Monografias Acadêmicas by Silvia Tonial
Nas últimas décadas, a preocupação com a conservação do meio ambiente passou a incluir também os ... more Nas últimas décadas, a preocupação com a conservação do meio ambiente passou a incluir também os elementos da geodiversidade. A valoração do patrimônio da Terra impulsionou iniciativas voltadas à geoconservação, tais como o programa de Geoparques Mundiais da UNESCO, cujo status é equiparado ao de Patrimônio Mundial. Essas unidades de geoconservação buscam conscientizar sobre a importância histórica e social do geopatrimônio, sendo a educação das comunidades locais um dos meios para atingir esse objetivo. No sul do Brasil, o Geoparque Aspirante Caminhos dos Cânions do Sul (GCCS) busca efetivar-se como um expoente do programa da UNESCO. Considerando que o sucesso de um geoparque depende de um programa educativo bem estruturado, este trabalho se propõe a elaborar bases para um modelo de geoeducação focado no município de Cambará do Sul, RS. Buscando a conciliação com as premissas dos Geoparques Mundiais, confere-se às escolas o papel de centros de saber local e às suas comunidades o de protagonistas. Este estudo utilizou-se de técnicas como entrevistas, levantamentos documentais e diagnósticos (a) de aprendizagens, (b) do patrimônio e (c) das ações educativas do GCCS, (d) do contexto socioeconômico e educacional, (e) de temas relevantes e (f) de premissas para um modelo de geoeducação em Cambará do Sul. Foram alcançados resultados significativos em termos da identificação (a) de conteúdos relacionados às Geociências no currículo municipal, (b) do geopatrimônio do lugar, (c) da classificação adotada para os geossítios, (d) dos temas de interesse do GCCS, (e) da conjuntura socioeconômica e educacional do município, (f) das ações educativas relacionadas ao GCCS e (g) das percepções de alguns habitantes acerca das suas potencialidades. Tais resultados permitiram construir um modelo de geoeducação com base na realidade local que, de modo inédito, apresenta na literatura geocientífica os seguintes elementos estruturantes: (a) a escola é parte essencial ao desenvolvimento integral do geoparque, (b) as comunidades locais devem ser autoras e protagonistas do geoparque e (c) o geoparque como equipamento de ensino é uma via de mão dupla. Cada um dos elementos estruturantes corresponde a uma premissa com base na qual o modelo educacional proposto deve ser desenvolvido. A partir de bases mais claramente estabelecidas para o planejamento da geoeducação no município, este trabalho propõe-se como uma contribuição à elaboração de um programa educacional consistente, permitindo que o GCCS desempenhe seu papel como equipamento de geoeducação, aproximando-o de seu reconhecimento enquanto um Geoparque Mundial. A partir desse processo, espera-se estimular o desenvolvimento de uma cultura da Terra, com a formação de uma comunidade crítica, consciente das dinâmicas do planeta e da ação humana enquanto geradora de impactos, sensível às questões socioambientais e protagonista da construção do geoparque aspirante, como preconizam as premissas da UNESCO.
Resumos em Anais de Eventos by Silvia Tonial
Anais do 6º Simpósio Brasileiro de Patrimônio Geológico, 2022
O Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul (GCCS), situado na região sul do Brasil, entre os estados... more O Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul (GCCS), situado na região sul do Brasil, entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi reconhecido como Geoparque Mundial pela UNESCO em abril de 2022. O novo geoparque brasileiro abrange uma vasta geodiversidade, contando com dezenas de geossítios inventariados. A importância do geopatrimônio do GCCS justifica o reconhecimento dessa unidade de geoconservação. A geologia regional registra um dos maiores episódios de vulcanismo da história da Terra, que corresponde ao magmatismo Serra Geral e à Grande Província Ígnea Paraná-Etendeka (Rossetti et al. 2018), associado ao rompimento do supercontinente Gondwana. Tendo em vista a relevância do geopatrimônio do GCCS, buscou-se estabelecer relações entre os assuntos materializados pela geodiversidade local e as diretrizes curriculares de Cambará do Sul (RS), viabilizando sua inserção na educação formal.
Anais do 6º Simpósio Brasileiro de Patrimônio Geológico, 2022
Na região sul do Brasil, o programa de Geoparques Mundiais da UNESCO materializou-se em 2022, atr... more Na região sul do Brasil, o programa de Geoparques Mundiais da UNESCO materializou-se em 2022, através do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul (GCCS) (Fig. 1). Seus principais geossítios localizam-se em Cambará do Sul (RS), município conhecido como “a terra dos cânions”. Tendo em vista a geodiversidade inerente a um geoparque, é notável o seu potencial (geo)educativo. É imprescindível a participação da comunidade local na construção de um geoparque para que este se concretize como equipamento de geoeducação. Nesse sentido, a educação formal é fundamental para desenvolver uma cultura da Terra por meio de geoparques. Visando a formar uma comunidade crítica e sensível às questões socioambientais, capaz de ser protagonista da construção do geoparque, seria oportuna a inserção da geoeducação nas escolas. Embora existam inúmeras possibilidades de se fazer educação em geociências associada a geoparques, além de um incentivo dessa prática por parte da UNESCO, não são evidentes projetos de geoeducação permanentes nas escolas de Cambará do Sul (Tonial, 2021). A construção de um programa de educação baseado no lugar, que considere as especificidades de cada comunidade escolar, poderia contribuir no sentido de enriquecer e diversificar as experiências educacionais, proporcionalmente à geodiversidade da paisagem e das culturas que habitam o território.
Anais do 50º Congresso Brasileiro de Geologia, 2021
Historicamente, a presença de mulheres nas profissões relacionadas às Ciências da Terra é signifi... more Historicamente, a presença de mulheres nas profissões relacionadas às Ciências da Terra é significativamente menor. Desde a década de 1950, a partir da criação do curso de geologia no Brasil, as geocientistas precisaram conquistar seu espaço. Em 1960, Marilia da Silva Pares Regali foi a primeira geóloga contratada pela Petrobras e única mulher a trabalhar na empresa até 1975. Embora alguns aspectos tenham avançado desde então, em 2020, ainda pode ser observado um cenário semelhante: dentre a totalidade de profissionais da geologia no país, apenas 25% são mulheres. Relatos de geólogas e estudantes de geologia acerca das dificuldades encontradas durante a graduação e no exercício da profissão são comuns em todas as regiões do Brasil. Para além da expressão quantitativa das desigualdades na profissão, esses testemunhos indicam que as mulheres nas Geociências ainda têm grandes desafios pela frente. Em 2015, a partir da iniciativa de alunas do Instituto de Geociências da UFRGS, motivadas pela necessidade de dialogar sobre essas questões, foi criado o Coletivo Mulheres de Gaia. O primeiro encontro contou com o apoio das professoras, realizado após um debate sobre o tema “Mulheres nas Geociências”, na edição da Semana de Debates Geológicos (SEDEGEO) daquele ano. Desde então, as estudantes que constroem o Coletivo encontram-se semanalmente, oportunizando o diálogo e o planejamento de ações de conscientização. Elas também participam da construção das atividades da SEDEGEO junto ao Centro Acadêmico dos Estudantes de Geologia (CAEG) anualmente. Em 2016, o Coletivo engajou-se na campanha #EsseÉMeuProfessor, que expôs milhares de relatos de assédio sexual e moral ocorridos nas instituições de ensino do país. Foram coletados relatos e elaborados cartazes, que permaneceram nos murais do Instituto durante mais de dois anos. Em 2019, foi realizada outra campanha, denunciando frases preconceituosas ditas por colegas graduandos e pós-graduandos. Em ambas ocasiões, com os problemas expostos nas paredes, a reflexão acerca deles tornou-se inevitável. O Coletivo também realiza ações de divulgação da geologia junto a estudantes do Ensino Médio, durante as edições anuais do UFRGS Portas Abertas. São exibidas amostras de rochas e minerais, esclarecidas dúvidas sobre a profissão e compartilhadas histórias marcantes de mulheres geocientistas. Ao longo dos anos, também foram realizadas múltiplas rodas de conversa, palestras e cine debates abertos ao público, abordando temas como machismo e LGBTfobia, feminismos, saúde mental, entre outros. Através dessas ações, ambientadas em uma instituição de ensino, o Coletivo objetiva colaborar com a formação de cidadãos capazes de respeitar e conviver com a diversidade. Nos últimos três anos, tem sido observado um crescimento no número de mulheres ingressando no curso de geologia da UFRGS. A partir de 2018, elas passaram a representar cerca de 50% da turma, mudança que vem sendo comemorada pelas alunas do curso. Em cinco anos de história, o – carinhosamente chamado – Gaia acolheu, enfrentou dificuldades e celebrou vitórias junto às estudantes de graduação e pós-graduação. Atualmente, segue promovendo a integração e fortalecendo laços de amizade na luta por respeito e espaço para as mulheres nas Geociências.
Anais do 50º Congresso Brasileiro de Geologia, 2021
Os Geoparques UNESCO são importantes projetos relacionados à conservação do patrimônio geológico ... more Os Geoparques UNESCO são importantes projetos relacionados à conservação do patrimônio geológico e ao desenvolvimento socioeconômico e cultural sustentáveis. Entre seus eixos estruturantes, encontra-se a educação da sociedade em termos das geociências e das questões ambientais, definida como geoeducação: um ramo específico da educação ambiental relativo à geoconservação, que seja tratado, fomentado e desenvolvido no ensino formal e/ou não formal. Através dela, o cidadão consegue se perceber parte da paisagem, entendendo como a geodiversidade condiciona o desenvolvimento natural e humano, ajudando a despertar nele o desejo de conservá-la. Ao abordar os problemas e conteúdos de forma interdisciplinar, relacionando-os aos contextos local e global, a geoeducação permite que os estudantes qualifiquem-se ao exercício consciente da cidadania. Nesse sentido, o potencial educativo e pedagógico no contexto de geoparques é inegável, considerando-se que podem incentivar a geoconservação através da inclusão dos moradores enquanto parte essencial de sua construção. No entanto, verificam-se como problemáticas atuais a ausência de um modelo de geoeducação estratégico de longo prazo e a forma superficial com que ela tem sido promovida, em grande parte voltada aos visitantes e incompatível com a importância das escolas e da comunidade local na estruturação de um geoparque. A carência de estratégias educacionais de caráter duradouro, que formem a futura geração e possibilitem que os moradores locais participem efetivamente como protagonistas e autores dos geoparques, não apenas como atores frente aos turistas, dificulta enormemente a criação de uma cultura de geoconservação. Para superar esse desafio, são necessários modelos de geoeducação consistentes, que consigam suprir as finalidades de um geoparque relativas à população do local onde se encontra, incluindo aqueles além da idade escolar. No Sul do Brasil, o programa da UNESCO materializa-se através do Geoparque Aspirante Caminhos dos Cânions do Sul, abrangendo sete municípios no RS e SC, com características socioeconômicas e paisagísticas heterogêneas. Toda a educação vinculada ao Geoparque é trabalhada por professores com determinado perfil, indicados pelo executivo de cada município do consórcio intermunicipal ao Grupo de Trabalho de Educação, cujo planejamento de ações não é aberto à participação da comunidade local e demais professores. O programa educativo baseia-se na capacitação de educadores da rede pública como estratégia de disseminação de conceitos aos estudantes e, através deles, às famílias. Embora sejam observadas atividades realizadas esporadicamente nas escolas, apoiadas pelo Geoparque, ainda não foram identificados projetos educacionais de natureza duradoura, capazes de criar uma cultura permanente de consciência, cuidado e pertencimento em relação à Terra entre as comunidades escolares e demais moradores do território. Trabalhando com o contexto de Cambará do Sul, onde localizam-se geossítios internacionalmente relevantes, como os cânions Itaimbezinho e Fortaleza, objetiva-se propor uma estratégia de geoeducação no município, em conjunto com as escolas. Com a geoeducação inserida no ensino formal, os moradores poderão desempenhar seu papel de protagonistas e autores do Geoparque, incentivando sua permanência na região. Uma cultura da Terra advinda da geoeducação presente nas escolas poderá promover a geoconservação, estendendo-a aos visitantes.
Anais do 50º Congresso Brasileiro de Geologia, 2021
Questões que permeiam o conhecimento científico atual e sua contribuição para a sociedade estão r... more Questões que permeiam o conhecimento científico atual e sua contribuição para a sociedade estão relacionadas às mudanças climáticas e suas implicações em escala global. Essa é uma temática que envolve desdobramentos não apenas no âmbito das Geociências, mas nos diversos campos científicos. Dessa forma, pode-se perceber a importância de estudos interdisciplinares para que sejam mais bem compreendidos fenômenos como o aquecimento global e a desertificação, bem como suas relações com as modificações geoquímicas em relação aos solos naturais que impactam, por exemplo, a fertilidade e a produção de alimentos. Nesse sentido, o trabalho conjunto entre pesquisadores das Ciências da Terra e do Solo poderia auxiliar na busca por soluções relativas a essas questões, visando ao melhor manejo do solo quanto ao seu uso agrícola. Entre janeiro e março de 2020, foi realizada uma experiência de estágio obrigatório do curso de Geologia da UFRGS, junto a uma empresa prestadora de serviços de consultoria nas áreas de planejamento, extensão rural e licenciamento ambiental, tendo como supervisora uma engenheira agrônoma. A experiência, realizada na região do município de Marau, norte do RS, teve como objetivo principal elaborar mapas de distribuição de elementos químicos em superfície, baseados em resultados de análises de solo, utilizando ferramentas de SIG. A metodologia adotada teve início com a organização dos resultados de análises de solo disponibilizados pela empresa e sua digitação, criando uma planilha com a compilação das análises químicas e granulométricas relativas à camada de 0 a 20 cm de profundidade. O banco de dados foi organizado cronologicamente e relacionado espacialmente às coordenadas geográficas do centro de cada lavoura, com o auxílio do software Google Earth Pro. Posteriormente, os dados foram importados ao software QGIS, permitindo a elaboração de mapas de distribuição dos elementos químicos, utilizados para observar a relação dos teores em cada lavoura analisada. O banco de dados construído poderá ser constantemente atualizado pela empresa, adicionando resultados mais recentes e proporcionando acesso facilitado em relação às pilhas de papéis impressos, encontradas no início do período de estágio. A visualização dos mapas mostrou-se bastante versátil, visto que podem ser facilmente adaptados conforme os fatores que se deseja observar, bastando selecioná-los em software de SIG. Entre as possibilidades criadas, pode-se destacar a observação dos resultados das análises de solo em conjunto com dados de litologia, relevo e hidrografia, bem como em diferentes escalas, podendo relacioná-los a outras lavouras com características geomorfológicas semelhantes ou distintas. Também será possível acompanhar as análises em cada área, ao longo do tempo, visualizando sua evolução. Com os ajustes necessários, os resultados podem ser interpretados como mapas de geoquímica superficial. Além do objetivo principal, a interação com profissionais das Ciências do Solo em um trabalho interdisciplinar proporcionou relacionar conhecimentos geológicos e agronômicos. Espera-se continuar expandindo as possibilidades de utilização das ferramentas de SIG em outros campos, tanto no âmbito das Geociências quanto na interface com outras áreas, além de seguir contribuindo na aproximação entre as Ciências da Terra e do Solo.
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