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Gentrificação

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Chama-se gentrificação (ou enobrecimento, de acordo com algumas traduções) um conjunto de processos de transformação do espaço urbano, criticados por alguns estudiosos do urbanismo e de planejamento urbano devido ao seu comum caráter excludente e privatizador. Outros estudiosos, como o sociólogo Richard Sennett da Universidade Harvard[1], apontam o caráter demagógico das críticas, argumentando que problemas urbanos não se resolvem com benevolência com as camadas mais pobres da população, mas com alternativas reais que reativem e recuperam a economia do local.

A expressão da língua inglesa gentrification foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964, ao analisar as transformações imobiliárias em determinados distritos londrinos. Entretanto, é no ensaio The new urban frontiers: gentrification and the revanchist city, do geógrafo britânico Neil Smith, que o processo é analisado em profundidade e consolidado como fenômeno social presente nas cidades contemporâneas. Smith identificou os vários processos de gentrificação em curso nas décadas de 1980 e 1990 e tentou sistematizá-los, especialmente os ocorridos em Nova Iorque (com destaque para a gentrificação ocorrida nos bairros do Soho e do Harlem, naquela cidade).

Normalmente os processos de gentrificação identificam casos de recuperação do valor imobiliário de regiões centrais de grandes cidades que passaram as últimas décadas por um período de degradação, durante o qual a população que vivia nestes locais era, em geral, pertencente às camadas sociais de menor poder aquisitivo. Através de uma estratégia do mercado imobiliário, normalmente aliado a uma política pública de suposta "revitalização" dos centros urbanos, procura-se recuperar o caráter outrora glamouroso da região em questão, de forma a deslocar a população original e atrair residentes de mais alta renda e recuperar a atividade econômica no local.

Foi adotada a expressão em inglês gentrification devido ao caráter "enobrecedor" que tais estratégias imobiliárias procuram associar às suas regiões-alvo (a raiz "gent" pode ser grosseiramente traduzida como "nobreza"). Em português, alguns textos chegam a traduzir o processo, de fato, através da expressão "enobrecimento", embora seja mais comum utilizar-se do aportuguesamento "gentrificação". Eventualmente o processo também é chamado, por seus críticos, de higienização social ou de limpeza social, especificamente, devido à violência com que tradicionalmente tais ações são realizadas.

No Brasil

Pelourinho, centro histórico de Salvador, que passou por um processo de gentrificação.
Praça da Sé, o marco zero de São Paulo. A região central da cidade passou por uma revitalização.

Embora o processo de urbanização brasileiro apresente diferenças significativas em relação ao mundo anglo-saxão - onde já existe uma tradição de estudos sobre gentrificação - no Brasil também ocorrem, sobretudo nas grandes cidades, casos de mudanças de perfil de renda, decorrentes de expulsão e substituição de população local, ligadas a operações urbanas de "renovação", "requalificação", "revitalização" e assemelhados. Esses casos têm sido tratados pelos estudiosos como processos de gentrificação.

Entre os vários estudos, destacam-se aqueles relacionados ao bairro do Pelourinho[2], em Salvador, e no centro da cidade de São Paulo[3] durante as gestões dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab.[4] e na atuação do subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, criticados por movimentos de extrema-esquerda[5][6].

A ação crítica de muitos movimentos sociais teria, segundo a articulista da revista Veja, todavia, claro "viés partidário", sendo ligada a interesses de partidos de esquerda e extrema-esquerda. Monsenhor Júlio Lancellotti, responsável pelo Vicariato Episcopal do Povo de Rua (Pastoral do Povo de Rua) da Arquidiocese de São Paulo e tradicionalmente apoiado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tem apresentado críticas contra aquilo que considera "políticas urbanas excludentes e perversas". Segundo a opinião do articulista da Veja, seu principal interesse "seria manter um público cativo para fazer manobras políticas e demagogia" [7].

Na realidade, os processos de gentrificação estão agora cada vez mais colocando em risco a coesão social e a inclusão de distritos históricos, levando mesmo, em alguns casos, a uma transformação social brutal e a despejos forçados [8].

Muitos políticos, "promotores de negócios", corretores imobiliários, e até alguns academicos conservadores têm considerado a gentrificação como sendo uma política puramente positiva. Vêem nela o remédio ideal para a solução humana, ecológica e fiscal de regiões urbanas decadentes. "Mas como os esforços da Central City East Assn.’s (em Los Angeles) para varrer e lavar as áreas da cidade onde moram vagabundos demonstrou gentrificar um bairro frequentemente significa deslocar os que lá habitavam, e deslocamentos não ocorrem sem brigas (...) E muitas vezes, o preço a pagar é alto demais". [9]

Referências

Artigos relacionados

Páginas externas

Bibliográficas

  • SMITH, Neil; The New Urban Frontier; Gentrification and the Revanchist City; Nova Iorque: Routledge, 1996
  • ZUKIN, Sharon “Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder” in ARANTES, Antônio (org.); O Espaço da diferença; São Paulo: Papirus Editora, pp 81-102
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