Febus Gikovate
Febus Gikovate | |
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Nascimento | 14 de abril de 1908 Polônia |
Morte | 21 de novembro de 1979 (71 anos) São Paulo, SP |
Nacionalidade | polonês |
Filho(a)(s) | Flávio Gikovate |
Ocupação | Médico e Político |
Febus Gikovate (Polônia, 14 de abril de 1908 — São Paulo, 21 de novembro de 1979[1][2])[3] foi um médico polaco[4] e militante trotskista do Partido Operário Leninista (POL), mais tarde fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 1947, tendo também participado das articulações que levariam à fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi pai do psicoterapeuta Flávio Gikovate.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Foi um dos fundadores do Partido Operário Leninista em 1936, juntamente a Mario Pedrosa. Essa organização surge da fusão da Liga Comunista Internacionalista com militantes que rompem com o Partido Comunista do Brasil/Partido Comunista Brasileiro depois de uma dura crítica dos trotskistas ao papel que os estalinistas fizeram no putch que se convencionou chamar de Intentona Comunista[5].
Em 3 de setembro de 1938, em Périgny (França), quando Pedrosa representou vários partidos operários da América Latina no Congresso de Fundação da Quarta Internacional, com o pseudônimo de Lebrun, e a partir daí com sua eleição para o Comitê Executivo Internacional (CEI) da IV Internacional, Febus passa a dirigir o POL.
Torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da Quarta Internacional (fundada por Leon Trotski) juntamente a inúmeros camaradas como Herminio Sacchetta, Plínio Gomes de Mello, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, entre outros.
Mario Pedrosa e a URSS
[editar | editar código-fonte]Após a assinatura do pacto germano-soviético em 1939, a invasão da Polônia por Hitler e depois Stalin, e a anexação dos países bálticos pela URSS, o debate sobre a natureza da União Soviética e sua defesa em caso de guerra dividiu a IV Internacional de cima a baixo, naqueles que defendiam a URSS pela defesa do "Estado Operário" e aqueles que defendiam que a URSS havia se degenerado num Estado Capitalista.
O tema criou séria cisão no Socialist Workers Party (SWP) dos EUA em 1940; como grande parte do Comitê Executivo Internacional (CEI) era vinculada ao SWP, a discussão teve reflexos profundos na IV Internacional. Enquanto a facção majoritária, liderada por James Patrick Cannon, sustentava a posição de Trotski a respeito da natureza da URSS (“estado operário degenerado”) para justificar sua defesa nos momentos de guerra com países capitalistas, a facção minoritária, liderada por Max Shachtman, James Burnham e Martin Abern, argumentava que a URSS não deveria ser apoiada na guerra contra a Finlândia, e mesmo que a URSS se degenerou a tal ponto que não mereceria qualquer tipo de defesa.
Mario Pedrosa participou desta discussão com o texto “A defesa da URSS na guerra atual”[6] (9 de novembro), publicado no boletim do SWP apoiando a fração minoritária. Isso causou uma comoção grande da primeira geração de trotskistas brasileiros que passaram a apoiar Pedrosa.
Quando Pedrosa retorna ao Brasil, reúne seus antigos camaradas para atuarem dentro da Esquerda Democrática, e Febus assume um papel de destaque na ED em São Paulo[7]. Na sua II Convenção Nacional, em abril de 1947, a Esquerda Democrática transforma-se no Partido Socialista Brasileiro (PSB). Grande parte dos militantes iniciadores do trotskismo nos anos 30, no Brasil, e que com ele rompem no início dos anos 40, estarão nas fileiras do PSB: João da Costa Pimenta, Aristides Lobo, Fúlvio Abramo, Plinio Mello, Mário Pedrosa (com seu jornal Vanguarda Socialista) e Febus Gikovate[8].
Partido Socialista Brasileiro
[editar | editar código-fonte]Já no PSB paulista Gikovate passa a escrever para o jornal do partido, o Folha Socialista junto com Antonio Candido e Fúlvio Abramo[9].
Sempre comprometido com os ideais socialistas, lutou internamente quando a direção nacional do Partido Socialista Brasileiro foi se direitizando. Na época do Golpe de 64 Fúlvio Abramo, Febus Gikovate e outros militantes do PSB opositores estávam perto de derrubá-la, já estavam a ponto de assumir a direção, mas quando o golpe se concretizou, o regime militar terminou por fechar o partido[10]. Gikovate foi detido pelo DEOPS-SP em 5 de maio de 1964, sendo acusado de atividades subversivas. Sua libertação ocorreu cinco dias depois, embora fosse vigiado pelos serviços de segurança política por alguns anos.[11]
Partido dos Trabalhadores
[editar | editar código-fonte]A partir de 1977 em São Paulo, participou ativamente na proposta de fundar um partido de cunho socialista para entrar na luta contra a ditadura declinante. Articulou uma reunião com a participação de três exilados recém chegados, Almino Affonso, Fernando Henrique Cardoso e Plínio de Arruda Sampaio, e com três antigos militantes do antigo Partido Socialista Brasileiro de 1947 além do próprio Febus Gikovate, Antonio Costa Correia e Antonio Candido de Mello e Souza. Essa foi uma das primeiras reuniões de organição do Partido dos Trabalhadores no Brasil[2].
Febus Gikovate em Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos
[editar | editar código-fonte]Jacob Gorender comenta, em seu estudo Graciliano Ramos: lembranças tangenciais, o trecho em que Graciliano Ramos menciona com simpatia o seu companheiro de cadeia Febus Gikovate:
“ | Mas este (Febus Gikovate), por ser militante trotskista, sofria hostilidades e discriminações por parte da grande maioria dos encarcerados, sob influência da campanha stalinista contra Trotski. Em 1936, Graciliano não era membro do partido comunista e não devia obediência à orientação de Moscou. Mas redigindo já como membro do partido, dez anos depois, manteve-se fiel aos registros da memória, à sua sensibilidade estética, psicológica e moral, ao compromisso supremo com a verdade. Por isso mesmo, condenou as discriminações impostas a (Febus) Gikovate pelos próprios presos políticos. Não demorou muito tempo para que o conhecimento da falsificação praticada pelo déspota do Kremlin confirmasse que não falhou a intuição do escritor ao rejeitar o critério stalinista no julgamento de um militante revolucionário. Sem apelar à cultura teórica erudita, bastaram a Graciliano a integridade de caráter e a perspicácia de grande artista (Jacob Gorender em Graciliano Ramos: lembranças tangenciais). | ” |
Referências
- ↑ «Necrologia». Folha de S.Paulo, Ano 58, edição 18495, página 18. 22 de novembro de 1979
- ↑ a b Antonio Candido. «Depoimento: Lembranças PT». 24/04/2006. Consultado em 18 de abril de 2019
- ↑ Graciliano Ramos. «Memórias do Cárcere(Volume I)» 🔗. 1953. 20 páginas. Consultado em 28 de março de 2012
- ↑ «Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro - Relação dos doutorandos que colaram grau coletivo no dia 3 de outubro, ás 16 horas, no Teatro João Caetano». Consultado em 28 de março de 2012
- ↑ Luis Siebel. «A fundação do POL, o Estado Novo e o movimento operário in História da IV Internacional no Brasil (Introdução sobre o trotskismo brasileiro)». Diário Liberdade. 13 de abril de 2010. Consultado em 18 de abril de 2019
- ↑ Mario Pedrosa. «A defesa da URSS na guerra atual» (PDF). originalmente extraído da Revista AEL v. 12, n. 22/23, Primeiro e Segundo Semestres de 2005, agora arquivado na Waybck Machine. 285 páginas. Consultado em 18 de abril de 2019
- ↑ «Criação da Esquerda Democrática». originalmente extraído do Site do diretório do PSB do RS , agora arquivado na Waybck Machine. Consultado em 18 de abril de 2019
- ↑ Manolo. «Mário Pedrosa político (3): de Vanguarda Socialista até o golpe militar (1945-1964)». Passa-Palavra. 12 de Novembro de 2009. 33 páginas. Consultado em 27 de março de 2012
- ↑ «Memória: Paul Singer». 20/12/2006. Consultado em 18 de abril de 2019. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2010
- ↑ «Memória e História:Fúlvio Abramo». 15/04/2006. Consultado em 18 de abril de 2019. Cópia arquivada em 26 de dezembro de 2010
- ↑ DEOPS-SP (1964). «Prontuário SN0835-Febus Gikovate» (PDF). Arquivo Público do estado de São Paulo. Consultado em 19 de novembro de 2018