A Biologia Do Amor Segundo Maturana

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O amor

Caco Baptista 2009

Racionalidade e emoo
O que somos? O que o humano? O que constitui nosso viver humano o entrelaamento cotidiano entre emoo e razo. No h ao humana sem uma emoo que a estabelea como tal e a torne possvel como ato.

Racionalidade e emoo
O que define uma espcie seu modo de vida, uma configurao de relaes variveis entre organismo e meio. O que define a espcie humana um modo de vida baseado no compartilhar alimentos passando-os uns aos outros nos espaos de interaes recorrentes que criam a intimidade e possibilitam a linguagem.

Compartilhamento e sensualidade
Para que se desse um modo de vida baseado no estar juntos em interaes recorrentes no plano da sensualidade em que surge a linguagem seria necessria uma emoo fundadora particular, sem a qual este modo de vida na convivncia no seria possvel. Esta emoo o amor.

O amor, emoo fundadora do Humano


O amor a emoo que constitui o domnio de aes em que nossas interaes recorrentes com o outro fazem do outro um legtimo outro na convivncia. As interaes recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivncia. A emoo fundamental que torna possvel a hominizao o amor.

O amor, emoo fundadora do Humano


No falo do amor cristo nem do amor romntico. Infelizmente a palavra amor foi desvirtuada e a emoo que ela conota perdeu sua vitalidade, de tanto se dizer que o amor algo especial e difcil. O amor constitutivo da vida humana, mas no nada especial, apenas uma emoo.

O amor, fundamento do social


O amor o fundamento do social. O amor a emoo que constitui o domnio de condutas em que se d a operacionalidade da aceitao do outro como legtimo outro na convivncia, e esse modo de convivncia que caracteriza o social. Sem a aceitao do outro na convivncia no h fenmeno social.

Emoes e interaes humanas: o amor


Para que haja histria de interaes recorrentes, tem que haver uma emoo que constitua as condutas que resultam em interaes recorrentes. Se essa emoo no se d, no h histria de interaes recorrentes, mas somente encontros casuais e separaes. O amor constitui um espao de interaes recorrentes que se amplia e pode estabilizar-se como tal. E por isso que o amor a emoo fundamental na histria da linhagem homindea a que pertencemos.

Emoes e interaes humanas: o amor


O que o amor? O amor a emoo que constitui as aes de aceitar o outro como um legtimo outro na convivncia. Portanto, amar abrir um espao de interaes recorrentes com o outro, no qual sua presena legtima, sem exigncias.

O amor, fundamento do social


S so sociais as relaes que se fundam na aceitao do outro como um legtimo outro na convivncia. Tal aceitao constitui uma conduta de respeito. A emoo que funda o social como a emoo que constitui o domnio de aes no qual o outro aceito como um legtimo outro na convivncia o amor. Relaes humanas que no esto fundadas no amor no so relaes sociais. Portanto, nem todas as relaes humanas so sociais.

O amor, fundamento do social


Diferentes emoes especificam diferentes domnios de aes. Portanto, comunidades humanas, fundadas em outras emoes diferentes do amor, estaro constitudas em outros domnios de aes que no so o da colaborao e do compartilhamento, em coordenaes de aes que no implicam a aceitao do outro como um legtimo outro na convivncia, e no sero comunidades sociais.

Somos dependentes do amor


O amor a emoo central na histria evolutiva humana desde o incio, e toda ela se d como uma histria em que a conservao de um modo de vida no qual o amor, a aceitaao do outro como um legtimo outro na convivncia, uma condio necessria para o desenvolvimento fsico, comportamental, psquico, social e espiritual normal da criana, assim como para a conservao da sade fsica, comportamental, psquica, social e espiritual do adulto.

Ns humanos somos filhos do amor


Num sentido estrito, ns seres humanos nos originamos no amor e somos dependentes dele. Na vida humana, a maior parte do sofrimento vem da negao do amor: os seres humanos somos filhos do amor. Na verdade, 99% das enfermidades humanas tem a ver com a negao do amor.

O amor no um sentimento
O amor no um sentimento, um domnio de aes nas quais o outro constituido como um legtimo outro na convivncia. um domnio de aes no qual no se usa a mentira para justificar as prprias aes ou as do outro. Amar viver na harmonia que traz consigo o conhecimento e o respeito pelo outro e pelo mundo natural que nos sutenta, e que permite viver nele sem abus-lo nem destru-lo.

Amor e educao
As vezes falamos como se no houvesse alternativa para um mundo de luta e competio, e como se devssemos preparar nossas crianas e jovens para essa realidade. Tal atitude se baseia num erro e gera um engano. No a agresso a emoo fundamental que define o humano, mas o amor, a coexistncia na aceitao do outro como um legtimo outro na convivncia. No a luta o modo fundamental de relao humana, mas a colaborao.

Amor e educao
Para que educar? Para recuperar esta harmonia fundamental que no destri, que no explora, que no abusa, que no pretende dominar o mundo natural, mas que deseja conhec-lo na aceitao e respeito para que o bem-estar humano se d no bem-estar da natureza em que se vive. Para isso preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser em harmonia, sem submisso.

Amor e educao
O educar se constitui no processo em que a criana ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espao de convivncia. O educar ocorre, portanto, todo o tempo e de maneira recproca.

Amor e educao
Na infncia, a criana vive o mundo em que se funda sua possibilidade de converter-se num ser capaz de aceitar e respeitar o outro a partir da aceitao do respeito de si mesma.
Na juventude, experimenta-se a validade desse mundo de convivncia na aceitao e no respeito pelo outro a aprtir da aceitao e do respeito por si mesmo, no comeo de uma vida adulta social e individualmente responsvel.

Amor e educao
Como vivermos como educaremos, e conservaremos no viver o mundo que vivermos como educandos. E educaremos outros com nosso viver com eles, o mundo que vivermos no conviver. Mas que mundo queremos? Quero um mundo em que meus filhos cresam como pessoas que se aceitam e se respeitam, aceitando e respeitando outros num espao de convivncia em que os outros os aceitam e respeitam a partir do aceitar-se e respeitar-se a si mesmos.

Amor e educao
Repito: sem aceitao e respeito por si mesmo no se pode aceitar e respeitar o outro, e sem aceitar o outro como legtimo outro na convivncia, no h fenmeno social. Vivamos nosso educar de modo que a criana aprenda a aceitar-se e a respeitar-se, ao ser aceita e respeitada em seu ser, por que assim aprender a aceitar e a respeitar os outros.

A biologia do amor
O central na convivncia humana o amor, as aes que constituem o outro como um legtimo outro na realizao do ser social que tanto vive na aceitao e respeito por si mesmo quanto na aceitao e respeito pelo outro. A biologia do amor se encarrega de que isso ocorra como um processo normal se se vive nela.

A biologia do amor
O amor no um fenmeno biolgico eventual nem especial, um fenmeno biolgico cotidiano. Mais do que isto, o amor um fenmeno biolgico to bsico e cotidiano no humano, que frequentemente o negamos culturalmente criando limites na legitimidade da convivncia em funo de outras emoes: rejeio, raiva, medo, indiferena etc.

Referncias
MATURANA, Humberto. Emoes e linguagem na educao e na poltica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998
MATURANA, Humberto e REZEPKA, Sima Nisis de. Formao humana e capacitao. Petrpolis: Vozes, 2002, 3 ed.

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