Autoimolação
Autoimolação é o ato de se autossacrificar em prol de algo maior como protesto ou martírio, normalmente ateando fogo no próprio corpo.
No hinduísmo e xintoísmo, a autoimolação de maneira ritual é tolerada, como forma de devoção, protesto ou renúncia.[1] Na Índia, ocorria a prática do chamado sati ou sattee, onde viúvas de certas etnias atiravam-se à fogueira da pira crematória de seus finados esposos. O governo indiano baniu o ritual em 1829, mas algumas mulheres da zona rural ainda o praticam.[2]
Casos notáveis incluem o monge vietnamita Thích Quảng Đức, que se autoimolou em 1963 contra a política religiosa do governo de Ngo Dinh Diem,[3] e o tunisiano Mohamed Bouazizi, que, ao se incendiar em protesto às condições econômicas de seu país em 2010, inspirou a revolução de Jasmim e levou muitos a praticarem a autoimolação nas revoltas da Primavera Árabe.[4][5]
Violência de gênero
[editar | editar código-fonte]No Iraque, a autoimolação é um ato de desespero de mulheres que sofrem abusos psicológicos e físicos durante anos, mesmo décadas. O longo histórico de problemas com seus maridos, pais ou sogros faz com que essas mulheres recorram ao suicídio como forma para escapar disso. Então elas colocam fogo em si mesmas.[6] Nigar Marf, enfermeira que trata mulheres que se autoimolaram, aponta que[6]
O caso mais assustador que tratei foi o de uma mulher que derramou óleo sobre si mesma em meio a uma briga séria com o marido após sofrer opressão e, em um momento de desespero, ateou fogo no próprio corpo. O tempo todo, ele apenas ficou rindo e filmando enquanto o corpo dela ardia em chamas até que seus vizinhos vieram para ajudar e a envolveram em um cobertor. Ela sofreu queimaduras de terceiro grau no rosto, pescoço, tórax e pernas. Foi cruel; suas cicatrizes e gritos me assombrarão para sempre.
Infelizmente, entre as mulheres da etnia curda, "a prática brutal de autoimolação tornou-se assustadoramente comum, e a taxa de mortalidade entre esses tipos de vítimas de queimaduras é extremamente alta".[6] Às vezes, as mulheres curdas são incendiadas pelos próprios homens em suas vidas (maridos, pais, sogros...) sob pretextos de honra.[6] Segundo o site Memo,[6]
Em todo o Iraque, a violência baseada em gênero aumentou 125%, para mais de 22.000 casos entre 2020 e 2021, de acordo com a agência infantil das Nações Unidas (ONU), UNICEF, que também apontou: "Um aumento preocupante de depressão e suicídio entre mulheres e meninas ."
As poucas mulheres que sobrevivem a este ato de desespero carregam cicatrizes em seus rostos e corpos e têm mais este trauma psicológico as afetando para o resto de suas vidas.[6] É preciso prover tratamento não só físico, mas também psicológico para essas mulheres.[6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «A autoimolação para o Budismo e o Xintoísmo». ClickeAprenda. 6 de abril de 2005. Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Sati: a tragédia das viúvas indianas». Estadão. 22 de agosto de 2006. Consultado em 17 de dezembro de 2020. (pede registo (ajuda))
- ↑ «Morre fotógrafo que registrou monge em chamas no Vietnã». Folha de S.Paulo - Ilustrada. 29 de agosto de 2012. Consultado em 17 de dezembro de 2020
- ↑ Rosenberg, David (25 de janeiro de 2011). «Self-immolation spreads across Mideast inspiring protest». The Jerusalem Post (em inglês). Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ «Second Algerian dies from self-immolation: official». Agence France-Presse. 25 de janeiro de 2011. Consultado em 16 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 25 de janeiro de 2011
- ↑ a b c d e f g «'Kurdish women burn themselves, surrender to death out of despair,' says head nurse Nigar Marf, 1 of BBC'S 100 most influential women 2022». Middle East Monitor (em inglês). 1 de janeiro de 2023. Consultado em 22 de fevereiro de 2023