domingo, 30 de junho de 2013

desisto

E quase no fim da 4ª série, a 1813ª inconsistência absurda num argumento que se arrasta, à 39ª cena de Jesse Pinkman a fazer a cara de escolha difícil / momento de tensão / mato o Walter não mato...

 

... desisto de ver o Breaking Bad. Teve os seus bons momentos, mas em nenhum deles entrou o actor que faz de Pinkman e cujo único dom de representação parece consistir em, nos momentos mais dramáticos, esvaziar os pulmões, ficar todo vermelho e babar-se enquanto grita com voz de def, com com pausas entre as palavras, com um indicador espetado ou uma pistola na mão, a marcar cada sílaba.

A actriz que faz de Skyler tem a mesma boca de charroco indisposto da season 1...

...à season 4.

 Pelo menos, dou-lhe o mérito de conseguir unanimidade entre o nosso gosto (meu & Plaft) e o público que também a parece detestar, a julgar pelos comentários nas interwebs. Curiosamente, percebe-se pelo texto que a intenção dos argumentistas não era fazer uma personagem unidimensional e detestável e que havia mesmo vontade de lhe conferir complexidade, riqueza, ambiguidades, momentos de comédia, momentos dramáticos e que era suposto, a certa altura na temporada, ser credível que o Walter White gostasse dela e a aturasse. Mas isto é só um detalhe. O argumento parece ser escrito por pessoas limitadas e com princípio de alzheimer. Desde o início da série que desconfiei da premissa. Um tipo tem uma doença terminal e por isso escolhe fazer droga. É infantil e irritou-me. Boas séries, bons argumentos (weeds, dexter, madmen etc.), não precisam de uma justificação radical para um "breaking bad" até porque o mundo está cheio de pessoas exactamente iguais a nós que cometem crimes sem motivo nenhum especial. Aliás, é completamente inverosímil no mau sentido, mas não importa, porque a certa altura o cancro é simplesmente varrido para fora da série. Linhas narrativas são pura e simplesmente esquecidas, não de propósito, mas simplesmente porque não conseguem lidar com mais de duas ideias por episódio.Assim, se o foco é um negócio de droga, o cancro do White, o facto de ter tido uma filha bebé, a relação com a Skyler, tudo se eclipsa e esfuma misteriosamente, apenas para ressurgir quando não for credível ou quando interromper uma parte interessante. 

Do cast, destaca-se Dean Norris (agente Schrader), o único que consegue tornar interessante qualquer cena em que entre. Bryan Cranston (Walter White) é um excelente actor, mas acaba também por ser o mais fustigado pelos problemas de argumento e realização que o incluem em cenas que se arrastam e repetem:  whalter white descobre uma tramóia e tenta convencer um jesse hostil, walter white tenta falar com skyler e ela não lhe fala, walter white tem crise de nervos, walter white coloca os óculos com as mãos a tremer, walter white implora a alguém qualquer coisa etc.

Ah, não podia deixar de referir uma cena que para mim foi uma espécie de apogeu do tipo de descuido e amadorismo da série: quase nenhum dos actores que fazem de mexicanos dos cartéis sabe falar espanhol, mesmo nos papéis importantes. Nos EUA, onde os hispânicos são mais que as mães, é obra! Falam todos como se tivessem acabado de ouvir aquelas cassetes de aprendizagem no carro a caminho das filmagens.

Compreendo inteiramente que a série seja um sucesso. Exceptuando a season 1, nenhuma das três seasons seguintes é dolorosa de ver e há mesmo alguns episódios muito bons. O facto é que a vi até quase ao fim da season 4, embora o tenha feito sempre na esperança que melhorasse (o Jesse e a Skyler levassem um tiro nos cornos). É verdade que por vezes maus actores e maus argumentistas também produzem coisas originais porque "têm lata" e não me refiro a uma lata competente como a que foi necessária para aquela cena sangrenta do Game of Thrones (um exemplo de argumento à prova de bala). Refiro-me a uma lata que vem da incompetência e falta de noção. Tanto lhes pode dar para coisas brilhantes como o advogado Saul Goodman (outro grande actor) como para disparates  como aquele desastre aéreo /acto de Deus sobre a cidade. Contudo, o motivo pelo qual esta série é tão bem cotada pelo público e por grande parte da crítica, permanece para mim um mistério que nunca se dissipou.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

estou a atravessar uma crise de meia idade

Se Deus Nosso Senhor me der saúde, ainda este ano, promessa Fátima style.



Fascina-me, neste percurso, a ligação continua entre a paisagem da minha terra, onde há vinhas, pomares, fósseis, pinhais, campos de trigo, serras e moinhos, águias, falcões, cães e coelhos, até Lisboa, furando sucessivos anéis de subúrbios, pelo labirinto dos acessos não-via-rápidas nos últimos 20km, até chegar ao centro da capital. É uma reconfiguração da geografia mental.



terça-feira, 25 de junho de 2013

selecção da selecção

Da longa lista da Loudwire para as melhores músicas de rock e metal de 2013 (até agora) escolho estas duas. Ainda hei de ouvir isto com o Heart Rate Monitor ligado e ver o que acontece...

Rock: Clutch - Earth Rocker (cocaína em formato musical)



Metal: Kylesa - Unspoken (épico, muito épico e muito bom em qualquer género)


frangarias e portugalidade

Entre os maiores mistérios da portugalidade (termo recorrente no marketing desde o início da crise em 2008) conta-se a atracção pelas longas filas de espera na aquisição de bens alimentares preparados, como sejam gelados, frangos assados ou caracóis. É algo que nem eu, nem a Plaft, após observação empírica repetida em condições controladas, conseguimos entender. Não vou abordar em grande profundidade o caso da Conchanata, uma gelataria da Avenida de Igreja. Tem filas de espera de 30-60 minutos ou mais, mas é verdade que não há outra gelataria nas imediações. É um típico fenómeno de portugalidade como a Santini. Nem vou abordar muito o caso da tasca do pai do Paulo Bento que tem objectivamente dos melhores caracóis da zona, mas que é preciso reservar mesas (até para comer caracóis às 16:00 num sábado) enquanto que há 30 estabelecimentos com caracóis na zona com o bónus de não terem fotografias e posters do Paulo Bento em todas as paredes.

O grande case study que podia figurar num MBA de Harvard, é o das "frangarias". Na  mesma Avenida da Igreja, três frangarias como eu lhes chamo, lado a lado. Vendem frangos assados, sobretudo. Uma delas, a mais pequena, o Rio de Mel, tem uma fila de gente rua fora que oscila entre os 30 e os 50 minutos, chegando facilmente aos 60 minutos às sextas feiras e sábados. Os carros, estacionados em 2º fila na avenida, dão a entender que a clientela vem de várias zonas de Lisboa, atraída como formigas para o rio de Mel (um nome assaz contra-intuitivo para uma frangaria). As outras duas frangarias, a Churasqueira do Manel e a das pretinhas (não sei o nome, mas tem pretinhas e senhoras de idade a atender) estão normalmente quase desertas, ao ponto de sentirmos vergonha alheia.

Sendo o frango assado uma comida fast food típica portuguesa, seria de esperar que o factor "tempo" teria um coeficiente de importância maior na função de utilidade. Afinal de contas, espera-se uma hora pelo pato com laranja da Tia Rosinha em Agosto, ali pelos lados da Galé, no sudoeste alentejano. É um pato que vem tostadinho e tenro do forno, com batatinhas redondas, com um arrozinho de miúdos coberto com uma camadinha de ovo e o estabelecimento sofre naturalmente um choque desorganizativo pela sazonalidade a que é sujeito. A isto soma-se o facto de serem alentejanos. Mas uma pessoa espera de bom grado, sentada, com vinho e um queijo. O tempo de espera, conjugado pela observação de outros patos a serem servidos em mesas ao nosso lado, a ansiedade de se terem esquecido de nós no meio do caos ou de outras pessoas serem servidas primeiro, aguça o apetite e confere à chegada das travessas do pato assado com laranja um carácter de milagre inesperado, como um paciente que recupera de um coma quando nada o fazia esperar. Mas esperar uma eternidade, em pé, depois de um dia de trabalho, com carro em 2ª fila, por um frango assado com batatas de pacote, é algo que, enfim, escapa à minha compreensão.

O critério geográfico, normalmente fundamental na escolha de fast food ou supermercados, não entra na avaliação, uma vez que, como expliquei, estão as três coladas uma às outras, do mesmo lado da rua e tudo. Será a qualidade? Analisemos. O rio de Mel e a frangaria das pretinhas têm os dois assadores de carvão. A do Manel tem assador a gás. Parecendo que não, a diferença no sabor nota-se, mesmo em blind tests com a Plaft, mas existe um empate técnico entre a qualidade do frango das pretinhas e do Rio de Mel. O frango da grelha do Manel não é tão bom.

A frangaria das pretinhas pauta-se por uma desorganização na fila de espera, em parte devido ao diâmetro alargado do balcão de vidro e inox onde estão exibidos espécimes de charcutaria usualmente associados a churrasqueiras (chouriços, azeitonas, queijos), em parte devido ao ambiente descontraído e familiar que lá se vive. O Rio de Mel não padece deste problema porque é tão estreito que se forma naturalmente uma fila única compacta. A pressão da fila de espera que se estende pela rua e o cansaço da espera também não dão azo a que os clientes confraternizem em alegre chocarrice ou que alguém se atreva a furar a fila. A grelha do Manel é lenta no serviço, derivado a não ter pressão para ser mais rápida, mas acaba por ser a mais rápida de todas, devido à clientela diminuta e de espírito prático (na qual eu me incluo). Se é verdade que o frango da grelha do Manel não é tão bom e que até se poderia compreender o monopólio do Rio de Mel caso o mercado fosse dividido entre estes dois players, entre o Rio de Mel e a das pretinhas não há justificação racional para tal disparidade de quota de mercado, mesmo em consumidores que atribuam grande importância ao sabor de um frango assado e ao processo de churrascagem do mesmo.
A disparidade advém de dois critérios emocionais. O primeiro é obviamente, o racismo. Apesar de haver bastantes ciganos em Alvalade, devido a existir um bairro social nas imediações, a verdade é que Alvalade tem muitos idosos e idosas, é das únicas freguesias PSD em qualquer eleição, é uma das zonas com maior poder de compra e instrução académica, tudo factores que explicam uma natural confiança em mãos brancas, portuguesas, no manejo de frango. Aliás, creio que o tipo do assador das pretinhas é um ucraniano, mas não tenho a certeza porque nunca o ouvi falar.

O outro aspecto é a reputação do local. O mass market português é amplamente atraído por fenómenos como "o Júlio dos caracóis é o que tem os melhores caracóis de Lisboa" ou "restaurante Capa Negra tem as melhores francesinhas" ou "a Santini, que tem os melhores gelados" e, como tal, não se importa de esperar e pagar pelo nutrimento referenciado e hiper-valorizado. Na ausência de informação, como em fazendo turismo, o português sente-se naturalmente atraído pelo nutrimento que estiver mais protegido por uma fila compacta e longa. O mesmo se verifica em fenómenos como a escolha do local para estender uma toalha na praia. O português confia na recomendação de outro português, por vezes, infelizmente, na nossa própria recomendação involuntária. Ao estendermos uma toalha na praia, mesmo que seja uma com um areal extenso, desocupado, aparentemente convidativo de forma indiferenciada, estamos a transmitir um sinal de recomendação a famílias portuguesas que tenham filhos com bolas de futebol.

Claro que os portugueses não são todos iguais, isto é o mainstream, o mass market... Nas franjas do mercado, no nicho, tal como na música pop rock, existem os hipsters dos frangos, dos caracóis, das francesinhas ou dos gelados. São aquelas pessoas irritantes que conhecem sempre um sítio recôndito e castiço que é muito melhor do que o sítio onde nós vamos, onde todos vão, um sítio que até pode parecer desleixado e com uma clientela de neo-realismo social (avisam eles), mas  onde os nutrimentos são muito melhores.

Tendo em conta o target do meu blogue, vocês, são hipsters de que género alimentício / estabelecimento?

quinta-feira, 20 de junho de 2013

coração

Gosto de comer manteiga de amendoim e correr a seguir, cada colherada são 2 quilómetros a correr com o relógio garmin e o heart rate monitor ao peito. Gosto muito de ver os gráficos dos batimentos do meu coração durante e depois dos treinos. O coração existe e bate bate, mas é invisível, não se dá por ele e só se dá pela falta dele alguns segundos como o Feher e o Gandolfini, mas depois já não se dá pela falta de nada por isso não é como o "ar que respiramos" que é invisível mas que mesmo assim dá para dar pela falta dois minutos (eu aguento 2 minutos) até começar a ficar roxo e pensar "ena pá, a falta que o ar me faz".

Nunca liguei nenhuma a recordações e fotografias, mas tenho pena de não ter usado o Heart Rate Monitor em certos momentos da minha vida para ter agora o gráfico e perceber o impacto desse momento, por exemplo, quando percebi que não me tinha esquecido de onde tinha arrumado o meu Ford Escort mas que mo tinham roubado.

Este gráfico aqui é de um treino de intervalos, 5 minutos na zona 4 e 2 de recuperação na zona 2 x 4, mas podia ser o gráfico do meu coração neste final de época do Benfica:


Não sei como as pessoas podem fazer coisas sem monitorizar o que se passa com o coração delas, já nem digo em tempo real, mas pelo menos a posteriori no computador, à noite, a beber um chávena de chá de camomila, depois do banho. Podiam ter uma perspectiva diferente da importância de certos assuntos, em função do coração bater mais ou menos. Também tenho um gel de banho que é o Sport e que é um gel para cabelo e pele e só ponho esse gel que tem um cheiro um pouco a perfume de supermercado nos banhos após os treinos, é como um prémio.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

serviço privado


Quando um filme navega por entre os série B, não pode contar nem com os media, nem com a distribuição, nem com o hype, nem com um bom push de marketing, muito menos com o gosto do público. Tem de contar com o quê? Com os bloggers e as suas relações de confiança com os respectivos leitores? E ambicionar ser um fenómeno de culto no longo prazo? A minha contribuição é esta.
Beijinhos.


terça-feira, 18 de junho de 2013

esperemos que encontrem o servidor dele :(

A única coisa que ficamos a saber quando clicamos no http://atumacaco.blogspot.pt/ é que ocorreu um problema e o servidor não foi encontrado :(

 Deixo aqui um pequeno isco para atuns macacos, quem sabe...

 (update: já percebi que o problema é da blogger ou da minha ligação à internet e que deve estar tudo bem com o Atum Macaco e a intenção é que conta)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

diário de Vitor Gaspar (em formato bloco de notas quadriculado)

Segunda Feira, 17 de Junho de 2013

 You should reach the limits of virtue, before you cross the border of death.
Tyrtaeus, poeta de esparta.

Dormi 7 horas. 
Peso: 72.3kg. 

Tempo de percurso casa-trabalho: 24 minutos e 12 segundos. O senhor Artur voltou a optar por percurso pela Infante D. Henrique.  Resultado: dispêndio estimado de mais 4% de tempo útil. Motivo: obras no Cais do Sodré. Lamentável apego a velhos hábitos. Indagar junto de Fatinha quanto custa reestruturar o senhor Artur e ver se já está amortizado.

O senhor Artur fuma. Pela tosse desta manhã, podemos estar na iminência de um encargo substancial em quimioterapia. Pedir à Fatinha se o plano de saúde de Artur faz hedging disso. Em caso afirmativo, alterar lei. Em caso de resistência à alteração à lei, alterar lei que regula resistências a alterações de leis.

Nem de propósito, Fatinha diz que hoje houve greve de professores porque tinha um filho que ia fazer exame de português. Não li nada sobre isso no Ecomonist. E nem sabia que havia exames de português. Para quê? Indagar se é mesmo necessário. Gostava de ser informado destas coisas a tempo. 

Não sabia que Fatinha tinha filhos e já está comigo há 3 anos neste gabinete. Indagar se Fatinha planeia ter mais filhos e ponderar ter outra administrativa. Portfolio insurance.

FENPROF diz que 90% dos professores fizeram greve. Ministério diz que 70% dos alunos fizeram exame. Se com10% de professores, 70% dos alunos fizeram exame, pela regra de três simples, dá que com 14,3% do total de professores, 100% dos alunos faziam exame. Logo, mais de 85% dos professores são excedentários. Almoçar com Nuno Crato e apresentar-lhe proposta. Alternativa mais dura: despedir os 90% de professores que fizeram greve e 30% dos alunos. 

Estive a ver números. O rácio professor aluno em Portugal é de 1 professor por cada 8 alunos. Em França é 1 por cada 12 e na Alemanha 1 por 15. Apresentar em Conselho de Ministros o conceito de professor de Esparta. Se 300 chegaram para infligir mais de 10 mil baixas nos persas, precisamos apenas de 1 professor de Esparta por cada 33 alunos. O rácio do México

 A Lagarde telefonou-me. É boa profissional, mas um pouco soft e com as tradicionais oscilações sentimentais das mulheres. Num dia está a ser razoável e a ver claro, no outro diz que não pode ser só austeridade. Pelo menos não é completamente histérica como a Françoise Hollande.

andar de bicicleta em Lisboa (ou pior, no Porto) #1 - Escolher a bicicleta





    (Rui Costa consegue chegar a tempo da reunião com o cliente, depois de deixar os miúdos na escola)


     Não encontrei as especificações e preço da bicicleta do Rui Costa, mas esta pode ser parecida, uma Specialized S-Works Tarmac SL4 Di2.



    6.3kg.
    8.300 euros.


    Para o empedrado e as zonas históricas, e o Rui Costa recomendamos a SPECIALIZED S-WORKS EPIC CARBON 29 XTR


    9.9KG.
    7400 euros.

    Estava a brincar. Estas nem têm descanso ou bagageira. O Rui Costa pedala com carros de apoio que lhe levam o portátil, livros ou a marmita para o almoço. Não é como nós.

    E o carbono é um material frágil, uma queda e a bina vai para o lixo. Porquê, então, começar o post  com este tipo de bicicletas? Porque vocês me irritam! Estou constantemente a encontrar pessoas que acham estranho uma bicicleta custar mais de 150 euros e depois vão de férias para o Brasil, compram iPads, pagam rendas de casa, têm filhos que precisam de ser alimentados...Comam menos bifes!

    Independentemente do que comprarem, escolham algo que tenha ou possa ter uma bagageira traseira destas (rack) e um ou dois alforges deste tipo. Essenciais também os guarda-lamas. Eu sei, não são cool, mas quando chove é que se separa o trigo do joio.


    Regularmente vejo pessoas com mochilas... As mochilas criam uma poça de suor nas costas, apertam a roupa nos ombros e impossibilitam a circulação do ar pela roupa. São desconfortáveis em tempo quente e mais pesadas do que os alforges / sacos. O Rui Costa nunca anda de mochila às costas na volta à Suiça ou no Tour, pois não? A sério, bagageira.

     Andar de bicicleta em Lisboa, se meter subidas e distâncias longas, não é fácil. Mas há boas notícias. Os holandeses podem pedalar muitos quilómetros, mas vocês, a pedalar em Lisboa, em pouco tempo ficam autênticos Lamborghinis. O Rui Costa ganhou a volta à Suiça porque muito provavelmente ia de bicicleta para a escola, lá na aldeia. Uma pessoa que pedale no Porto diariamente está certamente apta a ganhar o tour de france.  E por cada subida, há uma descida e as descidas são divertidas e quebram a monotonia.

     Quem não tem ainda bicicleta ou pensa adquirir uma nova para ir de casa para o trabalho.. esqueçam tudo que se pareça com isto...


    ou isto...

    Em mercados como o holandês desenvolveu-se uma oferta que não tem em consideração o factor vento, piso ou topografia. Mais peso por vezes significa maior conforto, robustez e estabilidade, uma vez que um quadro mais maciço absorve as vibrações e tem uma inércia maior, dando ao ciclista a sensação de estar a flutuar num barco confortável. Os selins são normalmente mais largos e confortáveis, a posição de pedalada é mais "upright", metem trezentos extras e isto é tudo muito bonito em terreno plano, mas péssimo numa cidade ventosa e acidentada como Lisboa (ou Porto) em que é útil uma posição mais desportiva. Primeiro, distribuir o peso pelos braços evita a concentração do peso todo no rabo, o que é relevante quando o piso é acidentado (os choques vão todos para a coluna) e quando percurso é longo. Segundo, para subidas ou distâncias maiores, um selim mais pequeno e rígido acaba por ser melhor, porque facilita a pedalada. E terceiro, o vento, muito vento, Lisboa é estupidamente ventosa e o aerodinamismo não é cromice.


    A decathlon tem Elops 5: pesa 20.7 kg. Notem a semelhança com o clássico acima.




    Para iniciar ciclismo de estrada ou btt, recomendo a Decathlon, mas nas urbanas acho que não têm ainda uma oferta adequada a Lisboa.
    Há modelos que nunca vi nas Decathlon de Portugal e sei que existem noutros países, por pesquisa na net. Não percebo porque a Decathlon em Portugal tem a Elops 5 que pesa 20kg, mas nunca cá vi a btwin NeWork 3:



     Pelo preço em libras, custaria 200 euros cá, o que me parece bom. Não sei o peso, mas não há de ser 20kg. Posto a foto porque isto é o tipo de "simplicidade" que me parece adequada a um commute e acessível.

     Aqui, a btwin reverside 7 deles que , a julgar pelo preço inglês, custaria cerca de 700 euros.





    É uma bicicleta que dá para touring em distâncias maiores. O nível de equipamento já seria um pouco caro e pesado demais (descanso, luz com dínamo etc). O descanso é um luxo (o Rui Costa, precisa de descanso?) e o dínamo faz mais sentido em latitudes onde há muitos dias curtos ou mau tempo, em Portugal é suficiente uma luz que se tira e põe e funciona a pilhas. Tem suspensão, o que não é exactamente um luxo, mas acrescenta kg.

    Gosto desta Treck Soho Deluxe. Foi a editor choice da bicycling.com.





    Pesa 13kg, é um exemplo de uma commuter bike perfeita. O preço deve rondar os 1.000 euros em Portugal, o que é acessível se comerem menos uns bifes. A Reverside pesa quase 17kg e esta 13kg, com travões de disco. Sim, 4kg fazem muita diferença, perguntem ao Rui Costa se ele ganhava a Volta à Suiça pela 2ª vez consecutiva se carregasse um garrafão com 4 litros de água atrás.

    Muito estilosa esta holandesa, mas queria ver as merdas a ficarem no cestinho (quanto é que aquilo pesará?!) no belo empedrado a descer...


    Esta treck deve rondar os 1300 bifes e seria a escolha do Rui Costa se ele andasse em Lisboa e se Lisboa tivesse um piso que não fosse de um país do 3º mundo. Mas há quem ande com isto que eu já vi (embora sem bagageira, porque o tuga tem a mania que é espertalhuço).


    Esta é mais barata (530 bifes), mas não deve sobreviver mais de uma semana em Lisboa se o percurso envolver empedrado, digo eu.


    Isto são bicicletas de perfil desportivo e para pisos bons. São adequadas para o Rui Costa e para quem tem um perfil desportivo, gosta de treinar durante a semana ou precisa de fazer longas distâncias.

    Aqui, outro tipo de bicicleta que eu consideraria boa para uma utilização polivalente em Lisboa com o bónus de poder andar em estradão, fazer um pouco de cicloturismo, passeios...

    Uma de montanha em alumínio, rígida, com  suspensão dianteira, pneus de estrada e uma bagageira. Excelente opção. Vejo commuters experientes com bicicletas deste tipo, adaptadas por eles próprios. Muitas vezes são bicicletas de BTT que já possuíam e que reconverteram em bicicletas de commute, como a da foto acima.

    Desdobráveis
    Recentemente tenho visto mais bicicletas desdobráveis, especialmente desde que a Decathlon  começou a vender a B'Fold.


    Não tem mudanças, nem suspensão e acho que não dá para ter bagageira. Estamos a falar de Lisboa (ou pior, Porto) e não de Paris ou Londres, mercados que certamente estão mais na mente dos engenheiros por detrás destas bicicletas e que talvez constituam 99% das vendas de bicicletas de commuting. O meu conselho e o do Rui Costa seria, caso vivam em Lisboa ou Porto, não se meterem em desdobráveis a não ser que seja mesmo necessário (e não, o critério "ocupa menos espaço, é mais prático" não conta).

    Conclusão:
    Analisem o percurso que vão fazer e pensem na compra como sendo a longo prazo, mesmo que comecem de forma gradual a reduzir os bifes. Estão a escolher algo que vos vai dar para muitos anos e no qual vão ter de confiar. É tudo uma questão de curva de utilidade.

    Boa sorte!

    Rui Costa, após mais um dia de commuting da partida à meta



    sexta-feira, 14 de junho de 2013

    e retomando uma conversa a propósito de covers muito bons...

    ...quando uma das minhas bandas pop preferidas da actualidade, os muito underrated suecos The Tough Alliance decidem re-interpretar uma das minhas musicas preferidas, o Hung up on a Dream dos The Zombies de 1968, as estrelas alinham-se, tudo faz sentido, a vida é um croissant quente, dos bons, a escorrer manteiga.

    José Rentes de Carvalho

    Pois é, pois é, ou muito me engano, ou este "O Rebate" é o melhor livro de um português que leio desde o saudoso Fado Alexandrino do António Lobo Antunes (um autor que, de resto, hoje em dia não consigo ler) e o Ano da Morte de Ricardo Reis, do Saramago. Estou muito feliz, dizer mal também cansa. Às tantas, podia pensar que o problema era meu. Sim, porque me indigna um pouco a facilidade com as pessoas assumem um "não gosto" a propósito de comidas e sabores, como se o "não gosto" fosse algo estático. "Não gosto de queijo", "não gosto de vinho", "não gosto de azeitonas"... como pode alguém viver sem gostar de queijo ou vinho ou azeitonas e ainda por cima declarar o seu referencial orgulhosamente? Como pode afirmar que no seu universo, o queijo e o vinho são coisas de que não se gosta e que nunca se vai gostar? Ultrapassa-me completamente. Eu também não gostava de vinho, hoje em dia o problema é, talvez, gostar demasiado dele. Não oiço  jazz, a não ser quando estou a cozinhar, porque me dá a sensação de ser sofisticado, relaxa-me e soa bem com o crepitar do refogado. Então quando digo a alguém "não gosto de jazz", é com uma certa mágoa e vergonha, predisposição para aprender... Uma vez ofendi um melómano ao confessar-lhe que ouvi Chet Baker pela primeira vez ao preparar um frango de caril. Mas voltando à escrita, ou neste caso, a leitura, não, pensando melhor, vou ler tudo primeiro. E ainda vou comprar o "Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia". Só não o comprei na feira porque decidimos chamar Júlia à nossa bebé e esta coisa de ver um livro em que se vão abordar os seus lindos braços, enfim, estou mesmo a ver que há ali história de amor e eu não queria cá confusões com os braços da minha filha. E também não quero que ela vá para ciências farmacêuticas. Se se chamasse "os lindos teoremas da Júlia do laboratório engenharia da Nasa", bem, aí...

    jogging

    Tenho acordado cedo demais ultimamente (hoje foi às 6). Não sei exactamente o que se passa, ansiedade talvez. Há muita coisa a acontecer-me ao mesmo tempo. Lisboa é amistosa de manhã muito cedo, com o sol a nascer. Lembra-me viagens de avião, só em dias de viagem de avião às 8 da manhã é que uma pessoa acorda a estas horas para apanhar o táxi. Tenho ido correr e vou a ouvir música e a minha própria respiração nos ouvidos. Está fresco, o sol desponta por entre os prédios e não há quase ninguém nas ruas. Surpreende-me a quantidade de homens esquisitos que deambulam pelos parques ou ficam sentados em bancos de jardim, como fantasmas de reformados no limbo. Um jovem passa por mim a correr, em sofrimento. Pela forma como corre, percebo que também é tanso, ainda mais do que eu. Já aprendi a lição, depois da primeira tentativa de corrida me ter deixado quase de cama e sem conseguir levantar-me de um sofá, só porque fui ultrapassado por um gajo e duas raparigas atléticas e me armei em galgo atrás do coelho. Agora vamos com calma. O relógio garmin vibra de cada vez que estou a ir depressa demais ou devagar demais, mantendo-me na heart zone 2. Sou ultrapassado por um velhote que deve ter para cima de 60 anos, sem exagero nenhum. Tento copiar-lhe a passada elástica, curta e simples, mas deixo de o ver poucos minutos depois. Não sinto qualquer humilhação, apenas altruísmo e generosidade, são corredores como eu que permitem que estes velhotes se sintam bem e depois digam às esposas: ainda hoje ultrapassei dois miúdos eheh aqui o velhote está em forma. Entretanto ultrapasso o primeiro tipo que vi, o tanso. Está quase estendido no chão, a hiperventilar. Minutos depois faço o cooldown e uns alongamentos.  Aprendi a lição, aprendi a lição. Tomo banho, dou um beijo à Plaft que, muito grávida, consegue ajeitar-se melhor na cama de casal deserta, recorrendo a uma infraestrutura muito complexa de almofadas a apoiar a barriga, as pernas e ainda em igloo por cima da cabeça para evitar luminosidades. Vou de bicicleta. O trânsito pesado ainda não chegou a Lisboa, há muito espaço e é sempre a descer.

    quarta-feira, 12 de junho de 2013

    a ver se nos entendemos


    A classificação de 1 bolinha no goodreads ao Nome de Guerra pretende dizer apenas "didn't liked it" e é o único ponto negativo da escala de 1 a 5. O 2 já é um "it's ok". Mas não é it's ok, foda-se, visto que o atirei para o lado mais ou menos a meio. O início é muito bom, mas quando o romance fica refém da história de amor entre o jovem e a prostituta, cai numa banalidade e em clichés que talvez não o fossem tanto há 100 anos no contexto português. Histórias de putas e jovens enconados é coisa que não falta na literatura, do Céline ao John Fante, passando por Dostoiévski e Maupassant no seu Boule de Suif, enfim, os frances e americanos adoram isso, putas, e escritor que é escritor tem obrigatoriamente de abordar esse tema, porque todos os escritores foram jovens enconados. Aliás, acho que o Gonçalo Tavares poderia ser um grande escritor se fosse às putas e experimentasse beber álcool e relaxasse um bocado. Depois, há qualquer coisa que me difícil de digerir: a inclusão de aforismos (sem um Lord Henry para os tornar credíveis e relevantes), os discursos e reflexões filosóficas intelectuais... Apontei o mesmo problema no L'Age de Raison do Sartre ou na Aparição do Virgílio Ferreira: sentimos que o romance é instrumentalizado e esquematizado para transmitir uma ideia e infelizmente o autor até consegue fazê-lo e no processo sinto-me instrumentalizado, como se me estivessem a dar uma aula e a usar uma história para escorregar melhor. O Sá Carneiro até pode escrever pior com o seu uso histérico das reticências e aquele tom um tanto ou quanto bichano poeta, mas não finge nada, quando ele nos interrompe um romance como no Incesto para uma tirada pessoal sobre o suicídio e que os suicidas não são cobardes, é porque não resiste a falar nisso (depois até se matou, o homem, bravo, é credível). Resumindo, o Almada escreve muitíssimo bem, e pensa muitíssimo bem, o romance é bom, mas contextualizado em 2013 e no âmbito da literatura mundial, enfim, considero-o uma perda de tempo. Dito isto, gosto muito do Almada Negreiros pintor, o escritor mal conheço ainda e o poeta, zero, não conheço nada.  Li-o e vou ler mais porque gosto muito muito muito dos futuristas. Abraços e beijinhos.

    terça-feira, 11 de junho de 2013

    ciclovias de Lisboa, revisitado


    Tenho vindo a abordar este tema nos últimos 10 anos, tantos quantos aqueles em que uso a bicicleta para fazer o meu commuting diário, de forma mais ou menos regular. Apesar de hoje haver muito mais ciclistas urbanos do que há uma década, por muitos e diversos motivos que estão fora do âmbito deste post, a política da CML para utilização urbana de bicicletas não se alterou muito neste período: continua a ser inserida no slot de responsabilidade social eco-friendly, o que em si não seria necessariamente mau se não resultasse na rede de ciclovias globalmente ineficaz da imagem acima. Pelos vistos, a construção de ciclovias será uma competência do Departamento de Ambiente e Espaço Público da CML, fora da alçada da Direcção Geral de Mobilidade e Transportes (organograma).

    Continua a não haver qualquer ligação da zona ribeirinha ao resto da cidade e continuam a não existir ciclovias na Baixa e no Centro. Assistimos ao fenómeno um pouco absurdo de ver uma rede crescer "por fora", ignorando o centro. Perde-se a possibilidade de potenciar as ciclovias já construídas e as zonas naturalmente cicláveis sem necessidade de ciclovias - nomeadamente, toda zona ribeirinha, uma zona que já era perfeitamente ciclável  antes do desperdício simpático da ciclovia Belém - Cais do Sodré. De facto, por ciclovia entenda-se uma simples demarcação de uma zona na faixa de rodagem, não é necessário construir autênticas pistas de atletismo por todo lado.

    A construção de ciclovias continua a seguir os mesmos critérios de há 10 anos: privilegia-se a utilização de lazer (o mítico "corredor verde") colada a zonas verdes e a construção em locais onde não é exigida uma intervenção nas rodovias. O resultado é mais ou menos inútil: atapetam-se passeios largos com uma faixa redundante e cara que depois acaba por ser naturalmente usada pelos pedestres, suscitando críticas por parte de pessoas que não utilizam a bicicleta porque vêem estas ciclovias desertas uma usurpação do seu espaço e uma despesa inútil. A bicicleta é um meio de transporte urbano: está melhor na estrada, numa faixa delimitada, do que no passeio, mas enquanto for encarada como uma brincadeira ecofriendly não é de esperar grandes alterações de políticas por parte da CML.

    Desconheço por completo se há planos para ampliar a rede onde e como seria mais relevante para a mobilidade urbana, mas não há qualquer sinal disso na informação da CML.  Deixo aqui, um mapa das cycle superhighways previstas para Londres. Note-se como irradiam da periferia para o centro da cidade. O planeamento obedece a uma lógica compreensível e com uma perspectiva de utilização para commute a sério. Para além de serem patrocinadas, consistem sobretudo numa faixa devidamente demarcada na faixa de rodagem já existente, mantendo-a fora dos passeios.









    Nome de Guerra - Almada Negreiros...

    ...leva bolinha no goodreads e não se fala mais nele. Num país sem massa crítica de leitores (só agora parece formar-se) e com um mercado bastante pequeno, pergunto-me qual será a influência que o Estado teve e  tem na resistência de uma obra literária ao tempo, o critério que apesar de tudo costuma trazer verdades ao de cima, seja a consagração, seja o esquecimento... Que obras do nosso panorama de "clássicos" estão lá porque foram institucionalizadas?

    sexta-feira, 7 de junho de 2013

    maximum heart rate

    estranho, já gostava dela, mas nunca o modern man dos arcade fire me soou tão bem como agora mesmo há pedaço. Deve ser do relógio garmin com GPS e do heart rate monitor que regista os meus batimentos cardíacos nos treinos de corrida que se iniciaram hoje a 7 de Junho às 8:30 do ano da graça de 2013 e que me deixaram KO aos 3km com a língua de fora num banco de jardim, sob os olhares curiosos de dois velhotes que davam de comer aos pombos. Max heart rate: 181bpm. Nunca me tinha apercebido que um coração tivesse uma max heart rate.

    segredos das prisões


    Ainda no tema das prisões, quero divulgar este livro que, por coincidência, me pediram para divulgar aqui há dias e que ainda não li. 

    Autores: António Pedro Dores e José Preto
    RCP edições - Colecção Mais Actual 15x23cm
    Capa Mole - 168 páginas Edição Abril 2013 Tema: Justiça/Investigação


    quinta-feira, 6 de junho de 2013

    conduta incorrecta

    Por motivos que não interessa, tenho lido processos e testemunhos de prisioneiros nas cadeias portuguesas. A maioria é dramática, o cenário parece ser infernal para os presos, mas também para os próprios guardas que trabalham em condições difíceis. Há dias, contudo, apanhei um processo disciplinar online bastante particular, de que transcrevo aqui uns breves trechos que resumem as 13 páginas do processo,  alterando nomes e ocultando datas (apesar de estar disponível online, digitalizado, não sei porquê):

    Factos participiados:
    (...)
    No dia XX de XX do presente ano, pelas 14:27, no decorrer de uma revista por palpação efectuada ao recluso Manuel António [nome fictício] no átrio de acesso à ala do piso nº2, antes de ser encaminhado para uma visita especial, teve um comportamento menos próprio ao dar um 'peido' no momento em que o guarda Artur [nome fictício] estava a fazer a verificação aos membros inferiores. Ao fazê-lo o recluso Manuel virou ligeiramente a cara e fez uma expressão de gozo para o guarda Artur.
    (...) 
    O guarda Joaquim [nome fictício], que acompanhou a revista não ouviu mas detectou o cheiro e viu o recluso virar a cara para o guarda Artur fazendo uma expressão de gozo ao sorrir.
    (...)
    O recluso tem o dever de adoptar uma conduta correcta para com um funcionário no exercício das suas funções, nos termos da al d) do art. 8º. Como não o fez, infringiu o disposto na alinea p) do art 103º do CEPMPL
    (...)
    Do presente relatório e das provas carreadas resulta inequivocamente que o recluso Manuel António no decorrer de uma revista teve um comportamento menos próprio ao dar um "peido" no momento em que o guarda Artur estava a fazer a verificação dos membros inferiores, revista essa que é feita nos termos legais e regulamentares e matéria esta que é devidamente tratada no relatório da Sr. Instrutora e que dá-se aqui por integralmente reproduzida.
    (...)

    a Plaft, grávida de 7 meses, a trazer os sacos de compras do Pingo Doce para casa


    quarta-feira, 5 de junho de 2013

    vacas sagradas

    A propósito da crónica da desilusão da Rita Maria com a última manif falhada deste sábado (e da qual só soube por um post sobre desilusão o que já diz um bocado sobre o tema), a minha desilusão definitiva ocorreu na última manif a que fui, a 11 de Fvereiro, no terreiro do paço, organizada pela CGTP. Tinha muita gente trazida de autocarro, mas foi penoso de assistir aquela homilia. Um português laico, digamos assim, sente-se instrumentalizado como estatística exagerada (300 mil...) por uma força que se tenta apropriar da indignação, em vez de a servir, em vez de se ajustar a ela e procurar pontes. Talvez isso explique os fracos números e a indiferença geral face a esta de sábado, poucos meses depois.

    Os sindicatos parecem ignorar que de cada vez que os trabalhadores dos transportes ou da TAP fazem mais uma greve, prejudicando em primeiro lugar os portugueses que usam esses serviços ou a própria economia nacional, estão a passar um sinal muito claro aos portugueses de que primeiro estão os deles, os seus objectivos, depois o país, mesmo que isso, vamos admitir, não seja verdade. A mobilização da sociedade civil só se consegue fazer quando os sindicatos ou os partidos de extrema esquerda encontrarem um mínimo denominador comum com a generalidade da população e as suas próprias convicções.

    O ponto de partida dos sindicatos, do PCP e de grande parte do discurso do BE ou do PS quando está agora na oposição é o de que todos os 'direitos' são sagrados. Quando não se tem a honestidade intelectual de partir do princípio que o dinheiro dos contribuintes é finito, que o estado actual de coisas era insustentável, que levou a um endividamento galopante e que estamos em "falência", então  foge-se à discussão essencial que seria discutir e defender os direitos mais importantes e quais as opções possíveis. Ainda ontem tive de desligar o rádio porque o BE questionou o Governo  sobre o encerramento de 53 estações dos CTT considerando o direito a ter um posto dos CTT como algo de sagrado (como Seguro considera a RTP sagrada etc.) Portanto, tudo é sagrado, nada custa euros, nada provoca endividamento, assimetrias e injustiças. Mesmo num contexto de crise grave, o encerramento de uma estação de correio torna-se um cavalo de batalha válido, atirado ao barulho no meio de discussões que seriam mais agregadoras e que, de resto, o PCP e o BE são os principais catalizadores (corrupção, despesismo, evasão fiscal, BPN, PPPs, perdão de dívida / alargamento dos prazos etc.) A própria "greve" é uma forma de luta que exclui outras vítimas da crise: os desempregados, os jovens recém licenciados, os empresários (também são trabalhadores) que encerram actividade com dívidas, penhora de bens e processos no fisco, os profissionais por conta própria etc.

    Se eu pensasse assim, poderia defender com unhas e dentes um direito que descobri há poucos meses Posso tirar uma licença de paternidade de 3 meses e receber 100% do meu salário, sem pagar IRS. Significa que eu que já ganho bem e tenho possibilidade de ter filhos, vou receber ainda mais dinheiro e que alguém que esteja desempregado ou ganhe mal ou tenha tido o azar de estar sem trabalho e subsídio durante os últimos 8 meses da fórmula de cálculo, como amigos meus que gostavam de ser pais, recebem muito menos. Porquê? Os filhos dos ricos exigem mais manutenção e roupa de marca e precisam de uma extra-help? Para mim faria mais sentido creches públicas, abono fixo mais elevado etc., mas claro, conto com um sindicato para defender os meus direitos adquiridos e sagrados.

    já não se fazem como antigamente








    terça-feira, 4 de junho de 2013

    estante semi-anecoica

    Devido a factores de diversa índole, dos quais se destaca o facto de vir aí um bebé com muitos acessórios, tive de mudar uma estante carregada de livros para dentro do meu pequeno escritório que se assemelha cada vez mais a uma toca de hobbit. A estante está tão carregada que tem duas fileiras de livros por prateleira. Para deslocar a estante, tive de tirar todos os livros da mesma e estou no moroso, mas intelectualmente estimulante processo de os arrumar de novo. A ordem da arrumação dos livros caracterizava-se, essencialmente, por não existir. Se uma visita percorresse as lombadas, podia ler títulos por esta ordem: O Processo, Doyle Poker Super System, Guia essencial de jardinagem, Livro do Desassossego, Sin City - That Yellow Bastard, Ulysses, Misery, Calvin & Hobbes Há Tesouros por toda parte!, Guerra e Paz etc. O caos era agravado pelo reflexo da minha técnica auxiliar de limpeza que vem às 2ªs contribuir com um pequeno part-time de bibliotecária. Ela tem o reflexo de não suportar um livro em qualquer outro ponto da casa que não naquela estante, mesmo que o dito livro esteja na minha mesa de cabeceira, em cima do cesto da roupa suja ao lado do WC, no chão da sala, no balcão da cozinha, entre duas almofadas do sofá... não percebo qual o problema daquela mulher.

    Podia mentir e dizer que sabia exactamente onde estava cada livro, que aquilo obedecia a uma lógica própria e encriptada por uma chave hexadecimal, mas a verdade é que não encontrava livro nenhum, ao ponto de ter abandonado bastantes a meio porque os deixava algures na casa e eles desapareciam anónimos na multidão da estante, obrigando-me a um onde está o Wally Volume III dos Contos do Tchekov . Era impossível encontrá-los de manhã a tempo de ir trabalhar e ler no metro, o que me fazia pegar noutro livro que ainda não tivesse lido.Agora na arrumação descubro-os e é como se houvesse tesouros por toda parte! Fui tão injusto com alguns deles, livros que deixei a meio porque os perdi e depois andei aqui no blogue a dizer que eram tão maus que os deixei a meio por causa disso. Tenho de rever os meus ratings do goodreads, acredito que numas quantas classificações de memória terei pensado "epá, deixa cá ver, eu gostei deste livro? não me lembro de nada... devia ser muito mau, leva com bola".

    Desta vez, no caso da ficção, estou a arrumá-la por nacionalidade dos autores: portugueses, russos, americanos, franceses, sul americanos, resto do mundo etc. Ajuda, mas não é um percurso livre de dilemas. O problema mais recente começou-me com os ingleses, uma vez que é complicado ter o Joyce e o Conrad lado a lado com Lovecraft e Bram Stoker. Ponderei começar uma prateleira de Ficção Científica / Fantástico, mas então vou ter de misturar autores de diferentes nacionalidades e com critérios muito tremidos e que obrigam a separar livros do mesmo autor, por exemplo, o Segredo do Bosque Velho do Buzzatti ser separado do Deserto dos Tártaros. E se é Fantástico, então devia ter lá a trilogia do John dos Passos; não tem nada de fantasia, mas é um livro fantástico no sentido de ser muito bom. Não sei se me estou a fazer entender. Podia também subdividir a prateleira de cada nacionalidade em géneros: Inglesa - Drama, Fantástico..., Americana - Drama, Fantástico... etc. Poder podia, mas dá imenso trabalho e levanta questões de elevada subjectividade que não me apetece resolver. Pelo menos a nacionalidade é um critério objectivo. Assim como o livro ser uma merda. Tenho reservada a prateleira de baixo, a que está ao nível do chão, do pó, das teias de aranha, para os piores livros que li. Por esses critérios totalmente objectivos já tenho lá o Aprender a Rezar na Era da Técnica do Gonçalo Tavares e um livro de poker francês (os franceses, por um motivo que me escapa, pensam que percebem imenso de poker, um dia abordarei este mistério).

    Em todo o caso, no fim, vou ter uma câmara semi-anecoica de literatura a fazer de escritório: isolamento térmico, isolamento de humidade (os livros absorvem tudo), revestimento acústico (ainda ontem cantei lá lá lá lá e já não faz eco nenhum) e ainda revestimento contra radiação de mau gosto que, como se sabe, é muito forte na altura das tempestades solares na feira do livro. Basta ver nos posts dos blogues o que as pessoas andam a comprar a exibir em fotografias, muito orgulhosas do seu bom gosto. Agora estarei protegido com a minha estante e com  o tradicional capacete de folha de alumínio.

     Meu Deus... esta gastou uns 60€ só na Oficina do Livro...

    segunda-feira, 3 de junho de 2013

    65

    Um dos colegas do meu pai do curso de oficiais na academia militar fez-me chegar um livro de curso  digitalizado. Foi estranho ver pela primeira vez fotos do meu pai nesta idade e neste contexto, da 4ª companhia 64/65, porque muito raramente falava nisso (e no passado em geral). Foi uma fase difícil da sua vida; o ingresso na academia militar foi consequência de ter fugido de um lar caótico, levando-o a ter de abandonar a engenharia no técnico, pois não tinha meios de subsistência. Tem a cara de miúdo e a expressão pensativa que nos estará nos genes. Desertaria pouco tempo depois com outros oficiais que se espalharam um pouco por toda a Europa. Ao meu pai, calhou a Bélgica, onde conheceu a minha mãe.


    Recordo-me que a primeira sensação que tive quando soube que ia ser pai foi de "imortalidade". Tinha uma angústia que se dissolveu como se me tivessem dado uma injecção de morfina.  Parte disso tem a ver a consciência - talvez um pouco mística - de como traços profundos de quem somos passam de pais para filhos, traços de feitio, qualidades e defeitos únicos. Como tenho uma família que se foi fazendo pequena e dispersa e sou filho único, é possível que, ao ter filhos, tenha conferido um nexo e uma razão de ser a tudo o que me antecedeu, assumindo o desígnio de perpetuar alguns desses traços, misturando-lhes os da minha magnífica namorada que tem os seus muito marcados e espectaculares, dando-lhes um lar e um contexto mais feliz, um pouco como se fizesse as pazes com a vida das gerações que eu sou e que nós somos.

    domingo, 2 de junho de 2013

    detesto

    Detesto quando os americanos fazem um remake de um filme contemporâneo europeu ou asiático. Está sempre a acontecer com filmes de terror. Eu sei que vocês se estão nas tintas para isso, paciência, mas fiquem sabendo que sempre que os japoneses ou os nórdicos lá das Suécias e Noruegas, acertam num filme de terror (the ring, deixa-me entrar), os filhos da puta dos amerloques estão a fazer a versão hollywood no minuto a seguir. Porquê?! Não podem só legendar o original? E o pior é que o remake é sempre pior. Mas SEMPRE. É como se extraíssem do original o argumento e só o argumento. Depois vê-se ali mão de argumentistas profissionais. Abrem espaço a uma sequela, quase sempre, metem personagens para criar contrastes, metem as personagens a "mudar", aquelas merdas do "conflito" e o caralho. E explicam o que no original terá parecido demasiado críptico para um comedor de donuts. É uma coisa que me faz sofrer e desconfiar da humaniade, estes "covers" contemporâneos. Nada contra um realizador tentar a sorte com um clássico ou um filme de culto qualquer esquecido no tempo. Mas tenho muito contra quando se "apaga" um filme melhor, original, do mapa contemporâneo.


    Isto não tem nada a ver mas fiquem aqui com uma foto da Sybille e mais uma música.