The aim of this study is to investigate the representation of enslaved women in the narrative of ... more The aim of this study is to investigate the representation of enslaved women in the narrative of the Odyssey and its portrayal of the way in which the archaic Greek aristocracy conceived slavery. To that end, the relations between gender and social class in the Antiquity are considered, as well as those between property (oîkos), community, and cosmic order. Through textual evidence, our reading tracks the general situation of enslaved women as Odysseus's property, approaching the construction of Eurycleia as a character, including her interaction with Odysseus as she recognizes his scar. Other scenes considered in our analysis are those with Melantho and the hanging of the women who had had sexual intercourse with the suitors. The Odyssey builds interactions between characters based on a morality model that demands not only the subordination of enslaved women's interests and actions to that of their masters, but also their affection for their masters and their family. Nevertheless, hierarchy and authority in the oîkos are established through violence.
This article provides an interpretation of the conflict between Agamemnon and Achilles in Iliad’s... more This article provides an interpretation of the conflict between Agamemnon and Achilles in Iliad’s book I, focused on an analysis on logic of power behind the sequence of events that gave rise to Achilles’s wrath (menis). The dispute, which begins as a clash between Agamemnon’s human power against Apollo’s divine power through his priest Chryses, eventually reveals an entire power dynamics of human and divine power, in which the potential for destruction, the social privileges, and the legitimacy of power are integrated in Zeus’s cosmic and political order.
Odysseus' adventures, narrated by himself to the Phaeacians, have as their narrative axis the jou... more Odysseus' adventures, narrated by himself to the Phaeacians, have as their narrative axis the journey to Hades where the hero listens to the prophecies of Tiresias, later complemented by Circe. This nucleus divides Odysseus' adventures into three parts: a first, in which the threats to the crew are unknown and unpredictable; a second, in which Odysseus already knows in advance what challenges to expect along the way (but doses the knowledge of these by his companions according to his own discernment); and a third, in which, with the realization of one of the three possibilities of prophecy, Odysseus finds himself alone and once again before an unpredictable sea. The purpose of this article is to show how information and its control are used in the construction of tension between Odysseus and his crew in the Odyssey.
Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975)... more Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975) chama de "continuum cultural da Mesopotâmia ao Mediterrâneo", parte de algumas tentativas de definição da adivinhação, para depois se dedicar às práticas gregas antigas da leitura de sinais interpretáveis (entre os quais predomina a observação de voo de pássaros, nos poemas homéricos, e a leitura do fígado de animais sacrificados, nos relatos do Período Clássico) e dos oráculos extáticos, inspirados pelos deuses (como o oracúlo de Delfos), considerando a adivinhação e a profecia como parte fundamental da experiência do divino em meio às incertezas inerentes ao limitado conhecimento de um mortal diante da constante necessidade de ação e decisão. Inclui algumas considerações sobre a prática profissional dos adivinhos (listado entre os δημιοεργοί, profissionais que prestam serviço à comunidade, na Odisseia, XVII, 382-5, e organizados em guildas no Período Clássico) e seus antecedentes míticos. ABSTRACT After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
This work relates the presence of Odysseus' crew and of the eating of the cattle of Helios in... more This work relates the presence of Odysseus' crew and of the eating of the cattle of Helios in the first verses of the Odyssey to three narrative functions of the proem: a first definition of Odysseus and his poem; the setting of a starting point to the narrative selection; and an introduction to the Odyssean themes of human error caused by ignoring warnings and the relations between gods and humans, two themes explicitly connected in Zeus' speech (I, 32-43). The companions are the first example of failure caused by a bad reading of the world, which leads them to the foolish decision of committing an impiety. They are also the first examples of the extreme consequences of a god's rage.
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, 2020
As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem... more As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem para o Hades onde o herói escuta as profecias de Tirésias, depois complementadas por Circe. Esse núcleo divide as aventuras de Odisseu em três partes: uma primeira, em que as ameaças à tripulação são desconhecidas e imprevisíveis; uma segunda, em que Odisseu já sabe antecipadamente quais desafios esperar ao longo do percurso (mas dosa o conhecimento destes por seus companheiros segundo seu próprio discernimento); e uma terceira, em que, com a realização de uma das três possibilidades da profecia, Odisseu se vê sozinho e mais uma vez diante de um mar imprevisível. O objetivo deste artigo é mostrar como a informação e o seu controle são usados na construção da tensão entre Odisseu e sua tripulação na Odisseia.
Tradução de dez hokku (forma mais conhecida como haikai) de Matsuo Bashô com breve introdução e c... more Tradução de dez hokku (forma mais conhecida como haikai) de Matsuo Bashô com breve introdução e comentários gerais sobre a tradução e específicos sobre cada um dos poemas. Como o gênero oferece o desafio de desenvolver imagens dentro de uma forma fixa extremamente concisa e como a brevidade é marca característica dos poemas, o texto traduzido também segue uma espécie de padrão rítmico 5-7-5 que se aproxima um pouco da contagem japonesa de unidades rítmicas. Como outra marca essencial do gênero é a composição particularmente atenta à construção de imagens e à sequência dessas imagens, essas imagens e a ordem em que elas aparecem no texto são prioridades da tradução. A seleção foi feita com o objetivo de apresentar poemas dedicados a cada uma das estações do ano, de bom humor, de reflexão introspectiva, de algum pensamento sobre a poesia e ainda um caso de métrica peculiar.
O artigo rastreia pontos de contato entre a poesia e a profecia na Grécia Antiga, a partir da lei... more O artigo rastreia pontos de contato entre a poesia e a profecia na Grécia Antiga, a partir da leitura da poesia grega arcaica e de estudos com perspectiva literária e antropológica. Os pontos de contato são reunidos em três tópicos principais: a experiência do divino; a confluência de elementos formais que propiciam a confluência de interpretação poética e interpretação profética; o uso narrativo de profecias e sinais interpretáveis na poesia épica grega. Fazem parte da recepção e da performance da poesia grega arcaica algo que vai além do entretenimento ou da experiência estética (embora esses aspectos sejam significativos) e que toca a experiência do divino.
A experiencia da indeterminacao e parte fundamental da representacao de personagens humanos e, co... more A experiencia da indeterminacao e parte fundamental da representacao de personagens humanos e, consequentemente, da trajetoria dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso e demonstrado numa leitura que parte de algumas consideracoes sobre a pratica da adivinhacao, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homericos (incluindo a chamada Questao Homerica e a percepcao do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes sao caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situacao e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da ma leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais e uma das qualidades que distinguem os herois de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes sao individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal...
Rónai – Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios, 2021
O objetivo deste estudo é investigar a representação das mulheres escravizadas na narrativa da Od... more O objetivo deste estudo é investigar a representação das mulheres escravizadas na narrativa da Odisseia e como ela manifesta o modo aristocrático grego arcaico de conceber a escravidão. Para isso, consideram-se as relações entre gênero e classe na Antiguidade, assim como as entre propriedade (oîkos), comunidade e ordem cósmica. A leitura rastreia, a partir das evidências no texto, a situação geral das mulheres escravizadas na propriedade de Odisseu e trata da construção de Euricleia como personagem, de sua interação com Odisseu no reconhecimento da cicatriz, das cenas de Melanto e do enforcamento das mulheres que mantiveram relações sexuais com os pretendentes. A Odisseia constrói interações entre personagens baseadas num modelo de moralidade que exige não só a subordinação do interesse e das ações das mulheres escravizadas aos interesses do senhor, mas mesmo a afeição delas pelo senhor e por sua família. Ainda assim, a hierarquia e a autoridade no oîkos são estabelecidas pela violê...
Este trabalho tenta compreender nas odes de Pindaro, ou, especificamente, nas 'Piticas' 8... more Este trabalho tenta compreender nas odes de Pindaro, ou, especificamente, nas 'Piticas' 8 e 10, na 'Olimpica' 12 e nas 'Nemeias' 6 e 11, o tema da contingencia - conforme Aristoteles, 'o que pode ser de outra maneira' - levando em consideracao a ode triunfal como genero e a tradicao poetica anterior e contemporânea ao poeta. A imagem pindarica do homem como sonho de uma sombra condensa toda uma tradicao de caracterizacao do humano como ser que se transforma conforme as circunstâncias mutaveis e imprevisiveis em que se encontra. Os resultados das acoes humanas sao incertos, submetidos a fatores alem de seu controle. Por isso, o tema e acompanhado constantemente pela afirmacao da imprevisibilidade dos acontecimentos e da incapacidade humana de saber o futuro. O trabalho inclui a traducao para o portugues de cada uma das cinco odes comentadas.
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos
Uma interpretação do conflito entre Aquiles e Agamêmnon, no canto I da Ilíada, com o objetivo de ... more Uma interpretação do conflito entre Aquiles e Agamêmnon, no canto I da Ilíada, com o objetivo de analisar a lógica do poder por trás da sequência de incidentes que dão início à cólera (mênis) de Aquiles. A disputa, que começa como um embate entre o poder humano de Agamêmnon e o poder divino de Apolo através de seu sacerdote Crises, acaba por revelar toda uma dinâmica do poder humano e do poder divino, em que a capacidade de destruição, os privilégios sociais e a legitimação do poder se integram à ordem cósmica e política de Zeus.
Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foc... more Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foco é sua recepção no século XX, a partir da percepção de suas características que remetem à composição oral tradicional, observadas nos estudos de Parry e Lord. Os trabalhos desses dois estudiosos abriram caminho para uma série de estudos que investigariam os fundamentos do estilo e da composição dos poemas homéricos. Inclui considerações breves sobre a recepção e transmissão na Antiguidade e chega à recepção contemporânea a partir do final do século XVIII (com o trabalho seminal de Wolf), passando pelo XIX e tocando o início do século XXI. A partir dessa história das abordagens a respeito dos poemas homéricos, a proposta final é aceitar as variações da fórmula e da técnica oral e, sem nenhuma certeza quanto ao caminho que levou um texto da tradição oral para a tradição escrita, ler os poemas homéricos como poesia (com todos os seus recursos sonoros, imagéticos e semânticos) e como narrat...
Este artigo se propõe a oferecer uma base teórica para uma leitura consciente da épica grega arca... more Este artigo se propõe a oferecer uma base teórica para uma leitura consciente da épica grega arcaica. Inicia-se com uma discussão sobre a definição do gênero entre antigos e contemporâneos. Depois, tenta-se fundamentar uma base para a interpretação da composição da poesia e da narrativa, incluindo também a perspectiva da crítica e teoria da própria Antiguidade. Por fim, discute-se criação e formação do sentido na recepção.
This work relates the presence of Odysseus’ crew and of the eating of the cattle of Helios in the... more This work relates the presence of Odysseus’ crew and of the eating of the cattle of Helios in the first verses of the Odyssey to three narrative functions of the proem: a first definition of Odysseus and his poem; the setting of a starting point to the narrative selection; and an introduction to the Odyssean themes of human error caused by ignoring warnings and the relations between gods and humans, two themes explicitly connected in Zeus’ speech (I, 32-43). The companions are the first example of failure caused by a bad reading of the world, which leads them to the foolish decision of committing an impiety. They are also the first examples of the extreme consequences of a god’s rage.
Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foc... more Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foco é sua recepção no século XX, a partir da percepção de suas características que remetem à composição oral tradicional, observadas nos estudos de Parry e Lord. Os trabalhos desses dois estudiosos abriram caminho para uma série de estudos que investigariam os fundamentos do estilo e da composição dos poemas homéricos. Inclui considerações breves sobre a recepção e transmissão na Antiguidade e chega à recepção contemporânea a partir do final do século XVIII (com o trabalho seminal de Wolf), passando pelo XIX e tocando o início do século XXI. A partir dessa história das abordagens a respeito dos poemas homéricos, a proposta final é aceitar as variações da fórmula e da técnica oral e, sem nenhuma certeza quanto ao caminho que levou um texto da tradição oral para a tradição escrita, ler os poemas homéricos como poesia (com todos os seus recursos sonoros, imagéticos e semânticos) e como narrat...
RESUMO: As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo ... more RESUMO: As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem para o Hades onde o herói escuta as profecias de Tirésias, depois complementadas por Circe. Esse núcleo divide as aventuras de Odisseu em três partes: uma primeira, em que as ameaças à tripulação são desconhecidas e imprevisíveis; uma segunda, em que Odisseu já sabe antecipadamente quais desafios esperar ao longo do percurso (mas dosa o conhecimento destes por seus companheiros segundo seu próprio discernimento); e uma terceira, em que, com a realização de uma das três possibilidades da profecia, Odisseu se vê sozinho e mais uma vez diante de um mar imprevisível. O objetivo deste artigo é mostrar como a informação e o seu controle são usados na construção da tensão entre Odisseu e sua tripulação na Odisseia.
Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975)... more Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975) chama de "continuum cultural da Mesopotâmia ao Mediterrâneo", parte de algumas tentativas de definição da adivinhação, para depois se dedicar às práticas gregas antigas da leitura de sinais interpretáveis (entre os quais predomina a observação de voo de pássaros, nos poemas homéricos, e a leitura do fígado de animais sacrificados, nos relatos do Período Clássico) e dos oráculos extáticos, inspirados pelos deuses (como o oracúlo de Delfos), considerando a adivinhação e a profecia como parte fundamental da experiência do divino em meio às incertezas inerentes ao limitado conhecimento de um mortal diante da constante necessidade de ação e decisão. Inclui algumas considerações sobre a prática profissional dos adivinhos (listado entre os δημιοεργοί, profissionais que prestam serviço à comunidade, na Odisseia, XVII, 382-5, e organizados em guildas no Período Clássico) e seus antecedentes míticos.
ABSTRACT After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
The aim of this study is to investigate the representation of enslaved women in the narrative of ... more The aim of this study is to investigate the representation of enslaved women in the narrative of the Odyssey and its portrayal of the way in which the archaic Greek aristocracy conceived slavery. To that end, the relations between gender and social class in the Antiquity are considered, as well as those between property (oîkos), community, and cosmic order. Through textual evidence, our reading tracks the general situation of enslaved women as Odysseus's property, approaching the construction of Eurycleia as a character, including her interaction with Odysseus as she recognizes his scar. Other scenes considered in our analysis are those with Melantho and the hanging of the women who had had sexual intercourse with the suitors. The Odyssey builds interactions between characters based on a morality model that demands not only the subordination of enslaved women's interests and actions to that of their masters, but also their affection for their masters and their family. Nevertheless, hierarchy and authority in the oîkos are established through violence.
This article provides an interpretation of the conflict between Agamemnon and Achilles in Iliad’s... more This article provides an interpretation of the conflict between Agamemnon and Achilles in Iliad’s book I, focused on an analysis on logic of power behind the sequence of events that gave rise to Achilles’s wrath (menis). The dispute, which begins as a clash between Agamemnon’s human power against Apollo’s divine power through his priest Chryses, eventually reveals an entire power dynamics of human and divine power, in which the potential for destruction, the social privileges, and the legitimacy of power are integrated in Zeus’s cosmic and political order.
Odysseus' adventures, narrated by himself to the Phaeacians, have as their narrative axis the jou... more Odysseus' adventures, narrated by himself to the Phaeacians, have as their narrative axis the journey to Hades where the hero listens to the prophecies of Tiresias, later complemented by Circe. This nucleus divides Odysseus' adventures into three parts: a first, in which the threats to the crew are unknown and unpredictable; a second, in which Odysseus already knows in advance what challenges to expect along the way (but doses the knowledge of these by his companions according to his own discernment); and a third, in which, with the realization of one of the three possibilities of prophecy, Odysseus finds himself alone and once again before an unpredictable sea. The purpose of this article is to show how information and its control are used in the construction of tension between Odysseus and his crew in the Odyssey.
Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975)... more Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975) chama de "continuum cultural da Mesopotâmia ao Mediterrâneo", parte de algumas tentativas de definição da adivinhação, para depois se dedicar às práticas gregas antigas da leitura de sinais interpretáveis (entre os quais predomina a observação de voo de pássaros, nos poemas homéricos, e a leitura do fígado de animais sacrificados, nos relatos do Período Clássico) e dos oráculos extáticos, inspirados pelos deuses (como o oracúlo de Delfos), considerando a adivinhação e a profecia como parte fundamental da experiência do divino em meio às incertezas inerentes ao limitado conhecimento de um mortal diante da constante necessidade de ação e decisão. Inclui algumas considerações sobre a prática profissional dos adivinhos (listado entre os δημιοεργοί, profissionais que prestam serviço à comunidade, na Odisseia, XVII, 382-5, e organizados em guildas no Período Clássico) e seus antecedentes míticos. ABSTRACT After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
This work relates the presence of Odysseus' crew and of the eating of the cattle of Helios in... more This work relates the presence of Odysseus' crew and of the eating of the cattle of Helios in the first verses of the Odyssey to three narrative functions of the proem: a first definition of Odysseus and his poem; the setting of a starting point to the narrative selection; and an introduction to the Odyssean themes of human error caused by ignoring warnings and the relations between gods and humans, two themes explicitly connected in Zeus' speech (I, 32-43). The companions are the first example of failure caused by a bad reading of the world, which leads them to the foolish decision of committing an impiety. They are also the first examples of the extreme consequences of a god's rage.
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, 2020
As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem... more As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem para o Hades onde o herói escuta as profecias de Tirésias, depois complementadas por Circe. Esse núcleo divide as aventuras de Odisseu em três partes: uma primeira, em que as ameaças à tripulação são desconhecidas e imprevisíveis; uma segunda, em que Odisseu já sabe antecipadamente quais desafios esperar ao longo do percurso (mas dosa o conhecimento destes por seus companheiros segundo seu próprio discernimento); e uma terceira, em que, com a realização de uma das três possibilidades da profecia, Odisseu se vê sozinho e mais uma vez diante de um mar imprevisível. O objetivo deste artigo é mostrar como a informação e o seu controle são usados na construção da tensão entre Odisseu e sua tripulação na Odisseia.
Tradução de dez hokku (forma mais conhecida como haikai) de Matsuo Bashô com breve introdução e c... more Tradução de dez hokku (forma mais conhecida como haikai) de Matsuo Bashô com breve introdução e comentários gerais sobre a tradução e específicos sobre cada um dos poemas. Como o gênero oferece o desafio de desenvolver imagens dentro de uma forma fixa extremamente concisa e como a brevidade é marca característica dos poemas, o texto traduzido também segue uma espécie de padrão rítmico 5-7-5 que se aproxima um pouco da contagem japonesa de unidades rítmicas. Como outra marca essencial do gênero é a composição particularmente atenta à construção de imagens e à sequência dessas imagens, essas imagens e a ordem em que elas aparecem no texto são prioridades da tradução. A seleção foi feita com o objetivo de apresentar poemas dedicados a cada uma das estações do ano, de bom humor, de reflexão introspectiva, de algum pensamento sobre a poesia e ainda um caso de métrica peculiar.
O artigo rastreia pontos de contato entre a poesia e a profecia na Grécia Antiga, a partir da lei... more O artigo rastreia pontos de contato entre a poesia e a profecia na Grécia Antiga, a partir da leitura da poesia grega arcaica e de estudos com perspectiva literária e antropológica. Os pontos de contato são reunidos em três tópicos principais: a experiência do divino; a confluência de elementos formais que propiciam a confluência de interpretação poética e interpretação profética; o uso narrativo de profecias e sinais interpretáveis na poesia épica grega. Fazem parte da recepção e da performance da poesia grega arcaica algo que vai além do entretenimento ou da experiência estética (embora esses aspectos sejam significativos) e que toca a experiência do divino.
A experiencia da indeterminacao e parte fundamental da representacao de personagens humanos e, co... more A experiencia da indeterminacao e parte fundamental da representacao de personagens humanos e, consequentemente, da trajetoria dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso e demonstrado numa leitura que parte de algumas consideracoes sobre a pratica da adivinhacao, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homericos (incluindo a chamada Questao Homerica e a percepcao do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes sao caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situacao e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da ma leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais e uma das qualidades que distinguem os herois de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes sao individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal...
Rónai – Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios, 2021
O objetivo deste estudo é investigar a representação das mulheres escravizadas na narrativa da Od... more O objetivo deste estudo é investigar a representação das mulheres escravizadas na narrativa da Odisseia e como ela manifesta o modo aristocrático grego arcaico de conceber a escravidão. Para isso, consideram-se as relações entre gênero e classe na Antiguidade, assim como as entre propriedade (oîkos), comunidade e ordem cósmica. A leitura rastreia, a partir das evidências no texto, a situação geral das mulheres escravizadas na propriedade de Odisseu e trata da construção de Euricleia como personagem, de sua interação com Odisseu no reconhecimento da cicatriz, das cenas de Melanto e do enforcamento das mulheres que mantiveram relações sexuais com os pretendentes. A Odisseia constrói interações entre personagens baseadas num modelo de moralidade que exige não só a subordinação do interesse e das ações das mulheres escravizadas aos interesses do senhor, mas mesmo a afeição delas pelo senhor e por sua família. Ainda assim, a hierarquia e a autoridade no oîkos são estabelecidas pela violê...
Este trabalho tenta compreender nas odes de Pindaro, ou, especificamente, nas 'Piticas' 8... more Este trabalho tenta compreender nas odes de Pindaro, ou, especificamente, nas 'Piticas' 8 e 10, na 'Olimpica' 12 e nas 'Nemeias' 6 e 11, o tema da contingencia - conforme Aristoteles, 'o que pode ser de outra maneira' - levando em consideracao a ode triunfal como genero e a tradicao poetica anterior e contemporânea ao poeta. A imagem pindarica do homem como sonho de uma sombra condensa toda uma tradicao de caracterizacao do humano como ser que se transforma conforme as circunstâncias mutaveis e imprevisiveis em que se encontra. Os resultados das acoes humanas sao incertos, submetidos a fatores alem de seu controle. Por isso, o tema e acompanhado constantemente pela afirmacao da imprevisibilidade dos acontecimentos e da incapacidade humana de saber o futuro. O trabalho inclui a traducao para o portugues de cada uma das cinco odes comentadas.
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos
Uma interpretação do conflito entre Aquiles e Agamêmnon, no canto I da Ilíada, com o objetivo de ... more Uma interpretação do conflito entre Aquiles e Agamêmnon, no canto I da Ilíada, com o objetivo de analisar a lógica do poder por trás da sequência de incidentes que dão início à cólera (mênis) de Aquiles. A disputa, que começa como um embate entre o poder humano de Agamêmnon e o poder divino de Apolo através de seu sacerdote Crises, acaba por revelar toda uma dinâmica do poder humano e do poder divino, em que a capacidade de destruição, os privilégios sociais e a legitimação do poder se integram à ordem cósmica e política de Zeus.
Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foc... more Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foco é sua recepção no século XX, a partir da percepção de suas características que remetem à composição oral tradicional, observadas nos estudos de Parry e Lord. Os trabalhos desses dois estudiosos abriram caminho para uma série de estudos que investigariam os fundamentos do estilo e da composição dos poemas homéricos. Inclui considerações breves sobre a recepção e transmissão na Antiguidade e chega à recepção contemporânea a partir do final do século XVIII (com o trabalho seminal de Wolf), passando pelo XIX e tocando o início do século XXI. A partir dessa história das abordagens a respeito dos poemas homéricos, a proposta final é aceitar as variações da fórmula e da técnica oral e, sem nenhuma certeza quanto ao caminho que levou um texto da tradição oral para a tradição escrita, ler os poemas homéricos como poesia (com todos os seus recursos sonoros, imagéticos e semânticos) e como narrat...
Este artigo se propõe a oferecer uma base teórica para uma leitura consciente da épica grega arca... more Este artigo se propõe a oferecer uma base teórica para uma leitura consciente da épica grega arcaica. Inicia-se com uma discussão sobre a definição do gênero entre antigos e contemporâneos. Depois, tenta-se fundamentar uma base para a interpretação da composição da poesia e da narrativa, incluindo também a perspectiva da crítica e teoria da própria Antiguidade. Por fim, discute-se criação e formação do sentido na recepção.
This work relates the presence of Odysseus’ crew and of the eating of the cattle of Helios in the... more This work relates the presence of Odysseus’ crew and of the eating of the cattle of Helios in the first verses of the Odyssey to three narrative functions of the proem: a first definition of Odysseus and his poem; the setting of a starting point to the narrative selection; and an introduction to the Odyssean themes of human error caused by ignoring warnings and the relations between gods and humans, two themes explicitly connected in Zeus’ speech (I, 32-43). The companions are the first example of failure caused by a bad reading of the world, which leads them to the foolish decision of committing an impiety. They are also the first examples of the extreme consequences of a god’s rage.
Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foc... more Uma investigação a respeito do entendimento de Homero e das abordagens de sua poesia épica. O foco é sua recepção no século XX, a partir da percepção de suas características que remetem à composição oral tradicional, observadas nos estudos de Parry e Lord. Os trabalhos desses dois estudiosos abriram caminho para uma série de estudos que investigariam os fundamentos do estilo e da composição dos poemas homéricos. Inclui considerações breves sobre a recepção e transmissão na Antiguidade e chega à recepção contemporânea a partir do final do século XVIII (com o trabalho seminal de Wolf), passando pelo XIX e tocando o início do século XXI. A partir dessa história das abordagens a respeito dos poemas homéricos, a proposta final é aceitar as variações da fórmula e da técnica oral e, sem nenhuma certeza quanto ao caminho que levou um texto da tradição oral para a tradição escrita, ler os poemas homéricos como poesia (com todos os seus recursos sonoros, imagéticos e semânticos) e como narrat...
RESUMO: As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo ... more RESUMO: As aventuras de Odisseu, narradas por ele mesmo para os feácios, têm como eixo narrativo a viagem para o Hades onde o herói escuta as profecias de Tirésias, depois complementadas por Circe. Esse núcleo divide as aventuras de Odisseu em três partes: uma primeira, em que as ameaças à tripulação são desconhecidas e imprevisíveis; uma segunda, em que Odisseu já sabe antecipadamente quais desafios esperar ao longo do percurso (mas dosa o conhecimento destes por seus companheiros segundo seu próprio discernimento); e uma terceira, em que, com a realização de uma das três possibilidades da profecia, Odisseu se vê sozinho e mais uma vez diante de um mar imprevisível. O objetivo deste artigo é mostrar como a informação e o seu controle são usados na construção da tensão entre Odisseu e sua tripulação na Odisseia.
Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975)... more Este artigo, depois de uma breve contextualização da Grécia como integrante do que Burkert (1975) chama de "continuum cultural da Mesopotâmia ao Mediterrâneo", parte de algumas tentativas de definição da adivinhação, para depois se dedicar às práticas gregas antigas da leitura de sinais interpretáveis (entre os quais predomina a observação de voo de pássaros, nos poemas homéricos, e a leitura do fígado de animais sacrificados, nos relatos do Período Clássico) e dos oráculos extáticos, inspirados pelos deuses (como o oracúlo de Delfos), considerando a adivinhação e a profecia como parte fundamental da experiência do divino em meio às incertezas inerentes ao limitado conhecimento de um mortal diante da constante necessidade de ação e decisão. Inclui algumas considerações sobre a prática profissional dos adivinhos (listado entre os δημιοεργοί, profissionais que prestam serviço à comunidade, na Odisseia, XVII, 382-5, e organizados em guildas no Período Clássico) e seus antecedentes míticos.
ABSTRACT After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
Breve definição de contingência a partir de Aristóteles (Ética a Nicômaco) e antologia (com tradu... more Breve definição de contingência a partir de Aristóteles (Ética a Nicômaco) e antologia (com traduções e comentários) de trechos e poemas de poetas precursores e contemporâneos de Píndaro que tocam esse tema.
É o segundo capítulo da seguinte dissertação de Mestrado: FRADE, Gustavo, H. M.. Contingência em Píndaro: Olímpica 12, Píticas 8 e 10, Nemeias 6 e 11. 169 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
Referências bibliográficas citadas na dissertação "Contingência em Píndaro: Olímpica 12, Píticas ... more Referências bibliográficas citadas na dissertação "Contingência em Píndaro: Olímpica 12, Píticas 8 e 10 Nemeias 6 e 11".
Esse capítulo da dissertação "Contingência em Píndaro" é dedicado à ode triunfal ou epinício como... more Esse capítulo da dissertação "Contingência em Píndaro" é dedicado à ode triunfal ou epinício como gênero poético. Trata-se de um poema de elogio em homenagem a uma vitória atlética de um aristocrata, para ser primeiramente apresentado em público por um coro. Como parte da comemoração pela vitória e de um jogo de retribuições que tem algo de ritual, o poema se propõe a ser uma experiência poética de alta qualidade. Embora o essencial seja a menção à vitória, o epinício tem partes tradicionais que incluem prece, narrativa e gnome, desenvolvidas numa rede de oposições e enquadramentos que privilegiam o elogio do vitorioso.
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Papers by Gustavo Frade
the potential for destruction, the social privileges, and the legitimacy of power are integrated in Zeus’s cosmic and political order.
ABSTRACT
After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
the potential for destruction, the social privileges, and the legitimacy of power are integrated in Zeus’s cosmic and political order.
ABSTRACT
After some brief contextualization of Greece as part of what Burkert (1975) calls the "cultural continuum" from Mesopotamia to the Mediterranean, this paper attempts to define divination, and then focuses on Ancient Greek practices of interpretation of signs (mainly, bird flight interpretation in the Homeric poems, and the reading of the liver of sacrificed animals in the Classical period) and ecstatic oracles inspired by the Gods (as the Oracle of Delphi), considering divination and prophecy as fundamental part of the experience of the divine amidst the inherent uncertainties in the limited knowledge of a mortal facing the constant need of action and decision. It includes some remarks on the professional practice of the seers (listed as δημιοεργοί, professionals that provide services to the community in Odyssey, XVII, 382-5, and organized in guilds in the Classical period) and their mythical predecessors.
É o segundo capítulo da seguinte dissertação de Mestrado:
FRADE, Gustavo, H. M.. Contingência em Píndaro: Olímpica 12, Píticas 8 e 10, Nemeias 6 e 11. 169 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.