Aula 5. Int Psicologia Institucional
Aula 5. Int Psicologia Institucional
Aula 5. Int Psicologia Institucional
A psicologia institucional, não como uma área de atuação profissional, ao lado daquelas já conhecidas (clínica,
social e do trabalho, escolar, experimental), mas como um modo de fazer concretamente a psicologia;
CONTEXTO DO SURGIMENTO?
Psicologia Institucional é um termo cunhado por J. Bleger, psiquiatra argentino de orientação psicanalítica inglesa,
que a um certo momento, buscou aliar psicanálise e marxismo para pensar a atuação do profissional em
psicologia, para além das práticas terapêuticas e consultorias.
Para ele: Trabalhar com psicologia institucional, portanto, é trabalhar com uma determinada abordagem
psicanálitica específica.
E, como Bleger o define, com essa abordagem, toma-se a instituição como um todo, como alvo da intervenção.
BLEGER
Em seu livro Psicohigiene e Psicologia Institucional (Bleger, 1973/1984), fica claro que o psicólogo opera com os grupos,
desde os de contato direto com a clientela até a direção, por meio de um enquadre que preserva os princípios básicos do
trabalho clínico psicanalítico, bem como suas justificativas. Ainda: a compreensão que tem das relações interpessoais guarda
uma formulação muito interessante: a da simbiose e ambiguidade nos vínculos e ele mesmo aproxima essa compreensão às
ideias de M. Klein a respeito de posições nas relações de objeto; mais do que ao conceito de narcisismo em Freud.
Tudo isto implica que se alguém se diz trabalhando com psicologia institucional, estará, ao mesmo tempo, tomando, tanto a
instituição e suas relações quanto a intervenção do psicólogo, a partir de uma perspectiva psicanalítica; ou da perspectiva de
uma psicanálise. Interpretações ou assinalamentos, informados por esta compreensão das relações institucionais, definem sua
inserção nos grupos, seu fazer.
Análise Institucional, por sua vez, é o nome dado a um movimento que supõe um modo específico de compreender
as relações sociais, um conceito de instituição e um modo de inserção do profissional psicólogo que é de natureza
imediatamente política.
O idealizador da Análise Institucional é Georges Lapassade, psicólogo de formação, que passou a trabalhar com
psicossociologia e prosseguiu com um intrigante caminho intelectual e político, o qual desembocou nesse movimento
autodenominado Análise Institucional.
Propõe uma forma de agir e pensar que deveria mobilizar todos os níveis institucionais ao mesmo tempo; e isto seria
justificável por finalidades políticas (supostamente) óbvias (e) que todo leitor deveria ter! Funciona quase como uma
convocação à militância.
Segunda edição do seu mais famoso livro, como a proposta da analise institucional como fracassada.
São de Lapassade distinções conceituais importantes que parecem frequentar o discurso de institucionalistas e de
psicólogos afeitos a essa perspectiva de trabalho.
A PRIMEIRA DELAS É A DISTINÇÃO INSTITUINTE/INSTITUÍDO
O instituinte é uma dimensão ou momento do processo de institucionalização em que os sentidos, as ações ainda
estão em movimento e constituição; é o caráter mais produtivo da instituição.
O instituído é a cristalização disso tudo; é o que, na verdade, se confunde com a própria instituição.
A SEGUNDA É A DISTINÇÃO ENTRE DOIS OUTROS TERMOS:
ORGANIZAÇÃO E INSTITUIÇÃO
Organização é um nível da realidade social em que as relações são regidas por estatutos e acontecem no interior de
estabelecimentos, espaços físicos determinados. A instituição é o nível da lei ou da Constituição que rege todo o
tecido de uma formação social; está acima dos estatutos das organizações. Ainda, segundo Lapassade, a instituição
pode ser considerada o brique-braque das determinações daquilo que atravessa os grupos de relação face a face
numa organização social. A sala de aula é exemplar nesse sentido: a relação entre as pessoas é regida por normas
que, em última instância, estão apoiadas no que prevê a lei maior para o ensino; nesse contexto, o professor poderá
ser considerado um representante do Estado frente a seus alunos.
CONCEPÇÃO DE BUROCRACIA
A novidade que esse autor nos apresenta é a de que burocracia é, em princípio, uma questão de poder. Uma
questão de divisão no poder, entre grupos de decisão e grupos de execução do fazer institucional, sendo que os
primeiros decidem não apenas o que, mas também, o como fazer. A normatização e a comunicação vêm de cima
para baixo, e não há previsão de canais legais ou legítimos para que essa relação se inverta. A regra de ouro é a
obediência e a organização acaba sendo um fim em si mesma. Indivíduos e grupos acabam se munindo de um
radar que possa sondar as necessidades e interesses que não os próprios. É a heteronomia de grupos e sujeitos, que
corre em sentido oposto ao da autonomia.
Lapassade faz um mapeamento das relações institucionais, trazendo para elas a organização da separação, pelo
poder de decisão, e a produção de sujeitos sem autonomia, alienados e alienadores da palavra social. As relações
de poder e a ideologia têm, assim, seu contexto constituinte.
LAPASSADE
Campos de atuação
Formação do profissional psicólogo
Referências até aqui revisitadas da psicologia institucional
O CAMPO CONCEITUAL DESSA NOVA PROPOSTA
A proposta é o conceito de instituição com que trabalhamos: conjunto de relações sociais que se repetem e, nessa
repetição, legitima-se.
Essa legitimação se dá, em ato, pelos efeitos de reconhecimento de que essas relações são óbvias e que
naturalmente sempre foram assim. Dá-se, ao mesmo tempo e complementarmente, pelos efeitos de
desconhecimento de sua relatividade.
A ESCOLA, POR EXEMPLO...
É uma criação da modernidade, mas é muito pouco provável que seus agentes e sua clientela consigam imaginar a
relatividade dessa forma de ensinar.
Professores e alunos, na repetição silenciosa dos rituais cotidianos e na sutil disciplinarização de corpos e
pensamentos, reconhecem que se pode até pensar e melhorar uma ou outra coisa, mas, para ensinar tem que ter
escola! E que sempre foi assim!
No detalhe: é comum ouvir de professores queixas com relação aos desmandos de coordenadores e supervisores
de seus trabalhos e, enquanto isso, com exigência não menos veemente, não abrem mão de receber uma
programação pronta para suas aulas. Parte dos alunos: quanta relutância em aprender a pensar, quando isto
significa desacomodar-se da posição de ouvinte e do “privilégio conquistado” de diluir-se no conjunto da sala ou
de um grupo de trabalho, para responder por uma leitura ou pelo trabalho pessoal de um texto!
O MAIS IMPORTANTE NESSA COMPREENSÃO DE INSTITUIÇÃO...
É que ela nos coloca, na qualidade de agentes ou de clientela, como atores em cena. É a nossa ação que faz a
instituição. Que a reproduz e legitima. Inclusive, no que diz respeito aos efeitos de reconhecimento e
desconhecimento.
Assim, não há porque se referir à instituição como um corpo estranho, acima de nossas cabeças, com vida própria
e independente de nós. Nós a fazemos. E, mesmo que à revelia de nossa consciência, reconhecemos como natural
e legítimo esse fazer.
O MAIS IMPORTANTE NESSA COMPREENSÃO DE INSTITUIÇÃO...
Toda instituição constitui um objeto (imaterial, impalpável): é aquilo (ou a relação básica) em nome de que ela se
faz, e cujo monopólio é reivindicado numa delimitação de âmbito de ação com outras instituições.
A cura, por exemplo, pode ser considerada o objeto das práticas médicas; o das práticas escolares pode ser
considerado não apenas o ensino formal, como também a direção e a disciplina dos atos dos educandos, inclusive
para além dos muros escolares, com a aquiescência (e a convite) da família (vide palestras de médicos, psicólogos
e educadores sobre o uso de drogas, que as escolas têm oferecido aos pais, muitas vezes a pedido destes).
TODA INSTITUIÇÃO
Se constitui na e pela relação de clientela; isto é, na relação de agentes institucionais com os clientes dessas
instituições. Estes últimos demandam um determinado serviço e os primeiros se destinam a prestá-lo. É nessa
relação que se define a tensão entre posse e alienação do objeto institucional. Uma relação de poder, portanto, um
jogo de forças poder/resistência, que não se dá senão no e pelo discurso.
DISCURSO
Tomamos o discurso como ato, dispositivo, instituição, que define, para um determinado momento histórico e para
uma região geográfica, as regras da enunciação.
Nele e por ele, como dissemos acima, o jogo de forças poder/resistência se exerce e a produção de um saber ou
verdade se faz concreta.
OBJETO INSTITUCIONAL - RELAÇÕES
Ora, de quais relações falamos? Daquelas que fazemos vida a fora, com direito a pensar nas relações
significativas, com as figuras parentais, desde o “berço do quarto” que, segundo Freud, são também o berço de
toda subjetividade e vida social possível.
QUE FAZER, ENTÃO?
Recusar todos os ensinamentos da Psicologia Institucional? Não propriamente. Se retomássemos a ideia de retirá-la da concepção de que seria
uma área da psicologia, ao lado de outras como a escolar, a organizacional, a clínica, a experimental, a comunitária, estaríamos em vias da
concepção de uma estratégia para pensar o que pode a psicologia produzir em seu exercício. Tomar, portanto, a Psicologia Institucional (se
ainda se quisesse preservar o nome) como método, como estratégia de pensamento, ao invés de tomá-la como mais uma área de atuação com
métodos próprios.
Por tal caminho, chegaríamos a considerar que o psicólogo, mesmo contratado por 40 horas semanais ou encaixado no lugar de técnico pelo
organograma, poderia proceder a seu trabalho tendo como regra de ouro os “cortes que fazem pensar”. Isto implica a atenção constante, como
dissemos de início, à ação dos pressupostos teóricos de nossa disciplina do conhecimento, antecipando-se a qualquer análise de contexto.
Implica também, mesmo que a partir de um lugar institucional restrito e restritivo (até porque, em qualquer instância e por definição, um lugar
institucional sempre o é), ter sempre em mente o conjunto das práticas em que se está inserido (ou, nas palavras de Bleger, a instituição como
um todo), bem como as tensões entre os grupos nessas práticas, na apropriação daquele que se configura seu objeto, aquilo em nome de que a
instituição se faz.
Com essas atenções e disciplinas constitutivas de seu trabalho cotidiano, o psicólogo poderá se dedicar a uma ação
junto à clientela (alunos de uma escola, pacientes de um Hospital-Dia, por exemplo), ou junto aos grupos que
produzem e reproduzem a relação básica daquela instituição (professores e alunos, ou atendentes e enfermeiros e
os pacientes). Ela (a ação do profissional em psicologia) será institucional se esta for a perspectiva do trabalho. E
não, como habitualmente se pensa, para carrear o título, dever-se-á trabalhar com todos os grupos, principalmente
com aqueles do grupo-gestor, detentores do poder de tomar decisões que atinjam a todos.
COMO, CONCRETAMENTE, FAZER ISSO?
Acompanhando a distribuição de tempos e espaços/atividades na rotina diária (ou semanal); quem faz o que,
como, quando. Acompanhando, ainda, as relações seus conflitos e tensões, incluindo aquelas de que faz parte o
próprio psicólogo. Não para desenvolver paranoias, autocentramentos e onipotências, mas para configurar o jogo
de expectativas criadas nas relações imediatas, como se responde a elas e a orientação que então se segue.
Com atenções assim aparentemente prosaicas, podemos nos dar conta do desenho dos procedimentos e
dispositivos discursivos em jogo. E, o mais importante: podemos nos implicar nele como pólos geradores de ação
sobre a ação de outros, como pólos de resistência à mudança, ou ao poder, simplesmente.
Afinal, é esse o norte para o exercício da psicologia
como instituição...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS