Papers by Vanessa Almeida
Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Nov 10, 2020
Resistência e/y Memória. Perspectivas Ibero-Americanas, 2015
Com base em depoimentos de antigas funcionárias clandestinas do Partido Comunista Português, prop... more Com base em depoimentos de antigas funcionárias clandestinas do Partido Comunista Português, propomo-nos fazer uma reflexão sobre a clandestinidade comunista portuguesa e escrutinar quais as motivações que justificaram a passagem destas mulheres à ilegalidade e a assumir uma "morte civil". _________ Num artigo sobre militantes que se opuseram à ditadura militar brasileira, Maria Auxiliadora Arantes descreve da seguinte forma a passagem à clandestinidade: «Tornaram-se clandestinos. Nos nomes, nos rostos, nos documentos pessoais. Afastaram-se de seu grupo familiar, de amigos e de suas profissões. Deixaram suas casas, seus bens, suas roupas. Formaram a coluna vertebral de resistência aos militares. Reuniram-se febrilmente, fizeram planos estratégicos e de acção. Brigaram entre si e se abraçaram como nunca. Cada despedida, talvez fosse a última.» (Arantes, 1999:65) Lá como cá. De 1929 1 a Abril de 1974, até que as léguas a separar Portugal do Brasil como que aumentaram, tanto mar, tanto mar, nós em festa e Chico Buarque pedindo urgentemente um cheirinho a alecrim. Na esteira de Dawn Linda Raby (Raby, 1988:15), assume-se a distinção entre resistência Comunista Português quem protagonizou a resistência contra a ditadura no tempo longo. Embora 1929 seja considerado como o ano em que o PCP surge como partido clandestino, fruto da reorganização promovida por Bento Gonçalves 2 e Júlio César Leitão 3 (Pereira, 1993:56), foi a reorganização de 1940-1942, mediante a implementação de uma rígida compartimentação e conspiratividade, sistema aperfeiçoado através de medidas correctivas constantes, que permitiu ao PCP resistir às investidas policiais. Como pode ler-se n' O Militante de Fevereiro de 1942, «Pensa-se que a polícia dos nossos dias é a mesma polícia bronca dos primeiros anos do fascismo, que só actua de chofre e sem estratégia; quando a verdade é que a polícia nos últimos anos conseguiu ultrapassar muitas vezes o Partido em estratégia. Enquanto que o Partido se mantinha sectariamente amarrado a velhas concepções de trabalho conspirativo, a policia industriada pelos dirigentes da "Gestapo" que a Portugal vieram por várias vezes, sobretudo durante a guerra de Espanha, ultrapassou-o facilmente. (…) Devemos sempre encarar a nossa posição em relação à polícia como aquilo que de facto é: duas forças inimigas que estão em luta constante; aqui como na guerra, a que souber usar uma melhor estratégia, será aquela a quem pertencerá a vitória.» De facto, as técnicas conspirativas implementadas em 1929 eram bastante rudimentares. No seu livro de memórias, Joaquim Pires Jorge 4 refere que nos primeiros anos de clandestinidade, o número de funcionários clandestinos era muito reduzido, os fundos praticamente inexistentes, não existindo separação entre o trabalho de organização e o aparelho técnico. Em 1942 foi preso pela PVDE 5 , devido à falta de cuidados conspirativos, concluindo «era uma clandestinidade que não era clandestinidade nenhuma» (Jorge, 1984:37). Também Aida Paula dá conta da evolução das práticas clandestinas após a reorganização dos anos 40, comparativamente à década de 30. Como a própria recordou: «O meu primeiro período de clandestinidade, no decorrer dos anos 30, não foi tão difícil como viria a ser aquando da reorganização do Partido Comunista. É que então, a disciplina não era tão severa, já que se podia ter contactos com a família. Depois de 1941-1942, as coisas mudaram muito. Não só pelo corte total com o exterior a que nos obrigava, particularmente a nós mulheres, guardiãs das casas do Partido, a completo isolamento, como pelas dificuldades a que a guerra nos sujeitava.» (Melo, 1975:36) A análise das circunstâncias em que ocorriam as prisões e a localização de instalações pelas forças policiais impunha-se, na medida em que as normas de conduta estabelecidas assentavam em experiências concretas, ou seja, era um conhecimento alicerçado numa prática que vai ser construída ao longo de décadas e que era transmitido no seio da organização. É o que permite a Cristina Nogueira definir a clandestinidade comunista enquanto "contexto de formação", o qual possibilitou aos militantes adquirirem uma nova identidade -a de serem clandestinos. (Nogueira, 2009). Era um conhecimento transmitido de boca em boca, em reuniões de militantes, mas também em conversas informais, artigos publicados no Avante! e n'O Militante, bem como em circulares emanadas do Secretariado. Como narra Manuel Pedro no seu livro de memórias, «…no seu todo, não há livro nenhum que nos ensine a defender, no concreto, uma casa clandestina. É (foi), no trabalho real, no controlo de execução, nas discussões à volta da movimentação, da disciplina no cumprimento das decisões tomadas para a defesa, com aspectos sempre diferentes, de uma instalação, que se vai obtendo a sensibilidade, a acuidade que temos do que se passa à nossa volta, da maneira como nos olham ou até nem olham.» (Pedro, 2004:197) Apesar de serem definidas regras, o trabalho conspirativo caracteriza-se sobretudo por uma grande maleabilidade e adaptação às circunstâncias, por uma "historicidade" (Álvarez, 2003:93), adquirindo características de organismo vivo, em constante mutação.
Movimento Cultural, 2014
No dia 22 de Agosto de 1942 morre, em Sintra, Alfredo da Silva, administrador-gerente da Companhi... more No dia 22 de Agosto de 1942 morre, em Sintra, Alfredo da Silva, administrador-gerente da Companhia União Fabril, deixando atrás de si o primeiro e maior grupo financeiro português. Sepultado no cemitério oriental de Lisboa, seria trasladado para o mausoléu erigido para o efeito no então cemitério do Barreiro, junto à fábrica de tecidos da CUF, no dia 20 de Agosto de 1944, de acordo com a vontade por si expressa em vida. Alfredo da Silva não assiste por isso àquela que foi considerada por Nicolau Lopes Cazelas 1 como «a maior luta de massas» 2 realizada na vila operária, o que poderá concorrer para a mitificação da figura do industrial lisboeta, considerado por muitos como "o pai do povo do Barreiro" 3 , devido à política paternalista por si adoptada e continuada pelos seus sucessores 4 , e também por não lhe serem associados momentos de conflitualidade aberta com o operariado. Todavia, e tal como tivemos ocasião de mencionar 5 , o que se verifica relativamente às greves ocorridas na CUF durante a sua gerência nos anos da I República, é uma ruptura na memória colectiva, para a qual concorreu, entre outros factores, o despedimento dos grevistas, provavelmente oriundos de outras localidades do país. Foram possíveis de identificar três momentos de greve: Dezembro de 1910 (Barreiro), 1911 (Lisboa) e 1919 (Barreiro). A posição assumida por Alfredo da Silva será constante: por um lado, tenta adiantar-se às exigências operárias, promovendo o aumento dos salários, com vista a evitar futuras reivindicações. Quando, ainda assim, não consegue evitar a greve prefere que a mesma deflagre para posteriormente despedir «…todos os elementos nocivos aos interesses dos trabalhadores e da boa ordem e disciplina.» 6 É Alfredo da Silva quem, em 1911, oferece condições à GNR para que esta se instale no interior do complexo industrial. O objectivo é evidente: a par de diversos mecanismos de controlo social da massa operária, apoia-se nas forças da ordem para suster, por intermédio da intimidação, quaisquer tentativas de contestação. Em
Ubimuseum, 2013
Albeit being Portugal a neutral country, the first half of the 40s of last century was marked the... more Albeit being Portugal a neutral country, the first half of the 40s of last century was marked there by a deep social unrest, which was not unaware of the existence of a conflict at a global scale. The 27 th July 1943 a strike irrupted at the factories of Companhia União Fabril (CUF) in Barreiro, that readily spread to the other manufacturing plants in that industrial town. The movement was organized and led by the Portuguese Communist Party, which at that time was also engaged in a self-reorganisative process. The amplitude of the movement was used by Salazar's dictatorship to justify the repression fiercely exerted against that town, that finally ended to its military occupation for years. To reflect on how the memories of the great strike survived through the years of the dictatorship and on the political uses of the memory around them, are other issues addressed in this text.
Thesis Chapters by Vanessa Almeida
This research intends to reflect on women’s experience in the Portuguese communist clandestinity ... more This research intends to reflect on women’s experience in the Portuguese communist clandestinity in an attempt to understand how the socially constructed boundary between genders impacted the political activism and daily secrecy. In methodological terms, and because it was considered impossible to capture the essence of what was the experience of feminine clandestinity recurring only to documental sources, it was chosen to collect narratives of the lives of women that experienced it, in order to work the concept of collective memory, understood as a social phenomenon built by a certain group or community. This was followed by the oral history path and resorted to a bibliography originated from the most miscellaneous fields of knowledge: history, sociology, anthropology, education sciences and psychology, aiming to rescue from deep silence those women’s voices who, with a huge personal sacrifice, have abandoned their land, their homes, their family, even their name, to go underground, allowing the survival of the clandestine structure of Portuguese Communist Party during the years of the Estado Novo dictatorship.
GENDER AND ARMED CONFLICT by Vanessa Almeida
Durante muito tempo as mulheres foram as grandes ausentes das narrativas da História. Como refere... more Durante muito tempo as mulheres foram as grandes ausentes das narrativas da História. Como referem James Fentress e Chris Wickham, «O problema essencial de quem quiser identificar uma visão nitidamente feminina do passado é a hegemonia: a de uma ideologia dominante e de uma dominação sobre a narração, expressa na relação homem-mulher.» A situação tem vindo a alterar-se e as ciências sociais, a par do movimento feminista interromperam esse silêncio imposto. Se, tal como Michelle Perrot refere, agir no espaço público nunca foi fácil para as mulheres, por hábito condenadas à esfera do privado, a realidade é que desde sempre o fizeram, umas vezes apoiando-se nos seus papéis tradicionais, outras rompendo as barreiras do género. Numa época na qual, fruto da conjuntura política internacional, as testemunhas da violência dos detentores da hegemonia são cada vez mais identificadas com o papel de vítimas e em que as memórias dos resistentes são cada vez mais secundarizadas e apagadas em nome de um suposto apaziguamento social, este colóquio pretende promover uma abordagem interdisciplinar sobre o papel das mulheres em movimentos de resistência e oposição ou durante conflitos armados, pretendendo-se uma reflexão que as considere enquanto verdadeiros sujeitos da História, que as resgate do ostracismo e da secundarização a que tendem a ser votadas.
Conference Presentations by Vanessa Almeida
Books by Vanessa Almeida
História, Património e Infraestruturas do Caminho-de-Ferro: Visões do Passado e Perspectivas do Futuro, 2015
Mulheres da Clandestinidade
This research intends to reflect on women’s experience in the Portuguese communist clandestinity ... more This research intends to reflect on women’s experience in the Portuguese communist clandestinity in an attempt to understand how the socially constructed boundary between genders impacted the political activism and daily secrecy. In methodological terms, and because it was considered impossible to capture the essence of what was the experience of feminine clandestinity recurring only to documental sources, it was chosen to collect narratives of the lives of women that experienced it, in order to work the concept of collective memory, understood as a social phenomenon built by a certain group or community. This was followed by the oral history path and resorted to a bibliography originated from the most miscellaneous fields of knowledge: history, sociology, anthropology, education sciences and psychology, aiming to rescue from deep silence those women’s voices who, with a huge personal sacrifice, have abandoned their land, their homes, their family, even their name, to go underground, allowing the survival of the clandestine structure of Portuguese Communist Party during the years of the Estado Novo dictatorship.
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