O espectro do som como
ferramenta de análise fílmica
The spectrum of sound as a film analysis tool
El espectro del sonido como herramienta de
análisis cinematográfico
Débora Opolski
Universidade Federal do Paraná
E-mail:
[email protected]
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7784-3626
Rodrigo Carreiro
Universidade Federal de Pernambuco
E-mail:
[email protected]
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3087-9557
RESUMO:
Este artigo tem o objetivo de apresentar a análise espectral sonora como uma ferramenta
visual consistente para o desenvolvimento de abordagens metodológicas centradas na
análise do som. Considerando a complexidade da trilha sonora, a transposição das
informações sonoras para o meio visual torna possível o estudo minucioso do som, sem
perder de perspectiva a totalidade da trilha sonora ou sua relação com a imagem.
A precisão e o alto grau de detalhes parecem constituir vantagens para esse tipo de
análise, realizadas com gráficos tridimensionais gerados por softwares como o iZotope RX,
denominados espectrogramas. Explorando três estudos de casos, o texto busca explicar
como as análises espectrais permitem que percepções subjetivas do analista sejam
confirmadas de modo inequívoco.
Palavras-chave: Espectrograma. iZotope RX. Análise espectral. Estudos do som. Análise
fílmica.
OPOLSKI, Débora; CARREIRO, Rodrigo. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v. 12, n. 24, jan-abr. 2022
Disponível em <https://doi.org/10.35699/2237-5864.2022.36118>
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ABSTRACT:
This article aims to present sound spectral analysis as a consistent visual tool for the
creation of new methodological approaches focused on sound analysis. Considering the
complexity of the soundtrack, the transposition of sound information to the visual medium
makes it possible to study the sound in detail, without losing perspective on the totality of
the soundtrack or its relationship with the image. The precision and high degree of detail
seem to constitute advantages for this type of analysis, performed with three-dimensional
graphics generated by software such as iZotope RX, called spectrograms. Exploring three
case studies, the paper seeks to explain how spectral analysis allows the analyst's
subjective perceptions to be unambiguously confirmed.
Keywords: Spectrogram. iZotope RX. Spectral analysis. Sound studies. Film analysis.
RESUMEN:
Este artículo pretende presentar el análisis espectral sonoro como una herramienta visual
consistente para la creación de nuevos enfoques metodológicos enfocados al análisis del
sonido. Teniendo en cuenta la complejidad de la banda sonora, la transposición de la
información sonora al medio visual permite estudiar con detenimiento el sonido, sin
perder la perspectiva de toda la banda sonora y su relación con la imagen. La precisión y el
alto grado de detalle parecen constituir ventajas de este tipo de análisis, realizados con
gráficos tridimensionales generados por software como iZotope RX, llamados
espectrogramas. Explorando tres casos de estudio, el texto busca explicar cómo los análisis
espectrales permiten confirmar inequívocamente las percepciones subjetivas del analista.
Palabras clave: Espectrograma. iZotope RX. Análisis espectral. Estudios de sonido. Análisis de
películas.
Artigo recebido em: 07/09/2021
Artigo aprovado em: 03/03/2022
Introdução
Ao buscar ferramentas que propiciam a compreensão da complexidade da trilha sonora, o espectrograma aparece como possibilidade, como forma gráfica útil para analisar sons complexos, sobre
os quais a compreensão dos parâmetros formadores do som não pode ser feita apenas pela análise
OPOLSKI, Débora; CARREIRO, Rodrigo. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica
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auditiva da onda sonora. A análise espectral fornece informações sobre os parâmetros de tempo,
frequência e intensidade, de forma tridimensional. Mais importante que isso: é uma ferramenta que
permite “prender” ou “pausar” o som – uma informação expressiva que se movimenta no tempo –
em uma representação visual que permite realização da análise em um nível de minúcia que, há
poucos anos, era tecnicamente inviável.
Neste artigo, propomos utilizar essa ferramenta, que permite a visualização do som como uma
forma de expandir e reeducar a nossa percepção auditiva e a nossa escuta, como alicerce epistemológico de um modelo de audição analítica. O objetivo final é a experiência audiovisual, ou seja, com
o espectrograma, não estamos simplesmente tentando transformar a matéria-prima sonora em
algo visual; estamos propondo uma forma de apoio visível aos olhos para auxiliar na compreensão
do aspecto sonoro (e, portanto, auditivo) do audiovisual.
A partir do momento em que colocamos o som como elemento expressivo central para uma
proposta de análise fílmica, se torna necessária a preocupação com a fidelidade do som que
estamos analisando. Essa fidelidade está relacionada com a relação entre as características técnicas
do som que utilizamos na análise (quantidade de amostras por segundo, número de bits de informação de cada amostra, codec de compressão utilizado para gravação na mídia utilizada etc.) e a
organização do conjunto de sons mixado pelos profissionais que realizaram o trabalho criativo; a
relação da trilha sonora com as mais diversas formas de apreciação que os espectadores experimentam ao assistir aos produtos audiovisuais nas mais variadas plataformas e mídias escapa aos
objetivos deste trabalho.
O que nos interessa, portanto, é analisar e determinar o nível de eficiência que os espectrogramas
possuem no estudo do processo de criação que está por trás da obra de arte, bem como as relações entre este processo criativo e o resultado final. O estabelecimento de parâmetros para a
análise da trilha sonora envolve tantas questões que seria possível usar toda a extensão de um
artigo acadêmico apenas discorrendo sobre alguns quesitos básicos que precisam ser considerados
para que o som seja analisado a partir dos parâmetros corretos, sem distorções ocorridas nos
momentos da escuta e/ou da reprodução sonora.
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PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v. 12, n. 24, jan-abr. 2022
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Por enquanto, vamos apenas esclarecer o que estabelecemos como critério para nossa proposta de
metodologia de análise sonora: todos os filmes citados ao longo do texto tiveram o áudio exami nado sempre em formato estéreo, gravado em tempo real, cuja fonte foram as plataformas de streaming Netflix e Amazon Prime Video, através da placa de som virtual Soundflower, no software
Audacity. Após a gravação, os áudios foram exportados em formato WAV. A descrição do processo
de obtenção da trilha sonora dos filmes é fundamental, porque garante que todas as análises serão
feitas a partir de um mesmo procedimento técnico. Ao mesmo tempo, garantimos ainda que as
fontes de origem das trilhas sonoras armazenam e reproduzem os sons com a devida autorização
dos mixadores e do realizador de cada filme. Assim, temos a garantia de estar trabalhando com
objetos sonoros originais, que mantêm as características principais desejadas pelos criadores, e que
também podem ser comparados entre si.
A partir desta introdução, dividimos o artigo em seis seções, além das considerações finais. A
segunda seção pontua rapidamente algumas questões sobre a análise fílmica enquanto disciplina
acadêmica; a terceira revisa livros e textos que discutem modelos de análise fílmica de materiais
sonoros. A quarta seção fala sobre os parâmetros formadores do som com objetivo de demonstrar
que tipo de resultado se espera de um método de análise fílmica que tome o som como centro
focal; a quinta apresenta o software iZotope RX e as imagens espectrais que ele é capaz de gerar, e
que servirão como matéria-prima do método de análise proposto, que será posto à prova na seção
seguinte. Por fim, tentaremos demonstrar nas considerações finais algumas vantagens do método
que propomos.
Notas sobre a análise fílmica
Desde os anos 1960, quando a análise fílmica começou a ganhar força dentro dos estudos de
cinema (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 1994), a questão das metodologias utilizadas para examinar produções audiovisuais está envolta em certo grau de polêmica. Seria a análise fílmica uma disciplina
autônoma, como sugere Fernão Ramos (2010)? Ou a discussão da dimensão estilística/narrativa do
audiovisual apenas serviria de matéria-prima para pesquisas que envolvem pontos focais mais
amplos, relacionados à teoria e à história do cinema? Autores como Francis Vanoye e Anne-GoliotLéte (1994), Jacques Aumont e Michel Marie (2004), David Bordwell e Kristin Thompson (2014)
debatem essa questão com frequência, mas não chegam a uma conclusão única, tampouco defini-
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tiva. Há, decerto, uma tendência crescente entre os pesquisadores de cinema em admitir que a
análise fílmica sustenta, como protagonista ou coadjuvante, a maioria das pesquisas mais recentes
relacionadas ao audiovisual (BORDWELL, 2013), mas a ambiguidade se mantém.
No Brasil, de fato, a inserção da análise fílmica nos estudos do audiovisual tende a ser ainda mais
complexa, já que este campo de estudos está inserido na área acadêmica denominada Comunicação e Informação (e não na área de Artes, como ocorre em muitos outros países). Embora essa
singularidade possa parecer pouco importante, ela, na verdade, afeta fortemente a abordagem dos
pesquisadores, pois esta inserção pressupõe "uma ênfase maior das pesquisas em torno de questões midiáticas e menor nas investigações sobre aspectos narrativos, estilísticos, visuais e sonoros"
(ALVIM; CARREIRO, 2016, p. 176).
Apesar da inserção dos estudos de Cinema na área de Comunicação, a sistematização de métodos
de análise fílmica mais precisos e detalhados tem sido tema pouco abordado em livros e artigos
publicados em língua portuguesa. Carreiro e Alvim (2016) constatam que, nos compêndios dedicados às metodologias de pesquisa na área de Comunicação, a análise fílmica tem recebido pouca
(ou quase nenhuma) atenção. O compêndio Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação, de
Antônio Barros e Jorge Duarte (2005), dedica apenas um capítulo à análise fílmica; e o capítulo
deixa de fora a análise do som para focalizar, de forma vaga e imprecisa, modos de examinar a
banda imagética.
Cabe aqui uma pausa para falar sobre o conceito de trilha sonora. Compreendemos a trilha sonora
como todo o conjunto de sons do audiovisual, que inclui os diálogos, os efeitos sonoros nas suas
mais variadas categorias e a música. Os diálogos são as falas dos personagens, ou seja, são as vozes,
as sonoridades das falas que os personagens emitem. Os efeitos sonoros estão divididos em várias
categorias: os ambientes e os efeitos de ambientes (respectivamente chamados de BG e BG-FX), o
foley, os hard-effects e os sound effects.
De acordo com Opolski (2013), ambientes são as sonoridades constantes que compõem pano de
fundo sonoro, aquelas que não se destacam, também chamadas de frequências fundamentais por
Schafer (2001). Efeitos de ambiente são elementos que caracterizam determinados cenários e que
ajudam a localizar o espectador na cena, como o som de um telefone em um escritório ou de uma
buzina em uma rua. Foleys são sons resultantes da movimentação humana dos personagens princiOPOLSKI, Débora; CARREIRO, Rodrigo. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica
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pais, divididos em três categorias: farfalhar da roupa, passos e objetos em que os personagens
pegam ou encostam. Hard-effects constituem efeitos sonoros não produzidos por personagens,
mas com a fonte de origem visível na tela, como um carro que passa ou um cachorro que late. Por
fim, sound effects são efeitos sonoros não representativos ou sons não associados a uma fonte de
origem do som na imagem; eles desempenham uma função parecida com a da música. Como
exemplos, elementos sonoros que acompanham as cartelas iniciais dos filmes, ou mesmo as sonoridades que acontecem nos momentos de blackout de tela, entrada e saída de flashbacks etc. Por fim,
há a música, facilmente reconhecida quando é composta por instrumentos musicais convencionais.
Voltando a discutir os manuais e compêndios de metodologia da área de Comunicação, observamos que a opção de minimizar o papel da análise da trilha sonora das produções audiovisuais se
estende para as próprias publicações específicas que detalham modelos de análise fílmica. No
primeiro caso, é interessante o exemplo de Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som, manual
organizado por Martin Bauer e George Gaskell (2002), que menciona a palavra som no título. No
entanto, apenas dois capítulos focalizam a análise sonora.
Os textos, assinados por Diana Rose e Martin Bauer, pouco ajudam a esclarecer questões importantes para a análise fílmica de cunho sonoro. O capítulo de Rose destaca a importância de
descrever separadamente os conteúdos imagéticos e sonoros, procurando examinar como eles se
relacionam e como interferem um no outro. Bauer, por sua vez, dedica atenção à importância do
estudo da música, em especial ao modo como o sentido musical e suas conotações produzem
sentido dentro do discurso fílmico. Ele sublinha a importância de descrever elementos musicais
como ritmo, harmonia, melodia, dinâmica sonora e orquestração, mas não entra na questão do
método de análise – como fazer isso?
Os livros específicos que têm as metodologias de análise fílmica como aspecto central são poucos.
Vamos nos concentrar rapidamente nos três mais conhecidos e utilizados. O primeiro deles é A
análise do filme (Jacques Aumont e Michel Marie), publicado em língua portuguesa em 2004.
Professores da Universidade Paris 3 e prestigiados teóricos do cinema, os autores vão na contramão
da posição defendida por Ramos (2010) e afirmam que a análise fílmica deve ser considerada mais
um procedimento metodológico e menos uma disciplina autônoma. Eles ressaltam, ainda, que
nunca existirá um método universal de análise fílmica: "não existem senão análises singulares, intei-
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ramente adequadas no seu método, extensão e objeto, ao filme particular de que se ocupam”
(AUMONT; MARIE, 2004, p. 15). Enfatizam que cada pesquisador pode construir seu próprio modo
de analisar filmes, e que esse modo terá sempre que ser reajustado ou reformulado a cada nova
análise realizada.
Essa posição também é endossada por Francis Vanoye (Universidade Paris X) e Anne Goliot-Lété
(Universidade de Paris-Diderot), autores de Ensaios sobre a análise fílmica, o mais conhecido livro
dedicado ao tema no Brasil. Os dois autores sugerem algumas abordagens possíveis aos pesquisadores que desejam utilizar a análise fílmica, mas enfatizam que as possibilidades são infinitas. Em
comum entre todas elas, há apenas a divisão do trabalho de análise em duas etapas que consideram fundamentais: a descrição e, posteriormente, a interpretação analítica do filme, feita com
base em alguma abordagem conceitual previamente selecionada pelo analista.
O terceiro e último livro disponível no Brasil e que aborda as metodologias de análise fílmica é A
arte do cinema: uma introdução (David Bordwell e Kristin Thompson, 2014). O livro, contudo, apresenta de forma detalhada as ferramentas que constituem a gramática audiovisual fundamental,
mas não detalha maneiras de uso destas ferramentas para a prática da análise fílmica. É por isso
que, ao examinar livros de Comunicação e de estudos audiovisuais que colocam a análise fílmica
em primeiro plano, Carreiro e Alvim (2016) chegaram à conclusão de que eles, apesar de incentivarem a prática do exame minucioso de material audiovisual, não sistematizam metodologias de
análise de modo rigoroso e detalhado.
A análise fílmica do som
Embora a quase totalidade dos pesquisadores que discutem ou propõem metodologias de análise
fílmica (como todos os nomes citados nas seções anteriores, incluindo nomes prestigiados como
Jacques Aumont a David Bordwell) sejam unânimes em afirmar que não existe e nem existirá uma
estratégia única e estável de analisar produções audiovisuais, muitos deles compilaram ou sugeriram métodos de análise da banda imagética (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 1994; AUMONT; MARIE,
2004; BORDWELL; THOMPSON, 2014). Métodos de análise que focalizam prioritariamente o som,
contudo, são bem mais raros.
OPOLSKI, Débora; CARREIRO, Rodrigo. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica
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Vanoye e Goliot-Lété (1994), por exemplo, sugerem que a análise sonora deve partir de uma
descrição minuciosa do que ocorre na trilha sonora, sempre em paralelo com uma descrição da
imagem exibida em sincronia. Embora sem afirmar explicitamente, os autores insinuam que a
análise sonora precisa ser construída sempre sobre as relações entre sons e imagens; no entanto,
não chegam a propor um método de análise, mas apenas um modo de sistematizar e apresentar as
informações visuais e sonoras que serão analisadas, salientando algumas delas, nas quais o analista
deve prestar atenção especial. “Diálogos, ruídos, música; escala sonora; intensidade; transições
sonoras, encavalamentos, continuidade/ruptura sonora. [...] sons in/off/fora de campo; sons
diegéticos ou extradiegéticos; sincronismo ou assincronismo entre imagens e sons” (VANOYE;
GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 70).
No livro A análise do filme, Aumont e Marie reservam um capítulo para discutir modos de analisar o
som de produtos audiovisuais. No entanto, eles não propõem qualquer tipo de método de análise,
mas, sim, enumeram algumas tentativas de análises fílmicas centradas no som que se tornaram
paradigmáticas, a teoria do cinema: Michel Chion, Dominique Chateau, Francis Vanoye e Kristin
Thompson são citados. Os dois autores franceses avaliam que a trilha sonora possui inúmeras
funções narrativas, e destacam a dificuldade de analisar todos os sons presentes em uma obra,
sugerindo que o analista trabalhe com subdivisões, como o uso da voz, a função dos efeitos
sonoros ou as produções de sentido musicais.
As análises musicais, por sinal, foram objeto das primeiras tentativas, dentro da teoria do cinema,
de efetuar análises fílmicas sonoras. Alvim e Carreiro (2016, p. 183) enumeram algumas delas, realizadas por autores como Kurt London, Sergei Eisenstein (que escreveu artigos analisando detalhadamente a construção estilística de seus próprios filmes) e Hanss Eisler (entre as décadas de 1930 e
1940), que estão entre os pioneiros, mas nenhum deles chegou a propor uma metodologia abrangente de análise que pudesse ser utilizada em filmes distintos. Somente a partir da década de 1980,
os estudos baseados em análises musicais voltariam a crescer, com o surgimento de livros de
Claudia Gorbman e Royal Brown, ambos se apoiando em maneiras visuais de discutir a relação
entre música e imagem de filmes, como Zero de conduta (Zéro de conduite, Jean Vigo, 1933) e O
gavião do mar (The seahawk, Michael Curtiz, 1940), incluindo frames dos filmes em questão
mostrados em sincronia com as respectivas partituras.
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Michel Chion, em A audiovisão (2008), também procedeu a uma tentativa de analisar detalhadamente as relações entre sons e imagens de Persona (Ingmar Bergman, 1960), destacando de modo
mais proeminente o modo que havia utilizado para realizar a análise, como observam Carreiro e
Alvim (2016, p. 185):
Depois de citar, como processos de observação, o método das máscaras [que
consiste num modo de escuta no qual o analista fixa a atenção em apenas um
componente sonoro da trilha e descarta todos os outros] e a necessidade de se
analisar som e imagem em conjunto, Chion (2011) procede a um esboço de etapas
e perguntas pertinentes a uma análise audiovisual. A primeira consiste em identificar os elementos sonoros (vozes, música e ruídos) e observar se há destaque para
algum deles [...]. Na segunda etapa, devem-se identificar pontos de sincronização
importantes. [...] A partir daí, faz-se uma “análise narrativa” a partir de duas
perguntas principais: “o que ouço daquilo que vejo? O que vejo daquilo que ouço?”
(CHION, 2008, p. 160).
Além da tentativa de Chion, o teórico mais importante dos estudos de som no audiovisual a
demonstrar preocupação com o desenvolvimento de possíveis metodologias de análise fílmica
centradas no som foi Rick Altman. Ele discutiu essa questão em texto publicado em 2000 (em coau toria com Sandra Tatroe e McGraw Jones), sugerindo uma maneira de organizar as informações
sonoras em tabelas e gráficos, incluindo gradações de volume de cada elemento da trilha sonora
para descrever com maior precisão as ênfases dramáticas recebidas por cada som. Essa metodologia incipiente tem sido utilizada, com variações, por alguns pesquisadores, inclusive no Brasil, tais
como Débora Opolski (2013) e Filipe Falcão (2015).
Contudo, o próprio Rick Altman descartou esse método de análise, em um artigo de 2013, classificando-o como "impreciso" e "incompleto" (ALTMAN, 2013, p. 74). Neste último ensaio, publicado no
livro The Oxford Handbook of film music studies, Altman destacou que as análises fílmicas de caráter
estilístico, centradas na imagem, ganharam maior precisão e complexidade a partir do surgimento
de mídias domésticas de armazenamento e reprodução das obras audiovisuais, tais como o DVD e
o Blu-Ray, dos anos 1980 em diante. Essas tecnologias passaram a permitir que o analista pudesse
ver a obra (e pausá-la) quantas vezes fosse necessário para descrever os mínimos detalhes:
Ao assistir a uma sequência fílmica com som complexo, somos frequentemente
pressionados para atentar a mais de um aspecto da trilha sonora. Audiências repetidas certamente oferecem a possibilidade de descobrir detalhes adicionais e novas
correspondências, mas o processo é, na melhor das hipóteses, lento e frequentemente emperrado pela influência das audiências iniciais. Por oferecerem um amplo
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espectro de informações em um formato facilmente consultável, as interpretações
visuais de um segmento de trilha sonora convidam o crítico não apenas a analisar
em maior profundidade, mas também a estar atento a uma maior variedade de
detalhes e preocupações (ALTMAN, 2013, p. 94, tradução nossa). 1
Altman finaliza o argumento afirmando que os pesquisadores de som no audiovisual têm o desafio
de desenvolver metodologias mais estáveis e universais de análise fílmica, apoiadas por elementos
visuais, que possam permitir o mesmo nível de detalhamento e precisão das reflexões sobre o som:
“precisamos [...] superar as dificuldades de trabalhar com trilhas sonoras. Representações visuais do
som do filme podem desempenhar um papel importante neste processo, porque fornecem uma
ferramenta importante para a análise”2 (ALTMAN, 2013, p. 95, tradução nossa).
Nas seções seguintes, tentaremos demonstrar que a análise espectral sonora, realizada com o
apoio de gráficos produzidos com a ajuda de softwares como o iZotope RX, tem potencial para se
tornar elemento fundamental de modalidades de análise fílmica sonora com apoio visual, como
apontou Altman. Antes de apresentar as representações visuais que chamamos de espectrogramas,
e demonstrar com exemplos como eles podem auxiliar em análises mais pormenorizadas da trilha
sonora, precisamos explicar em termos sintéticos como funcionam os parâmetros que compõem o
som. Só dessa maneira seremos capazes de "ler" adequadamente os espectrogramas e efetuar as
análises sonoras da forma correta.
O som e os parâmetros que o compõem
Do ponto de vista físico, o som é o resultado de uma movimentação de energia. O som se propaga
quando acontece uma transferência de energia de uma molécula para a outra. Em linhas gerais,
analisamos os sons buscando compreender quais são as relações que acontecem entre dois parâmetros acústicos básicos, que são a frequência (relação entre o comprimento da onda e a velocidade com a qual a energia é transferida horizontalmente) e a amplitude (movimento que acontece
no sentido vertical).
A frequência, que sugere auditivamente quanto mais grave ou aguda uma nota pode soar, é o
resultado da velocidade da vibração das ondas sonoras. Quanto mais rápido, mais agudo será o
som; ao contrário, quanto mais lento, mais grave. Portanto, a altura está relacionada com a
frequência de vibração de uma onda sonora por segundo.
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O segundo parâmetro, que é a amplitude, se relaciona com a intensidade do som. Quanto maior a
amplitude de oscilação da vibração, mais intenso será o som; quanto menor a amplitude, mais
fraco será este som. Sendo assim, a intensidade do som se dá pela quantidade de energia movimentada. Assim, a frequência, ou a altura do som, assim como a amplitude, ou a intensidade,
podem ser considerados parâmetros básicos da produção do som. Mas o som é composto por
quatro elementos principais: altura, intensidade, timbre e duração. Além disso, a densidade pode
ser considerada como um dos elementos formadores do som. Falaremos também desses parâmetros (ALTMAN; TATROE; JONES, 2000).
O timbre, ou a qualidade do som, é assim denominado porque faz com que o ouvinte consiga identificar a textura sonora, permitindo que sons que vibram na mesma frequência possam ser identificados como distintos (por exemplo, a mesma nota musical tocada em um violão ou em um piano
soa diferente, aos nossos ouvidos, por causa do timbre). O timbre é o resultado acústico da combinação de frequências que compõem um determinado som. É nesse ponto que a nossa discussão se
torna interessante, porque um som não é formado por uma única frequência. Os sons naturais são
formados por muitas frequências combinadas de formas diferentes, e que geram singularidades
sonoras justamente pela forma como estas combinações são feitas. O timbre é formado pela
frequência fundamental somada aos harmônicos, que são as demais frequências secundárias que
compõem o objeto sonoro. Juntas, elas constituem o espectro do som.
A duração é a quantidade de tempo que o som permanece existindo; a quantidade de tempo que a
energia sonora permanece sendo transferida no espaço físico. Relacionados com a duração temos
outros conceitos, como o de ritmo, que nos leva a ressaltar também a importância do conceito de
silêncio (a ausência de som). A existência do som possui uma relação intrínseca com o silêncio, com
as pausas, porque o som começa a construir seus sentidos também pelos silêncios que o antecedem e o sucedem.
A densidade, por fim, diz respeito à quantidade de elementos sonoros que acontecem de forma
simultânea. Há, ainda, uma relação próxima da densidade com a intensidade (ou seja, o volume) de
cada um desses sons.
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Essa segmentação do som em parâmetros sonoros formadores nos auxilia no sentido de
compreender a forma como o som é criado, propagado e como ele chega até as nossas orelhas,
mas é simplista se for aplicada de forma absoluta, porque o som como elemento vivo é resultado
da relação entre todos esses elementos com os ouvintes. São muitas as variáveis que determinam a
percepção do som; como sabemos, muitas delas são culturais e independem da física acústica.
Citando apenas um exemplo relacionado com a capacidade auditiva, um som pode ser percebido
como mais intenso se tiver frequências agudas, e menos intenso se for composto por frequências
graves. A partir dessa explicação, fica mais fácil compreender por que podemos utilizar o espectro
do som como uma ferramenta de análise da trilha sonora, observando com atenção as informações
físicas resultantes das interações entre os elementos formadores dos sons e a formação dos sons
complexos. Reside nesse raciocínio o ponto de partida para estruturar argumentos críticos sobre a
relação desses sons com a estrutura narrativa audiovisual.
O iZotope RX
Ao pensarmos em análise acústica do som, pensamos imediatamente em formas de onda (fig. 1):
Fig. 1. Forma de onda (waveform). Fonte: Captura de tela (Audacity).
Os gráficos de forma de onda nos fornecem informações sobre o tempo (no eixo horizontal) e a
intensidade (no eixo vertical). Já os gráficos de análise espectral, ou espectrogramas, têm a
aparência mais colorida (fig. 2):
OPOLSKI, Débora; CARREIRO, Rodrigo. O espectro do som como ferramenta de análise fílmica
PÓS:Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. v. 12, n. 24, jan-abr. 2022
Disponível em <https://doi.org/10.35699/2237-5864.2022.36118>
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Fig. 2. Gráfico de análise espectral. Fonte: Captura de tela (iZotope RX).
Traduzindo os espectros nesse tipo de gráfico, podemos obter informações mais precisas e detalhadas. Temos o tempo, ainda no eixo horizontal; no eixo vertical, agora temos as frequências, que
podem ir de 20 Hz a 20.000 Hz, cobrindo todo o espectro da audição humana; e em ambos os
eixos, temos a intensidade, que pode ser identificada a partir da intensidade da cor alaranjada.
Quanto mais intensa a cor laranja, mais clara fica a representação visual. A cor preta significa
ausência de som.
Por fim, é possível gerar uma forma de onda sonora para referência, que aqui está reproduzida em
azul claro, no meio de cada um dos canais do estéreo. Lendo esse espectro, conseguimos
compreender como o som é constituído e identificar as relações que se estabelecem em três
dimensões: tempo, frequência e intensidade, podendo compreender visualmente a constituição do
timbre. O mais interessante é lembrarmos que, com análises desse tipo, podemos identificar não
somente quando ocorrem os sons, mas também de qual forma as frequências (tanto a fundamental, que forma a base do elemento sonoro, quanto seus harmônicos, que auxiliam a inteligibilidade e dão o timbre individual) são distribuídas, bem como suas respectivas intensidades e durações.
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Os gráficos espectrais podem conduzir visualmente a análise sonora, porque nos apresentam uma
espécie de materialização acústica visual, criando uma forma acústica visível. Ao transformar o som
em imagem, ampliamos a nossa percepção e estimulamos a prática de novas formas de audição e
escuta. É importante entendermos essa materialização acústica como uma ferramenta de auxílio
para a compreensão da matéria sonora em toda a sua complexidade. Este é o foco principal desta
proposta de abordagem metodológica.
O uso da ferramenta de análise espectral
A proposta de utilizar o espectro do som como alicerce epistemológico para o estabelecimento de
uma abordagem metodológica nova, que dê conta da análise de obras audiovisuais, vai ao
encontro de ideias de autores como Sontag (1961) e Penafria (2009), que consideram o audiovisual
como uma expressão artística singular, devendo assim ser analisado também a partir dos seus
aspectos formais.
O som, como elemento formal e expressivo do audiovisual, quando segmentado e examinado
através da análise espectral, pode ampliar o campo de percepção das relações entre os elementos
constituintes da trilha sonora e outros elementos que integram a obra audiovisual. Ao observar o
espectro e segmentar os sons e as frequências de forma visual, entendemos o quanto uma trilha
sonora pode ser resultado de um contraponto complexo, podendo se tornar muito difícil de ser
detalhado, no contexto da análise fílmica, sem o auxílio de imagens visuais, mais fáceis de examinar
em pormenores (ALTMAN, 2013).
Os instrumentos que utilizamos para decodificar filmes em análises robustas (como o que está
sendo utilizado agora, por exemplo, que é a palavra escrita no papel) costumam se basear de forma
mais recorrente em imagens. Elas dão maior nível de precisão às análises, porque podem ser
“congeladas” no tempo, o que permite um exame detalhado.
Retomamos, então, a ideia de que os gráficos espectrais podem conduzir visualmente certos tipos
de análises sonoras, porque nos apresentam uma espécie de materialização acústica visual; criam
uma forma acústica visível e desprendida do tempo. Ao ver o som transformado em imagem,
estamos também provocando uma reflexão sobre estas duas formas de expressão. As imagens
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espectrais dos sons podem nos auxiliar a expandir o foco da atenção ao qual culturalmente somos
direcionados, visto que vivemos em uma era reconhecidamente oculocentrista (CRARY, 2015; ROSE,
2016).
A análise espectral pode ser vista como uma ferramenta eficiente para analisar microestruturas da
trilha sonora (e, obviamente, também as macroestruturas). Opolski (2015, 2017) utilizou essa ferra menta de análise para compreender estruturas sonoras mínimas que compõem a performance
vocal do personagem no cinema. Nessas pesquisas, a análise espectral foi utilizada para decupar
visualmente a fala dos personagens dos filmes Meu nome não é Johnny (2008, de Mauro Lima),
Xingu (2011, de Cao Hamburger) e Chico Xavier (2010, de Daniel Filho), com o objetivo de refletir
sobre as relações entre a montagem de imagens e sons, estabelecendo a fala como um elemento
gerador de continuidade ou descontinuidade no audiovisual.
Mais recentemente, a análise espectral foi utilizada como metodologia para identificar de que
modo o desenho de som é capaz de conduzir o espectador a um estado de imersão narrativa e
sensorial (CARREIRO; MEIRELES; OPOLSKI, 2021). A partir das observações espectrais, foi possível
determinar quais as ferramentas usadas para desenvolver e modular um senso de imersão coerente
com o arco narrativo dos três universos sonoros experienciados pelo protagonista (e, por consequência, por nós, espectadores) do filme O som do silêncio (Sound of metal, 2020, de Darius Marder).
Em uma tentativa de construir um modelo de análise fílmica sonora aplicável a outros filmes, e
após observarmos os gráficos espectrais sonoros de muitos filmes, elegemos três obras para apresentar como estudos de caso, neste artigo, entendendo que estas análises têm potencial para
demonstrar como se dá a aplicação da ferramenta na análise fílmica de micro e macroestruturas
sonoras.
Compreendemos que essa ferramenta pode dar maior precisão e detalhismo na descrição e na
interpretação de aspectos sonoros dos filmes, na medida em que nos demonstra visualmente, para
além de quaisquer impressões subjetivas, usos estilísticos e narrativos da trilha sonora que, muitas
vezes, não podem ser interpretadas adequadamente pelo ouvinte na apreciação da obra audiovisual.
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A observação atenta do espectrograma da trilha sonora de O som do silêncio, por exemplo,
demonstra como o raro uso do silêncio absoluto (a ausência completa de sons, impossível na natureza) foi utilizado como ferramenta narrativa que ajuda a construir o processo imersivo do espectador no modo como o protagonista surdo percebe o mundo.
Para efeito de estudos de caso deste artigo, utilizaremos os filmes Os outros (The others, 2001, de
Alejandro Amenábar), Um lugar silencioso (A quiet place, 2018, de John Krasinski), e mãe! (mother!,
2017, de Darren Aronofski). Comecemos com Os outros, um horror com trilha sonora silenciosa.
Uma família composta pela mãe e dois filhos pequenos mora em uma casa campestre. O visual e o
sonoro são singelos, e retratam com simplicidade a rotina cotidiana de uma família, evidenciando
seu isolamento e falta de segurança. Trata-se de uma família que espera pelo retorno do pai, o
protetor, e convive com um cotidiano em que coisas estranhas acontecem, em uma casa que
parece ser habitada por seres de uma dimensão diferente.
A singeleza da ação caracteriza essa produção como um filme silencioso, no sentido de que possui
uma trilha com poucos elementos sonoros, composta principalmente por vozes e foley, e pela
inserção de música em alguns trechos. Durante a apreciação do audiovisual, nos chamou a atenção
o fato de que não conseguimos ouvir ambientes naturais de animais (como pássaros e grilos),
embora estejamos em uma casa isolada no campo. Esses ambientes naturais dariam ao som do
filme uma impressão de verossimilhança.
Podemos nos lembrar do filme As pontes de Madison (The bridges of Madison County, 1995, de Clint
Eastwood), um clássico na composição de ambientes naturais com animais; ou mesmo falar dos
dois filmes que serão analisados posteriormente neste artigo. No entanto, em vez de citar os
inúmeros filmes com trilhas sonoras predominantemente compostas com ambientes naturais,
parece mais plausível citar as exceções, como Náufrago (Castaway, 2000, de Robert Zemeckis), em
que todas as cenas que mostram o personagem interpretado por Tom Hanks na ilha deserta foram
sonorizadas sem qualquer ruído de animal. Produções que não utilizam bichos para criar ambientes campestres são exceções.
Durante a apreciação, surgem várias hipóteses para explicar a ausência de animais em Os outros. A
ausência de pássaros e grilos poderia estar relacionada com a intenção de reforçar o isolamento da
família e, por consequência, o medo que permeia aquele cotidiano. Porém, à marca de 1:33:00,
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quando a narrativa finalmente nos revela a natureza real daquela família, passamos a ouvir grilos. A
inserção desse elemento sonoro, com pouca intensidade e de forma sutil, nesse momento, muda a
estrutura de toda a trilha sonora, apoiando uma reviravolta importante na narrativa. Com o uso do
espectrograma, o analista pode visualizar o espectro sonoro da trilha e encontrar, a partir desse
momento exato, uma linha alaranjada que surge na faixa de frequência de 5.000 hz (fig. 3). São os
grilos. O gráfico tridimensional, portanto, nos assegura que é concreta, e não apenas uma
percepção subjetiva, a informação sonora.
Fig. 3. Espectrograma de Os outros. Fonte: Captura de tela (iZotope RX).
É interessante notarmos, também, que no momento em que os grilos entram na composição, os
demais elementos sonoros têm sua intensidade reduzida, para que os grilos possam se destacar em
termos narrativos. Eles representam expressivamente o ponto de virada da trama, sublinhando
uma revelação e transmitindo a mensagem de que somente agora os espectadores estão cientes
da natureza verdadeira dos protagonistas da narrativa.
Nesse caso, a análise espectral pode ser usada como uma ferramenta que nos permite localizar e
confirmar algumas percepções sonoras. Primeiro, podemos comprovar que o filme soa realmente
mais quieto do que a maioria dos outros filmes, e não apenas por causa dos cenários isolados e
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desabitados, mas também porque a trilha sonora constitui um elemento integrador, que usa a
ambientação pouco ruidosa para contar a história de uma casa habitada por fantasmas. A banda
sonora também reforça a ambiguidade entre fantasmas e seres vivos.
Avançando para o próximo exemplo, Um lugar silencioso conta a história de uma região habitada
por monstros cegos com uma audição hiperdesenvolvida. Para conviver com esses monstros, os
seres humanos precisam viver em silêncio. Como se trata de um filme no qual o mote para a narrativa é a produção do som, muitas questões podem ser discutidas, como o fato de que uma das
habitantes é surda e, por consequência desta característica, poderíamos analisar como os ambientes do filme foram criados, articulando inclusive BGs sonoros subjetivos da personagem surda
(ou seja, o ponto de escuta subjetivo reproduz o modo como ela ouve o mundo) e ambientes
percebidos pelos ouvintes como objetivos.
Também poderíamos discutir o fato de que sonoridades de ambientes, mesmo aquelas produzidas
por animais como grilos, não atraem os monstros, pela intensidade fraca. Ou, ainda, o desfecho da
narrativa, que acontece com o acréscimo do som de microfonia (fenômeno acústico no qual um
microfone capta o som do dispositivo que emite o próprio som do microfone), em torno de 80
minutos de projeção. A microfonia é apresentada como uma sonoridade desagradável, a ponto de
que nem os monstros podem suportá-la, algo que revela uma fraqueza a ser explorada pelos
humanos. Porém, não temos a intenção aqui de realizar uma análise de um filme em profundidade,
mas apenas mostrar algumas das possibilidades de utilização do espectro como ferramenta de
análise.
Por isso, vamos falar sobre a criação sonora do efeito de mascaramento (um ambiente sonoro baixo
e contínuo) no filme. Esse efeito é o ponto central de toda a narrativa, pois é somente através dele
que existe segurança na vida dos personagens. Além disso, através da identificação da importância
desse efeito na história, conseguimos compreender algo muito importante sobre a composição
dessa trilha sonora em questão, que é a inexistência de BG-FX. O mascaramento é explicado aos 35
minutos, quando uma criança se assusta com o som de um peixe se debatendo no rio, e o pai
explica (inclusive com sussurros, em uma intensidade raramente ouvida na narrativa, que conta
com apenas 80 linhas de diálogos, cerca de 10% da quantidade de falas contidas em um longa-
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metragem normal) que, como o rio produz som forte e constante, sons com menor intensidade são
seguros naquele local. O mesmo ocorre aos 37 minutos de projeção, quando os dois conseguem
conversar por estarem ao lado de uma cachoeira (fig. 4).
Fig. 4. Espectrograma de cena de Um lugar silencioso. Fonte: Captura de tela (iZotope RX).
O som da água é intenso. A cor alaranjada intermitente que vemos no gráfico, que cobre toda a
faixa de frequência de 0 a 20.000 Hz, é a imagem espectral do som da água. No detalhe, podemos
observar o destaque que as vozes dos personagens criam no espectro. Esses destaques são visíveis
na cor branca ou alaranjada brilhante, que aparecem no momento em que as vozes surgem: um
grito, e algumas falas: "Hey, you are alright? Are you alright? I promise you”, e finalmente outro grito.
Gostaríamos de destacar as diferenças de intensidade contidas entre o primeiro grito, que acontece
aos 37:54, e o segundo, que acontece aos 38:24. O primeiro grito ocorre com a câmera posicionada
na parte de dentro da cachoeira. Nós, espectadores, estamos lá com os personagens. No segundo,
a câmera está distante, filmando de fora da queda d’água, nos colocando como ouvintes nesta
nova posição, como alguém fora da ação, que ouve a cachoeira mascarando o som da voz. É isso
que movimenta a vida e as ações dos seres humanos naquele local específico: é possível falar e até
gritar, desde que a intensidade não se destaque do ambiente. Sons seguros são aqueles que inte-
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gram o ambiente sem se elevar em intensidade acima dele. Olhando o espectro do som, podemos
perceber que o segundo grito não se destaca do ambiente e, portanto, é seguro. Do ponto de vista
da análise, isso nos leva a comprovar, além de qualquer dúvida ou subjetividade, que o filme Um
lugar silencioso não possui um dos elementos mais tradicionais na composição da trilha sonora: o
BG-FX.
Por fim, nosso último exemplo: o filme mãe! narra a história do cotidiano de um casal, também
isolado em uma casa no campo, e das relações que estabelecem com as pessoas que aparecem de
forma inexplicada. Neste filme, existem muitos momentos peculiares, como as diferenças de qualidade vocal e de performance da mãe (Jennifer Lawrence), antes e depois de parir, e os múltiplos
ruídos naturais e rangidos que praticamente dão vida à casa e que interagem com a mãe, como no
momento do parto.3 Porém, pela necessidade de escolher um momento da narrativa para a aplicação da ferramenta, decidimos optar por um que possibilitasse demonstrar a aplicação da ferramenta na observação de macroestruturas.
Para tanto, ao contrário dos dois exemplos anteriores, gostaríamos de destacar dois pontos, apresentando duas figuras espectrais. Primeiro, vamos falar sobre a mudança progressiva da trilha
sonora, já é notável o aumento da densidade do som (número de elementos sonoros) e da intensi dade sonora (fig. 5), como vemos no espectrograma do filme completo:
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Fig. 5. Espectrograma de mãe!. Fonte: Captura de tela (iZotope RX).
Aproximadamente a 1:20:00, a casa começa a ser invadida pela multidão. As atitudes dos invasores
são agressivas, incluindo demolição e explosões. A concentração de cor alaranjada que aparece na
figura deixa clara a densidade que cresce e, junto com ela, a tensão e envolvimento do espectador
com a narrativa, que se eleva a cada atitude insana daqueles invasores. Por volta de 1:37:00 a intensidade da trilha sonora diminui; isso ocorre quando o filho nasce e a mãe fica com ele, reclusa no
quarto. A cor laranja volta a ficar mais forte quando o filho é carregado para a multidão, na próxima
cena que será demonstrada.
As articulações criadas pelas mudanças de densidade sonora abruptas acontecem em vários
momentos da narrativa, com destaque aqui para a cena em que o filho é levado para a multidão.
Abaixo (fig. 6), podemos observar o grande contraste criado pelas diferenças de dinâmica sonora
entre o momento em que a mãe adormece com o filho nos braços e o instante em que o pai leva o
filho para a multidão:
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Fig. 6. Espectrograma de cena de mãe!. Fonte: Captura de tela (iZotope RX).
Nesse excerto da trilha sonora, que começa em aproximadamente 1:44:00, temos, como primeiro
evento, a fala do pai em conjunto com um efeito sonoro, quando a mãe o afasta da tentativa de
tocar o filho. O pai está sentado em uma cadeira, esperando pacientemente o desenrolar da cena,
olhando fixamente para a mãe, que está sentada no chão com o bebê nos braços. Também temos
uma linha reta pontilhada com intensidade especialmente forte entre 10.000 e 15.000 Hz. É uma
goteira que cresce em intensidade, modificando gradualmente também o timbre, que passa de
líquido para metálico. Em 1:44:00, temos a voz da mãe, suplicando para que o homem peça aos
invasores para irem embora. As gotas ficam mais e mais presentes, até que a última desempenha
também a função de sound effect, representando a passagem do tempo, destacando o momento
em que o menino é tirado dos braços da mãe, preparando o espectador para a mudança brusca de
ambiente: do quarto para a multidão que grita, aplaude e ovaciona a criança.
Olhar o espectro da trilha sonora de mãe! nos possibilita confirmar com detalhes acústicos minuciosos as mudanças sonoras, identificando as alterações graduais e o modo como elas se desenvolvem no tempo. A precisão e o detalhismo de tal análise não seriam possíveis sem o uso de
espectrogramas, que mostram, assim, constituírem uma maneira de aprisionar a efemeridade
temporal da expressividade sonora.
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Considerações finais
Uma proposta de análise metodológica só faz sentido se puder ser aplicada de forma mais generalista a um grupo de filmes. Ao mesmo tempo em que concordamos com Jacques Aumont e Michel
Marie (2004), no sentido de que os filmes são, como obras de arte, singulares, exigindo que as
análises precisem ser adaptadas a estas idiossincrasias, queremos sugerir que a ferramenta apresentada neste artigo não teria valor significativo, como abordagem metodológica de análise
fílmica, se só pudesse ser usada para analisar uma obra. É evidente que cada filme exige um ajuste,
no uso da ferramenta, para que esta possa ser útil à análise, mas as análises espectrais efetivamente
parecem propiciar um modelo de interpretação sonora capaz de fornecer dados concretos para
impressões auditivas antes discutíveis apenas no terreno da impressão.
Sendo assim, em um primeiro momento, parece relevante compreender que a ferramenta oferece
diversas possibilidades de uso em análises fílmicas. Nesse sentido, vale abrir espaço para um
resgate histórico. Antes de ser usada como ferramenta de análise da trilha sonora, a análise espectral já era utilizada como gráfico facilitador para a realização de edições de som, ou seja, para
modelar os elementos sonoros da trilha, dentro da cadeia produtiva do cinema.
Foi, portanto, dentro do reino das práticas de edição que adquirimos a experiência empírica:
quanto menor a porção do espectro observada, maior o controle sobre as possibilidades de manipulação da informação sonora. Em linhas gerais e simplificadas, quanto maior a aproximação
(o zoom in realizado no áudio), maior o acesso à microestrutura do som, aos sons segmentados – e,
indo ainda mais a fundo, aos harmônicos sonoros, de forma individual. Achamos prudente trazer
essa informação para reforçar a ideia de que, antes de simplesmente transformar o som em
imagem e iniciar o procedimento de análise fílmica, é importante saber qual elemento da trilha
sonora se pretende analisar com cuidado, para que seja possível realizar uma aproximação deste
elemento de forma estética e de forma técnica adequadas.
No caso da análise da microestrutura, o uso do espectrograma nos possibilita afirmar, para além de
dúvidas, que Um lugar silencioso não possui efeitos do tipo BGs-FX, e que os grilos, em Os outros,
compõem uma maneira expressiva de sinalizar a natureza dos habitantes da casa. Para análises
desse tipo, é imprescindível trabalhar com o espectro de forma segmentada. No caso da
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compreensão estrutural da progressão de densidade na trilha de mãe!, é interessante realizar a
observação individual das cenas, mas também se torna imprescindível observar a macroestrutura.
Só ao ter contato com o espectro completo da trilha sonora vemos a flutuação de densidade
sonora que acompanha a modulação da tensão no arco narrativo do filme.
A guisa de conclusão, podemos afirmar que a análise espectral constitui uma metodologia que vai
um passo além dos métodos disponíveis até então para a análise da trilha sonora. Como afirmamos
no início, e confirmamos nos estudos de caso, a ferramenta se mostra um diferencial, por permitir a
apreensão do detalhe sem perder de vista (literalmente) a completude da estrutura. O som, na
linha do tempo, ocorre e termina; ele só permanece na nossa memória. Já na imagem espectral, ele
ocorre, é registrado e permanece ali, como imagem, se mantendo no papel como um rastro, uma
fotografia que pode ser ferramenta acessória para a recomposição minuciosa da memória sonora,
porque "congela" as mudanças da expressividade do som ao longo do tempo. Com a análise espectral, temos maior precisão e menor subjetividade.
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413
NOTAS
1 “When watching a film sequence with complex sound, we are most often hardpressed to attend to
more than a single aspect of the soundtrack. Repeated hearings certainly offer the possibility of discovering
additional details and new correspondences, but the process is at best slow and often impeded by the
overwhelming influence of an initial hearing. Because they offer a wide spectrum of information in an easily
consultable format, visual renditions of a soundtrack segment invite the critic to analyze not only in greater
depth but also with attention to a greater variety of concerns”.
2 “we need to recognize openly that film sound is not easy to work with, and to devise as many ways as
possible to overcome the difficulties of working with sound. Visual representations of film sound can play an
important role in this process, because they are capable of providing an important tool for film analysis”.
3 A casa treme a cada força que a mãe faz para o bebê nascer. Com a câmera em close-up no rosto da
mãe, ouvimos e vemos a casa inteira tremer até que ela entra no quarto e, finalmente, tem o bebê.