Epínomis
Epínomis (em grego clássico: Ἐπινομίς') é um diálogo platônico que continua a discussão realizada nas Leis de Platão. Algumas fontes da antiguidade atribuíram sua autoria a Filipo de Opunte, e muitos estudiosos modernos o consideram espúrio.
O diálogo se inicia com a questão do que se deve aprender para se ser sábio e o personagem Clínias lança o comentário:[1]
“ | Clínias: Eis-nos, estrangeiro, todos nós três — tu, eu e Megilo aqui, a fim de examinar a questão da sabedoria, e discutir o curso de estudos que, segundo nós, torna uma pessoa que se empenha no pensar tão sábia quanto é possível a um ser humano o ser, visto que, embora tenhamos estabelecido minuciosamente tudo o mais que concerne à legislação, não definimos e tampouco descobrimos o que é de maior monta, a saber, o que se impõe a um ser humano aprender para converter-se num sábio. É preciso que não renunciemos a esta questão nesta oportunidade, já que fazê-lo significaria deixar largamente inatingida a meta de nossos labores, a qual era esclarecer as coisas do início ao fim. | ” |
Título
[editar | editar código-fonte]O título Epínomis designa o trabalho como um apêndice das Leis de Platão (cujo título em grego é Nomoi). Fontes também fazem referência a ele como o décimo terceiro livro das Leis (embora isto pressupõe divisão do diálogo em doze livros, o que "provavelmente não ocorre antes da era helenista),[2] bem como sob os títulos Conselho Noturno (porque lida com o ensino superior de que o Conselho, além do que é descrito em Leis, na astronomia baseada em matemática) e Filósofo (provavelmente porque os membros do Conselho noturno são "a contrapartida dos guardiões d'A República, que dizem ser os verdadeiros filósofos").[3]
Questão da autenticidade
[editar | editar código-fonte]Epinomis faz parte do cânon tradicional das obras de Platão (por exemplo, ele está incluído na nona e última tetralogia de Trásilo). Já na antiguidade, no entanto, Diógenes Laércio e as fontes utilizadas pela Suda atribuíram o trabalho da Filipo de Opunte.[4] Ao contrário dos outros diálogos duvidosos (exceto as Epístolas que são espúrias), o Epinomis, se não obra verdadeira de Platão, é uma falsificação literária.[5] Werner Jaeger entende que Filipo de Opunte teria escrito o texto para completar uma lacuna deixada nas Leis, por lhe faltar a explicação do que seria a "ideia do bem" como conteúdo da educação do governante ou regente.[6]
A autenticidade de Epinomis também foi questionada sobre do ponto de vista de seu conteúdo filosófico. Leonardo Taran, ao encontrar paralelos para muitos dos elementos alegadamente não-platônicos no estilo do diálogo, o declarou espúrio com base (nas palavras de um crítico) "o terreno muito mais firme do que equivocado ou contraditório das doutrinas platônicas, como a colocação da astronomia acima da dialética como o supremo objeto de estudo, a rejeição da teoria das formas, a introdução de um quinto elemento, éter, entre o fogo e o ar e a teoria elaborada de daemons que habitam os três elementos centrais."[7] Werner Jaeger detectou a influência da obra Filosofia de Aristóteles (uma obra perdida que Jaeger acredita ter sido publicada pouco antes em 348/347 a.C. muito parecida a Epinomis, incluindo a ideia do "quinto corpo".[8]
A estilometria de Gerard Ledger suporta a autenticidade de Epinomis como sendo de Platão ao encontrar estatísticas de similaridade entre este diálogo e Leis, Filebo, Sofista e Timeu (assim como a Sétima Carta).[9] Holger Thesleff, que suspeitava que Platão colaborava com os associados mais jovens escrevendo muitas das obras atribuídas a ele, considerou o estilo estreitamente relacionado de Leise Epinomis como um "estilo de secretária."[10]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ "Epínomis, ou O Filósofo" (Tradução de Edson Bini). In: As Leis. São Paulo: Edipro, 1999, p. 515.
- ↑ Leonardo Tarán, "Proclus on the Old Academy," em Collected Papers 1962-1999 (Leiden: Brill, 2001), p. 602.(em inglês)
- ↑ Leonardo Tarán, Academica: Plato, Philip of Opus, and the pseudo-Platonic Epinomis (Philadelphia: American Philosophical Society, 1975), p. 23 n. 88 and p. 132 n. 553. (em inglês)
- ↑ Diógenes Laércio: Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: UnB, 2008, p. 94.
- ↑ S.R. Slings, Plato: Clitophon (Cambridge, 1999), p. 231 n. 408. (em inglês)
- ↑ Werner Jaeger: Paideia. Cidade do México: Fondo de Cultura Economica, 2002, p. 1017.
- ↑ John Dillon, review of L. Tarán, Academica: Plato, Philip of Opus and the Pseudo-Platonic Epinomis (Philadelphia: American Philosophical Society, 1975), in American Journal of Philology 101 (1980), pp. 486-488. (em inglês)
- ↑ W. Jaeger, Aristotle: Fundamentals of the History of His Development, 2nd ed. (translated with the author's corrections and additions by R. Robinson), Oxford Univ. Press, 1948, p. 144 n. 2. (em inglês)
- ↑ Charles M. Young, "Plato and Computer Dating," Oxford Studies in Ancient Philosophy 12 (1994), pp. 227-50, repr. Nicholas D. Smith (ed.), Plato: Critical Assessments 1 (London: Routledge, 1998), p. 35. (em inglês)
- ↑ H. Thesleff, "Platonic Chronology," Phronesis 34 (1989), pp. 1-26, repr. in N.D. Smith (ed.), Plato: Critical Assessments, vol. 1 (London: Routledge, 1998), p. 60.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Press, Gerald A. (2012). The Continuum Companion to Plato (em inglês). [S.l.]: A&C Black. ISBN 0826435351