Apresentação no Templo (Álvaro Pires)
Apresentação no Templo | |
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Autor | Álvaro Pires de Évora |
Data | 1430 |
Técnica | têmpera e ouro sobre madeira |
Dimensões | 34 cm × 40,3 cm |
Localização | Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque |
A Apresentação no Templo é uma pintura a têmpera e ouro sobre madeira pintada cerca de 1430 pelo pintor português do período do gótico Álvaro Pires de Évora que se destinou a decorar presumivelmente uma igreja em Pisa e que se encontra actualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.
A pintura representa o episódio bíblico da Apresentação de Jesus no Templo. Em conformidade com o rito judaico de purificação, quarenta dias após o parto, Maria levou Jesus ao Templo. A idosa profetisa Ana que segura um pergaminho reconhece-o como o redentor de Israel.[1]
A Apresentação no Templo é provavelmente da base (predela) de um retábulo complexo que foi pintado para uma igreja de Pisa. A sua qualidade é superior à maioria das pinturas de Álvaro Pires, pintor português ativo na Toscânia. Claramente, o artista conhecia o trabalho dos principais pintores em Florença, incluindo Lorenzo Monaco, a quem a pintura havia anteriormente sido atribuída.[1]
O crítico de arte italiano Federico Zeri, em 1973,[2] considerou esta obra de Álvaro Pires como sendo um painel da predela de um retábulo de que ele identificou cinco outras componentes: dois pináculos que representam a Anunciação (que está na Gemäldegalerie de Berlim), e três painéis das pilastras que representam São Jerónimo (que está no Museu do Louvre, Paris), São Ranieri (que esteve antes numa coleção particular de Florença), e uma figura que com dúvida identifica como o Beato Lucchese (que está no Museu Nacional de Pisa). Zeri considerou que a presença de S. Ranieri, santo padroeiro de Pisa, indica que provavelmente o Retábulo foi destinado a esta cidade e atribuiu-o a um artista desconhecido, próximo, mas superior, a Álvaro Pires, influenciado por Lorenzo Monaco e Paolo Schiavo, e muito semelhante ao Mestre do Bambino Vispo.[1]
Autoria
[editar | editar código-fonte]Roberto Longhi, em 1960,[3] rejeita a atribuição da autoria a Lorenzo Monaco, propondo que se trata de uma das primeiras obras de Paolo Schiavo.[1]
Patrick Lindsay, em 1963,[4] aceita a atribuição a Lorenzo Monaco, afirmando que muitos a consideravam a obra mais destacada da colecção dos Spencer-Churchill.[1]
Arnauld Brejon de Lavergnée e Dominique Thiébaut[5] concordam na inclusão desta pintura e a Anunciação de Berlim na reconstrução proposta por Zeri, atribuindo o São Jerónimo do Louvre a um pintor da Tuscânia possivelmente próximo de Álvaro Pires e datando-o do primeiro quarto do século XV.[1]
O historiador de arte húngaro Miklós Boskovits[6] atribuiu a obra a Pires, juntamente com a Anunciação de Berlim e os outros painéis do mesmo retábulo. Mais tarde, em 1987,[7] aceita a reconstituição de Zeri e afirma que o Retábulo é muito provavelmente de Álvaro Pires, considerando-a uma das suas primeiras obras e datando-a de cerca de 1405-15.[1]
O historiador de arte Keith Christiansen[8] atribui a obra ao Mestre da Apresentação no Templo de Linsky e data-a por volta de 1430, afirmando que o autor poderia ser Álvaro Pires, mas que "mostra uma maior atenção aos detalhes descritivos e ao volume que normalmente se encontram nas suas pinturas" e aceitando a reconstituição de Zeri.[1]
Pier Paolo Donati[9] afirma que o historiador de arte italiano Luciano Bellosi associava o grupo de imagens de Zeri ao Mestre de Bibbiena.[1]
Andrea De Marchi[10] considera o retábulo reconstituído por Zeri superior a esta obra de Pires que entende ser obra de um aluno não identificado; identifica o painel de Pisa como representando o Beato Gherardo da Villamagna, o que sugere uma origem franciscana para o retábulo, mas a presença de S. Ranieri invalida tal conclusão.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Foi a seguinte a sequência de proprietários conhecidos da obra:[1]
- Pertenceu a John Rushout, 2º Barão de Northwick, que faleceu em 1859, tendo a sua herança sido vendida neste ano;
- Foi comprada como sendo obra de Giotto, por £74.11 libras, pelo sobrinho do anterior, George Rushout Bowles, 3º Barão de Northwick (f. 1887), e pertenceu depois à viúva deste Elizabeth Augusta Bowles (f. 1912);
- Pertenceu depois ao neto desta, o capitão Edward George Spencer-Churchill (f. 1964), como sendo obra de Lorenzo Monaco; o património deste foi vendido pela Christie's, em Maio de 1965, como sendo obra de Lorenzo Monaco;
- Foi comprada pelo coleccionador norte-americano Jack Linsky, de Nova Iorque (f. 1980); a esposa deste, Belle Linsky, cedeu-o em 1982 ao Metropolitan Museum of Art.
Exposições
[editar | editar código-fonte]A Apresentação no Templo de Álvaro Pires esteve exposta nas seguintes de exposições:[1]
- 1882 - Em Worcester, no Exhibition Building, denominada "Worcestershire Exhibition", como sendo obra de Giotto, emprestada pelo Barão de Northwick.
- 1930 - Em Londres, na Royal Academy of Arts, denominada "Italian Art, 1200–1900," de 1 de Janeiro a 8 de Março de 1930, como sendo obra de Lorenzo Monaco, cedida pelo capitão E. G. Spencer-Churchill.
- 1960 - Em Londres, na Royal Academy of Arts, denominada "Italian Art and Britain", no inverno de 1960, como sendo obra de Lorenzo Monaco, cedida pelo capitão E. G. Spencer-Churchill.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d e f g h i j k l Ficha sobre a obra na página web do Metropolitan Museum of Art, [1]
- ↑ Federico Zeri, "Qualche appunto su Alvaro Pirez." Kunsthistorischen Institutes in Florenz 17, no. 2–3 (1973), pp. 364, 366–70, figs. 6, 9 [[2]]
- ↑ Roberto Longhi, "Uno sguardo alle fotografie della Mostra 'Italian Art and Britain'", Paragone, 11 Maio de 1960), p. 60, pl. 42.
- ↑ Patrick Lindsay, Great Private Collections. Ed. Douglas Cooper. Nova Iorque, 1963, pp. 42, 44, 49
- ↑ Arnauld Brejon de Lavergnée e Dominique Thiébaut, Catalogue sommaire illustré des peintures du musée du Louvre, Vol. 2, Italie, Espagne, Allemagne, Grande-Bretagne et divers, Paris, 1981, p. 255
- ↑ Carta a Keith Christiansen, de 19 de Março de 1983
- ↑ Boskovits, Gemäldegalerie Berlin, Katalog der Gemälde: frühe italienische Malerei. Ed. Erich Schleier. Berlim, 1987, pp. 4–5, fig. 5
- ↑ Keith Christiansen, The Metropolitan Museum of Art: Notable Acquisitions, 1983–1984. New York, 1984, p. 45
- ↑ Pier Paolo Donati, "Il Maestro di Bibbiena: tra Lorenzo Monaco e Alvaro Pirez.", Paragone, n. 42 (Novembro de 1991), p. 61
- ↑ Andrea De Marchi, Sumptuosa tabula picta: Pittori a Lucca tra gotico e rinascimento. Ed. Maria Teresa Filieri, Museo Nazionale di Villa Guinigi, Lucca, Livorno, 1998, pp. 282, 285
Outra bibliografia
[editar | editar código-fonte]Outra referências bibliográficas:
- A Catalogue of the Pictures, Works of Art, & c. at Northwick Park, 1864, p. 12, no. 90, que considera a obra como sendo da autoria de Giotto.
- Arundel Club. Publications (1913), unpaginated, no. 1, ill., que intitula como "The Dedication in the Temple," por Lorenzo Monaco, na colecção de E. G. Spencer-Churchill.
- Tancred Borenius. Catalogue of the Collection of Pictures at Northwick Park. Londres, 1921, p. 25, no. 48, como sendo de Lorenzo Monaco.