Lógica
E no final a lógica imperou. A equipa de futebol venceu o grupo de jogadores da bola que foi lançado ao quase pelado de Alvalade, tendo no entanto sido necessário um golo do adversário para que despertássemos da quase sobranceria com que abordámos a primeira fase do jogo.
Sem o Luisão jogou o Jardel, e sem o Enzo jogou o André Gomes. Se o 'menino' jogou a titular em Camp Nou sem quaisquer problemas, nenhum motivo para recear fazer o mesmo esta noite. Os primeiros minutos do jogo pareciam indicar que o Benfica quereria aproveitar da melhor forma o momento frágil do Sporting, e impor o seu jogo logo de início. Mas a verdade é que após uns primeiros dez minutos promissores, o Benfica pareceu algo sobranceiro e foi deixando o Sporting foi ganhar confiança e crescer no jogo, superiorizando-se na luta do meio campo e tentando quase sempre aproveitar o Capel para explorar o adiantamento do Maxi no terreno. E foi mesmo por aí que o Sporting chegou ao golo, numa grande finalização do Wolfswinkel, que conseguiu antecipar-se ao Garay e rematar de primeira de pé esquerdo, precisamente à meia hora de jogo. Só depois do golo o Benfica pareceu espevitar - ou isso, ou o Sporting achou que já tinha feito o suficiente e que daí para a frente só tinha era que defender a vantagem alcançada. A verdade é que o nosso adversário praticamente não voltou ao jogo a seguir ao golo, enquanto que o Benfica começou a dominar e finalmente a criar ocasiões de golo. Desperdiçámos pelo menos um par delas para chegar ao empate antes do intervalo, pelo Lima e pelo Cardozo, mas apesar da desvantagem no final da primeira parte, pareceu-me mais ou menos claro que o nosso adversário tremia sempre que era mais pressionado, e que se o jogo continuasse com a mesma tendência os golos do Benfica acabariam por surgir. O problema maior do Benfica durante esta primeira parte parecia ser a ausência de um jogador capaz de organizar o jogo ofensivo da equipa, e de transportar a bola pelo centro nas saídas para o ataque - esse papel acabou por cair sobre o Matic diversas vezes, e não parece sensato exigirmos tanto dele, tendo em conta que as tarefas principais dele são os equilíbrios defensivos e a recuperação da bola.
E continuou mesmo. O Benfica procurava o golo com maior insistência, tinha muito mais bola, e o jogo disputava-se quase em exclusivo no meio campo do nosso adversário, que revelava enorme dificuldade para construir jogadas de ataque - na maior parte das vezes, quando recuperava a bola limitava-se a chutá-la para a frente, na esperança que o Capel ou o Wolfswinkel a conseguissem captar e fazer alguma coisa. Mesmo assim, numa das raríssimas ocasiões em que chegaram à frente, conseguiram criar uma grande oportunidade para marcar, valendo-nos a defesa do Artur frente ao isolado Elias. Pressentia-se que um golo do Benfica poderia fazer desmoronar o Sporting como um castelo de cartas, e ainda antes de finalizado o primeiro quarto de hora isso aconteceu mesmo. Depois de um excelente cruzamento do Ola John na esquerda, o Cardozo ainda conseguiu cabecear de forma atabalhoada mesmo tendo sido abalroado por um adversário, e de alguma forma o excelente Rojo, que o Sporting fez o favor de orgulhosamente no-lo roubar, meteu a bola dentro da própria baliza. A partir daqui então só deu mesmo Benfica. A última meia hora de jogo foi de ataques constantes da nossa parte, e chutos para a frente da parte do Sporting, com uma excepção num bom remate do Insúa que levou a bola ao ferro. O Benfica também acertou no poste, poucos minutos após o golo do empate, num cabeceamento do Garay. Os nossos dois extremos, Salvio e Ola John, subiram muito de produção da primeira para a segunda parte, e as subidas dos nossos laterais não eram sequer acompanhadas pelos adversários directos. Pelo meio, apesar da teórica superioridade numérica do adversário, eram o Matic e o André Gomes quem controlavam e dispunham de cada vez mais espaço. O segundo golo era uma inevitabilidade, e a dez minutos do fim apareceu, depois de um penálti evidente por corte do Boulahrouz com a mão de um remate do Salvio que daria golo. O Cardozo com muita calma esperou que o Patrício caísse para um lado e atirou a bola para o outro, e toda a gente percebeu que, apesar do tempo que ainda faltava jogar, o vencedor estava encontrado, e que se o resultado mudasse só poderia ser com mais golos do Benfica. E como se não bastasse o golo sofrido e a expulsão, o Sporting ainda levou logo de seguida com a entrada inspirada do Gaitán, que até final infernizou a vida do jovem central inglês adaptado a lateral direito, e de todos os que lhe sairam ao caminho. Um livre por mais uma falta cometida por ele proporcionou ao Salvio a oportunidade de cruzar para o cabeceamento vitorioso do Cardozo, a cinco minutos do final. Game over.
Homem do jogo: Cardozo. O paraguaio tem o bom hábito de marcar no derby, fazendo do Sporting uma das suas vítimas predilectas. Hoje marcou dois e bem podia ter saído do batatal de Alvalade com um hat trick, ficando ainda directamente ligado ao outro golo do Benfica. André Gomes mais uma vez a mostrar que para ele tanto faz se o adversário se chama Barcelona, Freamunde ou Sporting (hoje em dia é verdade que a diferença entre os dois últimos é mínima): joga sempre no mesmo registo, de uma forma sóbria e segura. Matic sempre importante, Lima excelente (merecia um golo) e o Salvio teve uma segunda parte muito melhor do que a primeira, onde terá sido um dos mais fracos. O Jardel também melhorou muito da primeira para a segunda parte, tendo acertado com a marcação ao Wolfswinkel e jogando quase sempre em antecipação.
O Benfica foi quase masoquista neste jogo, obrigando-se a sofrer para depois mostrar a sua superioridade. Ou, por outro prisma, foi sádico: deixou que o Sporting, durante alguns minutos, pensasse que seria possível vencer um jogo contra uma equipa que lhe é manifestamente superior, para depois destroçar-lhes essa ilusão. O mais importante é que a esperada vitória foi conquistada. Mesmo sem Luisão, Aimar, Pérez ou Carlos Martins. E se outros faltarem, neste momento tenho confiança que nem isso fará abanar esta equipa.
P.S.- Fiquei surpreendido pela qualidade da arbitragem do Marco Ferreira neste jogo. Muito melhor do que aquilo a que internacionais como Proenças e quejandos me têm habituado.
P.P.S.- O Benfica utilizou mais portugueses neste jogo do que o Sporting.
1 Comments:
A crónica esta muito bem conseguida.
Plenamente de acordo quando ao facto que na primeira parte e muito especialmente na primeira meia hora nos ter faltado mais um elemento no meio campo e que conduzisse a nossas jogadas de ataque, este tem sido um dos meus grandes motivos de discórdia com este treinador a insistência até a exaustão em dois avançados, existem jogos em que jogar com dois avançados é o mesmo que jogar com nenhum já que a bola não chega lá, alias como o treinador reconheceu no final, por vezes temos que dar um passo atrás para dar dois á frente e jogar com um médio ofensivo e um avançado permite-nos ter um avançado em vez de nenhum. Mérito no entanto para o treinador que acabou por rectificar um pouco na segunda parte ao fazer baixar um dos avançados, o que acabou por ser um dos factores decisivo, não é a mesma coisa que um médio ofensivo mas é melhor que nada.
Eu percebi a demora e as duvidas do treinador em fazer as substituições estávamos a dominar o jogo estávamos a jogar bem e os jogadores estavam bem, para mais nos últimos jogos os que entraram não o fizeram bem o que aumenta o receio de mexer e estragar o que esta bem, mas com eles de rastros fisicamente a entrada de dois elementos frescos e agitadores mais cedo no jogo tínhamos rebentado com eles de vez e em definitivo mais cedo do que aconteceu na realidade.
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