Aula 12
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Metodologia
Econômica
12ª aula de Metodologia da Análise Econômica
O método de Nassau Senior,
Stuart Mill e
John Cairnes
Nassau Senior, Stuart Mill e John
Cairnes
Em que pese Adam Smith tenha escrito sobre o método científico em sua História da
astronomia e muito embora, ao longo do desenvolvimento da escola clássica,
deparemos com algumas controvérsias metodológicas (como aquelas que
envolveram Ricardo e Malthus), a discussão mais sistemática sobre o método da
economia surge apenas com os trabalhos de Nassau Senior, Stuart Mill e John
Cairnes.
Como Mill, Senior acreditava que boa parte das críticas dirigidas à economia
clássica seriam derivadas da confusão entre a teoria econômica pura e a arte das
decisões governamentais.
Foi aluno de Richard Whately, pensador famoso por sua crítica à teoria do valor-trabalho, com o
qual se manteve ligado por laços de amizade ao longo da vida.
Senior foi eleito para ocupar a cadeira de economia política na Universidade de Oxford, onde
permaneceu de 1825 a 1830, e novamente de 1847 a 1852. Ele tornou-se um bom amigo de
Alexis de Tocqueville, o famoso autor de Democracia na América.
Senior escreveu diversos artigos nas mais prestigiadas revistas de economia da época, como
Quarterly Review, Edinburgh Review e London Review. Embora tenha sido um dos economistas
clássicos mais originais, antecipando, em sua obra, vários elementos que iriam se fixar na
teoria moderna, em oposição à ortodoxia ricardiana, Senior é um autor relativamente
negligenciado na história do pensamento econômico.
Mas ele foi considerado por Schumpeter como o primeiro teórico puro da economia, o autor que
buscou cuidadosamente explicitar os axiomas fundamentais a partir dos quais a teoria
econômica seria construída. Ele morreu em Kensington em 1864.
Esboço da teoria econômica
Seu Esboço da teoria econômica começa com a explicitação do objeto de estudo da
teoria econômica pura e das suas premissas básicas.
Para Senior, a economia seria a ciência que trata da natureza, produção e distribuição
da riqueza.
Para que tenha valor e seja passível de trocas, um objeto deve apresentar três
condições:
Note que essa definição de riqueza, que enfatiza utilidade e escassez em vez de
Estes últimos se referem ao caso no qual a nossa atenção não é voltada para o
1) Todo homem deseja obter riqueza adicional com o menor sacrifício possível;
Para que suas conclusões sejam verdadeiras, porém, não basta que as
inferências dedutivas sejam válidas, mas é crucial que as premissas estejam
corretas.
Para Senior, este seria o caso, uma vez que as proposições elementares da
ciência econômica, listadas acima, seriam evidentes, não requerendo provas
adicionais.
Filho de James Mill, notável economista, ele seguiu as influências do pai na formulação de suas
ideias.
doutrina ética do utilitarismo. Depois, sua vida conhece um período conturbado, no qual as
atividade intelectual, atraído tanto pela lógica, em que procurou conciliar a lógica indutiva com a
Na primeira área, publica em 1843 o livro Sistema de lógica e na outra área, cinco anos depois,
A esposa intensificou nele o interesse pela bandeira do feminismo e também pelas causas humanitárias.
Mill tornou-se membro do Parlamento Britânico, onde pôde promover algumas das medidas que
advogava.
Mill não se destacou apenas como economista, seus escritos cobrem diversas áreas ligadas ao estudo
da filosofia moral, na qual faz uma revisão do utilitarismo ético, à discussão do conceito de liberdade e
de representatividade no sistema democrático etc.
Ao contrário da crença popular, que o retrata como mero expositor das ideias ricardianas, podemos
encontrar, em seu tratado de economia, vários aspectos que antecipam a teoria moderna, como a
percepção da demanda e da oferta como funções dependentes dos preços.
Suas teses sobre o método da economia científica, além disso, fornecem a base do pensamento
metodológico que permanece bem além do declínio da economia clássica, obtendo o apoio de adeptos
até o presente.
“Da definição de economia política e do método
de investigação próprio a ela” (1836) e
“Um sistema de lógica” (1843)
período clássico
de lógica.
Sobre o célebre ensaio
metodológico
Na primeira parte se seu artigo, dedicada à definição do objeto de estudo da economia,
Mill trabalha por aproximações.
Em primeiro lugar, o autor rejeita as definições que incluam conjuntos de regras práticas
para a condução de políticas públicas que levem ao enriquecimento de uma nação, pois
estas fazem parte de disciplina mais bem classificada como arte, em contraposição às
ciências puras, que procuram explicar classes particulares de fenômenos existentes no
mundo.
A segunda aproximação, que sugere definir a economia como a ciência que trata da
produção, distribuição e consumo de riqueza, é rejeitada por ser muito ampla, pois
incluiria, entre outras disciplinas, a engenharia.
Deve-se então separar as ciências físicas das psicológicas ou morais, sendo a economia
pertencente ao segundo grupo. Mill restringe ainda mais a definição, considerando
apenas a atividade produtiva em seu aspecto social.
Definição da economia política
Como tal conceito foi (e ainda é) alvo de críticas, é necessário atentarmos para o
significado que o autor lhe dá.
Mill não nega a existência ou a importância de outro tipo de motivação que não a
estritamente econômica – restrita na definição milliana à busca de riqueza.
Tampouco advoga a tese de que os indivíduos são ou deveriam ser egoístas.
Vale a pena citar o próprio autor:
“Não há talvez uma única ação na vida de um homem em que ele não
esteja sob a influência, imediata ou remota, de algum impulso que não seja
o simples desejo de riqueza. Sobre esses atos a economia política nada tem
a dizer. Mas há também certos departamentos dos afazeres humanos nos
quais a obtenção de riqueza é o fim principal e reconhecido. A economia
política leva em conta unicamente estes últimos.”
Isolar uma motivação particular
Mill não afirma que o fator isolado constitua uma motivação mais ou menos nobre,
mas apenas um fator importante: em geral, apenas depois de satisfazer necessidades
mais básicas pode-se dedicar a tarefas mais sutis.
caso 1: AB ..........ab
Finalmente, temos o método das variações
concomitantes, no qual percebemos que
variações na quantidade (ou intensidade) do
fator A é acompanhado pela variação
proporcional de “a”, permitindo a suspeita de
relação de causação entre A e “a”:
caso 1: AABC.........aaaBC
caso 2: ABC ...........abc
O método a priori
Mill toma como exemplo a teoria das vantagens comparativas de Ricardo. Para
testá-la empiricamente, precisaríamos encontrar dois países idênticos em tudo
(língua, leis, crenças, história, instituições políticas, etc.) a não ser por sua
política comercial: sendo um desses países praticante do livre-comércio e o
outro protecionista.
Note que estamos apenas reproduzindo o que seria o raciocínio de Mill. Pois,
experimentos cruciais podem ser feitos em economia, por exemplo, em
clínicas de laboratório em que as pessoas são submetidas a um experimento
econômico.
Variáveis verdadeiramente
independentes
Mas, mesmo que isso fosse possível, ainda assim logicamente seria
impossível realizar o teste, pois se dois países fossem idênticos em tudo, suas
políticas comerciais também deveriam ser idênticas, a menos que estas não
possuam causas.
Assim, além de a priori, a economia é caracterizada por Mill como uma ciência abstrata.
Seus resultados são sempre certos se os fatores salientados pela análise forem os únicos
atuantes.
Nos casos concretos, por outro lado, isso nunca ocorre. Sempre teremos a coexistência de
Estas, em conjunto, podem gerar um efeito contrário àquele previsto pela teoria abstrata.
Teste de aplicabilidade
Suas leis são apenas de tendência, como, por exemplo, “a força física de um
iii. Estão em estado de perpétuo fluxo. Assim, Mill fala nos seus Princípios em
metáfora de uma equação de demanda em função do preço, em vez de
trabalhar com a referida equação: a cada instante teríamos valores
diferentes e, portanto, equações diferentes.
O caráter e o método lógico da
economia política
A defesa da “economia literária” dos clássicos, em contraposição à nova
economia formalizada, também aparecerá no prefácio da segunda edição, de
1875, de O caráter e o método lógico da economia política, de John Elliott
Cairnes.
Amigo de Jevons, um dos participantes da Revolução Marginalista que destronará
a economia clássica, Cairnes é tido como o último dos autores clássicos.
Para Cairnes, embora a matemática possa ser útil para expor alguns conceitos
econômicos, não seria apropriada como mecanismo de descoberta de novas
verdades. A economia, como ciência que parte tanto de premissas mentais
quanto físicas, poderia tirar partido da matemática apenas se os sentimentos
admitissem quantificação precisa ou se pudesse dispensar o uso de variáveis de
natureza mental.
John Elliot Cairnes (1823-1875)
As ciências físicas, para o autor, têm em seu início uma fase indutiva, mas, uma vez
obtidas algumas generalizações importantes, passa para um estágio dedutivo no qual
se exploram as consequências dessas generalizações, consequências essas testadas
por meio da sua comparação com a realidade.
A economia, por sua vez, pode passar diretamente para o estágio dedutivo, pois, suas
premissas básicas já foram estabelecidas por outras disciplinas e tanto a familiaridade
com a psicologia humana quanto a observação tornam sem sentido o teste dessas
hipóteses fundamentais: “o economista inicia com o conhecimento das causas últimas.”
Validade no plano abstrato