O Valor Social No Atendimento Psicológico Clínico

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DOI: 10.14295/idonline.v15i57.

2911 Artigo

O Valor Social no Atendimento Psicológico Clínico


Ivan Castilhos Lumertz1; Amanda Castro2

Resumo: O atendimento psicológico clínico por muito tempo foi considerado privilégio das classes
elitistas, e essa resistência ainda permeia em nossa sociedade, buscou-se então analisar o valor social
no atendimento psicológico clínico, principalmente na visão de acadêmicos ou recém-formados do
curso de psicologia, verificando o que compreendiam por valor social na psicoterapia. Trata-se de uma
pesquisa exploratória descritiva e a coleta de dados se deu por um questionário online pelo Google
Forms, havendo 4 itens fechados e 7 itens abertos, tendo participação de 52 respondentes, e o método
para análise dos dados foi por meio da estatística descritiva dos itens de caracterização e análise de
similitude dos itens da associação livre, utilizando o software IrAmUteQ. Nos itens abertos, também
foi realizado análise de conteúdo, entendendo o contexto do sentido das afirmações. Como resultados
é possível destacar que o atendimento à valor social é importante, ponto de favorabilidade apresentado
por 73,1% dos participantes, mas que essa prática pode ser uma desvalorização da profissão, visto que
existe um alto investimento de tempo e valor, ponto de desfavorabilidade apresentado por 23,1% dos
participantes e isso pode implicar em um exercício limitado que merece ser repensado pelos
profissionais da psicologia.

Palavras chaves: Valor Social; Psicologia; Atendimento Psicológico Clínico; Sociedade.

The Social Value in Clinical Psychological Care

Abstract: Clinical psychological care has long been considered a privilege of elitist classes, and this
resistance still permeates our society, so we sought to analyze the social value in clinical psychological
care, especially in the view of academics or recent graduates of the psychology course, verifying what
they understood by social value in psychotherapy. This is a descriptive exploratory research and data
collection was done through an online questionnaire through Google Forms, with 4 closed items and 7
open items, with the participation of 52 respondents, and the method for data analysis was through
statistics descriptive of the characterization items and similarity analysis of the items of the free
association, using the IrAmUteQ software. In the open items, content analysis was also carried out,
understanding the context of the meaning of the statements. As a result, it is possible to highlight that

1
Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc. [email protected];
2
Doutora em Psicologia (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil) – Orientadora.
[email protected].
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meeting social value is important, a point of favorability presented by 73.1% of the participants, but
that this practice can be a devaluation of the profession, since there is a high investment of time and
value, unfavorability presented by 23.1% of the participants and this may imply a limited exercise that
deserves to be rethought by professionals in psychology.

Keywords: Social Value; Psychology; Clinical Psychological Care; Society.

Introdução

Com uma visão capitalista e sendo essa uma forma de viver na sociedade que cada
vez fica mais impregnada na visão de mundo das pessoas, inclusive dos profissionais, com
base no que Martín-Baró (1996) apresenta em seu artigo, poderíamos dizer, e com razão, que
todas as profissões em nossa sociedade se encontram a serviço da ordem estabelecida, e que,
nesse sentido, nossa profissão, a psicologia, não seria uma exceção (MARTÍN-BARÓ, 1996).
Na atualidade o dinheiro pode ser compreendido como um meio para o alcance do
sucesso, ou como uma forma de demonstrar que você é bem-sucedido, o profissional que
cobra mais seria considerado aquele que tem mais sucesso. Esse dado é confirmado pela
pesquisa de Carneiro, Franco e Barbiéri (2016), que investigaram a representação de dinheiro
para universitários. Os universitários entrevistados trouxeram o dinheiro como uma forma de
sobrevivência, de oportunidades na vida, sendo que aquele que possui dinheiro é considerado
como destemido e ágil. Os participantes ainda mencionaram que, quem tem pouco dinheiro é
acomodado ou fracassado (CARNEIRO et al, 2016).
A responsabilidade em torno do ganho do dinheiro não pode recair sobre o indivíduo
exclusivamente. A vulnerabilidade social é decorrente da estrutura das sociedades capitalistas
que gratificam aquele que ganha mais e retira daquele que ganha menos. Desse modo, esse
sistema faz com que aqueles que fracassam tenham mais chance de continuarem fracassando
porque contam com menor recurso material e pouco apoio psicológico (SINGER, 2002).
Em relação ainda à vulnerabilidade social, importante destacar que entre as críticas
que são feitas com maior frequência aos psicólogos da América Central está a de que a
maioria dedica sua atenção predominante, quando não exclusiva, aos setores sociais mais
ricos, vistos como privilegiados (MARTÍN-BARÓ, 1996).
Essa crítica se estende à profissão em si, e também direcionada ao Brasil, tendo em
vista o contexto de desigualdade social vigente, bem como à formação de Psicologia, que
privilegia à prática clínica em detrimento ao atendimento social. Bock (1999) nos alerta que
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não perceber as limitações sociais de nosso trabalho ou mesmo, pior ainda, camuflar isto com
justificativas de que sofrimento psíquico é igual para todos (ricos e pobres) é algo que não se
pode mais aceitar, visto que não podemos mais falar de mundo psicológico sem considerar o
mundo social e cultural (BOCK, 1999).

Temos uma identidade profissional que reflete a prática importante que temos tido,
porém elitista, restrita, pouco diversificada e colada às necessidades e demandas de
setores dominantes de nossa sociedade. Uma minoria que, possuindo condições de
comprar nossos serviços, foi por muito tempo a única usuária deles. Queremos agora
dar a volta por cima e construir uma profissão identificada com as necessidades da
maioria da população brasileira, uma maioria que sofre, dadas as condições de vida
que possui; uma maioria que luta, dadas as condições de vida que possui. Identificar-
se com as necessidades de nosso povo e acompanhar o movimento destas
necessidades, sendo capazes de construirmos, sempre e permanentemente, respostas
técnicas e científicas. É este o nosso desafio (BOCK, 1999, p. 328).

Por ser uma ideia muito impregnada em nossa visão de mundo, atrelamos muito o
profissionalismo ao dinheiro, o quanto se terá de retorno pelo serviço prestado, nos fazendo
pensar que o sucesso profissional será medido pelo valor em dinheiro recebido, sem levar em
consideração todos os outros fatores que culminam no alcance do sucesso. O êxito técnico
refere-se, sem dúvida, a um sucesso, mas um sucesso em relação a um "como" fazer. De fato,
o sujeito tem um alto investimento para se constituir como profissional da psicologia, porém
isso não será determinante para a qualidade do serviço desenvolvido e automaticamente o
valor a ele intitulado, seja de qualidade ou de pagamento. O exercício da subjetividade, em
que o profissional se dispõe dialogicamente, não se dá como reiteração do que já é, como
mesmice, mas como trocas e mudanças. A relação é, neste caso, intersubjetiva, em que o
profissional, que já é técnico, já se vale da ciência e das tecnologias como a tradição da
técnica, reage criticamente a essa tradição, pois se modifica como sujeito e modifica sua ação
pelo que recebe do outro com quem interage, por isso é muito significativo a reflexão sobre
sucesso versos valores (SCHRAIBER, 2011).
Partindo desse pressuposto, poderíamos dizer que a visão está um tanto distorcida e
que os profissionais precisariam se conscientizar melhor frente a essa situação que enfrentam,
pois como apresenta Martín-Baró (1996) a conscientização não consiste, portanto, em uma
simples mudança de opinião sobre a realidade, em uma mudança da subjetividade individual
que deixe intacta a situação objetiva; a conscientização supõe uma mudança das pessoas no
processo de mudar sua relação com o meio ambiente e, sobretudo, com os demais (MARTÍN-
BARÓ, 1996).

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Não há saber verdadeiro que não seja essencialmente vinculado com um saber
transformador sobre a realidade, mas não há saber transformador da realidade que
não envolva uma mudança de relações entre os seres humanos (MARTÍN-BARÓ,
1996, p. 17).

A relação de compromisso da psicologia com a sociedade precisa passar por uma


ação transformadora da realidade, levando em consideração o que se busca oferecer perante
uma realidade social onde o valor cobrado acaba sendo um determinante no serviço prestado,
pois sabemos que a psicologia tem o potencial de transformação, como salienta Bock (1999)
quando diz que quer uma psicologia que se metamorfoseie o tempo todo, acompanhando as
mudanças da realidade social de nosso país. Não podemos querer uma Psicologia que seja a
cristalização de uma mesmice. Se entendermos que a identidade é movimento, é metamorfose,
devemos entender que a identidade profissional nunca estará pronta; nunca terá uma
definição. Estará sempre acompanhando o movimento da realidade, sendo necessária a
conscientização (BOCK, 1999).
Para viver a realidade é preciso bravura e estar disposto a desacomodar para buscar
melhorias, sendo assim, a conscientização está evidentemente ligada à utopia. Quanto mais
conscientizados nos tornamos, mais capacitados estamos para sermos anunciadores e
denunciadores, isso se dá pelo compromisso de transformação que assumimos perante a
sociedade e realidade. Mas esta posição de transformação deve ser permanente: a partir do
momento em que denunciamos uma estrutura desumanizante sem nos comprometermos com a
realidade, a partir do momento em que chegamos à conscientização do projeto, se deixarmos
de ser utópicos nos burocratizamos e estagnamos (FREIRE, 1979).

A conscientização é isto: tomar posse da realidade; por esta razão, e por causa da
radicação utópica que a informa, é um afastamento da realidade. A conscientização
produz a desmitologização. É evidente e impressionante, mas os opressores jamais
poderão provocar a conscientização para a libertação: como desmitologizar, se eu
oprimo? Ao contrário, porque sou opressor, tenho a tendência a mistificar a
realidade que se dá à captação dos oprimidos, para os quais a captação é feita de
maneira mística e não crítica. O trabalho humanizante não poderá ser outro senão o
trabalho da desmitificação. Por isso mesmo a conscientização é o olhar mais crítico
possível da realidade, que a “desvela” para conhecê-la e para conhecer os mitos que
enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante (FREIRE, 1979,
p. 16).

No momento em que a conscientização começa a acontecer, a estrutura da sociedade


também se reconfigura, permitindo assim que as pessoas estabeleçam relações mais abertas e
com mais clareza. Tornar a sociedade mais unida, sem que as classes econômicas ou algum
tipo de poder interfira no bem comum e no viver bem, visto que se tem os saberes necessários

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para que isso de fato aconteça. Existem as chamadas sociedades abertas, que são aquelas que
possuem uma relação mais direta entre elite e população em geral, o contexto é levado em
conta na efetivação das ações, existe aí uma maior autoconfiança de seu povo, bem como
fomento de espaços para uma participação ajustada no diálogo. Como resultado disso, é
possível observar uma população mais dialógica, o povo participa de seu processo histórico, e
que, de fato, volta-se para uma compreensão e transformação mais profunda de suas questões
(GÓIS, 2005).
Em direção às sociedades abertas, o trabalho profissional do psicólogo deve ser
definido em função das circunstâncias concretas da população a que deve atender.
Independentemente de onde estiver atuando, o profissional deve levar muito em conta a
maneira como está atuando e para quem está disponibilizado a qualidade do serviço. Buscar
reconhecimento não apenas pelo valor, propriamente dito, recebido em um atendimento, mas
sim o grande e real significado na vida do paciente. Martín-Baró (1996) já deixava claro que
aceitar a conscientização como horizonte não exige tanto mudar o campo de trabalho, mas a
perspectiva teórica e prática a partir da qual se trabalha (MARTÍN-BARÓ, 1996).
Atender quem pode pagar caro pelo serviço prestado seria muito fácil, mas seria
como se o psicólogo só se importasse com a vida de quem pode pagar. Precisamos nos tornar
capazes de criar Psicologia, adaptando nossos saberes à demanda e à realidade que nos é
apresentada. Assumir um compromisso social em nossa profissão é estar voltado para uma
intervenção crítica e transformadora de nossas condições de vida. É estar comprometido com
a crítica desta realidade a partir da perspectiva de nossa ciência e de nossa profissão (BOCK,
1999).
Martín-Baró (1996) apresenta a colocação de Whitford (1985, p. 14) onde diz que o
imperativo de examinar não só o que somos, mas o que poderíamos ter sido, e sobretudo, o
que deveríamos ser frente às necessidades de nossos povos, independentemente de contarmos
ou não com modelos para isso (MARTÍN-BARÓ, 1996).
Nesse sentido, que psicólogos queremos ser? Psicólogos elitistas? Um grande fator
determinante nesse desequilíbrio, de valor cobrado versos classes econômicas usuárias do
serviço de psicologia clínica, é que ao longo da formação se tem toda uma estrutura para
passar os saberes teóricos e práticos do profissional da psicologia e se deixa a desejar o
assunto “honorário”. Isso pode ser confirmado pela pesquisa realizada por Gross e Teodoro
(2009), onde os resultados apontam para os déficits na formação acadêmica e profissional
frente ao tema “honorários na prática clínica” e consequente, despreparo referente a realidade

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no início de sua vida profissional, pois além das dificuldades naturais de um início de carreira,
a ausência de discussão sobre este tema na graduação, prejudica a entrada do profissional no
mercado de trabalho (GROSS; TEODORO, 2009).
O investimento de tempo e também financeiro na formação profissional é uma
preocupação sempre muito presente, já que se espera ter esse retorno no momento em que a
atuação do profissional aconteça. Frente a isso pode ocorrer um equívoco em reconhecimento,
valorização e consequentemente retorno financeiro, equívoco esse que poderia ser melhor
sanado desde o momento da graduação, pois como nos apresenta Zimermann (1999) diversos
são os aspectos que compõe o relacionamento entre psicoterapeuta e o paciente, dentre eles
está à cobrança de honorários. Entretanto, este ainda é um tema negligenciado, minimizado
ou evitado ao longo da formação de um profissional (DE OLIVEIRA; MALGARIN, 2013).
Sendo assim, são diversos os fatores a serem observados para a atuação de um
profissional da psicologia, visto que o mesmo estará recebendo pacientes de nossa sociedade,
seja na prática clínica, seja em projetos sociais. O que gostaria de destacar, é a real
importância que se deve ter com aquele que irá em busca do serviço prestado e também o
compromisso em atuar com responsabilidade de fazer a diferença e não apenas uma troca de
serviço, pois a psicologia tem como foco contribuir para o desenvolvimento da área como
ciência e profissão, na direção das demandas da sociedade, promovendo saúde e qualidade de
vida de cada sujeito e de todos os cidadãos e instituições, esse é o juramento feito no ato de
receber o título de profissional da psicologia e talvez seja algo a ser relembrado!

Metodologia

De acordo com os objetivos gerais, segundo Selltiz et al. (1967), citado no livro
“Métodos e técnicas de pesquisa social”, as pesquisas são divididas em três grandes grupos,
nos quais elas podem ser classificadas como exploratórias, descritivas ou explicativas. Esta
pesquisa teve como objetivo, compreender a percepção de acadêmicos de psicologia acerca do
atendimento psicológico à valor social, sendo assim foi uma pesquisa exploratória descritiva
(GIL, 2008, p. 27).
A coleta de dados se deu a partir de um questionário que foi auto aplicado online
pela plataforma Google Forms e foi disponibilizado pela rede social Facebook. Apesar de que
o questionário esteve disponível apenas no Facebook, pode ter acontecido a transmissão via
Bola de Neve. Nesse tipo específico de amostragem não é possível determinar a probabilidade

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de seleção de cada participante na pesquisa, justamente porque o link do questionário pode ter
sido repassado de forma muito fácil, mas torna-se útil para estudar determinados grupos
difíceis de serem acessados. (VINUTO, 2014).
Esse questionário teve como público-alvo estudantes de psicologia a partir de 18
anos e que estivessem cursando o sétimo semestre, pelo menos. Foram excluídos sujeitos que
não possuíam a rede social Facebook, motivo que inviabilizou o acesso ao questionário, que
estivessem cursando até a sexta fase de psicologia e menores de 18 anos.
Desse modo, o questionário contou com 4 itens fechados e 7 itens abertos e teve
duração aproximada de 10 minutos. Foram abordados os temas relacionados a ‘identificação’
o que os acadêmicos de psicologia entendiam por valor social em psicoterapia, o que levaria o
acadêmico a atender em psicologia por um valor social e a relação que os acadêmicos de
psicologia fazem entre o valor de sua formação e o valor cobrado em seus honorários.
Levando em consideração o tempo estabelecido para a coleta de dados pelo programa,
participaram da pesquisa 52 respondentes do questionário.
Essa pesquisa foi analisada por um comitê de ética para que pudesse ser aprovada, já
que coletaria informações diretamente com pessoas. Com relação aos aspectos éticos da
pesquisa, é importante ressaltar que o Termo de Consentimento Livre (TCL) constou na
página inicial do questionário, onde estavam presentes também os benefícios e riscos da
pesquisa, a informação de que o participante poderia desistir da pesquisa a qualquer momento.
Esta pesquisa não acarretou em nenhuma cobrança monetária dos participantes, bem como
não ofereceu nenhum recurso financeiro em troca da participação. Entretanto, houve
benefícios subjetivos em participar, já que além de conhecimento, essa pesquisa também
estimulou o enfoque a uma conscientização social na atuação da psicologia. A pesquisa não
implicou em riscos emocionais, mas pelo caráter interacional, pode implicar em desconforto
no que tange à identificação dos participantes. Foi assegurado o sigilo dos dados, tendo em
vista ausência de solicitação de identificação no formulário.
O método para análise dos dados foi por meio da estatística descritiva dos itens de
caracterização e análise de similitude dos itens da associação livre. A análise de similitude é
uma indicadora da estrutura do conjunto das palavras evocadas (CAMARGO e JUSTO,
2018). Para a realização desses métodos de análise de dados foi utilizado o software
IrAmUteQ. Nos itens abertos, também foi realizado análise de conteúdo, entendendo o
contexto do sentido das afirmações.

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A formação de um profissional da psicologia é muito ampla e abrange muitos temas,
que por sua vez não são inteiramente compreendidos ou bem esclarecidos, sendo assim,
através dessa breve pesquisa, procurou-se apresentar uma conclusão mais específica a respeito
do atendimento psicológico clínico em relação à valor social no honorário.

Discussão

O questionário de pesquisa foi elaborado e através do Formulário Google, foi


disponibilizado para que os participantes, que se enquadravam nos critérios de inclusão,
respondessem as questões. Foi um formulário com questões abertas e fechadas e que
reservava a identidade de cada colaborador, permitindo que cada um pudesse ser o mais
autêntico possível em sua opinião, expondo seu entendimento do assunto tratado, livre de
qualquer julgamento a respeito da sua forma de pensar e manifestar.
Foram obtidas 52 participações, ou seja, 52 pessoas responderam o formulário, e
desse total de participantes, 44 (84,6%) foram do sexo feminino e 8 (15,4%) do sexo
masculino. Essa prevalência de mulheres na psicologia chama a atenção, segundo Figuerêdo e
Cruz (2017), em uma pesquisa realizada, interpretaram que a profissão foi associada ao
cuidado, típica função atribuída ao feminino. No que concerne à visão da Psicologia como
uma profissão ‘feminina’, sabemos que, na sociedade brasileira, determinadas profissões
foram construídas culturalmente ligadas ao cuidado, a exemplo da enfermagem, serviço social
e psicologia, como se tal procedimento e assistência fossem atribuição e função típica e
exclusiva das mulheres. Importante ressaltar que é escasso o material de pesquisa sobre essa
questão, porém, isso também foi questionado pelos (as) participantes, que demonstraram
criticidade na reflexão sobre o tema, o que expressa os tensionamentos e as perspectivas de
mudanças envolvidas na formação inicial das novas gerações de psicólogos (as)
(FIGUERÊDO, CRUZ, 2017).
É interessante destacar que no item idade foi muito vasto o intervalo, tendo
participantes com 21 anos até outros com 62 anos. A maioria (9 pessoas) apresentou 21 anos
(17,3%), 7 pessoas apresentaram 22 anos (13,5%), 5 pessoas tinham 23 anos (9,6%), 5
pessoas com 25 anos (9,6%), 4 pessoas com 29 anos (7,7%), 4 pessoas com 30 anos (7,7%) e
as outras foram entre 24 e 62 anos. Chama a atenção que pessoas de meia-idade ou mais estão
interessadas em uma formação acadêmica, e isso Amorim Silva e Neves (2017) nos
apresentam que na meia-idade, a mudança de carreira pode estar associada ao processo de
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desenvolvimento do indivíduo, representando o encontro com novos significados a trajetória
de vida. O estranhamento de si e o sentimento de não ter percebido o tempo passar atravessam
o sujeito que transita pela segunda metade da vida. Este momento é marcado por
"inquietações" relacionadas ao processo de desenvolvimento interno que se confronta com as
conquistas alcançadas em fases anteriores. A vida vai sendo sonhada e construída de acordo
com a necessidade individual, só assim ela vai tendo sentido para cada pessoa, e por vezes, os
sonhos não são possíveis no início da vida, é preciso planejar e se organizar para conseguir
conquistar. O ingresso na universidade após os 40 anos é uma oportunidade de vivência de
rica experiência simbólica de passagem e renascimento para outro lugar de posicionamento
existencial (AMORIM SILVA, NEVES, 2017).
Dos 52 participantes, 15 (28,8%) estavam cursando a 8ª fase do curso de psicologia,
11 (21,2 a 7ª fase, 8 (15,4%) já estavam formados a mais de um ano, 7 (13,5%) estavam
cursando a 10ª fase, 6 (11,5%) cursando a 9ª fase e 5 (9,6%) se formaram neste último ano.
A Instituição de Ensino ao longo da formação foi um dos questionamentos, com o
intuito de saber como cada local abordava essa temática, sendo assim, apareceu que 35
(67,3%) dos participantes estudam ou estudaram na UNESC – Criciúma – SC, 9 (17,3%)
estudam ou estudaram na ULBRA – Campus Torres – RS, 3 (5,8) estudam ou estudaram na
UNISUL – Tubarão – SC, 2 (3,9%) estudam ou estudaram na ESUCRI – Criciúma – SC, 1
(1,9%) estuda ou estudou na FACOS – Osório – RS, 1 (1,9%) estuda ou estudou na
UNICNEC – Osório – RS e 1 (1,9%) estuda ou estudou no Centro Universitário de Jaguariúna
– SP.
A abordagem também foi o assunto de uma das questões, onde busca-se contribuir
com a temática, visto que independente da abordagem esse assunto é muito importante na
atuação profissional, sendo assim 14 (26,9%) dos participantes tem interesse na abordagem
Psicanalítica, 14 (26,9%) dos participantes tem interesse na abordagem Teoria Cognitivo
Comportamental, 9 (17,3%) dos participantes tem interesse na abordagem do Psicodrama, 7
(13,5%) dos participantes tem interesse na abordagem de Reich, 4 (7,8%) dos participantes
tem interesse na abordagem Sistêmica, os demais se dividiram entre Existencialismo, Análise
Transacional, Social e Analítica. De acordo com a pesquisa realizada por Bastos e Gomide
(1989), é possível identificar que a fragmentação da Psicologia, enquanto área de
conhecimento, reflete-se, inevitavelmente, na atuação profissional. Com os dados
apresentados é possível observar a preferência da atuação com algumas abordagens em todo o
território Nacional, porém essa escolha está muito mais ligada a preferência pessoal de

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atuação e obtenção de um respaldo teórico com uma abordagem já procurada por
identificação, do que alguma possível influência de práticas adotadas que interfira no valor
cobrado na sessão terapêutica (BASTOS, GOMIDE, 1989).
A respeito do questionamento sobre o valor que pretendem cobrar por cada sessão no
atendimento clínico, 26 (50,0%) dos participantes indicaram que cobram ou cobrariam entre
R$ 0,00 e R$100,00, 23 (44,2%) pessoas participantes indicaram que cobram ou cobrariam
entre R$ 101,00 e R$ 150,00 e 3 (5,8%) pessoas participantes indicaram que cobram ou
cobrariam entre R$ 151,00 e R$ 200,00. Foi questionado de forma geral, pois muitos seriam
os tipos de atendimento psicológico, inclusive existe uma tabela disponibilizada pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) que segrega esses atendimentos, inclusive com valores
sugestivos, levando em consideração um mínimo, médio e máximo, conforme o quadro a
seguir:

Figura 1- Retirada do site do Conselho Federal de Psicologia

Essa é apenas uma parte da tabela, e fica muito claro que o valor mínimo (limite
inferior) é maior do que o valor que 50% dos participantes responderam que cobram ou
cobrariam na sessão terapêutica. Levando em consideração o custo de vida das pessoas em
cada região, fica muito difícil atribuir esses valores sugeridos, o que pode reforçar a ideia de
que a psicologia é elitista.
Outra questão era se ao longo da formação na graduação já havia recebido algum
tipo de instrução ou esclarecimento a respeito do honorário a ser cobrado e suas práticas, 28
(53,8%) dos respondentes assinalaram que ‘sim’, que já haviam recebido algum tipo de

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orientação, enquanto 24 (46,2%) responderam que ‘não’ haviam recebido esse tipo de
informação. O processo de definição de honorários dentro da prática clínica mostra-se uma
temática de relevante importância para o processo de desenvolvimento da formação de um
psicoterapeuta, visto que uma boa parte dos participantes da pesquisa afirmaram não ter
conhecimento do assunto em sua formação acadêmica, trazendo como acentuada a ideia de
rever o currículo do curso de psicologia.
De acordo com a pesquisa desenvolvida por De Oliveira e Malgarim (2013), o valor
monetário, ao ser introduzido na psicoterapia, pode passar a ser o elemento integrante do
manejo da transferência e permite que as questões unidas a esse significante possam ser
abordadas durante o processo terapêutico. Durante o processo de estágio em clínicas-escolas,
geralmente adotam a gratuidade do atendimento psicoterápico como prática usual, quando
existe a cobrança de honorários, o valor é simbólico e o pagamento é efetuado para
funcionários. Em qualquer das situações o estagiário não vivencia ou passa somente por uma
etapa da cobrança, não conseguindo integrar esta premissa como parte integrante do
aprendizado. Ressalta-se a necessidade de refletir sobre o assunto, principalmente no meio
acadêmico para que se integre o tema na formação do psicólogo, para que o profissional em
formação possa compreender a importância da cobrança de honorários pelas sessões
realizadas e para a autovalorização de seu trabalho, por ter prestado um serviço (DE
OLIVEIRA, MALGARIM, 2013).
Quando questionados sobre o que pensam sobre o atendimento clínico à preço social
a maioria dos participantes (38 respostas) trouxeram favorabilidade baseada na ideia de que
durante a graduação tiveram dificuldades financeiras para fazer a psicoterapia, bem como à
ideia do compromisso social da profissão, que pretende abranger não apenas a elite, mas toda
a população. Segue trecho de resposta que exemplifica o exposto: “Algo muito importante
para pessoas que necessitam de atendimento clínico e não tem condições de arcar com as
despesas e desfrutar de um atendimento com profissional qualificado e que vai de encontro
com a humanização em pensar em todas condições financeiras das pessoas.”
Levando em consideração a pesquisa realizada por Nunes e Souza (2018), os
acadêmicos de Psicologia, contribuintes dos dados da pesquisa, concordam sobre a
importância do “olhar para si”, colocando-se no lugar de paciente, tendo suas demandas
acolhidas e assim acolher as do outro, porém o estudo identificou que 84,4% dos estudantes
não realizaram psicoterapia pessoal em algum momento da graduação. A adoção pessoal de
psicoterapia é considerada cara por 71,1% da amostra e 95,6% afirmaram que fariam uso do

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recurso caso fosse gratuito e 88,9% consideram que seria adequado para sua formação. O
serviço de psicoterapia dentro da graduação seria de considerável relevância, devido às
dificuldades financeiras e as realidades psíquicas enfrentadas (NUNES, SOUZA, 2018).
O atendimento à valor social também foi apresentado como forma de propiciar o
ingresso do psicólogo clínico no mercado: “Acredito que seja uma iniciativa muito
interessante para os dois lados, a quem tem necessidade de atendimento psicológico e para o
psicólogo que dessa forma pode iniciar sua carreira e proporcionar esse atendimento a muito
mais pessoas”.
Por muito tempo a área clínica, independente da instituição formadora de origem,
caracteriza-se pela atuação em consultórios particulares, como trabalhos de tempo parcial
onde a psicoterapia é a atividade largamente dominante, predominando o atendimento a
pessoas adultas de classe média. A não construção de modelos de atuação mais apropriados à
população do seu país e às conjunturas de crise que parecem permanentes pode ser um
agravante nesse avanço de atendimento (BASTOS, 1990). Entretanto, apesar da
favorabilidade ao atendimento à valor social, há respostas que chamam atenção para infração
ética no uso do preço social como forma de marketing: “Acredito ser uma forma de alcançar
aqueles que, muitas vezes, não têm condições financeiras de ter atendimento psicológico. No
entanto, deve-se ter cuidado para que o preço social não se torne uma forma de propaganda
para atrair pacientes, como o próprio Código de Ética nos orienta.” Corroborando com o que
o Código de Ética do Psicólogo apresenta, no Artigo 20 diz que o psicólogo, ao promover
publicamente seus serviços, por quaisquer meios, individual ou coletivamente não utilizará o
preço do serviço como forma de propaganda, sendo assim o valor social não deve ser usado
para benefício de aderir clientela e sim uma preocupação com a realidade financeira brasileira
(CFP, 2005).
Em relação à desfavorabilidade, 12 participantes responderam discordar do valor
social no atendimento psicológico. Os participantes apontam a desvalorização da profissão
decorrente da prática, bem como a necessidade de valorização do tempo e dinheiro investidos
durante a formação: “Desvaloriza a profissão, a formação, está abaixo do piso estipulado
pelo CFP. Há outras formas de desenvolver trabalhos acessíveis que não envolvam
psicoterapia.” Essa prática pode carregar uma resistência de aceitação, talvez este não seja um
problema específico da psicologia já que reina no Brasil, uma desordem absoluta em termos
de remuneração da força de trabalho, com desequilíbrios gritantes tanto em nível regional
quanto em relação ao valor da remuneração, como função da qualificação do profissional. São

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distorções históricas que têm se acentuado absurdamente nos últimos anos em função da
política econômica que tem sob controle, apenas, os salários. Centenas de psicólogos
continuam sendo formados para prestar o mesmo tipo de serviço que caracteriza a sua atuação
desde a regulamentação da profissão, num contexto socioeconômico de crise, que reduz
drasticamente a demanda e oportunidades de emprego. Talvez, não tenhamos claro, sequer,
que caminhos alternativos devem ser percorridos, que atividades inovadoras devem ser
desenvolvidas, enfim, que modelo novo de profissional deve ser oferecido à sociedade,
confundindo assim uma nova prática com a desvalorização da profissão (BASTOS, 1990).
Há também posicionamentos de desfavorabilidade, tendo a compreensão que
atendem à valor social psicólogos que tem medo de não ter pacientes e que os pacientes em
situação de vulnerabilidade social teriam acesso à psicoterapia via município ou projetos:
“Tenho visto que a maioria dos psicólogos tem cobrado preço social por medo de não terem
clientes/pacientes, por não acreditarem no próprio trabalho e/ou por não entenderem a
psicologia como uma profissão digna de reconhecimento. Penso também que as pessoas que
não têm acesso ao atendimento particular podem recorrer as universidades ou postos de
saúde”.
Duas respostas com um posicionamento neutro, contextualizando que o atendimento
à valor social deve considerar a realidade do psicoterapeuta e do cliente: “É necessário,
embora seja pouco, outras vezes mais (dependendo do público). Mas é uma questão
importante, afinal, todos os profissionais dependem de seu trabalho para o seu sustento
pessoal. É uma recompensa por todo trabalho e estudo realizado, e assim como a terapia é
importante para o paciente, os honorários são de certa forma importantes na relação de
ambos.”
Juntando essas duas informações, estamos diante de um outro fator inseparável que
impõe limites: a incapacidade da categoria para gerar esses modelos alternativos com o
necessário impacto. A carência de profissionais dedicados à pesquisa, a formação acadêmica
em larga medida dissociada da investigação, têm como consequências não só a precária
qualidade dos serviços prestados, mas a não construção de modelos de atuação mais
apropriados à população do seu país e às circunstâncias de crise que parecem permanentes.
Salientando a distorção de pensamentos e a falta de conscientização, onde cobrar um valor
social não é desvalorizar a profissão e sim apresentar um olhar voltado a realidade financeira
da população, visto que o intuito de um profissional da psicologia é oferecer melhor qualidade
de vida à população através de uma boa qualidade da saúde mental (BASTOS, 1990).

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De forma subsequente os participantes foram convidados a associarem 5 palavras
que vinham à mente quando pensavam em atendimento à valor social e seguiu-se com a
análise de similitude, conforme figura 2.

Figura 2 - Análise de similitude gerada pelo programa IRaMuTeQ 0.6.

Em relação ao termo indutor valor social foram evocadas 250 palavras, com 69
contextos de sentido diferentes. Para análise de similitude foram contabilizadas palavras com
no mínimo duas ocorrências. Na figura acima consta a árvore de ligações entre as palavras
(coocorrências). As palavras cujo círculo estão maiores apresentam um maior número de
conexões e frequência.
Assim, quando pensam em valor social os participantes se remetem à acolhimento,
que se encontra vinculado à respeito, intervenção, escuta, empatia, saúde e ajuda. Portanto, o
valor social parece como uma forma de intervenção, escuta e ajuda do profissional de
psicologia em respeito àqueles que não dispõem de recursos financeiros, mas que igualmente
almeja o cuidado da saúde. Sendo essa saúde associada à construção, autoconhecimento e
trabalho.
A empatia, na condição de se colocar no lugar do paciente sem recursos financeiros
parece vinculada à escuta qualificada, responsabilidade, especialização e acolhimento.
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Estando o acolhimento associado ao vínculo e à escuta. Nesse sentido, o psicólogo deve se
colocar no lugar do paciente, apresentando responsabilidade social, mas os participantes
destacam também a importância de se considerar a especialização e terapia do psicólogo
como um investimento financeiro que precisa ser avaliado na hora de deliberar sobre valor
social.
O acolhimento, por sua vez, parece relacionado à ajuda, está à percepção, enquanto a
percepção parece vinculada ao autocuidado e o autocuidado ao consultório. Portanto o valor
social surge como uma forma de oferecer ajuda e estimular o autocuidado no consultório, em
vista da busca por um processo autônomo na manutenção da saúde mental. O que se reforça
ao percebermos que a palavra ‘cuidado’ parece se vincular à autoconhecimento e
atendimento.
Por fim, a escuta parece relacionada à ética, sigilo e atenção, ou seja, para os
participantes, mesmo com a cobrança do valor social, todos os cuidados éticos devem ser
preservados, pois mantém a qualidade do atendimento.
Toda essa representatividade do Valor Social no atendimento psicológico clínico,
expresso por essas palavras, retrata a grandiosidade que a Psicologia Social pode oferecer
dentro da profissão. Desmistifica a ideia atrelada de qualidade de serviço versos valor
econômico cobrado, pelo contrário, reforça o que expõe a pesquisa de Bock et al (2007), o
psicólogo social não seria somente aquele que trabalharia com problemas ou situações de
caráter social ou grupal. Um psicólogo clínico (em atendimento individual, em consultório
particular), seria também um psicólogo social. Para isso, bastaria que ele procedesse em seu
trabalho ao exercício de contextualização do seu cliente no seu momento social e histórico.
Sendo assim, podemos ver a grande significância da Psicologia Social dentro da Psicologia.
Com o intuito de produzir uma Psicologia Social que reconhecesse o caráter histórico
dos fenômenos sociais e humanos e a pessoa como sujeito ativo e histórico, a Prof. Sílvia
Lane, batalhou de forma incansavelmente para poder contribuir e apresentar uma nova
perspectiva de Psicologia Social, seu propósito maior era desenvolver uma psicologia que
contribua com a transformação da sociedade. Embora o caráter social esteja muito ligado ao
financeiro, precisamos entender que vai além, pois o olhar social é o olhar que busca
compreender a realidade da sociedade nas múltiplas faces. Diante do reconhecimento de que a
Psicologia se desenvolveu quase sempre sem atentar para as necessidades, virtudes e
problemas vividos pela maioria da população brasileira, o contexto a que se deveria dar
atenção é o contexto econômico, histórico e social onde vivem os brasileiros. Neste sentido é

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que a expressão “toda a psicologia é social” ganha uma possibilidade de compreensão fértil
para o projeto de construção de uma psicologia social efetivamente adequada aos povos
brasileiro e latino-americano (BOCK, et al, 2007).
Entre as principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais, na pesquisa
de Ferreira (2010), a América Latina, tem aderido cada vez mais à Psicologia Social Crítica,
que se preocupa basicamente com os problemas sociais, procurando assim desenvolver um
saber autônomo e capaz de compreender tais fenômenos (FERREIRA, 2010).

Se assumirmos que a transformação social só se dará eticamente, quem mais do que


nós, psicólogos, tem essa arma na mão? É exatamente esse pensar ético que deve
estar presente onde o psicólogo estiver atuando. (Lane, 2000). (BOCK, et al, 2007,
p. 53).

Acolhimento, empatia, qualidade de serviço, mudança, entre tantas outras palavras


de preocupação com o bem-estar do outro que o valor social pode alcançar. Coerente com a
visão de que o conhecimento e a intenção prática em relação ao objeto não se separam, Sílvia
Lane nos deixou desafios: avançar na pesquisa sobre a maneira como os indivíduos se
implicam ou não com sua própria realidade, isso é compromisso ético de quem se dedica à
Psicologia (BOCK, et al, 2007).

Considerações Finais

Usando o próprio conhecimento que a Psicologia tenta, cada vez de forma mais clara
e com mais propriedade, apresentar no mundo científico, destaca-se a importância do
compreender para poder evoluir, poder ampliar, melhorar e aperfeiçoar através das
informações a maneira de atuação profissional ou comportamento pessoal.
Com a pesquisa realizada, foi possível alcançar os objetivos propostos, e isso gera
ainda mais possibilidades de pesquisa, visto que ao longo da produção encontrou-se uma certa
dificuldade em acessar materiais com essa temática, reforçando que é um campo da psicologia
que merece atenção e que precisa ser explorado.
A compreensão de valor social, vai muito além do valor cobrado em honorário ou de
valorização/desvalorização da profissão, essa representação afeta os profissionais em atuação
e mesmo os que ainda estão em formação, que consequentemente, levam essa ideia no
momento que iniciam a vida profissional. Portanto, novas pesquisas são necessárias acerca da
formação do futuro psicólogo e sua relação com a cobrança dos honorários, bem como
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intervenções durante a graduação, visando ampliar os conhecimentos das realidades sociais
diante da atuação profissional futura.
Nesse sentido é importante destacar e salientar que a Psicologia tem um
compromisso com a sociedade, contribuir com o seu desenvolvimento e aumentar a qualidade
de vida através da saúde mental. Sendo assim, torna-se imprescindível que tenha-se esse olhar
para a realidade das pessoas de acordo com a sua cidade, localidade, região, cultura, classe
econômica, desenvolvimento educacional, ou seja, as peculiaridades que envolvem cada ser
humano ou grupo.
Necessário e de grande relevância pontuar que o profissional da psicologia precisa
ter a conscientização de que, quando se coloca a serviço dessa profissão, precisa estar
disposto a olhar o todo, ver o sujeito em sua integralidade para que possa oferecer um serviço
de qualidade e com competência, fazendo com que o reconhecimento apareça através da
eficácia, do resultado e não apenas do honorário. Desta forma, a sua valorização e também da
profissão serão ampliadas.

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE APLICAÇÃO

ITENS DE IDENTIFICAÇÃO:
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Idade: ____ anos
Fase do curso:
( ) 7ª fase ( ) 8ª fase ( )9ª fase ( )10ª fase ( )formado (a) neste último ano ( )
formado (a) a mais de 1 ano
Instituição de Ensino: _______________________________________________
(Indique o nome e de que estado é)

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Abordagem de interesse:
_________________________________

QUESTÕES:
Questão 1) Escreva as 5 palavras que vem à cabeça quando pensa em “psicologia
clínica”.
1_________________
2_________________
3_________________
4_________________
5_________________

Questão 2) Escreva as 5 palavras que vem à cabeça quando pensa em


“honorários na clínica”.
1_________________ 2_________________ 3_________________
4_________________ 5_________________
Questão 3) Qual o valor que pretende cobrar na sessão de psicologia clínica?
( ) 0,00 – 100,00 ( ) 101,00 – 150,00 ( ) 151,00 – 200,00 ( ) 201,00 – 250,00 ( ) acima de 251,00.
Questão 4) Qual seria sua opinião sobre o atendimento psicológico clínico a preço
social? ____________________________________________________________
Questão 5) Durante a formação você obteve esclarecimentos ou algum tipo de
instrução a respeito do honorário a ser cobrado e suas práticas? ( ) sim ( ) não
Questão 6) O que destaca como importante em relação a esse tema: Honorário
no Mercado de Trabalho do Psicólogo (a)? ____________________________________

Como citar este artigo (Formato ABNT):

LUMERTZ, Ivan Castilhos; CASTRO, Amanda. O Valor Social no Atendimento Psicológico


Clínico. Id on Line Rev. Psic., Outubro/2021, vol.15, n.57, p. 628-647, ISSN: 1981-1179.

Recebido: 21/12/2020;
Aceito 26/10/2021;
Publicado em: 31/10/2021.

646 Id on Line Rev. Psic. V.15, N. 57, p. 628-646, Outubro/2021 - Multidisciplinar. ISSN 1981-1179
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