Não confie na pessoa que...
A vida é uma grande e eficiente professora, que nos ensina o que não encontramos nos livros. Cheia de paciência, ela me dá aulas até hoje. Obrigado, professora Vida, muito obrigado! Graças à senhora, eu deixei de errar dezenas de vezes, embora as suas lições se mostrem freqüentemente amargas e joguem, em nossa alma, o peso da tristeza e da desilusão. Quanta coisa eu aprendi com esta professora severa... Os seus ensinamentos ficaram logo registrados na minha memória, não precisei decorá-los. Eis alguns deles: Não confie na pessoa que ao apertar a sua mão, você tem a impressão de estar segurando algo bem mole, escorregadio e pegajoso como um sapo. Isto revela, se a pessoa não é doente, se não sofre de anêmia, uma alma frouxa, inconfiável. Não confie na pessoa cujo olhar é vago ou inquieto, agitado. Criaturas assim são volúveis ou traiçoeiras. Podemos aceitar esses dois tipos de olhares com uma condição: se quem os exibe é míope e não usa óculos, ou se é vítima de um esgotamento nervoso. Não confie na pessoa que volta e meia costuma lhe dizer: “falaram mal de você e eu o defendi”. Quase sempre tal pessoa é invejosa, covarde e perversa. No fundo ela gostaria de ter o que você tem, e como não consegue, passa a recorrer aos baixos expedientes, às torpes sinuosidades das almas feitas de excremento. Não confie na pessoa que só se aproxima de você por interesse, nos seus momentos felizes, de sucesso, e logo se afasta quando você enfrenta a má sorte. Estas pessoas – é o “óbvio ululante” do Nelson Rodrigues – são tão falsas como as esmeraldas falsas de Fernão Dias Pais Leme e só merecem o nosso nojo, o nosso absoluto desprezo. Lembre-se desta frase do filósofo francês Paul Janet (1823-1899), autor dos Principes de métaphysique et de psychologie: “Para que uma intenção seja moralmente boa, é mister que não seja interesseira”. (“Pour qu’une intention soit bonne moralement, il faut qu’elle ne soit pas intéressée”) Não confie na pessoa que podendo cumprir a sua palavra, não a cumpre, apesar de ter garantido que a cumpriria. Quem procede desta maneira fornece uma prova indiscutível de completa falta de caráter, de real canalhice. Evite-as, pois essas pessoas emporcalham ainda mais o nosso mundo imundo, no qual, como disse o poeta Salomão Jorge, meu pai, “Aquele que trouxer o amor e a luz, Se for Sócrates, beberá cicuta, Se for Cristo, morrerá na cruz”.
Não confie na pessoa em cujos olhos você vê o brilho viperino de inveja. Esta irradia os fluidos do capeta e pode arruinar a sua vida. Se um invejoso afirma ser seu amigo sincero, não acredite, fuja dele do modo mais rápido possível. A inveja é a máscara de Satanás. O invejoso se alegra com as suas derrotas, meu caro leitor, e se sente infeliz com as suas vitórias. Possui um destrutivo olho gordo, capaz de nos ferir, de nos levar à desgraça, como certas pessoas, através de um simples olhar, causam a morte das plantas. Já vi isto e concordo com Raimundo Lulio (1235-1315), escritor místico catalão, que declarou no Llibre de mil proverbis: “A inveja mata continuamente o invejoso”. (“Envejós, sa enveja lo anciu tot dià”)
Não confie nos que maltratam crianças ou animais, como cães e gatos. Torturar uma criança, suprema abjeção, é querer castigar a inocência, a pureza, o mundo antes do pecado. Victor Hugo salientou que “quando a criança nos olha, Deus nos sonda”. E quem bate em cães e gatos, em qualquer animal, ostenta a alma podre dos assassinos sádicos, é capaz de cometer sorrindo, deliciando-se, as maiores infâmias, as mais monstruosas crueldades.
criado por Fernando Jorge
A vida é uma grande e eficiente professora, que nos ensina o que não encontramos nos livros. Cheia de paciência, ela me dá aulas até hoje. Obrigado, professora Vida, muito obrigado! Graças à senhora, eu deixei de errar dezenas de vezes, embora as suas lições se mostrem freqüentemente amargas e joguem, em nossa alma, o peso da tristeza e da desilusão. Quanta coisa eu aprendi com esta professora severa... Os seus ensinamentos ficaram logo registrados na minha memória, não precisei decorá-los. Eis alguns deles: Não confie na pessoa que ao apertar a sua mão, você tem a impressão de estar segurando algo bem mole, escorregadio e pegajoso como um sapo. Isto revela, se a pessoa não é doente, se não sofre de anêmia, uma alma frouxa, inconfiável. Não confie na pessoa cujo olhar é vago ou inquieto, agitado. Criaturas assim são volúveis ou traiçoeiras. Podemos aceitar esses dois tipos de olhares com uma condição: se quem os exibe é míope e não usa óculos, ou se é vítima de um esgotamento nervoso. Não confie na pessoa que volta e meia costuma lhe dizer: “falaram mal de você e eu o defendi”. Quase sempre tal pessoa é invejosa, covarde e perversa. No fundo ela gostaria de ter o que você tem, e como não consegue, passa a recorrer aos baixos expedientes, às torpes sinuosidades das almas feitas de excremento. Não confie na pessoa que só se aproxima de você por interesse, nos seus momentos felizes, de sucesso, e logo se afasta quando você enfrenta a má sorte. Estas pessoas – é o “óbvio ululante” do Nelson Rodrigues – são tão falsas como as esmeraldas falsas de Fernão Dias Pais Leme e só merecem o nosso nojo, o nosso absoluto desprezo. Lembre-se desta frase do filósofo francês Paul Janet (1823-1899), autor dos Principes de métaphysique et de psychologie: “Para que uma intenção seja moralmente boa, é mister que não seja interesseira”. (“Pour qu’une intention soit bonne moralement, il faut qu’elle ne soit pas intéressée”) Não confie na pessoa que podendo cumprir a sua palavra, não a cumpre, apesar de ter garantido que a cumpriria. Quem procede desta maneira fornece uma prova indiscutível de completa falta de caráter, de real canalhice. Evite-as, pois essas pessoas emporcalham ainda mais o nosso mundo imundo, no qual, como disse o poeta Salomão Jorge, meu pai, “Aquele que trouxer o amor e a luz, Se for Sócrates, beberá cicuta, Se for Cristo, morrerá na cruz”.
Não confie na pessoa em cujos olhos você vê o brilho viperino de inveja. Esta irradia os fluidos do capeta e pode arruinar a sua vida. Se um invejoso afirma ser seu amigo sincero, não acredite, fuja dele do modo mais rápido possível. A inveja é a máscara de Satanás. O invejoso se alegra com as suas derrotas, meu caro leitor, e se sente infeliz com as suas vitórias. Possui um destrutivo olho gordo, capaz de nos ferir, de nos levar à desgraça, como certas pessoas, através de um simples olhar, causam a morte das plantas. Já vi isto e concordo com Raimundo Lulio (1235-1315), escritor místico catalão, que declarou no Llibre de mil proverbis: “A inveja mata continuamente o invejoso”. (“Envejós, sa enveja lo anciu tot dià”)
Não confie nos que maltratam crianças ou animais, como cães e gatos. Torturar uma criança, suprema abjeção, é querer castigar a inocência, a pureza, o mundo antes do pecado. Victor Hugo salientou que “quando a criança nos olha, Deus nos sonda”. E quem bate em cães e gatos, em qualquer animal, ostenta a alma podre dos assassinos sádicos, é capaz de cometer sorrindo, deliciando-se, as maiores infâmias, as mais monstruosas crueldades.
criado por Fernando Jorge