Saltar para o conteúdo

Palácios de Pena

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Palácios de Pena
Título internacional Palaces of Pity
Portugal Portugal
2011 •  cor •  58 min 
Género drama
fantasia
Direção Gabriel Abrantes
Daniel Schmidt
Produção A Mutual Respect
ZDB
Produção executiva Gabriel Abrantes
Natxo Checa
Marta Furtado
Roteiro Gabriel Abrantes
Daniel Schmidt
Elenco Alcina Abrantes
Andreia Martina
Catarina Gaspar
Cinematografia Natxo Checa
Eberhard Schedl
Direção de arte Natxo Checa
Edição Gabriel Abrantes
Daniel Schmidt
Lançamento
  • 2 de setembro de 2011 (2011-09-02) (Itália)
  • 1 de maio de 2012 (2012-05-01) (Portugal)
Idioma português

Palácios de Pena é uma média-metragem de fantasia portuguesa de 2011, realizada, escrita e editada por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.[1][2] O filme retrata o modo como duas pré-adolescentes (interpretadas por Andreia Martina e Catarina Gaspar) enfrentam uma herança cultural de opressão durante a visita à sua avó doente (papel interpretado por Alcina Abrantes).[3]

A obra foi selecionada para a secção "Horizontes" da 68ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde estreou a 2 de setembro de 2011.[4] A sua primeira exibição pública em Portugal decorreu no ano seguinte, a 1 de maio, no âmbito do 9° Festival IndieLisboa.[5] Ao longo da sua distribuição, Palácios de Pena foi multipremiado, nomeadamente com os prémios de melhor filme narrativo no Ann Arbour Film Festival e no Chicago Underground Film Festival.[6]

Duas primas de classe média alta vivem a sua pré-adolescência sem rumo, indiferentes a incêndios florestais, globalização, património mundial da UNESCO e tudo o que as rodeia. Mantêm uma relação fria e estranhamente distante entre si. Reencontram-se finalmente quando visitam a sua avó assim que esta fica doente. Esta visita leva-as a perceber que são uma geração alheia ao passado. As famílias querem que as jovens compitam pela avó, para que esta decida qual delas herdará a sua fortuna, a centenária propriedade e palacete lisboetas.[7]

Nos momentos que passam no palacete, as meninas fantasiam com um passado medieval, a opressão do fascismo e a história colonial portuguesa. A avó doente também contribui ao descrever um sonho em que ela é juíza da Inquisição. Entre estas fantasias, surge a condenação de dois mouros homossexuais à queima na fogueira. Afinal, a ignorância das jovens estava aliada a uma vontade familiar de oprimir violentamente.

Ao acordar, as meninas descobrem que a avó morreu. Uma delas consegue obter a herança total do testamento às custas da outra. As primas tentam enfrentar toda a sua herança expressando sentimentos de medo, desejo e culpa.[8]

  • Alcina Abrantes;
  • Andreia Martina;
  • Catarina Gaspar;
  • Ana Rita Franco;
  • Bernarda dos Bois;
  • Judite Maria;
  • Mariana Roberto;
  • Teresa Castro;
  • Núria Coelho;
  • Marta Lopes;
  • Marta Monteiro;
  • Marta Vaz do Carmo;
  • Marta Grilo;
  • Thiago Dantas;
  • Luíz Silva;
  • Gabriel Abrantes;
  • Daniel Schmidt;
  • Viktor Honchar;
  • Yuri Ceban;
  • Feodor Ulinici.[9]

Equipa técnica

[editar | editar código-fonte]
  • Realização e argumento: Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.[10]
  • Cinematografia: Natxo Checa e Eberhard Schedl.
  • Edição: Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.
  • Direção de atores: Flávia Gusmão.
  • Produtores: Gabriel Abrantes, Zé dos Bois, Natxo Checa e Marta Furtado.
  • Direção de arte: Natxo Checa.
  • Coordenação de produção: Joana Botelho.
  • Correção de cor: Paulo Inês e Pedro Vilela.
  • Mistura: Branko Neskov e Hugo Leitão.
  • Edição de som: Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt.

Palácios de Pena é uma média-metragem iniciada no contexto da exibição "O Dia pela Noite", após um convite do Lux Frágil. O projeto viria a ser produzido pela A Mutual Respect Productions, com a participação financeira da EDP.[11] O então recém-criado Fundo de Apoio à Produção IndieLisboa/FNAC atribuiu diretamente um apoio de oito mil euros a Gabriel Abrantes, por este ter vencido o Prémio Talento Fnac em 2009 e o Grande Prémio da Competição Nacional do IndieLisboa em 2010.[12] Segundo o diretor do Indielisboa, esta opção deveu-se também ao facto de que com a entrada na secção competitiva Orizontti do Festival de Veneza, Palácios de Pena teria de ser finalizado com urgência.[13]

O filme foi rodado em Portugal, em película Kodak S-16 mm, transferida posteriormente para Video HD.[14]. Os atores não-profissionais não puderam ler o argumento antes das gravações. Tentando inverter o Método de Interpretação para o Ator, os autores ditavam o texto de cada cena para que os atores repetissem enquanto as câmaras rodavam. Não tendo sido gravado som ao vivo, todos os diálogos foram dobrados à posteriori.[15] Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt pediram ao elenco para sussurrar as suas falas diretamente para um microfone, num tom monótono, para que esta entrega artificial contrastasse com a linguagem melodramática do argumento original, que hiperboliza os estados emocionais dos personagens.[16]

Estilo e temas

[editar | editar código-fonte]

Gabriel Abrantes pretendia fazer um filme em Portugal que explorasse a relação do cinema com a nação, particularmente como máquina propagandística de mitos nacionais (tomando como exemplo os filmes americanos O Nascimento de uma Nação de D. W. Griffith e 00:30 Hora Negra de Kathryn Bigelow). Deste modo, Palácios de Pena procura explorar o fardo da memória de Portugal representando o seu impacto através de uma amálgama radicalmente estilizada de histórias de cavaleiros, inquisições religiosas, mouros, mensagens de texto e pinturas.[17] Deste modo, o filme mistura filme de época e género melodramático, desfile medieval com alegoria política, imagens da infância com o imaginário histórico e social. Por isso as protagonistas são adolescentes, fase da vida em que se navega entre o amoral e o moral, a criança e o adulto, existindo tanta responsabilização própria como um estado de suspensão mágica.[18] Nas palavras dos autores "queríamos ver como a história do governo de Portugal, que sancionou a xenofobia e a intolerância sexual desde a inquisição ao fascismo, apareceria no rico círculo adolescente de Lisboa".[16]

Continuidade artística

[editar | editar código-fonte]

Ainda que Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt se tenham conhecido em Nova Iorque e não tenham crescido em Portugal, os três filmes que fizeram em colaboração até 2018 (A History of Mutual Respect, Palácios de Pena e Diamantino) estão relacionados com a cultura portuguesa.[19][20] Abrantes considera que todas as obras abordam como boas intenções podem tornar-se a base de hipocrisia ou ignorância "e em como as noções de multiculturalismo e respeito mútuo muitas vezes partem do discurso de uma cultura dominante que intenta justificar, subliminarmente, o seu predomínio através da falsa promoção de valores que supostamente se baseiam numa procura de igualdade".[21]

Ainda que Diamantino se distinga das obras anteriores no seu tom e uso de comédia[22], em termos de narrativa, a dupla de cineastas evita nestes filmes mecanismos literários meta-narrativos, de fragmentação ou não-lineares, mostrando-se interessada em trabalhar numa estrutura mais clássica tradicional, como forma de reação à abertura e flexibilidade que surgiram do pós-modernismo.[16][23]

Distribuição

[editar | editar código-fonte]

Palácios de Pena teve a sua estreia mundial na 68º edição do Festival de Cinema de Veneza, onde foi exibido a 2 e 3 de setembro de 2011.[24] Gabriel Abrantes mostrou-se muito satisfeito pela seleção do filme para integrar a secção Horizontes: "Representa um grande salto no meu trabalho porque é um festival muito importante".[25] Em Portugal, a sua primeira exibição pública foi a 1 de maio de 2012, na secção Observatório Curtas do 9° Festival IndieLisboa.[26]

O filme percorreu um circuito de Festivais internacionais de cinema, dos quais se destacam os seguintes:

Exposições e mostras

[editar | editar código-fonte]

Palácios de Pena integrou também vários espaços e eventos de arte, de entre os quais:

O filme foi geralmente bem recebido pela crítica. Joe Bowman (Fin de cinéma) listou Palácios de Pena entre os seus 100 filmes favoritos dos anos 2010.[32] O curador Adam Pugh, escrevendo para Experimenta blog, elogia a cinematografia de Natcho Checa e Eberhard Schedl e admira a dificuldade em categorizar este filme pelo modo como promove "uma curiosa disjunção tanto na narrativa como na forma".[33]

Em Filmuforia, o crítico Michael Pattison apresenta uma opinião mais moderada. Também elogia a cinematografia pelo modo como "desmente o orçamento aparentemente escasso do filme, enquanto Abrantes e Schmidt demonstram muito tato em disfarçar a sua falta de recursos, principalmente por meio de cortes oportunos e cenários remotos bem escolhidos". Ainda assim, considera que os autores não assumiram um compromisso sincero de questionar o status quo com a sua abordagem à temática do filme.[34] Na sua crítica Conrado Heoli (Papo de cinema) atribui apenas uma estrela a Palácios de Pena, apelidando o filme de "obra irregular e oca, por vezes risível", uma vez que "toda sua promissora introdução é logo suprimida pela lacuna de objetividade de Abrantes e Schmidt, que parecem perdidos no abstracionismo de suas ideias – ou da falta delas".[35]

Apresentam-se de seguida as nomeações e premiações de Palácios de Pena:

Ano Premiação Categoria Trabalho Resultado Ref.
2011 Festival Internacional de Cinema de Veneza Queer Lion Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Indicado [36]
Prémio Horizontes para Melhor Média-metragem Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Indicado
2012 IndieLisboa Melhor Curta-metragem Portuguesa Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Indicado
Chicago Underground Film Festival 2012 Prémio do Júri para Melhor Filme Narrativo Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Venceu [37]
Brive Mid-Length Film Meeting Grand Prix Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Indicado
Ann Arbor Film Festival Prémio Lawrence Kasdan Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Venceu [6]
25 FPS International Experimental Film and Video Festival Prémio da Crítica para Melhor Filme Palácios de Pena, Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt Venceu [37]

Referências

  1. «Portugal Film - Portuguese Film Agency». www.portugalfilm.org. Consultado em 11 de março de 2023 
  2. «Gabriel Abrantes & Daniel Schmidt | La Semaine de la Critique of Festival de Cannes». Semaine de la Critique du Festival de Cannes (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  3. «Filme de Gabriel Abrantes exibido hoje em Veneza». TSF Rádio Notícias. 2 de setembro de 2011. Consultado em 11 de março de 2023 
  4. «Cinema: ″Palácios de Pena″, de Gabriel Abrantes, aborda a herança histórica da opressão». www.jn.pt. Consultado em 11 de março de 2023 
  5. SAPO. «Filmes de Teresa Villaverde e de Gabriel Abrantes selecionados para festival de Veneza». SAPO Mag. Consultado em 11 de março de 2023 
  6. a b «Gabriel Abrantes». Centro de Arte Moderna. Consultado em 11 de março de 2023 
  7. a b «Palácios de Pena | IFFR». iffr.com. Consultado em 11 de março de 2023 
  8. «PALÁCIOS DE PENA | Viennale». www.viennale.at (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  9. Bowman, Joe (12 de dezembro de 2019). «Palaces of Pity (Gabriel Abrantes & Daniel Schmidt)». Fin de cinéma (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  10. «Gabriel Abrantes». agencia.curtas.pt. Consultado em 11 de março de 2023 
  11. «Artists Cinema 2016: "An alternative way of looking"». a-n The Artists Information Company (em inglês). Consultado em 8 de novembro de 2021 
  12. Portugal, Rádio e Televisão de. «Fundo IndieLisboa/FNAC atribuído a filme de Gabriel Abrantes». Fundo IndieLisboa/FNAC atribuído a filme de Gabriel Abrantes. Consultado em 12 de março de 2023 
  13. Carvalho, Cláudia Lima. «IndieLisboa e FNAC criam fundo de apoio ao cinema». PÚBLICO. Consultado em 11 de março de 2023 
  14. «Gabriel Abrantes | Palácios de Pena». www.gabrielabrantes.com. Consultado em 11 de março de 2023 
  15. «Cinema Project presents A Cinema of Mutual Respect: Palaces of Pity». hollywoodtheatre.org (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  16. a b c «Vdrome». Vdrome (em inglês). Consultado em 10 de março de 2023 
  17. a b «Palaces of Pity | San Francisco Film Festival». history.sffs.org. Consultado em 11 de março de 2023 
  18. a b «Gabriel Abrantes, Palácios de Pena, 2011». Galeria Francisco Fino. Consultado em 11 de março de 2023 
  19. s.r.o, RECO. «Conversámos com Gabriel Abrantes, realizador de Diamantino». gqportugal.pt. Consultado em 11 de março de 2023 
  20. «Visão | Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt: O Diamante cor-de-rosa». Visão. 29 de março de 2019. Consultado em 11 de março de 2023 
  21. «Gabriel Abrantes: Melancolia Programada». Contemporânea. Consultado em 11 de março de 2023 
  22. Anderson, Melissa. «Melissa Anderson on Gabriel Abrantes and Daniel Schmidt's Diamantino». www.artforum.com (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  23. burocratik.com. «Diamantino». TAGV (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  24. «cinebox-palacios-de-pena-gabriel-abrantes-festival-de-veneza | Notícias | Jogos | Plantel». Maisfutebol. Consultado em 11 de março de 2023 
  25. Portugal, Rádio e Televisão de. «"Palácios de Pena", de Gabriel Abrantes, aborda a herança histórica da opressão». "Palácios de Pena", de Gabriel Abrantes, aborda a herança histórica da opressão. Consultado em 11 de março de 2023 
  26. «Palácios de Pena — IndieLisboa». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 12 de março de 2023 
  27. «Palácios de Pena (2011) Premiações e Festivais». mubi.com. Consultado em 10 de março de 2023 
  28. Productions, Mutual Respect (21 de outubro de 2011). «A MUTUAL RESPECT PRODUCTION: Liberdade and Palácios de Pena at Viennale 2011». A MUTUAL RESPECT PRODUCTION. Consultado em 11 de março de 2023 
  29. «Gabriel Abrantes, Palácios de Pena, 2011». Making Art Happen. 2 de setembro de 2013. Consultado em 11 de março de 2023 
  30. «Obra completa do cineasta Gabriel Abrantes em mostra no Lincoln Center em Nova Iorque». Porto Canal. Consultado em 11 de março de 2023 
  31. «palaces of pity - the island is enchanted with you — now-instant». now-instant.la (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  32. Bowman, Joe (5 de janeiro de 2020). «My 200 Favorite Films of the 2010s». Fin de cinéma (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  33. Pugh, Adam. «Adam Pugh» (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  34. Taylor, Meredith (11 de março de 2014). «Palaces of Pity (2011) Palacios de Pena AV Festival Postcolonial Cinema Weekend 7-9 March 2014». Filmuforia (em inglês). Consultado em 11 de março de 2023 
  35. Heoli, Conrado. «Palácios de pena». Papo de cinema 
  36. Productions, Mutual Respect (30 de agosto de 2011). «A MUTUAL RESPECT PRODUCTION: PALACIOS DE PENA - SEPT. 2 / SEPT. 3 - VENICE FILM FESTIVAL». A MUTUAL RESPECT PRODUCTION. Consultado em 11 de março de 2023 
  37. a b «Festival Scope». pro.festivalscope.com. Consultado em 11 de março de 2023 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]