Saltar para o conteúdo

Gazi do Iraque

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Gazi I
Gazi do Iraque
Rei do Iraque
Reinado 8 de setembro de 1933
a 4 de abril de 1939
Antecessor(a) Faiçal I
Sucessor(a) Faiçal II
Nascimento 2 de maio de 1912
  Meca, Hejaz, Império Otomano
Morte 4 de abril de 1939
  Bagdá, Reino do Iraque
Sepultado em Mausoléu Real, Adamia
Esposa Aliya bint Ali de Hejaz
Descendência Faiçal II do Iraque
Casa Haxemitas
Pai Faiçal I do Iraque
Mãe Huzaima binte Nácer
Religião Islamismo sunita
Assinatura Assinatura de Gazi I
Brasão Monarquia do Iraque

Gazi I (em árabe: غازي ابن فيصل‎; Meca, 2 de maio de 1912Bagdá, 4 de abril de 1939) foi Rei do Iraque de 1933 até sua morte em 1939. Era o único filho homem do rei Faiçal I, o primeiro rei do Iraque, e foi, brevemente, Príncipe Herdeiro do Reino da Síria em 1920.[1]

Foi muito nacionalista, opunha-se aos interesses britânicos no seu país. O seu reinado caracterizou-se por tensões entre os civis e o exército, o qual detinha o controle do governo. Ele apoiou o General Bakr Sidqi no seu golpe de Estado, que substituiu o governo civil por um governo militar em 1936.

Gazi faleceu em 1939 num acidente do automóvel desportivo que ele conduzia e foi sucedido pelo filho, Faiçal II.

Vida pregressa

[editar | editar código-fonte]

Gazi era filho primogênito de Faiçal ibne Huceine e Huzaima binte Nácer. Ele nasceu quando seu pai liderava uma campanha em Assir contra Muhammad ibn Ali al-Idrisi de' Asir, e foi batizado Ghazi (que significa Guerreiro) devido a esta campanha.

Em sua infância, Gazi foi deixado com seu avô, Huceine bin Ali, o grão-xarife Haxemita de Meca e chefe da casa real de Hashim, e que chamou Gazi de "Awn" em homenagem a seu bisavô Awn bin Muhsin, enquanto seu pai estava ocupado com viagens e em campanhas militares contra os otomanos. Os haxemitas governaram o Hejaz dentro do Império Otomano antes de se rebelarem com ajuda britânica nos estágios finais da Primeira Guerra Mundial.

Gazi frequentou a Harrow School e, ao contrário de seu pai extrovertido, Gazi cresceu um jovem tímido e inexperiente.

Seu pai Faiçal fora coroado rei da Síria, mas foi destronado pelos franceses apenas 4 meses depois após a Batalha de Khan Maysalun; que encerrou a Guerra Franco-Síria de 1920 e iniciou o Mandato Francês da Síria e do Líbano. Em agosto de 1921, o governo britânico decidiu colocar Faiçal como rei do novo Reino do Iraque, sob o Mandato Britânico do Iraque. A família real foi transferida para Bagdá, capital do novo reino.

Reunindo tribos pelo fervor da doutrina religiosa fundamentalista do wahabismo,[2] o líder tribal Abdulaziz ibn al-Saud formou um exército beduíno que se intitulava Ikhwan (significando "irmandade") e iniciou uma campanha pelo domínio da Península Arábica. A irmandade inicialmente derrotou os rashidis da poderosa tribo Shammar e tomaram Najd, no centro da Arábia, e al-Hasa, na província oriental. Em 1924, os exércitos de al-Saud derrotaram Awn bin Muhsin, o avô de Gazi, e tomaram o Hejaz - incluindo as cidades sagradas de Meca e Medina[2] - e então tomaram a província austral de Assir dos iemenitas. Em 1926, Ibn al-Saud dominavam 2/3 da Arábia, sendo impedido de expandir-se ainda mais pelas montanhas do Iêmen ao sul e pelos britânicos a leste e norte por meio das monarquias no Iraque e Transjordânia, além dos protetorados do Kuwait, Estados Truciais, Omã e Áden no Golfo Pérsico.[2]

Após a derrota de seu avô pelas forças sauditas em 1924, Gazi foi forçado a deixar o Hejaz com o resto dos haxemitas, viajando para a Transjordânia, onde o seu tio, Abdullah, era rei. No mesmo ano, Gazi juntou-se ao pai em Bagdá e foi nomeado príncipe herdeiro do Reino do Iraque.

Flying Carpet

[editar | editar código-fonte]
Matéria do jornal canadense Lethbridge Herald, de agosto de 1933, sobre o Massacre de Simele.

Como um estudante de 16 anos, ele conheceu o viajante aventureiro Richard Halliburton e seu piloto Moye Stephens durante seu voo de volta ao mundo (logo após o célebre vôo transatlântico de Charles Lindbergh). Gazi foi levado para seu primeiro vôo por Halliburton e Stephens em um biplano chamado Flying Carpet (Tapete Voador). Eles voaram baixo para verem as ruínas da Antiga Babilônia e outros locais históricos e sobrevoaram a própria escola do príncipe para que seus colegas pudessem vê-lo no biplano.

Um relato da experiência do jovem príncipe-herdeiro Gazi sobrevoando seu país foi registrado na obra The Flying Carpet, de Richard Halliburton.[3]

Massacre de Simele

[editar | editar código-fonte]

O Massacre de Simele foi um massacre sistemático cometido por militares iraquianos, liderados pelo General Bakr Sidqi e apoiados por tribos árabes e curdas, contra os assírios-iraquianos no norte do Iraque em agosto de 1933. Gazi foi a Simele para conceder bandeiras "vitoriosas" aos líderes militares e tribais que, em 11 de agosto de 1933, participaram do massacre dos assírios e do saque de suas casas.[4]

Rei do Iraque

[editar | editar código-fonte]
Selo postal de 1949 homenageando o do rei Gazi I.

Em 8 de setembro de 1933, o rei Faiçal I morreu e Gazi foi coroado como Rei Gazi I. No mesmo dia, Gazi foi nomeado Almirante da Frota da Marinha Real do Iraque, Marechal-de-Campo do Exército Real Iraquiano e Marechal da Força Aérea Real Iraquiana. Um ferrenho nacionalista pan-árabe, que se opunha aos interesses britânicos em seu país,[5] ele reinou em meio a tensões civis-militares e de desagregação nacional. Gazi apoiou o General Bakr Sidqi em seu golpe-de-estado em 1936, no que foi o primeiro golpe militar ocorrido no mundo árabe moderno, e iniciou um ciclo de quarteladas com cinco golpes do exército ocorrendo durante cada ano liderados pelos chefes do exército contra o governo central para pressioná-lo a ceder às exigências do Exército; este ciclo que somente terminaria com a Guerra Anglo-Iraquiana de 1941.

Dizia-se que Gazi nutria simpatia pela Alemanha Nazista e também apresentou uma reivindicação para que o Kuwait fosse anexado ao Iraque. Para este propósito, ele tinha sua própria estação de rádio no palácio real de al-Zuhoor, na qual promovia essa reivindicação e outras visões radicais.[6]

Casamento e filhos

[editar | editar código-fonte]
Rainha Aliya do Iraque.

Em 25 de janeiro de 1934, o rei Gazi casou-se com sua prima, a princesa Aliya bint Ali, filha de seu tio, o rei Ali do Hejaz, em Bagdá, capital do Iraque. Eles tiveram apenas um filho, Faiçal II, nascido em 2 de maio de 1935.[1]

Faisal teve uma festa de circuncisão na quinta-feira, 7 de novembro de 1935, no palácio al-Zuhur e o emir Abedalá I da Transjordânia e seu filho, o príncipe Nayef bin Abdullah, compareceram à festa, bem como a equipe da família haxemita. O rei Gazi então ordenou a distribuição de esmolas para os pobres e necessitados, e mais de 50 crianças em um orfanato islâmico também foram circuncidadas por conta do rei Gazi, que então distribuiu sobremesas entre eles.

O rei Gazi participou de um banquete noturno naquele dia que contou com a presença do emir Abdullah da Transjordânia e seu filho Nayef, e do príncipe 'Abd al-Ilah (ex-regente do Iraque), e convidou o primeiro-ministro, ex-primeiros-ministros, os líderes do Senado e a Câmara dos Deputados e altos estadistas.

Gazi era suspeito de ter um caso extraconjugal com um jovem servo iraquiano. Fontes britânicas escreveram em 1938 que a má reputação do rei Gazi foi manchada "ainda mais" quando um "jovem negro", que trabalhava no palácio, morreu "acidentalmente" disparando seu revólver quando não o removeu antes de sua sesta da tarde. Um especialista policial considerou que a explicação do palácio era consistente com o exame policial.

Os britânicos suspeitaram que havia mais na história, em particular, que um dos "adeptos" da rainha Aliya poderia ter matado o menino, já que o menino era suspeito de ser "o companheiro do rei na devassidão" e a rainha, portanto, teve uma "profunda aversão" ao menino. O rei entrou em pânico após esse incidente, temendo um assassinato iminente.

O rei Gazi morreu em abril de 1939 em um acidente envolvendo um carro esporte que ele dirigia.[6] De acordo com os estudiosos Ma'ruf al-Rusafi e Safa Khulusi, uma visão comum de muitos iraquianos na época era que ele fora morto por ordem de Nuri al-Said, por causa de seus planos de unificação do Iraque com o Kuwait.[7]

Faiçal, o único filho de Gazi, o sucedeu como Rei Faisal II. Como Faisal era menor de idade, o príncipe Abdul Ilah serviu novamente como regente até 1953. Após a morte, ele foi homenageado como um dos cinco habibis.

Precedido por
Faiçal I
Rei do Iraque
1933-1939
Sucedido por
Faiçal II

Referências

  1. a b «The Hashemite Royal Family». kinghussein.gov.jo (em inglês). Governo da Jordânia. Consultado em 25 de novembro de 2021. Cópia arquivada em 6 de abril de 2019 
  2. a b c Pollack, Kenneth M. (2002). Arabs at War: Military Effectiveness, 1948-1991 (em inglês). Lincoln: University of Nebraska Press. p. 425. ISBN 9780803287839. OCLC 49225708 
  3. «Richard Halliburton and Moye Stephens: Traveling Around the World in the 'Flying Carpet'» [Richard Halliburton e Moye Stephens: Viajando ao redor do mundo no "Tapete Voador"]. History Net (em inglês). 12 de junho de 2006. Consultado em 25 de novembro de 2021 
  4. Stafford, Ronald Sempill (2006). The Tragedy of the Assyrians (em inglês) 1st Gorgias Press ed ed. Piscataway: Gorgias Press. p. 188. ISBN 978-1-59333-413-0. OCLC 173087158 
  5. Tripp, Charles (2007). A History of Iraq 3ª ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press. p. 81. ISBN 052170247X. OCLC 137221655 
  6. a b Tripp, Charles (2007). A History of Iraq (em inglês) 3ª ed. Cambridge: Cambridge University Press. p. 98. ISBN 052170247X. OCLC 137221655 
  7. Khulusi, Safa; Al-Rusafi, Ma'ruf (1977). The Muslim World (em inglês). Hartford: Hartford Seminary Foundation 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Gazi do Iraque