6). Jornada Walter Benjamin 2020 - Youtube, 21 de outubro de 2020. 5. & Perez, D. O.; Sparaneo, C.; Fonseca, E. R.; Correa, F. Entrevista com Oswaldo Giacoia Jr. Canal GT Filosofia e Psicanálise da ANPOF – Youtube, 22 de agosto de 2020. 6. & Fonseca, E. R.; Silveira, L.; Carone, A.; Simanke, R. Entrevista com Ernani Chaves. Canal GT Filosofia e Psicanálise da ANPOF – Youtube, 28 de maio de 2020. 7. Erotismo e Melancolia, 36° encontro do projeto Reflexões Filosóficas. Canal Prof. Hugo Cavalcanti – Youtube, 14 de agosto de 2020. 8. & Botelho, M. P. Participação no programa Observatório do 3º Setor com tema “Era digital e sua influência na sociedade”, Rádio Trianon, 12 de junho de 2019. 9. Entrevista “Como escreve Alessandra Martins Parente” concedida ao site Como eu escrevo em 2019. 10. Entrevista sobre o livro: Sublimação e Unheimliche. Fora da Ordem - Peixe elétrico, 22 de novembro de 2017. 16. Línguas Estrangeiras Inglês – avançado (C2.1) Italiano – avançado Alemão – intermediário (Instituto Goethe C1.3) Espanhol – leitura e compreensão Francês – leitura e compreensão 17. Outras informações relevantes 2017 - Aprovada em 1º lugar para cargo de professor substituto de Bases Epistemológicas, Pontifícia Universidade Católica, PUC-SP. 2016 – Aprovada em concurso de professor de Psicologia: Psicanálise e Clínica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS-RS. 68