Josemeire Alves Pereira
Doutora em História (2019) - Área: História Social (Linha de Pesquisa: História Social da Cultura), pela Unicamp; Mestre em História (2012) - Área: Política, Memória e Cidade (Linha de Pesquisa: Cultura, Cidade e Patrimônio), pela mesma Universidade. Licenciada em História, pela UFMG (2006). Especialista em Gestão e Conservação do Patrimônio Cultural, pelo IFMG-Ouro Preto (2024). Tem experiência na área de História (pesquisa e ensino). Ex-bolsista de Apoio à Difusão do Conhecimento (ADC) CNPq, pelo Projeto Passados Presentes: patrimônios e memórias negras e afro-indígenas em Minas Gerais, sediado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Integrante da equipe gestora do mesmo projeto. Integrou, na função de Coordenação, a equipe responsável pela elaboração do dossiê Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas no Brasil, produzido pela Consultoria CAMPO e pelo IPHAN, em 2022, no âmbito do processo de patrimonialização dos Reinados, Congados e Congadas no Brasil, em curso, pelo IPHAN. Professora na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO-Brasil) (2020-2023) e Professora Convidada na UFMG (2018 e 2022). Foi co-curadora das exposições NDÊ! Trajetórias afro-brasileiras em Belo Horizonte (Museu Histórico Abílio Barreto - 2018 a 2020) e Palácio da Liberdade, Leituras Negras e da Programação Patrimônio, Cidade e Negritude (IEPHA-MG/APPA-Arte e Cultura - 2019), e do Ciclo de Debates e Performances NKANDA: Patrimônio Afrodiaspórico em Minas Gerais (IEPHA-MG/APPA-Arte e Cultura - 2020). Integrante do Núcleo Gestor da Associação Cultural Casa do Beco. Como pesquisadora, tem trabalhado com temas ligados às experiências de liberdade no Brasil, tais como: Pós-Emancipação (Brasil), História do Racismo no Brasil, representações sociais, Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, memória, favela, história urbana, cidades, Belo Horizonte-MG. Afiliada à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Integra o Grupo de Pesquisa Africanidades BH - EAD-UFMG, compõe a Coordenação do GT-Emancipações e Pós-Abolição - (GTEP-Anpuh 2023-2025) e a Seção Minas Gerais do mesmo GT. Integra, ainda, a Rede Nacional de Historiadorxs Negrxs, pela qual integra a equipe responsável pela Coluna Presença Histórica, no Portal UOL.
Supervisors: Profa. Dra. Lucilene Reginaldo (Doutorado) and Profa. Dra. Silvana Barbosa Rubino (Mestrado)
Supervisors: Profa. Dra. Lucilene Reginaldo (Doutorado) and Profa. Dra. Silvana Barbosa Rubino (Mestrado)
less
InterestsView All (70)
Uploads
Papers by Josemeire Alves Pereira
(Obs.: versão com diagramação atualizada pela autora, sem prejuízo do conteúdo e da paginação da publicação original).
ABSTRACT: The article discusses the agency of black families in Belo Horizonte, capital of Minas Gerais. These families, were involved in an important conflict, occurred between 1913 and 1917, in defense of their rights on a land farm inherited by their ancestors since mid-nineteenth century. The episode refers to subjects neglected on historical narratives about the town.
Thesis Chapters by Josemeire Alves Pereira
O estudo do qual resulta esta tese toma como ponto de partida este aparente paradoxo estabelecido entre o silêncio acerca da existência e a agência de população de africanas/os, pretas/os, pardas/os (estas/es últimas/os também classificadas/os em diferentes épocas como mulatas/os, mestiças/os), no povoado do Curral Del Rey, onde se instalou a nova capital, Belo Horizonte, e a existência de incontestáveis indícios documentais sobre o tema.
A partir destas fontes, indaguei sobre as razões e os mecanismos de produção desse silêncio e seus significados. A pesquisa possibilitou compreender que o “silêncio” e o próprio paradoxo aqui apontado emergem como expressões de relações de poder profundamente racializadas, características da formação social da sociedade brasileira ao longo do tempo, e que podem ser observadas no processo de instituição de uma cidade concebida a partir do discurso da modernidade e do progresso pelas elites políticas e econômicas de Minas Gerais, após a Abolição da escravidão e a instituição da República no país. Além disso, revela como traço de continuidade a potência transformadora dos movimentos de contraposição a este projeto, atualizada nas vivências de indivíduos e comunidades negras na cidade.
Teaching Documents by Josemeire Alves Pereira
Diante do propósito do MHAB de abordar o tema da presença negra, em Belo Horizonte, construímos a proposta curatorial de Ndê! a partir de indagação acerca da aparente contradição entre a preponderância de população afrodescendente constituindo o território do Curral Del Rei | Belo Horizonte, e a invisibilidade desta população nas narrativas historiográficas e de memória sobre a cidade.
Books by Josemeire Alves Pereira
As reflexões são desenvolvidas a partir de uma perspectiva sobre a formação da cidade de Belo Horizonte em que indagamos os discursos dominantes e oficiais, de forma a suscitar discussão sobre a produção de invisibilidades de determinados sujeitos e suas agências, nas narrativas que informam sobre as identidades da cidade, assim como sobre a configuração de classificações e estigmas, que dizem sobre a negação do direito à cidade a estes mesmos sujeitos.
De modo específico, problematizamos o estigma do invasor da cidade, um conceito construído por processos histórico-sociais permeados pelas singularidades do racismo no Brasil, e que é dirigido especialmente às populações negras, pobres, moradoras de favelas, aos mocambos e quilombos. A tipificação dessas populações como invasoras está associada a uma lógica excludente de ordenamento que caracteriza a cidade planejada em fins do século XIX para ser a nova Capital do Governo do Estado de Minas Gerais, mas constitui uma prática que tem afetado profundamente as relações de poder que se estabelecem nas grandes cidades brasileiras.
PALAVRAS-CHAVE: segregação racial; espaço urbano; Belo Horizonte; racismo; favelas
Conference Presentations by Josemeire Alves Pereira
RESUMO
A atual capital de Minas Gerais, construída em fins do século XIX, foi inaugurada em 1897. Planejada sob inspiração positivista, foi criada sob os signos da modernidade e do progresso, para atender aos anseios das elites políticas e econômicas do Estado, diante das mudanças advindas com a abolição formal da escravidão e a instauração da República. Representando, pois, um importante passo dentro do projeto de “modernização agrícola”, por meio do qual buscava-se impulsionar a economia mineira – em desvantagem frente aos avanços da economia cafeeira e dos anúncios de industrialização no Rio de Janeiro e em São Paulo –, o projeto da Nova Capital comunicava, de modo geral, o intento de superação da experiência colonial, representada por Ouro Preto e o alinhamento do Governo de Minas a projetos de desenvolvimento mais associados aos ensaios de liberalismo econômico então vigentes no país. Em sintonia com este propósito estava, pois, a própria instalação da Cidade de Minas (depois Belo Horizonte), sobre o território do antigo povoado do Curral Del Rei, criado no início do século XVIII e cujo sítio foi substancialmente transformado para a construção de prédios e equipamentos públicos, além de casas de residência para funcionários da administração do Estado: simultaneamente à destruição de antigas casas em estilo colonial e “cafuas”, emergia profundo silêncio sobre a presença preponderante da população de Cabindas, Congos, Benguelas, Minas, Monjolo, “pretos” e “pardos”, assim classificada ao longo de todo o século XIX, nos Mapas de População do Curral Del Rei, em número sempre maior que o da população identificada como branca.
Nesta comunicação, partindo destas considerações, indago as narrativas de memória e história produzidas sobre a cidade e o eloquente silêncio destas sobre esta população afrodescendente, majoritariamente livre, já antes de 1888, bem como sobre a população de migrantes negros que afluíram em número cada vez maior para a nova cidade. Acervos documentais diversos – além dos mapas de população, iconográficos, relatórios médicos e documentação policial – suscitam caminhos interpretativos deste silêncio como elemento associado ao caráter estruturante do racismo na produção de representações sociais da cidade e dos sujeitos eleitos como agente de sua história.
(Obs.: versão com diagramação atualizada pela autora, sem prejuízo do conteúdo e da paginação da publicação original).
ABSTRACT: The article discusses the agency of black families in Belo Horizonte, capital of Minas Gerais. These families, were involved in an important conflict, occurred between 1913 and 1917, in defense of their rights on a land farm inherited by their ancestors since mid-nineteenth century. The episode refers to subjects neglected on historical narratives about the town.
O estudo do qual resulta esta tese toma como ponto de partida este aparente paradoxo estabelecido entre o silêncio acerca da existência e a agência de população de africanas/os, pretas/os, pardas/os (estas/es últimas/os também classificadas/os em diferentes épocas como mulatas/os, mestiças/os), no povoado do Curral Del Rey, onde se instalou a nova capital, Belo Horizonte, e a existência de incontestáveis indícios documentais sobre o tema.
A partir destas fontes, indaguei sobre as razões e os mecanismos de produção desse silêncio e seus significados. A pesquisa possibilitou compreender que o “silêncio” e o próprio paradoxo aqui apontado emergem como expressões de relações de poder profundamente racializadas, características da formação social da sociedade brasileira ao longo do tempo, e que podem ser observadas no processo de instituição de uma cidade concebida a partir do discurso da modernidade e do progresso pelas elites políticas e econômicas de Minas Gerais, após a Abolição da escravidão e a instituição da República no país. Além disso, revela como traço de continuidade a potência transformadora dos movimentos de contraposição a este projeto, atualizada nas vivências de indivíduos e comunidades negras na cidade.
Diante do propósito do MHAB de abordar o tema da presença negra, em Belo Horizonte, construímos a proposta curatorial de Ndê! a partir de indagação acerca da aparente contradição entre a preponderância de população afrodescendente constituindo o território do Curral Del Rei | Belo Horizonte, e a invisibilidade desta população nas narrativas historiográficas e de memória sobre a cidade.
As reflexões são desenvolvidas a partir de uma perspectiva sobre a formação da cidade de Belo Horizonte em que indagamos os discursos dominantes e oficiais, de forma a suscitar discussão sobre a produção de invisibilidades de determinados sujeitos e suas agências, nas narrativas que informam sobre as identidades da cidade, assim como sobre a configuração de classificações e estigmas, que dizem sobre a negação do direito à cidade a estes mesmos sujeitos.
De modo específico, problematizamos o estigma do invasor da cidade, um conceito construído por processos histórico-sociais permeados pelas singularidades do racismo no Brasil, e que é dirigido especialmente às populações negras, pobres, moradoras de favelas, aos mocambos e quilombos. A tipificação dessas populações como invasoras está associada a uma lógica excludente de ordenamento que caracteriza a cidade planejada em fins do século XIX para ser a nova Capital do Governo do Estado de Minas Gerais, mas constitui uma prática que tem afetado profundamente as relações de poder que se estabelecem nas grandes cidades brasileiras.
PALAVRAS-CHAVE: segregação racial; espaço urbano; Belo Horizonte; racismo; favelas
RESUMO
A atual capital de Minas Gerais, construída em fins do século XIX, foi inaugurada em 1897. Planejada sob inspiração positivista, foi criada sob os signos da modernidade e do progresso, para atender aos anseios das elites políticas e econômicas do Estado, diante das mudanças advindas com a abolição formal da escravidão e a instauração da República. Representando, pois, um importante passo dentro do projeto de “modernização agrícola”, por meio do qual buscava-se impulsionar a economia mineira – em desvantagem frente aos avanços da economia cafeeira e dos anúncios de industrialização no Rio de Janeiro e em São Paulo –, o projeto da Nova Capital comunicava, de modo geral, o intento de superação da experiência colonial, representada por Ouro Preto e o alinhamento do Governo de Minas a projetos de desenvolvimento mais associados aos ensaios de liberalismo econômico então vigentes no país. Em sintonia com este propósito estava, pois, a própria instalação da Cidade de Minas (depois Belo Horizonte), sobre o território do antigo povoado do Curral Del Rei, criado no início do século XVIII e cujo sítio foi substancialmente transformado para a construção de prédios e equipamentos públicos, além de casas de residência para funcionários da administração do Estado: simultaneamente à destruição de antigas casas em estilo colonial e “cafuas”, emergia profundo silêncio sobre a presença preponderante da população de Cabindas, Congos, Benguelas, Minas, Monjolo, “pretos” e “pardos”, assim classificada ao longo de todo o século XIX, nos Mapas de População do Curral Del Rei, em número sempre maior que o da população identificada como branca.
Nesta comunicação, partindo destas considerações, indago as narrativas de memória e história produzidas sobre a cidade e o eloquente silêncio destas sobre esta população afrodescendente, majoritariamente livre, já antes de 1888, bem como sobre a população de migrantes negros que afluíram em número cada vez maior para a nova cidade. Acervos documentais diversos – além dos mapas de população, iconográficos, relatórios médicos e documentação policial – suscitam caminhos interpretativos deste silêncio como elemento associado ao caráter estruturante do racismo na produção de representações sociais da cidade e dos sujeitos eleitos como agente de sua história.