Papers by Rodrigo Lacerda
Brasil "Quando eu crescer, quero ser um fotógrafo": caminhos da produção audiovisual de Kamikia K... more Brasil "Quando eu crescer, quero ser um fotógrafo": caminhos da produção audiovisual de Kamikia Kisêdjê K amikia Kisêdjê, do povo Kisêdjê da Terra Indígena Wawi, Estado do Mato Grosso, Brasil, é um dos mais renomados repórteres, fotógrafos e cineastas indígenas de sua geração. Há mais de duas décadas, Kamikia vem registrando as lutas do Movimento Indígena no Brasil e formando novas gerações de artistas audiovisuais. Nesta entrevista, Kamikia Kisêdjê compartilha com os leitores as memórias de sua formação, algumas histórias da luta no Movimento Indígena no Brasil e nos convida a "unir forças e estar juntos nessa luta em defesa do meio ambiente, dos direitos e [contra] tudo isso que o governo vem criando para acabar" com os povos indígenas. Na primeira parte da entrevista, o cineasta compartilha suas lembranças quando criança, ao perceber que sua paixão era o audiovisual, suas primeiras experiências cobrindo reuniões comunitárias e o início de sua formação no projeto Vídeo nas Aldeias. O treinamento como comunicador indígena permitiu que ele fosse professor de outros indígenas com interesse audiovisual e se transformasse numa figura importante no registro das lutas do Movimento Indígena, como o Acampamento Terra Livre (ATL). Na segunda parte, ele compartilha sua experiência no registro da vida cotidiana de diferentes povos indígenas, que frequentemente tem sido intersetada pela ameaça de invasores e demandas para a demarcação do território indígena. A entrevista decorreu em Lisboa, Portugal, durante o evento EcoImagens: Festival de Cinema Indígena da Amazónia, que teve lugar naquela cidade e em Coimbra, nos dias 1, 2 e 3 de junho de 2022. O festival foi organizado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em parceria com o Festival de Cinema DocLisboa e a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, como parte do projeto "Animals and Plants in Cultural Productions about the Amazon River Basin-ECO", financiado pelo European Research Council (ERC) e coordenado por Patrícia Vieira. A programação contou com a curadoria de Ailton Krenak, Graci Guarani, Patrícia Vieira, Martiniano Neto e Rodrigo Lacerda. Cada sessão de filmes foi seguida de uma mesa-redonda com Kamikia Kisêdjê e Graci Guarani (online). Os filmes de Kamikia Kisêdjê exibidos durante o festival foram:
Modos de Fazer, Modos de Ser
PROA: Revista de Antropologia e Arte , 2021
Amália Cordoba, Renato Athias & Rodrigo Lacerda.
O objetivo deste dossiê é tomar o pulso dos deb... more Amália Cordoba, Renato Athias & Rodrigo Lacerda.
O objetivo deste dossiê é tomar o pulso dos debates contemporâneos sobre cinema indígena. Apesar de existirem mais artigos sobre esta produção no Brasil, incluímos também textos oriundos de outras geografias, predominantemente da América Latina, ou Abya Yala, com o intuito de catalisar comparações, contrastes e diálogos entre diversas experiências. O dossiê demonstra que o cinema indígena e as reflexões sobre este são heterogéneas, dando assim conta das múltiplas línguas, lógicas e perspectivas disciplinares de onde se está analisando este corpus e que são desafiadas pelas diversas práticas e processos que constituem esta produção. Uma primeira questão, bem aberta, que este dossiê apresenta, é a produção de filmes do que estamos categorizando de "cinema indígena" que, em um momento, foi chamado "vídeo indígena" em América Latina, e que tem a ver com o tempo em que estas narrativas foram criadas e colecionadas, permitindo, assim, mostrar à sociedade nacional, em um determinado tempo, a sua relação com a sociedade indígena. Este tipo de produção cria, de fato, uma representação que incorpora elementos de uma história já vivida, mais presente ainda nas narrativas indígenas.
PROA: Revista de Antropologia e Arte | Campinas-SP | 11 (1) | p. 12-21 | Jan - Jun | 2021
Arts-based methods are well-placed to enable disruptions to normative positioning of researcher, ... more Arts-based methods are well-placed to enable disruptions to normative positioning of researcher, respondent and subject. This chapter draws on the author’s reflections of opening the research processes to the possibilities of methodological ir/responsibility. It focuses on a selection of mixed-method projects where a significant contribution to the validity of the empirical research emerged from the arts-based methods employed, including the use of journal writing, story-telling, metaphoric and visual imagery. The discussion is structured around the validity of the methods for the purposes of generating data to inform the evaluation of and research on that which is often difficult and elusive to analyse in higher education. A particular contribution of the chapter is the discussion of how the construction of research participants informed both the data generation processes, and the analytic approach to the texts they authored. An argument is made for the importance of establishing c...
A new open-access publication series edited by the RAI Anthropology of Art Committee. The series ... more A new open-access publication series edited by the RAI Anthropology of Art Committee. The series stems from the international conference Art, Materiality and Representation organized by the RAI in collaboration with the British Museum and the School of Oriental and African Studies in 2018. Its aims are to make available to a wide audience works that engage with the connections between visual, material, aural and other expressive human practices and the lived worlds in which they take place from an anthropologically informed perspective. We solicit new contributions from anthropologists and others-such archaeologists, art historians and practitioners-that will enhance and expand our collective understanding and appreciation of this important area of social life.
International Journal of Heritage Studies, 2021
The article analyses the ontological conflicts implicit but not addressed during the process that... more The article analyses the ontological conflicts implicit but not addressed during the process that registered the ruins of the Jesuit-Guarani Mission in São Miguel (Brazil) as intangible cultural heritage: ‘Tava, Place of Reference for the Guarani People’. The process can be understood as an appropriation of the tools of modernity that provides an indigenous and dissonant narrative of the missions, counters discrimination and affirms the Mbya-Guarani when they negotiate with the state. However, the research also revealed that the conceptualisation of tava is based on a different ontology from modernity – on which the category of heritage is still based – that is related to the importance for the Mbya-Guarani of building good and beautiful bodies and social relations by wandering through the land left to them by the gods and following the precepts and signs of the latter. Instead of perpetuating the hierarchies between ontologies, the article brings to light the ontological conflicts with the objectives of overcoming the limitations of the policies of recognition and enhancing the perspective of heritage as a regime of care not only for objects, places and practices, but also for the people and worlds for whom these things are heritage.
Comunicação e Sociedade, 2019
The category of intangible cultural heritage (ICH), recently institutionalized by several countri... more The category of intangible cultural heritage (ICH), recently institutionalized by several countries (2000, in the case of Brazil) and, internationally, by Unesco (2003), requires the participation of groups and communities in the identification, safeguarding and maintenance of their heritage. Due to the recent nature of these policies, there is still only a small number of studies examining the levels and strategies of participation used in determining ICH. More recently, Rodney Harrison (2013) argued that is important to study not only the participation of humans in heritage processes, but also, especially in indigenous contexts, the participation of nonhumans. In order to contribute to these discussions, the article describes and analyzes the patrimonializa-tion of the ruins of the São Miguel Jesuit-Guarani Missions, located in the Brazilian state of Rio Grande do Sul, as "Tava, Place of Reference for the Guarani People". The process lasted a decade and initially encountered some resistance from the Guarani. However, the establishment of reciprocity and affinity relations between indigenous and non-indigenous agents, the recognition of ICH's political potential and the influence of spiritual aspects, including nonhumans, promoted the participation of the Guarani, who proved to be essential actors for the identification and registration of the cultural landmark in 2014.
Comunicação e Sociedade, 2019
A categoria de património cultural imaterial (PCI), institucionalizada no início deste século por... more A categoria de património cultural imaterial (PCI), institucionalizada no início deste século por diversos países (no ano 2000, no caso do Brasil) e, a nível internacional, pela Unesco (2003), exige a participação dos grupos e comunidades detentores dos bens culturais na sua identificação, salvaguarda e manutenção. Devido ao carácter recente destas políticas patrimoniais, ainda existe um número reduzido de estudos que reflitam sobre os níveis e estratégias de participação utilizados no PCI. Mais recentemente, Rodney Harrison (2013) defendeu a importância de não só estudar a participação de humanos nos processos patrimoniais, mas também, nomeadamente, em contextos indígenas, de não humanos. Com o intuito de contribuir para estas discussões, o artigo descreve e analisa a patrimonialização das ruínas da Missão Jesuítico-Guarani de São Miguel, localizadas no estado brasileiro de Rio Grande do Sul, enquanto "Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani". O processo durou uma década e encontrou inicial-mente diversas resistências por parte dos Guarani. Contudo, o estabelecimento de relações de reciprocidade e de afinidade entre agentes indígenas e não indígenas, o reconhecimento das potencialidades políticas do PCI e a influência de aspetos de ordem espiritual, incluindo de não humanos, promoveram a participação dos Guarani, que demonstraram ser atores essenciais para a identificação e registo do bem cultural em 2014.
Soc. e Cult., Goiânia, v. 22, n. 2, p. 60-83, ago./dez. 2019.10.5216/sec.v22i1.e58400ResumoOs ban... more Soc. e Cult., Goiânia, v. 22, n. 2, p. 60-83, ago./dez. 2019.10.5216/sec.v22i1.e58400ResumoOs banquetes do Yaokwa: potencialidades e limites do cinema e do património entre os Enawenê-nawêRodrigo Lacerda1Doutor pela Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal e Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, [email protected] artigo examina a utilização do cinema em processos de patrimonialização não institucional e institucional do ritual Yaokwa do povo Enawenê-nawê em dois momentos históricos diferentes, recorrendo a depoimentos de cineastas e antropólogos indigenistas, à análise fílmica e a bibliografia ameríndia. As obras foram produzidas pelo projeto Vídeo nas Aldeias que, desde os anos 1980, desenvolve um trabalho colaborativo com comunidades indígenas na área do audiovisual. O primeiro documentário foi realizado num contexto de reflexão interna sobre a relação a estabelecer com a sociedade colonial. O segundo filme foi produzido quinze anos depois como parte do processo de patrimonialização institucional do ritual Yaokwa que tinha como objetivo alertar para os desafios ambientais que vários empreendimentos capitalistas colocavam à manutenção do modo de vida dos Enawenê-nawê.
MEMORIAMEDIA, 2018
O projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) foi criado no Brasil em 1986 com o objetivo de apoiar a luta do... more O projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) foi criado no Brasil em 1986 com o objetivo de apoiar a luta dos povos indígenas no fortalecimento das suas culturas e identidades através do recurso ao audiovisual. A partir de 1997, o VNA transformou‐se numa escola de cineastas indígenas, apesar de o espírito de colaboração se ter mantido, especialmente durante as fases de revisão das filmagens, tradução e montagem. Este artigo analisa alguns estudos de caso no sentido de refletir sobre as relações entre cinema colaborativo e património no contexto dos povos indígenas no Brasil e advoga que aquele não é uma técnica ou metodologia, mas antes uma atitude política, ética e estética que tem que estar disponível para o potencial do devir e do radicalmente novo. Palavras‐chave: cinema indígena, cinema colaborativo, património cultural imaterial, Vídeo nas Aldeias. O Vídeo nas Aldeias (VNA) é um projeto 1 de cinema colaborativo sediado no Brasil, com mais de trinta anos e que tem por missão " (...) apoiar as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio de 1 De 1986 a 2000, o VNA fez parte da ONG Centro de Trabalho Indigenista (CTI). A partir daquela data o VNA tornou‐se numa ONG independente. 2 Sítio da internet do VNA: http://www.videonasaldeias.org.br/2009/vna.php?p=1, consultado a 10 de setembro de 2018. recursos audiovisuais e de uma produção compartilhada com os povos indígenas ". 2 A história do VNA pode ser dividida em duas fases. Durante a primeira década, os cineastas não indígenas respondiam às demandas das comunidades indígenas,
MEMORIAMEDIA, 2018
The project Video nas Aldeias (VNA) was created in Brazil in 1986 with the objective of supportin... more The project Video nas Aldeias (VNA) was created in Brazil in 1986 with the objective of supporting the struggle of indigenous peoples to strengthen their cultures and identities through the use of audiovisual resources. Since 1997, VNA has become a school of indigenous filmmakers, although the spirit of collaboration has been maintained, especially during the review of the footage, translation and editing phases. This paper analyses some case studies in order to reflect on the relations between collaborative cinema and heritage in the context of indigenous peoples in Brazil and advocates that this is not a technique or methodology but rather a political, ethical and aesthetic attitude that has to be available for the potential of the becoming and the radically new.
O artigo analisa as inúmeras produções imagéticas sobre as Missões Jesuítico-Guarani, com especia... more O artigo analisa as inúmeras produções imagéticas sobre as Missões Jesuítico-Guarani, com especial destaque para as ruínas de São Miguel (RS). Em primeiro lugar, examino como aquelas estruturas foram construídas, inclusive através de processos patrimoniais, enquanto “plano”, isto é, como visualidade do poder colonial no sentido de fomentar imagens positivas do Estado-Nação e, atualmente, de uma sociedade multicultural. Num segundo momento, exploro a realização de filmes por Mbya Guarani sobre as Missões e a sua história e cultura enquanto “contraplano” àquela produção de imagens. Por fim, defendo que, para este povo, as categorias cinema e património encontram ressonâncias produtivas nos modos de ser e conhecer o cosmo e que, por isso, estão para além de uma “guerra de imagens”, constituindo um “plano sem plano”.
Hoje em dia, as pessoas que filmamos nos documentários estão conscientes, ainda que, por vezes, s... more Hoje em dia, as pessoas que filmamos nos documentários estão conscientes, ainda que, por vezes, superficialmente, das políticas de representação a que estão sujeitas. Esta realidade pode produzir uma fricção entre as expectativas do indivíduo e do realizador. Partindo da experiência de produção do documentário Thierry (2012), o artigo analisa alguns dos conflitos e confluências entre o registo do discurso político e as explorações da imagem corpórea (MacDougall 2006).
Book Chapters by Rodrigo Lacerda
Book Reviews by Rodrigo Lacerda
Recensão crítica do livro Observational Cinema. Anthropology, Film, and the Exploration of Social... more Recensão crítica do livro Observational Cinema. Anthropology, Film, and the Exploration of Social Life, de Anna Grimshaw e Amanda Ravetz (2009).
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Papers by Rodrigo Lacerda
O objetivo deste dossiê é tomar o pulso dos debates contemporâneos sobre cinema indígena. Apesar de existirem mais artigos sobre esta produção no Brasil, incluímos também textos oriundos de outras geografias, predominantemente da América Latina, ou Abya Yala, com o intuito de catalisar comparações, contrastes e diálogos entre diversas experiências. O dossiê demonstra que o cinema indígena e as reflexões sobre este são heterogéneas, dando assim conta das múltiplas línguas, lógicas e perspectivas disciplinares de onde se está analisando este corpus e que são desafiadas pelas diversas práticas e processos que constituem esta produção. Uma primeira questão, bem aberta, que este dossiê apresenta, é a produção de filmes do que estamos categorizando de "cinema indígena" que, em um momento, foi chamado "vídeo indígena" em América Latina, e que tem a ver com o tempo em que estas narrativas foram criadas e colecionadas, permitindo, assim, mostrar à sociedade nacional, em um determinado tempo, a sua relação com a sociedade indígena. Este tipo de produção cria, de fato, uma representação que incorpora elementos de uma história já vivida, mais presente ainda nas narrativas indígenas.
PROA: Revista de Antropologia e Arte | Campinas-SP | 11 (1) | p. 12-21 | Jan - Jun | 2021
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O objetivo deste dossiê é tomar o pulso dos debates contemporâneos sobre cinema indígena. Apesar de existirem mais artigos sobre esta produção no Brasil, incluímos também textos oriundos de outras geografias, predominantemente da América Latina, ou Abya Yala, com o intuito de catalisar comparações, contrastes e diálogos entre diversas experiências. O dossiê demonstra que o cinema indígena e as reflexões sobre este são heterogéneas, dando assim conta das múltiplas línguas, lógicas e perspectivas disciplinares de onde se está analisando este corpus e que são desafiadas pelas diversas práticas e processos que constituem esta produção. Uma primeira questão, bem aberta, que este dossiê apresenta, é a produção de filmes do que estamos categorizando de "cinema indígena" que, em um momento, foi chamado "vídeo indígena" em América Latina, e que tem a ver com o tempo em que estas narrativas foram criadas e colecionadas, permitindo, assim, mostrar à sociedade nacional, em um determinado tempo, a sua relação com a sociedade indígena. Este tipo de produção cria, de fato, uma representação que incorpora elementos de uma história já vivida, mais presente ainda nas narrativas indígenas.
PROA: Revista de Antropologia e Arte | Campinas-SP | 11 (1) | p. 12-21 | Jan - Jun | 2021