ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO
RIIS vol.4(1), 47-59
CONFORTO TÉRMICO EM TRABALHADORES DE AVIÁRIOS
Thermal comfort in aviary workers
Confort térmico en trabajadores de aviario
Ana Ferreira*, Helder Simões**, João Paulo Figueiredo***, Susana Paixão****, Lúcia Simões Costa*****,
Sílvia Seco******, António Loureiro*******
RESUMO
Enquadramento: podendo existir vulnerabilidade dos trabalhadores avícolas face às temperaturas do interior dos
aviários em comparação com as do exterior é importante analisar a sua exposição ocupacional em termos de conforto
térmico. Objetivos: avaliar o conforto térmico em trabalhadores do setor avícola no ambiente interior e exterior dos
aviários e analisar a sua possível relação com a fase de desenvolvimento do frango. Metodologia: o estudo efetuado foi
observacional, transversal, com uma amostra por conveniência de 6 trabalhadores de 8 aviários. A recolha de dados foi
realizada através de um questionário dirigido a todos os trabalhadores seguida da medição dos valores de Predicted
Mean Vote (PMV) e Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Resultados: em aviários de frangos com 8 dias de idade
verificou-se uma total concordância entre os valores de PMV e PPD, nos de 35 dias uma concordância significativa e nos
de 85 dias uma considerável concordância. Conclusão: existe desconforto térmico nos trabalhadores avaliados,
especialmente nos que trabalham em aviários para frangos com 8 e 35 dias de idade. O desconforto térmico foi pior nos
aviários de frangos com 8 dias, revelando assim a relação entre o índice de conforto térmico e a fase de desenvolvimento
do frango.
Palavras-Chaves: saúde ocupacional; exposição ocupacional; temperatura; avicultura
*PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola
Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento
de Audiologia, Fisioterapia e Saúde Ambiental, Unidade
Científico-Pedagógica
de
Saúde
Ambiental
https://orcid.org/0000-0003-3595-1554 - Contribuição no
artigo: Study conception and design, Data collection, Data
analysis and interpretation, Drafting of the article
**MsC, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra, Escola
Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Departamento
de Audiologia, Fisioterapia e Saúde Ambiental, Unidade
Científico-Pedagógica
de
Saúde
Ambiental
–
http://orcid.org/0000-0002-3412-8462 - Contribuição no
artigo: Study conception and design, Data collection, Data
analysis and interpretation, Drafting of the article
*** PhD, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra,
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra,
Departamento de Ciências de Base, Unidade CientíficoPedagógica de Ciências Médicas, Sociais e Humanas https://orcid.org/0000-0002-9829-1592 - Contribuição no
artigo: Study conception and design, Data analysis and
interpretation, Drafting of the article
****PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra,
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra,
Departamento de Audiologia, Fisioterapia e Saúde
Ambiental, Unidade Científico-Pedagógica de Saúde
Ambiental - https://orcid.org/0000-0002-4548-1894 Contribuição no artigo: Critical revision of the article
***** PhD, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra,
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra,
Departamento de Ciências de Base, Unidade CientíficoPedagógica de Ciências Médicas, Sociais e Humanas https://orcid.org/0000-0003-4796-2429 - Contribuição no
artigo: Data analysis and interpretation, Critical revision of
the article
******MsC, Professora do Instituto Politécnico de Coimbra,
Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental https://orcid.org/0000-0002-3234-8058 Contribuição no
artigo: Critical revision of the article
******* MsC, Professor do Instituto Politécnico de Coimbra,
Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental https://orcid.org/0000-0002-3261-7924 - Contribuição no
artigo: Study conception and design, Study conception and
design, Drafting of the article
Como referenciar:
Ferreira, A., Simões, H., Figueiredo, J.P., Paixão,
S., Costa, L., Seco, S., & Loureiro, A., (2021).
Conforto térmico em trabalhadores de aviários.
Revista de Investigação & Inovação em Saúde.
4(1), 47-59 https://doi.org/10.37914
riis.v4i1.145
Recebido para publicação em: 04/05/2021
Aceite para publicação:22/06/2021
ABSTRACT
Background: as there may be vulnerability of poultry workers to the temperatures
inside the aviaries compared to those outside, it is important to analyze their
occupational exposure in terms of thermal comfort. Objectives: evaluate the thermal
comfort in poultry sector workers in indoor and outdoor environments and analyze
its possible relationship with the chicken developmental stage. Methodology: the
study carried out was observational, cross-sectional, with a convenience sample of 6
workers from 8 aviaries. Data collection was carried out through a questionnaire
addressed to all workers followed by the measurement of Predicted Mean Vote
(PMV) and Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD). Results: in 8-day-old chicken
aviaries there was a complete agreement between the values of PMV and PPD, in the
35-day-old aviaries a significant agreement and in the 85-day-old a considerable
agreement. Conclusion: there is thermal discomfort in the assessed workers,
especially in those who work in aviaries for chickens with 8 and 35 days of age.
Thermal discomfort was worse in 8-day-old chicken aviaries, thus revealing the
relationship between the thermal comfort index and the chicken development stage.
Keywords: occupational health; occupational exposure; temperature; poultry
farming
RESUMEN
Marco contextual: como puede haber vulnerabilidad de los trabajadores avícolas a las
temperaturas dentro de los aviarios en comparación con las del exterior, es importante
analizar su exposición ocupacional en relación al confort térmico. Objetivos: evaluar el confort
térmico en trabajadores del sector avícola en ambientes interiores y exteriores y analizar su
posible relación con la etapa de desarrollo del pollo. Metodología: el estudio realizado fue
observacional, transversal, con una muestra de conveniencia de 6 trabajadores de 8 aviarios.
La recogida de datos se realizó mediante un cuestionario dirigido a todos los trabajadores
seguido de la medición de los valores de Predicted Mean Vote (PMV) y Predicted Percentage
of Dissatisfied (PPD). Resultados: en aviarios de pollos de 8 días hubo una concordancia total
entre los valores de PMV y PPD, en 35 días una concordancia significativa y en 85 días una
concordancia considerable. Conclusión: existe malestar térmico en los trabajadores evaluados,
especialmente aquellos que laboran en aviarios para pollos con 8 y 35 días de edad. El malestar
térmico fue peor en los aviarios de pollos de 8 días, revelando así la relación entre el índice de
confort térmico y la etapa de desarrollo del pollo.
Palabras Claves: salud ocupacional; exposición ocupacional; temperatura; avicultura
Disponível:
https://doi.org/10.37914/riis.v4i1.145
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
satisfação com o ambiente térmico”. A primeira
INTRODUÇÃO
O
período
de
inverno
comporta,
conclusão a que se chega, partindo desta afirmação, é
sempre,
que este é um conceito subjetivo, que varia de
preocupações acrescidas para os produtores de
indivíduo para indivíduo. Assim, é necessário conjugar
frangos em regiões mais frias, sendo necessário estar
inúmeras variáveis de modo a definir o conforto
mais atento ao interior do aviário, em especial no que
térmico associado a um determinado ambiente (Silva,
diz respeito à temperatura (Fernandes & Furlaneto,
2020; Oliveira, 2008). Segundo Fanger (1970),
2004). No entanto, conhecidas as fragilidades das aves
neutralidade térmica é a condição que se pretende
e as temperaturas ideais para o seu desenvolvimento,
atingir, na qual uma pessoa não prefira nem mais calor
tendo em conta a fase de gestação em que se
encontram,
há
vulnerabilidade
também
dos
que
trabalhadores,
investigar
a
quanto
às
nem mais frio, em relação ao ambiente térmico em
que se encontra (Vergara, 2001; Fanger, 1970).
O conforto térmico depende de fatores que
temperaturas do interior dos aviários, em comparação
interferem no trabalho do sistema termorregulador
com as do exterior, principalmente durante esse
humano, são eles: taxa de metabolismo, vestuário,
período do ano (Silva & Almeida, 2010; Oliveira, 2008).
A
promoção
da
saúde
e
segurança
temperatura
destes
humidade
relativa,
temperatura do ar e velocidade do ar. O efeito
trabalhadores deverá ser, também, uma prioridade,
combinado de todos esses fatores, determinará a
pelo que é importante investigar a sua exposição
sensação de conforto ou desconforto térmico
ocupacional em termos de conforto térmico.
embora, por motivo de classificação, os dois primeiros
Assim, este estudo teve como objetivos avaliar
fatores
conforto térmico em trabalhadores do setor avícola
sejam
chamados
de
variáveis
pessoais/individuais e os quatro últimos de variáveis
no ambiente interior e exterior dos aviários e analisar
ambientais (Ndembo, 2018; Gonçalves, 2017).
a sua possível relação com a fase de desenvolvimento
A ISO 7730/05 aplica a avaliação do conforto térmico
do frango.
a ambientes térmicos moderados, apresentando
métodos para prever a sensação térmica geral, bem
ENQUADRAMENTO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
como o grau de desconforto (insatisfação térmica) das
A publicação de normalização e códigos de boas
pessoas expostas a estes ambientes térmicos.
práticas relacionadas com o ambiente térmico, pela
Particularizando,
International Organization for Standartization (ISO) e
estudo
desta
temática
e
a
determinação
e
do PMV e de PPD (Gonçalves, 2017; Oliveira, 2008; ISO
Air-Conditioning Engineers (ASHRAE) veio reforçar a
do
permite
interpretação do conforto térmico, através do cálculo
pela American Society for Heating, refrigeration and
importância
radiante,
7730:2005, 2005).
a
Estudos revelam que na presença de um posto de
obrigatoriedade de a legislar de forma a salvaguardar
trabalho termicamente desconfortável, manifestar-
a saúde do trabalhador (Talaia, 2013).
se-ão
Conforto térmico é definido pela norma ISO 7730/05
nos trabalhadores, consequências como
indisposição e fadiga, diminuindo a eficiência e
como “aquela condição de mente na qual é expressa
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
aumentando os riscos de acidente (Painçal, Nunes, &
Não sendo possível conceber um ambiente comum,
Fernandes, 2018; Minette, Silva, Souza, & Silva, 2007).
em que a totalidade dos seus ocupantes se sinta
Uma das causas possíveis reside nas alterações de
termicamente
temperatura, as quais acarretam um dispêndio
condições para que isso mesmo se aplique à
adicional de esforço biológico para recuperação da
correspondente maioria. Sendo esta uma área em
condição homeotérmica, acentuando-se a sensação
constante desenvolvimento, têm vindo a surgir
de desconforto e fadiga, com consequências negativas
softwares que permitem determinar facilmente os
para a saúde e rendimento dos seus ocupantes
índices PMV e PPD relativos ao nível de conforto
(Almeida, 2010). A organização assume um papel
térmico de um dado ambiente.
preponderante na implementação de pausas laborais
O PMV corresponde a uma estimativa da votação de
para os funcionários, a fim de minimizar os efeitos de
um determinado número de pessoas, relativamente à
fadiga térmica, frequentemente detetados nas
sua sensação térmica do ambiente circundante. Este
avaliações de conforto térmico (Gonçalves, 2017;
índice pode ser determinado a partir do metabolismo,
Silva, 2013).
do
É ainda de salientar a Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro,
(temperatura do ar, temperatura radiante, velocidade
que regulamenta o regime jurídico da promoção da
do ar e humidade relativa). O índice PPD estabelece
segurança e saúde no trabalho, comunicando as
uma previsão quantitativa do número de pessoas
obrigações gerais do empregador, o qual é obrigado a
insatisfeitas (Gonçalves, 2017; Miguel, 2014).
vestuário
confortável,
e
dos
procuram-se
parâmetros
criar
ambientais
assegurar ao trabalhador, condições de segurança e
saúde em todos os aspetos do seu trabalho,
METODOLOGIA
atendendo aos princípios gerais de prevenção:
O estudo efetuado foi observacional e analítico, nível
“assegurar, nos locais de trabalho, que as exposições
III (correlacional), transversal e com um tipo de
a agentes físicos e biológicos e aos fatores de risco
amostragem não probabilístico de conveniência. A
psicossociais não constituem risco para a segurança e
amostra foi constituída por 6 trabalhadores de 8
saúde do trabalhador (Lei n.º 3, 2014; Portaria n.º
aviários de 2 empresas do distrito da Guarda. Dos
702/80, 1980).
aviários, 4 eram de frangos com 8 dias de idade, 1 de
Já o Regulamento Geral de Segurança e Higiene do
frangos com 35 dias e 3 de frangos com 85 dias de
Trabalho nos Estabelecimentos Industriais, Portaria nº
idade.
53, 1971, alterada pela Portaria n.º 702/80, de 22 de
A recolha de dados decorreu em dois momentos,
setembro, estabelece no artigo 24°, quanto à
sendo o primeiro a aplicação de um questionário
temperatura e humidade que: “as condições de
dirigido a todos os trabalhadores e o segundo a
temperatura e humidade dos locais de trabalho
medição dos parâmetros de conforto térmico a que os
devem ser mantidas dentro de limites convenientes
avicultores se encontravam expostos para se
para evitar prejuízos à saúde dos trabalhadores”
determinarem os valores de Predicted Mean Vote
(Portaria n.º 702/80, de 22 de setembro, 1980).
(PMV) e Predicted Percentage of Dissatisfied (PPD).
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
Através do questionário pretendeu-se determinar o
no entanto a cada 50m2 foi realizada uma avaliação.
tipo de vestuário utlizado pelos trabalhadores durante
No exterior dos aviários destinados a frangos com 35
a
aviários;
dias de idade, foram realizadas quatro medições, e
trabalhadores
nos restantes efetuaram-se duas medições no
realização
das
compreender
a
suas
tarefas
perceção
dos
nos
relativamente ao tipo de atividade desempenhada;
exterior.
quais
os
Após a recolha de dados, os mesmos foram tratados
trabalhadores experimentavam e se os mesmos
utilizando o sofware de conforto térmico DeltaLog 10
tendem a agravar nas estações de verão ou de
versão 0.1.5.29 e ainda o software estatístico IBM
inverno.
SPSS versão 27.0.
A avaliação do conforto térmico, foi realizada através
O tipo de vestuário utilizado pelos trabalhadores
do analisador térmico de microclimas Delta Ohm HD
durante a realização das suas tarefas e a sua perceção
32.1,
devidamente
relativa ao tipo de atividade desempenhada são dois
certificado e calibrado. Os parâmetros ambientais
fatores essenciais na utilização do software DeltaLog
avaliados, relativamente ao conforto térmico foram:
10, pelo que o vestuário é um fator individual
velocidade do ar (Var), humidade relativa (Hr),
imprescindível à avaliação do conforto térmico e
temperatura do ar (Ta) e temperatura radiante (Tr).
requerido pelo software, dado influenciar o algoritmo
Foram realizadas várias medições com uma duração
chave ao cálculo do PMV e PPD, através da adição de
15 minutos cada, com amostragens de 15 em 15
um valor com a unidade de medida clo, o qual
segundos.
a
corresponderá à resistência térmica. É, igualmente,
aproximadamente 1,50m de altura, dado esta ser a
importante considerar o tipo de atividade realizada
altura coincidente, com a zona de maior concentração
pelo trabalhador, outro dos fatores individuais que
de calor humano, a zona do peito. É de salientar a
resultará no valor da sua taxa metabólica, valor este
necessidade de aclimatar as sondas do equipamento,
capaz de influenciar significativamente os resultados.
antes da realização de qualquer medição, para que
Assim, o cálculo dos valores de PMV e PPD, baseia-se
não haja qualquer tipo de influência e as sondas se
na combinação entre os parâmetros ambientais e as
ajustem adequadamente às caraterísticas do local de
características
medição. Antes de qualquer medição, foi efetuado um
metabólica). Atendendo ao facto de a ISO 7730/05 ser
processo de aclimatização dos edifícios de 30 minutos.
demasiadamente generalista na atribuição das taxas
A medição das variáveis ambientais foi realizada
metabólicas quanto aos vários tipos de atividades
segundo procedimentos e métodos de medição
profissionais que menciona
apresentados na norma ISO 7730/05.
trabalhadores em questão executam muito mais que
De acordo com o layout dos aviários, os pontos de
uma tarefa, considerou-se sensata a atribuição de taxa
medição foram considerados, de forma a tornar o
metabólica moderada de valor (Hudie, 2016). Trata-se
local o mais representativo possível. O número de
de uma função não legalmente definida, e tanto pelas
medições dependeu das dimensões de cada aviário,
respostas obtidas no questionário, como pela
os
sinais/sintomas/doenças
AM510-1c12
As
2,940He
medições
SA,
foram
que
realizadas
50
individuais
(vestuário
e, visto
e
que
taxa
os
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
variedade de funções desempenhadas, pode-se
mesmos, consoante estes se encontrem conformes ou
concluir que se trata efetivamente de uma profissão
não, com o valor legislado. Relativamente à inferência
com uma taxa metabólica moderada.
estatística foram aplicados o teste de hipótese Kappa
O índice PMV-PPD é recomendado pela ISO 7730/05
de Cohen, com a finalidade de verificar a existência de
para a caraterização de ambientes confortáveis. Os
concordância entre os indicadores em estudo. A
limites a considerar para os valores de PMV e PPD são:
interpretação do teste estatístico foi realizada com
−0,5 < PMV < +0,5 e PPD < 30% . Quando ambas
base num nível de significância de p=0,05 com um
as condições se verificarem, estamos perante um local
intervalo de confiança de 95%. Quando realizado o
de trabalhado termicamente confortável, ou vice-
teste de Kappa de Cohen, os valores de kappa obtidos,
versa (Silva, 2013; Almeida, 2010). Verificados os
foram analisados com base no nível de concordância,
valores de PMV e PPD, é efetuada a análise dos
que lhe é correspondente, como indicado na tabela 1.
Tabela 1
Níveis de concordância para o teste Kappa de Cohen
<0
[0,00 – 0,20]
[0,21 – 0,40]
[0,41 – 0,60]
[0,61 – 0,80]
≥ 0,81
Não há concordância
Desprezável concordância
Baixa concordância
Moderada concordância
Boa concordância
Concordância quase perfeita
necessária num aviário, sendo elas: preparação do
RESULTADOS
pavilhão, receção dos pintos, recria e crescimento dos
Através do questionário, observou-se que a idade
frangos, saída dos frangos para abate, remoção de
média dos 6 trabalhadores (4 do sexo masculino e 2 do
equipamentos e resíduos e lavagem e desinfeção das
sexo feminino) foi de 45,17 ± 11,374 anos, com uma
instalações e equipamentos. Verificou-se, ainda, que a
média de 10,50 ± 4,324 anos de trabalho nas
exposição dos trabalhadores no interior dos aviários
instalações. 83,3% dos trabalhadores exerciam as suas
não ocorreu de forma continuada, pois como
funções durante 8 horas/dia, sendo que apenas 1
efetuavam
trabalhava 10 horas/dia. Para a realização das suas
seu local de trabalho.
tarefas na posição de pé. Os trabalhadores eram
qualquer
também,
trabalhadores indicaram sentir, com frequência, no
aviários, sendo que a maioria desenvolvia as suas
realizavam
passavam,
apresentados os sinais/ sintomas/doenças que os
de forma equitativa pelo interior e exterior dos
pois
tarefas,
bastante tempo no seu exterior. Na figura 1, são
tarefas, os trabalhadores encontravam-se distribuídos
polivalentes,
várias
tarefa
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Suores
Congelação dos membros
Frieiras
Diminuição da sensibilidade táctil
Diminuição da destreza manual
Mal-estar geral
Secura dos olhos e da pele
Tosse
Sensibilidade a odores
Irritação das mucosas
Tonturas
Dores de cabeça
Nº de respostas
0
1
2
3
4
5
6
Figura 1
Sinais/sintomas/doenças reportados pelos trabalhadores
Do total de trabalhadores inquiridos, a maioria referiu
tipo de vestuário no tronco, e os restantes usavam
que os sintomas indicados se tendiam a agravar na
camisola, casaco ou ambos.
estação de inverno, sendo que 4 dos 6 trabalhadores,
De
referiram
conforto/desconforto
não
deixar
de
sentir
os
seguida,
procurou-se
avaliar
térmico,
ao
o
grau
nível
de
dos
sinais/sintomas/doenças quando estavam no exterior
trabalhadores, através da concordância dos valores de
das instalações. Quanto ao isolamento térmico, o
PMV e PPD, relativos aos aviários destinados às
vestuário
dos
diferentes fases de desenvolvimento do frango,
trabalhadores, resumia-se à utilização de camisa de
atendendo ao local da medição. Na Tabela 2, está a
manga comprida, calças e botas. Para além da camisa,
análise da concordância entre os valores de PMV e PPD
metade dos trabalhadores não utilizava mais nenhum
em aviários de frangos com 8 dias de idade.
utilizado
pela
grande
maioria
Tabela 2
Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com 8 dias de idade.
Geral
Exterior
PMV – 8 dias
PPD – 8 dias
Conforto térmico (%)
Desconforto térmico (%)
Total (%)
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Conforto térmico
Desconforto térmico
15 (100,0%)
10 (15,4%)
25 (31,3%)
15 (100,0%)
10 (40,0%)
0
55 (84,6%)
55 (68,8%)
0
15 (60,0%)
15 (18,8%)
65 (81,3%)
80 (100,0%)
15 (37,5%)
25 (62,5%)
Total
25 (62,5%)
15 (37,5%)
40 (100,0%)
Teste
k=0,671
p<0,001
k=0,529
p<0,001
Teste de Kappa de Cohen
Observou-se uma boa concordância de resultados
avaliações identificadas por PMV como confortáveis,
(67,1%), no que diz respeito à avaliação de PMV 8 dias
foram igualmente classificadas ao nível do parâmetro
com PPD 8 dias, de uma forma geral, em que das 15
de PPD. A concordância ao nível do desconforto
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
térmico foi de 84,6%. Particularizando, no interior de
trabalhador, ou seja, ao nível do PMV, também foram
um aviário para frangos com 8 dias de idade, verificou-
assim avaliadas pelo PPD. No que se refere aos valores
se uma significativa concordância, o que se resume
atribuídos
numa sintonia total dos valores de PMV e PPD, isto é,
trabalhador, verificou-se que, 25 das medições
o PMV e PPD revelaram um ambiente térmico
efetuadas
desconfortável ao trabalhador.
proporcionam uma sensação térmica agradável ao
Relativamente ao exterior, a concordância de
trabalhador. Contudo, dessas medições, 15 foram
resultados de PMV e PPD 8 dias, verificou-se ser de
também assim classificadas no que diz respeito ao
52,9%, ligeiramente inferior à “avaliação geral” e
parâmetro PPD.
bastante inferior à avaliação das medições efetuadas
Na Tabela 3, apresenta-se a análise da concordância
em ambiente interior. Das 15 medições classificadas
entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos
como conformes, ao nível da sensação térmica do
com 35 dias de idade.
por
no
PMV,
como
exterior
desfavoráveis
destes
aviários
ao
não
Tabela 3
Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com35 dias de idade
PPD – 35 dias
Geral
Interi
or
Exteri
or
PMV – 35 dias
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Teste de Kappa de Cohen
Conforto térmico (%)
7(100,0%)
8 (11,8%)
15 (20,0%)
0
4 (7,3%)
4 (7,3%)
7 (100,0%)
4 (30,8%)
11 (55,0%)
Desconforto térmico (%)
0
60 (88,2%)
60 (80,0%)
0
51 (92,7%)
51 (92,7%)
0
9 (69,2%)
9 (45,0%)
Total (%)
7 (9,3%)
68 (90,7%)
75 (100,0%)
0
55 (100,0%)
55 (100,0%)
7 (35,0%)
13 (65,0%)
20 (100,0%)
Teste
k=0,583
p<0,001
____
k=0,612
p=0,003
De uma forma geral, existiu uma boa concordância
dias, não houve qualquer medição caraterizada como
(58,3%) o que se deve ao facto de, 7 das medições
termicamente confortável, para ambos os parâmetros.
consideradas adequadas ao nível do PMV, também
É ainda de salientar, que relativamente ao parâmetro
foram avaliadas pelo parâmetro PPD. Revelou-se,
PMV, todas as medições foram avaliadas como
portanto, uma sintonia de valores entre os dois
desconfortáveis ao trabalhador, naquele ambiente.
parâmetros em avaliação (PMV e PPD), ao nível do
Quanto ao PPD, das 55 medições realizadas no interior
conforto térmico. 88,2% das medições, sendo que
destes aviários, 92,7% revelaram um ambiente
destas
desconfortável para o trabalhador.
68
medições
foram
consideradas
não
conformes pelo PMV, 8 foram avaliadas como
Perante os resultados dos parâmetros PMV e PPD no
confortáveis ao trabalhador, ao nível do PPD.
exterior dos aviários de frangos de 35 dias de idade,
No que diz respeito às medições realizadas no interior
observou-se uma boa concordância dos mesmos,
dos aviários destinados a frangos com a idade de 35
concordância esta de 61,2%. Das 20 medições
53
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
efetuadas no exterior destes aviários, as que foram
nível do parâmetro PPD, pelo que as restantes, ou seja,
classificadas como termicamente confortáveis para os
69,2% apresentaram sintonia entre os parâmetros.
trabalhadores ao nível do PMV, também o foram pelo
Por último, a Tabela 4 demonstra a concordância entre
PPD, perfazendo 35% do total de medições. Das
os valores de PMV e PPD em aviários de frangos com
medições classificadas como desconfortáveis pelo
85 dias de idade.
PMV, 30,8% foram avaliadas como confortáveis ao
Tabela 4
Concordância entre valores de PMV e PPD em aviários de frangos com 85 dias de idade
PPD – 85 dias
Interio
r
Exteri
or
PMV – 85 dias
Geral
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Conforto térmico
Desconforto térmico
Total
Teste de Kappa de Cohen
Conforto térmico (%)
Desconforto térmico (%)
Total (%)
21 (100,0%)
22 (56,4%)
43 (71,7%)
15 (100,0%)
14 (93,3%)
29 (96,7%)
6 (100,0%)
8 (33,3%)
14 (46,7%)
0
17 (43,6%)
17 (28,3%)
0
1 (6,7%)
1 (3,3%)
0
16 (66,7%)
16 (53,3%)
21 (35,0%)
39 (65,0%)
60 (100,0%)
15 (50,0%)
15 (50,0%)
30 (100,0%)
6 (20,0%)
24 (80,0%)
30(100,0%)
Teste
k=0,351
p<0,001
k=0,067
p=0,309
k=0,444
p=0,003
Observou-se uma baixa concordância (35,0%) no que
(PMV), mas simultaneamente que menos de 30% dos
se refere à avaliação de PMV 85 dias com PPD 85 dias,
trabalhadores se encontravam insatisfeitos com o
de uma forma geral. Todas as medições avaliadas
ambiente térmico a que se encontravam expostos, no
como confortáveis no que toca ao PMV, foram
local da medição (PPD). Apenas 1 das medições
igualmente classificadas pelo PPD. Contudo, nas
avaliadas como não conformes relativamente ao seu
medições consideradas desconfortáveis relativamente
PMV, também
ao seu PMV, 56,4% revelaram satisfação por parte dos
parâmetro PPD, neste ambiente interior.
trabalhadores relativamente ao seu ambiente térmico,
Relativamente aos resultados da avaliação de PMV 85
isto é, o PPD revelou valores adequados, estando em
dias com PPD 85 dias, no âmbito das medições
sintonia apenas os restantes 43,6%, nos quais PMV 85
efetuadas no exterior dos aviários destinados aos
dias e PPD 85 dias coincidiram.
frangos nesta fase evolutiva, verificou-se uma
Do total de medições realizadas no interior destes
concordância estatisticamente significativa. Das 30
aviários, 50% corresponderam a medições cuja análise
medições realizadas no exterior destes aviários,
dos parâmetros PMV e PPD coincidiram, pelo que
constatou-se a concordância de resultados a nível de
ambos revelaram conforto térmico para o trabalhador.
conforto térmico, pelo que das 6 medições conformes
Das restantes medições, 93,3% revelaram uma
pelo seu PMV, também se encontravam em
inadequada sensação térmica por parte do trabalhador
concordância pelo parâmetro PPD. Das medições
54
assim foram classificadas pelo
RIIS
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
realizadas em função do ambiente exterior, verificou-
sentido, e os trabalhadores não serem expostos a uma
se uma concordância de resultados em termos de
alteração
desconforto térmico de 66,7%, isto é, das 24 medições
trabalhem em ambiente interior ou exterior.
que reportavam uma incorreta sensação térmica por
Os sinais/sintomas/doenças sentidos frequentemente
parte do trabalhador, ou seja, a não conformidade
pelos trabalhadores, poderão ser causados pelo
relativamente ao PMV, 16 coincidiram com o conforto
desconforto térmico a que estes estão sujeitos
térmico, igualmente atribuído pelo PPD.
aquando da sua exposição no interior ou exterior dos
brusca
de
temperaturas,
consoante
aviários, assumidos na sua maioria, como um local de
DISCUSSÃO
trabalho termicamente desconfortável, quer por
Perante as informações recolhidas através do
temperaturas baixas ou altas. Os sintomas de
questionário, constatou-se que apesar de 5 dos
exposição a ambientes térmicos quentes podem ser:
trabalhadores exercerem as suas tarefas laborais
aumento da temperatura superficial da pele, aumento
durante 8 horas/dia, e 1 deles durante 10, os
da
trabalhadores não se encontravam expostos de forma
generalizado, tonturas e desmaios, esgotamento e até
continuada ao ambiente do interior dos aviários, uma
a morte (Sousa, et al., 2005). A destreza manual pode
vez que passavam algum tempo a efetuar tarefas no
ainda ser uma consequência direta, da perda de água
exterior, o que se justificou pela diversidade de tarefas
excessiva pelo organismo do trabalhador, ou seja,
realizadas pelos mesmos. O trabalhador de aviário tem
quando expostos a ambientes quentes, ocorre
uma
não
desidratação, verificando-se uma taxa de sudação
permanecendo no ambiente interior do aviário
muito elevada (Sá, 1999). A secura dos olhos e da pele,
durante toda a jornada de trabalho (Coelho, 2018;
advém do facto de o interior dos aviários, por vezes, se
Fernandes & Furlaneto, 2004). Relativamente ao
tornar como que um edifício doente, por exemplo no
vestuário dos trabalhadores, este não tem em atenção
caso dos aviários para frangos com 8 dias de idade, cuja
a diferença de temperaturas sentidas entre o interior e
ventilação é inexistente e a temperatura no interior é
o exterior dos aviários, não sendo diferenciado. Dado
alta comparativamente à que se sente no exterior
que durante a estação de inverno, as temperaturas
durante a estação de inverno (Paulino, Oliveira,
nesta zona do país são muito baixas, e estando
Grieser, & Toledo, 2019; Sanguessuga, 2012). Contudo,
expostos também às do interior dos aviários, que são
a secura da pele, pode ser igualmente causada pela
temperaturas mais elevadas, existirá desconforto
exposição a ambientes frios, como acontece aquando
térmico
aos
da realização das tarefas no exterior dos aviários, nesta
trabalhadores. De forma a adequar o parâmetro do
estação do ano, quando frequentemente se fazem
vestuário, seria apropriado a alteração do mesmo ao
sentir temperaturas negativas (Paulino, Oliveira,
mudar de ambiente, ou modificações ao nível
Grieser, & Toledo, 2019; Sanguessuga, 2012). É de
estrutural, com o intuito de diminuir o choque térmico
referir, de forma particular, a exposição das partes
rotina
capaz
de
de
tarefas
trazer
diversificada,
consequências
55
temperatura
interna,
sudação,
mal-estar
RIIS
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
descobertas, como é o caso das mãos e da face (e ainda
gateiras destes aviários se encontravam fechadas
dos braços, no caso de um dos trabalhadores, que
(Coelho, 2018).
referiu utilizar camisola de manga curta no seu
No que concerne à avaliação de PMV 85 dias com PPD
vestuário laboral), que origina um aumento da pressão
85 dias, a concordância de resultados diminuiu – de
arterial e uma diminuição ou aumento da frequência
uma significativa concordância de 67,1% nos aviários
cardíaca, sendo que estes dois efeitos, se traduzem
para frangos com 8 dias de idade, para uma
num acréscimo do trabalho do coração (Miguel, 2014).
considerável concordância de 35,1%, quanto à
Analisada a concordância entre os valores de PMV e
“avaliação geral” dos mesmos. No ambiente interior
PPD em aviários de frangos com 8 dias de idade, existe
destes aviários, 50% das medições revelaram conforto
uma total sintonia em termos de desconforto térmico
térmico para o trabalhador e consequentemente, os
para o trabalhador, no interior dos aviários, neste
outros 50%, revelaram desconforto térmico. É de
período de gestação. O interior dos aviários de frangos
assinalar a abertura completa das janelas e da maior
neste nível de desenvolvimento será, provavelmente,
parte das gateiras, o que durante o inverno não será o
das situações mais críticas, em termos de exposição
mais indicado para o trabalhador, pelas bruscas
ocupacional ao calor. Tal justifica-se, pelas altas
correntes de ar que se fazem sentir (Coelho, 2018).
temperaturas que se fazem sentir e falta de ventilação,
Analisando o desconforto térmico, como forma de
pois nesta idade, as janelas e aberturas para o exterior,
atuar ao nível da prevenção do mesmo, e da redução
estão permanentemente fechadas, o que torna o
ou até mesmo eliminação de doenças profissionais,
ambiente muito “pesado”. Acresce o facto de ser
aquando da sua exposição no exterior, recomenda-se
inverno, numa zona fria do país, cuja transição do
o uso de vestuário exterior impermeável e corta-vento,
exterior para o interior dos aviários, sem qualquer tipo
com capuz (pelo menos 50% do calor do corpo, é
de cuidado acrescido, certamente resulta em choque
perdido através da cabeça e do pescoço), gorro
térmico para os trabalhadores (Coelho, 2018).
protetor de face, camisa de manga comprida e gola
Relativamente à avaliação dos parâmetros PMV 35
alta, de forma a proteger a maior área de pele possível,
dias com PPD 35 dias, verificou-se uma significativa
meias de lã, calças térmicas ou com forro especial,
concordância de resultados. Não houve qualquer
botas isolantes ou de couro e luvas anti frio.
medição caraterizada como confortavelmente térmica
Já no interior dos aviários, torna-se imprescindível que
no
revela
seja usado vestuário com um elevado peso por
verdadeiramente o desconforto térmico que se faz
superfície, e que pelo menos 90% da superfície
sentir. Ainda que mais baixas, as temperaturas nos
corporal esteja coberta, dado que o vestuário irá
aviários para frangos nesta fase de desenvolvimento,
manter, ao longo do tempo de exposição, o equilíbrio
são ainda desconfortáveis ao trabalhador, enfatizando
das trocas de calor-ambiente, isto para que a
o facto de a única ventilação existente se resumir à
temperatura superficial do corpo humano, não sofra
abertura parcial de algumas das janelas, pelo que as
qualquer sobreaquecimento ou sobrearrefecimento
interior
destes
aviários,
o
que
56
RIIS
Revista de Investigação & Inovação em Saúde
Conforto térmico em trabalhadores de aviários
(Miguel, 2014). No entanto, no ambiente interior dos
segurança do trabalhador, pelo que deverão existir
aviários, as medidas corretivas mais eficazes serão,
intervalos de recuperação térmica durante as tarefas
sem dúvida, a implementação de ventilação e de uma
executadas.
zona para recuperação térmica, fresca, com maior
Salienta-se, para promover a saúde dos trabalhadores,
ventilação, para que os trabalhadores se climatizem
a importância da ingestão de água ao longo do dia,
gradualmente à mudança de temperaturas, durante o
bem como de uma alimentação equilibrada e evitar o
inverno. Ainda no que diz respeito à ventilação, no
consumo de bebidas alcoólicas nas noites que
caso dos aviários para frangos de 8 e 85 dias,
antecedem uma jornada de trabalho (o álcool ingerido
considerando o pé-direito, é de ter em conta que um
faz com que aumente ainda mais a necessidade de
telhado com grande inclinação, motiva maior
ingestão de água), usar roupas limpas na execução das
velocidade do ar sobre a cumeeira e, como
tarefas laborais (as roupas sujas são menos ventiladas
consequência, ocorre uma pressão negativa mais
em função do suor, pó e outros produtos presentes)
acentuada, sendo o ar mais rapidamente direcionado
(Coelho, 2018; Silva & Almeida, 2010).
para fora da instalação, o que é desejável (Abreu &
Durante a elaboração do estudo, foram encontradas
Abreu, 2000). No entanto, a ventilação natural durante
algumas limitações, tais como o tamanho reduzido da
o inverno, nem sempre poderá garantir que as
amostra, tanto no que se refere ao número de aviários
condições climatéricas proporcionem uma adequada
avaliados, como no que se refere ao número de
movimentação do ar. Assim, a aquisição de ventilação
trabalhadores.
mecânica ou forçada, parece ser a solução mais
adequada, visto permitir a filtragem, distribuição
CONCLUSÃO
uniforme e suficiente do ar no aviário e ser
Após a realização deste estudo e do que se observou
independente das condições atmosféricas (Abreu &
nos aviários, parece existir valorização do bem-estar
Abreu, 2000). Para além do compartimento nos
animal, mas não da segurança e saúde dos
aviários, é sugerido que, para a recuperação térmica
trabalhadores.
do trabalhador, deva existir outra zona comum a todos
É indiscutível o desconforto térmico que se verifica na
os trabalhadores, onde estes possam repousar após
maior parte das exposições ao calor e ao frio, pela
algum tempo de trabalho no exterior, ou no interior.
avaliação do índice PMV-PPD. Apenas se poderá dizer
Sugere-se, portanto, que haja uma organização do
que existe algum conforto térmico para o trabalhador,
trabalho, isto é, que sejam primeiramente realizadas
nas tarefas realizadas dentro dos aviários para frangos
todas as atividades que envolvam exposição ao calor
com 85 dias de idade, atendendo ao facto de todas as
ou ao frio, no sentido de existir aplicabilidade das
medições realizadas no interior dos aviários, para
medidas
Esta
frangos com 8 e 35 dias de idade, revelarem sensações
organização do trabalho, não pretende aumentar o
térmicas inadequadas. Foi detetada como situação
tempo de exposição, mas sim promover a saúde e
mais crítica, em termos de desconforto térmico, a
corretivas
individuais
propostas.
57
RIIS
Revista de Investigação & Inovação em Saúde
Conforto térmico em trabalhadores de aviários
exposição no interior dos aviários destinados aos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
frangos com 8 dias, revelando assim a relação entre o
índice
de
conforto
térmico
e
a
fase
Abreu, P., & Abreu, V. (2000). Ventilação na avicultura
de corte. Concórdia, Brasil: Embrapa.
de
Almeida, H. (2010). Análise do conforto térmico de
edifícios utilizando as abordagens analítica a
adaptativa (Dissertação de Mestrado não publicada).
Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa,
Lisboa, Portugal.
desenvolvimento do frango.
Na solução de um problema de saúde ocupacional
devem ser consideradas, primeiramente, as medidas
relativas
ao
ambiente
complementadas
pelas
que
geralmente
medidas
relativas
são
Fanger, P. O. (1970). Thermal Comfort: analysis and
applications
in
environmental
engineering.
Copenhagen: Danish Technical Press.
ao
trabalhador, assim sendo foram sugeridas medidas
Fernandes, F. C., & Furlaneto, A. (2004). Riscos
Biológicos em Aviários. Revista Brasileira de Medicina
no Trabalho, 2(2), 140-152.
construtivas ao nível da ventilação, da existência de
uma zona de recuperação térmica e ainda outra zona
para descanso do pessoal, após a exposição
Hudie, L. A. (2016). Ergonomics of the thermal
environment Determination of metabolic rate. Basis for
the edition of the standard ISO 8996, 1-14. Retirado de
https://www.researchgate.net/profile/Lesley-AnneHudie/publication/306013139_Ergonomics_of_the_th
ermal_environment_Determination_of_metabolic_ra
te/links/57aa26fc08ae3765c3b4a2b6/Ergonomics-ofthe-thermal-environment-Determination-ofmetabolic-rate.pdf
ocupacional ao frio ou ao calor. Quanto às medidas
individuais, foi aconselhado o uso de vestuário
adequado consoante o local das tarefas – interior ou
exterior dos aviários. Contudo, quando falamos sobre
equipamentos de proteção individual, é sempre
importante lembrar que não basta fornecê-lo, é
ISO 7730:2005. (2005). ISO 7730:2005 - Ergonomics of
the thermal environment — Analytical determination
and interpretation of thermal comfort using calculation
of the PMV and PPD indices and local thermal comfort
criteria.
International
Organization
for
Standardisation.
necessário orientar e informar/formar sobre o seu
modo de utilização.
Torna-se igualmente útil a realização de estudos
semelhantes em diferentes áreas geográficas do país,
Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro de 2014, Diário da
República n.º 19/2014, Série I, Assembleia da
República, Lisboa, Portugal.
bem como em estações do ano distintas, de modo a
comparar as variações dos parâmetros avaliados no
tempo e no espaço, pois espera-se que os resultados
Miguel, A. (2014). Manual de Higiene e Segurança no
Trabalho (13.ª ed.). Porto: Porto Editora.
sejam diferentes de região para região e de época do
Minette, L., Silva, E., Souza, A., & Silva, K. (2007).
Evaluation of noise, light and heat levels of forest
harvesting machines. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental, 11(6), 664–667.
ano para época do ano.
Além dos estudos que permitam avaliar o conforto
térmico dos trabalhadores no ambiente interior e
Oliveira, A. (2008). Avaliação da Incerteza na
Determinação dos Índices de Conforto Térmico PMV e
PPD (Tese de Mestrado não publicada). Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra,
Coimbra, Portugal.
exterior dos locais e postos de trabalho, é essencial a
sensibilização dos trabalhadores para a problemática
da influência dos fatores individuais e ambientais no
conforto
térmico,
nomeadamente
nos
Portaria n.º 702/80 de 22 de setembro (1980). Diário
da República n.º 219/1980. I Série. Ministérios do
comportamentos corretos a adotar.
58
RIIS
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Conforto térmico em trabalhadores de aviários
Silva, T., & Almeida, V. (2010). Influência do Calor sobre
a Saúde e desempenho dos trabalhadores. Simpósio
Maringarense de Engenharia de Produção.
Trabalho, dos Assuntos Sociais, da Agricultura e Pescas
e da Indústria e Energia, Lisboa, Portugal.
Portaria n.º 53/71 de 03 de fevereiro (1971). Diário da
República nº 28/1971. I Série.
Ministérios da
Economia, das Corporações e Previdência Social e da
Saúde e Assistência, Lisboa, Portugal.
Sousa, J., Silva, C., Pacheco, E., Moura, M., Araújo, M.,
& Fabela, S. (2005). Acidentes de Trabalho e Doenças
Profissionais em Portugal : Risco Profissional - Factores
e Desafios. Gaia: Estudos CPRG
Sá, R. (1999). Introdução ao “stress” térmico em
ambientes quentes. Tecnometal, 124
Spillere, J., & Furtado, T. (2007). Estresse ocupacional
causado pelo calor (Mongrafia para obtenção de título
de especialista), Universidade do Extrema Sul
Catarinense, Criciúma, Brasil.
Sanguessuga, M. (Abril de 2012). Síndroma dos
Edifícios Doentes: Estudo da qualidade do ar interior e
despiste da eventual existência de SED entre a
população do edifício “E” de um estabelecimento de
ensino superior (Dissertação de Mestrado). Escola
Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Instituto
Politécnico de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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https://www.uc.pt/fluc/depgeo/Publicacoes/livro_ho
menagem_FRebelo/555_567
Silva, P. (2013). Estudo do Conforto Térmico numa
Lavandaria/Engomadoria.
Setúbal:
Instituto
Politécnico de Setúbal.
Vergara, L. (2001). Análise das condições de conforto
térmico de trabalhadores da unidade de terapia
intensiva do Hospital Universitário de Florianópolis.
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina
59
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Revista de Investigação & Inovação em Saúde