E quase no fim da 4ª série, a 1813ª inconsistência absurda num argumento que se arrasta, à 39ª cena de Jesse Pinkman a fazer a cara de escolha difícil / momento de tensão / mato o Walter não mato...
... desisto de ver o Breaking Bad. Teve os seus bons momentos, mas em nenhum deles entrou o actor que faz de Pinkman e cujo único dom de representação parece consistir em, nos momentos mais dramáticos, esvaziar os pulmões, ficar todo vermelho e babar-se enquanto grita com voz de def, com com pausas entre as palavras, com um indicador espetado ou uma pistola na mão, a marcar cada sílaba.
A actriz que faz de Skyler tem a mesma boca de charroco indisposto da season 1...
...à season 4.
Pelo menos, dou-lhe o mérito de conseguir unanimidade entre o nosso gosto (meu & Plaft) e o público que também a parece detestar, a julgar pelos comentários nas interwebs. Curiosamente, percebe-se pelo texto que a intenção dos argumentistas não era fazer uma personagem unidimensional e detestável e que havia mesmo vontade de lhe conferir complexidade, riqueza, ambiguidades, momentos de comédia, momentos dramáticos e que era suposto, a certa altura na temporada, ser credível que o Walter White gostasse dela e a aturasse. Mas isto é só um detalhe. O argumento parece ser escrito por pessoas limitadas e com princípio de alzheimer. Desde o início da série que desconfiei da premissa. Um tipo tem uma doença terminal e por isso escolhe fazer droga. É infantil e irritou-me. Boas séries, bons argumentos (weeds, dexter, madmen etc.), não precisam de uma justificação radical para um "breaking bad" até porque o mundo está cheio de pessoas exactamente iguais a nós que cometem crimes sem motivo nenhum especial. Aliás, é completamente inverosímil no mau sentido, mas não importa, porque a certa altura o cancro é simplesmente varrido para fora da série. Linhas narrativas são pura e simplesmente esquecidas, não de propósito, mas simplesmente porque não conseguem lidar com mais de duas ideias por episódio.Assim, se o foco é um negócio de droga, o cancro do White, o facto de ter tido uma filha bebé, a relação com a Skyler, tudo se eclipsa e esfuma misteriosamente, apenas para ressurgir quando não for credível ou quando interromper uma parte interessante.
Do cast, destaca-se Dean Norris (agente Schrader), o único que consegue tornar interessante qualquer cena em que entre. Bryan Cranston (Walter White) é um excelente actor, mas acaba também por ser o mais fustigado pelos problemas de argumento e realização que o incluem em cenas que se arrastam e repetem: whalter white descobre uma tramóia e tenta convencer um jesse hostil, walter white tenta falar com skyler e ela não lhe fala, walter white tem crise de nervos, walter white coloca os óculos com as mãos a tremer, walter white implora a alguém qualquer coisa etc.
Ah, não podia deixar de referir uma cena que para mim foi uma espécie de apogeu do tipo de descuido e amadorismo da série: quase nenhum dos actores que fazem de mexicanos dos cartéis sabe falar espanhol, mesmo nos papéis importantes. Nos EUA, onde os hispânicos são mais que as mães, é obra! Falam todos como se tivessem acabado de ouvir aquelas cassetes de aprendizagem no carro a caminho das filmagens.
Compreendo inteiramente que a série seja um sucesso. Exceptuando a season 1, nenhuma das três seasons seguintes é dolorosa de ver e há mesmo alguns episódios muito bons. O facto é que a vi até quase ao fim da season 4, embora o tenha feito sempre na esperança que melhorasse (o Jesse e a Skyler levassem um tiro nos cornos). É verdade que por vezes maus actores e maus argumentistas também produzem coisas originais porque "têm lata" e não me refiro a uma lata competente como a que foi necessária para aquela cena sangrenta do Game of Thrones (um exemplo de argumento à prova de bala). Refiro-me a uma lata que vem da incompetência e falta de noção. Tanto lhes pode dar para coisas brilhantes como o advogado Saul Goodman (outro grande actor) como para disparates como aquele desastre aéreo /acto de Deus sobre a cidade. Contudo, o motivo pelo qual esta série é tão bem cotada pelo público e por grande parte da crítica, permanece para mim um mistério que nunca se dissipou.