Slides de Todas As Aulas Da Disciplina
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CONSTITUCIONAL
2023-1
Prof. Me. Juan Carlos Matarazzo Sanchez
Para iniciarmos nossos estudos na Teoria Geral do Direito Constitucional, vamos
analisar as possíveis acepções da palavra “constituição”, as suas classificações e
elementos, bem como sua estrutura, preâmbulo e Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), além dos princípios fundamentais que veicula.
Estudaremos os fundamentos, objetivos e princípios da República Federativa do
Brasil e os métodos, limites e princípios da interpretação das normas
constitucionais.
Quanto à forma:
• Escrita: Constituição elaborada em determinado momento da história
por órgão competente para tanto e codificada e sistematizada em um
único texto.
• Não escrita: é a Constituição não formalizada, composta pelos
costumes, pela jurisprudência, convenções e textos constitucionais
esparsos e tem como principal exemplo a Constituição Inglesa.
Quanto à alterabilidade ou mutabilidade:
• Imutável: não admite qualquer alteração em seu texto.
• Rígida: a Constituição pode ser alterada, mas, para tanto, é
necessário observar um procedimento mais rigoroso do que aquele
utilizado para a edição das leis.
• Flexível: admite alterações em seu texto pelo mesmo processo
utilizado para a criação das leis.
• Semirrígida ou semiflexível: ela é composta por uma parte rígida e
outra flexível.
• Princípios de interpretação:
Kelsen (2009, p. 316-321), por sua vez, entende que, para ser
Estado, a ordem jurídica demanda organização no sentido estrito
do termo, com o mínimo de centralização, que é o que o distingue
da ordem primitiva pré-estadual e da internacional. A partir disso,
o autor entende ser possível caracterizar juridicamente os
seguintes elementos: população, território e poder, exercido por
um governo independente. Vamos analisar cada um deles?
• População: é composta pelos indivíduos que formam o Estado.
Conjuntamente eles se submetem a uma determinada ordem
coercitiva relativamente centralizada. Segundo Kelsen (2009, p.
319), “a população do Estado é o domínio pessoal de vigência da
ordem jurídica estadual”.
Na análise desse elemento do Estado, conforme a teoria
kelseniana, convém diferenciá-lo da noção de povo e de nação:
• População: conjunto de pessoas que vivem em determinado
Estado e que se submetem a uma ordem coercitiva relativamente
centralizada, constituindo o domínio pessoal de vigência da ordem
jurídica.
• Povo: refere-se ao conjunto de pessoas que vivem em
determinado território apenas sob a concepção jurídica, ainda que
possuam aspirações diferentes.
• Nação: pessoas que habitam determinado território,
compartilhando o sentimento de patriotismo, de pertencimento, em
virtude da identidade sociocultural que compartilham, passado
comum e traços distintivos de outras nações.
• Território: trata-se de um espaço rigorosamente delimitado, incluindo
o subsolo e o espaço aéreo dentro de suas fronteiras. Kelsen (2009,
p. 319) o define como “o domínio espacial de vigência de uma ordem
jurídica pessoal.
• Estado unitário: o Estado unitário, como França, Chile, Uruguai e Paraguai, possui um
centro de poder que se estende pelo território e pela população, controlando as
coletividades regionais e locais. A descentralização nele existente, seja ela
administrativa, legislativa ou política, depende do Poder Central, que poderá suprimi-la,
ampliá-la ou restringi-la. Todo Estado possui um mínimo de descentralização. Assim, não
basta que ela exista para que se diga que um Estado unitário é descentralizado. Para
tanto, faz-se necessário que haja descentralização político-administrativa, como ocorreu
no Brasil no Império, gerando uma forma de autarquia territorial, mas não uma autonomia
legislativa e judiciária. Além disso, há Estados unitários constitucionalmente
descentralizados, também chamados de Estados regionais, quando a própria
Constituição prevê essa descentralização política e legislativa das regiões, nos limites
constitucionalmente previstos, como ocorre com a Itália. Nesses casos, somente o poder
constituinte poderá suprimir, alterar ou restringir as regiões previstas na Constituição,
expressão da descentralização do Estado unitário. Há, por fim, o Estado autonômico, em
que há a descentralização administrativa e legislativa, que parte não de cima para baixo,
como no Estado regional, mas das províncias que elaboram seus estatutos e os enviam
para o Poder Central aprová-lo, passando, a partir de então, a ser aplicado em seu
território, ganhando o status de comunidades autônomas, como ocorre na Espanha.
• Estado federal: José Afonso da Silva (2015, p. 100-101) afirma
que no Estado federal o poder se reparte, se divide no espaço
territorial, gerando uma multiplicidade de organizações
governamentais, distribuídas regionalmente. São exemplos de
Estados federais: Estados Unidos da América (EUA), Canadá,
Rússia, Brasil, Índia, Alemanha etc. O que diferencia o Estado
federal do Estado unitário constitucionalmente descentralizado é o
fato de, no primeiro: (i) a estrutura federativa ser posta na
Constituição como sendo imutável, como ocorre na CF/88,
conforme art. 60, §4°, I; (ii) os Estados-membros participam
no poder central por meio do Senado que os representa; e
(iii) a reconhecida auto-organização desses Estados-
membros, ante a existência de um poder constituinte próprio.
Com base nesse histórico, analisaremos as características do Estado
federal, que expressa a forma de ser do Estado, em que se verifica uma
organização descentralizada administrativa e politicamente, erigida sobre
uma repartição de competências entre o governo central e o dos
Estados-membros, prevista na Constituição, em que eles participam das
deliberações da União, sem dispor do direito de secessão. Além disso, o
Estado federal dispõe de uma Suprema Corte, com jurisdição nacional e
é previsto um mecanismo de intervenção federal, para assegurar a
unidade física e a identidade jurídica da federação.
II. Competência de legislação privativa da União: está listada no art. 22, da CF/88,
os assuntos mais relevantes e de interesse comum à vida social no País nos seus
vários rincões, não devendo ser considerado esse rol exaustivo, havendo outras
competências elencadas no art. 48, da CF/88. Entre esses assuntos estão
elencados direito civil, direito processual, direito do trabalho, desapropriação,
águas, sistema monetário, trânsito, cidadania, normas gerais de licitação e
contratos, diretrizes e bases da educação. Por fim, o parágrafo único do art. 22, da
CF/88, traz a possibilidade de lei complementar federal autorizar que os Estados-
membros legislem sobre questões específicas relativas às matérias relacionadas
no seu caput. Todavia, não poderá ser transferida a regulação integral de toda uma
matéria. Se não houver a referida lei complementar federal, a lei estadual editada
para dispor sobre a matéria deverá ser considerada inconstitucional em análise do
STF.
III. Competência relativa aos poderes reservados dos Estados: está
prevista no art. 25, da CF/88, a competência para tratar de assuntos
residuais e poderes específicos para a exploração do serviço de gás
canalizado, a competência legislativa para criar as regiões
metropolitanas, como as de São Paulo, Recife e Goiânia e a criação,
fusão e desmembramento de Municípios, respeitado o período fixado
em lei complementar federal para tanto. A competência residual dos
Estados, ou seja, aquela que eles podem exercer por não estarem
abrangidas entre aquelas que são atribuídas pela CF/88 à União,
compreende matéria orçamentária, criação, extinção e fixação de
cargos públicos estaduais, autorização para alienação de imóveis,
criação de Secretarias de Estado, organização administrativa,
judiciária, do Ministério Público, da Defensoria Pública e da
Procuradoria-Geral do Estado. No aspecto tributário, as
IV. Competência comum material da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios: todos os entes federados devem combinar
esforços para zelarem pela guarda da CF/88 e das instituições
democráticas e para a conservação do patrimônio público. Para tanto,
são competentes, conforme art. 23, da CF/88, para legislar sobre a
proteção do meio ambiente e o combate à poluição, a melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico, à proteção de obras
de arte, de sítios arqueológicos, paisagens naturais notáveis e
monumentos, entre outros. Elas são chamadas comuns, porque os
vários entes da federação possuem a prerrogativa de exercê-las. O
parágrafo único do citado artigo prevê que lei complementar
federal disciplinará a relação entre os entes federados para o
exercício das competências comuns, coordenando as ações
políticas e evitando o dispêndio desnecessário de recursos e
esforços para tanto. Havendo conflito de competências entre os entes
federados, no exercício dessas atribuições comuns, deve-se verificar a
preponderância de interesses entre os entes, cabendo ressaltar que
não há hierarquia entre os entes federados, mas se pode dizer que há
hierarquia de interesses.
V. Competência legislativa concorrente: o art. 24, da CF/88 elenca as
matérias que demandarão a edição de normas gerais pela União, isto
é, normas não exaustivas, princípios amplos, leis-quadro, e leis
específicas pelos Estados, que exercem a chamada competência
suplementar, tratando especificamente do tema, tal como ocorre com
o direito tributário, financeiro, previdenciário, urbanístico, sobre a
conservação da natureza e preservação do meio ambiente,
educação, proteção e integração social da pessoa com deficiência,
proteção à infância e à juventude, do patrimônio histórico, artístico,
turístico e paisagístico, assistência jurídica, defensoria pública etc. Na
ausência da norma geral, de competência da União, correlata às
matérias elencadas no art. 24, da CF/88, os Estados poderão
legislar amplamente, suprindo a inexistência do diploma federal.
Se, posteriormente, a União editar a lei federal que contenha as
normas gerais, fica suspensa a eficácia da lei estadual naquilo
que for a ela contrário.
VI. Competência dos Municípios: o art. 29, da CF/88, fixou parâmetros limitadores do
poder de auto-organização dos Municípios, para a edição da Lei Orgânica. Algumas
competências municipais foram elencadas no próprio art. 29, e o art. 30 traz
competências específicas, tais como a criação, organização e supressão de
distritos, observada a lei estadual, a prestação de serviço de transporte coletivo
municipal, com a cooperação técnica e financeira da União, a execução de
programas de educação infantil e ensino fundamental e a prestação de serviços de
saúde, o ordenamento do solo urbano e a preservação do patrimônio histórico-
cultural local. Outras, estão implícitas, mas podem ser compreendidas a partir da
interpretação do texto constitucional. Essas competências implícitas decorrem do
art. 30, I, da CF/88, que determina que aos Municípios competem “legislar sobre
assuntos de interesse local”, ou seja, sobre assuntos de predominante interesse
municipal, tais como coleta de lixo, fiscalização das condições de higiene e limpeza
de bares e restaurantes, o horário de funcionamento de estabelecimentos
comerciais em geral, conforme fixado na Súmula 645, da STF. A competência
municipal deverá ser exercida em consonância com os princípios constitucionais,
não podendo violar, por exemplo, a livre concorrência, conforme Súmula 646, do
STF. Sobre os temas correlatos ao interesse municipal, os Municípios dispõem de
competência privativa, não podendo os outros entes invadi-la. Caso seja necessário
ao interesse local, os Municípios poderão legislar, de forma suplementar à legislação
federal e estadual, em relação às matérias previstas no art. 24, da CF/88,
respeitando as normas federais e estaduais existentes. Se for a lei federal ou
estadual editada posteriormente, a eficácia da lei municipal ficará suspensa naquilo
que lhe for contrária.
É preciso que fique claro que não existe hierarquia entre lei federal
e lei estadual, porque o que existe é uma divisão de competências
entre esses entes. Sendo assim, há inconstitucionalidade tanto na
invasão de competência dos Estados pela União, quanto na
invasão das competências da União pelos Estados.
ENTES FEDERADOS E INTERVENÇÃO