Desde cedo que a ficção-científica faz parte do imaginário do Homem… desde cedo, muito cedo, que o cinematógrafo foi a grande invenção para o imaginário do Homem concretizar ou materializar de forma mais concreta (falemos das imagens que sempre foram a grande falha que a literatura oferecia, o que para muita gente não é falha pois deixa essa vertente no imaginário do homem) esse fascínio pela ficção-científica, pelo desconhecido e pela fuga à realidade com o futuro em mente, o choque do futuro que, mais que qualquer “inclinação” para a vida alienígena que possa ter surgido no cinema, sempre se direcionou para o advento tecnológico e sobretudo para o eterno conflito entre Homem/Máquina. No entanto, a coisa é mais complexa, e na verdade um filme que se restrinja somente à vertente da ficção é muito provavelmente uma nulidade. Na sua génese, a ficção-científica lida com os medos, com o fascínio, os desejos e a procura do homem em relação ao tempo e ao espaço futuros. As escolhas para este tema foram:
- “Metropolis” do Fritz Lang, é aquele que muito provavelmente terá sido o primeiro grande filme de ficção-científica (não nos esqueçamos, ainda assim, do “Le voyage dans la lune” do Méliès);
- “Solyaris” do Tarkovsky que recorre à fé e à procura interior no futuro e num planeta diferente;
- “Fahrenheit 451” do Truffaut que lida com a aniquilação da literatura num futuro próximo e totalitarista como uma alusão ao alienamento causado pelas novas tecnologias.
1º Metropolis (1927)
Realizador: Fritz Lang
Ficha técnica do imdb.
2º Solyaris (1972)
Realizador: Andrey Tarkovskiy
Ficha técnica no imdb.
3º Fahrenheit 451 (1966)
Realizador: François Truffaut
Ficha técnica no imdb.
Tertúlia planeada por Álvaro Martins (Preto e Branco)
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Tiny Furniture (2010)
Antes de se ter tornado num fenómeno da Internet depois do sucesso astronónico da série da HBO “Girls”, que ao fim de apenas para uma temporada se tornou numa série de culto e numa referência da feminilidade no século XXI, Lena Dunham já tinha, aos 24 anos, escrito e realizado o seu primeiro filme “Tiny Furniture”. Não se limitando a escrever e realizá-lo, assumiu ainda a responsabilidade de dirigir a própria mãe e irmã (comum em filmes mumblecore), arrancando interpretações incrivelmente honestas de actores amadores e/ou inexperientes num filme que acerta em cheio na representação da loucura pós-Universidade que são os early-twenties.
Como actriz, Dunham faz de Aura um veículo completamente identificativo para quem quer que já tenha tentado fazer algo na vida. Ela anda às voltas na casa dos pais e é óbvio que está a tentar descobrir quando, exactamente, é que o conceito de “casa” se perdeu para ela. A mãe e irmã continuam lá, mas o conforto e calor associado ao regresso a casa perdeu-se. Aura não pertence à vida académica, mas a que conhecia antes também já não a aceita e é no acto de procurar aonde pertence que espera encontrar-se a si próprio, passo o cliché. Dunham é incrivelmente livre de vaidade, interpretando Aura como uma pessoa de carne e osso que pode ser fantástica ou terrível e tudo o que separa um do outro. E esta falta de vaidade é também notável no seu à vontade com pouca roupa no corpo – não por ter o aspecto de uma super-modelo (que não tem) – mas por uma necessidade categoricamente não-sexual de ser vista. Todas estas características, diga-se, aplicam-se também a “Girls”, tornando-se óbvio que o trabalho de Dunham é essencialmente autobiográfico.
“Tiny Furniture” não tenta retratar Aura e o mundo que habita de forma “ficcional”. Apesar de as personagens dizerem praticamente tudo o que lhes vai na cabeça (o que também não é propriamente realista), a vida pelos olhos de Dunham é desarrumada e real. O sexo não é um acto perfeitamente coreografado e que passa de duas pessoas a beijarem-se para duas pessoas abraçadas pós-coito, é desajeitado e trapalhão; as famílias não são sempre compreensivas e cheias de amor incondicional; as pessoas podem ser nefastas. É tudo isso que faz deste filme algo tão sincero, mas principalmente os diálogos de Dunham, que, eximiamente pensados e por vezes brutais, permitem ao filme analisar temas difíceis de forma menos séria. O que podia perfeitamente ser um filme repleto de desespero e depressão é um filme bastante divertido – de forma inteligente e peculiar.
Filmes sobre a vida pós-Universidade abundam, mas nem todos têm o trunfo de ser um projecto de alguém que passou, de uma forma ou outra, por tudo o que está a filmar. “Tiny Furniture” é um olhar franco e por vezes hilariante da forma mais seca imaginável àqueles anos situados entre os estudos e a “vida real”. Lena Dunham criou, como em “Girls”, um mundo cheio de personagens que podiam perfeitamente ser nossos amigos. E essa podia perfeitamente ser a definição na Wikipedia do mumblecore.
Como actriz, Dunham faz de Aura um veículo completamente identificativo para quem quer que já tenha tentado fazer algo na vida. Ela anda às voltas na casa dos pais e é óbvio que está a tentar descobrir quando, exactamente, é que o conceito de “casa” se perdeu para ela. A mãe e irmã continuam lá, mas o conforto e calor associado ao regresso a casa perdeu-se. Aura não pertence à vida académica, mas a que conhecia antes também já não a aceita e é no acto de procurar aonde pertence que espera encontrar-se a si próprio, passo o cliché. Dunham é incrivelmente livre de vaidade, interpretando Aura como uma pessoa de carne e osso que pode ser fantástica ou terrível e tudo o que separa um do outro. E esta falta de vaidade é também notável no seu à vontade com pouca roupa no corpo – não por ter o aspecto de uma super-modelo (que não tem) – mas por uma necessidade categoricamente não-sexual de ser vista. Todas estas características, diga-se, aplicam-se também a “Girls”, tornando-se óbvio que o trabalho de Dunham é essencialmente autobiográfico.
“Tiny Furniture” não tenta retratar Aura e o mundo que habita de forma “ficcional”. Apesar de as personagens dizerem praticamente tudo o que lhes vai na cabeça (o que também não é propriamente realista), a vida pelos olhos de Dunham é desarrumada e real. O sexo não é um acto perfeitamente coreografado e que passa de duas pessoas a beijarem-se para duas pessoas abraçadas pós-coito, é desajeitado e trapalhão; as famílias não são sempre compreensivas e cheias de amor incondicional; as pessoas podem ser nefastas. É tudo isso que faz deste filme algo tão sincero, mas principalmente os diálogos de Dunham, que, eximiamente pensados e por vezes brutais, permitem ao filme analisar temas difíceis de forma menos séria. O que podia perfeitamente ser um filme repleto de desespero e depressão é um filme bastante divertido – de forma inteligente e peculiar.
Filmes sobre a vida pós-Universidade abundam, mas nem todos têm o trunfo de ser um projecto de alguém que passou, de uma forma ou outra, por tudo o que está a filmar. “Tiny Furniture” é um olhar franco e por vezes hilariante da forma mais seca imaginável àqueles anos situados entre os estudos e a “vida real”. Lena Dunham criou, como em “Girls”, um mundo cheio de personagens que podiam perfeitamente ser nossos amigos. E essa podia perfeitamente ser a definição na Wikipedia do mumblecore.
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