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Carlos Emílio Adet

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Carlos Emílio Adet
Nascimento 1818
Paris
Morte 1867
Cidadania Brasil
Ocupação professor, jornalista

Charles Émile Adet, conhecido no Brasil como Carlos Emílio Adet OR (Paris, 1818 — Paris, 30 de outubro de 1867) foi um professor, poeta, escritor, historiador da literatura, crítico literário e jornalista francês naturalizado brasileiro, ativo no Rio de Janeiro.[1] Foi uma figura importante na história do Jornal do Comércio como gerente e redator por muitos anos, e na literatura foi um dos primeiros românticos do Brasil, um dos primeiros críticos literários e um dos primeiros ficcionistas.

Nascido em Paris, quando tinha nove anos sua família transferiu-se para o Brasil. Fez seus primeiros estudos no Brasil mas os concluiu em Paris. Ao retornar naturalizou-se brasileiro. Entre 1845 e 1851 esteve novamente em Paris, trabalhando como correspondente da Revue des Deux Mondes e dos jornais Correio Mercantil e Gazeta do Rio de Janeiro.[1] Voltando ao Brasil, continuou atuando na imprensa, sendo uma figura destacada na história do Jornal do Comércio,[2] gerente a partir de 1851 e redator-chefe de 1860 a 1867.[3] Recebeu a Ordem da Rosa no grau de cavaleiro em 30 de novembro de 1860 "pelos relevantes serviços que prestou em relação aos progressos da imprensa", sendo promovido a comendador em 16 de março de 1867.[4][5][6]

Publicou biografias de autores franceses, lecionou francês e grego, e fez estudos sobre literatura e teatro. Foi colaborador da revista Minerva Brasiliense, membro do Conservatório Dramático Brasileiro, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional[1] e foi admitido como sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1844.[7] Foi um dos fundadores da companhia de navegação a vapor Fluminense.[8]

Em fins de setembro de 1867 viajou outra vez a Paris a fim de fazer mais estudos, tendo a intenção de retornar, mas lá foi acometido por tifo, vindo a falecer em 30 de outubro.[6] Seu desaparecimento repercutiu na imprensa carioca[9] e seu obituário do Diário do Povo o louvou como "inteligente, trabalhador e zeloso, contribuiu poderosamente para a prosperidade da empresa do Jornal do Comércio. Seu gênio investigador, sua atividade inexcedível, todo o seu tempo, todas as suas forças, ele as consagrava à folha diária a que deixa ligado o seu nome".[2]

Segundo Brito Broca e Silvio Romero, Adet foi um dos precursores da crítica literária no Brasil.[10][11] Barbosa Lima Sobrinho o incluiu na sua antologia Os Precursores do Conto no Brasil (1960),[12] e segundo Danilo Gomes, ele fez parte do grupo dos primeiros escritores românticos ativos no país.[13] Na opinião de Hélio Lopes, embora sua obra tenha sido esquecida, ele deve ser estudado no campo das ideias como um dos articuladores do "romantismo liberal e religioso".[14] Romero também abordou sua participação no nascimento do romantismo, dizendo: "O estudo das revistas do tempo, nomeadamente a Revista do Instituto Histórico, a Minerva Brasiliense e a Guanabara, facilita a reconstrução narrativa do romantismo brasileiro. Foi o tempo em que Magalhães, Porto Alegre, Varnhagen, Torres Homem, Pena, Macedo, Gonçalves Dias, Nunes Ribeiro, Adet, Burgain, Norberto Silva, Melo Morais, Pereira da Silva, Inácio Acioli, Abreu e Lima, Joaquim Caetano e vinte outros conheciam-se, relacionavam-se, encontravam-se no Instituto Histórico, em casa de Paula Brito, ou na Petalógica do Largo do Rocio. Monte Alverne ainda vivia e era uma força atrativa para essa gente. Não existia naquele grupo nenhum gênio de primeira grandeza, mas achavam-se ali alguns dos mais valorosos talentos que este país tem produzido".[15]

Mosaico Poético

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Mosaico Poético: poesias brasileiras, antigas e modernas, raras e inéditas, que publicou em 1844 em conjunto com Joaquim Norberto de Sousa e Silva, é uma antologia precedida por um ensaio histórico, linguístico e crítico e notas biográficas sobre autores. Foi considerada por Alencar & Almeida uma "obra clássica da formação do cânone literário nacional".[16] Parece ter ficado incompleta, pois os autores na divulgação prometeram apresentar uma introdução à história da literatura brasileira no início do "primeiro volume", mas um segundo volume nunca veio à luz.[17] A obra também foi incluída em O Berço do Cânone: textos fundadores da história da literatura brasileira (1998), de Regina Zilberman e Maria Eunice Moreira, que sintetiza o processo de fundação da historiografia da literatura brasileira empreendido por intelectuais do século XIX. Mosaico Poético ressalta, entre outros motivos, por dar relevo à vocação poética dos povos indígenas, considerando "que há uma poética latente e latejante que (im)pulsa os povos originários do Brasil". Apesar de não contestarem a colonização portuguesa, no entanto, dão a entender que uma literatura indígena teria sido possível desde muito antes da chegada do colonizador.[16] Vale transcrever um trecho:

"Essas tribos errantes que, ou dobraram a cerviz ao jugo da civilização dos conquistadores, ou subtraíram-se embrenhando-se pelas florestas em busca das solidões das feras; esses tupinambás valentes e esforçados, esses tamoios fortes e robustos, esses caetés indomados e valerosos, esses tupiniquins pacíficos e hospitaleiros que habitavam o Brasil, cujo deus era Tupã, essa excelência, essa potência espantosa, que lhes falava pelo tupaçununga, que era o trovão; que se lhes revelava pelo tupaberaba, que era o relâmpago; cujo templo eram as majestosas florestas, e que pareciam descender de uma só nação, como parece indicar a língua túpica, dispersa em seus vários dialetos; elevavam-se acima dos povos americanos pela sua imaginação ardente e poética: as encantadoras cenas, que em quadros portentosos oferece a natureza em todos os sítios, os inspiravam, e de povos rudes e bárbaros faziam-nos povos poetas".[18]

Minerva Brasiliense

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Na revista Minerva Brasiliense deixou colaborações variadas: crítica literária e teatral, romances, biografias de Jules Janin e Clara Mollart, poesias, odes e resenhas.[19] A revista é celebrada como um dos primeiros núcleos de divulgação do romantismo no Brasil e como um bastião de defesa do nacionalismo literário, e embora tivesse na literatura francesa seu principal modelo, o fazia por considerar que a literatura nacional ainda engatinhava e precisava de um ideal por onde se orientar. A França, de toda forma, era a principal referência de cultura e civilização em grande parte do ocidente naquele momento histórico.[20] Bruna Moura analisou suas colaborações na Minerva como um projeto de divulgação da literatura francesa antiga e moderna, dando atenção a diversos autores em particular, como Victor Hugo, a quem considerava o modelo da literatura moderna, Chateaubriand, que via como o fundador da escola lírica, e Béranger, descrito como o poeta nacional da França, entre outros, tendo um propósito pedagógico, ilustrativo e civilizatório:[21]

"O autor apresenta ideias como a França ser a provedora de civilização na contemporaneidade, o Brasil como sendo discípulo dela na literatura da época presente. [...] Ao tratar da literatura como um meio de recuperar a nacionalidade deste país europeu após ser abalado por duas revoluções, é possível interpretar que este gênero literário tão aclamado por Émile Adet seria capaz de promover a nacionalidade pelos quais buscam os autores deste impresso, tendo em vista que pode-se compreender o movimento romântico brasileiro como o responsável por pensar, mesmo que de forma imatura, quais seriam os códigos e elementos que constituem a literatura de nacionalidade brasileira. Neste sentido, compreender o romantismo francês seria uma forma de tornar o romantismo brasileiro possível e aclamado pela sua população".[21]

Segundo Yasmin Nadaf, com Um ofício de defunto e uma bênção nupcial, e Amélia, romances de folhetim publicados na Minerva em 1844, ele fez parte de um grupo coeso de intelectuais e jornalistas dedicados às letras que foram os precursores da literatura ficcional brasileira através do folhetim, gênero que começou a se tornar rapidamente popular na década de 1840.[22] O primeiro narra a história de um poeta pobre que morre de desilusão no dia em que sua amada se casa com um jovem rico. O segundo também tem como temática um amor não correspondido, mas o enredo toma um rumo diferente. A protagonista foge de casa com a ajuda de Francisco, que a amava, mas ela acaba se apaixonando pelo amigo dele, Luís. No final ela consente em casar com Francisco por conveniência, para não arranjar mais confusão e por um senso de gratidão pela ajuda recebida.[23]

O ensaio L'Empire du Brésil et la société brésilienne en 1850, publicado na Revue des Deux Mondes, onde enfocou a geografia, a política e a sociedade brasileira, foi destacado por Charles Silva pelo seu caráter de relato de viagem e pelo tom propagandístico, buscando estreitar os laços entre França e Brasil e atrair franceses para o Brasil. Mas não deixou de apontar aspectos menos abonadores, como o problema da escravidão, a fragilidade das instituições e a carência de uma vida cultural consistente, analisando especificamente a situação do teatro.[1] Também saiu em defesa do Brasil no ensaio Resposta ao artigo da Revista dos Dois Mundos, intitulado – Do Brasil em 1844; situação moral, política, comercial e financeira, protestando contra a impressão negativa sobre o país que era nutrida por muitos franceses, acusando-os de não conhecer a fundo a realidade nacional e de usarem pesos desiguais para medir situações iguais. Aos que reclamavam da ausência de justiça, fazia lembrar os excessos da Revolução Francesa; aos que criticavam o pouco asseio das ruas, apontava o estado de lamaçal permanente das ruas de Paris, e apesar de reconhecer a existência de muitos problemas, disse que "o Brasil para chegar ao ponto em que se acha, em tão pouco tempo, deve ter marchado a passos de gigante". Na análise de Ana Cristina Kerbauy, "verifica-se assim que Adet quer legitimar seu lugar como intelectual no Rio de Janeiro, e numa esfera maior, no Brasil. Sem deixar de ocupar o seu lugar de um intelectual francês no Brasil, apoiou-se na autonomia e na nacionalidade, incentivando o brasileiro a se orgulhar e alimentar sua consciência patriótica".[24]

Também publicou, com Joaquim Norberto de Souza e Silva, A cantora brasileira (1871), em 3 volumes, uma antologia de textos de modinhas, canções, lundus, hinos e recitativos,[25][17] diversas orações, crônicas e poesias avulsas em vários periódicos,[26] e Zootecnia Aplicada: Hipologia, um manual técnico de criação de cavalos, em 1859.[27]

Referências

  1. a b c d Silva, Charles Roberto. "O Brasil de Émile Adet: entre a propaganda, o relato de viagem e o teatro". In: Plural Pluriel, 2018 (18)
  2. a b "Fallecimentos". Diario do Povo, 04/12/1867, p. 2
  3. "Sintese Histórica do Jornal do Commercio (3)". Jornal do Commercio, 17/06/1997, p. 9
  4. "Noticias diversas". Correio Mercantil, 06/12/1860, p. 1
  5. Vianna, Hélio. "José de Alencar e D. Pedro II". In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1968 (279): 234
  6. a b "Jornal do Commercio (obituário)". Jornal do Commercio, 04/12/1867, p. 1
  7. "Lista Alphabetica". In: Revista do Instituto Histórico Geographico e Etnographico do Brazil, 1886 (XLIX): xx
  8. "Decreto nº 3.319, de 21 de outubro de 1864". In: Coleção de Leis do Império do Brasil, vol. I, 1864, p. 190
  9. "Fallecimento". O Mercantil, 06/03/1886, p. 2
  10. Apud Cairo, Luiz Roberto Velloso. "Santiago Nunes Ribeiro e o Minerva Brasiliense". In: Letras de Hoje, 1996; 31 (4): 41-51
  11. Romero, Silvio. "Quadro da evolução da literatura brasileira". In: Revista Americana, 1910; II (I): 27
  12. "Barbosa Lima Sobrinho: revolução na área de pesquisa do conto brasileiro". In: Leitura, 1960; XIX (38): 77
  13. Gomes, Danilo. "Macedo: 100 anos de morto". Jornal do Commercio, 10/04/1982, 2º Caderno, p. 1
  14. Apud Teixeira, Fábio. "As Revistas do Romantismo". Jornal do Brasi, 04/11/1973, p. 3
  15. Apud Kerbauy, Ana Cristina. Ilustração Goana e Minerva Brasiliense: a sedimentação do romantismo em Goa e no Brasil. Mestrado. Universidade de São Paulo, 2008, pp. 134-135
  16. a b Alencar, Larissa Fontinele de & Almeida, Carlos Henrique Lopes de. "Povos Poetas: por uma historiografia das literaturas de autoria de indígenas brasileiros". In: Revista Humanidades e Inovação, 2022 9 (1): 145-158
  17. a b Miranda, José Américo. "A invenção da Literatura Brasileira". In: Miranda, José Américo & Boechat, Maria Cecília (eds.). Capítulos de História da Literatura Brasileira. Editora UFMG, 2001, pp. 5-22
  18. Apud Alencar & Almeida, p. 147
  19. Kerbauy, p. 139
  20. Kerbauy, pp. 185-186
  21. a b Moura, Bruna Schulte. "Minerva Brasiliense: civilização, progresso e seu projeto ilustrativo". In: História em Reflexão, 2021; 15 (29): 113-133
  22. Nadaf, Yasmin Jamil. "O romance-folhetim francês no Brasil: um percurso histórico". In: Letras, 2009 (39)
  23. Kerbauy, p. 157
  24. Kerbauy, pp. 167-168
  25. "Projeto Memoria de Leitura: Linha do Tempo - Metalinguagem". Unicamp, consulta em 21/06/2023
  26. S. N. R. "Priere a Dieu". Minerva Brasiliense, 1844; I (10): 311-312
  27. "Publicações". Revista Brasileira, 1859 (5): 228-229