O Carnaval de Estarreja é um dos principais eventos deste género no Distrito de Aveiro, realizado anualmente em Estarreja e contando com vários desfiles e eventos.[1][2][3][4][5]
No início do século XX, o Povo fazia sair à rua, ainda que de forma tímida, a crítica social que contrastava com os caraterísticos bailaricos que reuniam a mais alta sociedade da então Vila de Estarreja.[1]
Poucos depois da viragem do século, em 1903, regista-se a primeira inscrição na imprensa local sobre a realização do desfile da “Batalha de Flores que muito animou a terra habituada a este género”. Estava já de tal forma enraizada a tradição que, pelos anos seguintes, a batalha foi continuando a sair para a rua. Obra de vários beneméritos que despendiam, à época, pequenas fortunas para que o povo da sua terra pudesse celebrar o Carnaval, indo até contra a vontade da Igreja que condenava este ritual pagão.[1]
O final dos anos 20 marca o declínio da Batalha das Flores. Mas as comemorações regressariam décadas mais tarde, em 1968, através da iniciativa dos “Amigos do Carnaval” – Manuel Marques Figueira, João Costa, Vítor Marques e Vítor Oliveira – assim como, anos mais tarde, da Família Baião e outros foliões. Estava reunido um grupo de entusiastas que queria dinamizar na sua terra o regresso da festa carnavalesca.[1]
Assim foi por alguns anos, com os desfiles a encherem a rua de mascarados, envergando fortes críticas à sociedade da época. Era dos lugares e das freguesias de Estarreja que vinham também grupos de foliões fantasiados, assim como vistosos carros alegóricos que, em conjunto, animavam quem assistia ao corso. Mas a Revolução de Abril viria a dar um novo golpe a estas celebrações. Entre 1975 e 1978, a ausência de uma comissão organizadora fez esmorecer o espírito folião, embora alguns grupos continuassem a fazer a festa acontecer.[1]
Regressada a estabilidade ao país, a década de 80 foi determinante para que o Carnaval de Estarreja chegasse ao patamar dos dias que correm. Em 1985, o primeiro desfile exclusivo para crianças obteve grande adesão por parte das escolas. O sucesso foi tal que a iniciativa ainda se mantém, sendo um dos principais momentos do programa.[1]
Em 1986, o Carnaval conheceu o primeiro grupo de folia. Longe do bairrismo que caraterizava as participações no corso carnavalesco, os Pimpões vieram imprimir uma nova dinâmica ao trabalho dos grupos apeados, com a introdução de novas ideias e diferentes métodos de trabalho. Estava dado o passo rumo ao final dos grupos de lugares e ao aparecimento de dezenas de novos grupos de folia.[1]
Mas os anos 80 foram também símbolo da chegada do samba ao Carnaval de Estarreja. Numa noite de Marchas Luminosas, um grupo de rapazes mascarados e apaixonados pelos ritmos brasileiros levou para a rua aquele que viria a ser o primeiro grupo de samba estarrejense. Nasciam assim os Carecas, em 1986, formado exclusivamente por elementos masculinos. Um ano mais tarde, já com raparigas, os Carecas e as Carequinhas mudavam o rumo do Carnaval de Estarreja. Nos anos seguintes nasciam novos grupos de samba: Vai Quem Quer, Trepa de Estarreja, Os Morenos, Côco Tropical, Bem Bom e, mais recentemente, a Tribal.[1]
Por 1990, outra novidade veio revolucionar a participação dos grupos no corso. Uma votação que elegia os melhores nas categorias “Apeado” e “Samba” veio trazer a sede da vitória, mas também viria fazer correr muita tinta sobre os processos de votação, que chegaram inclusive a contar com desempate por moeda ao ar.[1]
A chegada do novo milénio trouxe a visibilidade que o Carnaval de Estarreja há tanto tempo ansiava e hoje continua a marcar posição entre os Carnavais mais mediáticos do país. Longe vão os tempos em que a Batalha das Flores se impunha. Longínquas as memórias de mascarados a abrir o desfile com mensagens pulsantes de sátira social. Hoje vive-se o verdadeiro sentimento de folia aliado ao mais quente ritmo das escolas de samba.[1]