Cobertor de Papa
O Cobertor de Papa ou Cobertor de Papas é um cobertor artesanal tradicional português característico da região da Serra da Estrela, de fabrico manual totalmente a partir de lã churra, extraída à ovelha autóctone portuguesa de raça mondegueira.[1]
É originário da região de Maçainhas, distrito da Guarda, que teve a sua produção têxtil impulsionada por projeto do governo português de iniciativa do Marquês de Pombal.[2]
Características
[editar | editar código-fonte]Os Cobertores de Papa caraterizam-se pelo seu pêlo branco comprido e cheiro característico. São impermeáveis[3], pesados, quentes, densos e felpudos[1]. O seu uso tradicional era feito pelos pastores não apenas para se manterem quentes durante a pastorícia mas também para afugentar lobos cuja visão seria confundida pelas características do manto[4].
Fabricação
[editar | editar código-fonte]Produto de confecção sazonal, as condições necessárias à sua produção estão reunidas apenas no Verão. É elaborado a partir de lã churra, grossa e comprida de ovelhas locais, fiada e tecida em teares inteiramente manuais datados do início do século XX construídos de acordo com técnicas ancestrais[4]. Após a tecelagem a lã é lavrada e feltrada num pisão, seguindo-se o puxar do pêlo através de uma máquina de cardar. A peças são mergulhadas numa mistura de água e terra que lhes confere temporariamente o aspeto de uma papa que se diz estar na origem do nome do cobertor[4]. Finalizado, é impreterivelmente esticado para secar ao sol.
Variedades de Cobertor de Papa
[editar | editar código-fonte]Existem sete variedades tradicionais do Cobertor de Papa:
- Cobertor branco;
- Cobertor branco com três listas nas pontas de cor castanha ou verde;
- Cobertor branco bordado à mão com losangos azuis num dos lados do cobertor e com riscas azuis, vermelhas e verdes;
- Cobertor com listas castanhas e brancas, chamada Manta Barrenta ou Manta de Pastor;
- Cobertor com listas brancas, castanhas, verdes, vermelhas e amarelas, chamada Manta Lobeira ou Espanhola (porque em Cáceres se fabricava uma manta com decoração semelhante);
- Cobertor homogéneo colorido;[5]
Ameaça de Extinção
[editar | editar código-fonte]O Cobertor de Papa esteve ameaçado de extinção em consequência da perda do saber tradicional da confecção decorrente do envelhecimento generalizado da população e encerramento das fábricas onde eram produzidos no início do século XXI.[5]
Preservação
[editar | editar código-fonte]A preservação do Cobertor de Papa tem desde 25 de Maio de 2008 como eixo principal a Escola de Artes e Ofícios de Maçainhas, criada como resposta ao possível desaparecimento desta tradição.
A formação de novos artesãos permitiu retomar da produção artesanal do Cobertor de Papa em 2011. Em 2014 como forma de proteger o produto tradicional de apropriação ilegítima o nome Cobertor de Papa é registado no Instituto Nacional de Marcas e Patentes.
Falsificações
[editar | editar código-fonte]Foi a 15 de maio de 2018[6] criada a Associação Genuíno Cobertor de Papa com o objetivo de garantir a autenticidade do Cobertor de Papa face ao surgimento no mercado de falsificações produzidas industrialmente e não através do método artesanal.[7]
Curiosidades
[editar | editar código-fonte]Foi entregue ao Papa Francisco um Cobertor de Papa com as suas iniciais bordadas por reclusos do Estabelecimento Prisional da Guarda.[3]
O Cobertor de Papa foi candidato a uma das 7 Maravilhas da Cultura Popular Portuguesa. [8]
A estilista Alexandra Moura é autora de duas criações com o Cobertor de Papa: uma linha de peças conceptuais presentes no seu desfile de Inverno 2016/2017 e uma linha de acessórios.[9]
A Fábrica de Cobertores de José Freire, fundada em 1966, é hoje a última fábrica privada a produzir o Cobertor de Papa.[2]
Ligações Externas
[editar | editar código-fonte]- Reportagem sobre o Cobertor de Papa pelo Jornal Público
- Página do Cobertor de Papa na iniciativa 7 Maravilhas da Cultura Popular Portuguesa
- Entrevista à Direção da Associação Genuíno Cobertor de Papa
- Plano de Actividades da Associação Genuíno Cobertor de Papa
Referências
- ↑ a b Pinto, Fátima (2015). Design para a valorização de indústrias regionais: readaptação do cobertor de papa da Guarda, Universidade de Aveiro
- ↑ a b https://www.avidaportuguesa.com/pt/marcas/cobertores-de-papa
- ↑ a b https://linguagista.blogs.sapo.pt/lexico-cobertor-de-papa-2672747
- ↑ a b c https://www.evasoes.pt/o-que-fazer/guarda-no-museu-de-tecelagem-de-meios-nascem-cobertores-dignos-de-um-papa/998345/
- ↑ a b https://beira.pt/diretorio/escola-de-artes-e-oficios-de-macainhas-cobertor-de-papa/
- ↑ https://www.culturacentro.gov.pt/pt/mapa/ficha-entidades/?entidadesId=41113
- ↑ https://ointerior.pt/cara-a-cara/ha-cobertores-de-papa-industriais-que-se-apropriaram-do-nome-e-enganam-os-consumidores
- ↑ https://7maravilhas.pt/portfolio/cobertor-de-papa-de-macainhas/
- ↑ https://www.evasoes.pt/o-que-fazer/guarda-no-museu-de-tecelagem-de-meios-nascem-cobertores-dignos-de-um-papa/998345