Como diria ela, “não é mandatório”. Pois não. Nem obrigatório, sequer, que isto na língua materna soa mais reduzido, menos rigoroso, com menos… afinco?!, indagaria ele, se coragem tivesse, com um sorriso irónico a bailar-lhe nos olhos. Um sorriso daqueles que traem qualquer tentativa desajeitada de parecer interessado nas suas palavras, de aderir às ideias que lhe saltam da boca num stress de hora de ponta.
Ajeita o cabelo, cruza e descruza as pernas que terminam num modelo fashion e não pára. Não pára de verbalizar opiniões sobre tudo e coisa alguma, com a segurança de quem acabou de travar conhecimento com algumas delas e a quem já trata por “tu”, numa descontracção de velhas amigas. Ele sorri para dentro e continua a ouvi-la, escutando-a intermitentemente, vagueando de mansinho por outros destinos que a memória lhe vai servindo em pequenas doses.
“Não achas?”, ouviu-a. Ao longe, num eco, com arestas nas palavras. “Hum? Sim… acho…”. Não achava. Estava demasiado morno para achar o que quer que fosse, num torpor distante do qual não lhe apetecia sair tão depressa e enfrentar o que ela achava. Voltou-se, serviu-se num copo alto e perdeu o olhar no rio que o chamava ao longe, com aquela luz de fim de tarde por quem se apaixonara.
“Qualquer dia vou navegar e entro nela”, pensou. Nessa luz com nome que guarda só para si, por não interessar a quem acha muitas coisas que lhe são distantes. Qualquer dia…