Martim Moniz de Ribadouro
Martim Moniz de Ribadouro | |
---|---|
Rico-homem/Senhor/Conde | |
Estátua de Martim Moniz de Ribadouro em Puente de San Pablo, Burgos, Espanha | |
Conde de Coimbra | |
Reinado | 1091-1093 |
Predecessor(a) | Sisnando Davides |
Sucessor(a) | Raimundo de Borgonha |
Tenente condal | |
Reinado |
|
Nascimento | Antes de 1080 |
Morte | Depois de 1111 |
Nome completo | Martim Moniz de Riba Douro |
Cônjuge | Elvira Sisnandes de Coimbra |
Dinastia | Ribadouro |
Pai | Monio Fromariques de Ribadouro |
Mãe | Elvira Gondesendes |
Religião | Catolicismo romano |
Martim Moniz de Ribadouro (antes de 1080 - depois de 1111) foi um nobre medieval do Condado Portucalense, que por casamento se tornou genro do célebre alvazil Sisnando Davides, que o terá nomeado igualmente alvazil, e, após a sua morte, como o novo Conde de Coimbra.
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Martim era filho de Monio Fromariques, muito provavelmente filho de Fromarico Moniz, por sua vez irmão do então senhor de Ribadouro e chefe da família, Egas Moniz I de Ribadouro.[1] A sua mãe, Elvira Gondesendes, é de origem incerta.
Por casamento, Martim ligou-se simultaneamente a duas entidades políticas de grande importância. Desposou Elvira Sisnandes de Coimbra, única filha do célebre Sisnando Davides, governador moçárabe de Coimbra, e de Loba Nunes de Portucale, única filha do conde Nuno Mendes de Portucale, falecido em 1071.[1] O casamento ter-se-á dado por volta de 1080, dado que, por esse ano, Martim começa a ser designado, como o sogro, de alvazil, assim, como Mido e Zacarias Davides, e Mendo Baldemires,[2] possivelmente parentes do governador, tendo em conta pelo menos o patronímico semelhante dos dois primeiros.
Desta forma, a morte do alvazil Sesnando Davides, sogro de Martim, a 25 de dezembro de 1091, não marcou o fim imediato da administração moçárabe do termo de Coimbra, que vigorara desde 1064, data da reconquista da cidade por Fernando Magno (que teria sido provavelmente motivada pelo próprio Sesnando[3]).[2] Como moçárabe, Sesnando sempre soubera manter um equilíbrio entre as duas forças da reconquistaː embora sendo vassalo de um rei cristão, a sua origem moçárabe permitia-lhe uma mais fácil manutenção da paz a sul do rio Mondego, fronteira última do domínio cristão naquela região.
O governo de Coimbra
[editar | editar código-fonte]Martim terá sido escolhido pelo seu sogro, Sesnando Davides, como seu sucessor no governo do condado de Coimbra. Desta forma, é provável que a sucessão entre sogro e genro acabasse por ser relativamente pacífica na cidade. Ao contrário do sogro, sabe-se que Martim utilizou efetivamente o título de comes (conde), com o qual assina alguma da documentação,[2] e afirmandoː Eu, M. Moniz, governador de Coimbra e genro do cônsul Sisnando, que entrei em seu lugar, confirmo e prometo guardar verdadeiramente quanto meu senhor o imperador ordenou.[4]
Pacífica não foi, no entanto, a ação de Afonso VI de Leão e Castela, que, provavelmente desejoso de afastar a influência moçárabe sobre Coimbra, não se fez esperarː ainda antes da morte do alvazil, na Páscoa de 1091, elegeu um novo bispo para a cidadeː o bispo Crescónio, que fora Abade de Tui, e reconhecido por todos como a escolha do monarca para o governo espiritual de Coimbra. Contudo, a consagração e instalação do novo bispo só se pôde efetuar precisamente após a morte do alvazil,[5] isto é, em pleno governo de Martim Moniz.
Conquistas de Lisboa, Santarém e Sintra
[editar | editar código-fonte]Por essa altura, Afonso VI negociava também com Al-Mutavaquil a entrega das cidades então em posse árabe, de Lisboa, Santarém e Sintra, e planeava fortalecer os postos administrativos e militares destas recém adquiridas cidades de fronteira.[5]
A 22 de abril de 1093, Afonso confirmava, em Coimbra, o foral que havia dado anos antes, em 1085.[5] Tal era a urgência do assunto fronteiriço que o monarca celebrara a Páscoa desse ano em plena viagem, provavelmente em Tui. Martim estava entre os confirmantes deste novo foral, assim como o bispo Crescónio e do conde Raimundo de Borgonha. Acompanhando Afonso,[4] Martim dirigiu-se então para Sul, e, entre 30 de abril e 5 de maio desse mesmo ano, viu cair as três cidades de fronteira que haviam sido prometidas ao rei de Leão, que as confiou ao então seu genro e homem da sua provável inteira confiança, o conde Raimundo.[5]
Deposição de Martim Moniz e consequências
[editar | editar código-fonte]Nesta grande "presente" para o seu genro, Afonso aproveitou também para afastar Martim do governo de Coimbra, ainda nesse ano de 1093, para o conferir ao mesmo genro.[5]
Com este ato, o poder moçárabe em Coimbra foi posto em causa, sobretudo por uma crescente predominância franca, elite com a qual os moçárabes, não deixaram de disputar o controlo da cidade, mesmo estando em clara desvantagem. A falta de um líder moçárabe do nível do malogrado Sesnando que conseguisse equilibrar a balança política terá dificultado a tolerância moçárabe que até então se vivia em Coimbra.[2]
Últimos anosː entre Aragão e Valência
[editar | editar código-fonte]Provavelmente como compensação, Martim terá recebido a tenência de Arouca, mantendo-a em 1094, e provavelmente de Lamego,[1] uma posição menor[5] da qual terá abdicado para se refugiar em Valência, na corte do célebre El Cid, onde residiu até à morte deste, em 1099. De seguida, viajou para a corte de Pedro I de Aragão, onde se mantinha ainda em 1111, em pleno reinado do irmão daquele, Afonso I de Aragão. Martim parece ter apoiado Afonso I contra a então rainha Urraca I de Leão e Castela.[6][7][8]
Martim Moniz terá falecido pouco após 1111, dado que não confirma documentação posterior a essa data.
Referências
- ↑ a b c Mattoso 1981.
- ↑ a b c d Isaac 2014, p. 76-77.
- ↑ Ubieto Arteta 1980, p. 225.
- ↑ a b GEPB 1935-57, vol.17, p. 634.
- ↑ a b c d e f Reilly 1988, p. 237-240.
- ↑ Mattoso 1998, p. 34 e 60.
- ↑ Mattoso 1981, p. 203 e 263.
- ↑ Ubieto Arteta 1980, p. 255.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - 50 vols. , Vários, Editorial Enciclopédia, Lisboa.
- Isaac, Francisco Botelho Barata (2014). «A memoria e legado de Sesnando Davides – Problemáticas e dúvidas acerca do Cônsul de Coimbra nos documentos 16, 28, 101 e 478 do Livro Preto da Sé de Coimbra». Medievalismo. Revista de la Sociedad Española de Estudios Medievales (24): 57-77. ISSN 1131-8155
- Mattoso, José (1981). «As famílias condais portucalenses dos séculos X e XI». A nobreza medieval portuguesa, a família e o poder. Lisboa: Editorial Estampa, Lda. (Imprensa Universitaria). OCLC 8242615
- Mattoso, José (1998). Ricos-homens, Infanções e Cavaleiros. A Nobreza medieval portuguesa nos séculos XI a XII 3.ª ed. Lisboa: Guimarães Editores. Colecção História e Ensaios. OCLC 717820061
- Reilly, Bernard F (1988). The Kingdom of León-Castilla under King Alfonso VI, 1065-1109 (em inglês). Princeton, N.J.: Princeton University Press. OCLC 657399185
- Ubieto Arteta, Antonio (1980). «Inmigración medieval de lusitanos al Altoaragón» (PDF). Huesca: Instituto de Estudios Altoaragoneses. Argensola: Revista de Ciencias Sociales (90): 249-260. ISSN 0518-4088