Artigos by Cairo Barbosa
Tempo, 2024
Em janeiro de 1965, em pleno inverno europeu, a cidade de Gênova foi ocupada pelo calor efervesce... more Em janeiro de 1965, em pleno inverno europeu, a cidade de Gênova foi ocupada pelo calor efervescente do debate terceiro-mundista. Por lá aconteceu o colóquio Terzo Mondo e Comunità Mondiale e Quinta Rassegna del Cinema Latinoamericano, organizado pelo Instituto Columbianum, coordenado pelo padre jesuíta Angelo Arpa (1909-2003). No encontro, reuniram-se africanos, latino-americanos e europeus interessados em duas questões: discutir os problemas específicos das culturas dos países da “periferia do capitalismo” e realizar uma grande mostra cinematográfica. O presente artigo realiza dois movimentos: primeiro, identifica as vinculações entre o evento e a narrativa “terceiro-mundista” emergente na segunda metade do século XX; depois, busca reconstruir alguns dos debates intelectuais costurados no Terzo Mondo, especialmente aqueles propostos pelos brasileiros, cuja marca é o caráter anticolonial da perspectiva crítica adotada.
Cairo de Souza Barbosa, 2024
O presente artigo tem por objetivo discutir, desde a história intelectual, a leitura do crítico G... more O presente artigo tem por objetivo discutir, desde a história intelectual, a leitura do crítico Giulio Carlo Argan sobre o que se convencionou chamar de Surrealismo, em um diálogo imaginado com algumas tradições marxistas de crítica da arte que emergiram na Europa do século XX. Em primeiro lugar, analisaremos como o italiano interpreta a arte da chamada “época do funcionalismo”, entendida não como um reflexo ideológico e infraestrutural da organização social, mas sim como articulação dialética
entre realidade material e consciência do pintor. Adiante, veremos que o Sur-realismo foi analisado e discutido também por outras tradições marxistas europeias, especifica-mente por Walter Benjamin,
Theodor Adorno e Michel Lowy. Por fim, a ideia é mostrar o entre-lugar ocupado por Argan nesses “combates” pelos sentidos do Surrealismo, posição adquirida através de uma interpretação sui generis
do fenômero artístico, na medida em que toma a arte não como mera representação do real, mas como objeto capaz de figurar a mentalidade de uma época.
Resumo: Este estudo busca compreender aspectos da imaginação literária da América presente no con... more Resumo: Este estudo busca compreender aspectos da imaginação literária da América presente no conto "O Caminho de Santiago", de Alejo Carpentier, publicado no livro "Guerra del tiempo" (1958). A análise da estrutura poética do texto, associada aos ensaios críticos de Carpentier sobre a literatura latino-americana no século XX, permite perceber que a imaginação histórica da América apresentada pelo autor entrelaça passado e presente, Velho e Novo Mundos, com destaque para a percepção de um espaço-tempo histórico multifacetado e qualitativo, uma vez que o personagem principal transita entre continentes e universos culturais diversos, simultaneamente como "homem do renascimento" e "homem barroco americano". Essa relação complexa entre tempos, espaços, concepções e práticas culturais, para além do senso de linearidade histórico-temporal, ressignifica as noções de progresso e revolução e aponta para uma percepção da América Latina como locus problemático de civilização.
Este artigo traça alguns contornos da imaginação nacional bolsonarista a partir de um caso motiva... more Este artigo traça alguns contornos da imaginação nacional bolsonarista a partir de um caso motivador: um crime ocorrido no sul do Brasil no final de 2020. Para tanto, analisamos alguns discursos do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e de membros significativos do seu governo, como Hamilton Mourão e Sérgio Camargo, em reação à acusação da opinião pública de que o assassinato de um homem negro por dois seguranças de um supermercado em Porto Alegre teria sido motivado por racismo. Partimos do princípio de que a semântica contida nesses discursos tem lastro nas reflexões históricas do pensamento político e social brasileiro. Em sua diversidade, a narrativa construída pela ideologia bolsonarista em reação ao episódio da morte de “Beto” apresenta o artifício de recuperar algumas formas de representação do passado brasileiro, em especial ao atualizar o mito da democracia racial e ao dar centralidade à problemática da corrupção como “verdadeiro problema nacional”. Nossa hipótese é que a apropriação dessas tópicas acaba solidificando determinada forma de imaginação política do Brasil, que tanto implica uma adesão social ao discurso bolsonarista quanto estimula determinadas formas de ação de grupos e sujeitos na realidade prática.
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 2020
O objetivo do artigo é discutir a relação entre a participação de Antonio Candido no congr... more O objetivo do artigo é discutir a relação entre a participação de Antonio Candido no congresso “Terzo Mondo e Comunità Mondiale” (Itália, 1965), e um esboço de mudança teórico-conceitual de sua obra a partir da segunda metade dos anos 1960, especialmente no ensaio “Literatura de dois gumes” (1966). Esse evento foi fulcral na articulação das nações terceiro-mundistas daquele contexto por contar com a presença de importantes intelectuais africanos e latino-americanos e pelo ensaio de uma crítica pós-colonial ao eurocentrismo. Nossa hipótese é que, nos anos seguintes, Candido incorpora às suas leituras parte das discussões realizadas no encontro a partir de uma reformulação de algumas de suas categorias analíticas e perspectivas teórico-conceituais e da expansão do escopo de análise do Brasil para a América Latina.
Esse artigo tem por objetivo discutir duas importantes interpretações da crise brasileira entre o... more Esse artigo tem por objetivo discutir duas importantes interpretações da crise brasileira entre os anos 1950 e 1960, produzidas no âmbito do pensamento político-social nacional: Existe uma crise da democracia no Brasil?, de Florestan Fernandes, escrito em 1954; e Quem dará o golpe no Brasil?, de Wanderley Guilherme dos Santos, de 1962. A hipótese, ancorada nas premissas da história intelectual, é que as visões produzidas pelos dois intelectuais sobre a agudização dos sentimentos de conflito e impasse na história do Brasil na metade do século XX estavam ligadas não somente às diversas tradições teóricas às quais se filiavam, mas sobretudo à ampla transformação do espaço de experiência da política. Em decorrência disso, desenham-se também, nos escritos aqui analisados, duas propostas diferentes sobre os caminhos e recursos necessários à superação dos dilemas que se colocavam à época, em que toma a centralidade do debate o horizonte de expectativas relacionado à própria (não) permanência da democracia brasileira.
A ideia do presente texto é discutir como Pierre Clastres e Walter Mignolo caracterizam a violênc... more A ideia do presente texto é discutir como Pierre Clastres e Walter Mignolo caracterizam a violência física e simbólica da colonialidade moderna a partir das noções de etnocídio e epistemicídio. Entendidos como dispositivos de controle do corpo e dos saberes nos processos de colonização, especialmente no caso da América Latina, veremos como os dois conceitos contribuem para a compreensão da experiência que, ao longo dos séculos de "processo civilizador", serviu como alicerce fundamental à propagação de uma violência que, naturalmente, é física, mas também simbólica, capaz de garantir o controle de expressões culturais diversas e a dominação e submissão das cosmovisões ameríndias e afro-diaspóricas à epistemologia canônica ocidental.
Texto escrito para o blog "Providências da crítica desde a periferia", hospedado Iberoamérica Soc... more Texto escrito para o blog "Providências da crítica desde a periferia", hospedado Iberoamérica Social: Revista-red de estudios sociales. Nele falo sobre uma figura pouco conhecida na história intelectual latino-americana: o crítico e ensaísta Pedro Henríquez Ureña, caribenho de nascimento e desterrado por vivência.
Texto escrito para o blog "Providências da crítica desde a periferia", hospedado Iberoamérica Soc... more Texto escrito para o blog "Providências da crítica desde a periferia", hospedado Iberoamérica Social: Revista-red de estudios sociales. Nele falo um pouco sobre a relação intelectual e política de Antonio Candido com a América Latina.
Apresentação feita por Silvia G. Kurlat Ares, organizadora do painel sobre crítica latino-america... more Apresentação feita por Silvia G. Kurlat Ares, organizadora do painel sobre crítica latino-americana no congresso da Sección de Estudios del Cono Sur de la Asociación de Estudios Latinoamericanos (LASA), realizado em Montevidéu, Uruguai, 2017.
"La presentación de Cairo de Souza Barbosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/CNPq) torna su mirada sobre la obra de Antonio Candido de Mello e Souza (1918- 2017), centrándose en cómo su pensamiento contribuyó a (pero también examinó) la evolución de la crítica latinoamericana contemporánea no sólo en sus espacios de consagración institucional académica, sino en sus prácticas en otros espacios del quehacer cultural. Es en la elaboración de diversos instrumentos críticos donde la obra de Cándido va construyendo sus nuevos objetos y donde articula otros modos de ver lo latinoamericano desde su misma interioridad e historicidad. La gestación de este aparato crítico (que se inicia en los ´70s) será uno de esos momentos en los cuales se vuelva a pensar la cultura (el otro, como se mencionó en las discusiones posteriores, fue la obra de Rama) desde la complejidad de la historia de la región y no como un sucedáneo empobrecido o dislocado de lo europeo. Este cambio de perspectiva y el aparato teórico e ideológico que Cándido edificó a lo largo de toda su carrera son marcas de una transformación mayor que caracteriza las prácticas críticas de América Latina en la segunda mitad del siglo 20: no es simplemente una cuestión de cómo se delimitan o definen los objetos, sino de cuáles y cómo son los cruces disciplinarios que se necesitan para acercarse a los mismos. El trabajo de Souza Barbosa vuelve precisamente sobre cómo y por qué Cándido pensó esos cruces, buscando alejarse del nativismo, del folklorismo, y de toda otra forma de pensamiento esencialista a fin de incorporar la producción cultural de América Latina en el espacio mayor de la cultura universal.
Primeiramente, gostaríamos de começar agradecendo ao senhor pela disponibilidade em conceder-nos ... more Primeiramente, gostaríamos de começar agradecendo ao senhor pela disponibilidade em conceder-nos essa entrevista. Nossa primeira indagação é com relação à sua trajetória intelectual. Quando e por que escolheu o campo das humanidades? Carlos Eduardo Martins: Eu entrei na PUC-Rio, em 1984, para fazer Sociologia e Política em um momento de luta pela redemocratização do país, que teve um marco importante, no Rio de Janeiro, em 1982, com a eleição do Brizola, e, em 1984, com os comícios pelas eleições diretas. A redemocratização se concretiza em 1988 com a promulgação de uma nova constituição, que trouxe expressivos avanços sociais, e a realização de eleições diretas em 1989. Todo este cenário vai impactar minha formação acadêmica inicial na PUC-Rio que ocorre no Departamento de Sociologia e Política que tinha forte ênfase marxista. Fui aluno de Theotônio dos Santos, que teve uma influência muito grande na minha formação e que me trouxe o contato com a problemática do Brasil, inscrita na perspectiva de sua inserção na
A ideia deste texto é apresentar um debate em torno do conceito de surrealismo na filosofia produ... more A ideia deste texto é apresentar um debate em torno do conceito de surrealismo na filosofia produzida na Europa. Como chave central analítica, pretende-se por em discussão a potência estético-política das artes e da literatura surrealistas a partir dos escritos de Benjamin, Lukács e Lowy, entendo-o ora pela ideia de força libertadora presente na explosão das formas e na transfiguração dos conteúdos, ora pela noção de que a ordem simbólica de sua expressão é já um fruto do modo de produção capitalista.
RESUMO: O ano de 1964 representou um marco, um corte definitivo na história brasileira.
Diversas pessoas e intelectuais têm se preocupado em colocar em voga discussões relacionadas à di... more Diversas pessoas e intelectuais têm se preocupado em colocar em voga discussões relacionadas à ditadura e seu impacto econômico, político, social e cultural para a população e para o país. Nesse contexto, o artigo em questão tem por objetivo debater a "experiência dolorosa"
Trabalhos de conclusão by Cairo Barbosa
Tese de Doutorado, 2024
Essa tese investiga as noções de colonialismo e dependência e as
alegorias do Brasil na historiog... more Essa tese investiga as noções de colonialismo e dependência e as
alegorias do Brasil na historiografia literária de Antonio Candido na década
de 1960 e início dos anos 1970. Nesse contexto, o crítico circulou por
diversos países e teve contato com novos repertórios intelectuais,
conceituais e políticos que o possibilitaram promover, com base numa
hermenêutica da distância, uma transformação das ideias com as quais sua
obra operava nos decênios anteriores, especialmente no que diz respeito à
interpretação da própria realidade sociocultural latino-americana. A partir
daí, e já imbuído de uma descrença em relação à panaceia
desenvolvimentista, Candido buscou averiguar os efeitos deletérios do
colonialismo na formação da América Latina, vinculando-os ainda à
estruturação de uma situação de dependência que, no século XX, legou ao
continente a persistência dos caracteres do subdesenvolvimento no
processo de ordenação das sociedades. Além disso, o crítico buscou
apresentar, por uma perspectiva dialética, algumas alegorias da
historicidade brasileira presentes na ficção realista-naturalista, de modo a
tensionar a própria condição política do país à época, sob a égide da
ditadura militar. Por fim, procurou identificar os motivos de, mesmo
mergulhado nessa condição histórica de “atraso”, ter emergido no
continente uma forma poética de grande vigor estético, o
Superregionalismo que, em tons esteticamente inventivos, tratou de
questões consideradas universais, rompendo com as tópicas estritamente
nacionais.
A presente dissertação busca apresentar uma possibilidade de
ampliação dos estudos sobre a fortun... more A presente dissertação busca apresentar uma possibilidade de
ampliação dos estudos sobre a fortuna intelectual de Antonio Candido de
Mello e Souza (1918-2017). Partiremos de alguns ensaios soterrados
(1966-1982) – relativamente esquecidos - que versam sobre a cultura
latino-americana, a partir dos quais é possível perceber certo esforço
intelectual, por parte do autor, de interlocução com o cenário que extrapola
as fronteiras nacionais a partir dos anos 1960, alavancando a criação de
redes, congressos, publicações, encontros, seminários e leituras coletivas
de caráter continental. Esse interesse latino-americanista leva o crítico a
produzir um conjunto de textos de interpretação que procuram dar sentido
à produção literária do continente, aproximando o Brasil dos países
“hispano hablantes”. O argumento desenhado por ele é que a produção
estética, na América Latina, viveu sempre em função de um “sentimento de
contrários”: uma dialética entre o mundo dos valores urbanos, com certa
abertura à forma/linguagem dita universal, e uma reafirmação do caráter
regionalista, que perpetua o material local. Para ele, no contexto pós 1950
desenha-se na América Latina uma produção de “maturidade”, chamada
de super-regionalista, que é capaz de equilibrar esta aparente oposição
entre nacional e cosmopolita, produzindo uma literatura mais reflexiva e
consciente do caráter dependente das culturas periféricas. Diante disso,
nossa hipótese é que este ensaísmo, uma opção estético-política de
abertura à dinâmica da circulação intelectual e à leitura dos sentidos da
formação continental, levou Candido a formular uma interpretação dialética
da própria dinâmica do processo de modernização que atravessou o
espaço da América Latina ao longo dos séculos XIX e XX.
Resenhas by Cairo Barbosa
BARBOSA, Cairo de Souza. História intelectual em perspectiva global: letrados, ideias e redes na ... more BARBOSA, Cairo de Souza. História intelectual em perspectiva global: letrados, ideias e redes na América Latina. Esboços, Florianópolis, v. 27, n. 44, p. 149-156, jan./abr. 2020. Resenha da obra de: COSTA, Adriane Vidal e MAÍZ, Claudio. Nas tramas da ‘cidade letrada’: sociabilidades dos intelectuais latino-americanos e as redes transnacionais. Belo Horizonte: Fino Traço, 2018. 272 p.
Papers by Cairo Barbosa
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Artigos by Cairo Barbosa
entre realidade material e consciência do pintor. Adiante, veremos que o Sur-realismo foi analisado e discutido também por outras tradições marxistas europeias, especifica-mente por Walter Benjamin,
Theodor Adorno e Michel Lowy. Por fim, a ideia é mostrar o entre-lugar ocupado por Argan nesses “combates” pelos sentidos do Surrealismo, posição adquirida através de uma interpretação sui generis
do fenômero artístico, na medida em que toma a arte não como mera representação do real, mas como objeto capaz de figurar a mentalidade de uma época.
"La presentación de Cairo de Souza Barbosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/CNPq) torna su mirada sobre la obra de Antonio Candido de Mello e Souza (1918- 2017), centrándose en cómo su pensamiento contribuyó a (pero también examinó) la evolución de la crítica latinoamericana contemporánea no sólo en sus espacios de consagración institucional académica, sino en sus prácticas en otros espacios del quehacer cultural. Es en la elaboración de diversos instrumentos críticos donde la obra de Cándido va construyendo sus nuevos objetos y donde articula otros modos de ver lo latinoamericano desde su misma interioridad e historicidad. La gestación de este aparato crítico (que se inicia en los ´70s) será uno de esos momentos en los cuales se vuelva a pensar la cultura (el otro, como se mencionó en las discusiones posteriores, fue la obra de Rama) desde la complejidad de la historia de la región y no como un sucedáneo empobrecido o dislocado de lo europeo. Este cambio de perspectiva y el aparato teórico e ideológico que Cándido edificó a lo largo de toda su carrera son marcas de una transformación mayor que caracteriza las prácticas críticas de América Latina en la segunda mitad del siglo 20: no es simplemente una cuestión de cómo se delimitan o definen los objetos, sino de cuáles y cómo son los cruces disciplinarios que se necesitan para acercarse a los mismos. El trabajo de Souza Barbosa vuelve precisamente sobre cómo y por qué Cándido pensó esos cruces, buscando alejarse del nativismo, del folklorismo, y de toda otra forma de pensamiento esencialista a fin de incorporar la producción cultural de América Latina en el espacio mayor de la cultura universal.
Trabalhos de conclusão by Cairo Barbosa
alegorias do Brasil na historiografia literária de Antonio Candido na década
de 1960 e início dos anos 1970. Nesse contexto, o crítico circulou por
diversos países e teve contato com novos repertórios intelectuais,
conceituais e políticos que o possibilitaram promover, com base numa
hermenêutica da distância, uma transformação das ideias com as quais sua
obra operava nos decênios anteriores, especialmente no que diz respeito à
interpretação da própria realidade sociocultural latino-americana. A partir
daí, e já imbuído de uma descrença em relação à panaceia
desenvolvimentista, Candido buscou averiguar os efeitos deletérios do
colonialismo na formação da América Latina, vinculando-os ainda à
estruturação de uma situação de dependência que, no século XX, legou ao
continente a persistência dos caracteres do subdesenvolvimento no
processo de ordenação das sociedades. Além disso, o crítico buscou
apresentar, por uma perspectiva dialética, algumas alegorias da
historicidade brasileira presentes na ficção realista-naturalista, de modo a
tensionar a própria condição política do país à época, sob a égide da
ditadura militar. Por fim, procurou identificar os motivos de, mesmo
mergulhado nessa condição histórica de “atraso”, ter emergido no
continente uma forma poética de grande vigor estético, o
Superregionalismo que, em tons esteticamente inventivos, tratou de
questões consideradas universais, rompendo com as tópicas estritamente
nacionais.
ampliação dos estudos sobre a fortuna intelectual de Antonio Candido de
Mello e Souza (1918-2017). Partiremos de alguns ensaios soterrados
(1966-1982) – relativamente esquecidos - que versam sobre a cultura
latino-americana, a partir dos quais é possível perceber certo esforço
intelectual, por parte do autor, de interlocução com o cenário que extrapola
as fronteiras nacionais a partir dos anos 1960, alavancando a criação de
redes, congressos, publicações, encontros, seminários e leituras coletivas
de caráter continental. Esse interesse latino-americanista leva o crítico a
produzir um conjunto de textos de interpretação que procuram dar sentido
à produção literária do continente, aproximando o Brasil dos países
“hispano hablantes”. O argumento desenhado por ele é que a produção
estética, na América Latina, viveu sempre em função de um “sentimento de
contrários”: uma dialética entre o mundo dos valores urbanos, com certa
abertura à forma/linguagem dita universal, e uma reafirmação do caráter
regionalista, que perpetua o material local. Para ele, no contexto pós 1950
desenha-se na América Latina uma produção de “maturidade”, chamada
de super-regionalista, que é capaz de equilibrar esta aparente oposição
entre nacional e cosmopolita, produzindo uma literatura mais reflexiva e
consciente do caráter dependente das culturas periféricas. Diante disso,
nossa hipótese é que este ensaísmo, uma opção estético-política de
abertura à dinâmica da circulação intelectual e à leitura dos sentidos da
formação continental, levou Candido a formular uma interpretação dialética
da própria dinâmica do processo de modernização que atravessou o
espaço da América Latina ao longo dos séculos XIX e XX.
Resenhas by Cairo Barbosa
Papers by Cairo Barbosa
entre realidade material e consciência do pintor. Adiante, veremos que o Sur-realismo foi analisado e discutido também por outras tradições marxistas europeias, especifica-mente por Walter Benjamin,
Theodor Adorno e Michel Lowy. Por fim, a ideia é mostrar o entre-lugar ocupado por Argan nesses “combates” pelos sentidos do Surrealismo, posição adquirida através de uma interpretação sui generis
do fenômero artístico, na medida em que toma a arte não como mera representação do real, mas como objeto capaz de figurar a mentalidade de uma época.
"La presentación de Cairo de Souza Barbosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/CNPq) torna su mirada sobre la obra de Antonio Candido de Mello e Souza (1918- 2017), centrándose en cómo su pensamiento contribuyó a (pero también examinó) la evolución de la crítica latinoamericana contemporánea no sólo en sus espacios de consagración institucional académica, sino en sus prácticas en otros espacios del quehacer cultural. Es en la elaboración de diversos instrumentos críticos donde la obra de Cándido va construyendo sus nuevos objetos y donde articula otros modos de ver lo latinoamericano desde su misma interioridad e historicidad. La gestación de este aparato crítico (que se inicia en los ´70s) será uno de esos momentos en los cuales se vuelva a pensar la cultura (el otro, como se mencionó en las discusiones posteriores, fue la obra de Rama) desde la complejidad de la historia de la región y no como un sucedáneo empobrecido o dislocado de lo europeo. Este cambio de perspectiva y el aparato teórico e ideológico que Cándido edificó a lo largo de toda su carrera son marcas de una transformación mayor que caracteriza las prácticas críticas de América Latina en la segunda mitad del siglo 20: no es simplemente una cuestión de cómo se delimitan o definen los objetos, sino de cuáles y cómo son los cruces disciplinarios que se necesitan para acercarse a los mismos. El trabajo de Souza Barbosa vuelve precisamente sobre cómo y por qué Cándido pensó esos cruces, buscando alejarse del nativismo, del folklorismo, y de toda otra forma de pensamiento esencialista a fin de incorporar la producción cultural de América Latina en el espacio mayor de la cultura universal.
alegorias do Brasil na historiografia literária de Antonio Candido na década
de 1960 e início dos anos 1970. Nesse contexto, o crítico circulou por
diversos países e teve contato com novos repertórios intelectuais,
conceituais e políticos que o possibilitaram promover, com base numa
hermenêutica da distância, uma transformação das ideias com as quais sua
obra operava nos decênios anteriores, especialmente no que diz respeito à
interpretação da própria realidade sociocultural latino-americana. A partir
daí, e já imbuído de uma descrença em relação à panaceia
desenvolvimentista, Candido buscou averiguar os efeitos deletérios do
colonialismo na formação da América Latina, vinculando-os ainda à
estruturação de uma situação de dependência que, no século XX, legou ao
continente a persistência dos caracteres do subdesenvolvimento no
processo de ordenação das sociedades. Além disso, o crítico buscou
apresentar, por uma perspectiva dialética, algumas alegorias da
historicidade brasileira presentes na ficção realista-naturalista, de modo a
tensionar a própria condição política do país à época, sob a égide da
ditadura militar. Por fim, procurou identificar os motivos de, mesmo
mergulhado nessa condição histórica de “atraso”, ter emergido no
continente uma forma poética de grande vigor estético, o
Superregionalismo que, em tons esteticamente inventivos, tratou de
questões consideradas universais, rompendo com as tópicas estritamente
nacionais.
ampliação dos estudos sobre a fortuna intelectual de Antonio Candido de
Mello e Souza (1918-2017). Partiremos de alguns ensaios soterrados
(1966-1982) – relativamente esquecidos - que versam sobre a cultura
latino-americana, a partir dos quais é possível perceber certo esforço
intelectual, por parte do autor, de interlocução com o cenário que extrapola
as fronteiras nacionais a partir dos anos 1960, alavancando a criação de
redes, congressos, publicações, encontros, seminários e leituras coletivas
de caráter continental. Esse interesse latino-americanista leva o crítico a
produzir um conjunto de textos de interpretação que procuram dar sentido
à produção literária do continente, aproximando o Brasil dos países
“hispano hablantes”. O argumento desenhado por ele é que a produção
estética, na América Latina, viveu sempre em função de um “sentimento de
contrários”: uma dialética entre o mundo dos valores urbanos, com certa
abertura à forma/linguagem dita universal, e uma reafirmação do caráter
regionalista, que perpetua o material local. Para ele, no contexto pós 1950
desenha-se na América Latina uma produção de “maturidade”, chamada
de super-regionalista, que é capaz de equilibrar esta aparente oposição
entre nacional e cosmopolita, produzindo uma literatura mais reflexiva e
consciente do caráter dependente das culturas periféricas. Diante disso,
nossa hipótese é que este ensaísmo, uma opção estético-política de
abertura à dinâmica da circulação intelectual e à leitura dos sentidos da
formação continental, levou Candido a formular uma interpretação dialética
da própria dinâmica do processo de modernização que atravessou o
espaço da América Latina ao longo dos séculos XIX e XX.