Educação Pela Tradição Oral de Matriz Africana No
Educação Pela Tradição Oral de Matriz Africana No
Educação Pela Tradição Oral de Matriz Africana No
O objetivo foi investigar como acontecem os processos educativos pela oralidade e como
contribuem para a constituição humana de seus detentores.
A educação escolarizada de característica eurocêntrica não só apresenta dificuldades de
dialogar com outras formas de conceber a educação, como também as deslegitima como
prática educativa e como possibilidade intelectual, epistemológica, corporal, cultural,
cosmológica e afetiva de constituição humana.
De uma maneira geral, poderíamos dizer que os candomblés são religiões brasileiras que
articulam conhecimentos de diferentes formas de religiosidades advindas do continente
africano durante a diáspora negra. Para o Brasil vieram principalmente três grandes grupos
étnicos: os Bantos (vindos da região centro-sul do continente, sobretudo dos atuais Congo,
Angola e Moçambique), os iorubas (vindos dos atuais Nigéria, Benin e Togo), e os fon-ewés
(conhecidos como jêjes, vindos dos atuais Benin e Togo). Cada um desses grupos foi formado
por diversos povos com cultura, divindades e costumes diferentes.
Como na matriz africana a vida não se dissocia dos fundamentos espirituais, as formas de
conceber o mundo são diferentes das formas eurocêntricas. No exercício da tradição oral de
matriz africana acontece também o exercício de outras epistemologias, que diferenciam as
concepções de transmissão de saberes da educação ocidental.
Os modos de ensinar-aprender identificados nas comunidades em relação ao ofício, seja na
atividade do canto popular, seja na do tambor de crioula, estão embasados na tradição oral da
comunidade, não em especificações burocráticas, normas institucionais legalizadas, regras ou
padrões estabelecidos para o ensino. […] A atividade da aprendizagem do canto do tambor de
crioula é algo intrínseco à vida comunitária e acontece, muitas vezes, como meio de
preservação das memórias e das tradições. A aprendizagem nesses casos acontece por meio do
próprio esforço daquele que quer aprender, da criança, porém em condição de liberdade que
implica total responsabilidade e respeito para aqueles que são os mestres experientes, para
com a tradição do lugar em que vivem. Nessas comunidades, os laços relacionais são as bases
que enlaçam e entrelaçam todo processo do aprender da criança. […] A diferença das
explicações orais para as demonstrações práticas e para a imitação é que os mestres
demonstram intencionalidade ao ensinar e mantém-se permanentemente abertos a essa tarefa.
(Peraci & Assis, 2011, pp. 139-140)
De maneira geral, no que toca aos terreiros, comunidades quilombolas e manifestações tradicionais das culturas
populares, a memória é constantemente exercitada, mas também reconstituída coletivamente não somente pela
experiência vivida, mas também pela configuração coletiva na busca pelo próprio passado, que preenche sobre os
alicerces tradicionais e históricos, os espaços e lacunas roubados pela colonialidade.
É possível perceber que tanto a tradição oral quanto seus processos de resistência são possíveis através da
transmissão de saberes e das práticas cotidianas, na medida em que as pessoas se formam e se constituem dialética
e continuamente na vida.
A modernidade/colonialidade traz consigo um sistema-mundo que, para existir, precisa aniquilar tudo aquilo que
diverge da própria modernidade/colonialidade, tudo que não se encaixa em uma função pré-estabelecida pela sua
engrenagem para o seu funcionamento.
As marcas estruturais do racismo, base do sistema-mundo moderno/colonial, historicamente
sufocam as identidades, estéticas, direitos e história daqueles que foram historicamente
desumanizados nos processos de escravidão. Entretanto, na continuidade dos movimentos de
resistência os grupos e comunidades tradicionais de matriz africana permanecem reafirmando
perante o mundo as suas formas de resistir e reexistir.