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Conforto térmico em trabalhadores de aviários

2021, Revista de Investigação & Inovação em Saúde

Enquadramento: podendo existir vulnerabilidade dos trabalhadores avícolas face às temperaturas do interior dos aviários em comparação com as do exterior é importante analisar a sua exposição ocupacional em termos de conforto térmico. Objetivos: avaliar o conforto térmico em trabalhadores do setor avícola no ambiente interior e exterior dos aviários e analisar a sua possível relação com a fase de desenvolvimento do frango. Metodologia: o estudo efetuado foi observacional, transversal, com uma amostra por conveniência de 6 trabalhadores de 8 aviários. A recolha de dados foi realizada através de um questionário dirigido a todos os trabalhadores seguida da medição dos valores de Predicted Mean Vote (PMV) e Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Resultados: em aviários de frangos com 8 dias de idade verificou-se uma total concordância entre os valores de PMV e PPD, nos de 35 dias uma concordância significativa e nos de 85 dias uma considerável concordância. Conclusão: existe desconf...

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO RIIS vol.4(1), 47-59 CONFORTO TÉRMICO EM TRABALHADORES DE AVIÁRIOS Thermal comfort in aviary workers Confort térmico en trabajadores de aviario Ana Ferreira*, Helder Simões**, João Paulo Figueiredo***, Susana Paixão****, Lúcia Simões Costa*****, Sílvia Seco******, António Loureiro******* RESUMO Enquadramento: podendo existir vulnerabilidade dos trabalhadores avícolas face às temperaturas do interior dos aviários em comparação com as do exterior é importante analisar a sua exposição ocupacional em termos de conforto térmico. Objetivos: avaliar o conforto térmico em trabalhadores do setor avícola no ambiente interior e exterior dos aviários e analisar a sua possível relação com a fase de desenvolvimento do frango. Metodologia: o estudo efetuado foi observacional, transversal, com uma amostra por conveniência de 6 trabalhadores de 8 aviários. A recolha de dados foi realizada através de um questionário dirigido a todos os trabalhadores seguida da medição dos valores de Predicted Mean Vote (PMV) e Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Resultados: em aviários de frangos com 8 dias de idade verificou-se uma total concordância entre os valores de PMV e PPD, nos de 35 dias uma concordância significativa e nos de 85 dias uma considerável concordância. Conclusão: existe desconforto térmico nos trabalhadores avaliados, especialmente nos que trabalham em aviários para frangos com 8 e 35 dias de idade. O desconforto térmico foi pior nos aviários de frangos com 8 dias, revelando assim a relação entre o índice de conforto térmico e a fase de desenvolvimento do frango. Palavras-Chaves: saúde ocupacional; exposição ocupacional; temperatura; avicultura *PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento de Audiologia, Fisioterapia e Saúde Ambiental, Unidade Científico-Pedagógica de Saúde Ambiental https://orcid.org/0000-0003-3595-1554 - Contribuição no artigo: Study conception and design, Data collection, Data analysis and interpretation, Drafting of the article **MsC, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento de Audiologia, Fisioterapia e Saúde Ambiental, Unidade Científico-Pedagógica de Saúde Ambiental – http://orcid.org/0000-0002-3412-8462 - Contribuição no artigo: Study conception and design, Data collection, Data analysis and interpretation, Drafting of the article *** PhD, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento de Ciências de Base, Unidade CientíficoPedagógica de Ciências Médicas, Sociais e Humanas https://orcid.org/0000-0002-9829-1592 - Contribuição no artigo: Study conception and design, Data analysis and interpretation, Drafting of the article ****PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento de Audiologia, Fisioterapia e Saúde Ambiental, Unidade Científico-Pedagógica de Saúde Ambiental - https://orcid.org/0000-0002-4548-1894 Contribuição no artigo: Critical revision of the article ***** PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento de Ciências de Base, Unidade CientíficoPedagógica de Ciências Médicas, Sociais e Humanas https://orcid.org/0000-0003-4796-2429 - Contribuição no artigo: Data analysis and interpretation, Critical revision of the article ******MsC, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra, Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental https://orcid.org/0000-0002-3234-8058 Contribuição no artigo: Critical revision of the article ******* MsC, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra, Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental https://orcid.org/0000-0002-3261-7924 - Contribuição no artigo: Study conception and design, Study conception and design, Drafting of the article Como referenciar: Ferreira, A., Simões, H., Figueiredo, J.P., Paixão, S., Costa, L., Seco, S., & Loureiro, A., (2021). Conforto térmico em trabalhadores de aviários. Revista de Investigação & Inovação em Saúde. 4(1), 47-59 https://doi.org/10.37914 riis.v4i1.145 Recebido para publicação em: 04/05/2021 Aceite para publicação:22/06/2021 ABSTRACT Background: as there may be vulnerability of poultry workers to the temperatures inside the aviaries compared to those outside, it is important to analyze their occupational exposure in terms of thermal comfort. Objectives: evaluate the thermal comfort in poultry sector workers in indoor and outdoor environments and analyze its possible relationship with the chicken developmental stage. Methodology: the study carried out was observational, cross-sectional, with a convenience sample of 6 workers from 8 aviaries. Data collection was carried out through a questionnaire addressed to all workers followed by the measurement of Predicted Mean Vote (PMV) and Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Results: in 8-day-old chicken aviaries there was a complete agreement between the values of PMV and PPD, in the 35-day-old aviaries a significant agreement and in the 85-day-old a considerable agreement. Conclusion: there is thermal discomfort in the assessed workers, especially in those who work in aviaries for chickens with 8 and 35 days of age. Thermal discomfort was worse in 8-day-old chicken aviaries, thus revealing the relationship between the thermal comfort index and the chicken development stage. Keywords: occupational health; occupational exposure; temperature; poultry farming RESUMEN Marco contextual: como puede haber vulnerabilidad de los trabajadores avícolas a las temperaturas dentro de los aviarios en comparación con las del exterior, es importante analizar su exposición ocupacional en relación al confort térmico. Objetivos: evaluar el confort térmico en trabajadores del sector avícola en ambientes interiores y exteriores y analizar su posible relación con la etapa de desarrollo del pollo. Metodología: el estudio realizado fue observacional, transversal, con una muestra de conveniencia de 6 trabajadores de 8 aviarios. La recogida de datos se realizó mediante un cuestionario dirigido a todos los trabajadores seguido de la medición de los valores de Predicted Mean Vote (PMV) y Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Resultados: en aviarios de pollos de 8 días hubo una concordancia total entre los valores de PMV y PPD, en 35 días una concordancia significativa y en 85 días una concordancia considerable. Conclusión: existe malestar térmico en los trabajadores evaluados, especialmente aquellos que laboran en aviarios para pollos con 8 y 35 días de edad. El malestar térmico fue peor en los aviarios de pollos de 8 días, revelando así la relación entre el índice de confort térmico y la etapa de desarrollo del pollo. Palabras Claves: salud ocupacional; exposición ocupacional; temperatura; avicultura Disponível: https://doi.org/10.37914/riis.v4i1.145 47 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários satisfação com o ambiente térmico”. A primeira INTRODUÇÃO O período de inverno comporta, conclusão a que se chega, partindo desta afirmação, é sempre, que este é um conceito subjetivo, que varia de preocupações acrescidas para os produtores de indivíduo para indivíduo. Assim, é necessário conjugar frangos em regiões mais frias, sendo necessário estar inúmeras variáveis de modo a definir o conforto mais atento ao interior do aviário, em especial no que térmico associado a um determinado ambiente (Silva, diz respeito à temperatura (Fernandes & Furlaneto, 2020; Oliveira, 2008). Segundo Fanger (1970), 2004). No entanto, conhecidas as fragilidades das aves neutralidade térmica é a condição que se pretende e as temperaturas ideais para o seu desenvolvimento, atingir, na qual uma pessoa não prefira nem mais calor tendo em conta a fase de gestação em que se encontram, há vulnerabilidade também dos que trabalhadores, investigar a quanto às nem mais frio, em relação ao ambiente térmico em que se encontra (Vergara, 2001; Fanger, 1970). O conforto térmico depende de fatores que temperaturas do interior dos aviários, em comparação interferem no trabalho do sistema termorregulador com as do exterior, principalmente durante esse humano, são eles: taxa de metabolismo, vestuário, período do ano (Silva & Almeida, 2010; Oliveira, 2008). A promoção da saúde e segurança temperatura destes humidade relativa, temperatura do ar e velocidade do ar. O efeito trabalhadores deverá ser, também, uma prioridade, combinado de todos esses fatores, determinará a pelo que é importante investigar a sua exposição sensação de conforto ou desconforto térmico ocupacional em termos de conforto térmico. embora, por motivo de classificação, os dois primeiros Assim, este estudo teve como objetivos avaliar fatores conforto térmico em trabalhadores do setor avícola sejam chamados de variáveis pessoais/individuais e os quatro últimos de variáveis no ambiente interior e exterior dos aviários e analisar ambientais (Ndembo, 2018; Gonçalves, 2017). a sua possível relação com a fase de desenvolvimento A ISO 7730/05 aplica a avaliação do conforto térmico do frango. a ambientes térmicos moderados, apresentando métodos para prever a sensação térmica geral, bem ENQUADRAMENTO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA como o grau de desconforto (insatisfação térmica) das A publicação de normalização e códigos de boas pessoas expostas a estes ambientes térmicos. práticas relacionadas com o ambiente térmico, pela Particularizando, International Organization for Standartization (ISO) e estudo desta temática e a determinação e do PMV e de PPD (Gonçalves, 2017; Oliveira, 2008; ISO Air-Conditioning Engineers (ASHRAE) veio reforçar a do permite interpretação do conforto térmico, através do cálculo pela American Society for Heating, refrigeration and importância radiante, 7730:2005, 2005). a Estudos revelam que na presença de um posto de obrigatoriedade de a legislar de forma a salvaguardar trabalho termicamente desconfortável, manifestar- a saúde do trabalhador (Talaia, 2013). se-ão Conforto térmico é definido pela norma ISO 7730/05 nos trabalhadores, consequências como indisposição e fadiga, diminuindo a eficiência e como “aquela condição de mente na qual é expressa 48 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários aumentando os riscos de acidente (Painçal, Nunes, & Não sendo possível conceber um ambiente comum, Fernandes, 2018; Minette, Silva, Souza, & Silva, 2007). em que a totalidade dos seus ocupantes se sinta Uma das causas possíveis reside nas alterações de termicamente temperatura, as quais acarretam um dispêndio condições para que isso mesmo se aplique à adicional de esforço biológico para recuperação da correspondente maioria. Sendo esta uma área em condição homeotérmica, acentuando-se a sensação constante desenvolvimento, têm vindo a surgir de desconforto e fadiga, com consequências negativas softwares que permitem determinar facilmente os para a saúde e rendimento dos seus ocupantes índices PMV e PPD relativos ao nível de conforto (Almeida, 2010). A organização assume um papel térmico de um dado ambiente. preponderante na implementação de pausas laborais O PMV corresponde a uma estimativa da votação de para os funcionários, a fim de minimizar os efeitos de um determinado número de pessoas, relativamente à fadiga térmica, frequentemente detetados nas sua sensação térmica do ambiente circundante. Este avaliações de conforto térmico (Gonçalves, 2017; índice pode ser determinado a partir do metabolismo, Silva, 2013). do É ainda de salientar a Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro, (temperatura do ar, temperatura radiante, velocidade que regulamenta o regime jurídico da promoção da do ar e humidade relativa). O índice PPD estabelece segurança e saúde no trabalho, comunicando as uma previsão quantitativa do número de pessoas obrigações gerais do empregador, o qual é obrigado a insatisfeitas (Gonçalves, 2017; Miguel, 2014). vestuário confortável, e dos procuram-se parâmetros criar ambientais assegurar ao trabalhador, condições de segurança e saúde em todos os aspetos do seu trabalho, METODOLOGIA atendendo aos princípios gerais de prevenção: O estudo efetuado foi observacional e analítico, nível “assegurar, nos locais de trabalho, que as exposições III (correlacional), transversal e com um tipo de a agentes físicos e biológicos e aos fatores de risco amostragem não probabilístico de conveniência. A psicossociais não constituem risco para a segurança e amostra foi constituída por 6 trabalhadores de 8 saúde do trabalhador (Lei n.º 3, 2014; Portaria n.º aviários de 2 empresas do distrito da Guarda. Dos 702/80, 1980). aviários, 4 eram de frangos com 8 dias de idade, 1 de Já o Regulamento Geral de Segurança e Higiene do frangos com 35 dias e 3 de frangos com 85 dias de Trabalho nos Estabelecimentos Industriais, Portaria nº idade. 53, 1971, alterada pela Portaria n.º 702/80, de 22 de A recolha de dados decorreu em dois momentos, setembro, estabelece no artigo 24°, quanto à sendo o primeiro a aplicação de um questionário temperatura e humidade que: “as condições de dirigido a todos os trabalhadores e o segundo a temperatura e humidade dos locais de trabalho medição dos parâmetros de conforto térmico a que os devem ser mantidas dentro de limites convenientes avicultores se encontravam expostos para se para evitar prejuízos à saúde dos trabalhadores” determinarem os valores de Predicted Mean Vote (Portaria n.º 702/80, de 22 de setembro, 1980). (PMV) e Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). 49 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários Através do questionário pretendeu-se determinar o no entanto a cada 50m2 foi realizada uma avaliação. tipo de vestuário utlizado pelos trabalhadores durante No exterior dos aviários destinados a frangos com 35 a aviários; dias de idade, foram realizadas quatro medições, e trabalhadores nos restantes efetuaram-se duas medições no realização das compreender a suas tarefas perceção dos nos relativamente ao tipo de atividade desempenhada; exterior. quais os Após a recolha de dados, os mesmos foram tratados trabalhadores experimentavam e se os mesmos utilizando o sofware de conforto térmico DeltaLog 10 tendem a agravar nas estações de verão ou de versão 0.1.5.29 e ainda o software estatístico IBM inverno. SPSS versão 27.0. A avaliação do conforto térmico, foi realizada através O tipo de vestuário utilizado pelos trabalhadores do analisador térmico de microclimas Delta Ohm HD durante a realização das suas tarefas e a sua perceção 32.1, devidamente relativa ao tipo de atividade desempenhada são dois certificado e calibrado. Os parâmetros ambientais fatores essenciais na utilização do software DeltaLog avaliados, relativamente ao conforto térmico foram: 10, pelo que o vestuário é um fator individual velocidade do ar (Var), humidade relativa (Hr), imprescindível à avaliação do conforto térmico e temperatura do ar (Ta) e temperatura radiante (Tr). requerido pelo software, dado influenciar o algoritmo Foram realizadas várias medições com uma duração chave ao cálculo do PMV e PPD, através da adição de 15 minutos cada, com amostragens de 15 em 15 um valor com a unidade de medida clo, o qual segundos. a corresponderá à resistência térmica. É, igualmente, aproximadamente 1,50m de altura, dado esta ser a importante considerar o tipo de atividade realizada altura coincidente, com a zona de maior concentração pelo trabalhador, outro dos fatores individuais que de calor humano, a zona do peito. É de salientar a resultará no valor da sua taxa metabólica, valor este necessidade de aclimatar as sondas do equipamento, capaz de influenciar significativamente os resultados. antes da realização de qualquer medição, para que Assim, o cálculo dos valores de PMV e PPD, baseia-se não haja qualquer tipo de influência e as sondas se na combinação entre os parâmetros ambientais e as ajustem adequadamente às caraterísticas do local de características medição. Antes de qualquer medição, foi efetuado um metabólica). Atendendo ao facto de a ISO 7730/05 ser processo de aclimatização dos edifícios de 30 minutos. demasiadamente generalista na atribuição das taxas A medição das variáveis ambientais foi realizada metabólicas quanto aos vários tipos de atividades segundo procedimentos e métodos de medição profissionais que menciona apresentados na norma ISO 7730/05. trabalhadores em questão executam muito mais que De acordo com o layout dos aviários, os pontos de uma tarefa, considerou-se sensata a atribuição de taxa medição foram considerados, de forma a tornar o metabólica moderada de valor (Hudie, 2016). Trata-se local o mais representativo possível. O número de de uma função não legalmente definida, e tanto pelas medições dependeu das dimensões de cada aviário, respostas obtidas no questionário, como pela os sinais/sintomas/doenças AM510-1c12 As 2,940He medições SA, foram que realizadas 50 individuais (vestuário e, visto e que taxa os RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários variedade de funções desempenhadas, pode-se mesmos, consoante estes se encontrem conformes ou concluir que se trata efetivamente de uma profissão não, com o valor legislado. Relativamente à inferência com uma taxa metabólica moderada. estatística foram aplicados o teste de hipótese Kappa O índice PMV-PPD é recomendado pela ISO 7730/05 de Cohen, com a finalidade de verificar a existência de para a caraterização de ambientes confortáveis. Os concordância entre os indicadores em estudo. A limites a considerar para os valores de PMV e PPD são: interpretação do teste estatístico foi realizada com −0,5 < PMV < +0,5 e PPD < 30% . Quando ambas base num nível de significância de p=0,05 com um as condições se verificarem, estamos perante um local intervalo de confiança de 95%. Quando realizado o de trabalhado termicamente confortável, ou vice- teste de Kappa de Cohen, os valores de kappa obtidos, versa (Silva, 2013; Almeida, 2010). Verificados os foram analisados com base no nível de concordância, valores de PMV e PPD, é efetuada a análise dos que lhe é correspondente, como indicado na tabela 1. Tabela 1 Níveis de concordância para o teste Kappa de Cohen <0 [0,00 – 0,20] [0,21 – 0,40] [0,41 – 0,60] [0,61 – 0,80] ≥ 0,81 Não há concordância Desprezável concordância Baixa concordância Moderada concordância Boa concordância Concordância quase perfeita necessária num aviário, sendo elas: preparação do RESULTADOS pavilhão, receção dos pintos, recria e crescimento dos Através do questionário, observou-se que a idade frangos, saída dos frangos para abate, remoção de média dos 6 trabalhadores (4 do sexo masculino e 2 do equipamentos e resíduos e lavagem e desinfeção das sexo feminino) foi de 45,17 ± 11,374 anos, com uma instalações e equipamentos. Verificou-se, ainda, que a média de 10,50 ± 4,324 anos de trabalho nas exposição dos trabalhadores no interior dos aviários instalações. 83,3% dos trabalhadores exerciam as suas não ocorreu de forma continuada, pois como funções durante 8 horas/dia, sendo que apenas 1 efetuavam trabalhava 10 horas/dia. Para a realização das suas seu local de trabalho. tarefas na posição de pé. Os trabalhadores eram qualquer também, trabalhadores indicaram sentir, com frequência, no aviários, sendo que a maioria desenvolvia as suas realizavam passavam, apresentados os sinais/ sintomas/doenças que os de forma equitativa pelo interior e exterior dos pois tarefas, bastante tempo no seu exterior. Na figura 1, são tarefas, os trabalhadores encontravam-se distribuídos polivalentes, várias tarefa 51 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários Suores Congelação dos membros Frieiras Diminuição da sensibilidade táctil Diminuição da destreza manual Mal-estar geral Secura dos olhos e da pele Tosse Sensibilidade a odores Irritação das mucosas Tonturas Dores de cabeça Nº de respostas 0 1 2 3 4 5 6 Figura 1 Sinais/sintomas/doenças reportados pelos trabalhadores Do total de trabalhadores inquiridos, a maioria referiu tipo de vestuário no tronco, e os restantes usavam que os sintomas indicados se tendiam a agravar na camisola, casaco ou ambos. estação de inverno, sendo que 4 dos 6 trabalhadores, De referiram conforto/desconforto não deixar de sentir os seguida, procurou-se avaliar térmico, ao o grau nível de dos sinais/sintomas/doenças quando estavam no exterior trabalhadores, através da concordância dos valores de das instalações. Quanto ao isolamento térmico, o PMV e PPD, relativos aos aviários destinados às vestuário dos diferentes fases de desenvolvimento do frango, trabalhadores, resumia-se à utilização de camisa de atendendo ao local da medição. Na Tabela 2, está a manga comprida, calças e botas. Para além da camisa, análise da concordância entre os valores de PMV e PPD metade dos trabalhadores não utilizava mais nenhum em aviários de frangos com 8 dias de idade. utilizado pela grande maioria Tabela 2 Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com 8 dias de idade. Geral Exterior PMV – 8 dias PPD – 8 dias Conforto térmico (%) Desconforto térmico (%) Total (%) Conforto térmico Desconforto térmico Total Conforto térmico Desconforto térmico 15 (100,0%) 10 (15,4%) 25 (31,3%) 15 (100,0%) 10 (40,0%) 0 55 (84,6%) 55 (68,8%) 0 15 (60,0%) 15 (18,8%) 65 (81,3%) 80 (100,0%) 15 (37,5%) 25 (62,5%) Total 25 (62,5%) 15 (37,5%) 40 (100,0%) Teste k=0,671 p<0,001 k=0,529 p<0,001 Teste de Kappa de Cohen Observou-se uma boa concordância de resultados avaliações identificadas por PMV como confortáveis, (67,1%), no que diz respeito à avaliação de PMV 8 dias foram igualmente classificadas ao nível do parâmetro com PPD 8 dias, de uma forma geral, em que das 15 de PPD. A concordância ao nível do desconforto 52 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários térmico foi de 84,6%. Particularizando, no interior de trabalhador, ou seja, ao nível do PMV, também foram um aviário para frangos com 8 dias de idade, verificou- assim avaliadas pelo PPD. No que se refere aos valores se uma significativa concordância, o que se resume atribuídos numa sintonia total dos valores de PMV e PPD, isto é, trabalhador, verificou-se que, 25 das medições o PMV e PPD revelaram um ambiente térmico efetuadas desconfortável ao trabalhador. proporcionam uma sensação térmica agradável ao Relativamente ao exterior, a concordância de trabalhador. Contudo, dessas medições, 15 foram resultados de PMV e PPD 8 dias, verificou-se ser de também assim classificadas no que diz respeito ao 52,9%, ligeiramente inferior à “avaliação geral” e parâmetro PPD. bastante inferior à avaliação das medições efetuadas Na Tabela 3, apresenta-se a análise da concordância em ambiente interior. Das 15 medições classificadas entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos como conformes, ao nível da sensação térmica do com 35 dias de idade. por no PMV, como exterior desfavoráveis destes aviários ao não Tabela 3 Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com35 dias de idade PPD – 35 dias Geral Interi or Exteri or PMV – 35 dias Conforto térmico Desconforto térmico Total Conforto térmico Desconforto térmico Total Conforto térmico Desconforto térmico Total Teste de Kappa de Cohen Conforto térmico (%) 7(100,0%) 8 (11,8%) 15 (20,0%) 0 4 (7,3%) 4 (7,3%) 7 (100,0%) 4 (30,8%) 11 (55,0%) Desconforto térmico (%) 0 60 (88,2%) 60 (80,0%) 0 51 (92,7%) 51 (92,7%) 0 9 (69,2%) 9 (45,0%) Total (%) 7 (9,3%) 68 (90,7%) 75 (100,0%) 0 55 (100,0%) 55 (100,0%) 7 (35,0%) 13 (65,0%) 20 (100,0%) Teste k=0,583 p<0,001 ____ k=0,612 p=0,003 De uma forma geral, existiu uma boa concordância dias, não houve qualquer medição caraterizada como (58,3%) o que se deve ao facto de, 7 das medições termicamente confortável, para ambos os parâmetros. consideradas adequadas ao nível do PMV, também É ainda de salientar, que relativamente ao parâmetro foram avaliadas pelo parâmetro PPD. Revelou-se, PMV, todas as medições foram avaliadas como portanto, uma sintonia de valores entre os dois desconfortáveis ao trabalhador, naquele ambiente. parâmetros em avaliação (PMV e PPD), ao nível do Quanto ao PPD, das 55 medições realizadas no interior conforto térmico. 88,2% das medições, sendo que destes aviários, 92,7% revelaram um ambiente destas desconfortável para o trabalhador. 68 medições foram consideradas não conformes pelo PMV, 8 foram avaliadas como Perante os resultados dos parâmetros PMV e PPD no confortáveis ao trabalhador, ao nível do PPD. exterior dos aviários de frangos de 35 dias de idade, No que diz respeito às medições realizadas no interior observou-se uma boa concordância dos mesmos, dos aviários destinados a frangos com a idade de 35 concordância esta de 61,2%. Das 20 medições 53 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários efetuadas no exterior destes aviários, as que foram nível do parâmetro PPD, pelo que as restantes, ou seja, classificadas como termicamente confortáveis para os 69,2% apresentaram sintonia entre os parâmetros. trabalhadores ao nível do PMV, também o foram pelo Por último, a Tabela 4 demonstra a concordância entre PPD, perfazendo 35% do total de medições. Das os valores de PMV e PPD em aviários de frangos com medições classificadas como desconfortáveis pelo 85 dias de idade. PMV, 30,8% foram avaliadas como confortáveis ao Tabela 4 Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com 85 dias de idade PPD – 85 dias Interio r Exteri or PMV – 85 dias Geral Conforto térmico Desconforto térmico Total Conforto térmico Desconforto térmico Total Conforto térmico Desconforto térmico Total Teste de Kappa de Cohen Conforto térmico (%) Desconforto térmico (%) Total (%) 21 (100,0%) 22 (56,4%) 43 (71,7%) 15 (100,0%) 14 (93,3%) 29 (96,7%) 6 (100,0%) 8 (33,3%) 14 (46,7%) 0 17 (43,6%) 17 (28,3%) 0 1 (6,7%) 1 (3,3%) 0 16 (66,7%) 16 (53,3%) 21 (35,0%) 39 (65,0%) 60 (100,0%) 15 (50,0%) 15 (50,0%) 30 (100,0%) 6 (20,0%) 24 (80,0%) 30(100,0%) Teste k=0,351 p<0,001 k=0,067 p=0,309 k=0,444 p=0,003 Observou-se uma baixa concordância (35,0%) no que (PMV), mas simultaneamente que menos de 30% dos se refere à avaliação de PMV 85 dias com PPD 85 dias, trabalhadores se encontravam insatisfeitos com o de uma forma geral. Todas as medições avaliadas ambiente térmico a que se encontravam expostos, no como confortáveis no que toca ao PMV, foram local da medição (PPD). Apenas 1 das medições igualmente classificadas pelo PPD. Contudo, nas avaliadas como não conformes relativamente ao seu medições consideradas desconfortáveis relativamente PMV, também ao seu PMV, 56,4% revelaram satisfação por parte dos parâmetro PPD, neste ambiente interior. trabalhadores relativamente ao seu ambiente térmico, Relativamente aos resultados da avaliação de PMV 85 isto é, o PPD revelou valores adequados, estando em dias com PPD 85 dias, no âmbito das medições sintonia apenas os restantes 43,6%, nos quais PMV 85 efetuadas no exterior dos aviários destinados aos dias e PPD 85 dias coincidiram. frangos nesta fase evolutiva, verificou-se uma Do total de medições realizadas no interior destes concordância estatisticamente significativa. Das 30 aviários, 50% corresponderam a medições cuja análise medições realizadas no exterior destes aviários, dos parâmetros PMV e PPD coincidiram, pelo que constatou-se a concordância de resultados a nível de ambos revelaram conforto térmico para o trabalhador. conforto térmico, pelo que das 6 medições conformes Das restantes medições, 93,3% revelaram uma pelo seu PMV, também se encontravam em inadequada sensação térmica por parte do trabalhador concordância pelo parâmetro PPD. Das medições 54 assim foram classificadas pelo RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários realizadas em função do ambiente exterior, verificou- sentido, e os trabalhadores não serem expostos a uma se uma concordância de resultados em termos de alteração desconforto térmico de 66,7%, isto é, das 24 medições trabalhem em ambiente interior ou exterior. que reportavam uma incorreta sensação térmica por Os sinais/sintomas/doenças sentidos frequentemente parte do trabalhador, ou seja, a não conformidade pelos trabalhadores, poderão ser causados pelo relativamente ao PMV, 16 coincidiram com o conforto desconforto térmico a que estes estão sujeitos térmico, igualmente atribuído pelo PPD. aquando da sua exposição no interior ou exterior dos brusca de temperaturas, consoante aviários, assumidos na sua maioria, como um local de DISCUSSÃO trabalho termicamente desconfortável, quer por Perante as informações recolhidas através do temperaturas baixas ou altas. Os sintomas de questionário, constatou-se que apesar de 5 dos exposição a ambientes térmicos quentes podem ser: trabalhadores exercerem as suas tarefas laborais aumento da temperatura superficial da pele, aumento durante 8 horas/dia, e 1 deles durante 10, os da trabalhadores não se encontravam expostos de forma generalizado, tonturas e desmaios, esgotamento e até continuada ao ambiente do interior dos aviários, uma a morte (Sousa, et al., 2005). A destreza manual pode vez que passavam algum tempo a efetuar tarefas no ainda ser uma consequência direta, da perda de água exterior, o que se justificou pela diversidade de tarefas excessiva pelo organismo do trabalhador, ou seja, realizadas pelos mesmos. O trabalhador de aviário tem quando expostos a ambientes quentes, ocorre uma não desidratação, verificando-se uma taxa de sudação permanecendo no ambiente interior do aviário muito elevada (Sá, 1999). A secura dos olhos e da pele, durante toda a jornada de trabalho (Coelho, 2018; advém do facto de o interior dos aviários, por vezes, se Fernandes & Furlaneto, 2004). Relativamente ao tornar como que um edifício doente, por exemplo no vestuário dos trabalhadores, este não tem em atenção caso dos aviários para frangos com 8 dias de idade, cuja a diferença de temperaturas sentidas entre o interior e ventilação é inexistente e a temperatura no interior é o exterior dos aviários, não sendo diferenciado. Dado alta comparativamente à que se sente no exterior que durante a estação de inverno, as temperaturas durante a estação de inverno (Paulino, Oliveira, nesta zona do país são muito baixas, e estando Grieser, & Toledo, 2019; Sanguessuga, 2012). Contudo, expostos também às do interior dos aviários, que são a secura da pele, pode ser igualmente causada pela temperaturas mais elevadas, existirá desconforto exposição a ambientes frios, como acontece aquando térmico aos da realização das tarefas no exterior dos aviários, nesta trabalhadores. De forma a adequar o parâmetro do estação do ano, quando frequentemente se fazem vestuário, seria apropriado a alteração do mesmo ao sentir temperaturas negativas (Paulino, Oliveira, mudar de ambiente, ou modificações ao nível Grieser, & Toledo, 2019; Sanguessuga, 2012). É de estrutural, com o intuito de diminuir o choque térmico referir, de forma particular, a exposição das partes rotina capaz de de tarefas trazer diversificada, consequências 55 temperatura interna, sudação, mal-estar RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários descobertas, como é o caso das mãos e da face (e ainda gateiras destes aviários se encontravam fechadas dos braços, no caso de um dos trabalhadores, que (Coelho, 2018). referiu utilizar camisola de manga curta no seu No que concerne à avaliação de PMV 85 dias com PPD vestuário laboral), que origina um aumento da pressão 85 dias, a concordância de resultados diminuiu – de arterial e uma diminuição ou aumento da frequência uma significativa concordância de 67,1% nos aviários cardíaca, sendo que estes dois efeitos, se traduzem para frangos com 8 dias de idade, para uma num acréscimo do trabalho do coração (Miguel, 2014). considerável concordância de 35,1%, quanto à Analisada a concordância entre os valores de PMV e “avaliação geral” dos mesmos. No ambiente interior PPD em aviários de frangos com 8 dias de idade, existe destes aviários, 50% das medições revelaram conforto uma total sintonia em termos de desconforto térmico térmico para o trabalhador e consequentemente, os para o trabalhador, no interior dos aviários, neste outros 50%, revelaram desconforto térmico. É de período de gestação. O interior dos aviários de frangos assinalar a abertura completa das janelas e da maior neste nível de desenvolvimento será, provavelmente, parte das gateiras, o que durante o inverno não será o das situações mais críticas, em termos de exposição mais indicado para o trabalhador, pelas bruscas ocupacional ao calor. Tal justifica-se, pelas altas correntes de ar que se fazem sentir (Coelho, 2018). temperaturas que se fazem sentir e falta de ventilação, Analisando o desconforto térmico, como forma de pois nesta idade, as janelas e aberturas para o exterior, atuar ao nível da prevenção do mesmo, e da redução estão permanentemente fechadas, o que torna o ou até mesmo eliminação de doenças profissionais, ambiente muito “pesado”. Acresce o facto de ser aquando da sua exposição no exterior, recomenda-se inverno, numa zona fria do país, cuja transição do o uso de vestuário exterior impermeável e corta-vento, exterior para o interior dos aviários, sem qualquer tipo com capuz (pelo menos 50% do calor do corpo, é de cuidado acrescido, certamente resulta em choque perdido através da cabeça e do pescoço), gorro térmico para os trabalhadores (Coelho, 2018). protetor de face, camisa de manga comprida e gola Relativamente à avaliação dos parâmetros PMV 35 alta, de forma a proteger a maior área de pele possível, dias com PPD 35 dias, verificou-se uma significativa meias de lã, calças térmicas ou com forro especial, concordância de resultados. Não houve qualquer botas isolantes ou de couro e luvas anti frio. medição caraterizada como confortavelmente térmica Já no interior dos aviários, torna-se imprescindível que no revela seja usado vestuário com um elevado peso por verdadeiramente o desconforto térmico que se faz superfície, e que pelo menos 90% da superfície sentir. Ainda que mais baixas, as temperaturas nos corporal esteja coberta, dado que o vestuário irá aviários para frangos nesta fase de desenvolvimento, manter, ao longo do tempo de exposição, o equilíbrio são ainda desconfortáveis ao trabalhador, enfatizando das trocas de calor-ambiente, isto para que a o facto de a única ventilação existente se resumir à temperatura superficial do corpo humano, não sofra abertura parcial de algumas das janelas, pelo que as qualquer sobreaquecimento ou sobrearrefecimento interior destes aviários, o que 56 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários (Miguel, 2014). No entanto, no ambiente interior dos segurança do trabalhador, pelo que deverão existir aviários, as medidas corretivas mais eficazes serão, intervalos de recuperação térmica durante as tarefas sem dúvida, a implementação de ventilação e de uma executadas. zona para recuperação térmica, fresca, com maior Salienta-se, para promover a saúde dos trabalhadores, ventilação, para que os trabalhadores se climatizem a importância da ingestão de água ao longo do dia, gradualmente à mudança de temperaturas, durante o bem como de uma alimentação equilibrada e evitar o inverno. Ainda no que diz respeito à ventilação, no consumo de bebidas alcoólicas nas noites que caso dos aviários para frangos de 8 e 85 dias, antecedem uma jornada de trabalho (o álcool ingerido considerando o pé-direito, é de ter em conta que um faz com que aumente ainda mais a necessidade de telhado com grande inclinação, motiva maior ingestão de água), usar roupas limpas na execução das velocidade do ar sobre a cumeeira e, como tarefas laborais (as roupas sujas são menos ventiladas consequência, ocorre uma pressão negativa mais em função do suor, pó e outros produtos presentes) acentuada, sendo o ar mais rapidamente direcionado (Coelho, 2018; Silva & Almeida, 2010). para fora da instalação, o que é desejável (Abreu & Durante a elaboração do estudo, foram encontradas Abreu, 2000). No entanto, a ventilação natural durante algumas limitações, tais como o tamanho reduzido da o inverno, nem sempre poderá garantir que as amostra, tanto no que se refere ao número de aviários condições climatéricas proporcionem uma adequada avaliados, como no que se refere ao número de movimentação do ar. Assim, a aquisição de ventilação trabalhadores. mecânica ou forçada, parece ser a solução mais adequada, visto permitir a filtragem, distribuição CONCLUSÃO uniforme e suficiente do ar no aviário e ser Após a realização deste estudo e do que se observou independente das condições atmosféricas (Abreu & nos aviários, parece existir valorização do bem-estar Abreu, 2000). Para além do compartimento nos animal, mas não da segurança e saúde dos aviários, é sugerido que, para a recuperação térmica trabalhadores. do trabalhador, deva existir outra zona comum a todos É indiscutível o desconforto térmico que se verifica na os trabalhadores, onde estes possam repousar após maior parte das exposições ao calor e ao frio, pela algum tempo de trabalho no exterior, ou no interior. avaliação do índice PMV-PPD. Apenas se poderá dizer Sugere-se, portanto, que haja uma organização do que existe algum conforto térmico para o trabalhador, trabalho, isto é, que sejam primeiramente realizadas nas tarefas realizadas dentro dos aviários para frangos todas as atividades que envolvam exposição ao calor com 85 dias de idade, atendendo ao facto de todas as ou ao frio, no sentido de existir aplicabilidade das medições realizadas no interior dos aviários, para medidas Esta frangos com 8 e 35 dias de idade, revelarem sensações organização do trabalho, não pretende aumentar o térmicas inadequadas. Foi detetada como situação tempo de exposição, mas sim promover a saúde e mais crítica, em termos de desconforto térmico, a corretivas individuais propostas. 57 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários exposição no interior dos aviários destinados aos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS frangos com 8 dias, revelando assim a relação entre o índice de conforto térmico e a fase Abreu, P., & Abreu, V. (2000). Ventilação na avicultura de corte. Concórdia, Brasil: Embrapa. de Almeida, H. (2010). Análise do conforto térmico de edifícios utilizando as abordagens analítica a adaptativa (Dissertação de Mestrado não publicada). Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. desenvolvimento do frango. Na solução de um problema de saúde ocupacional devem ser consideradas, primeiramente, as medidas relativas ao ambiente complementadas pelas que geralmente medidas relativas são Fanger, P. O. (1970). Thermal Comfort: analysis and applications in environmental engineering. Copenhagen: Danish Technical Press. ao trabalhador, assim sendo foram sugeridas medidas Fernandes, F. C., & Furlaneto, A. (2004). Riscos Biológicos em Aviários. Revista Brasileira de Medicina no Trabalho, 2(2), 140-152. construtivas ao nível da ventilação, da existência de uma zona de recuperação térmica e ainda outra zona para descanso do pessoal, após a exposição Hudie, L. A. (2016). Ergonomics of the thermal environment Determination of metabolic rate. Basis for the edition of the standard ISO 8996, 1-14. Retirado de https://www.researchgate.net/profile/Lesley-AnneHudie/publication/306013139_Ergonomics_of_the_th ermal_environment_Determination_of_metabolic_ra te/links/57aa26fc08ae3765c3b4a2b6/Ergonomics-ofthe-thermal-environment-Determination-ofmetabolic-rate.pdf ocupacional ao frio ou ao calor. Quanto às medidas individuais, foi aconselhado o uso de vestuário adequado consoante o local das tarefas – interior ou exterior dos aviários. Contudo, quando falamos sobre equipamentos de proteção individual, é sempre importante lembrar que não basta fornecê-lo, é ISO 7730:2005. (2005). ISO 7730:2005 - Ergonomics of the thermal environment — Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria. International Organization for Standardisation. necessário orientar e informar/formar sobre o seu modo de utilização. Torna-se igualmente útil a realização de estudos semelhantes em diferentes áreas geográficas do país, Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro de 2014, Diário da República n.º 19/2014, Série I, Assembleia da República, Lisboa, Portugal. bem como em estações do ano distintas, de modo a comparar as variações dos parâmetros avaliados no tempo e no espaço, pois espera-se que os resultados Miguel, A. (2014). Manual de Higiene e Segurança no Trabalho (13.ª ed.). Porto: Porto Editora. sejam diferentes de região para região e de época do Minette, L., Silva, E., Souza, A., & Silva, K. (2007). Evaluation of noise, light and heat levels of forest harvesting machines. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, 11(6), 664–667. ano para época do ano. Além dos estudos que permitam avaliar o conforto térmico dos trabalhadores no ambiente interior e Oliveira, A. (2008). Avaliação da Incerteza na Determinação dos Índices de Conforto Térmico PMV e PPD (Tese de Mestrado não publicada). Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. exterior dos locais e postos de trabalho, é essencial a sensibilização dos trabalhadores para a problemática da influência dos fatores individuais e ambientais no conforto térmico, nomeadamente nos Portaria n.º 702/80 de 22 de setembro (1980). Diário da República n.º 219/1980. I Série. Ministérios do comportamentos corretos a adotar. 58 RIIS Revista de Investigação & Inovação em Saúde Conforto térmico em trabalhadores de aviários Silva, T., & Almeida, V. (2010). Influência do Calor sobre a Saúde e desempenho dos trabalhadores. Simpósio Maringarense de Engenharia de Produção. Trabalho, dos Assuntos Sociais, da Agricultura e Pescas e da Indústria e Energia, Lisboa, Portugal. Portaria n.º 53/71 de 03 de fevereiro (1971). Diário da República nº 28/1971. I Série. Ministérios da Economia, das Corporações e Previdência Social e da Saúde e Assistência, Lisboa, Portugal. Sousa, J., Silva, C., Pacheco, E., Moura, M., Araújo, M., & Fabela, S. (2005). Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais em Portugal : Risco Profissional - Factores e Desafios. Gaia: Estudos CPRG Sá, R. (1999). Introdução ao “stress” térmico em ambientes quentes. Tecnometal, 124 Spillere, J., & Furtado, T. (2007). 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