Domesticação e castração do Reino da Galiza
"Domesticação e castração do Reino da Galiza"[1] ("Doma y castración del Reino de Galicia")[2] ou "Adestramento e castração do Reino da Galiza"[3] é uma expressão referida por Alfonso Daniel Rodríguez Castelao como originária de Jerónimo Zurita, bem como um lugar comum na história da Galiza.[4]
História da expressão
[editar | editar código-fonte]A expressão vem de um discurso parlamentar sobre o Projeto de Constituição:
Baseia-se, por sua vez, no texto contido nos Anales de Aragón do autor Jerónimo Zurita, no capítulo LXIX do Livro XX, intitulado "Que o conde de Lemos entregou ao rei a fortaleza de Ponferrada; e da ida do rei a Galicia para asentar as cousas da xustiza"[6] diz:
"A Galiza ficou reduzida às leis da justiça, onde o rei realizava audiências. Nessa altura começaram a domar aquela terra da Galiza, porque não só os seus senhores e cavaleiros mas também todo o povo daquela nação eram muito arriscados e guerreiros uns contra os outros, e vendo o que aconteceu ao conde - que era um grande senhor naquele reino - as leis da justiça foram enfraquecidas e reduzidas com o rigor da punição."[7]
Embora tenha sido o primeiro uso registado da expressão, foi o comentário feito no livro Sempre en Galiza que marcou gerações de galegos:
“Diz Santillana: “..há pouco tempo nenhum dos dizidores e trovadores destas partes, agora fossem castelhanos, andaluzes ou da Extremadura, todas as suas obras eram compostas em língua galega ou portuguesa”. Foi necessário fazer a “domesticação e castração da Galiza” para que ficássemos calados; mas a nossa língua continuou a florescer em Portugal, e o povo galego não quis esquecê-la."[8]
Tanto a ambiguidade do texto como as interpretações subsequentes dariam origem a uma confusão em que um conjunto de eventos separados foram reunidos num único ato de "domesticação e castração" e nem todos foram influenciados pelos Reis Católicos:
- O declínio da literatura galego-portuguesa trovadoresca por volta do ano de 1350
- A centralização e controlo administrativo do Reino da Galiza, que se dá como finalizada com a viagem a Santiago de Compostela dos Reis Católicos em 1486.
- A adoção do castelhano como língua das classes altas e da administração começou já no século XIII, foi avançando gradativamente em diversos campos e ainda não terminou.
Referências
- ↑ rcaap.pt, Revista. «Galiza, esse lugar da Europa». revistas.rcaap.pt
- ↑ Doval, Manuel (9 de abril de 2014). «Biografía de Cristóbal Colón». Descubriendo a Cristóbal Colón (em espanhol). Consultado em 23 de setembro de 2023
- ↑ «Um CAMINHO pela HISTÓRIA DA GALIZA.». Consultado em 23 de setembro de 2023
- ↑ Diario, Nós (9 de dezembro de 2022). «O galego en tempos de doma e castración». Nós Diario (em galego). Consultado em 23 de setembro de 2023
- ↑ García Fernández, Xosé Lois (1978). Castelao, Otero Pedrayo, Suárez Picallo, Villar Ponte. Discursos parlamentarios (1931-1933). Sada, Galiza: Ediciõs do Castro. p. 16. ISBN 9788485134915 Resaltado próprio. Texto original: «Desde que los llamados Reyes Católicos verificaron el hecho que Zurita llamó la doma y castración del Reino de Galicia, la lengua gallega ha quedado prohibida en la Administración, en los Tribunales, en la enseñanza, y en la Iglesia evitando que nosotros , los gallegos, rezásemos en nuestra propia lengua».
- ↑ Em castelhano é "Que el conde de Lemos entregó al rey la fortaleza de Ponferrada; y de la ida del rey a Galicia para asentar las cosas de la justicia".
- ↑ Resaltado próprio. No original: «Galicia se redujo a las leyes de la justicia, a donde el rey puso audiencias. En aquel tiempo se comenzó a domar aquella tierra de Galicia, porque no sólo los señores y caballeros della pero todas las gentes de aquella nación eran unos contra otros muy arriscados y guerreros, y viendo lo que pasaba por el conde -que era gran señor en aquel reino- se fueron allanando y reduciendo a las leyes de la justicia con rigor del castigo. Volvió el rey de Galicia a Salamanca en fin del mes de noviembre, y desde aquella ciudad se envió su audiencia real formada a Galicia, para que residiese en aquel reino y con la autoridad de los gobernadores y jueces que allí presidiesen y con rigurosa ejecución se administrase la justicia; y el arzobispo de Santiago les entregó su iglesia habiendo pasado por el estado del conde de Lemos y por todas las otras tierras de señores que hay hasta llegar a su arzobispado sin ser recibidos los oidores: tan duros y pertinaces estaban en tomar el freno y rendirse a las leyes que los reducían a la paz y justicia, que tan necesaria era en aquel reino, prevaleciendo en él las armas y sus bandos y contiendas ordinarias, de que se siguían muy graves y atroces delitos y insultos. En esto y en asentar otras cosas, se detuvieron algunos días el rey y la reina en la ciudad de Salamanca.».
- ↑ Afonso Daniel Castelao: Sempre em Galiza, 2ª ed. Galaxia, Vigo, 1986, p. 47
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Anais da Coroa de Aragão (versão eletrônica) (em castelhano)
- Fernández Pacios, Xoán Ramón (11 de novembro de 2011). «Doma e castración de Galiza: da gran mentira e da galegofobia». Cópia arquivada em 17 de fevereiro de 2021