terça-feira, 30 de março de 2010

A ostrinha tá a mil

Parece que a Lígia produz mais pérolas quando estamos só eu e ela. Deixei a menina se divertindo na banheirinha de plástico - ela gosta de ficar brincando com os patinhos de borracha - e vim trabalhar na sala ao lado. Aí um som repentino de splash deu a impressão de que a pequena havia escorregado.
- Cuidado pra não cair!, gritei daqui.
E ela, querendo dizer que não havia sido nada grave:
- Caí só de madurinha!

O batismo de uma boneca

A Lígia achou no fundo da gaveta uma boneca de pano que eu trouxe de João Pessoa há uns dois anos.
- Qual o nome dela? - perguntou, entusiasmada com a descoberta.
- Não sei, filha. Você escolhe.
- Josézinha!

domingo, 28 de março de 2010

Diário de um distraído

Doutor, eu vivo com arranhões e manchas roxas pelo corpo e não tenho a menor idéia de como foram adquiridos. Levanto da cadeira para buscar algo, dou cinco passos e fico olhando pateticamente para o armário tentando lembrar o que me levou até ali. Quando me agacho embaixo da escada para deixar o notebook em lugar seguro, penso antes de me abaixar que não posso esquecer que há uma escada ali. Mesmo assim... Ploft. Fiz uma casa cercada de portas de vidro e, embora eu saiba muito bem disso, continuo dando com a cara nelas dia sim, dia não. Nunca lembro se desliguei o ferro de passar roupa e volto da esquina para conferir - o mais incrível é que, ainda que jamais tenha encontrado o ferro ligado nessas ocasiões, continuo ficando em dúvida e voltando da esquina. Entro no e-mail com um objetivo específico, que me foge completamente no período entre iniciar a digitação da senha e acabar a digitação da senha. Em minha própria defesa, posso dizer que às vezes até lembro de olhar para os dois lados antes de atravessar a rua e pago uma ou outra conta em dia. Doutor, seja sincero: eu tenho cura?

Noite por demais agradável

Há amigos que você fica um tempão sem ver, mas gostaria de ver o tempo todo. Outros dos quais você já é íntimo mesmo sem conhecer pessoalmente - coisas da internet -, e outros que provocam empatia imediata tão logo você os vê pela primeira vez. Na noite de sábado desfrutei simultaneamente desses três tipos de amizade. Ocasião rara.

Bons tempos alviverdes

Que disputa sensacional está ocorrendo no Campeonato Paulista entre dois times fantásticos: o Santos de Robinho, Neymar, Ganso & Cia e o Palmeiras... de 1996. Com a goleada de hoje sobre o Monte Azul, por 5 a 0, o Santos chegou a 54 gols em 17 jogos, média de 3,18 gols por partida. O Palmeiras de 1996 foi campeão com a incrível marca de 102 gols em 30 jogos, média de 3,4 por partida. Olha só quanto craque: Luisão fez 22 gols; Rivaldo, 18; Djalminha e Müller, 15 cada. Nas laterais, Cafu e Júnior. Até o zagueiro Clebão virou artilheiro e fez sete gols. Alguns jogos da campanha: 8 a 0 no Botafogo de Ribeirão Preto, 7 a 1 no Novorizontino, 6 a 0 no América, 6 a 1 na Ferroviária, 5 a 0 no União São João, 5 a 1 na Ferroviária e no Juventus... Ah, teve também o histórico 6 a 0 no Santos em plena Vila Belmiro. Durante o Paulistão, o Palmeiras fez ainda três jogos pela Copa do Brasil: 8 a 0 no Sergipe, 5 a 0 no Atlético Mineiro e 3 a 1 no Grêmio. A principal diferença em relação ao Santos de hoje é a defesa: enquanto o Palmeiras de 1996 sofreu apenas 19 gols em 30 jogos, o Santos já levou 21 gols em 17 jogos. Lembrando da campanha alviverde de 1996 dá para entender bem a revolta do goleiro Marcos com o desempenho do time atual, que amarga a décima posição na tabela (o pior desempenho do Palmeiras no Paulistão desde 1981): ele estreou justamente na 27ª partida do campeonato de 1996, 4 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto. Que saudade, hein, Marcão?

quinta-feira, 25 de março de 2010

Lauro é doze

Há exatos 12 anos recebi o maior presente que um homem pode receber: tornei-me pai. Agora recebo todos os dias o maior presente que um pai pode receber: um filho maravilhoso. Parabéns, Lauro. Tu és o cara. P.S.: como a Cris postou uma foto nova do menino, optei por uma antiga.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Como tem desocupado no Brasil

Em solidariedade aos colegas jornalistas, eu deveria achar um absurdo esses caras que fazem gracinha atrás dos repórteres de TV. Mas que de tão idiota chega a ser engraçado, isso lá é verdade.

Não se curve aos bancos

Há alguns anos, quando estávamos reformando nosso ex-apartamento, entrei no cheque especial. Logo percebi que os valores cobrados pelo banco não batiam com a taxa de juros anunciada. Entrei em contato, me explicaram algo como "isso acontece porque o cálculo é diário, e não mensal", continuei sem entender nada e procurei um advogado especializado em direito bancário. Ele me disse que já era consenso na Justiça que os bancos cobram juros abusivos e que essa era uma causa praticamente ganha. Dito e feito. Entrei com duas ações. A primeira já vencemos em primeira e segunda instâncias e o banco desistiu de ir adiante. Agora só falta calcular o valor a ser ressarcido. Não é difícil chegar à conclusão de que continuam cobrando juros abusivos porque o volume de processos ainda não se tornou tão significativo e ainda vale a pena para eles - nunca antes na história deste país os bancos foram tão lucrativos. Eu gostaria de não contribuir para sobrecarregar ainda mais o nosso já combalido Judiciário, mas, se você está no vermelho e só vê a dívida aumentar mês após mês, fica a dica.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sim, sim. E o Tonhão foi melhor que o Ademir da Guia

Baseado em um modelo matemático de credibilidade altamente contestável, Dunga está dizendo em seu site que foi melhor do que Gérson, o canhotinha de ouro. (Risos abafados.) A notícia está na seção Bar do Dunga, título que tenta criar empatia com o internauta. Mas não rola, né? Quem é que gostaria de ir para o boteco com um sujeito ranzinza, grosseiro e se-achão?

Palpite para a Copa

Com a má fase dos principais jogadores brasileiros, o favoritismo da nossa seleção na Copa do Mundo está indo pelo ralo. Muito se tem falado na Argentina - Messi, Tevez & cia andam arrebentando nos campeonatos europeus -, a Espanha já vem bem há algum tempo (embora tenha a fama de refugar na hora do vamos ver) e tanto Itália quanto Alemanha não podem ser desprezados, mas o meu palpite é a Inglaterra. O tal do Rooney é um demônio, em todos os sentidos - ô bicho feio -, e o time é bem competitivo.

Ingrid e o tempo-hora

Aos três anos a pessoa fala muitas coisas engraçadas. A Lígia, por exemplo. Estávamos conversando e eu repeti a mesma frase algumas vezes, de brincadeira. E ela:
- Por que você fala isso tempo-hora?
Concluí que ela misturou "o tempo todo" com "toda hora".
Aí o Lauro lembrou de uma historinha dele mais ou menos com a mesma idade, talvez um pouco mais velho. Estávamos na trilha da Costa da Lagoa e eu alertei quem vinha atrás para tomar cuidado com a ladeira íngreme que viria pela frente. Alguns segundos depois, o menino concordou:
- Aqui é bem Ingrid, né, pai?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cinco personagens clássicos de rodoviária

1. O doido que fica encarando as pessoas sem piscar e de vez em quando faz coisas inesperadas, tipo comer farinha ou cantar o hino do Avaí todo errado.
2. O menininho que pede esmola em versos e engole o final das frases.
3. O surdo que tem a mãe doente e dezesseis irmãos para cuidar, mensagem escrita em um papelzinho amassado e imundo.
4. A velhinha que não enxerga bem e pede ajuda para achar o ônibus, que por acaso é o mesmo que o seu, e depois para achar a poltrona, que por acaso é bem ao lado da sua.
5. O hare-krishna que tem a missão de converter as pessoas e cisma que você tem cara de quem precisa ser convertido.

Cinco personagens clássicos

Nova série no Vida de Frila.

domingo, 21 de março de 2010

Vaga para jornalista

Acabo de cruzar por acaso com a informação: abrem amanhã inscrições para concurso da Fundação Catarinense de Cultura. Tem uma vaga para jornalista em Floripa, com salário inicial de R$ 1.600. Não é o paraíso, mas, para quem preza estabilidade e gosta de atuar na área da cultura... Informações aqui.

Dúvida cruel

Com um monte de milhas vencendo em abril, eu e a Cris teremos que escolher algum canto da América do Sul para uma viagem rápida, de dois ou três dias. Eu adoraria levá-la a dois lugares que considero deslumbrantes - Natal e Belém -, mas gostaria também de aproveitar a chance para ir a Vitória ou a São Luís, duas das oito capitais brasileiras que ainda não conheço. E tem sempre o apelo de Buenos Aires, além da vontade de conhecer outros países do continente... Meu consolo é que provavelmente a companhia aérea vai acabar escolhendo por nós, pois duvido que haja assentos disponíveis para todos esses lugares.

sábado, 20 de março de 2010

Good day sunshine

Como dá para perceber pelo horário do post anterior, acordei bem cedo em pleno sábado. É que a Lígia não dá trégua e continua madrugando mesmo nos finais de semana (hoje foi às 6h40). Mas eu gosto de ver o sol nascer - o dia rende um bocado. Eu, que frequentemente trabalhava de madrugada, estou conseguindo aos poucos readaptar meu cotidiano de frila para dormir mais cedo e acordar mais cedo. Bem mais saudável, sem dúvida.

Clipadoras, blogs e direitos autorais

A mesma edição do Valor traz uma matéria, assinada por Matías Molina, sobre a queda na circulação de jornais no Brasil. Um dos motivos citados é a proliferação das empresas "clipadoras", que simplesmente se apropriam do trabalho alheio para ganhar dinheiro - estima-se que o faturamento do segmento no Brasil chegará a R$ 60 milhões neste ano. Essas empresas extraem dos jornais e revistas as reportagens que consideram interessantes para os clientes e as enviam para dezenas ou mesmo centenas de destinatários. A lei 9.610, de 1998, deixa claro que depende de "autorização prévia e expressa" a reprodução parcial ou integral de uma obra, assim como a sua distribuição por qualquer sistema. Quando se discute a questão dos direitos autorais, contudo, as clipadoras costumam evocar o inciso VI do artigo 46 da mesma lei: "não constitui ofensa aos direitos autorais a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos". As clipadoras tentam convencer a todos que os relatórios que produzem, conhecidos como clippings, são órgãos da "imprensa diária ou periódica". Outro problema que está ganhando proporção semelhante são os blogs pessoais, que também reproduzem as matérias a torto e a direito. Um exemplo é a minha própria reportagem publicada ontem - como a edição de sexta do Valor vale também para o final de semana, o texto ainda está em plena circulação no jornal e já foi reproduzido em mais de 50 sites.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A adrenalina do deadline

Ontem à tarde voltei a sentir a pressão do prazo fungando no meu cangote, algo não muito comum na vida de frila. Às duas e meia estava fazendo a última entrevista para uma matéria do Valor, que supostamente eu teria o resto do dia para escrever com calma, mas logo em seguida fui avisado de que o texto entraria na edição de hoje e eu teria que enviá-lo até as quatro. Uma hora para produzir 8 mil caracteres! Apesar da correria, o tema era agradável ("Empresas querem dar sentido ao trabalho") e acho que o resultado ficou bom, embora tenha passado um erro de concordância e algumas repetições desnecessárias de palavras em uma mesma frase ou em frases próximas - detesto quando isso acontece.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A volúvel internet

Três posts atrás, citei o link do colégio em que Carlos Eduardo Sundfeld Nunes - acusado de ter matado o cartunista Glauco e seu filho Raoni - estudou na adolescência. Um amigo acaba de me dizer que entrou no link e o nome não aparece na turma de 2000, conforme eu havia anunciado. De fato, parece que o nome foi retirado da lista. Mas ainda pode ser visto: basta fazer uma pesquisa no google com os termos "colégio hugo sarmento" e "carlos eduardo sundfeld nunes".

Fragmentos da vida de frila

Lígia no deque. Uma libélula se aproxima e voa ao redor da menina, como se a estivesse convidando para brincar. Digo isso à minha pequena, que responde com aquele sorriso especial que só ela sabe dar. O olhar fascinado que acompanha as peripécias da nova amiga se entristece quando a bichinha voa para longe.
- Por que ela foi embora?, perguntou Lígia, segurando o choro.
- Porque ela é livre e pode voar para qualquer lugar. Acho que ela foi brincar com outra criança.
- Depois ela vem brincar comigo de novo?
- Vem sim, filha, claro que vem.
Fofura do papai.

terça-feira, 16 de março de 2010

Assim falavam Zaca e Truta (IV)

Atenção: Faleceu há pouco, num trágico acidente automobilístico, o grande escritor Paulo Macaco, que vinha conduzindo com brilhantismo a odisséia de Zaca e Truta. Para homenageá-lo, publicaremos o encerramento da saga, encontrado numa das gavetas de sua saudosa escrivaninha. São momentos de grande emoção. Aconselhamos que as pessoas mais sensíveis se retirem da sala.

"Esta contribuição que de mim recebeste,
humanidade,
certamente não deixará saudade.
Trabalho feito com genialidade,
apesar de não ser nenhuma novidade.
Muito antes dele já se havia
feito muita porcaria."

A Profeta do Apocalipse Editora lamenta que você tenha comprado este livro e que o autor tenha morrido antes de concluir a obra.

O EDITOR

segunda-feira, 15 de março de 2010

Google pauteiro

Não estou acompanhando o noticiário sobre o assassinato do cartunista Glauco, mas hoje fiquei curioso em saber mais sobre o acusado, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, já que o nome soa um tanto aristocrático. Acabo de fazer uma rápida investigação por conta própria. Para tentar encontrar alguma coisa sobre o rapaz que já estivesse na internet antes do crime, dei uma busca no nome dele excluindo ocorrências em que houvesse a palavra "Glauco" - a opção "pesquisa avançada" do Google oferece esse recurso. Com isso, eliminei a maior parte das notícias sobre o crime e descobri que Carlos Eduardo estudou em um colégio da Vila Madalena, em São Paulo, onde concluiu a oitava série em 2000. É uma informação interessante para quem está cobrindo o assunto, pois ali há vários nomes de colegas de classe que poderiam eventualmente falar sobre a adolescência do rapaz. Outro achado curioso é a árvore genealógica da família, que induz a várias outras descobertas. Claro que sempre há a possibilidade de se tratar de um homônimo (embora neste caso o nome seja raro e a idade atual do rapaz, 24 anos, coincida com a de alguém que fez a oitava série em 2000), de tal forma que essas informações serviriam, obviamente, apenas como ponto de partida para a investigação jornalística.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ufa-le-lê

Terminei nesta semana dois projetos pessoais que estavam ocupando parte do meu tempo: fiz as últimas revisões do livro sobre Patápio Silva, que está prontinho para ir para a gráfica, e entreguei o primeiro copião do livro sobre a vida de frila, para análise da editora. Aviso aqui sobre os respectivos lançamentos, claro.

Gente que faz

Amanhã é dia de prestigiar o trabalho dos amigos. Primeiro, a Adri Canan: ao meio-dia, será exibida pela RBS TV a parte inicial do documentário "Mulheres da Terra" (a conclusão vai ao ar no sábado seguinte, no mesmo horário). Depois é a vez do casal Vanderléia Will e Pepe Nuñez - ela sobe ao palco e ele dirige a comédia "De malas prontas", às 21 horas, no Teatro Álvaro de Carvalho (haverá outra sessão no domingo, mesmo horário).

Baixo astral

Cada vez que tomamos conhecimento de fatos como os assassinatos do cartunista Glauco e do filho dá vontade de desistir do Brasil, da humanidade, de tudo.

terça-feira, 9 de março de 2010

O apartheid do Twitter

Não tenho nenhuma crítica ao Twitter em si e muito menos a quem aderiu a ele, por motivação profissional ou mero divertimento. O que eu quis dizer aqui algumas vezes é que, para mim, no atual momento da minha vida, o eventual retorno prático não compensaria o tempo investido (é o que esta matéria do IDG Now! chama de ROI, sigla em inglês para Retorno Sobre o Investimento). O que percebo em relação a tudo isso, no entanto, é que está se criando uma espécie de apartheid (o termo é forte, mas decidi usá-lo assim mesmo) entre usuários e não-usuários do Twitter. Os tuiteiros tendem a se fechar cada vez mais dentro do seu universo de contatos, enquanto os não-tuiteiros, de certa forma deixados de lado, tendem a estreitar vínculos entre si. E digo mais: os tuiteiros que lerem este post vão achar que estou exagerando e que não é bem assim, mas os não-tuiteiros vão concordar, pois sentem o que estou descrevendo.

E eu nem sei nadar

Não sou especialista em meio ambiente e muito menos em água (aliás, não sou especialista em coisa alguma), mas acabo de lembrar que há alguns anos fui finalista de outro prêmio de jornalismo, o Ethos, com uma matéria também sobre a questão da água, escrita para a revista Expressão em parceria com o Fábio Cunha.

E se faltar água?

Fui comunicado há pouco que estou entre os finalistas da primeira edição do Prêmio Fiema de Jornalismo, cujos vencedores serão anunciados durante a Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, no final de abril, em Bento Gonçalves (RS). A matéria finalista é sobre as alternativas para enfrentar a anunciada escassez de água potável no mundo, que fiz para um especial de sustentabilidade da Exame e que pode ser parcialmente lida aqui. Só o fato de ficar entre os 29 finalistas, selecionados entre 367 trabalhos inscritos, já é gratificante - ainda mais diante dos concorrentes de peso na categoria Revista, que incluem o colega da UFSC Marques Casara. Abaixo, a lista dos finalistas divulgada pela organização do Prêmio (sem os nomes dos respectivos veículos):

Telejornalismo
Analice Bolzan – Carvão: o preço do desenvolvimento
Evandro Siqueira – Na trilha dos palmiteiros
Fábio Fetter – Ações sociais no Morro do Papagaio
Marcelo Siqueira – Pesca Ilegal
Ticiana Villas Boas – A Rota do Lixo

Documentário
Cristina Dias – Contracorrente, nas águas de um Rio Pardo
Hellen Santos – Terra, vida ou morte
Nilton Schüller – Abastecimento de água na Serra
Virginia Queiroz – A baleia Jubarte

Texto Revista
Aline Ribeiro – Vida longa para o longa vida
Andreas Müller – O clima vai pesar
Marques Casara – Devastação S.A.
Maurício Oliveira – O mais precioso dos líquidos

Texto Jornal
Cleber Tentardini – Estudo aponta riscos de poluição e redução do Aquífero Guarani
Lilia Maris Nascimento – Queda no preço da sucata põe reciclagem em risco
Pablo Hernandez – A irrigação quando realizada de forma racional reduz custos e aumenta a produtividade das lavouras
Soraya Aggege – Caos no clima

Rádio
Cláudio Junqueira – O lixo em São Paulo – problema e oportunidade
José Renato da Silva Freitas Andrade Ribeiro – A máfia do agrotóxico
Rhubbhen Mhatteu de Melo Sampaio Lins – Capibaribe, a capivara do Nordeste
Tales Giovani Armiliato – Reciclagem: do sustento à proteção ambiental

Web
Isabela Vieira - Caiçaras
Paula Schver – Prata do Lixo – o valor da latinha de alumínio para a sociedade
Tatiana Campos – Castanha do Acre

Foto
Carlos Queiroz – Aves migram para o Parque da Lagoa do Peixe
Hélvio Romero – Resíduos presos à vegetação do Rio Tietê
Raphael Freire Alves – Cheia nos rio do Amazonas
Raphael Freire Alves - Manaus castigada
Sérgio Menezes – Corte ilegal de árvores em Tanabi

Assim falavam Zaca e Truta (III)

Truta contava contos contente
- tanto dinheiro lhe fazia bem.
Zaca contava contos também
Mas sabia que quem o ouvia
Era pouco mais que ninguém.

Núncio

Zaca sacou que tava de saco cheio
De ver tanta injustiça na sua terra.
Resolveu acabar com o novo reino
Com seus amigos declarou-lhe guerra.

Seria talvez uma covardia
Seis contra seis milhões.
Mas o amor de Zaca por sua gente
Tornava o sofrimento aguentante
Agonizante
Aguardente
Aguardante
Água dão-te?

No instante em que Truta a faca fia
O Kama-Sutra de frente-verso lia
E percebeu coisas lindas tantas via.

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Vendo uma bicicleta 20 marchas bom estado preço instigante
Tratar fonte 34-0651 com o Deus do Trovão.

Posnúncio

Zaca zacou zomba
Zuntou zanta zente
Truta tacou tamanco
Tanto tamanho tragado
Zaca zabia zeu zono
zeria zambar na zona
Truta trouxe trabalho
Zaca zombou da zorte
Zirigaitiou per la zona
Zacrifício tão zusto?
Truta zerou Zaca
Na gruta.

Agora que Zaca estava zero quilômetro
Fora do mundo em que viveu
Longos trinta e três anos
Truta viveu mais cinco
E foi sucedido por seu filho Michelle.

Pafúncio

Nada melhor do que três semanas
E mais sete dias para descansar.
Vou tomar todas e mais algumas
Adeus, ao revoar!

(continua...)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sobre obras de arte

"De acordo com o Samkhya-karita de Ishvarakrsna do século IV, o sábio Kapila sustentava que, do mesmo modo que ao assistirmos a um espetáculo de dança ou teatro nos identificamos com os dançarinos ou atores, nós que pensamos ou agimos no mundo passamos a nos identificar com nossos próprios pensamentos e ações. Desde o exato momento em que nascemos, observamos uma pessoa agir e pensar, e compartilhamos as alegrias, as ideias, as intuições e as agonias dessa pessoa; essa coexistência íntima com nós mesmos cria a ilusão de sermos aquela pessoa. As imagens que conscientemente criamos para nosso prazer, instrução ou alívio ampliam essa ilusão, permitindo-nos imaginar que uma pintura de Picasso, ou uma escultura de Aleijadinho revelam o mundo para nós ou nos revela para o mundo: assim também, e de forma assombrosa, é que em meio à nossa crueldade, ganância ou loucura sem inspiração, ainda sejamos capazes de criar e recriar tanta beleza. Essencialmente, toda imagem nada mais é do que uma pincelada de cor, um naco de pedra, um efeito de luz na retina, que dispara a ilusão da descoberta ou da revelação, do mesmo modo que nada mais somos do que uma multiplicidade de espirais infinitesimais em cujas moléculas - assim nos dizem - estão contidos cada um de nossos traços e tremores. De todo modo, tais reduções não oferecem explicações nem pistas sobre o que se constela em nossa mente quando vemos uma obra de arte que, implacavelmente, parece exigir uma reação, uma tradução, um aprendizado de algum tipo - e talvez, se tivermos sorte, uma pequena epifania." (Alberto Manguel em Lendo Imagens).

Que grosseria

Para fechar a sequência infeliz de piadinhas, o Steve Martin encerrou a cerimônia tripudiando sobre o grande derrotado da noite: "A cerimônia demorou tanto que Avatar já virou passado."

Louco para ir embora?

O Tom Hanks anunciou o melhor filme de supetão, sem o menor suspense. Coisa estranha.

Melhor diretora

Já se foi o tempo em que elas não sabiam dirigir (não resisti à piadinha machista). Feliz Dia Internacional da Mulher!

Acabo de concluir que...

... Barbra Streisand e Jennifer Aniston são a mesma pessoa, com uns 70 anos de diferença.

Melhor atriz

Tudo bem, tudo bem, a Sandra Bullock é legalzinha.

Tá bom, eu admito

Estou torcendo pelo George Clooney. Melhor ator será anunciado em dois minutos.

Melhor filme estrangeiro

Dois a zero pra Argentina.

A enigmática popularidade de Kevin Bacon

Célebre pela "lei Kevin Bacon dos sete elos" - aquela que assegura ser possível estabelecer a ligação dele com qualquer ator ou atriz do mundo em no máximo sete conexões (vá neste site e digite "Humphrey Bogart" ou "Dercy Gonçalves", por exemplo) -, o sujeito já apareceu duas vezes em imagens de arquivo durante a cerimônia do Oscar.

Tuitando no blog

O impressionante espetáculo de dança que acaba de ser apresentado na cerimônia do Oscar compensou todas as piadinhas sem graça do Steve Martin.

terça-feira, 2 de março de 2010

Poder de síntese

Entre todos os colegas que ouvi para produzir meu livro sobre a vida de frila, a melhor síntese de como a gente se torna autônomo veio do fotógrafo Pedro Martinelli: “Fui tocando e continuo tocando, sem dar muita bola para os tropeções.” É isso mesmo. Bola para a frente, sempre.

Cidade tão linda, nome tão feio

A querida Julia Berutti me mandou logo cedo este artigo, publicado na Folha de S. Paulo de hoje. É assinado por Rubem Alves - um "aliado da minha causa", como definiu a Julia.

Floripa

Gosto do que a cidade me faz lembrar. Em Floripa, eu me sinto em casa. Melhor dizendo: volto para casa

SE EU PUDESSE , me mudaria para Floripa. Gosto dela por ela mesma, pelo lugar, pelo mar azul, pelas águas mansas, pelo cheiro de maresia, pelos barcos a vela, pelos golfinhos... Sempre me lembro de uma manhã de felicidade boba - felicidade boba é felicidade que acontece de repente, sem preparo, com pouca coisa, em momentos de distração. Eu, mulher e filhos pequenos éramos o mundo (em Floripa, a gente se esquece do mundo), assentados numa baía rasa de água morna catando berbigões, moluscos deliciosos quando feitos com arroz...
Gosto dela mesma, mas gosto também daquilo que ela me faz lembrar. Em Floripa, eu me sinto em casa. Melhor dizendo: volto para casa.
Eu nasci em Minas, lugar onde parece que não há mar. O problema é que os visitantes, ainda não iniciados nos mistérios de Minas, procuram o mar no lugar errado. Tomei muito banho de mar em Minas, especialmente em noite de lua cheia.
Tive uma casa lá no alto de uma montanha, dentro da cratera de um vulcão adormecido há 500 milhões de anos.
Nietzsche escreveu em algum lugar que o segredo da criatividade ou, quem sabe, da juventude é construir uma casa na base de um vulcão. Para a gente nunca dormir descansado. Viver perigosamente. Sempre é possível que o vulcão acorde do seu sono. Agora, com a fúria da terra que acordou do seu sono com terremotos e tsunamis, me pergunto: e se o vulcão adormecido acordar?
Mandei esculpir numa prancha de madeira de lei as instruções para aqueles que querem ver o mar de Minas: "O mar de Minas não é no mar. O mar de Minas é no céu, prô mundo olhar prá cima e navegar, sem nunca ter um porto prá chegar". Peço perdão ao poeta cujo nome esqueci. Lá, eu tomei muito banho de mar olhando pro céu. Eu olhava para cima, via as nuvens, navios que o vento tocava.
Aí sai das montanhas e fui para o mar. Mudei-me para o Rio. O mar é um espanto. Meu filho de quatro anos, depois de molhar os pés nas águas do mar pela primeira vez, me perguntou ao voltar para a casa: "O que é que o mar faz quando a gente vai dormir?"
O Rio era bom porque ele era mar e montanha ao mesmo tempo. E eu fiquei assim dividido, e até escrevi uma história para grandes e pequenos com o título de "A Selva e o Mar".
Mas agora o Rio ficou um lugar de tiros e medos. Tranquilidade não se encontra em nenhum lugar.
Por isso, gosto de Floripa, porque lá eu me lembro da minha infância livre no Rio, embora os cariocas nunca tivessem perdoado o meu sotaque de mineiro. Ir a Floripa é viajar em busca do tempo perdido.
Mas, para eu me mudar para Floripa, é preciso que ela mude de nome. Porque Floripa não é o nome dela. É um apelido de amor, que poderia ser para a mulher amada.
O nome oficial dela, escrito nos documentos e envelopes de cartas, é Florianópolis, cidade do Floriano. Floriano era nome de militar, apelidado de "marechal de ferro", um estranho nascido em Ipioca, distrito de Maceió, Alagoas. Não foi à toa que lhe deram esse apelido. Seus ferros furaram as paredes de um forte onde os inimigos da República eram executados por sua ordem. Pelo menos, foi isso que o guia me contou. E, olhando para a parede esburacada pelas balas, lembrei-me da tela terrível de Goya: "O Fuzilamento". E a cidade, que tinha outro nome, foi rebatizada com o nome de Floriano para celebrar uma vitória militar do férreo marechal.
Quero me mudar para a dita cidade. Mas não me dou bem com o seu nome. No dia em que a capital passar a ser oficialmente chamada de Floripa, cidade das flores, então eu mudo...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Assim Falavam Zaca e Truta (II)

A casa de Truta é uma mansão monumental
Sete vezes sete vezes maior que o normal.
Zaca mora num lugar difícil de encontrar
E há quem diga que sua casa é algo peculiar.
Aliás, Zaca não tem casa (mora numa gruta)
E não tem dinheiro nem mulheres (como Truta).

Os olhos que olham com carinho,
Os pés que caminham no caminho.
As mãos que afagam com amor,
Milagres que acabam com a dor.
Zaca chegava fácil ao fundo da alma
Como quem flutua na água calma
Do fundo do mar.
Enquanto Truta, o profeta maldito
Não sabia o que era cativar.
Mal sabia que o que via todo dia
Era o fundo do poço, não do mar.

Olhos que eram só maldade,
Olhos que não viam beleza,
Alma que era só falsidade,
Alma que era só tristeza.

Mas de Truta trocaram o traje:
Tremendo estrume, trágico ultraje.
Três trompas trouxeram ao trono
Do cetro o novo dono.
Intrigante tristeza, triste certeza:
De um traidor transformado
Surgiu o novo rei coroado.

Mil vivas elevaram ao monarca.
Mil vozes cantaram ao monarca.
Mil almas encontraram a dor.

(continua...)